“Não sou eu que me navega, quem me navega é o Mar.” (*)

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Por Marcello Escorel em 10/04/2021 às 07h00

Há muitos anos, em conversas com meus amigos demonstro meu espanto com o fato de até hoje a Psicologia, ou pelo menos seus fundamentos, não fazer parte do currículo do Ensino Fundamental.

Vivemos uma época tão materialista que a simples menção da palavra alma ou ‘psique’ causa um certo constrangimento ao homem moderno.

Nos afastamos dela e da Natureza, desenraizados e perdidos. Nossa vida não tem mais sentido e a singularidade com todos os seus tesouros ficou relegada a mero número, mera estatística, como comprova-se pelo tratamento dado aos mortos nessa pandemia que nos aflige.

Desculpem-me. Mas como falar sobre espiritualidade e religião, sem nos atermos a qualquer credo específico, sem falar de alma?

C.A. Meier, um dos colaboradores de Jung, pai da Psicologia Analítica, ao ser perguntado sobre qual seria a mais importante contribuição dele, respondeu: “A realidade da alma (psique) é que ela é tão real quanto o mundo material.” E o próprio Jung, seis meses antes de sua morte, disse:

“Falhei na minha tarefa principal: abrir os olhos das pessoas para o fato de que o homem tem uma alma e de que há um tesouro enterrado no campo (referindo-se a uma parábola dos Evangelhos), e de que nossa religião e nossa filosofia se encontram num estado lastimável.”

Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço. Fundador da Psicologia Analítica.

Há uma grande resistência do homem comum, atormentado por problemas psicológicos, de consultar terapeutas. Não é difícil escutar:  ‘Isso é coisa para malucos, dementes! O que eu preciso é de força de vontade e planejamento para enfrentar as minhas dificuldades!’ Antes fosse assim. Mas nossa personalidade é apenas uma ilha. É como se esta fosse o timoneiro de um barco que nunca sai de sua cabine, conhecendo apenas os procedimentos básicos de como direcionar a embarcação. Todo resto é inconsciente. O navio, além de sua pequena cabine, que ele pode vir a conhecer é seu inconsciente pessoal; mas o mar e as criaturas que o habitam, os ventos, o céu estrelado é o inconsciente da coletividade onde navegam outros barcos com seus outros respectivos timoneiros. E tudo isso é alma.

Das 24 horas do dia, pelo menos 8 delas estamos mergulhados nesse mar do inconsciente, vivenciando através dos sonhos as mensagens que a parte desconhecida de nós e do mundo coletivo nos envia. E nas outras 16 horas em que estamos ativos vivemos bastante em piloto automático e muito pouco conscientemente tomando decisões refletidas.

O alargamento ou expansão da consciência, que em minha opinião será a religião da era de Aquário, que desponta, requer uma atitude positiva e amorosa com a alma. Descobrir qual é o significado, o mito que regula e conduz nossa existência. Isso requer uma coragem e uma determinação quase sobre-humanas.

O indivíduo, singular e único, precisa deixar de ser estatística e compreender que seu coração é a manjedoura de Belém, preparado  para ser o berço da criança divina.

(*) Trecho da música Timoneiro do compositor Paulinho da Viola.

Marcello Escorel é ator e diretor de teatro há mais de 40 anos. Paralelamente a sua carreira artística estuda de maneira autodidata, desde a adolescência, mitologia, história das religiões e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung.

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