Ômicron avança e vacinação reduz a força do vírus no RJ

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Avaliação da Secretaria Municipal de Saúde é de que vacinação infantil está com baixa adesão

Por Jorge Melo e Bianca Ottoni (*), em 28/01/2022 às 07h.

A cidade do Rio de Janeiro retomou na última quarta-feira (26/1), a vacinação de meninas e meninos de 10 anos ou mais. A ação foi possível graças à chegada de 100 mil doses de Coronavac, fabricada no Brasil pelo Instituto Butantã, de São Paulo. No entanto, para que a vacinação cumpra o cronograma estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) será necessária a chegada de novas remessas de vacina nos próximos dias. A Secretaria Municipal de Saúde está convocando os pais para que levem as crianças aos postos.

A avaliação da primeira semana de vacinação infantil é de que houve uma baixa adesão das famílias. Segundo Leonardo Bastos, estatístico e pesquisador-associado do Programa de Computação Científica da Fiocruz, ao contrário do que muitos pensam, as crianças estão sendo afetadas pela pandemia, “A COVID-19 já causou mais óbitos em crianças que todas as outras doenças evitáveis por vacina.”

Mesmo com alta de infecção, número de óbitos segue reduzido

Conforme dados da SMS, 630 mil pessoas não retornaram aos postos para a dose de reforço, o que é preocupante. Em menos de um mês de 2022, o Rio de Janeiro alcançou a metade dos casos de Covid de 2021. Só a cidade do Rio de Janeiro registrou 167 mil novos casos até a terceira semana de janeiro. No entanto, foram registrados apenas 81 óbitos. Leonardo Bastos explica esses número. “A taxa de transmissão dessa variante (Ômicron) é muito alta, isso faz com que a gente observe um grande número de infectados em um período curto de tempo. E não importa muito o status de vacinação da pessoa, se você se expõe ao vírus dificilmente não vai se infectar. É importante separar indivíduo da população, é uma doença mais leve para o indivíduo, mas perceba que isso não significa que seja uma doença leve. Ela é mais leve quando comparada as outras variantes, possivelmente graças as vacinas.”

Momento atual da pandemia indica importância da testagem em massa

Uma das razões desses números é positiva, o aumento da capacidade de testagem, o que permite uma avaliação mais precisa do avanço da doença. Segundo a SMS, a capacidade de testagem foi ampliada 48 vezes desde o início do ano e mais de 1 milhão de testes foram realizados. A taxa de positividade, que de início era de 50%, na segunda semana de janeiro, caiu para 39%. De acordo com Leonardo Bastos, “a testagem em massa ajuda o estado a entender a situação epidemiológica.” No entanto, o Rio de Janeiro pode ficar sem testes. Segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde, um pedido ao Ministério da Saúde, de três milhões de kits, encaminhado no dia 19 de janeiro, ainda não foi respondido. Esses kits atenderiam às necessidades de um mês de testes.

A situação do Rio de Janeiro era a seguinte ontem, quinta-feira, 26/01/2022:

  • 5.916.791 vacinados com a primeira dose
  • 5.391.620 vacinados com a segunda dose
  • 148.201 vacinados com a dose única
  • 2.255.285 – vacinadas com dose de reforço
  • 13.711.897 vacinas aplicadas

Probabilidade é de que número de casos diminuam

O número de infectados e a boa cobertura vacinal que a cidade do Rio de Janeiro apresenta podem contribuir, no médio prazo, para que a incidência de Covi-19 diminua na cidade. O Rio de Janeiro tem 87,7% da população com a primeira dose ou a dose única; 82,1% com duas doses ou a dose única; e 33,4% da população com a dose de reforço. Para Leonardo Bastos, o cenário pode mudar nas próximas semanas. “Certamente vai cair, mas não vai sumir. Não dá pra saber qual o nível vai ficar, e sempre há o risco do surgimento de novas variantes, basta ver o histórico da doença com frequentes variantes, e vale lembrar que tem muitos lugares no Brasil e no mundo que onde a cobertura vacinal ainda é baixa e o vírus vai seguir circulando, infelizmente. No entanto, com uma boa cobertura vacinal que é para onde nós, aqui no Rio, estamos caminhando e com tanta gente já infectada pelo menos uma vez, o número de casos futuros deve mesmo diminuir.”

Estresse e ansiedade voltam a dominar rotina de profissionais da saúde na Maré

Um rápido giro pelos postos de Saúde da Maré revela que os primeiros dias de 2022 foram de muito trabalho, estresse e ansiedade. Segundo funcionários que optaram por não se identificar, houve um impacto muito grande com a chegada da nova variante. O significativo número de casos aumentou a demanda no atendimento sem que as equipes fossam reforçadas. Ou seja, não houve acréscimo ou mesmo reposição dos trabalhadores que foram infectados, mesmo vacinados, e se afastaram.

Os funcionários reclamam também das condições de trabalho. Em uma das clínicas, por exemplo, em função dos casos de Covid, a equipe sofreu uma redução de 50% no efetivo. Segundo os funcionários, foi um movimento inverso, enquanto o número de pessoas aumentava em busca, principalmente de testes mas também de atendimento, a equipe se via reduzida.

Os próprios trabalhadores desenvolveram ações para otimizar o atendimento e se proteger. Foram criadas alas separadas para pacientes com quadro de gripe, que poderiam testar positivo para Covid. E uma área diferente para os casos já agendados como gestantes etc. Os demais atendimentos foram reduzidos por conta da demanda do Covid-19, que tornou-se a prioridade do atendimento.

Risco de contaminar família é ponto entre os moradores

A carga de trabalho e a preocupação com o vírus provocaram estresse e ansiedade. Segundo um dos profissionais ouvidos, “havia o medo permanente de infectar alguém da família.” Apesar do desgaste físico e da tensão os profissionais comemoram o fato de que o número de caos positivos está diminuindo. E falam sobre a importância da testagem em massa. Nos últimos dias, segundo um dos funcionários ouvidos pelo MN, o número de pessoas que procurou o posto para teste foi pequeno, ao contrário das primeiras semanas do ano. No entanto, os profissionais se preocupam com o número de pessoas que ainda reluta em tomar a vacina, usar máscara, álcool gel nas mãos, não aglomerar, se isolar quando infectadas. Lembram que apesar de ter diminuído o número de óbitos registrados ainda tem gente morrendo por causa da Covid-19.

Os números da Maré

Apesar do avanço da nova variante, a Maré não registra um óbito desde outubro de 2021 em função do trabalho realizado pelo Conexão Saúde – De Olho na Covid, parceria da Redes da Maré com a Fiocruz e o Conselho Comunitário de Manguinhos, Todos pela Saúde, SAS Brasil e Dados do Bem. No entanto, só nesse primeiro mês de 2022 segundo dados da Coordenação Geral de Atenção Primária-CP3.1, da SMS, responsável pela Maré, entre primeiro e 24 de janeiro foram identificados 8724 casos positivos nos postos da Maré: 1560, na CAF Adib Jatene; 1438 na CF Augusto Boal; 914 no CMS Américo Veloso; 1280 na CF Diniz Batista dos Santos; 1094, na CF Jeremias Morais Silva; 218, no CMS Vila do João e 297 no CMS João Cândido; confirmando as informações dos funcionários dos postos de saúde ouvidos pela reportagem sobre o aumento na procura por testes e atendimento nos postos e os índices de testagem positiva. Na Maré até o dia 21/01/2022, num universo estimado em 140 mil habitantes, 82% receberam a primeira dose; 72,4% a segunda dose ou dose única e 16% a dose de reforço.

(*) Bianca Ottoni é estudante universitária vinculada ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, uma parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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