Para reverter a pouca procura por imunizante infantil, secretarias de saúde do RJ criam ações de busca ativa

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Mesmo com doses disponíveis, procura por vacinação infantil contra covid-19 ainda é baixa

Por Jorge Melo e Hélio Euclides, em 11/02/2022 às 07h30. Editado por Edu Carvalho.

Pouco mais de um ano da imunização nos adulto contra o coronavírus, o esquema vacinal das crianças começa a ser implementado, representando a possibilidade de protegê-las, em um cenário de retorno às aulas mais seguro, além de nos aproximar de um controle da pandemia. O grande problema é a pouca procura pelos imunizantes infantis.

A insuficiente adesão à vacina infantil fica clara quando se vê o número de crianças imunizadas na cidade do Rio de Janeiro. São 263 mil crianças vacinadas, um número que não representa nem metade da meta de 560 mil cariocas com idade entre 5 e 11 anos. Para reverter a situação, a Prefeitura do Rio vai distribuir uma carta com pedido de autorização dos pais para que seus filhos tomem a primeira dose, o que poderá ser feito na própria unidade escolar.

Outra iniciativa vai ser a busca ativa por crianças que ainda não foram vacinadas contra a covid-19, a partir de dados disponíveis nos postos de saúde e com a assistência social, além de cadastros do governo federal. Com esse cruzamento de informações, o município vai entrar em contato com os responsáveis. A Secretaria Municipal de Saúde reforça a importância de que os pais levem os filhos para serem imunizados contra covid-19. Lembra que agora a repescagem será permanente. Para incentivar a adesão à vacinação, cada criança vacinada recebe o “certificado de coragem”. Algumas unidades ainda foram decoradas e promoveram atividades lúdicas para atrair o público infantil, criando um ambiente agradável e acolhedor.

No Estado a situação ainda é pior. O painel de informações sobre a Covid-19 do governo estadual mostra que apenas 9% das crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose no Estado do Rio. Para mudar este panorama, a Secretaria Estadual de Saúde tem ao seu lado 9.390 mulheres, a maioria mães de alunos. O grupo Mulheres Apoiando a Educação, que foi criado para atuar contra a evasão, agora vai atrás dos não vacinados.

Na Maré os números são melhores

Até o dia 08 de fevereiro, foram aplicadas 7.875 primeiras doses em crianças de 5 a 11 anos nas unidades do território da Maré, o que representa uma cobertura vacinal de 57% neste grupo. Thiago Wendel, coordenador geral de atenção primária da Maré, responsável pelas sete unidades de saúde, está feliz com a boa adesão da vacina infantil. Mesmo assim, acha indispensável a realização da busca ativa. Na Maré, os profissionais de saúde vão atrás das crianças nas suas casas para entender o porquê de não tomaram a vacina na data certa do calendário. Na própria residência a criança receberá o imunizante.

“O que estamos vendo aqui na Maré não são responsáveis antivacina, que recusam o imunizante e sim pais ocupados e famílias trabalhadoras, que não conseguiram tempo para levar as crianças às unidades de saúde”, diz Wendel. Ele lembra que toda a população da Maré tem uma unidade de saúde como referência e deve procurá-la para tomar as vacinas. “A vacina contra o covid é segura, tenho um filho que levei para a vacinação. É uma proteção para a sua criança”, comenta. No território, as unidades receberam os imunizantes para as crianças da farmacêutica Pfizer e do Instituto Butantan, a CoronaVac. O coordenador acrescenta que o responsável pode escolher qual vacina deseja para o seu filho.

Alguns responsáveis fazem questão de tirar fotos e filmar seus filhos recebendo a agulha. Não foi diferente com Wallace Coutinho, conhecido como Madiba MC, morador da Baixa do Sapateiro, que registrou o momento da vacinação do seu filho Ezequiel, de 8 anos. “Eu entendo a importância da vacinação, inclusive nas crianças, para a proteção contra o vírus do covid. Por ser uma doença nova, que matou muita gente, a vacina ajuda na criação dos anticorpos. Torna a criança e um adulto protegido”, conta.

Ele lembra que quando criança também foi vacinado contra outras doenças, agora chegou a vez de retribuir a boa ação. “A vacina está presente no nosso meio há muito tempo, é uma evolução da humanidade. É importante a propagação da verdade sobre a vacina, algo que o governo deveria ter feito, mostrar os benefícios nas crianças e o perigo da não vacinação”, ressalta. A vacinação do filho trouxe felicidade para Madiba, que acredita numa vida mais saudável para o filho, após receber anticorpos contra o coronavírus.

“Infelizmente há fake News. O brasileiro esqueceu o passado, das vacinas que tomou para poder estar vivo. Agora fala asneira, para de procurar o conhecimento e confia em pessoas que falam o que querem no WhatsApp, sem base científica. O perigo da sociedade é acreditar no que não é verdade e deixar de confiar na veracidade”, conclui Madiba.

A pandemia não acabou

Além da máscara, higienização e evitar aglomeração, a vacina é um dos meios para superar a pandemia, que ainda segue assustando. Após o réveillon, os números de contaminados e hospitalizados subiram. O Brasil registrou ontem (09/02) 1.295 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 635.189 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 873, a maior registrada em quase seis meses. São agora três semanas seguidas com tendência de alta.

Na cidade do Rio, a maior rede privada de emergência pediátrica do Rio, informou que 94% dos internados em janeiro não tinham vacina. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mais da metade dos internados não recebeu nenhuma dose da vacina. “Tivemos um crescimento muito grande de casos de covid muito relacionado ao omicron, por ter uma grande chance de se propagar rapidamente. Temos assistidos muitos casos de internações de não vacinados ou com esquema vacinal incompleto, ou seja, sem a dose de reforço. Em janeiro atingimos o pico e agora vamos perceber na cidade uma queda, por dois motivos: ela atingiu grande parte pessoas que vai desenvolvendo alguma imunidade após a infecção e pela boa cobertura vacinal”, expõe o professor Carlos Machado, coordenador do Observatório de Covid-19 da Fiocruz.

Para Machado, a vacinação é um elemento fundamental contra omicron, sem desconsiderar a importância da higienização das mãos e uso de máscara em locais de grande concentração e circulação de pessoas, como metrô, trem e ônibus. “É preciso a criação de estratégias. A exigência do passaporte de vacina na matrícula das crianças é fundamental, para que todos os pais possam não só levar o filho para a primeira dose, como completar o esquema vacinal”, acrescenta.

Uma novidade no município é que professores e alunos que testarem positivo para covid-19 vão ficar apenas sete dias em casa e a turma inteira não será afastada, mas todos farão o exame para verificar se estão infectados. A boa notícia para os cariocas é que, nos últimos dias, o número de pacientes internados com covid-19 tem diminuído e o número de testes que apresentam resultado positivo na cidade do Rio também retrocedeu para 27%

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