Pesquisa aponta desigualdade no uso da cannabis na favela

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Pesquisa surgiu a partir da análise de famílias periféricas que não conseguem acesso a cannabis se comparadas a famílias de outra classe social

Por Hélio Euclídes

“A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.” O ditado popular indica que pessoas com classe social considerada mais baixa em relação à outra são prejudicadas, segundo o site Brasil Escola Uol. Isso é provado quando se realiza estudos sobre políticas públicas que demoram a chegar em favelas e periferias. A organização Movimentos realizou a pesquisa Plantando saúde e reparação: o uso terapêutico da maconha nas favelas do Rio de Janeiro, que mostra a desigualdade social no tratamento. 

O objetivo do estudo foi compreender como os moradores das favelas e periferias do Rio acessam o uso da maconha para fins medicinais em meio à violência de Estado e sua criminalização. O questionamento foi para saber se a favela que sofre com os impactos da guerra às drogas em suas vidas e territórios, por que ela não é incluída nessa discussão pelo viés da saúde?

A pesquisa surgiu a partir de muitas famílias que têm encontrado na maconha o alívio de dores e sintomas para diversas doenças. Para famílias ricas, brancas e de classe média, este uso já é uma realidade. Já para os favelados, há a criminalização e o racismo, que impedem que mais pessoas tenham acesso aos benefícios terapêuticos dessa substância. 

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A pesquisa além de ser um retrato sobre os desafios enfrentados por faveladas e favelados, no acesso à saúde como um direito, é uma chamada para se pensar políticas que reparem os impactos da guerra às drogas. As favelas não podem ficar com a guerra enquanto as classes média e alta, brancas, têm acesso aos potenciais terapêuticos das substâncias psicoativas.

Um debate na favela

A organização Movimentos organizou um debate no Parque União no dia 30 de junho, que reuniu cerca de 50 pessoas. O tema do encontro foi o mesmo da pesquisa Plantando saúde e reparação: o uso terapêutico da maconha nas favelas do Rio de Janeiro. Na mediação Jéssica Souto, coordenadora do coletivo Movimentos, fez a provocação que há uma dívida e precisa ocorrer a reparação sobre a informação e a igualdade. “A pesquisa foi realizada no final do ano passado e discutiu o uso do óleo da maconha, o que é um tabu nas favelas, onde sofremos com a guerra das drogas. O que difere o morador da favela do da classe alta?”

Drogas: Quanto Custa Proibir

Para responder foi apresentado o relatório Drogas: Quanto Custa Proibir, apresentado por Raquel Machado, socióloga e coordenadora da pesquisa. A socióloga enfatiza que a lei de drogas não pensa em quem mais precisa, com impacto na educação. “Cerca de 74% das escolas foram afetadas em 2019 com pelo menos um tiroteio envolvendo operações policiais. Isso afeta a criança e a comunidade escolar. Avaliamos as escolas que há tiroteio no entorno e as que não ocorrem. Nas escolas com tiros podem ter prejudicadas 60% no aprendizado em português, já na disciplina de matemática esse número pode chegar a 100%. As crianças perdem muito, como o sonho e a vida.” Para esse recorte foi utilizado a Prova Brasil. 

Na mesa a opinião de quem faz uso medicinal da maconha, Gisela Lopes, cria da Cidade de Deus, contou que há um alívio das dores e sente melhoria nas condições de saúde. “Eu não sabia mais o que procurar bem-estar. Foram dez anos com a prática do RPG, Yoga, Pilates e outros tratamentos, além do uso de oito medicamentos de tarja preta. Um dia ganhei o óleo e me senti bem. Com indicação após uma consulta, comecei o uso regularmente e estou inteira.”

A visão política foi apresentada por Luciana Boiteux, vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, advogada e professora de Direito Penal e Criminologia. Ela mencionou que tentou levar a pauta para a câmara, sobre o Dia da Cannabis Medicinal, mas que os vereadores conservadores não permitiram. “Montamos uma comissão para discutir e como provocação. O nosso maior desafio é que o esse tema da terapia medicina seja discutido no Sistema Único de Saúde. Na maioria das vezes são mães brancas que têm acesso à justiça e uma sociedade que ainda persiste com o racismo.”

Boiteux explica que é uma luta das mulheres para conseguir a prescrição médica. Ela também enfatizou que é preciso uma liberação do uso não acompanhada de medicamentos caros. “Temos que enfrentar o conservadorismo e a hipocrisia, de pessoas que usam o medicamento e não falam. Hoje só por meio da associação do uso medicinal que se consegue plantar. Tem que ter uma política democrática para conseguir o acesso. É um medicamento quanto outro, que necessita de preparação.” A vereadora completou que a pesquisa organizada pelo Movimentos vai ser levada à câmara, para um olhar sobre a favela e em especial para as crianças autistas.

O evento de lançamento da pesquisa terminou em clima de festa, com música e um bufê. “Foi muito positivo ver pessoas de outras favelas aqui. O nosso objetivo é comunicar com as favelas. A apresentação da pesquisa é para impactar e pautar políticas públicas para a favela. Nosso objetivo é colocar a favela no debate, para acabar com a exclusão do benefício da liberação da cannabis para uso medicinal”, diz Jéssica Souto, mediadora do evento.

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