Moradores vivem mais um dia de tensão na terceira operação na Maré em apenas 15 dias.
A operação policial do BOPE e Batalhão de Ações com Cães chegou na Nova Holanda e Parque União antes das 5h da manhã desta quinta-feira (14/07). Moradores que se organizavam para a saída para o trabalho, ou ainda estavam no período de descanso noturno, foram assustados pelo barulho da troca de tiros e a presença de veículos blindados da PM.Por volta das 7h da manhã a operação conduzida pelo 16º BPM foi iniciada em Marcílio Dias, outra favela da Maré.
Além do medo e da impossibilidade de seguir o cotidiano no território com normalidade, foram relatadas invasões de domicílios sem mandado policial e depredação de veículos. Boa parte do dia, diversos pontos das favelas afetadas pela operação ficaram sem acesso à rede de internet.
Negação do acesso à direitos
Duas unidades de saúde tiveram seu funcionamento totalmente interrompido no dia de hoje: a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, que fica na Nova Holanda, e o CMS João Cândido, localizado em Marcílio Dias. Cerca de 147 atendimentos médicos gratuitos agendados também deixaram de ser realizados pelo SAS Brasil Maré, projeto em parceria com a Redes da Maré. Os agendamentos seriam para colocação de DIU, consulta dermatológica e exame do fundo do olho para diabéticos.
Organizações sociais e públicas de cultura também não funcionaram: A Vila Olímpica da Maré, espaço que atende a cerca de 100 pessoas com atividades esportivas, e a Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, onde 60 crianças e adolescentes entre 6 e 14 frequentam diariamente. A Biblioteca Escritor Lima Barreto, na Nova Holanda, cerca de 50 pessoas, entre jovens e crianças, não puderam acessá-la. Mais de 70 pessoas deixaram de frequentar o Espaço Normal – espaço referência na redução de danos na Maré. Na Organização Luta pela Paz foram mais de 670 jovens e familiares que ficaram sem acesso às atividades sociais, esportivas e educacionais. A operação também causou a desmobilização de oficinas e aulas formativas, e a interrupção de um processo seletivo no Observatório de Favelas.
Na contramão das determinações federais:
Mesmo com a ADPF das Favelas e com a proposta da construção de um Plano de Redução da Letalidade Policial em curso, apenas nesta semana, além da Maré, Manguinhos, Cidade de Deus também foram alvo de ações policiais. Em Manguinhos a operação da Polícia Civil deixou seis pessoas mortas.
Na operação de hoje, na Maré, não houve a presença de ambulância para socorrer os feridos nem câmera nos uniformes dos policiais. Ainda que a Polícia Militar tenha aderido o uso das câmeras de monitoramento, os batalhões especializados que realizam operações em favelas, não incorporaram essa tecnologia. O Maré de Notícias questionou a ausência da ambulância no território, porém a assessoria de imprensa não retornou sobre a questão. É importante destacar também que é necessário que o Ministério Público, principal órgão de controle das ações das polícias, fiscalize essas ações.