Ronda Coronavírus: A relação entre a vacina contra covid-19 e política

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A semana foi marcada por embates políticos entre presidente e governador de São Paulo

Publicado em 23/10/20 às 20h03

Ao longo da semana, um dos assuntos recorrente no país foram as vacinas contra o novo coronavírus. O debate desta semana passa por comprovação científica, ética, mas principalmente pelos debates político e ideológico por trás dos imunizantes. Enquanto isso, a população acompanha os números da doença: até hoje são 5.353.656 de brasileiros infectados e 156.471 mortos por covid-19 de acordo com dados do Ministério da Saúde. Mesmo com a redução do número de mortos dos últimos dias, dados que inspiram esperança até mesmo ao diretor de operações da Organização Mundial da Saúde, Mike Ryan, ainda é preciso ficar alerta a uma possível segunda onda, como tem acontecido atualmente na Europa. 

Os brasileiros começaram a semana com o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo João Doria tendo posições opostas sobre a vacinação compulsória. O primeiro disse que a vacinação será facultativa, enquanto o segundo afirmou que todas as pessoas do estado de São Paulo serão vacinadas, com exceção das que apresentarem laudo médico com alguma restrição. Inclusive afirmou que brasileiros de outros estados poderão ser vacinados, se quiserem. 

Na terça-feira (20), o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou que assinou protocolo de intenções para a compra 46 milhões de doses da vacina contra a covid-19 com a Sinovac, farmacêutica responsável pela vacina em parceria com o Instituto Butantan. Na sequência, o presidente Jair Bolsonaro passou por cima de sua decisão, fazendo com que o ministro voltasse atrás, dizendo que não há intenção em comprar “vacina chinesa”. Em meio à tensão, o ministro notificou que testou positivo para a covid-19.

O presidente afirmou, ainda, que não compraria nenhum insumo ou a própria “vaChina”, mesmo que ela seja aprovada pela Anvisa. O ato serviu para aumentar ainda mais a tensão entre o presidente com o governador de São Paulo, ambos pré-candidatos à presidência em 2022. O governador alfinetou o presidente lembrando que, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 80% dos medicamentos distribuídos no país são de origem chinesa. O infectologista e pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda, lembrou que os insumos utilizados para a produção da vacina pela empresa AstraZeneca, feita em parceria com a Universidade de Oxford e a Fiocruz e financiada pelo Governo Federal, é fabricado na China. “A gente não pode ser xenofóbico de discriminar um produto pela sua origem. A gente tem que avaliar os estudos e a Anvisa avaliar realmente esses resultados independente da origem do país e identificar se são resultados que comprovem a segurança é a eficácia da vacina”, afirmou o pesquisador durante entrevista à GloboNews.

Vacina e cloroquina: o que precisa e o que não precisa de comprovação?

Nas redes sociais, o presidente falou sobre a necessidade de comprovação científica da vacina: “A vacina chinesa de João Dória: Para o meu Governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”. 

É importante lembrar que o presidente ignorou estudos científicos que comprovaram a ineficácia da cloroquina e hidroxicloroquina e seguiu incentivando a população a tomar o remédio para melhora dos sintomas da covid-19. Diversas foram as vezes em que o presidente apareceu em público, seja em lives ou em eventos oficiais, incentivado o uso da cloroquina, e já chegou a afirmar que sabia que não tinha comprovação científica. A Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu uma nota afirmando que o uso dos dois remédios mencionados anteriormente devem ser abandonados em qualquer fase de tratamento da covid-19 por não obter nenhum resultado de melhora. 

Vacina no horário eleitoral

A vacina também tem pautado o debate das eleições municipais. De acordo com a Lei n° 13.979, sancionada em fevereiro pelo presidente Jair Bolsonaro, os municípios têm autonomia de adotar medidas sanitárias para combater a pandemia, incluindo a vacinação compulsória. A princípio, o quatro principais candidatos da cidade do Rio – Eduardo Paes (DEM), Marcelo Crivella (Republicanos), Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT) foram favoráveis à obrigatoriedade da vacina. Entretanto, por estar alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, o candidato Marcelo Crivella voltou atrás e se colocou contra a vacinação obrigatória, publicando um vídeo em suas redes sociais nesta quinta-feira (22) endossando a fala do presidente.

Bolsonaro tem politizado o debate sobre a vacina e colocou as ações tomadas durante a pandemia como fator importante para se votar em um candidato que tenta a reeleição, por exemplo. Desde o início da crise sanitária ele foi contrário a prefeitos e governadores que tomaram frente diante a crise e optaram por pensar em estratégias de distanciamento social que não fossem alinhadas com o governo federal, como o caso dos governadores Wilson Witzel e João Doria.

O assunto também é debate entre os eleitores e eleitoras. Em pesquisa realizada pela Datafolha há duas semanas em quatro capitais do país (Belo Horizonte, Recife, Rio e São Paulo), das 3.092 pessoas entrevistadas, 70% são favoráveis à vacinação compulsória. 

Morre voluntário que participava de testes

Morre nesta semana um voluntário que participava dos testes da Vacina de Oxford no Brasil. Após a repercussão do caso, uma pessoa envolvida com a pesquisa vazou os dados sobre a pessoa, que tinha recebido placebo durante as testagens. Devido ao sigilo legal no processo de testagens, nem o laboratório e nem a Anvisa confirmaram ou negaram oficialmente que o voluntário recebeu placebo. O médico de 28 anos morreu em decorrência à complicações de covid-19.

Covid-19 no Rio

No estado do Rio são 20.115 mortes e 296.797 casos confirmados até esta sexta-feira. A capital teve 422 novos casos nas últimas 24h, chegando a 115.635 casos confirmados. De acordo com o boletim De Olho no Corona!, entre os dias 13 e 19 de outubro, a Maré contabilizou 41 novos casos. Hoje, o conjunto de 16 favelas contabiliza 762 casos confirmados e 129 mortes, de acordo com dados do painel da prefeitura do Rio. Nas favelas são 17.886 pessoas infectadas e 2.223 mortos por covid-19, contabilizando casos confirmados e autodeclarados.

Debate com prefeitáveis do Rio A Rede Favela Sustentável realizou nesta quinta-feira debate inédito com prefeitáveis da cidade do Rio, que falaram especificamente sobre questões que impactam as favelas, tendo como base a carta-compromisso da Rede Favela Sustentável com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030 da ONU. O evento foi transmitido no Facebook e no YouTube e está disponível para visualização.

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Os suspeitos são os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e deputado federal do Rio de Janeiro, respectivamente, e Rivaldo Barbosa, que é delegado e ex-chefe de Polícia Civil do Rio