Unidade sofre com infiltrações e mofo. Teto de gesso desabou e, em outras partes, ameaça cair.
Hélio Euclides
O que cai em pé e corre deitado? A chuva. Infelizmente, os profissionais do Centro Municipal de Saúde Vila do João não acham graça dessa piada. No dia 22 de setembro, após chuva que caiu na cidade, o teto de gesso desabou junto. Duas salas da unidade foram atingidas: a de atendimento de odontologia e de um consultório. O gesso já vinha cedendo anteriormente, mas não houve manutenção. O Centro, construído nos anos 1990 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e fechado por anos, foi reaberto pela Prefeitura e gerido pelo Projeto Maré Limpa. De lá para cá, a unidade passou por algumas reformas. No site da Prefeitura, a última foi em 2015.
Daniel Soranz, doutor e mestre em Saúde Pública, professor e pesquisador da Fiocruz médico visitou a unidade e percebeu o caos em que se encontra. “É uma unidade destruída. Tem profissionais de excelência, mas nenhuma estrutura. Triste ver essa vergonha. É um perigo para funcionários e pacientes”, conclui. Profissionais contaram que o local já tinha infiltrações, mas tudo piorou depois de uma poda de árvores. Após divulgação do desabamento na mídia, profissionais da Prefeitura vieram e tiraram o restante do gesso, para evitar acidentes. O Maré de Notícias na edição #115, de agosto de 2020, já retratava o problema de saúde da Maré. O próprio pesquisador da Fiocruz, já alertava sobre o problema. “Tinha de investir no Sistema Único de Saúde, no tratamento primário. Enquanto temos hospitais luxuosos de campanha no Riocentro e Maracanã, a UPA Maré está caindo aos pedaços, soltando o piso, o Centro Municipal da Vila do João não tem nem tinta para pintar as paredes e, na Nova Holanda, a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva não teve até hoje a ligação elétrica feita. Isso é desconhecer a cidade”.
Funcionários da Clínica da Vila do João disseram que estão com medo de demissões, já que pessoas se declarando “Guardiões do Crivella” estiveram na unidade e buscaram informações de quem teria vazado as informações do desabamento para a TV Globo. Os profissionais afirmaram que tinham sido os pacientes que filmaram e tiraram fotos. Eles ainda reclamaram de outro problema: a mudança de administração – da Empresa Social Viva Rio para Empresa Pública RioSaúde – que trouxe a redução de salários, e com isso, a desmotivação dos profissionais.
Apesar dos problemas, o atendimento continua
Priscila Martins, moradora da Vila do João, uma das 16 favelas da Maré, foi à unidade para acompanhar uma familiar que necessitava de retirada de pontos do parto e de informações sobre teste do pezinho. Ela segurava uma criança de apenas duas semanas de vida. “Estou preocupada, pois há um grande risco de desenvolver uma alergia. É preciso uma recuperação com urgência”, comenta. Beatriz Tadeu Gomes, moradora da Vila do João, destacou a falta de conservação. “No passado os espaços de espera eram abertos, algo que era muito ruim. Fizeram a cobertura, mas sem manutenção ficou degradado, mas mesmo assim o atendimento é ótimo”.
Durante a presença da equipe de reportagem, a 30ª Região Administrativa e a Fundação RioSaúde estavam avaliando o prédio. Um funcionário da fundação confirmou que o problema de infiltração já existia, mas que, realmente, a poda feita pela Comlurb atingiu o telhado de uma forma acidental. Ele afirmou, também, que hoje foi feito um estudo da unidade para apresentação de orçamento, e que depois será avaliado como será a obra, se em caráter emergencial ou de uma forma mais completa.
Um estudo semelhante acontecerá na Clínica da Família Augusto Boal, em Bento Ribeiro Dantas, e na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, segundo a Fundação RioSaúde. Na Jeremias a promessa é que a reforma aconteça na parte elétrica para dar fim ao gerador, que hoje fornece energia. Desde que foi inaugurada em 2018, a Clínica tem geradores com custo altíssimo de aluguel e também de diesel, combustível usado no equipamento. A Prefeitura sempre que procurada para responder sobre o uso do gerador nunca justificou a opção custosa aos cofres públicos. Não é raro a unidade fechar por não ter combustível no gerador por falta de pagamento, fato que aconteceu durante a pandeia.
A RioSaúde informou ao Maré de Notícias que a empresa de manutenção já havia feito o planejamento do reparo no Clínica da Vila do João. A obra para consertar o teto de gesso e o telhado da unidade estava prevista para começar na semana passada, mas que com as chuvas não foi possível começar a executar o serviço. As fotos da unidade de sáude mostram que a situação é urgente. A Clínica é uma das 4 que atendem os 140 mil moradores da Maré.