‘Um obstáculo aos interesses dos irmãos Brazão’, afirma Lessa sobre morte de Marielle

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De acordo com a delação premiada de Ronnie Lessa, autor dos disparos contra a parlamentar, o crime estava sendo arquitetado desde setembro de 2017

Samara Oliveira e Hélio Euclides

Dez dias após o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes completar seis anos, acusados de mandar a vereadora foram presos na manhã deste domingo (24), pela Polícia Federal. Os acusados são o deputado federal Chiquinho Brazão, seu irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e o ex-chefe de Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa.

Qual foi a motivação?

De acordo com a delação premiada de Ronnie Lessa, autor dos disparos contra Marielle, o crime contra a parlamentar estava sendo arquitetado desde setembro de 2017 porque ela representava “um obstáculo aos interesses dos irmãos Brazão”. 

Os interesses mencionados por Lessa diziam respeito ao Projeto de Lei Complementar proposto por Chiquinho Brazão, também vereador no Rio de Janeiro, que buscava regularizar terras em áreas controladas pela milícia. A relação que a vereadora mantinha com lideranças comunitárias e sua posição contra os loteamentos em áreas em que os dois tinham influência teria sido a principal motivação.

O crime e a mobilização por justiça

Na noite de 14 de março de 2018 a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram mortos ao serem perseguidos por criminosos no bairro do Estácio. O carro foi alvejado por treze tiros, interrompendo a vida da parlamentar e do seu motorista, além de atingir sua assessora, que sobreviveu. 

A mobilização foi fundamental para que o caso não caísse em esquecimento. Festivais, ações paralelas nas ruas do Rio de Janeiro e ações conjuntas nas redes sociais já faziam parte do calendário de movimentos sociais e políticos todo dia 14 de março com o grito “Justiça por Marielle e Anderson”.

Até chegar aos mandantes foi um processo longo, que passou por três governadores do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Pezão, Wilson Witzel e Cláudio Castro, no âmbito nacional também três presidentes, Michel Temer, Jair Bolsonaro e agora, Lula, além de pelo menos cinco delegados da Polícia Civil que investigaram o caso.

Nas redes sociais, Anielle Franco, irmã da parlamentar e Ministra da Igualdade Racial ressalta “Lugares onde as pessoas deveriam estar cuidando da proteção do povo, não é lugar onde as pessoas arquitetam crimes tão covardes e cruéis como foi o crime da minha irmã. A nossa família permanecerá de pé por tudo que a Mari representa e representava para a gente. A gente vai seguir lutando por justiça porque, eu repito, responder ao crime da Marielle e do Anderson é dar uma resposta para o fortalecimento da democracia”.

Para Mônica Benício e Agatha Arnaus, viúvas de Marielle e Anderson respectivamente, a prisão traz um momento de esperançar justiça e paz. “E isso é apenas uma parte do que Marielle e Anderson merecem. Nesse domingo chuvoso de março, a verdade começou a ser desvelada. O que, diante da nossa dor, é o tempo de uma vida inteira depois daquele 14 que marcou mais do que nossas vidas – marcou a nossa carne e o próprio Estado Democrático de Direito”, diz em nota conjunta.

Os seis acusados envolvidos no caso 

Além da prisão dos três principais acusados, foram alvos da Operação Murder, com busca e apreensão em casa, outros quatro suspeitos. O Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, impôs mandados contra Érika Andrade, esposa de Rivaldo Barbosa; Giniton Lages, primeiro condutor das investigações sobre o duplo homicídio e titular da Delegacia de Homicídios da capital de 2018 a 2019; Marco Antonio, comissário de Polícia Civil; e Robson Calixto Fonseca, o peixe, assessor de Domingos, que terão que cumprir medidas cautelares, entre elas, utilizar tornozeleira eletrônica.

Arquivo morto: suspeitos assassinados 

Durante as investigações do caso cinco suspeitos de executarem Marielle foram mortos.

Apontado como intermediário da contratação de Lessa para o assassinato de Marielle, o ex-sargento da Polícia Militar Edmilson da Silva de Oliveira, conhecido como Macalé, foi morto a tiros em 6 de novembro de 2021, no bairro de Bangu. 

Indicado como membro do Escritório do Crime, o ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Adriano Magalhães da Nóbrega, teria se negado a executar o crime, antes de Lessa ser procurado para fazê-lo. Foi morto em uma troca de tiros com policiais do Bope baiano, com apoio da inteligência da Polícia Civil do Rio.

Braço direito de Adriano, o segundo-sargento Luiz Carlos Felipe Martins, foi morto a tiros, em 20 de março de 2021. Homens que estavam num carro dispararam contra o PM em Realengo.

Hélio de Paulo Ferreira, o Senhor das Armas, foi assassinado em 28 de fevereiro de 2023, num bar, no bairro do Anil. Ele chegou a ser investigado no inquérito Marielle e Anderson.

Lucas do Prado Nascimento da Silva, o Toddynho, sofreu uma emboscada na Avenida Brasil, na altura de Bangu, em 2019. Ele era suspeito de ter participado da clonagem e confecção de documentos falsos do Cobalt prata usado na execução de Marielle e Anderson.

Qual o próximo passo?

Apesar das prisões significarem um avanço consideravél no caso, elas não significam o encerramento da investigação. Com a quebra do sigilo, ainda há conclusões a serem divulgadas sobre outros envolvidos que ainda não foram identificados.

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