Com o adiamento do carnaval para fim de abril, a nostalgia marca os apaixonados pela folia
Por Edu Carvalho e Hélio Euclides, em 21/02/2022 às 10h20
Com o aumento nos casos de covid-19 e as incertezas sobre a realização do Carnaval 2022, os amantes da festa tem revisitado as lembranças do que já viveram e buscado alternativas para não deixar o sambar morrer. E quando se fala da folia das antigas na Maré, algumas das primeiras lembranças são os embalos do Bloco Mataram Meu Gato, da Nova Holanda, que depois virou a Escola de Samba Gato de Bonsucesso.
“O Gato foi fundado em 1999, a partir de uma fusão do Mataram Meu Gato, que era bloco”, conta Mauro Camilo, um dos criadores da agremiação. Longe do grupo B há dois anos, o Gato retornaria de maneira efetiva para os desfiles que acontecem na Intendente Magalhães, uma semana após os desfiles da série A. “Estamos trazendo tudo de volta, apesar de tudo, com muita compreensão e ajuda de todos. Por agora aguardamos a decisão da Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil (Liesb) sobre a realização do desfile ou não.”
Em janeiro, as prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo anunciaram o adiamento do desfile das escolas de samba do grupo especial do carnaval para o fim de semana do feriado de Tiradentes, em abril. A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) informou que as agremiações devem se apresentar nos dias 22 e 23 de abril no sambódromo, mas tudo ainda depende de como estará a taxa de contágio na cidade e da avaliação do comitê científico da Prefeitura.
Com a crise sanitária, as escolas de samba e seus integrantes foram os mais prejudicados por conta do cancelamento do carnaval em 2021. ‘’Tudo começou a ser feito pelo WhatsApp. Por ali temos encontros, reuniões. Com a pandemia, todas as escolas foram impactadas financeiramente’’, lamenta Mauro. Segundo ele, se o cenário é difícil para as escolas do Grupo Especial, para a série B é muito mais complicado. “Ganhamos dinheiro vendendo cerveja, fazendo feijoadas, eventos dentro da quadra. É difícil, mas tentamos fazer da melhor forma”, diz.
Atualmente o Gato tem média de oito compositores. Para a escolha do tema do desfile, o carnavalesco da escola cria um enredo e envia a sinopse para o time de compositores. Assim nascem os sambas, que serão defendidos por seus compositores em uma disputa para que um seja o escolhido pela agremiação.
Falta de apoio
Mas se engana quem acha que o Gato é a única a espalhar confete e serpentina por toda a Maré. Não se pode esquecer o Bloco Corações Unidos, que empolgava o Morro do Timbau, e os três blocos no Parque União: Alegria do Parque, Boca da Ilha e Filhos do Parque. Assim que possível, a alegria vai ficar por conta da Escola de Samba Siri de Ramos e dos blocos Gargalo da Vila, Se Benze Que Dá e o novato Relaxa Que Dói Menos.
Marco Antonio é fundador e presidente do Bloco Gargalo da Vila, que este ano completa 20 anos de folia pelas ruas da Vila do João e Conjunto Esperança; por conta da chegada da variante ômicron ao Rio, ele cancelou o desfile da agremiação, mas promete que ela volta com força total em 2023.
Hoje, as escolas decidiram paralisar a confecção de carros alegóricos e fantasias. É o caso da agremiação Siri de Ramos que, até o momento, só escolheu o samba e realiza os ensaios na quadra localizada na Roquete Pinto. Seu presidente, Edivaldo Pereira, conhecido como Vadão, explica a frustração causada pelo impasse não só por conta do coronavírus, como entre as ligas organizadoras do carnaval carioca (a Liesb e a Liga Independente Verdadeira Raízes das Escolas de Samba, a Livres).
Vadão afirma que para ajudar os trabalhadores do barracão só recebeu uma ajuda do governo do Estado. “Estamos chateados, uma vez que falta apoio da gestão municipal. Tiramos do bolso para realizar os ensaios. São R$ 1.500 por noite. Desde 2010, nunca vi uma situação tão complicada. Faço tudo pela escola, pois ela é um pedaço de mim. Brigo e choro, já que sou apaixonado pela Siri de Ramos.”
Como forma de convocar os moradores para o lançamento do carnaval na Praia de Ramos e em Roquete Pinto, acontece todos os anos o Siri Folia. Este ano, mesmo com o cenário complicado pela pandemia, a festa está marcada para o dia 13 de fevereiro, das 14h às 20h, com show das bandas Diz No Pé e Família Fuzuê. A organização explica que, para participar, o folião só precisa adquirir os abadás (a R$ 60) que dão direito a bebida liberada. O evento acontece na Rua Mascarenhas de Moraes, ao lado do Piscinão de Ramos. Mais informações: 96414-5648, 97009-2313 e 96472-1976.
Criado em 2020, pelo sonho de cinco amigos, o Relaxa Que Dói Menos anunciou o adiamento do evento no período de Carnaval devido ao aumento dos casos de covid-19. A previsão é de que o evento ocorra em abril. Com datas ainda a serem definidas, o evento vai contar com bebidas liberadas para os foliões que comprarem o kit com abadá, caneca e pulseira (R$ 50). “Nosso bloco é de abadás, com samba, marchinhas e músicas de axé para animar todos os gostos”, conta Andrea Souza, conhecida como Bebel. O samba-enredo escolhido é “Se você se vacinou vem pra cá, vem pro Relaxa Que Dói Menos sambar”, de Roberto Firmino (o Pacol) e interpretado por Playmobil da Ilha.
O bloco é composto por 25 ritmistas, quatro mestres-salas, rainha, musa, madrinha e miss plus size. Para entrar no ritmo do samba, toda a diretoria já recebeu a terceira dose da vacina. “Lamentamos muito pela pandemia, pois temos a consciência que esse vírus ainda está por aí, e por isso orientamos todos a se vacinarem”, diz Bebel. Segundo ela, é muito bom a comunidade ter algo para se divertir. “Não temos alas, o bloco arrasta foliões por onde passa, aí a emoção é forte quando a bateria dá show”, conta. O bloco este ano conta com o apoio dos comerciantes locais e conseguiu um espaço no Parque Ecológico, onde realiza os ensaios.
Situação do Carnaval de rua ainda pode mudar
Apesar do cancelamento do Carnaval de rua no início do ano, ainda há uma ponta de esperança de que a folia seja liberada juntamente aos desfiles de escolas de samba. Em entrevista à CNN, o secretário de saúde do Estado do Rio, Alexandre Chieppe, afirmou que não descarta a possibilidade de rever o cancelamento.
Já Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde, acredita que, apesar da previsão de um cenário epidemiológico mais favorável no mês de abril, a impossibilidade de controle sanitário dos eventos nas ruas torna a questão mais difícil.“Em relação ao Carnaval de rua é tudo mais complexo. Tem uma organização para se fazer, mas é um Carnaval sem nenhum tipo de controle sanitário. Bem mais complexo do que do que o Carnaval na Marquês de Sapucaí ou um Carnaval em local fechado”, disse em entrevista à CNN.