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Precisamos falar sobre sexo e ISTs

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Dados mostram que a prevenção é para todas as idades, gêneros e orientação sexual.

Edição #146 do Maré de Notícias

Por Teresa Santos e Samara Oliveira

Os dados do Observatório Epidemiológico da Cidade do Rio de Janeiro (EpiRio) mostram que precisamos falar sobre as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e que essa discussão é necessária para todos, independentemente do gênero, da orientação sexual ou da idade.

O EpiRio registrou, em 2022, 3.105 casos de pessoas com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o último estágio da infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Desse total, 49 pacientes moram na Maré. No mesmo período, o cenário epidemiológico carioca revelou 1.032 casos de hepatites virais (sendo 10  mareenses) e 12.622 casos de sífilis (322 nos territórios).

Considerando apenas a Maré, 33% dos casos de Aids são de mulheres; 70% das pessoas infectadas são pretas ou pardas. Nos casos de sífilis, 53% dos afetados são mulheres e 68,32%, pessoas pretas ou pardas. Com relação à idade, a média dos infectados é, nos casos de Aids, de 31 anos, e de 25 anos para sífilis. Mas as duas doenças não escolhem idade: há registro em diferentes faixas etárias, incluindo acima de 60 anos.

Grupo amplo

Apesar de o HIV, as hepatites virais (principalmente B e C) e a sífilis serem as ISTs mais divulgadas, esse grupo de infecções é amplo, causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários e parasitas. Algumas podem provocar sintomas como feridas, corrimento e verrugas, enquanto outras não apresentam alterações aparentes, e por isso a prevenção, o correto diagnóstico e o tratamento são fundamentais. Quando não diagnosticadas e tratadas, as ISTs podem levar a complicações como infertilidade, câncer, problemas mentais e mesmo a morte.

A coordenadora da Casa Nem e idealizadora do Instituto Trans da Maré, Lohana Carla, aponta a ausência de programas de prevenção na Maré.

“Do que vejo, não são muito divulgadas as informações sobre prevenção de ISTs, principalmente aqui na comunidade. No instituto, sempre fazemos rodas de conversa, chamamos profissionais para falar e explicar às mulheres, travestis e trans sobre a prevenção às ISTs. Muitas dessas pessoas são profissionais do sexo e precisam de informação sobre como se cuidar”, diz ela. 

Lohana conta com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Grupo pela VIDDA do Rio de Janeiro (GPV-RJ), a primeira entidade no Brasil, fundada pelo sociólogo e escritor Herbert Daniel (o Betinho), voltada para pessoas portadoras do HIV e com Aids, e que hoje auxilia e orienta quanto às ISTs.

Atenção via SUS

Existem algumas vacinas para prevenir ISTs; por exemplo, aquelas causadas pelo papilomavírus humano (HPV) ou pelo vírus da hepatite B (HVB). E ambas estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). 

No caso da vacina contra o HPV, ela é aplicada em duas doses no público-alvo, formado por crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos. Além deles, pessoas de até 45 anos vivendo com HIV; transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea; e pacientes oncológicos também podem receber a vacina, em um esquema de três doses.

Também em três doses, a vacina contra a hepatite B deve ser aplicada (a primeira dose) já nos primeiros 30 dias de vida. É importante, ao longo da vida, verificar se o esquema primário da vacinação foi completado.

Como são infecções sexualmente transmissíveis, a medida mais eficaz e mais indicada para preveni-las é o uso de preservativos. Segundo a infectologista Emilia Jalil,  do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids (LapClin Aids) do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), “de maneira geral, eles protegem contra vários tipos de IST, tanto as virais quanto as bacterianas, e são um mecanismo de prevenção bastante eficaz”. 

Vale lembrar que os preservativos (masculino e feminino) são distribuídos gratuitamente nos centros municipais de saúde e clínicas de família.

A PrEP consiste na administração de um único comprimido antirretroviral, diariamente – Foto: Matheus Affonso

Profilaxia contra o HIV

A camisinha ajuda a proteger contra a contaminação do HIV, mas há casos em que ela não foi usada. Para isso, existe a prevenção via uso de medicamentos — os chamados antirretrovirais. São dois protocolos (medicamentos combinados ou não): a profilaxia pré-exposição (PrEP) e a profilaxia pós-exposição (PEP). Ambas também estão disponíveis no SUS, via prescrição de um profissional de saúde.

A PrEP é destinada às pessoas que não vivem com o HIV, mas são mais vulneráveis à contaminação pelo vírus. Segundo as diretrizes do Ministério da Saúde, são elas gays, homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo, homens e mulheres trans, travestis e casais sorodiferentes (quando um tem HIV e outro não).

O tratamento consiste na administração de um único comprimido de medicação antirretroviral, diariamente. Aqueles que fazem parte de um dos grupos acima e têm mais de 15 anos podem obter gratuitamente a PrEP em unidades de saúde pública. De acordo com o site do Ministério da Saúde, os locais mais próximos onde esse protocolo médico é ofertado são a Clínica da Família Abid Jatene, na Maré, e o Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, em Ramos.

A PEP, por sua vez, é o protocolo de urgência, com a administração diária de dois medicamentos antirretrovirais por 28 dias para eliminar o vírus da HIV do organismo antes que a infecção se espalhe. Por isso, é preciso antes fazer a testagem; se o indivíduo já for soropositivo, ele receberá o tratamento contra a doença e não a profilaxia. 

A medicação precisa ser administrada até 72 horas depois do incidente com risco de contaminação — são eles situações de violência sexual; sexo consentido, porém sem camisinha; contato direto com substâncias como sangue, sêmen e secreção vaginal contaminados; e acidentes com instrumentos que porventura resultaram em ferimentos na pele (por menor que sejam) durante a manipulação de material biológico contaminado. 

Na Maré, segundo o Ministério da Saúde, a PEP está disponível na Clínica da Família Augusto Boal e nos centros municipais de saúde Gustavo Capanema, Hélio Smith, Nova Holanda e Vila do João.

Preconceito diário

No dia a dia, ainda há barreiras que dificultam o combate às ISTs, especialmente para o público feminino. Segundo a infectologista da Fiocruz, uma das principais dificuldades é a utilização do preservativo: esta é uma decisão do casal, mas sempre recai sobre a mulher a responsabilidade por seu uso.

Outro fator importante diz respeito ao atendimento nas unidades de saúde. Para Emília, falta um olhar mais individualizado: “Muitas vezes os profissionais têm dificuldade de informar corretamente e de enxergar a pessoa — trans, travesti ou cis — como paciente singular, com características próprias. Então, não é porque é travesti que necessariamente é vulnerável à IST, tampouco deixa de ter vulnerabilidade ao HIV porque é cis. Cada pessoa é única, tem sua individualidade e isso precisa ser respeitado.”

Dayane Gusmão é assistente social e fundadora da Casa Resistência Lésbica da Maré. Ela relembra que este tipo de dificuldade foi um dos principais motivadores para fundar o coletivo que acolhe mulheres cis e trans no conjunto de favelas. 

“Já vivenciei situações de eu querer fazer um preventivo e a médica dizer que não era preciso porque sou lésbica e não me relaciono sexualmente com homens. Nunca soube sobre ISTs que podem ocorrer na relação entre lésbicas. Eu só tive acesso a essas informações no movimento social, com lideranças que sabem desse vácuo e que ministravam oficinas. Como minha experiência foi essa, acabei conduzindo a coletiva nesse caminho. A mulheridade que foge da heteronormatividade sofre dificuldade no acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva”, conclui. 

Além de dificuldades como essa, Emilia Jalil também ressalta que, ao falar em IST, o foco recai sobre comportamentos de risco e questões biológicas; porém, frequentemente as estratégias preventivas esbarram em questões sociais e econômicas. 

Segundo ela, “pessoas com algum tipo de vulnerabilidade social e econômica, por exemplo, que não têm acesso a emprego, que vivem em um contexto de marginalização, com escolaridade baixa, pessoas negras e indígenas — esses indivíduos compõem grupos que têm menor acesso à saúde, a diagnóstico, prevenção e tratamento”.

Para os médicos, o preservativo é a medida mais indicada e eficaz para prevenir ISTs – Foto: Kísie Ainoã

Mareenses são selecionados em projeto #estudeofunk

Projeto gratuito conta com laboratório criativo na Fundição Progresso

Por Samara Oliveira

Impulsionando sonhos e talentos de regiões periféricas do Rio de Janeiro o projeto #estudeofunk foi idealizado para jovens MCs, DJs, dançarinos e produtores do Funk carioca, já atuantes ou não no cenário musical. A oportunidade oferece todo suporte para os artistas gravarem músicas e videoclipes, desenvolverem habilidades criativas e expressão corporal, e se conectarem com processos da indústria musical.

A iniciativa, que acontece na Fundição Progresso, coloca a Lapa como ponto de encontro entre artistas do funk de diversos territórios e facilita a criação de produtos culturais, fomentando novas expressões artísticas e fortalecendo o movimento artístico.

Na última segunda (6), foi o lançamento da terceira turma do programa e, entre os artistas, está a cantora e compositora da Maré, Kamy Mona.

“Estou muito animada e ansiosa pro projeto pois é algo grande e muito novo pra mim, nunca trabalhei com funk e acompanho o projeto desde a primeira edição. Vai ser um desafio bom”, disse.

O projeto é gratuito e oferece auxílio para alimentação e passagem para o deslocamento e continuidade do artista na iniciativa. Kamy Mona destaca a importância de trabalhos como esse para alavancar carreiras de pessoas da periferia. 

“Eu acho super importante oportunidades como essas, passei um bom tempo buscando esse suporte. Quando lancei meu primeiro trabalho tive muita dificuldade de acessar essas informações, mas graças a estes projetos (Crias da Música, Mostra Maré de Música e agora o Estude o Funk)  hoje me sinto muito mais preparada”, afirma. 

Além dela, Preta QueenB Rull, Natalhão e Detona Cry, que também são artistas da Maré, participaram das outras turmas. 

“Sabemos que o movimento funk tem expressão própria, mas nem todo mundo que vive essa cultura tem acesso e recursos de produção, educação e a chance de se conectar profissionalmente com a indústria. A Fundição é um dos principais palcos de apresentação do país, mas é também uma escola, um espaço de pesquisa e estudo das expressões artísticas.  Agora, com o #estudeofunk, passa a ter uma espécie de laboratório criativo para a cena, utilizando o seu potencial de realização, de desenvolver projetos socioculturais e impulsionando a indústria do showbiz. Estamos muito entusiasmados com o projeto e temos certeza de que vamos dar luz e revelar muitos talentos”, afirma Cris Nogueira, Gestora de Comunicação e MKT da Fundição Progresso e uma das idealizadoras do projeto.

Para acompanhar oportunidades futuras basta acessar o site oficial www.estudeofunk.com.br ou o Instagram @estudeofunk

Mulheres do Tijolinho

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Edição #146 do Maré de Notícias

“Mulheres do Tijolinho” nasce do olhar da artista favelada Kamila Camillo sobre mulheres, território e narrativas. As fotos são resultado do estudo antropológico e afetivo com mulheres da região conhecida como “tijolinho” no conjunto de favelas da Maré. Kamila explica que o “lugar é marcado por estigmas e que sua estética para o trabalho foi escolhida para refletir sobre as sutilezas e a beleza de como essas oito mulheres fotografadas desejam ser vistas pelo mundo”.

A força das feirantes na Maré

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Mulheres demonstram garra para garantir o sustento da família

Edição #146 do Maré de Notícias

Por Andrezza Paulo

Em sua maioria mães e viúvas, as feirantes conquistaram seu espaço numa seara historicamente muito masculina, e seguem na luta por condições dignas de trabalho e de vida. Que o diga Lídia Veloso, de 63 anos, que trabalha há quase 30 anos na Teixeira, a tradicional feira de sábado onde se encontra, entre as barracas de frutas e legumes, a de roupas femininas, peças feitas artesanalmente por ela.

Lídia é nordestina e veio do Maranhão para o Rio de Janeiro aos 20 anos, em busca de melhores condições de trabalho. Ela aprendeu a costurar e a dominar todo o processo, de comprar tecidos e aviamentos até carregar os fardos de roupa, montar sua barraca todo sábado e vender o que produz.

Ela não está sozinha: Maria José tem 84 anos e vende chinelos há 40 anos na Teixeira. Ela conta que iniciou o negócio com o marido, já falecido, e que foi assim que eles sustentaram a família. 

“Era meu marido e eu, mas Deus o levou e eu fiquei. Criei meu filho, construí meu cantinho e paguei o INSS com dinheiro da feira”, conta. Embora esteja aposentada, a renda que recebe não supre as suas necessidades. Se antes ela dividia a barraca simples, hoje ela vende suas mercadorias e os produtos artesanais da amiga, que não pode mais trabalhar na feira por estar doente. 

Mãe e filhas

Joice vende pastel com a ajuda das filhas Kamily e Karoline – Foto: Matheus Affonso

Joice Gregório tem 40 anos e vende pastéis. Há 18 anos, ela e o marido Marcos Antônio investiram tudo o que tinham para montar a barraca na Teixeira. Em 2020, ele foi assassinado durante um assalto, aos 35 anos. Desde então, Joice garante o sustento dela e das filhas do casal, Kamily e Karoline, com a venda dos pastéis.

 “Quando tinha meu esposo, ele trabalhava na Teixeira e também em outros lugares, mas agora somos nós três e essa é a única renda que a gente tem”, conta. 

Kamily e Karoline estudam e, nos fins de semana, ajudam a mãe na barraca: Joice faz a massa dos pasteis enquanto as adolescentes organizam os quitutes prontos para a venda. 

A feirante relata as dificuldades que enfrenta na rotina: “Eu não posso ficar doente, não posso parar. Já fiquei muito mal, mas fui trabalhar. Não tem jeito, eu preciso dessa renda”, diz. 

Luta na favela

Empreender na favela muitas vezes tem um significado diferente de empreender em outros espaços. É o que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) define como empreendedorismo de necessidade, geralmente atrelado à falta de oportunidade no mercado de trabalho e à necessidade de sobrevivência.

Dados do Digital Favela mostram que entre os moradores de favela do Brasil, 41% têm um negócio próprio, sendo que, para 22%, essa é a principal fonte de renda; 57% dos empreendedores declaram ter investido em si mesmos para driblar a ausência de oportunidades com carteira assinada no mercado formal. A pesquisa realizada em 2022 também aponta que 63% desses empreendedores não têm CNPJ, ou seja, são informais. 

O Sebrae elaborou, em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), um estudo que revelou o lado feminino dessa luta: 55% das mulheres brasileiras decidiram iniciar seus próprios negócios por necessidade de obter renda — dado confirmado pela trajetória das mulheres aqui retratadas. 

Maria José, de 84 anos, sustenta a família com chinelos, que vende há 40 anos, na feira da Teixeira – Foto: Matheus Affonso

Casa das Mulheres da Maré lança programação especial para o mês de Março

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Direitos das mulheres, cultura, empreendedorismo e saúde mental, sexual e reprodutiva marcam as atividades.

Por Andrezza Paulo

A Casa das Mulheres da Maré lança nesta quarta-feira, dia 8 de março, uma programação super especial para o mês das mulheres. Para marcar o início das atividades, ocorreu a Oficina Mareas com distribuição de absorventes e um café em comemoração ao aniversário da Redes da Maré preparado pelo buffet e curso de gastronomia Maré de Sabores. A programação conta também com atividades que vão desde roda de conversa sobre pobreza menstrual, ocupação do Maré de Sabores e de Belezas no Espaço Normal, Circuito Maré de Direitos com orientações sociojurídicas para mulheres, além do evento de fechamento com mesas, conversas e atividades físicas e culturais para todas as mareenses. 

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO NA ÍNTEGRA:

08/03 – das 08h às 11:30:

Oficina Maréas  + Distribuição de absorvente 

Local: Josué de Castro (Rua Vitória, 162 – Vila do João)

08/03 – das 15h às 16h:

Aniversário da Redes da Maré – celebração com café da Tarde

Local: Casa das Mulheres da Maré (Rua da Paz, 42 – Parque União)

13/03 – às 16h:

Lançamento do Boletim de Segurança Pública da Maré

Local: Ritma (Rua Teixeira Ribeiro, 521 – Nova Holanda)

14/03

13h – Lançamento do Boletim de Segurança Pública da Maré

Local: MAR

17h – Festival Marielle Franco 

Local: Praça Mauá

15/03 – às 16h:

Ação de distribuição de absorventes em todas as atividades realizadas na Redes

Local: Prédio Central da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda), Lona Cultural da Maré (Rua Ivanildo Alves, s/n – Nova Maré), Centro de Artes da Maré (Rua Bittencourt Sampaio, 181 – Nova Holanda) e Vila dos Pinheiros – Via A1, s/n. Anexo Ciep Gustavo Capanema.

16/03

Ocupação Casa das Mulheres no Espaço Normal

9:30h: Atendimento do Salão do Maré de Belezas no Espaço Normal

11h: Roda de conversa sobre gênero e mulheres em situação de rua

12h: Entrega de refeições e segurança alimentar (Maré de Sabores)

Local: Espaço Normal (Rua 17 de Fevereiro, 237 – Parque Maré)

20/03 – às 15h:

Maréas + Preparatório (Roda de conversa sobre pobreza menstrual)

Local: Prédio Central da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda)

21/03

10h – Maré de Sabores nas escolas

– Atividade de educação alimentar com crianças

Local: CIEP Samora Machel (Rua Principal s/nº)

15h – Maréas + Preparatório (Roda de conversa sobre pobreza menstrual)

Local: Ciep Ministro Gustavo Capanema (Vila dos Pinheiros – Via A1, s/n)

22/03

Ocupação Segurança pública na Casa das Mulheres da Maré e o grupo de mães + Mulheres egressas do sistema carcerário.

10h – Orientação Profissional para Mulheres

16h – Orientação Sociojurídica

Local: Casa das Mulheres da Maré (Rua da Paz, 42 – Parque União)

28/03 – 10h às 16h:

Circuito Maré de Direitos na Rua

– Especial Dia da Mulher com orientações sociojurídicas (atendimento na rua), de saúde (com a participação dos equipamentos de saúde) e do CRMM

Local: Ciep Ministro Gustavo Capanema ( Vila dos Pinheiros – Via A1, s/n)

31/03 – 10h às 17h  Evento na Casa das Mulheres da Maré

10h – Atividade esportiva com MariEllas

11:30h – Escola de Dança na Casa das Mulheres da Maré

12h – Feira das Empreendedoras com Barraca Maréas, Maré de Notícias e Maré de Sabores

13h – Roda de conversa | Saúde mental das meninas, Esporte e Prevenção ao suicídio das mulheres

15h – Roda de conversa | Maternidade, Aborto e Justiça Reprodutiva 

17h: Grupo Feminino de Forró

A Casa das Mulheres da Maré fica na Rua da Paz, número 42, Parque União. Para saber mais, acompanhe as redes sociais da Redes da Maré e fique por dentro de toda a programação. 

Maré de Mulheres e Notícias

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O que pensam e desejam as repórteres e editoras do Maré de Notícias neste 8 de março para as mulheres, e, principalmente, para as mulheres do Conjunto de 16 favelas da Maré. 

Por Amanda Célio e Jéssica Pires

A luta pela garantia de direitos básicos na Maré tem um histórico protagonismo das mulheres. A própria Redes da Maré é resultado desse processo. Eliana Sousa, fundadora e diretora da organização, é uma das mulheres e símbolo dessa representatividade. Eliana liderava a Chapa Rosa nos 1980 e se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, estando à frente da associação por seis anos. A Chapa Rosa é como se nomeou um grupo composto apenas de mulheres. Com uma dinâmica de gestão e mobilização social, Eliana pôde implantar  equipamentos, que facilitaram a distribuição de energia elétrica e outros serviços básicos para a população da Maré, como o processo de chegada da água. Benefícios utilizados até hoje, graças ao voto popular.

O Maré de Notícias foi pensado e fundado, em 2009, como um dos resultados do avanço da metodologia da Redes da Maré. Pensar o jornalismo e a comunicação mareense a partir de toda essa experiência de luta e mobilização foi fundamental para a estruturação e desenvolvimento desse projeto.

Atualmente, a equipe do Maré de notícias tem a maioria de mulheres em sua composição, o que faz toda diferença para o material que produzimos diariamente. Afinal, são nove mulheres (Jéssica Pires, Dani Moura, Amanda Célio, Ana Paula Lisboa, Andrezza Paulo, Samara Oliveira, Aline Fornel, Gabi Lino e Julia Marino), mães, mulheres negras, trabalhadoras, que estão diariamente fazendo a engrenagem girar, sendo dentro de suas casas e cuidando da família, seja em outras regiões do estado correndo atrás da sua independência. 

A vida de uma mulher já é desafiadora e complexa desde quando nascemos. Nossos direitos são negados há anos. No Brasil, adquirimos o direito de votar apenas há 92 anos – uma vitória que precisa ser comemorada e refletida até hoje. 

Vale lembrar que mesmo as mulheres sendo mais de 50% do eleitorado brasileiro, na Câmara Federal somos pouco mais de 17% dos deputados eleitos, sendo 91 mulheres para um total de 563 parlamentares eleitos. No Senado, dos 27 eleitos em 2022, apenas quatro foram mulheres. E temos apenas 11 mulheres, dentre os 81 senadores do Brasil. Ainda não temos garantida a plena participação das mulheres na política, mas isso não significa que vamos parar de lutar. 

De acordo com uma matéria do site Alma Preta, até hoje mulheres negras são impactadas de maneira diferente em assuntos eleitorais, mesmo sendo quase 30% da população brasileira, se candidatam menos e algumas sequer conseguem votar.

Também não somos vistas nos principais cargos de chefia, não temos os mesmo salários que os homens, a disparidade de gênero nos bate à porta a cada dia. 

Quando falamos do cotidiano que atravessa a vida da mulher favelada a história é duas vezes mais complicada. Isso porque, para além das batalhas diárias, uma mulher, criança ou adolescente que nasce na favela precisa lidar com a falta de direitos básicos como ter acesso à uma estrutura de saneamento básico eficiente; à saúde e educação de qualidade; à mobilidade, aos direitos urbanos e ambientais, além do acesso à arte, cultura e lazer por exemplo. 

Neste dia 8, é dia de lembrar e resgatar forças para não desistirmos de lutar juntas. É preciso estarmos atentas e fortes. Atentas também aos nossos direitos reprodutivos, que estão sempre sendo questionados, retirados na surdina e questionados por homens brancos de paletó e gravata. Não vamos esquecer que só há sete dias atrás, no dia 1° de março, é que a nova lei da laqueadura, que garante à mulher o direito ao procedimento sem a necessidade de autorização do marido, entrou em vigor, após ser aprovada em agosto de 2022. 

Para não esquecer: laqueadura antes de 25 anos e agora é 21 anos. Se tiver 2 filhos,  não tem idade mínima. Se quiser fazer o procedimento no momento ali após o parto, pode, desde que comunique 60 dias com antecedência o interesse de fazer a cirurgia. E, não precisa mais do consentimento do cônjuge.

A saúde reprodutiva da mulher é pautada há anos, porém sobre o poder de decisão masculina, inclusive em casos de violência sexual e risco de vida da mãe e do bebê. A interrupção da gravidez é reconhecida pelo Código Penal brasileiro desde 1946, autorizado em casos de má formação fetal (anencefalia); quando a vida da gestante está em risco (em ambos os casos é necessário um laudo médico); se a gravidez é fruto de um estupro e em caso de gestação em menores de 14 anos, visto que toda relação sexual com uma menina dessa idade é considerada por lei estupro de vulnerável. Infelizmente e de maneira contraditória, o aborto legal não é garantia para que os procedimentos aconteçam aqui no Brasil, já que o estigma gerado a partir da interpretação do Código Penal resulta em dúvidas nos profissionais de saúde e discussões de caráter moral. 

De acordo com o Ministério da Saúde, o risco de uma mulher negra morrer por aborto inseguro é 2,5 vezes maior do que o de uma mulher branca. O Brasil, um país de dimensões continentais, tem poucos polos de atendimento e está concentrado em regiões com maior poder aquisitivo. Quase 40% das mulheres que fizeram um aborto autorizado por lei no Brasil entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022 realizaram o procedimento fora do município onde moravam, segundo levantamento feito pelo g1 com dados do Sistema Único de Saúde (SUS) obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).

As mulheres que moram mais distante dos centros – pretas, periféricas e indígenas – ficam mais expostas a complicações; e reféns da falta de acesso.

E não podemos esquecer também das mulheres trans, das mulheres indígenas, das mulheres com deficiência. O tema é urgente e delicado. Só em 2021 a categoria “deficiência” ganhou visibilidade no Atlas da Violência, devido à mobilização dos movimentos de enfrentamento à violência contra as mulheres com deficiência. Vale lembrar que a perpetração de violência contra pessoas com deficiência é proporcionalmente maior.

Que este 8M fortaleça a luta e as conquistas de todas. E que as mulheres que compõe essa Maré de Notícias sejam sempre fio que tecem direitos para as mareenses e tantas outras mulheres.