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Mortes em operações policiais na Maré aumentam em 145% em 2022

Boletim lançado pela Redes da Maré nesta segunda apresenta dados e análises sobre o direito à segurança pública na região, no último ano

Por Jéssica Pires

Depois de três anos com queda no número de operações policiais na Maré, o território voltou a vivenciar um aumento de ações das forças de segurança, mortes e violações de direitos. É o que mostra a sétima edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, lançada nesta segunda-feira (13). Em 2022, as 26 operações policiais que aconteceram na Maré resultaram em 27 mortes. Das vítimas, 97% eram homens, sendo 81% pretos ou pardos. 

Em 2021, foram 20 operações policiais e 11 mortes decorrentes dessas ações; no ano anterior, com a pandemia do coronavírus, 16 operações resultaram em 5 mortes na Maré — esse número representou 85% menos mortes do que no ano de 2019, de acordo com os dados do boletim Direito à Segurança Pública na Maré de 2020. 

Ainda segundo o levantamento, entre os meses de setembro e novembro de 2022 — período eleitoral, quando a segurança pública foi destaque na pauta dos candidatos ao governo do estado do Rio de Janeiro e depois, na dos dois candidatos a presidente — registrou-se o maior número de mortes em operações policiais, configurando uma taxa de letalidade significativa. 

Para Daniel Hirata, professor de sociologia e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos na Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF), a direção tomada pela política de segurança pública segue equivocada, tanto do ponto de vista do enfrentamento do crime comum, da criminalidade organizada, como do respeito aos direitos e à dignidade da vida humana.

“A interrupção dos serviços de saúde e de educação, a impossibilidade de trabalhar, os impactos inclusive psicológicos que essas operações provocam nos moradores são indicativos de este não ser o melhor caminho para o enfrentamento da violência.”

Daniel Hirata, professor de sociologia e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos na Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF)

Via Judicial

Nos últimos anos, o combate a essa estratégia de enfrentamento adotada pelo poder público apresentou resultados, muito em função do trabalho conjunto de organizações e movimentos da sociedade civil que pensaram e se mobilizaram para acionar a justiça. Foi assim que nasceram a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental, a ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas,e a Ação Civil Pública (ACP) da Maré.

Uma das exigências da ADPF das Favelas é a apresentação de um Plano de Redução da Letalidade Policial por parte do governo do estado do Rio de Janeiro. Desde fevereiro de 2022, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) vem exigindo que o estado apresente uma proposta. 

O que foi apresentado pelo governador Cláudio Castro em março passado foi rejeitado por não ter levado em conta a participação da sociedade. O STF ordenou que houvesse uma audiência pública para a elaboração do documento. O governo do estado apresentou, em dezembro do ano passado, um novo plano, mas sem mudanças significativas. 

No dia 21 de dezembro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) instituiu um grupo de trabalho, com a participação da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, para estudar e formular programas e ações que reduzam a letalidade em ações policiais. “O plano de redução da letalidade policial é fundamental para a queda dos índices da violência do estado. Mesmo com a ausência de diálogo com o governo, entendemos que é uma área de luta política fundamental”, diz Daniel Hirata.

Desrespeito

Apesar de o STF ter determinado que o governo do estado do Rio de Janeiro, como ente federativo responsável pela segurança pública, cumprisse algumas das medidas da ADPF das Favelas, os dados sobre as ações de 2022 evidenciam desrespeito à suprema corte. 

No último ano, das operações policiais ocorridas nas regiões das favelas da Maré, não foram identificadas as presenças de ambulâncias e equipes de saúde para socorro às vítimas:

  • 62% aconteceram próximo a escolas e creches
  • 67%, perto das unidades de saúde.

“Todo este contexto torna-se ainda mais dramático quando constatamos que grande parte das mortes tiveram indícios de execução. Nas operações policiais, o número chegou a 89%. Nestes casos, as vítimas não têm qualquer chance de defesa, elas sofrem uma sentença de morte onde as chances de investigação e responsabilização dos culpados é mínima”, analisa Liliane Santos, coordenadora do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

“Todo cidadão tem direito a uma defesa de qualidade, ao acesso à Justiça e, se for o caso, ao cumprimento da pena de forma digna”. 

Liliane Santos, coordenadora do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

Homicídios com indícios de execução, violações de domicílios e danos ao patrimônio de moradores também constam do boletim, que destaca outro elemento frequente e irregular nas operações de 2022: a ausência de perícia nos casos de homicídio, acompanhada da falta de informações sobre pessoas feridas.

Monitoramento

Para que a sociedade e o Estado elaborem soluções e políticas públicas que promovam a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, é fundamental a produção de dados. O trabalho do projeto De Olho na Maré acontece desde 2016, a partir de uma metodologia que conta com uma rede de colaboradores, moradores e organizações dos territórios.

Esse grupo trabalha compartilhando informações sobre o cotidiano das operações e os contextos de violência nas 16 favelas que compõem a Maré. A equipe do projeto coleta das policiais e secretarias de segurança dados que são sistematizados e, a partir de um banco de dados organizado, pública a análise das informações no Boletim Direito à Segurança Pública na Maré

A 7ª Edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré apresenta dados e análises sobre o contexto da violência armada no conjunto de favelas em 2022 e será lançado este mês. Na próxima página você pode conferir destaques sobre as informações coletadas. O boletim completo está disponível no site da Redes da Maré.

Participe das atividades do Lançamento do 7º Boletim Direito à Segurança Pública na Maré:

Dia 13/03

Local: Galpão RITMA (Rua Teixeira Ribeiro, 521 – Parque Maré – Entrada franca sujeita à lotação

  • 16h – Leitura do Manifesto das Mães da Maré
  • 16h10 – Apresentação da metodologia de coleta de dados do “De Olho na Maré!”
  • 16h40 – Exibição do vídeo da campanha “É preciso estar vivo para viver”
  • 16h50 – Apresentação de SLAM com Math de Araújo e Poeta Stacy
  • 17h – Abertura da exposição itinerante “Impactos da violência armada na Maré”

Dia 14/03

Local: Museu de Arte do Rio (MAR) (Praça Mauá, 5 – Centro do Rio – Sala 2.2 Entrada franca sujeita à lotação)

  • 13h – Leitura do Manifesto das Mães da Maré
  • 13h10 – Apresentação da metodologia de coleta de dados do “De Olho na Maré!”
  • 13h40 – Exibição do vídeo da campanha “É preciso estar vivo para viver”
  • 13h50 – Apresentação de SLAM com Math de Araújo e Poeta Stacy
  • 14h – Abertura da exposição itinerante “Impactos da violência armada na Maré”



Saiba mais:

Lançamento do boletim sobre violências marca o encerramento de 2º dia de Congresso Internacional na Maré – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

Reflexões sobre favela e racismo marcam lançamento do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

Edição especial do ‘Boletim Direito à Segurança Pública na Maré’ é lançada – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

Lançamento de boletim chama atenção para letalidade de operações policiais – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

Redes da Maré lança 3º Boletim pelo Direito à Segurança Pública na Maré – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

Especialistas alertam para risco de pomadas modeladoras

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Anvisa proibiu a comercialização e utilização de todas as pomadas modeladoras de cabelos em fevereiro

Por Lucas Feitoza

“Quando não se usa a pomada acontece isso”, desabafa a trancista Michelle da Silva do Nascimento, de 29 anos, enquanto desfaz a trança da cliente que voltou para consertar fios soltos. A trancista mora no Conjunto Bento Ribeiro Dantas, conhecido como Fogo Cruzado, e conta que mesmo depois da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibir, no dia 9, o  uso e comercialização de pomadas modeladoras, as clientes ainda procuram o produto pela durabilidade, e na favela, ainda encontram lugares vendendo. “Eu alerto sobre os riscos de usar essa pomada, mas antes usava para fazer as tranças das clientes e não tive nenhum caso aqui no meu salão”, afirma.

A medida preventiva foi tomada depois que a Anvisa recebeu outros relatos de “cegueira temporária”, como está sendo chamada a Ceratite Ocular. A última nota da agência contabilizava 780 casos relacionados ao uso dos produtos de modelar/trançar cabelos. A oftalmologista Liana Tito Francisco, sócia fundadora do grupo Ifé Medicina, considera inadequado chamar de cegueira temporária, já que a ceratite ocular é uma inflamação temporária na córnea, caracterizada por machucados e escoriações na pele, vermelhidão e inchaços nas pálpebras e sensação de corpo estranho, que causam a diminuição da visão. Mas Liana tranquiliza que fazendo o tratamento de forma adequada, em aproximadamente 30 dias os sintomas terão passado.

A cliente que foi refazer o cabelo é a dona de casa Valdeci da Silva Santos, de 57 anos, que também mora no Fogo Cruzado. Ela relata que faz trança há muito tempo e nunca teve problemas, apenas com Michelle, ela já trança o cabelo há três anos: “Eu, minha filha e a minha comadre nunca tivemos problema, eu lavo o cabelo pra trás, fico no sol pra secar e fica tudo bem”, afirma.

Já a jovem Cecília Lemos Victoriano dos Santos, de 17 anos, que mora na Vila dos Pinheiros, não teve a mesma sorte. Ela relata o desespero vivido em dezembro de 2019, quando colocou tranças pela primeira vez. Depois de lavar o cabelo alguns dias após a aplicação, ela sentiu um desconforto nos olhos: “Achei normal, mas ficou o dia todo aquele incômodo, eu dormi e no dia seguinte estava pior”, conta. A estudante relembra que foi ao hospital e lá passaram remédio para desinflamar, mas não disseram o que tinha causado. Ela resolveu fazer uma pesquisa sobre o assunto na internet e encontrou que poderia ter sido a pomada de cabelo. Mesmo assim, três meses depois, optou por colocar trança de novo, e teve o mesmo problema: “Como eu já tinha o remédio que o médico passou, coloquei e melhorou rápido, mas foi horrível.”

Não são casos isolados

O que aconteceu com Cecília também foi relatado por outras pessoas que usaram os produtos para cabelo. O caso mais conhecido aconteceu com a influenciadora digital Bielle Elizabeth, de 29 anos, que relatou a cegueira temporária no início do ano. 

A oftalmologista Liana Francisco alerta para os riscos de continuar usando o produto mesmo sabendo da proibição: “O ideal é aguardar a liberação ou proibição (definitiva) da Anvisa com o produto no armário, porque não tem como assegurar que você não vai pegar uma chuva e o produto escorrer para os olhos,” afirma. Liana Francisco explica também que qualquer machucado nas córneas são propícios para complicações que podem danificar a visão ou até mesmo causar cegueira definitiva. 

Nos casos de produtos químicos entrarem em contato com os olhos, a médica explica que deve-se lavar a região com água corrente por pelo menos 30 minutos e ir para a emergência, preferencialmente a oftalmológica, para passar por exames específicos e detectar o problema para que dê início ao tratamento. 

A trancista Michelle optava pelas pomadas capilares pelo preço mais acessível e pela quantidade. Um pote de 1kg custa em média R$40, mas hoje em dia ela opta pela gelatina capilar, para evitar os riscos. 

Em nota, a Anvisa destaca que todas as pomadas de trançar/modelar cabelos estão proibidas e que também não devem ser vendidas; “Neste momento, não há determinação de recolhimento geral, mas os produtos não podem ser comercializados”. 

Respira Maré: monitoramento do ar começa na segunda

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Com duração de oito meses, a pesquisa parte da preocupação com o ar que os moradores da Maré respiram e os impactos na saúde

Por Lucas Feitoza

Respira fundo e responde: como está o ar onde você mora? Na próxima segunda-feira (13)  começam as pesquisas do Respira Maré, projeto do eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais (DUSA). Com  duração de oito meses, a busca pretende responder esta pergunta mapeando as variações de temperatura e poluição em toda a Maré. 

Na última terça-feira (7) os agentes ambientais e coordenadores do projeto visitaram as associações dos moradores para apresentar a proposta e mostrar como a pesquisa será feita. A primeira associação a receber a equipe foi do Parque União, representada por Roberto Estácio, que considerou a iniciativa importante a longo prazo para a vida dos moradores: “Hoje eles podem questionar porque isso é importante, mas depois vão ver as melhorias”, pontuou. O Respira Maré também mapeará as áreas verdes e ilhas de calor, que são locais com temperatura mais elevada no bairro.

O monitoramento da temperatura e aspectos do ar parte do princípio preocupante de que a Maré é afetada pelo calor e poluição vindas das principais vias que cercam o bairro: a Avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha. A localização da Maré torna a população mais propícia a sofrer doenças respiratórias causadas pelos gases poluentes como o dióxido de enxofre (SO2), resultado da queima de combustíveis fósseis como a gasolina, que é liberado pelo escapamento dos carros que passam pelas vias ou também da queima de plástico, prática comum em lugares em que a coleta de lixo não chega.

Agentes Ambientais são da Maré

Para o projeto, cinco agentes ambientais foram selecionados entre as 87 inscrições recebidas e foram divididos nos pontos estabelecidos pela coordenação. Os agentes foram contratados pela Redes da Maré a partir do edital de seleção lançado no início de fevereiro. 

Luis Carlos Soares, de 21 anos, é um dos agentes ambientais e disse estar empolgado com a oportunidade de trabalhar na análise. “Futuramente irá agregar dados valiosos para o Conjunto de favelas da Maré no geral, com a ajuda de outros agentes ambientais”, concluiu.

Rian de Queiroz, coordenador de campo do Respira Maré, explica que os agentes vão acompanhar diariamente o clima da Maré, que foi dividida em cinco pontos estratégicos de análise próximos das vias, mais dentro da favela, para monitorar como o calor e a poluição afetam a vida dos locais.

A coordenadora geral do projeto, Girlaine Negreiros, conta que mesmo sofrendo com interferências de fatores externos, como a chuva, as operações policiais e os confrontos de civis armados, a pesquisa tem prazo definido de início e fim e não deve sofrer alterações, devido ao cumprimento da parceria  com o Instituto Clima e Sociedade (ICS).  “Por isso a necessidade dos agentes ambientais serem moradores da Maré, por estarem familiarizados com a área em que serão responsáveis pela análise e saberem como agir em situações adversas”, explica.  

Para o monitoramento será usado o Temtop M2000 aparelho parecido com um  rádio comunicador que conta com sensor a laser capaz de detectar partículas de dióxido de carbono e outros poluentes. As medições têm horário exato para serem realizadas para não ter alterações, caso tenha alguma interferência como poeira, elas devem ser anotadas pelos agentes para serem consideradas no resultado final. 

“Após análise e conclusão da pesquisa, além de ações com apoio dos moradores para mudanças proporcionais, os estudos possibilitam também que outras propostas de soluções sejam pensadas”, explica Maurício Dutra, pesquisador e mobilizador territorial.
A saúde respiratória dos moradores da Maré já foi matéria do Maré de Notícias. Para saber mais leia “Respira, Maré: localização entre vias expressas representa alerta para saúde respiratória” sobre a Campanha Climão, que traz os dados da pesquisa, análise de especialistas e atitudes que colaboram para  a mudança climática e ajudam a Maré a respirar melhor. Clique aqui para ler a matéria.

Precisamos falar sobre sexo e ISTs

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Dados mostram que a prevenção é para todas as idades, gêneros e orientação sexual.

Edição #146 do Maré de Notícias

Por Teresa Santos e Samara Oliveira

Os dados do Observatório Epidemiológico da Cidade do Rio de Janeiro (EpiRio) mostram que precisamos falar sobre as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e que essa discussão é necessária para todos, independentemente do gênero, da orientação sexual ou da idade.

O EpiRio registrou, em 2022, 3.105 casos de pessoas com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o último estágio da infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Desse total, 49 pacientes moram na Maré. No mesmo período, o cenário epidemiológico carioca revelou 1.032 casos de hepatites virais (sendo 10  mareenses) e 12.622 casos de sífilis (322 nos territórios).

Considerando apenas a Maré, 33% dos casos de Aids são de mulheres; 70% das pessoas infectadas são pretas ou pardas. Nos casos de sífilis, 53% dos afetados são mulheres e 68,32%, pessoas pretas ou pardas. Com relação à idade, a média dos infectados é, nos casos de Aids, de 31 anos, e de 25 anos para sífilis. Mas as duas doenças não escolhem idade: há registro em diferentes faixas etárias, incluindo acima de 60 anos.

Grupo amplo

Apesar de o HIV, as hepatites virais (principalmente B e C) e a sífilis serem as ISTs mais divulgadas, esse grupo de infecções é amplo, causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários e parasitas. Algumas podem provocar sintomas como feridas, corrimento e verrugas, enquanto outras não apresentam alterações aparentes, e por isso a prevenção, o correto diagnóstico e o tratamento são fundamentais. Quando não diagnosticadas e tratadas, as ISTs podem levar a complicações como infertilidade, câncer, problemas mentais e mesmo a morte.

A coordenadora da Casa Nem e idealizadora do Instituto Trans da Maré, Lohana Carla, aponta a ausência de programas de prevenção na Maré.

“Do que vejo, não são muito divulgadas as informações sobre prevenção de ISTs, principalmente aqui na comunidade. No instituto, sempre fazemos rodas de conversa, chamamos profissionais para falar e explicar às mulheres, travestis e trans sobre a prevenção às ISTs. Muitas dessas pessoas são profissionais do sexo e precisam de informação sobre como se cuidar”, diz ela. 

Lohana conta com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Grupo pela VIDDA do Rio de Janeiro (GPV-RJ), a primeira entidade no Brasil, fundada pelo sociólogo e escritor Herbert Daniel (o Betinho), voltada para pessoas portadoras do HIV e com Aids, e que hoje auxilia e orienta quanto às ISTs.

Atenção via SUS

Existem algumas vacinas para prevenir ISTs; por exemplo, aquelas causadas pelo papilomavírus humano (HPV) ou pelo vírus da hepatite B (HVB). E ambas estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). 

No caso da vacina contra o HPV, ela é aplicada em duas doses no público-alvo, formado por crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos. Além deles, pessoas de até 45 anos vivendo com HIV; transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea; e pacientes oncológicos também podem receber a vacina, em um esquema de três doses.

Também em três doses, a vacina contra a hepatite B deve ser aplicada (a primeira dose) já nos primeiros 30 dias de vida. É importante, ao longo da vida, verificar se o esquema primário da vacinação foi completado.

Como são infecções sexualmente transmissíveis, a medida mais eficaz e mais indicada para preveni-las é o uso de preservativos. Segundo a infectologista Emilia Jalil,  do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids (LapClin Aids) do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), “de maneira geral, eles protegem contra vários tipos de IST, tanto as virais quanto as bacterianas, e são um mecanismo de prevenção bastante eficaz”. 

Vale lembrar que os preservativos (masculino e feminino) são distribuídos gratuitamente nos centros municipais de saúde e clínicas de família.

A PrEP consiste na administração de um único comprimido antirretroviral, diariamente – Foto: Matheus Affonso

Profilaxia contra o HIV

A camisinha ajuda a proteger contra a contaminação do HIV, mas há casos em que ela não foi usada. Para isso, existe a prevenção via uso de medicamentos — os chamados antirretrovirais. São dois protocolos (medicamentos combinados ou não): a profilaxia pré-exposição (PrEP) e a profilaxia pós-exposição (PEP). Ambas também estão disponíveis no SUS, via prescrição de um profissional de saúde.

A PrEP é destinada às pessoas que não vivem com o HIV, mas são mais vulneráveis à contaminação pelo vírus. Segundo as diretrizes do Ministério da Saúde, são elas gays, homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo, homens e mulheres trans, travestis e casais sorodiferentes (quando um tem HIV e outro não).

O tratamento consiste na administração de um único comprimido de medicação antirretroviral, diariamente. Aqueles que fazem parte de um dos grupos acima e têm mais de 15 anos podem obter gratuitamente a PrEP em unidades de saúde pública. De acordo com o site do Ministério da Saúde, os locais mais próximos onde esse protocolo médico é ofertado são a Clínica da Família Abid Jatene, na Maré, e o Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, em Ramos.

A PEP, por sua vez, é o protocolo de urgência, com a administração diária de dois medicamentos antirretrovirais por 28 dias para eliminar o vírus da HIV do organismo antes que a infecção se espalhe. Por isso, é preciso antes fazer a testagem; se o indivíduo já for soropositivo, ele receberá o tratamento contra a doença e não a profilaxia. 

A medicação precisa ser administrada até 72 horas depois do incidente com risco de contaminação — são eles situações de violência sexual; sexo consentido, porém sem camisinha; contato direto com substâncias como sangue, sêmen e secreção vaginal contaminados; e acidentes com instrumentos que porventura resultaram em ferimentos na pele (por menor que sejam) durante a manipulação de material biológico contaminado. 

Na Maré, segundo o Ministério da Saúde, a PEP está disponível na Clínica da Família Augusto Boal e nos centros municipais de saúde Gustavo Capanema, Hélio Smith, Nova Holanda e Vila do João.

Preconceito diário

No dia a dia, ainda há barreiras que dificultam o combate às ISTs, especialmente para o público feminino. Segundo a infectologista da Fiocruz, uma das principais dificuldades é a utilização do preservativo: esta é uma decisão do casal, mas sempre recai sobre a mulher a responsabilidade por seu uso.

Outro fator importante diz respeito ao atendimento nas unidades de saúde. Para Emília, falta um olhar mais individualizado: “Muitas vezes os profissionais têm dificuldade de informar corretamente e de enxergar a pessoa — trans, travesti ou cis — como paciente singular, com características próprias. Então, não é porque é travesti que necessariamente é vulnerável à IST, tampouco deixa de ter vulnerabilidade ao HIV porque é cis. Cada pessoa é única, tem sua individualidade e isso precisa ser respeitado.”

Dayane Gusmão é assistente social e fundadora da Casa Resistência Lésbica da Maré. Ela relembra que este tipo de dificuldade foi um dos principais motivadores para fundar o coletivo que acolhe mulheres cis e trans no conjunto de favelas. 

“Já vivenciei situações de eu querer fazer um preventivo e a médica dizer que não era preciso porque sou lésbica e não me relaciono sexualmente com homens. Nunca soube sobre ISTs que podem ocorrer na relação entre lésbicas. Eu só tive acesso a essas informações no movimento social, com lideranças que sabem desse vácuo e que ministravam oficinas. Como minha experiência foi essa, acabei conduzindo a coletiva nesse caminho. A mulheridade que foge da heteronormatividade sofre dificuldade no acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva”, conclui. 

Além de dificuldades como essa, Emilia Jalil também ressalta que, ao falar em IST, o foco recai sobre comportamentos de risco e questões biológicas; porém, frequentemente as estratégias preventivas esbarram em questões sociais e econômicas. 

Segundo ela, “pessoas com algum tipo de vulnerabilidade social e econômica, por exemplo, que não têm acesso a emprego, que vivem em um contexto de marginalização, com escolaridade baixa, pessoas negras e indígenas — esses indivíduos compõem grupos que têm menor acesso à saúde, a diagnóstico, prevenção e tratamento”.

Para os médicos, o preservativo é a medida mais indicada e eficaz para prevenir ISTs – Foto: Kísie Ainoã

Mareenses são selecionados em projeto #estudeofunk

Projeto gratuito conta com laboratório criativo na Fundição Progresso

Por Samara Oliveira

Impulsionando sonhos e talentos de regiões periféricas do Rio de Janeiro o projeto #estudeofunk foi idealizado para jovens MCs, DJs, dançarinos e produtores do Funk carioca, já atuantes ou não no cenário musical. A oportunidade oferece todo suporte para os artistas gravarem músicas e videoclipes, desenvolverem habilidades criativas e expressão corporal, e se conectarem com processos da indústria musical.

A iniciativa, que acontece na Fundição Progresso, coloca a Lapa como ponto de encontro entre artistas do funk de diversos territórios e facilita a criação de produtos culturais, fomentando novas expressões artísticas e fortalecendo o movimento artístico.

Na última segunda (6), foi o lançamento da terceira turma do programa e, entre os artistas, está a cantora e compositora da Maré, Kamy Mona.

“Estou muito animada e ansiosa pro projeto pois é algo grande e muito novo pra mim, nunca trabalhei com funk e acompanho o projeto desde a primeira edição. Vai ser um desafio bom”, disse.

O projeto é gratuito e oferece auxílio para alimentação e passagem para o deslocamento e continuidade do artista na iniciativa. Kamy Mona destaca a importância de trabalhos como esse para alavancar carreiras de pessoas da periferia. 

“Eu acho super importante oportunidades como essas, passei um bom tempo buscando esse suporte. Quando lancei meu primeiro trabalho tive muita dificuldade de acessar essas informações, mas graças a estes projetos (Crias da Música, Mostra Maré de Música e agora o Estude o Funk)  hoje me sinto muito mais preparada”, afirma. 

Além dela, Preta QueenB Rull, Natalhão e Detona Cry, que também são artistas da Maré, participaram das outras turmas. 

“Sabemos que o movimento funk tem expressão própria, mas nem todo mundo que vive essa cultura tem acesso e recursos de produção, educação e a chance de se conectar profissionalmente com a indústria. A Fundição é um dos principais palcos de apresentação do país, mas é também uma escola, um espaço de pesquisa e estudo das expressões artísticas.  Agora, com o #estudeofunk, passa a ter uma espécie de laboratório criativo para a cena, utilizando o seu potencial de realização, de desenvolver projetos socioculturais e impulsionando a indústria do showbiz. Estamos muito entusiasmados com o projeto e temos certeza de que vamos dar luz e revelar muitos talentos”, afirma Cris Nogueira, Gestora de Comunicação e MKT da Fundição Progresso e uma das idealizadoras do projeto.

Para acompanhar oportunidades futuras basta acessar o site oficial www.estudeofunk.com.br ou o Instagram @estudeofunk

Mulheres do Tijolinho

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Edição #146 do Maré de Notícias

“Mulheres do Tijolinho” nasce do olhar da artista favelada Kamila Camillo sobre mulheres, território e narrativas. As fotos são resultado do estudo antropológico e afetivo com mulheres da região conhecida como “tijolinho” no conjunto de favelas da Maré. Kamila explica que o “lugar é marcado por estigmas e que sua estética para o trabalho foi escolhida para refletir sobre as sutilezas e a beleza de como essas oito mulheres fotografadas desejam ser vistas pelo mundo”.