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Moradores da Maré são indicados para um dos maiores prêmios do teatro

Renata Tavares é a primeira mulher negra indicada ao 33ª Prêmio Shell de Teatro

Por Samara Oliveira

Moradores do Conjunto de Favelas da Maré estão fazendo história mais uma vez. Agora, o motivo de grande comemoração ficou a cargo da encenadora Renata Tavares e da Companhia de Teatro Cria do Beco que foram indicados a um dos maiores prêmios de teatro do Brasil, o prêmio Shell de Teatro. Concorrendo nas categorias “Melhor Direção” e “Energia que Vem da Gente pelo espetáculo”, “Nem Todo Filho Vinga”, Renata fala da expectativa de encontrar outros indicados na cerimônia de entrega que acontecerá em março. “Esse prêmio está bem especial. Muitos pretos e pretas indicados, muitas pessoas trans, então é uma delícia poder estar participando desse momento. E é mais legal porque eu tenho muitos amigos que foram indicados e isso vai fazer com que a festa seja maravilhosa. Vai ser um grande encontro da gente que contou as mesmas histórias, que viveu as mesmas dificuldades e felicidades. 

Além disso, Renata ressalta que é a primeira mulher negra indicada ao prêmio considerando um feito um avanço nas causas raciais. “Não há mais espaço para recuo”, afirma.

Nem Todo Filho Vinga”

O espetáculo dirigido por Tavares conta a história de Maicon, um jovem negro, cria da Favela da Maré, interpretado por Jefferson Melo, de 27 anos. Na peça, Maicon consegue ser aprovado para cursar Direito na UFRJ e passa a confrontar os ideais de justiça do Estado Brasileiro diante dos inúmeros eventos de injustiça que ele e seu grupo de amigos vivem diariamente. Ao longo do seu ano letivo, Maicon sentirá, na pele, como essas políticas de precarização abalam todas as esferas da vida. Chegando ao ponto de colocá-lo contra seu melhor amigo. 

O protagonista fala sobre o sentimento de ser indicado a um prêmio de grande importância no cenário artístico.

“É como se pudesse dar um grito. O prêmio está em sua 33ª edição e nunca houve nenhuma indicação para Maré, e isso se replica em diversos outros prêmios porque eles não reconhecem a periferia. Demos esse primeiro grito para que as portas se abram. A Maré tem muitos artistas que precisam de espaço nessa bolha artística que está com as horas contadas. Vamos furar essa bolha falando do nosso povo sem estereótipos. Vingaremos e ocuparemos todos os espaços com nosso amor, alegria, entrega e garra!”, concluiu. 

Tiroteios no Rio crescem 29% no primeiro mês do ano

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Dados mostram acirramento das disputas entre milícia e tráfico

Com Agência Brasil

Levantamento do Instituto Fogo Cruzado aponta aumento de 29% no número de tiroteios na região metropolitana do Rio de Janeiro no primeiro mês do ano em comparação ao mesmo período de 2022. Foram 294 tiroteios contra 228.

No mês, 164 pessoas foram baleadas, sendo que 81 morreram e 83 ficaram feridas. Em janeiro de 2022, foram 122 baleados, com 64 mortos e 58 feridos. Conforme os dados, 14 pessoas foram vítimas de balas perdidas no Grande Rio em janeiro deste ano (com três mortes), sendo que oito foram atingidas durante ações ou operações policiais. O levantamento registra quatro chacinas na região metropolitana do Rio, com 16 mortos no total.

Os municípios com mais casos de tiroteios são Rio de Janeiro (194), Duque de Caxias (23), Niterói (14), São Gonçalo (13) e Nova Iguaçu (10).

Grupos civis armados e milícia

O relatório mensal do instituto aponta ainda o acirramento das disputas por território entre milícias e facções do de grupos civis armados, principalmente na zona oeste da capital. Apenas a região teve nove tiroteios, o que significa que a cada quatro tiroteios entre grupos armados, um ocorreu na zona oeste.

Algumas das áreas que mais registraram conflitos foram Gardênia Azul, Cidade de Deus, Muzema e Curicica, assustando os moradores. Em Gardênia Azul, moradores relatam que os traficantes impõem toque de recolher e as famílias estão preocupadas com a volta às aulas na rede pública de ensino.

“Nós vemos que esses grupos têm tido movimentações estratégicas geograficamente, pensando na tomada de territórios. Nós estamos acompanhando ano após a ano e evidenciando isso a partir dos nossos dados”, disse Carlos Nhanga, coordenador regional do instituto.

Para o coordenador regional, os dados são importantes para construção de políticas públicas que garantam segurança à população.

“Quando você tem um tiroteio, você não tem um caso isolado. Não é só uma disputa entre grupos armados. É uma disputa que afeta a vida de milhares de pessoas, de diversas formas. Pessoas que estão indo para o trabalho e estão na linha de tiro, crianças que deixam de estudar por conta da suspensão de aulas, transporte que deixa de circular. É preciso pensar políticas a partir desse retrato, olhando para esses impactos e políticas que previnam esse tipo de conflito, seja entre grupos armados ou entre operações policiais para acessar essas invasões”, afirmou o coordenador, acrescentando que o relatório é encaminhado para autoridades, parlamentares e veículos de imprensa.

O levantamento é feito em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), e compõem o Mapa Histórico dos Grupos Armados, que ajuda a compreender as diferentes dinâmicas da violência armada no Rio de Janeiro.

Enchentes na Maré: a culpa não é sua, morador

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Um encontro foi realizado no Centro de Artes da Maré (CAM) com tecedores da Redes da Maré para apresentar a Ação Civil Pública (ACP) de saneamento básico no território

Por Lucas Feitoza

Entra verão e sai verão e na Maré o assunto do momento não é apenas a cor que vai ser tendência ou o modelo de biquini usado na estação. Assim como em outros bairros e cidades do estado as enchentes continuam sendo um dos grandes problemas enfrentados pelos mais de 140 mil moradores. A enchente da última terça-feira (7) deixou as principais vias da cidade alagadas. Aqui na Maré moradores registraram alagamentos nas 16 favelas que formam o bairro.

Para mobilizar os moradores e fortalecer as reivindicações de melhorias e reparos na manhã desta quinta-feira (9) um encontro foi realizado no Centro de Artes da Maré (CAM) com tecedores da Redes da Maré para apresentar a Ação Civil Pública (ACP). Há 11 anos essa iniciativa busca soluções para os problemas de saneamento básico na  Nova Holanda. Ela surgiu a partir de uma denúncia anônima na ouvidoria do Ministério Público em 2012 e desde então uma investigação está sendo realizada. “Foi a iniciativa de uma pessoa que nos trouxe até aqui” afirma a advogada Moniza Rizzini Ansari, que participou do encontro. 

Durante a reunião foram apresentados os desafios e principais problemas enfrentados pela Nova Holanda, como o esgoto escorrendo nas casas, vazamentos que contaminam a água potável e o lixo. Shirley Rosendo, coordenadora do eixo Direitos Urbanos e Socioambientais (DUSA) destacou no debate que o saneamento básico é um direito e que não podemos responsabilizar os moradores pelas enchentes, já que o Estado é o responsável pela manutenção das vias públicas; Shirley explica que pela precarização dos serviços na Maré e o abandono do Estado os moradores acabam tomando iniciativa e para resolver os problemas e pelo desconhecimento causam outros transtornos: “essa ACP mostra que o direito não é só uma conquista mas também precisa da mobilização para a manutenção dele, o desconhecimento faz com que você aja no ilegalismo” afirma.

Carnaval RJ: ingressos populares se esgotam em menos de 2 horas

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Foram vendidos 13 mil ingressos ao valor de R$ 15

Pela Agência Brasil

Em menos de duas horas, os 13 mil ingressos populares para as arquibancadas dos Setores 12 e 13 da Marquês de Sapucaí se esgotaram. A pré-venda começou às 9h de ontem (8). De acordo com os responsáveis, a busca foi recorde pelos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial, considerada a elite do carnaval carioca. O valor dos ingressos era R$ 15, sem cobrança de taxas.

Quem fez a reserva do ingresso pela internet deve realizar o pagamento em dinheiro no próximo sábado (11), no estande da Central de Vendas da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) no Setor 11 do Sambódromo. A entrada é pela Avenida Salvador de Sá. O atendimento ao público será das 10h às 16h. Quem não fizer o pagamento terá a reserva cancelada. Se sobrarem ingressos por falta de pagamento, serão postos à venda em outra data, ainda não definida.

Entradas esgotadas

Segundo a Liesa, com as reservas dos setores populares, já estão esgotadas todas as entradas (arquibancadas especiais e populares, cadeiras individuais e frisas). Os ingressos de camarotes ainda podem ser comprados diretamente com os responsáveis por cada uma das áreas VIPs.

Público

A procura pelos ingressos para o carnaval 2023 animou o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro. “Podemos antecipar que o Sambódromo baterá um recorde de público no Rio Carnaval 2023, com uma expectativa de 100 mil foliões por noite, entre compradores de ingressos, sambistas, e os mais diversos prestadores de serviços”, disse.

Para o diretor de Marketing da Liesa, Gabriel David, a venda recorde dos ingressos das arquibancadas, frisas e camarotes é uma importante fonte de receita para as escolas. “É o maior número atingido na história do carnaval. Isso é um dinheiro, um repasse, que é feito diretamente da Liga para as escolas de samba. A gente pode ver, que a principal receita que as escolas têm durante o ano, aumentou, ainda mais, para o carnaval de 2023”, disse à Agência Brasil.

David lembrou que a garantia de receita para as escolas favorece a melhoria dos desfiles. “É muito importante para que as escolas possam apresentar cada vez mais um belíssimo espetáculo, que é isso que o público quer ver. É isso que a cidade, o estado do Rio de Janeiro e o país querem mostrar para o mundo e para todos um pouco da nossa cultura e da nossa arte. Sem dívidas, é fundamental esse aumento expressivo de venda de ingressos para o carnaval”.

Série Ouro

A procura se estendeu aos desfiles da Série Ouro, que já foi chamada de Série A e de Grupo de Acesso. Segundo a Central Liesa, responsável também pela comercialização de ingressos para as escolas deste grupo no Sambódromo, já foram vendidas todas as frisas para as apresentações que vão ocorrer nos dias 17 e 18.

Com ‘um sol pra cada um’ mareenses buscam os refrescos durante o verão

Primeiros meses do ano registraram altas temperaturas e moradores procuram aliviar o calor

Por Samara Oliveira

Janeiro e fevereiro de 2023 não decepcionaram para quem gosta das altas temperaturas. Apesar de alguns memes nas redes sociais criticando o início do ano sobre os dias chuvosos, o verão que iniciou em dezembro de 2022 e se estende até 20 de março, logo se apresentou. Alcançando 30 graus, e às vezes mais do que isso, vemos praias lotadas, pessoas com roupas mais frescas, outras usando as novas tendências de óculos de sol e nos perguntamos: como a população da Maré faz para se refrescar nesse verão no dia a dia? Lembrando que o Conjunto de Favelas da Maré tende a ser mais quente que outros lugares por causa das Ilhas de Calor, como explica a charge a seguir do projeto Climão, do eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais, campanha da Redes da Maré. 

Charge da Campanha “Climão: Precisamos falar sobre as mudanças climáticas nas Favelas”, realizada em 2021, pela Redes da Maré

Uma das moradoras que conhece bem este calor é a dona de casa Claudiana Rodrigues, 41, ela até tentou se refrescar num fim de semana com seus filhos na praia de Ipanema, mas a experiência não foi nada boa. Moradora da Nova Holanda, Claudiana foi com seus três filhos de 8, 3 e 13 anos num domingo de sol para a praia da Zona Sul do Rio. Além do perrengue para enfim chegar na praia, a família não conseguiu curtir nada porque assim que colocaram o pé na areia tiveram que se preocupar em se proteger e preservar seus pertences do arrastão que começou. Então, seja lá qual fosse a escolha de Claudiana após “o pé na areia… a caipirinha, água de coco ou a cervejinha” – como tem nos versos da música – não veio dessa vez. 

“Eu saí de casa 10h e pra chegar lá foi muito ruim porque é verão e todos querem ir pra praia. Então foi um ônibus muito cheio, com muita confusão e que quebrou no meio do caminho, ficamos muito tempo esperando outro. Cheguei lá já era mais de duas horas da tarde. Nesse dia foi uma confusão, por isso fiquei traumatizada também”, relembra. 

Preocupada com o filho Fabrício, de 8 anos, que tem transtorno do espectro autista (TEA) Claudiana explica que por questões da sensibilidade ele pode ser afetado com comportamentos agressivos pelas mudanças no ambiente, e também por isso, resolveu que não enfrentaria novas batalhas para ir à praia e deu um jeito para se refrescar com seus filhos sem sair de casa. 

Entre a varanda e a sala, ali se fez um pequeno clubinho para os filhos. Com uma piscina que encaixa perfeitamente no canto da parede embaixo da torneira – e ainda sobra espaço para o balde de brinquedo -, Fabrício, Valentina e Claudiana conseguem se refrescar sem grandes preocupações.

Diferente dela, que não pensa em voltar para a praia, Denise Julião, de 32 anos, contou que vai tranquila com seus quatro filhos de 6, 7, 10 e 14 anos. As praias que ela mais frequenta aos finais de semana com a família são as do Flamengo e de Copacabana. No entanto, durante a semana, enquanto faz as tarefas domésticas e o marido está trabalhando, deixa as crianças se refrescarem pelas ruas da Maré. 

E foi assim que a equipe do Maré de Notícias conheceu o filho mais novo de Denise, Petherson Elias, de 6 anos, mergulhando num galão azul para se refrescar no sol escaldante da Nova Holanda. 

Foto: Samara Oliveira | Petherson Elias, 6 anos

“Eu acabei de casar no religioso com o meu marido, então enquanto eu ainda tô aqui abrindo meus presentes de casamento ou fazendo alguma coisa em casa, deixo eles à vontade. Às vezes eles também se refrescam na laje da casa da avó e pelos chuveiros que tem por aqui perto nas ruas”, conta a moradora. 

Logo depois de Petherson, apareceu também João Pedro, de 7 anos, para se refrescar e fazer companhia ao irmão mais novo. 

Encontramos Denise, graças ao jovem Nicholas Noronha, de 17 anos, que também ressaltou como prefere curtir seu verão: “Fico só por aqui no chuveiro, praia fica muito agitada”. O chuveirão em questão foi instalado no poste de esquina com o Trem Jato GoldenCross, um lava jato de dois jovens da Maré, é também ali onde fica o galão que os os filhos de Denise e outras crianças aproveitam para curtir o verão enquanto os jovens lavam carros e motos.

Há quem prefira ir à praia, há quem prefere achar outras maneiras de se refrescar sem sair de perto de casa, seja pela dificuldade de acessar esse lazer ou pela movimentação que ficam as praias no verão. O que conseguimos constatar é que mesmo com um verão desigual moradores da Maré e de outras periferias seguem construindo tecnologias sociais para acessar direitos.

Foto: Samara Oliveira | Chuveirões são comuns nas ruas das favelas