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Fragmentos do cotidiano na Maré

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O olhar afetuoso para o dia a dia da Maré é apresentado no ensaio especial da edição de novembro do Maré de Notícias. A dupla de irmãos e artistas mareenses parte da desconstrução dos estereótipos lançados sobre a vida na favela. “Escrevo e reescrevo toda a nossa história, pelos nossos próprios olhos, fotografando o nosso cotidiano”, diz Jones. Um pedacinho da imensidão das várias marés dentro da Maré.

Os irmãos Chris

Nascido e criado no Conjunto Esperança, Chris é aluno da Escola de Fotografia Popular. Jones dá aula de fotografia artesanal no projeto Mão na Lata, da Redes da Maré, e também é moradora do Conjunto Esperança.

Aumento de casos e nova variante BQ.1

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Por Jorge Melo Editada por Jéssica Pires

A Cidade do Rio registrou 2.404 casos de covid-19 na primeira semana de novembro. O número é quatro vezes maior do que o registrado 15 dias antes, quando 510 pessoas testaram positivo para a doença. A taxa de testes com resultado positivo também subiu, de 6% para 21% em três semanas. Houve aumento de casos em todas as regiões da cidade. O número de pessoas internadas na rede do Sistema Único de Saúde-SUS, da capital, saltou de 23 para 49, também na primeira semana de novembro. E a maioria dos hospitalizados não tem o esquema de vacina completo. As informações são da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Nova variante

Ao mesmo tempo, uma nova variante da covid-19, a BQ.1, foi identificada na cidade do Rio de Janeiro, pela Fundação Oswaldo Cruz-Fiocruz. O primeiro caso confirmado é o de uma mulher de 35 anos, moradora da zona norte, sem sintomas graves; e que tomou as quatro doses da vacina. Segundo Leonardo Bastos, pesquisador associado da Fiocruz, “foi identificada no Rio uma subvariante da Ômicron que está relacionada com hospitalizações da Europa. Não sabemos ao certo qual será o papel dela aqui. Em um primeiro momento não vemos aumento expressivo nas hospitalizações.”

Segundo o boletim InfoGripe, divulgado pela Fiocruz na quinta-feira, 10 de novembro, houve aumento do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave para Sars-Cov 2 (covid-19), no Amazonas, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Entretanto, segundo o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, “ainda não é possível afirmar que esse crescimento esteja relacionado especificamente com as identificações recentes de novas sublinhagens em alguns locais do país.”. Marcelo, no entanto, alerta para a possibilidade dessa tendência de alta do número de casos de covid-19 continuar.

O Covid-19 rondando

Laboratórios particulares e farmácias em todo Brasil registraram aumento nos testes positivos para covid-19 nas últimas semanas. Levantamento do Instituto Todos pela Saúde-ITpS mostra que exames positivos para a doença, em laboratórios particulares, aumentaram de 3% para 17% em menos de um mês, salto de 566%. O aumento de casos foi principalmente no Sudeste e Centro-Oeste; São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. 

O ITpS, uma entidade não governamental, foi criado em 2021 com o objetivo de colaborar para o desenvolvimento de um sistema de vigilância epidemiológica e preparar o país para o enfrentamento de surtos, epidemias e pandemias, como o coronavírus. 

Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias-Abrafarma, que reúne 26 redes que respondem por 45% das vendas de medicamentos no país, das 14.970 testagens realizadas de 17 a 23 de outubro, 2.320 (15,5%) apresentaram diagnóstico positivo, contra 9,36% da semana anterior..  

No dia oito, as secretarias de Saúde, municipal e estadual, de Saúde de São Paulo, confirmaram dois casos da BQ.1 na capital paulista. Uma mulher, de 72 anos, com comorbidades, morreu. O Rio Grande do Sul também já registrou um caso. A BQ.1 já foi identificada na Europa, China e Estados Unidos. Essa nova variante é uma mutação do vírus Ômicron, prevalente no Rio de Janeiro. “Vamos continuar monitorando com nossas análises semanais.” afirma Leonardo Bastos, da Fiocruz

Recomendações

No momento, a recomendação da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro é que aqueles que ainda não tomaram a dose de reforço procurem uma unidade de saúde para concluir o esquema de imunização. Na cidade do Rio de Janeiro, 25% da população adulta não recebeu a primeira dose do reforço da vacina contra a covid-19.

A secretaria estadual de Saúde informou que já enviou ofício aos 92 municípios do estado recomendando a ampliação da testagem devido ao aumento da taxa de positividade registrada nos últimos dias na capital. Segundo o secretário estadual de Saúde, Alexandre Chieppe, “Neste momento, a transmissão ainda é baixa, mas temos acompanhado o cenário em outros estados e temos um plano de contingência. A testagem em larga escala é extremamente importante para o monitoramento do cenário epidemiológico.” 

De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre as capitais, a cidade do Rio de Janeiro foi a que registrou o maior aumento de casos nas últimas semanas epidemiológica. Os sintomas são dor de cabeça, tosse, febre, dor de garganta, cansaço, perda de olfato e paladar. Quase 80% da população brasileira recebeu duas doses da vacina contra a covid-19. No entanto, menos de 50% foram imunizados com uma ou duas doses de reforço, segundo dados das secretarias estaduais de Saúde.

Crianças

As primeiras doses de Coronavac para a faixa de três a quatro anos continuam em falta no município do Rio de Janeiro. A SMS informa que toda pessoa que se vacinou há pelo menos quatro meses e ainda está em falta com alguma dose pode tomar o imunizante contra a covid-19, basta comparecer a uma unidade de saúde. No Rio de Janeiro elas funcionam de 8 às 17 horas durante a semana. E de 8 às 12 no sábado. 

A secretaria Municipal de Saúde publicou um aviso em suas redes sociais informando  à população que o Ministério da Saúde não enviou as doses necessárias de Coronavac, apesar das solicitações; sendo assim, a aplicação da primeira dose contra a Covid-19 em crianças de três e quatro anos foi suspensa no dia 26 de outubro. 

Apesar da paralização nessa faixa de idade (3 e 4 anos), a SMS confirmou a segunda dose de Coronavac para as crianças que já completaram o intervalo de 28 dias desde que tomaram a primeira dose. Para esse grupo, a SMS conta com doses de vacina reservadas. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que segue monitorando o panorama da covid-19, e que já é possível constatar a circulação da Ômicron BQ.1 na cidade do Rio de Janeiro. Por meio do sequenciamento genético, a Fiocruz confirmou um caso dessa subvariante. 

Alerta

A SMS orienta aqueles que apresentam sintomas gripais que usem máscara e procurem uma unidade de saúde, para realizar o teste de Covid-19.
Segundo a SMS existem mais de 230 unidades de Atenção Primária (clínicas da família e centros municipais de saúde) que disponíveis para a vacinação. 

Idosos e pessoas com comorbidades poderão se vacinar com a quinta dose quando completarem 10 meses da aplicação da quarta. O município começou a aplicar a quarta dose em março de 2022 — portanto, há oito meses. 

De acordo com as estatísticas da SMS, na cidade do Rio de Janeiro, 98,2% da população maior de 3 anos tomou a primeira dose ou dose única. A população maior de 3 anos com segunda dose ou dose única é de 93,2%. A população a partir de 18 anos com dose de reforço representa 75,3%. E a população a partir de 18 anos com segunda dose de reforço e de 34,8%.Os dados disponíveis sobre Covid-19 estão no Painel Rio Covid-19 http://coronavirus.rio/painel.

Operação da Polícia Militar na Nova Holanda em menos de duas horas deixa feridos e um morador morto

Ação começou por volta de 16h e Caveirão segue circulando na região

Por volta das 16h desta quinta-feira (10) um Caveirão da PMERJ acessou a favela Nova Holanda e segue circulando pelas ruas. Desde então são muitos os relatos, fotos e vídeos que chegam ao Maré de Notícias de intensas troca de tiros compartilhadas por moradores que lidam com mais um momento de tensão e impactos no cotidiano gerados pela ação.

Apesar da assessoria da Polícia Militar até o momento não ter enviado uma resposta oficial sobre a motivação da ação, moradores da região relatam que a ação da polícia tem relação com um suposto roubo de cargas com reféns. No entanto, o direito à segurança pública e o acesso à outros direitos fundamentais (saúde, educação, mobilidade) dos moradores diante de uma ação como esta seguem sendo violados.

Em menos de duas horas de ação já há informações de pelo menos duas pessoas feridas e uma morte. Entre elas um senhor que foi socorrido por moradores. Um adolescente que saia da escola foi agredido por agentes policiais.

Um transformador de energia também foi atingido interrompendo o fornecimento de eletricidade por um período da tarde.

O Maré de Direitos, projeto da Redes da Maré que acolhe denúncias e violações de direitos via WhatsApp está em atendimento no número (21) 99924-6462 (apenas mensagens de texto).

Palco de lutas e conquistas, Escola municipal Nova Holanda completa 60 anos

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O prédio  original  abriga uma creche e escola está em funcionamento no Campus Maré

Por Adriana Pavlova e Hélio Euclides

A esquina das ruas Sargento Silva Nunes com a Principal guarda, há seis décadas, um dos marcos fundamentais da história coletiva e da memória afetiva da Nova Holanda. É ali que há 60 anos foi inaugurada a primeira escola da favela, a Escola Municipal Nova Holanda, uma construção simples com pátio generoso, que desde então serviu de palco para lutas e conquistas dos moradores, atravessando a vida e unindo gerações e gerações de mareenses.

Uma referência tão forte que foi preciso desdobrá-la: hoje, o espaço histórico no coração da Nova Holanda abriga a creche municipal com o mesmo nome que antes funcionava na rua Carlos Lacerda, enquanto a escola foi transferida há quase sete anos para o Campus Educacional Maré. A mudança, no entanto, não afetou uma das suas principais marcas: um lugar acolhedor, que carrega a história de muitas famílias da região.

Ao longo das décadas, o pátio que hoje faz parte da creche foi o principal ponto de encontro dos moradores, dado seu local estratégico e, ao mesmo tempo, amplo. Foi cenário para reuniões que definiram as lutas históricas por infraestrutura, como conta o historiador Edson Diniz, autor do livro Memória e identidade dos moradores de Nova Holanda, ao lado de Marcelo Castro e Silva Belfort e Paula Ribeiro.

“É um espaço historicamente democrático. Nos últimos 50, 40 anos, foi um dos locais mais importantes de reunião dos moradores da Nova Holanda para tudo, de assembleias, reuniões, a festas e aulões de pré-vestibular. É uma referência nas lutas e conquistas pela infraestrutura local, porque era ali que a população se reunia para se organizar para reivindicar água, saneamento, iluminação e asfalto,” explica Diniz.

Imagem histórica do pátio da antiga Escola Municipal Nova Holanda – Acervo NUMIM

A favela de Nova Holanda nasceu no começo dos anos 1960 como um Centro de Habitação Provisória (CHP), criado durante o Governo de Carlos Lacerda, para abrigar moradores removidos compulsoriamente de outras favelas da cidade, à espera de uma nova habitação. A escola seguiu o projeto de construções pré-moldadas de madeira, pequenas, erguidas sobre uma região aterrada, onde, dependendo da configuração, morava mais de uma família. Com o passar do tempo, o que era provisório virou permanente, daí a necessidade e a importância das lutas em busca de melhorias, nascidas das organizações comunitárias, como lembra Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré, presidente da histórica Chapa Rosa, que assumiu a Associação de Moradores de Nova Holanda, em 1984, e ela também ex-aluna da escola:

“A escola cumpriu um papel social e afetivo muito importante para a comunidade, atravessando histórias de vida. Inclusive no aspecto pedagógico, porque houve projetos inovadores como a alfabetização de alunos com dificuldades. E seguiu honrando a sua missão e natureza ao passar a abrigar a creche, cuja origem, nos anos 1980, está ligada ao movimento comunitário das mulheres que se organizaram para ter um lugar onde deixar seus filhos.”

O espaço da escola, segundo Eliana, era uma espécie de Centro de Artes da Maré (CAM) do passado:

“Durante muitos anos, a Escola Nova Holanda foi o espaço físico que abrigou um conjunto de atividades que a comunidade demandava. Se fosse fazer uma analogia, seria algo como o CAM, que é um local que abriga muitas atividades para além da sua missão mais ligada à cultura e à arte.”

A assistente social Elza Sousa Silva também estudou na Escola Nova Holanda, mas suas lembranças mais marcantes são os eventos sociais e os encontros comunitários, incluindo as festas organizadas por sua mãe, ligadas à Igreja católica Nova Holanda:

“Não existia outro lugar para encontros e festas. Era uma escola aberta à comunidade, algo muito bonito”, recorda. 

À frente da creche há 19 anos, a diretora Márcia Helena de Azevedo conta que a estrutura da construção segue as características do projeto original. Há um pátio aberto e outro fechado, seis salas, uma brinquedoteca, duas secretarias, cozinha e despensa, que servem a seis turmas, com cerca de 150 alunos no total.  Tudo muito bem cuidado e conservado.

Ex-aluna, Neilde Barcelos chegou à Maré com o primeiro grupo de moradores nos anos 1960 – Foto: Matheus Affonso

Neilde Barcelos é a prova de que a Escola Municipal Nova Holanda se mistura com as memórias das vidas de quem morou ou mora na região. Sua família chegou à Nova Holanda com a primeira leva de moradores, em 1960. Seu pai trabalhou na construção dos barracões do abrigo provisório e,  na escola próxima de casa, Neilde e seus irmãos aprenderam a ler e a escrever. Mais tarde, seu irmão Valderlei, o Papagaio, tornou-se vigia da escola, onde trabalharia por 40 anos, até morrer repentinamente. Não é de se estranhar que na visita à Creche Municipal Nova Holanda,  Neilde tenha ficado com os olhos repletos de lágrimas:

“Ainda me vejo correndo menina nesse corredor, que é igualzinho. Lembro das diretoras dona Marina e dona Thereza, sempre exigentes. O uniforme tinha que ser completo: tênis conga, saia plissada, camisa de tergal. Foi aqui que aconteciam as reuniões para lutarmos pela urbanização da Nova Holanda e a eleição da Chapa Rosa. A escola era o palco para as reivindicações dos moradores. Quando meu filho nasceu, eu vim apresentá-lo às professoras. E quando a Redes ainda não tinha tantas salas, a escola abrigou aulas do nosso Pré-Vestibular”, diz ela que é tecedora da Redes da Maré.

A química e professora Andréa da Rocha foi durante fins dos anos 1970 e início dos 1980 a mascote da Escola Municipal Nova Holanda. Filha caçula da merendeira Marlene, ela começou a frequentar a escola que ficava em frente da sua casa ainda muito pequena, acompanhando a mãe. Costumava bater nas portas das salas para avisar que era hora da merenda e, assim, mesmo sem ter idade, começou a assistir às aulas como ouvinte. Virou xodó da diretora dona Marina Siqueira Tavares das Neves, da adjunta Thereza Kalil e das professoras. Tornou-se oficialmente aluna da escola e, como suas notas eram tão boas, ao terminar o antigo primário, garantiu uma vaga no Pedro II. E não deixou de ir todos os dias à Escola Municipal Nova Holanda:

“A Escola Nova Holanda fez toda a diferença na minha vida. Era um lugar de solidariedade e amor. Dona Marina, dona Thereza e todas as professoras me apadrinharam para eu poder ir para o Pedro II, porque minha família era muito pobre e não tinha como comprar material e uniforme. Todos os anos elas compravam tudo. E como havia lacunas no meu aprendizado, todos os dias, eu acordava cedo e antes de sair para o Pedro II, eu ia para a Nova Holanda estudar”, conta.

Andréa nunca deixou de ter contato com as mestras,  sobretudo com a diretora Marina, com quem teve uma relação de afilhada até o final da vida dela, em 2021, quando morreu aos 90 anos. Depois do Pedro II, Andréa passou para a Escola Técnica Federal de Química e, mais tarde, fez graduação em Química na Uerj. Hoje, dá aulas na Educação de Jovens e Adultos do governo do Estado do Rio:

“Hoje mesmo quando eu estava na aula e me veio à memória uma imagem minha pequena, na sala de aula da Nova Holanda, ao lado de crianças maiores. Aquele foi um espaço formador, cheio de afetividade, que me fez ser quem eu sou e me fez querer dividir conhecimento com os mais jovens”, completa Andréa.

Na atual Escola Municipal Nova Holanda a aura do prédio original e toda a sua história permanecem. A diretora Renata Ramos da Cruz conta que é muito comum que pais ou avós que foram ex-alunos da escola procurem vagas para seus filhos ou netos. Ali hoje há 15 turmas, do 1º ao 6º anos, num total de 420 alunos.

“O nome e a história da escola são um apelo muito forte, que fazem com que os ex-alunos queiram que seus familiares estudem aqui, criando um ambiente  bom, com responsáveis muito próximos”, conta Renata.

E é lá na Escola Municipal Nova Holanda que há um monumento vivo da história de décadas e décadas de ensinamentos e aprendizados: a professora Roseana Moreira, a Tia Rose, que há 45 anos leciona para as crianças da Maré na mesma escola:

“Comecei em 1977, a Escola Nova Holanda é a minha vida. Eu cheguei aos 23 anos, naquela escola pré-moldada, pequena e acolhedora, aprendi muito e criei laços com as famílias. Hoje dou aula para os filhos e os netos dos meus primeiros alunos”, diz.

Que venham mais 60 anos.

Imagem histórica do pátio da antiga Escola Municipal Nova Holanda – Foto: Matheus Affonso

Ponta pé inicial para o carnaval na Nova Holanda

Agremiação Gato de Bonsucesso escolhe o seu samba-enredo que faz homenagem a mulheres mareenses

Por: Hélio Euclides

Editado por: Jéssica Pires

O próximo carnaval só será no final de fevereiro, mas os tamborins já estão no aquecimento na Maré. No último domingo (06/11), o Grêmio Recreativo Escola de Samba Gato de Bonsucesso reuniu a bateria, integrantes e foliões para o concurso da escolha do novo samba-enredo. Foram três concorrentes, que tiveram as composições apresentadas pelos criadores com muita garra. A quadra localizada no meio da favela da Nova Holanda estava lotada como há muito tempo não se via. Os ritmistas tocavam seus instrumentos no ritmo do coração, empolgando a todos.

Os sambas foram apresentados de duas formas, acompanhados apenas de cavaquinho e, em seguida, com a bateria. Os presentes só souberam o resultado nos primeiros minutos de segunda-feira (07/11). “Bem animado com esse concurso de samba. Eventos como este são bons para a favela. Tenho 38 anos, todos vividos na Maré e hoje é a primeira vez que piso nessa quadra, me apaixonei pela euforia”, conta Maiara Barros, moradora do Parque Maré. A velha guarda estava muito feliz com o apoio dos moradores. “É emocionante ver a comunidade cantando o samba. Ver as famílias na quadra era algo que tinha morrido, mas vem ressurgindo com a juventude representada na bateria e a força dos moradores”, diz Jorginho Botafogo, de 72 anos, um dos fundadores da escola.

Durante a noite de festa ocorreram apresentações de integrantes das alas, como passistas e musas, além de mestre-sala e porta-bandeira. Bruno Soares, diretor de carnaval, foi o locutor oficial do evento. “O que vemos hoje é um resultado de muito esforço. Antes era uma escola desacreditada, agora estamos levantando o pavilhão. Foi preciso ser a trancos e barrancos, tendo alguns degraus a galgar”, comenta. Júlio César Ferreira, mais conhecido como Mestre Julinho, diretor de bateria, foi o maestro do concurso. “Hoje tivemos a expectativa para a escolha do hino e depois vamos arrebentar na avenida. Queremos levantar a arquibancada, colocar o coro (da cuíca) para cantar”, expõe. 

O Gato de Bonsucesso vai defender em 2023 o enredo: “Fé move a Maré do meu destino” Marcos Salles, carnavalesco, está confiante com a escolha do tema. “Estamos tendo o apoio dos integrantes da escola, após criar um enredo que faz homenagem às mulheres. As mais antigas como a Dona Orozina, chegando às jovens, que lutam por uma Maré com mais oportunidade e sem violência. A Renata Souza me orientou na criação desse enredo”, revela. Renata Souza, deputada estadual reeleita, estava presente no evento. “A escola é uma reunião de gerações, que mistura velha guarda, ritmistas e alas. Esse enredo é uma homenagem às mulheres e as lutas ancestrais delas. Além disso, tem como protagonistas Marielle Franco e Dona Orozina, mulheres de resistência. O que percebemos no carnaval é a cultura de um povo que enfrenta a falta de investimento. O carnaval mostra a cultura da favela e afronta um movimento que deseja apenas a violência como espetáculo”, comenta. 

A escola vai desfilar em 2023 no Grupo bronze, antigo Grupo D. O apoio dos foliões já empolga outros integrantes, é o caso de Jacson Cruz, diretor jurídico e financeiro. “É uma coisa linda o resgate da cultura popular. A escola estava adormecida, nunca tinha morrido. Estamos resgatando a história local e as origens da luta das mulheres da Maré, isso abre pontes para a presença das famílias na quadra”, avalia. 

Quem abriu a noite do concurso foi a música de Wando Simpatia, compositor de um dos sambas concorrentes. “Independentemente de ganhar o concurso, o motivo de criarmos um samba é o amor pela escola, de desejar divulgá-la”, resume. Outro samba teve a batuta de Paulo César, mais conhecido como PC do Repique. “O carnaval do Gato é maravilhoso. Fizemos as composições sem pensar em ganhar ou não, mas para levar o nome desta agremiação tão querida na Leopoldina”, diz. 

O grande vencedor da noite foi o samba defendido por Aldair Careca, que trouxe euforia. A torcida, que estava organizada e deu um show de empolgação ao continuar a cantar mesmo após a apresentação. “É uma função especial compor um samba que leva o nome de mulheres lutadoras como a Dona Orozina ao desfile. O samba foi concretizado por filhos que desejam falar das mulheres de nossas vidas, que representam a comunidade da Maré”, Além dele, estiveram na parceria Cosme Araújo, Thiago Martins, Cláudio Vagareza, Luciano Flauzino, Serginho de Miranda, Valtinho Braga, Ali Jabor, Mauro Naval e Gilberto Júnior. 

Foto: Hélio Euclides

Oficina para jornalistas periféricos sobre LAI acontece esta quarta-feira (9)

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Estão abertas as inscrições para a oficina sobre Lei de Acesso à Informação (LAI), voltada para coletivos jornalísticos que atuam na periferia do Rio de Janeiro. A formação gratuita para comunicadores será feita de modo presencial, nesta quarta-feira (09.nov.2022), às 13h30, na sede da Redes da Maré, no Rio de Janeiro. Não é necessário ter conhecimento prévio sobre o mecanismo legal, mas os participantes precisam trabalhar em iniciativas jornalísticas realizadas dentro dos territórios cariocas.

A iniciativa é fruto de uma parceria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da agência de dados Fiquem Sabendo, com apoio do Maré de Notícias, projeto da Redes da Maré. A oficina é do tipo “mão na massa”, ou seja, aborda as questões mais gerais sobre a lei, e depois os participantes podem fazer seus primeiros pedidos de informação via LAI. 

“A ideia é entender como dados e documentos públicos podem apoiar o trabalho jornalístico nas periferias”, destaca Maria Vitória Ramos, instrutora da oficina e diretora da Fiquem Sabendo. 

“Precisamos instrumentalizar os comunicadores de favela para que eles possam produzir conteúdo que, de fato, criem mudanças nesses territórios periféricos. A LAI é fundamental para qualquer tipo de investigação jornalística, sobretudo para cobrar do Estado os investimentos em políticas públicas destinados às favelas”, ressalta Daniele Moura, coordenadora do Laboratório de Jornalismo do Maré de Notícias.

A oficina faz parte de um projeto maior, elaborado pela Fiquem Sabendo e Abraji em 2021 e concluído em 2022. Mais de 240 profissionais de imprensa receberam treinamento para usar acionar a Lei de Acesso à Informação em suas reportagens. Elaborado com apoio da organização canadense IFEX, o LAI nas Redações teve como objetivo facilitar o uso de ferramentas para obtenção de dados de transparência pública por meio da LAI, que completou 10 anos de implementação. 

A iniciativa surgiu a partir de uma pesquisa feita pela Abraji que revelou a falta de familiaridade do reportariado com esse mecanismo legal. “Há uma demanda enorme para que a gente faça uma nova edição do projeto em vários coletivos do país, ampliando as possibilidades de pautas que tenham maior impacto social, e que gerem debates sobre determinadas políticas públicas”, diz Maria Esperidião, gerente executiva da Abraji.

Serviço:
Inscrições aqui.
Formação Gratuita para Comunicadores sobre a Lei de Acesso à Informação.
Quarta-feira (9/11), às 13h30.
Redes da Maré.
Rua Sargento Silva Nunes, 1012 Nova Holanda, Rio de Janeiro.