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Pedacinho do Nordeste na Maré

Nordestinos trouxeram para o território a cultura, o trabalho, a comida boa e muita alegria

Maré de Notícias #127 – agosto de 2021

Por Hélio Euclides

Inté mesmo a asa branca/ bateu asas do sertão/ Entonce eu disse/ adeus Rosinha/ guarda contigo/ meu coração. A canção Asa Branca, composta por Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, se transformou em símbolo do êxodo nordestino para o Sudeste. As favelas cariocas são marcadas pela presença desses nordestinos, que começaram a chegar a partir da década de 1950. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2017 revelavam a presença de 1,2 milhão de nordestinos, pouco mais de 8% da população fluminense. Algo diferente acontece na Maré que, segundo o Censo Populacional de 2019, tem 25,8% dos moradores com raízes no Nordeste.

Para efeitos de comparação, São Paulo é o principal destino de migrantes vindos da região e contava com 12,66% (5,6 milhões) de residentes oriundos do Nordeste, segundo a PNAD de 2015 (na capital paulista, no dia 2 de agosto é celebrado o Dia do Nordestino).

Os 35.884 nordestinos da Maré representam uma influência cultural não apenas para si mesmos, como também nas práticas e identidades de seus descendentes.

Uma praça do Nordeste

O conjunto de favelas da Maré tem duas regiões onde quase a metade dos seus moradores é nascida em algum estado do Nordeste. O Parque Rubens Vaz concentra 39,2% de nordestinos, enquanto que na favela do Parque União eles são 44,2% dos moradores. É nesse último pedaço da Maré que se concentra a alma nordestina do território — um convite para quem deseja mergulhar na cultura dos estados nordestinos através da música e da culinária.

Há pelo menos 35 anos, a Praça do Parque União é uma espécie de segunda casa para essa parcela de mareenses. “Começou com uma banda tocando na calçada da antiga padaria onde se encontra atualmente o restaurante Seriguela. As coisas foram evoluindo, e o show passou a ser no meio da praça. Depois foi construído o palco, que agora é um dos locais mais conhecidos do Rio”, conta Edivan Valério, de 53 anos, coordenador da Praça do Parque União e nascido em Jacaraú, na Paraíba.

Antes da pandemia, a praça de seis mil metros quadrados chegou a reunir em uma só noite cerca de cinco mil pessoas. “Os frequentadores se sentem entre famílias: conversam, se divertem e encontram os amigos, elogiam o lugar. Acredito que é porque ele traz alegria aos nossos conterrâneos”, diz. “A praça teve como momentos marcantes os shows da banda Magníficos, do Zé Filipe e da Joelma”, lembra Valério. O local tem no entorno dez restaurantes que servem a gastronomia nordestina. Os mais assíduos são os paraibanos e os cearenses.

A Paraíba também é aqui

Na Maré, a concentração de paraibanos é expressiva: são 14.597 moradores. Na foto, Luíza Moreira, de 91 anos, moradora da Nova Holanda – Foto: Matheus Affonso

Na Maré, a concentração dos que nasceram na Paraíba é bem expressiva: são 14.597 moradores, quase 10,5% da população total do território. Um deles é Luíza Moreira, de 91 anos, moradora da Nova Holanda. Ela nasceu no município de Rio Tinto, no interior do estado, onde vivia com sua mãe e duas irmãs. Tudo mudou com a morte do pai, quando tinha 12 anos. Três anos depois, ela começou a trabalhar na Companhia de Tecidos Rio Tinto (a empresa que sustentava a cidade) e lá ficou por 18 anos.

Dona Luiza casou-se na Paraíba, em 1965, e veio morar no Rio de Janeiro — primeiro num barraco alugado no Rubens Vaz, onde o marido tinha parentes. “Depois me mudei para a Rua Principal, na Nova Holanda. A rua era aterrada, mas as casas, não. Para fazer as palafitas se usavam tripés, que serviam como alicerces, e depois se colocava o assoalho, sem brechas para evitar as águas. A tainha pulava do rio, pena que foi tudo aterrado. Na época, não tinha água e nem luz. Meu marido pagava uma pessoa para buscar água”, conta. Ela está na Maré há 56 anos, onde criou dois filhos e duas filhas.

Dona Luiza foi pela última vez ao Nordeste em 1999 e confessa que sente saudades. “Hoje visito a cidade pela internet. Tenho vontade de voltar, inclusive para morar. O que prejudica é a dificuldade de andar”, diz. 

Um Rio de braços abertos

Os cearenses são o segundo grupo mais presente na Maré: são 8.849 moradores. No dia 17 de julho, João Braga, de 60 anos, morador do Conjunto Pinheiros, participou de um programa de entretenimento[J1] , onde destacou o amor pela Maré e por sua cidade natal, no distrito de Santa Quitéria. “As coisas evoluíram. Quando sai de Trapiá, a população mal tinha rádio de pilha, hoje todos têm televisão. Na casa do meu pai a geladeira era de querosene e a gente usava lampião à noite, isso em 1972. Tinha que pegar água em uma distância como da Maré à Praça das Nações. Eu ia de jumento e trazia dois galões. Para estudar, eram 24 quilômetros de bicicleta”, lembra, acrescentando que tem orgulho do seu pai, Saturnino Soares Braga, que hoje é nome de rua em sua cidade natal.

Com 42 anos em terras cariocas, Braga viveu uma saga e reforçou a fama de batalhadores associada aos nordestinos. Quando chegou ao Rio, foi morar no Méier. No outro dia já estava trabalhando no Fluminense, clube de coração. Em 1979, foi trabalhar num restaurante no Centro do Rio, e nas férias voltava sempre ao Ceará. Em 1981 começou a trabalhar como garçom no O Bom Galeto, onde atuou por 25 anos. Depois aceitou ser sócio na pizzaria Casa de Rafael, por cinco anos. O mesmo tempo ficou no Restaurante Ben-Hur, na Cancela. Como muitos nordestinos que deixam quem amam para trás, ele namorou por dez anos via carta até conseguir casar. “Não tinha dinheiro. Tive que fazer um sacrifício, ir ao Ponto Frio e comprar fogão e geladeira parcelado”, conta.

Em 1990, ele foi morar no Conjunto Pinheiro, mas só há quatro anos abriu o Bar do Braga, que tem como slogan: “O melhor baião de dois da Maré” (o prato é típico do Ceará; com a seca, vem também a falta de comida; a solução era fazer uma refeição à base de arroz e de feijão de corda, além das sobras da cozinha, como carne seca e queijo de coalho, ingredientes do baião). Ele faz três panelas a cada noite, de segunda a sábado. O domingo é dia de outras comidas típicas para o almoço, como galinha caipira.

Braga percebe que tem muito cearense na Maré. “Os nordestinos carregaram o Rio de Janeiro nas costas. No passado, Rocinha e Rio das Pedras eram a morada dos cearenses na cidade. Na Rocinha até existe um restaurante com o nome da Trapiá. De uma década para cá, ocupamos a Maré. O território é nordestino, os moradores carregam o sangue na veia”, considera. Por saudade, confessa que, depois que casou, já foi 23 vezes ao Ceará. “Estou com passagem comprada desde junho de 2020 para visitar minha terra natal. Por causa da pandemia tive que mudar os planos. Quando volto ao Ceará não procuro a praia e sim as casas dos primos, busco o interior”, enfatiza.

Tradições, crenças e costumes nordestinos enriquecem a cultura da cidade carioca – Foto: Jéssica Pires


O menino no cavalo de Jorge

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Luiz Antonio Simas*

A celebração de Cosme e Damião dos meus tempos de menino era marcada pelo ritual da distribuição de doces. Minha avó, como pagamento de promessa, distribuía no Jardim Nova Era, em Nova Iguaçu, centenas de saquinhos para a meninada. Uma semana antes da festa, a coisa já esquentava, com a distribuição dos cartões que dariam direito aos saquinhos. O avô carimbava meticulosamente os cartões numerados com a imagem dos santos, o endereço e a data certinha da distribuição. 

Os saquinhos da avó vinham com cocô-de-rato, suspiro, maria-mole, cocada, doce de abóbora, pirulito, pé de moleque, paçoca, mariola, jujubas e balas. Eles hoje levariam ao desespero os adeptos dos saquinhos descolados, saudáveis e um tiquinho tristes. Para ensacar tudo, fazíamos linha de montagem, com os doces organizados em esteiras e os saquinhos passando de mão em mão. A última moda agora é a da turma que compra saquinhos prontos; aqueles que poupam o tempo, mas matam a sociabilidade da preparação dos mimos e ignoram o caráter sagrado do ato de encher os saquinhos com as próprias mãos.

Há quem ache que o hábito da distribuição de doces de Cosme e Damião foi pro beleléu. Não é isso que vejo na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ainda que a coisa ande feia pra turma chegada à festa, por aqui é possível ver uma meninada driblando a cidade cada vez mais projetada para os carros, e as restrições do bonde da aleluia que sataniza os doces, e cruzar com gente pagando promessa e distribuindo saquinhos. Os terreiros de umbanda, mesmo sob risco de ataque dos fanáticos, continuam fazendo as suas giras para Dois-Dois. A igreja dedicada aos gêmeos, no Andaraí, fica parecendo até quintal em dia de samba de roda: é alegria na veia.

Faz parte também dos fuzuês a tradição do caruru dos meninos. O caruru, prato de origem indígena que se africanizou no Brasil, e abrasileirou-se nas áfricas, é ofertado entre nós largamente no dia de Cosme e Damião (o costume é popularíssimo na Bahia) e encontra vínculo simbólico com o ekuru (bolinho de feijão), a comida ofertada a Ibeji, orixá que protege os gêmeos nos candomblés. Manda o preceito que, o caruru, seja inicialmente distribuído a sete crianças, representando Cosme e Damião e os irmãozinhos que eles ganharam por obra e graça da tradição popular: Doum, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi.

Lambuzado das recordações da meninice, me confesso especialmente fascinado pela presença do pequeno intruso entre os gêmeos: o citado Doum, aquele que nos terreiros de umbanda passeia no cavalo de Ogum e nas estátuas dos santos vendidas no Mercadão de Madureira, onde aparece entre os mais velhos vestido como eles. Vigora entre os iorubás tradicionais a crença de que a mãe de gêmeos que não tenha em seguida um novo filho pode endoidar. O filho que nasce depois dos gêmeos é chamado sempre de Idowu (de etimologia incerta). Vivaldo da Costa Lima, em ensaio sobre o assunto, sugere que o nome talvez venha de Owú; ciúme, em iorubá (“Cosme e Damião: O culto aos santos gêmeos no Brasil e na África”). Idowu seria, por hipótese, o pestinha com ciúmes dos irmãos mais velhos. Virou Doum no Brasil; o irmãozinho de Damião e Cosme.

O encontro entre o orixá Ibeji e os santos médicos cristãos é um golaço marcado nas encruzilhadas bonitas da vida. Doum é a crioulidade como empreendimento de invenção do mundo transgredindo o precário. Ele é o menino de um Brasil possível. Encantado nas esquinas suburbanas, guri descalço na garupa do cavalo de São Jorge, é a Doum que certo Brasil oficial, pensado como um projeto de desencantamento da vida pela domesticação dos corpos nas cidades dormitórios e nos currais das celebridades, parece querer matar. Não conseguirá. Ninguém há de matar um protegido pela força de São Cosme e São Damião em seu galope vadio de passeador: o Brasil moleque no alazão da lua.

*Luiz Antonio Simas é carioca, filho de mãe pernambucana e pai catarinense. É professor, historiador, escritor, educador e compositor, com trinta anos de experiência em sala de aula. É bacharel, licenciado e mestre em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Eleições 2024: democracia e participação cidadã na Maré

Apesar de voto não obrigatório, número de eleitores jovens e pessoas idosas têm crescido

“Pirililili!” De onde vem esse aviso sonoro que ouvimos a cada dois anos? Quem falou que é de urna eletrônica acertou. Esse som não é apenas a conclusão de uma digitação, é a efetivação de um ato democrático para a escolha de pessoas que vão assumir cargos durante quatro anos, sendo nesse período representantes municipais. Mas nem todos são obrigados a escutarem o tal aviso sonoro, em alguns casos o voto é facultativo. Cidadãos com idade superior a 70 anos e entre 16 e 18 anos não são obrigados a votar, mas podem exercer o seu direito fundamental de cidadão. 

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Brasil há mais de 1,8 milhão de eleitores na faixa etária entre 16 e 18 anos de idade, um aumento de 78% em comparação com a última eleição. Vitor Mihessen, coordenador geral da Casa Fluminense comemora esse aumento. “Somos defensores do desejo da retirada o quanto antes do título para ter o direito de votar e no futuro ser votado. Nos pré-vestibulares estamos incentivando esses jovens, mostrando que é um poder de transformação pessoal e nos territórios. Eu tirei o título aos 16 anos, incentivado pela minha tia e pais, naquele momento eu queria produzir transformações”, conta.

Já as pessoas idosas acima de 70 anos somam mais de 15 milhões de eleitores, número que também aumentou em quase 3 milhões. “Da galera mais experiente é possível continuar acreditando que é possível produzir transformações com o seu voto. Buscamos a motivação de todas as idades nesses exercícios, desde os mais novos aos mais velhos. Nós votamos e elegemos representantes, mas podemos fazer transformações como nas agendas locais, podemos ser até candidatos”, destaca. 

Pesquise sobre candidaturas

A Casa Fluminense lançou a nova versão da Agenda Rio 2030, de propostas de políticas públicas para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “A gente busca falar de democracia de forma mais aproximada do dia a dia e propositiva. São materiais didáticos e acessíveis para a população participar das tomadas de decisão sobre suas vidas para além do dia de ir para as urnas escolher seus representantes. Com esses instrumentos em mãos, esperamos estimular o gosto pela incidência política, para além das formas partidárias de exercitar a participação social”, comenta Vitor. 

Nessa eleição, a instituição dividiu os trabalhos em três frentes: conjunto de dados sobre os municípios Metropolitanos, para a população verificar a qualidade de vida de cada cidade antes do voto; entrevistas com candidatos ao executivo que apresentaram planos de governo alinhados com a Agenda Rio; rodas de conversas a partir das Agendas Locais 2030, para a construção de cadernos de propostas feitas por moradores de vários territórios da metrópole. 

O direito ao voto na Maré

Andando pelas ruas da Maré, não é difícil encontrar jovens com idade de 16 e 17 anos. Mas quando o assunto é voto nessa faixa etária, o ditado popular como achar agulha no palheiro se encaixa. Thiago Fernandes, diretor adjunto da Escola Estadual Professor João Borges de Moraes, na Nova Holanda, tem duas versões para o fato. “Vejo alguns jovens que por não serem obrigados, preferem se ausentar do voto. É de suma importância que a escola inicie o trabalho de conscientização cidadã. Mas também percebo uma situação grave, que é no território o grande número de jovens com falta de documentação para conseguir possuir o título de eleitor”, diz. 

Apesar de muitas dúvidas, alguns jovens se sentem orgulhosos com o passo inicial na eleição. “Eu vou votar pela primeira vez, pois quero fazer a diferença. Até agora só escolhi o candidato da comunidade para vereador”, comenta Carlos Eduardo, de 16 anos, morador da Nova Holanda. Outros já calejados de votarem, ainda sentem o gosto do aviso sonoro de confirmação pela urna eletrônica. “Sempre votei, mas minha filha diz que não preciso ir às urnas. Não paro, pois sei da importância e de que é algo sério. Esse ano mudou onde voto, mas não tem problema, vou com meus vizinhos”, expõe Ivanilde Maria, de 73 anos, moradora da Nova Holanda.

“O voto facultativo de jovens e dos idosos pode fazer a diferença num pleito municipal. Ao comparecer às urnas, essas parcelas do eleitorado assumem responsabilidade sobre a política e os assuntos de sua cidade, escolhendo aqueles que atendam às suas pautas. A participação ativa de diferentes segmentos do eleitorado expressa com mais legitimidade os anseios da população como um todo”, menciona em exclusividade ao Maré de Notícias, Eline Iris, diretora-geral do TRE-RJ.

Vamos votar

Para obter o título de eleitor é necessário um documento oficial de identidade com foto (frente e verso), Comprovante de residência recente (no caso de transferência, prazo mínimo de três meses de residência no novo endereço), Comprovante de quitação do serviço militar, para o alistamento, sendo o requerente do sexo masculino (para homens com 19 anos). 

Cuidado com a desinformação

No mês de setembro circulou nas redes sociais um suposto aviso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmando que “aposentados que forem às urnas: o voto servirá de prova de vida junto ao INSS”. No entanto, o site oficial do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RJ) informa que a ferramenta que permitirá esse cruzamento de dados eleitorais ainda está em desenvolvimento.

Cerca de 20 mil moradores são afetados com mudança de locais de votação da Maré

Distância dos novos locais chega a 1,8km, TRE diz que transportes públicos serão gratuitos mas não há linhas de ônibus na Maré

Neste domingo (6), os 64.138 eleitores da Maré vão às urnas escolher o prefeito e vereador que irão representá-los pelos próximos quatro anos. A Maré, apesar de ser um bairro, tem particularidades territoriais que influenciam até mesmo nas escolhas dos candidatos. É o que mostra a segunda edição da pesquisa Como Vota a Maré.

A pesquisa destaca que as seções 9 e 10 do  CIEP Vicente Mariano (Baixa do Sapateiro), Samora Machel (Parque Maré) e CIEP Elis Regina (Parque Maré), que têm o eleitorado mais progressista, foram transferidas, sugerindo que isso pode afetar as eleições municipais deste ano. 

Votar na Igreja

Os eleitores do Ciep Vicente Mariano, da Baixa do Sapateiro, terão que se deslocar por 1 quilômetro e 100 metros, sem transporte público, para votar. Este local de votação atendia mais de 5 mil eleitores, sendo este o 4º maior eleitorado da Maré. 

Uma das pessoas afetadas pela alteração, é o barbeiro Paulo Lopes, de 43 anos, morador da Vila dos Pinheiros. Ele lamenta a alteração: “eu acho chato, tu já tá acostumado ali, agora tenho que ir votar na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, lá é mais apertado, acho que tem poucas salas. Eu vou a pé porque no dia é muita bagunça na rua. No CIEP era mais perto, só atravessava o Pontilhão, agora ficou mais distante.”

Vale destacar que este é o único local de votação transferido que continua na Maré, entretanto, ao invés de usar o espaço escolar, o TRE optou por colocar em uma igreja católica. “Voltar a esse tipo de relação enfraquece a luta política e autonomia de cidadãos em um Estado laico e de direito universal” critica a pesquisa.

Uma mulher, moradora da Nova Holanda, que prefere não se identificar, diz que é uma das administradoras das eleições na Maré e também lamenta a alteração. Ela conta que afeta negativamente a rotina que mantém há 10 anos, já que votava no CIEP Samora Machel e foi transferida para a Unigama “A mudança afetou de várias formas, principalmente na violação desse direito da população ao voto que era garantido! Pessoas com mobilidade reduzida, por exemplo, se sua sessão não tiver no andar de baixo no novo prédio, não poderá exercer seu direito ao voto, pois lá só tem escadas. Tenho artrose nos joelhos e o elevador não foi autorizado a ser usado”, conta.

De acordo com ela, a transferência do local não foi previamente informada aos mesários e administradores: “Em nenhum momento fomos informados ou perguntados sobre essa mudança, o que nos deu a sensação de desrespeito. Minha equipe não quer ir trabalhar mas fomos comunicados que se não comparecermos, teremos que pagar uma multa de R$350”, relata.

Além do Ciep Samora Machel, os eleitores do CIEP Elis Regina, também tiveram suas sessões eleitorais transferidas para Unigama (Av Brasil, 5843. Bonsucesso, passarela 7). Do Samora Machel até o novo local de votação, os eleitores terão que andar 1,8 km e do Elis Regina para o mesmo local 1,2 km, porque não há linhas de ônibus na Maré. As mudanças afetam cerca de 22% do eleitorado (13.424 eleitores)  de acordo com o número de eleitores aptos a votar em 2022, sem contar com as novas habilitações deste ano.

Votos em crias

Outro dado apresentado pelo estudo, é em relação ao interesse de voto dos moradores. Os dados, da última eleição municipal, apontam que os eleitores se identificam com candidatos crias da Maré, que realizam trabalhos contínuos para o território. 

A análise feita pela Redes da Maré, observa a predominância de partidos conservadores entre os mais eleitos, e que mesmo o bairro tendo maioria da população feminina, os  homens estão entre os mais votados. De acordo com dados da última eleição municipal de 2020, 56% dos eleitores mareenses foram às urnas. Os dados da pesquisa são do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

É o que explica a coordenadora de incidência política da Redes da Maré, Lidiane Malanquini: “Os moradores têm um processo de identificação com candidatos que são ‘cria’, e embora eles tenham uma votação expressiva na Maré, não se elegem em outras partes da cidade” pontua.

A taxa de abstenção, ou seja, de eleitores que não compareceram às urnas, se mostra inferior ao restante da cidade. Na Maré o valor representa 30%, enquanto a do restante da cidade é de 32,76%. 

O que diz o TRE

Em nota enviada ao Maré de Notícias, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) diz que as alterações de local de votação foram fruto de um estudo que mapeou as localidades nas quais as urnas precisavam chegar em veículos blindados e com forte aparato policial. E que as alterações buscaram oferecer mais segurança para os eleitores, mesários, candidatos, quadros de apoio e todos os envolvidos no processo, para que possam votar livremente, de modo consciente e sem pressões indevidas.

Segundo o TRE, os eleitores que tiveram o local de votação alterado foram transferidos para locais que ficam a, no máximo, 1,5km do endereço anterior, diferente da realidade mostrada pela pesquisa da Redes da Maré. 

Ainda de acordo com a nota, o TRE destaca como novidade desta eleição o transporte gratuito para eleitores, mesmo em casos de pequenas distâncias. No entanto, essa “novidade” ainda não atende aos moradores da Maré, já que o transporte não circula pelas ruas do bairro. Os moradores terão que ir a pé ou utilizar meios próprios para chegar aos locais de votação.

Eleições 2024: confira os novos locais de votação na Maré e saiba como justificar

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Eleitores que não votarem e não justificarem o voto ficarão com dívidas eleitorais

Em poucas semanas acontecerão as eleições para os cargos de Vereador e Prefeito em todas as cidades do Brasil. Nas eleições municipais, a população elege seus representantes diretos, responsáveis pelos principais serviços da cidade. Recentemente, foi divulgado que 3 pontos tradicionais de votação no território foram realocados para fora da Maré, impactando a rotina do eleitorado. 

Confira os locais que foram alterados:

Antes:

CIEP Samora Machel e CIEP Elis Regina

Agora:

UNIGAMA

Avenida Brasil, 5843, Bonsucesso – Passarela 7.

Seções: 75, 76, 77, 78, 79, 129, 138, 142, 161, 173, 174, 175, 178, 183, 184, 185, 188, 192, 196, 198, 200

Antes:

CIEP Operário Vicente Mariano

Agora:

Igreja Nossa Senhora dos Navegantes

Rua Luis Ferreira, 217 – Bonsucesso

Seções: 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 128, 143, 172, 189

Os demais pontos de votação na Maré não sofreram alterações. 

Quais documentos levar para votar:

Além de saber quais os cargos votar esse ano, é importante estar com o título de eleitor para votar.

Documento oficial com foto que podem ser: RG, Identidade Social, Passaporte, Carteira de Trabalho, CNH ou e-Título (exclusivo para quem já cadastrou as impressões digitais e possui fotografia no documento). O aplicativo do título de eleitor digital, pode ser baixado até a véspera da eleição.

Como justificar:

Caso no dia da eleição você estiver fora do seu local de votação, é possível dar uma justificativa e evitar muta por ausência nas urnas.

Você pode justificar acessando o aplicativo e-Titulo ou indo até um local de votação mais próximo perante as mesas receptoras de voto. No dia do pleito, o download do aplicativo será suspenso para evitar instabilidade no sistema.

Para quem precisa justificar depois do período eleitoral, basta comparecer em qualquer zona eleitoral até 5 de dezembro de 2024 para justificar o 1° turno e até 7 de janeiro de 2025 para justificar eventual segundo turno. Confira as unidades eleitorais pelo site do TSE (https://www.tse.jus.br/servicos-eleitorais/autoatendimento-eleitoral#/)

Caso o eleitor não vote e não justifique, será cobrada uma multa no valor de R$ 3,51, por cada turno de eleição.