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Confira as dez matérias mais lidas do Maré de Notícias em 2021

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Site ampliou cobertura das 16 favelas da Maré e demais periferias do país

Por Redação, em 30/12/2021 às 07h

O Maré de Notícias – Online ampliou ainda mais sua lupa para potencializar o que era notícias no maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, a Maré, e também as demais periferias da cidade, do estado e do país. Mas não só.

O intuito do site é promover o que acontece de importante e o que morador favelado precisa saber. Seguindo esse desejo, separamos as dez matérias mais lidas em 2021 por aqui, com a promessa de que continuaremos a pautar as favelas e periferias espalhadas em todo o Brasil. Não deixe de se contagiar por esta Maré de Notícias.

 

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Webstorie

O outro lado da história

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Pesquisadora mostra que a partir dos anos 1990 o jornalismo reduziu a narrativa sobre a favela aos casos de polícia

Por Carla Baiense*

Há mais de 15 anos, pesquiso a forma como as favelas são representadas nos veículos impressos do jornalismo comercial do Rio de Janeiro. Enquanto jornalista e pesquisadora, queria entender os impactos desta maneira particular de apresentar estes territórios sobre o cotidiano de seus moradores. Enquanto moradora, eu já conhecia, em parte, essa resposta. Explico: antes de se tornar o tema da minha pesquisa, a favela foi minha casa. No Parque União, onde nasci e cresci, observava que os jornalistas só entravam para registrar a morte de “mais um bandido”. Acho mesmo que meu incômodo com essa redução da favela a uma questão de polícia me empurrou para o jornalismo, onde esperava poder contar o outro lado dessa história. 

Mas entre a percepção do problema e o diagnóstico de suas causas existe a investigação. Assim, reuni e organizei por temas uma amostra com quase 800 reportagens publicadas em dois jornais cariocas, O Globo e Jornal do Brasil, entre os anos de 1984 e 2010. O que descobri? Uma associação entre favela e violência tão recorrente que o foco da minha observação se deslocou: já não pesquisava a favela na imprensa, mas a criminalidade urbana nas páginas de jornal. A partir dos anos de 1990, mais de 80% de todos os textos da minha amostra que traziam a palavra favela se referiam a eventos ligados à violência.

Neste conjunto de reportagens, um episódio em especial me chamou atenção: a cobertura de um confronto na Favela do Coroado, em Acari, na Zona Norte do Rio, em 28 de setembro de 1993. A matéria principal recebeu no jornal O Globo o título de “A batalha de Acari”. Ali surgiam os primeiros elementos de uma forma particular de narrar eventos nas favelas. Foi nesta reportagem, ilustrada por fotos dramáticas de pessoas fugindo em meio à fumaça, incluindo uma mãe com o filho nos braços, que encontrei pela primeira vez a palavra que viria a ser muitas vezes usada em coberturas deste tipo: guerra. 

Na década seguinte, a “Guerra do Rio” se tornou não apenas uma expressão, mas uma marca visual usada sempre que se noticiava um confronto em favelas cariocas. Cabe perguntar, sem dúvida, o que significa naturalizar a ideia de que há uma guerra no Rio, colocando em campos opostos a favela e a “cidade”. Para quem mora na favela, os efeitos estão por todos os lados. A violação de direitos pelo Estado que deveria protegê-lo e o descaso com suas reivindicações são vistos como efeitos colaterais desta guerra. 

Em mais de 30 anos de cobertura policial, os jornais repetem a fórmula que associa a violência à favela, reduzindo a vida nestes territórios a uma representação estereotipada, que não contempla a diversidade de experiências e a potência de seus moradores. Vale lembrar que um estereótipo não é apenas uma visão distorcida de pessoas ou grupos. Ele é também uma visão engessada. Ao repetir o discurso de que a favela é fonte de violência, a imprensa fixa os sentidos ligados a ela, legitimando violações aos direitos fundamentais dos cidadãos e cidadãs que habitam esses territórios. Expressões como “bunker de bandidos”, que ainda hoje são utilizadas no noticiário, expressam essa naturalização de que estamos falando.

Várias pesquisas no campo da comunicação mostram que o jornalismo é bastante eficiente em influenciar o debate político. Ao incentivar uma cultura do medo à favela e defini-la como fonte de violência, ele contribui para uma agenda política que enxerga esses territórios como um problema a ser, no mínimo, contido, e preferencialmente, eliminado. 

É certo que a imprensa não criou todos os problemas que os moradores de favela enfrentam, mas ela precisa fazer parte da solução. Enquanto o jornalismo continuar a reduzir a favela a uma questão de polícia, as políticas públicas voltadas a ela continuarão a se concentrar em “soluções” pautadas pela repressão e pela força – legitimada pela opinião pública e pela liberdade de expressão. 

*Carla Baiense Felix é jornalista, professora e doutora em Comunicação e Cultura nascida e criada na Maré.

“O maior desafio é fazer com que as tecnologias alcancem as pessoas de baixa renda”(*)

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(*) citação de Adriana Mallet, CEO do SAS Brasil

Por Luciana Bento – Conexão Saúde em 28 /12/2021 às 07h.

A médica e empreendedora Adriana Mallet se considera uma apaixonada por inovação e educação em Saúde. CEO da SAS Brasil – organização responsável, ao lado de outras parceiras, pelo sucesso do projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid, Adriana acaba de receber o prêmio Empreendedor Social em Resposta à Covid-19 da Folha de São Paulo na categoria Inovação para a Retomada.

Com outras premiações no currículo – entre elas, a do primeiro software para a realização de diagnósticos de câncer de colo de útero remotamente, com telecolposcopias,– Adriana também é fundadora da SAS Smart, startup de tecnologia que cria produtos inovadores para a saúde, como a cabine de telemedicina utilizada durante a pandemia, entre outros locais, na Maré.

Adriana foi médica do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) durante dez anos e desde 2013 se dedica à busca de soluções de acesso à saúde especializada a pessoas vulneráveis no país. Com o SAS Brasil, visita anualmente cidades do interior do Brasil com menos de 30 mil habitantes e baixo IDH para oferecer atendimento médico especializado.

“O fundamental é fazer este trabalho pensando em chegar ao paciente aonde ele está – e não tentar fazer com que ele se vire para usar tecnologias que muitas vezes não estão acessíveis”, acredita.

Luciana: Na pandemia assistimos a muitas descobertas e avanços, desde as vacinas até o aprimoramento de equipamentos para atendimento e tratamento de pacientes, por exemplo. Em sua opinião, qual o papel da ciência e da tecnologia em momento como este?

Adriana: É fundamental valorizar a ciência! A pandemia acelerou bastante a disseminação de inovações em saúde que viriam de toda forma e ainda propiciou a busca de novas descobertas – inclusive reunindo, em uma agenda única, atores que poderiam competir entre si, como foi o caso da criação da vacina em tempo recorde.

Para quem tinha alguma dúvida da eficácia das vacinas, a realidade se impôs: ninguém virou jacaré. Ao contrário: a gente está vendo o controle efetivo da pandemia a partir das vacinas[MOU1] , embora ainda tenhamos muito trabalho a fazer.

O fato é que sem estas inovações, sem esta união de esforços, e principalmente sem a ciência, a gente não teria alcançado este resultado num tempo tão curto. É uma pena que nem sempre a política e o conhecimento científico andem de mãos dadas e todo mundo perde com isso.

Luciana: E quais as principais tendências tecnológicas em saúde pós pandemia? O que veio pra ficar?

Adriana: A digitalização de dados. Digitalizar os dados de um paciente nos permite propor de fato um tratamento mais qualificado, incluindo até mesmo a sua realidade econômico-social e familiar. Tratar um paciente é tratar o todo, não somente a doença pontualmente. E a digitalização nos dá a possibilidade de enxergar este todo de forma mais estruturada.

Mas há grandes tendências que talvez ainda estejam incipientes, como a questão da genômica para o tratamento de doenças como o câncer. Estamos vendo a customização dos tratamentos a partir deste conhecimento genético.

Luciana: E como a telessaúde se integra a estas tendências? O que mudou nesta frente, com a pandemia?

Adriana: Eu gosto muito de parafrasear o doutor Chao Lung Wen, da USP, que é um grande mestre pra mim na área de telessaúde: ela não é novidade, ela é uma ferramenta para o exercício da medicina que existe há mais de 50 anos. Mas hoje a gente consegue fazer uma chamada de vídeo com alta qualidade usando só 2 mega de internet, usar equipamentos muito mais interessantes para uma telepropedêutica (coleta de dados do paciente à distância), a gente inclusive desenvolveu, no SAS Brasil, a realização de diagnósticos de câncer de colo de útero remotamente, com telecolposcopias…

Pra mim o grande ganho que tivemos é o de começar a entender mais as doenças e seus padrões a partir de dados estruturados que acabavam escapando. Mesmo com o prontuário eletrônico digital, é difícil fazer um estudo que coloque, por exemplo, o timbre de voz ou a tosse de um paciente de Covid pra fazer diagnóstico preditivo de gravidade da doença.

Isso é possível quando a gente tem uma chamada de vídeo, uma captação de dados estruturados, a digitalização do processo de cuidado – que requer toda a atenção em relação à segurança destes dados. Mas que é uma potência que talvez a gente nunca tenha alcançado no Brasil.

A digitalização já vem acontecendo no mundo há muito tempo e o Brasil tem que correr atrás para competir de igual pra igual em matéria de saúde. Mas o fato é que conseguimos tirar um pouco este atraso, fazendo 5 anos em 1. [MOU2]

Luciana: E como garantir que estes avanços tecnológicos cheguem a toda a população? É possível integra-los ao sistema público de saúde?

Adriana: Este talvez seja o maior desafio: que estas tecnologias alcancem os que mais precisam, as pessoas de baixa renda, que vivem em municípios de baixo IDH, que não têm acesso a uma medicina especializada. A atenção básica está lá, mas ainda existem desafios pra controlar doenças como a diabetes por exemplo, por falta de acesso a uma consulta com um endocrinologista.

Já fazemos isso quando levamos as cabines de telemedicina e as Unidades de Telemedicina Avançada (UTAs) – que são centros de especialidade em caixinhas – a lugares remotos. A gente consegue levar mais de 20 especialidades médicas com telepropedêutica, fazemos telecolposcopia, teleultrassom… É possível um otorrino ver o ouvido de uma criança e fazer um diagnóstico auxiliar adequado mesmo estando a dois mil quilômetros de distância.

E sim, é possível e desejável que haja uma contribuição de iniciativas inovadoras com o SUS. A gente já viu que este é um sonho possível, estamos fazendo isso na Maré e também com as secretarias de saúde dos municípios onde o SAS Brasil já tem as unidades de telemedicina avançada. Estes municípios bateram pela primeira vez suas metas de prevenção, diagnóstico e rastreio do câncer de colo de útero e estão liberando vagas presenciais porque muitos pacientes têm seus casos resolvidos no digital.

Acho importante abrir espaço para que boas iniciativas do terceiro setor ocupem este espaço da inovação, que muitas vezes é difícil para um sistema do tamanho do SUS. Mas é preciso fazer junto, pensar junto, quem sabe até criando políticas de inserção e absorção destas tecnologias no sistema público de saúde.

Luciana: Pode falar sobre o trabalho do SAS Brasil durante a pandemia, especialmente na área de inovação?

Adriana: Durante a pandemia, vimos que a nossa experiência em telessaúde para triar e acompanhar pacientes no pós-operatório poderia e deveria ser utilizada para prestar assistência às pessoas sem que elas precisassem sair de casa.

A partir disso, elaboramos protocolos baseados nos do Ministério da Saúde, de monitoramento de paciente e conseguimos alcançar índices incríveis de acompanhamento de uma área de mais de um milhão de pessoas. Nas comunidades vulneráveis, técnicos de enfermagem podiam ir até a casa do paciente, aferir os sinais vitais e ver a oximetria, evitando que eles circulassem e contaminassem outras pessoas.

A partir desta experiência a gente começou um trabalho com as cabines dentro do Galpão de Testagem da Maré, com a possibilidade do paciente positivo para Covid já ser avaliado por um médico e pegar a sua receita, acessar consultas de saúde mental, se fosse o caso – sem dúvida, um acolhimento muito importante para este momento.

O SAS Brasil não fez um processo apenas de atendimento à Covid, mas de acesso ao cuidado e à assistência médica durante a pandemia. Acho que o grande ganho foi ver que é possível o paciente de uma cidade do interior ou de uma comunidade vulnerável ter acesso à saúde digital de uma maneira simples e segura, sem abrir mão das boas práticas.

Isso acabou resultando numa marca que a gente tem bastante alegria, que 100% dos pacientes que a gente atendeu, e não foram poucos, foram cerca de 50 mil consultas, nenhum deles veio a óbito por Covid.

Mas o fundamental é fazer este trabalho pensando em chegar ao paciente aonde ele está – e não tentar fazer com que ele se vire para usar tecnologias que muitas vezes não estão acessíveis.

Nova série do YouTube Originals une Agnes Nunes e Liniker em um encontro

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 Abre Alas celebra cantoras negras brasileiras

Abre Alas é a nova série do YouTube Originals. Com apresentação de Agnes Nunes, a produção celebra Elza Soares, Sandra Sá e outras grandes cantoras negras. Em seis episódios criados pela Hysteria, Abre Alas mostra o encontro da jovem cantora com nomes consagrados da música brasileira que foram e continuam sendo suas inspirações.

Com apenas 19 anos, Agnes Nunes conquistou a internet com covers de músicas e alcançou milhões de visualizações. “Eu me sinto honrada em poder apresentar essa série documental que fala sobre histórias de mulheres tão admiráveis, que me inspiram desde sempre, na música e na vida. Hoje, me espelho nessas e em tantas outras para trazer a minha música com amor e verdade, pra que daqui muitos anos eu continue sendo ouvida e entendida, assim como Elza, Sandra, Margareth e tantas lindas vozes pretas”, afirma Agnes Nunes.

Liniker, uma das maiores revelações da música brasileira, mulher trans, é a estrela do primeiro episódio de Abre Alas. Hoje com tanto sucesso fica difícil imaginar que nem a própria mãe da Liniker pensava que ela soubesse cantar. A jovem, na época com 19 anos, começou a entender que podia viver de música passando o chapéu nos bares da cidade de Santo André, na região metropolitana de São Paulo. Mas nunca foi fácil.

As duas artistas compartilham momentos íntimos da vida sobre serem criadas por mães solo no interior do país e cercadas por influências artísticas dentro de casa. O machismo e racismo antes das carreiras decolarem. Ambas foram reveladas por vídeos que viralizaram na web. Hoje, elas são referências para novos artistas e para o público em geral. 

A série não para por aí. Em outros cincos episódios, Agnes Nunes conversa sobre as vidas e trajetórias de Margareth Menezes, Sandra Sá, Preta Gil, Tássia Reis e Elza Soares, que aos 92 anos é um dos maiores nomes da MPB nacional. No fim, sempre tem um dueto. Os encontros poderão ser vistos no canal da Agnes Nunes. Mulheres, pretas, cheias de histórias de força e doçura conversam de um jeito descontraído e cheio de sabedoria. Já estamos aqui ansiosos para assistir tudinho!

Epidemia de gripe lota postos de saúde na Maré e por todo o Rio

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Boletim InfoGripe da Fiocruz mostra que esse tipo de ocorrência é inesperada porque o aumento na taxa de contaminação do vírus Influenza costuma acontecer entre os meses de abril e julho

Por Bianca Ottoni, Flavio Herculano, Jorge Melo e Sthefani Maia

No fim de dezembro, a cidade do Rio de Janeiro contabilizou mais de 23 mil casos da gripe do vírus Influenza H3N2,  situação tratada como epidemia. Os pesquisadores acreditam que o relaxamento no distanciamento social, que previne infecções respiratórias, e a baixa taxa de vacinação contra a gripe são os principais responsáveis. A campanha de vacinação da gripe de 2021, até setembro, vacinou  78% do público-alvo. O ideal é que esse número ultrapasse os 90%.

O Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado na segunda semana de dezembro, mostra que esse tipo de ocorrência é inesperada porque as epidemias de gripe costumam acontecer nos meses de abril, maio, junho e julho, ou seja, na passagem do outono para o inverno. Tudo indica que o vírus da atual gripe foi “importado” do Hemisfério Norte, região que está entrando agora na temporada de frio. Possivelmente alguém se infectou lá e reintroduziu o vírus por aqui. 

Para evitar a gripe, os cuidados são os mesmos da covid-19: higienização das mãos, máscaras, evitar aglomeração e ficar em repouso e isolamento em caso de identificar os sintomas, como febre, tosse, espirros e dor no corpo.

A epidemia na Maré

A situação nos postos de saúde da Maré reproduz o que vem acontecendo em toda a cidade. “Estamos atendendo em quantitativo muito maior de gripe do que covid. No início da epidemia (da gripe) abríamos o posto e já havia cerca de 18 a 20 pacientes para cada equipe, sendo que somos 8 equipes.” conta a enfermeira Sara Mançano, que trabalha na clínica da família Jeremias Moraes da Silva.

Um dos problemas que tem agravado a situação é a falta de doses da vacina da gripe. Segundo Sara Mançano, em dezembro, após a falta de vacina, a procura pela anti-influenza cresceu. Na segunda semana de dezembro, os funcionários da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva chegaram a vacinar em média 400 pessoas. 

Sara Mançano acredita que, com a pandemia do coronavírus, houve um relaxamento da população com outras doenças e a gripe, por se tratar de uma doença com menos letalidade, foi deixada de lado. 
“Esse tumulto poderia ter sido evitado”, afirma uma agente de saúde da Jeremias, que preferiu não se identificar. “Quando a campanha começou em abril, nós fomos até as pessoas. Fomos para a rua, montamos tendas para as pessoas se vacinarem, chamávamos elas e eram pouquíssimas pessoas que vinham.” 

Em outubro, a Secretaria Municipal da Saúde realizou o Dia D da Campanha de Multivacinação, onde clínicas da família, UPA`s  e centros municipais de saúde ficaram abertos no sábado (16/10) para vacinar todos que estavam com a vacinação atrasada.

Um sonho na ponta dos pés

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Determinada a ser bailarina profissional, a pequena Lays Barbosa precisa de ajuda para desfrutar da vaga que conquistou na Escola de Teatro Bolshoi

Por Gracilene Firmino em 24/12/2021 às 07h. Editado por Tamyes Matos.

Descobrir a própria vocação a qualquer momento da vida é um privilégio e a pequena Lays Barbosa é daqueles casos em que o talento inata acelera esse processo. A menina, de apenas dez anos, já escolheu seu rumo na vida: ser bailarina profissional. Os primeiros passos para a realização desse sonho já foram dados: Lays foi aprovada, entre mais de mil crianças, para estudar balé em uma das maiores instituições do mundo, a Escola do Teatro Bolshoi. Cria do conjunto de favelas da Maré, a menina vai mudar de vida mas, para isso, precisa de ajuda. 

Determinada, disciplinada, focada e talentosa: é assim que amigos descrevem a pequena bailarina. Lays começou a estudar balé com oito anos, mas sua mãe percebia o interesse da menina em dançar desde que a pequena contava com apenas quatro anos. Chegou a fazer algumas aulas em uma academia de dança, mas foi no Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral (Cadi) na Maré que ela pôde se dedicar integralmente à dança. O Cadi existe desde 2016 e, hoje, conta com seis turmas de balé com cerca de 15 alunos, cada. Dentre os mais de 90 estudantes, a pequena nascida e criada em Capivari, no Morro do Timbau, se destacou: Lays se desenvolveu muito rapidamente dentro do projeto. 

“Em seu primeiro ano de aulas aqui com a gente, já fez um solo na apresentação de fim de período, antes das festas. E o que a Lays tem não é apenas talento. Ela é muito dedicada, disciplinada, aplicada e estudiosa. Assistia mais de uma aula, demonstrava um interesse verdadeiro pela dança”, conta Jeniffer Rodrigues, professora de balé da menina. Foi ela quem ajudou Lays a se preparar para os testes. “Ela ficava horas aqui (no Cadi) comigo para ensaiar, se aperfeiçoar e podermos gravar o vídeo que a seleção exigia.” 

Lays Barbosa e sua professora, Jeniffer Rodrigues – Foto: Matheus Affonso

Gosto pela arte

Lays tem uma rotina atribulada: todos os dias, acorda cedo para ir à escola, e volta para casa apenas para tomar banho e sair novamente para as aulas de balé. Às segundas e quartas ela tem aula no Cadi, das 16h às 18h. Terças, quintas e sextas a menina estuda balé no Centro de Artes do Méier – o que a obriga a sair de casa às 15h30m, mesmo com as aulas começando às 17h. Às 20h é hora de a pequena bailarina voltar para casa, onde chega às 21h30. “Às vezes ela vem praticamente dormindo, nem consegue jantar direito”, conta Daiane Barbosa, mãe de Lays. A programação agora ficou ainda mais intensa: a menina começou a fazer aulas de balé aos sábados. 

Mas na vida de Lays também há espaço para momentos de descontração. “Gosto muito de ficar nas redes sociais, vendo vídeos, principalmente os de balé, claro. Gosto de brincar na rua, ficar com meus amigos, ir à praça. Também amo séries e filmes com o tema de dança e balé: são os que eu mais assisto”, diz Lays, sorrindo. Tímida, mas expressiva e articulada, quando perguntada sobre sua referência na arte que tanto ama, a menina é clara e direta. “Ana Botafogo!”, responde. 

A seleção para o Bolshoi

A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil funciona desde março de 2000 na cidade de Joinville, Santa Catarina, na região Sul do Brasil. É a única filial do tradicional Teatro Bolshoi de Moscou, na Rússia; por isso, seus alunos vêm de todas as partes do Brasil e do mundo. Com professores russos e brasileiros, a instituição forma bailarinos profissionais com a mesma precisão técnica e qualidade artística aplicados em sua sede na Rússia. O grupo de professores da escola na parte de dança e preparação física é formado por três russos e dez brasileiros. A instituição trabalha com o Método Vaganova, um conjunto de técnicas para o ensino do balé criado pela pedagoga Agrippina Vaganova.

A Bolshoi brasileira realiza seleção anual para novos alunos, com avaliações médicas e artísticas específicas. São disponibilizadas vagas para os cursos técnicos e básicos da instituição, todas com bolsas de estudo 100%. 

Este ano, foram mais de mil inscritos; todos enviaram vídeos em que se apresentavam fazendo exercícios, o que serviu para a escola fazer uma pré-seleção dos candidatos. Cerca de 200 crianças passaram para a etapa presencial (40 foram selecionadas para a bolsa de estudos), que aconteceu entre os dias 5 e 6 de novembro. Daiane conta como foi para a pequena bailarina encarar todas as fases, e lembra que fez de tudo para que a filha chegasse aonde chegou. 

“Eu já estava de olho nas redes sociais da Escola Bolshoi há um tempo, esperando as inscrições para a seleção anual. Quando abriram, logo falei com a professora de balé da Lays, a Jeniffer, para ela me ajudar com tudo que fosse necessário. Foi preciso pagar uma taxa de inscrição de R$ 25. No começo, nem cheguei a contar para a Lays que ela estava inscrita porque era uma coisa que ela queria muito e sabíamos que isso geraria muita ansiedade nela. A Jeniffer ajudou muito para que tudo acontecesse, principalmente na parte do vídeo, em que eles pediam que as crianças fizessem alguns movimentos”. 

Quando Lays foi aprovada para a etapa presencial, a animação tomou conta de Daiane – e com ela, a preocupação com os gastos. “Fizemos uma rifa para pagar as passagens para Santa Catarina, para que a Lays pudesse fazer os testes. Ficamos quatro dias lá.” Nessa etapa, as crianças, entre 8 e 11 anos, foram avaliadas para as bolsas através de provas de português, matemática e conhecimentos gerais, além de testes físicos e avaliações médicas. “Pegavam a minha perna, alongavam, mandavam fazer algumas posições de balé”, conta Lays, que acabou contemplada com uma bolsa de estudos, juntamente com  cinco crianças moradoras de favelas do Rio. 

Necessidade de apoio

Além de balé, a Escola Bolshoi oferece aos alunos outros benefícios, como alimentação no local, transporte para ir às aulas e equipamentos e uniformes de prática (sapatilhas, malha, meia-calça, mochila etc). Também são fornecidos gratuitamente uniformes escolares de verão e inverno, figurinos, orientação pedagógica, assistência odontológica preventiva, atendimento fisioterápico, nutricional e assistência médica de emergência/urgência pré-hospitalar. Ao todo, a formação da Escola do Teatro Bolshoi dura oito anos e, mesmo diante da estrutura e do apoio oferecidos pela instituição, alunos como Lays precisam de ajuda para se mudar para Joinville.

A pequena bailarina sairá do Morro Timbau rumo à Santa Catarina, juntamente com a mãe e o irmão mais novo de quatro anos, em busca de seus sonhos e para construir uma nova vida no sul do país. A família de Lays vai precisar custear passagens aéreas, moradia e  alimentação, entre outros gastos, já que Daiane vai precisar de tempo até se estabilizar e conseguir trabalho na nova cidade. Ela e Jeniffer estão arrecadando online os recursos para a família se mudar em janeiro e custear os gastos dos primeiros seis meses em Joinville. A meta é conseguir R$ 15 mil, e qualquer ajuda é bem-vinda: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/lays-barbosa-no-bolshoi 

Daiane está determinada a fazer realizar não apenas o desejo de vida da filha como o seu próprio. “Eu também estudei balé na infância. É uma arte que sempre admirei e amei. Não vou soltar a mão dela, é o sonho de vida da minha filha”, diz. Lays, por sua vez, não vê a hora de chegar o dia 3 de março de 2022, quando as aulas na Bolshoi começam. “Fiquei muito feliz e estou ansiosa. Eu amo dançar. Quero ser bailarina profissional e ajudar outras crianças a realizar o mesmo sonho”, conta a menina, com brilho nos olhos.

Bailarina Lays Barbosa – Foto: Matheus Affonso