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Uso de ciclovia virou sinônimo de perigo na Maré

Quem anda ou pedala a caminho da UFRJ precisa ficar atento

Por Bianca Ottoni, Sthefani Maia e Hélio Euclides em 23/12/2021 às 11h30. Editado por Edu Carvalho e Dani Moura.

Um carro perde a direção, sobe a calçada e atinge um corredor que estava na ciclovia que liga a Maré à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Governador. Essa cena não sai da cabeça de Celso Roberto de Lima, professor de Educação Física e coordenador do grupo de corrida Vício do Bem. Ele viu o atropelamento em agosto de 2020 que vitimou Rodrigo Leite, atleta e morador da Baixa do Sapateiro. Desde então nada foi feito para resolver a falta de segurança de quem utiliza a ciclovia.

Em novembro de 2021, mais um acidente aconteceu no mesmo local:  o capotamento do carro de Mateus da Silva de Almeida, morador da Maré. O motorista passou dias internado e teve que ser submetido a uma cirurgia no tórax. Na ocasião, ninguém passava pela ciclovia. “Parece que o primeiro acidente não foi suficiente. O que percebemos é a imprudência, o descaso, e o abandono. O local é uma tragédia anunciada. Infelizmente a situação poderia ser melhor se investissem em prevenção”, diz Lima.

Para quem mora na Maré, a alternativa como local de caminhada, corrida e até andar de bicicleta sempre foi a Cidade Universitária. A ciclovia também é usada diariamente por estudantes e trabalhadores da Universidade. O professor de Educação Física conta que mesmo após os acidentes, nenhuma providência de proteção foi feita. “Esperamos desesperadamente que coloquem um guarda corpo no local e, se possível, que as famílias dos prejudicados sejam indenizadas pelo descaso. Mais de um ano do acidente anterior e não tivemos nenhum retorno concreto por parte da Prefeitura, Lamsa e UFRJ. Prometeram uma visita técnica que até agora não aconteceu.”

A ciclovia interditada por causa do acidente. Foto Héli0o Euclides

A Prefeitura Universitária informou que o trecho onde ocorreu os acidentes não pertence ao perímetro da UFRJ. A Lamsa declarou que apesar da ciclovia não integrar os domínios de concessão da Linha Amarela, está estudando possíveis ações para prevenção de acidentes e proteção da vida das pessoas que utilizam a região como local de passagem ou para prática esportiva.

Um melhor caminho para prática do ciclismo

Além dos corredores do Vício do Bem, outro grupo que utiliza a ciclovia da Cidade Universitária é o Bike Maré Livre, que Fábio Douglas participa. O ciclista utiliza a frequentemente a ciclovia. “Comecei a usá-la para praticar exercícios no início deste ano em meio à pandemia, já que não saí muito, e essa foi a maneira de realizar uma atividade. Somando-se a atividade física, descobri a possibilidade de circular e de me apropriar mais do conjunto da cidade”, diz.

Para Douglas, pedalar representa saúde. “Além de ser sustentável, me permitiu fazer exercícios com maior intensidade e sem maiores impactos para as articulações, diante do fato de estar acima do peso e de alguma forma estava sedentário.” Ele acredita que a cidade deveria investir na malha cicloviária, que hoje tem maior investimento no Centro, Zona Sul e Barra. “Nós que somos da Zona Norte, periferias e favelas temos que compartilhar as vias públicas com os carros, salvo casos raros de espaços, que nem sempre tem uma segurança pública que seja efetiva.”

O esportista afirma que os acidentes ocorrem porque os motoristas não respeitam o espaço do ciclista. Ele também menciona que as ciclovias nem sempre são seguras e tem a manutenção regular, trazendo riscos tantos para os ciclistas mais experientes quanto para os iniciantes. A solução indicada por Douglas é ocorrer uma articulação de atletas com o poder público buscando condições de segurança necessárias, como manutenção, iluminação, sinalização e policiamento efetivo.

“Os ciclistas da cidade dependem muito de ações educativas tanto para ciclistas quanto para motoristas e motociclistas, sem esquecer dos pedestres. Contudo, ainda vivemos numa cidade em que as políticas públicas não são efetivas para todos os setores e espaços”, comenta Douglas que ainda diz que é preciso uma valorização do ciclismo, como uma prática saudável para a saúde, educação e mobilidade urbana.

Uma cidade despreparada para pedalar

Há 20 anos na prática do ciclismo, Mário Takeo Hirabae mora há quase três quilômetros do centro de Campo Grande. “Como gosto de andar de bicicleta, foi se tornando um hábito por ser muito mais rápido do que ficar esperando o transporte coletivo muito precário e caro. Uma pena que as ciclovias são insuficientes e sem conservação,”diz o ciclista. expõe. 

Muitas vezes é necessário dividir vias, dessa forma é importante o uso de equipamentos de segurança, como capacete, luvas e luzes. Sem esquecer de andar sempre pela mão certa na rua; preferindo as vias secundárias sempre que possível e principalmente respeitando as normas de trânsito. “O maior problema é a falta de respeito ao ciclista por parte dos condutores de carros. É preciso observar a distância lateral prevista no artigo 201 do Código Nacional de Trânsito, que é de um metro e meio.” Para isso, ele defende a demarcação do espaço do ciclista nas principais vias.

Hirabae, assim como Douglas, pensa que a cidade precisa pensar na segurança para os ciclistas. Isso evitaria a possibilidade de ser assaltado ou de ter a bicicleta furtada. Para evitar um prejuízo financeiro, Hirabae utiliza uma bicicleta simples e de menor valor para o dia-a-dia, quando está sozinho. Já em passeios, quando está em grupo de ciclistas, usa uma bike de melhor qualidade.

Uma trajetória de acidentes na cidade

Sustentável e acessível, a bicicleta tem estado cada vez mais presente como meio de transporte dos cariocas. Entretanto, acidentes graves envolvendo ciclistas também têm ocupado as notícias mais recentes. Em um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), em agosto de 2021 foi registrado um aumento de 30% no número de acidentes graves envolvendo ciclistas no Brasil nos primeiros cinco meses do ano. Com registro de 1.451 acidentes graves envolvendo ciclistas, o índice supera a média de 1.185 casos mensais nos últimos dois anos.

De acordo com as análises da Abramet, o Rio de Janeiro apresenta em 2021 um aumento na taxa de ciclistas traumatizados de 28% e atinge o número de 296 casos. Quando avaliada a pesquisa de variação entre 2010 e 2019, os resultados são ainda mais alarmantes: o índice de ciclistas cariocas acidentados subiu para 94%. As informações expostas pela pesquisa intensificam a necessidade de entender as demandas dos ciclistas, de forma a proteger esse público e evitar o aumento de casos de atropelamentos.

Um dos episódios mais conhecidos envolveu o empresário Thor Batista, filho de Eike Batista, que atropelou Wanderson Pereira dos Santos na Rio-Petrópolis, em 2012. O atropelamento causou a morte do ajudante de caminhão que passava de bicicleta pela pista sentido Rio, na descida da serra, e foi atingido pela Mercedes-Benz do empresário. Thor chegou a ser condenado pela 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias, mas os advogados recorreram e reverteram a situação.

Em dezembro de 2020, o jogador de futebol Márcio Almeida de Oliveira, conhecido como Marcinho, que jogou no Botafogo, atropelou o casal de professores Alexandre Silva de Lima e Maria Cristina José Soares. O acidente que causou a morte do casal aconteceu no Recreio, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O jogador fugiu do local. Segundo a defesa de Marcinho, o casal teria atravessado fora da faixa de pedestres de forma repentina, provocando o acidente. No início de maio deste ano, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia de homicídio culposo do Ministério Público Estadual contra o jogador de futebol. Marcinho firmou em junho um acordo de R$ 200 mil aos quatro netos das vítimas, mas segue respondendo criminalmente pelo homicídio.

Também no Recreio, um ciclista foi atropelado e morto em janeiro deste ano. A vítima, Cláudio Leite da Silva, de 57 anos, era taxista aposentado e costumava pedalar diariamente pela via. O motorista João Maurício Correia Passos, capitão do Corpo de Bombeiros, fugiu do local. Segundo testemunhas, o motorista tinha bebido em um bar momentos antes do acidente, e antes do acidente chegou a bater em uma kombi, demonstrando sinais de consumo de álcool.

O caso mais recente ocorreu no dia 04 deste mês, quando Jonatas Davi dos Santos foi vítima de um atropelamento na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, causando sua morte. O entregador de aplicativo, de 30 anos, estava trabalhando de bicicleta quando foi atingido pelo carro do jogador de futebol Ramon Ramos Lima, lateral-esquerdo do Flamengo. O atleta prestou socorro à vítima que não resistiu até a chegada ao hospital. Em depoimento, Ramon alegou ter sido surpreendido pelo ciclista, que atravessou a pista repentinamente. O caso foi registrado como homicídio culposo, quando não tem a intenção de matar. A investigação segue em andamento.

Uma pedra no meio do caminho

Além de casos de atropelamentos, os ciclistas estão expostos a outro perigo: falta de infraestrutura adequada. Apesar de ser a terceira cidade brasileira com maior extensão de ciclovias, com um total de 450 km, o Rio de Janeiro ainda precisa aprimorar o planejamento cicloviário. Hoje o espaço disponível é inadequado, há desconsideração dos pedestres no processo e casos de negligência nas construções realizadas.

Um episódio muito conhecido foi o da queda de trecho da ciclovia Tim Maia, localizada em São Conrado, zona sul do Rio, em abril de 2016, após ser atingida por uma ressaca. A ciclovia havia sido inaugurada três meses antes e, diante do desabamento que provocou a morte de dois ciclistas, foram realizados estudos que indicavam falhas no projeto. Segundo especialistas na ocasião, o trecho não foi projetado corretamente para suportar o impacto das ondas. 

Só depois de quatro anos do desabamento, em agosto de 2020, a Justiça condenou os 15 réus no processo, entre eles, engenheiros e profissionais envolvidos na elaboração e execução do projeto. A pena de três anos, dez meses e 20 dias de prisão foi convertida para a prestação de serviços à comunidade. Vale relembrar que, mesmo após a tragédia, outros três desabamentos menores ocorreram em diferentes trechos da ciclovia Tim Maia ao longo dos anos.

A Maré sonhou com uma ciclovia que faria a ligação com a Cidade Universitária e Bonsucesso. No final de 2015, as ruas principais da Maré começaram a receber uma pintura chamada de ciclofaixa. Ao todo, foram gastos R$ 5 milhões para 18km de uma via especial para ciclistas. Passados seis anos, a tinta desapareceu do asfalto, ficando algumas placas de sinalização, bicicletários nas passarelas e um pequeno pedaço de ciclovia, que liga o Morro do Timbau a Vila dos Pinheiros, embaixo da Linha Amarela.

**Bianca Ottoni e Sthefani Maia, vinculados ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Projeto na Rocinha empodera mulheres através da cultura do funk

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Por Michel Silva – Fala Roça, em 21/12/2021 às 7h

Todo fim de semana os bailes funks de favelas são tomados por pessoas fazendo passinhos, dançando e se divertindo. No meio da semana, a sala multiuso da Biblioteca Parque da Rocinha experimenta um pré-aquecimento de baile funk. Todas as quartas-feiras, de 20h às 22h, o espaço é ocupado pelo projeto Do Zero Ao Funk, criado pela moradora e estudante de educação física, Maria Eduarda Lima, a Duda Dance.

Maria Eduarda Lima, 20 anos, começou a dar aula em 2019 para estrangeiros que visitavam a Rocinha. O avanço da pandemia de covid-19 fez com que passasse a dar aula apenas para brasileiras. Antes de ganhar o direito de usar a sala na biblioteca pública do morro, o projeto funcionava em uma sala comercial. A primeira aula na nova sala recebeu cerca de 50 mulheres. Uma foi chamando a outra.

Rejeitando o rótulo de que as mulheres só vão lá para rebolar, a criadora do projeto afirma que, na real, o projeto tem a função de empoderamento feminino. Baseado no Fit Dance, dança que reúne vários ritmos, as participantes ganham autoconfiança com o próprio corpo. Outras jovens querem apenas aprender passos e curtir as festas. Há também aquelas que querem melhorar a vida sexual.

“Não é sobre emagrecer. É sobre ter sua vida ativa. Quando você relaciona o funk ao fortalecimento do corpo, você está unindo duas coisas muito fortes. O movimento do funk com funcional, um intenso ritmo de movimentos.”, explica Duda Dance.

O crescimento da iniciativa vem do sucesso dos vídeos que publica nas redes sociais. Embora o público-alvo seja feminino, homens também podem participar. “O funk vai muito além do que apenas dançar em festas. Me aprofundei, estudei e vi que podia ajudar as mulheres. A troca de experiências que a gente tem com as mulheres, é um laço muito forte.”.

O funk é um dos vários instrumentos utilizados por ela. Na infância passou a participar do grupo Acorda Capoeira onde permanece há 9 anos. Foi bailarina e virou passista, sendo levada desde pequena pela mãe à quadra da Acadêmicos da Rocinha, em São Conrado. Em preparação para o carnaval de 2022, a passista também desfilará pela União da Ilha e São Clemente.

Machismo nas redes sociais

O perfil de Duda Dance atrai muitas mulheres interessadas no trabalho da jovem. Muitos homens mal intencionados enxergam o trabalho da dançarina como uma porta de entrada para abordagens indesejadas.

“No começo me abalava muito porque homens me ligavam, fazendo pornografia. Nós mulheres lidamos com isso desde que nascemos. Teve um momento que tranquei as mensagens, não recebi de ninguém e perdi muitos trabalhos porque não recebia as mensagens. Eu precisava de um tempo.”, lembra.

Todos esses aprendizados são repassados no projeto de funk. Ajudar as mulheres a se unirem é um dos principais objetivos entre elas. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Pesquisas DataFolha, intitulada de A Vitimização de Mulheres No Brasil, revela que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual no Brasil em 2020, sendo que a maior parte das agressões aconteceram dentro da casa da própria vítima.

“A gente tem muito problema na cabeça. Nós somos mães, limpamos a casa, a gente trabalha, tem que estudar. Somos muito sozinhas. A maioria das mulheres no morro são mães solteiras, muito novas. Por isso, elas perdem o controle de como se cuidar. Às vezes a pessoa está em uma festa e as meninas estão se ofendendo por bobagem. Eu vou quebrando essa barreira com elas, mostrando que precisamos estar juntas e nos proteger”, conta Maria Eduarda.

Apesar da aula ser apenas 2h por dia na semana, as conversas continuam em um grupo de WhatsApp para fortalecer uma a outra. De 20h às 21h ocorre a aula para crianças. Em seguida, de 21h às 22h é a vez das jovens, adultas e idosas. A inscrição pode ser feita no dia da aula ou pela página do projeto no Instagram.

Maré não registrou nenhuma morte por covid-19 em novembro, aponta boletim

Manguinhos, outra favela analisada pelo projeto, também não apresentou mortes pela covid-19.

Por Redação, em 20/12/2021 às 10h50

Se o século 20 foi de grandes descobertas científicas e inovações tecnológicas, o século 21 tem sido um período de acelerada disseminação destas invenções – ainda que de forma desigual – para os quatro cantos do mundo. E a pandemia do novo coronavírus, em seus quase dois anos de duração, acelerou ainda mais este passo e introduziu, de forma definitiva, tecnologias que poderiam demorar anos ou décadas para serem absorvidas em larga escala.

O exemplo mais gritante é o trabalho remoto. Sem a pandemia, muitas empresas e organizações sequer considerariam essa possibilidade, uma tendência que estudiosos afirmam que veio para ficar. Na área de saúde, esta experiência ganhou ares ainda mais urgentes. Questão de vida ou morte, literalmente. Com a crise sanitária causada pela pandemia, a humanidade assistiu à corrida pela descoberta recorde da vacina contra a covid e à utilização de tecnologia da informação, inteligência artificial e robótica em atendimentos, testagem e tratamento de pacientes.

No Brasil, em que pesem as políticas negacionistas e a falta de recursos, instituições de pesquisa cumpriram seu papel e estiveram à frente de importantes estudos e descobertas durante a pandemia – com destaque para produção de vacinas pela Fiocruz e o Instituto Butantan.

Nesta edição do Boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona, a médica Adriana Mallet, fundadora do SAS Brasil, fala sobre o avanço datelessaúde no País e as tendências pós-pandemia. Ela acaba de receber o prêmio Empreendedor Social em Resposta à covid-19 da Folha de São Paulo na categoria Inovação para a Retomada – entre outros motivos, pelo trabalho da organização na Maré e em Manguinhos, dentro do projeto Conexão Saúde.

O Boletim também traz que nenhuma morte foi registrada em novembro na Maré e em Manguinhos. Segundo Painel Rio COVID-19, o montante acumulado de casos notificados na cidade do Rio de Janeiro até o dia 14/12 é de 500.298 casos e 35.171 óbitos. Desse número, 11.003 casos e 378 óbitos são na Maré. O total de casos confirmados na Maré passou de 895 no mês de outubro para 714 em novembro, representando uma redução de 20.2%, enquanto o total de óbitos notificados passou de 7 para 0 (-100%). Já em Manguinhos, o número de casos caiu de 5 para 2 (-81.5%) e o de óbitos passou de 2 em outubro para 0 em novembro (-100%).

Covid-19: dose de reforço esta semana é destinada para pessoas com 56 anos ou mais

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Por Redação, em 20/12/2021 às 09h35

A vacinação contra a Covid-19 nesta semana, até quinta-feira (23/12), é destinada à dose de reforço para pessoas com 56 anos ou mais que tomaram a segunda dose há três meses ou mais e pessoas com 18 anos ou mais que tomaram a segunda dose há cinco meses ou mais. Pacientes com alto grau de imunossupressão com 12 anos ou mais também podem tomar a dose de reforço. A vacinação é destinada ainda às pessoas com 12 anos ou mais que não foram vacinadas contra a covid-19 até o momento.

As unidades seguem aplicando a segunda dose para pessoas com 12 anos ou mais, respeitando o intervalo de cada fabricante: 12 semanas para AstraZeneca, 28 dias para Coronavac e 21 dias para Pfizer.

Quem vai receber a vacina deve apresentar identificação original com foto, número do CPF e, se possível, a caderneta de vacinação. Para a segunda dose e a dose de reforço, é importante levar também o comprovante de vacinação.

Encontre a unidade mais próxima: prefeitura.rio/ondeseratendido

Para mais informações, acesse: coronavirus.rio/vacina

O Maré de Sabores e a memória da Maré na ceia de Natal

Incentivando a geração de renda de mulheres mareenses, o projeto conta com buffet para festas de final de ano, que pode ser encomendado até 19/12.

Pelos estudantes Bianca Ottoni, Flavio Herculano e Sthefani Maia, vinculados ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 17/12/2021 às 19h

O Maré de Sabores é um projeto da Redes da Maré, com sede na Casa das Mulheres da Maré. Por meio dele, mulheres mareenses  fazem oficinas de gastronomia, auxiliar de cabeleireiro e também recebem palestras sobre gênero. E foi justamente a partir das oficinas que surgiu o buffet, um negócio autossustentável que além de eventos, faz entrega domiciliar para diversos bairros do Rio de Janeiro. O cardápio é recheado com a memória alimentar da Maré – inclusive nesse Natal. O catering (fornecimento de alimentos para eventos) para instituições, universidades e demandas privadas, além de kits corporativos para presentear.

Michele Nogueira Gandra, nascida e criada na Maré, participou da primeira oficina e atua há 11 anos no Maré de Sabores. Hoje é chefe do buffet e da coordenação com Mariana Aleixo. Esta foi a primeira experiência profissional da mareense, que ressalta a importância de aprender e compartilhar vivências com outras mulheres, bem como terem a possibilidade de geração de renda por meio da gastronomia.

“As mulheres sempre cozinharam, mas sempre naquele local de cozinha doméstica. Temos então a intenção de estimular as mulheres a ocuparem esse espaço, mesmo sabendo que a batalha é dura e tem todo um processo”.

Michele Nogueira Gandra , chef Buffet Maré de Sabores

Atualmente, Michele também é instrutora dos módulos avançados de gastronomia. Segundo ela, a troca entre as participantes do projeto é muito importante, principalmente para que as mulheres descubram seu papel de protagonistas. O Maré de Sabores, junto com a Casa das Mulheres, busca justamente pensar nessas estratégias e ações para melhorar a qualidade de vida das mulheres mareenses.

Claude Troisgros, chef francês em visita à Casa das Mulheres, onde fica o Buffet Maré de Sabores. Foto Douglas Lopes

Presença da cultura nordestina

Focado no resgate da cultura alimentar da Maré, que inclui a memória culinária do Nordeste, o  projeto promove hábitos alimentares saudáveis, orgânicos e deixa os ultraprocessados de lado.  Segundo o Censo da Maré, o conjunto de favelas  tem 25,8% dos moradores com raízes nordestinas. Na formação, as mulheres também participam de oficinas sobre Gênero e Cidadania e Empreendedorismo, nas quais refletem sobre o lugar que ocupam na sociedade e também aprendem estratégias profissionais, como abrir seus próprios negócios. Já são cerca de 800 mulheres formadas em gastronomia ao longo da existência do projeto.

Adriana Moreno, chef e instrutora do Maré de Sabores em atividade. Foto: Elisângela Leite

Uma dessas mulheres é Adriana Moreno, baiana que está no Rio há 20 anos e atualmente mora na Vila do Pinheiro. Participando há 5 anos do projeto, hoje ela é cozinheira, chef e instrutora do Maré de Sabores. A baiana já possuía experiência com eventos, mas teve no projeto o primeiro contato com a gastronomia. Segundo ela, a presença da cultura nordestina no cardápio é muito importante, pois possibilita a reprodução dessa culinária e traz um caráter diferenciado para o serviço – pode-se notar pratos como carne de sol (curada na casa), baião de dois, cuscuz, entre outros. “Algumas receitas, inclusive, eu trouxe da Bahia”, diz Adriana.

Michele também destaca a relevância de trazer esse aspecto para o projeto, que está localizado no Parque União, o maior núcleo de pessoas nordestinas na Maré. Ao elaborar o cardápio, o assunto é levado em conta por elas, assim como garantir que o processo seja artesanal. “Quando lançamos o cardápio, ouvimos muito umas as outras. Tem referência delas, vivência delas [participantes do projeto]”.

O Maré de Sabores foi reconhecido em 2021 ao entrar na lista “50 Next” da organização “The World’s 50 Best Restaurants” (“Os 50 Melhores Restaurantes do Mundo”, em tradução livre) junto a Mariana Aleixo, coordenadora do projeto, por transformar a vida de mulheres através da comida e projetar ações para moldar o futuro da gastronomia.

Cardápio de Natal e Réveillon

Elaborado a partir de memória afetiva mareense, o cardápio de final de ano do Maré de Sabores é pautado em cima das vivências das próprias mulheres que trabalham no projeto e tem opções de ceia como pernil, chester, pato e lombo. Há também sugestões para quem busca um presente natalino feito com muito carinho e dedicação, além de contribuir para uma cadeia de sustentabilidade que impacta diretamente na melhoria da qualidade de vida de mulheres da Maré. As encomendas poderão ser feitas até dia 19 de dezembro e são entregues diretamente na sua casa ou evento.

Contatos para encomendas Maré de Sabores:

Fontes:
Entrevista com Mariana Aleixo no Maré de Notícias:
https://mareonline.com.br/cria-da-mare-mariana-aleixo-tempera-gastronomia-com-impacto-social/ 

Sobre o Maré de Sabores: https://www.redesdamare.org.br/br/info/16/mare-de-sabores

The World’s 50 Best Restaurants: https://www.theworlds50best.com/50next/list/2021/empowering-educators/mariana-aleixo

 

O campo de futebol é minha casa

Peladeiros formam verdadeiras famílias dedicadas à prática do esporte mais popular do mundo

Maré de Notícias #131 – dezembro de 2021

Por Hélio Euclides e Jorge Melo

“Já atuei em outros campos, mas agora não quero sair daqui, pois os peladeiros são uma família, tudo gente de responsa. Nós não treinamos como os profissionais, trabalhamos a semana toda e ainda fazemos bonito.” Essa declaração de amor ao futebol é de Paulo César Silva, morador da Nova Holanda, que joga toda manhã de domingo no Campo da Toca, na Vila dos Pinheiros. Esse sentimento de pertencimento e amor pelo espaço de lazer é igual para inúmeros jogadores de favela e faz parte do cotidiano da Maré.

Esse carinho pelos campos de várzea vem, muitas vezes, da construção e restauração dos espaços, pois são os próprios jogadores que tapam buracos, plantam a grama e fazem o que for para manter o espaço. Outros cresceram junto com o campo, participando de escolinhas de projetos sociais. Antônio Carneiro, conhecido como Japão, tem 63 anos e não joga mais; porém, sempre está à beira do campo da Toca. “Tenho amor por esse espaço. Depois dos jogos, ficamos na ‘resenha’, falando dos passes e gols”, diz. Ele defende a preservação desses locais de lazer, pois muitos deixaram de existir, para virarem conjunto de casas. 

Na Maré, três campos chamam atenção pela tradição e longevidade. Além do Campo da Toca, o Vila do João e o da Paty, na Nova Holanda, são considerados templos do futebol da Maré. “O campo é o lugar de alegria, onde encontramos a galera. Esse futebol aos domingos faz bem para a minha saúde. Se não fosse por isso, eu já teria morrido”, conta António Carlos Oliveira, conhecido como Da Barra, de 67 anos. Alguns têm um apelido que identifica seu campo de coração. É o caso de Valdo Gonçalves, conhecido como Macarrão da Toca, de 60 anos. “Destes, 35 primaveras são de futebol naquele campo. Não tem graça ficar em casa, aqui é uma família. No domingo eu tomo café com canela e venho para o campo”, explica. 

Para o historiador Bernardo Duarte, o campo de futebol tem uma importância decisiva para milhares de amantes e praticantes do jogo. “Se o futebol profissional garante o espaço aos atletas dentro dos estádios e dos clubes, aos amadores esse terreno tem de ser conquistado no ambiente público, pois a sanha especulativa quer sempre se apropriar desses espaços”, afirma. Ele acredita que quanto mais lugares de jogo se oferece à favela, mais lazer e bem-estar são garantidos.

Campo Toca, na Vila dos Pinheiros, é um dos locais onde mareenses se reúnem religiosamente para jogar futebol e socializar – Foto: Hélio Euclides

Um coração gramado

Na pelada dos veteranos da Toca, o organizador há 12 anos é Sebastião Rodrigues, conhecido como Boi. “Às vezes fico saturado de ser uma liderança do futebol, mas muita gente depende do meu trabalho. Quando não tem futebol, os mais de cem veteranos ficam de cara triste. Todos dependemos da bola no domingo; sem ela, não somos ninguém. Precisamos cuidar dos campos, como o da Toca, pois nem todas as favelas tem esse ‘Maracanã’ para jogar”, conta. 

Hoje, o Campo da Vila do João virou um estacionamento e Boi acredita que isso aconteceu porque o espaço não foi administrado adequadamente. Mas para ele, a força da história permanece. “Guardo na memória momentos memoráveis, como os 11 campeonatos de veteranos que organizei, com encerramento com festas. O campo da Vila do João faz parte da história da favela; muitas gerações jogaram ali. Nele tive muitas alegrias com o meu time Raiz da Vila”, diz. 

Paulo Gadelha, conhecido como Casão, de 67 anos, relembra uma destas histórias. “Já joguei no Campo da Arquitetura, que era localizado onde hoje é o estacionamento da Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fui um dos fundadores do Campo da Vila do João, no lugar onde é a Escola Municipal Professor Josué de Castro. Sinto prazer em jogar na Maré, onde é o meu lugar”, relembra.

O Campo da Toca tem José Carlos Ferreira, conhecido como Zé Bala, como administrador do espaço. Com 38 anos de futebol no local, ele hoje fica de olho no campo: os jogadores não podem entrar descalços ou com chuteira de trava. “Dessa forma, ajudo a conservar. Se não fosse chato, o campo já tinha acabado. Quando o campo era careca eu pedia para os jovens em alguns momentos darem chance também para as crianças jogarem, pois o direito é de todos”, conta. 

Apesar da preferência dada aos veteranos, o campo também é usado por projetos sociais que usam o futebol para trabalhar com as crianças. Gláucio Aleixo é coordenador do Projeto Rogi Mirim, que atua há 23 anos no Campo da Toca. “O campo é uma arma contra a ociosidade. Na pandemia, interrompemos o projeto por 30 dias. Percebemos que a criança não ia para escola e acabava na rua. Então retornamos com os cuidados necessários”, diz. Cerca de 250 crianças batem bola no campo diariamente — mesmo lugar onde jogaram convidados como Douglas Luiz (volante do clube inglês Aston Villa e da seleção brasileira), Romário (ex-Vasco, atualmente senador), Vágner Love (ex-Flamengo), Wellington Silva (ex-Fluminense), Charles (ex-Cruzeiro e Palmeiras), Felipe (ex-Vasco) e Diego (atualmente no Flamengo). 

Aniversário com a família da bola

O campo localizado no coração da Nova Holanda já se chamou Oriente, 11 da Vila e Ouro Preto, mas foi rebatizado por ocupar o espaço onde foi construída a fábrica de macarrão Paty. Nele nasceram times como o Paz e Amor, Cascavel, Flexa, Cascudo, Cruzeirinho, Caneco e Santa Luzia. O campo também é um celeiro de craques como Dudu, do Boavista, Douglas Luiz e Leo Oliveira, ex-Flamengo. 

Administrador há mais de dez anos do Campo da Paty, Gilvan Salas, conhecido como Giva, de 47 anos, tem no espaço um pedaço importante da sua vida: o lugar foi palco de memoráveis partidas, tanto jogadas na sua infância como na do seu filho, hoje. “O futebol é tudo, ainda faz relembrar dos velhos tempos. O Paty é um ponto de encontro para um bate-papo com os amigos. Tenho orgulho de tomar conta de um patrimônio da nossa comunidade que é tudo para mim”, conta. 

Dá para dizer que Arides Menezes é mais popular do que nota de R$ 2 na Nova Holanda, graças à sua trajetória no Campo da Paty. O local foi escolhido para comemorar seu aniversário e também os 46 anos do seu time, o Cascudo. “Cheguei aqui em 1955 e já tinha o campo. Em meados de 1970, apareceu o dono do terreno que murou o campo. Ficamos mais de cinco anos sem futebol. Depois entramos com enxadas e fizemos a limpeza e tudo voltou ao normal”, diz. Ele lembra que a última grande obra foi a instalação de grama sintética, mas, como não ocorreu manutenção, o material se deteriorou.

Segundo o jornalista, escritor e pesquisador Aydano Motta, essa sensação de pertencimento tem a ver com o lugar de vivência das pessoas. “Um exemplo é o Douglas Luiz, que joga na Inglaterra, mas é cria da Nova Holanda. Sempre que dá entrevista fala do lugar onde mais gosta de jogar, que é a Maré. Isso tem a ver com o lugar que é aceito, onde é querido, as relações são sinceras e o amor é verdadeiro. Este sentimento de pertencimento é muito importante, por isso estes locais precisam ser valorizados”, explica.

Para ele, o ex-jogador Adriano Imperador, do Complexo do Alemão, renunciou ao futebol para ficar mais próximo do povo e do lugar dele: “É prova de que, diferentemente do que pensa a elite, lugares como a Maré, o Complexo do Alemão, a Rocinha, a Baixada Fluminense e São Gonçalo são lugares belos e apaixonantes; basta saber conhecer. Daí vem o reconhecimento de pessoas que podem jogar em campos riquíssimos, como na Europa, apenas por dinheiro, mas onde querem estar é na favela. Isso tem a ver com dignidade, legitimidade, sinceridade e amor encontrado no território.”

Espaços de pertencimento e reunião, amigos do campo se tornam praticamente núcleos familiares – Foto: Hélio Euclides