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Crianças vivem momentos de terror nas escolas da Maré durante tiroteio

Por Redes da Maré, em 04/11/2021 às 19h49

Moradores do conjunto de favelas da Maré relataram nesta quinta-feira (04/11) nas redes sociais intenso tiroteio na região conhecida como “divisa”. A localidade é conhecida por materializar a divisão territorial entre dois grupos armados rivais e que, eventualmente, se confrontam na área há pelo menos duas décadas.

Integrantes dos grupos rivais se enfrentaram nas proximidades do Campus I, complexo formado por 9 escolas municipais de educação infantil. Na ocasião, dois homens foram feridos por disparos de arma de fogo, um deles foi um jovem de 20 anos, que frequentou por anos a Biblioteca Lima Barreto, da Redes da Maré. Ele foi encaminhado ao Hospital Geral de Bonsucesso, porém, não resistiu aos ferimentos e morreu.

O confronto aconteceu no segundo dia após a retomada das aulas presenciais nas escolas municipais, que estavam suspensas desde março de 2020, por conta da pandemia de covid-19. Alunos e professores foram surpreendidos pelo tiroteio e se protegeram deitados no chão. Cenas de horror foram relatadas, inclusive do jovem que foi assassinado às portas de uma das escolas municipais.

Região da "Divisa" é conhecida por materializar a divisão territorial entre dois grupos armados rivais
Divisa entre Nova Holanda e Baixa do Sapateiro é conhecida por confronto entre grupos armados rivais | Foto: Matheus Affonso

O confronto foi encerrado ainda pela manhã, no entanto as aulas foram suspensas e os alunos liberados com a presença dos responsáveis. Outras escolas próximas a essa região também liberaram os alunos mais cedo e a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva teve seu funcionamento suspenso depois das 13h.

Por volta das 18h, moradores voltaram a relatar confrontos na região. Até o fechamento desta matéria, não temos informações de outras vítimas.

Rio ou Londres? Outubro de 2021 foi um dos mais chuvosos da história na cidade

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Por Gracilene Firmino, em 04/11/2021 às 15h15

Editado por Tamyres Matos

Rio de Janeiro costuma ser sinônimo de calor, praias lotadas, roupas leves e calçados abertos. Mas não em outubro de 2021. O mês contou com 26 dias de chuva, ou seja, o morador do Rio não teve uma semana completa de tempo firme. Segundo levantamento do Climatempo, outubro de 2021 foi o outubro mais chuvoso dos últimos 12 anos, excluindo o ano de 2020 quando a estação da Vila Militar apresentou falhas de medição e não pode ser considerada no histórico.

O medidor registrou 132,2 mm de chuva acumulada no mês passado, enquanto em 2009 foram registrados 134,2 mm. O acumulado ficou 53% acima da média histórica de chuvas em outubro. Segundo o Alerta Rio, apenas não houve registro de chuvas nos dias 13, 14, 22, 23 e 30. A média histórica para o mês era de 15 dias com sol.

Segundo dados da estação meteorológica automática da Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro, foram registrados 132,2 mm de chuva em outubro de 2021. O que representa um aumento de 52,8% acima da média de chuva normal para outubro, que é de 86,5mm. Na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) do Alto da Boa Vista, o último mês até registrou um acumulado menor de chuvas em comparação a outubro de 2020. Entretanto, o volume foi 31% maior que a média histórica, choveu 266,5mm em outubro de 2021, mas em outubro de 2020 choveu um pouco mais, no total de 280,4mm. A climatologia para outubro nessa estação é de 203,7 mm de chuva.

Usuários do Twitter compararam a capital carioca com a principal cidade do Reino Unido, célebre pelos dias de chuva
A piada do “Rio que virou Londres” viralizou nas redes sociais

Em outros locais do Rio, a chuva de outubro de 2021 foi a mais elevada dos últimos anos. Pela medição do INMET na estação automática da Marambaia, choveu 135mm em outubro de 2021, sendo o maior volume de chuva para um mês de outubro desde os 148,2mm em 2011. A análise dos dados da estação automática do INMET em Jacarepaguá, outubro de 2021 foi o mais chuvoso em 5 anos. Nesta estação, que fica na zona oeste do Rio de Janeiro, choveu 153,2mm em outubro de 2021. Estação, que começou a registrar os dados em 2017. Os dias chuvosos repercutiram nas redes sociais, principalmente com comentários de cariocas, que defendem que o Rio não é mesmo sem sol.

Ainda sim, não é possível dizer que se retornará a uma situação confortável em relação aos níveis dos reservatórios de abastecimento. Seria necessário vários meses de chuvas regulares e volumosas, caindo nos lugares certos, para reverter completamente o quadro de crise hídrica.

Previsão para os próximos dias

O mês de novembro, porém, pode repetir a dose do mês anterior, pelo menos é o que registram as médias históricas. O resumo da climatologia (estudo do clima) de novembro, disponível no site do Alerta Rio da Prefeitura, mostra que, em média, chove em 19 dos 30 dias do mês. O período é caracterizado por temperaturas mais altas e clima úmido o que favorece o aparecimento de pancadas de chuva no fim do dia. Entre 1997 e 2020, a média do mês foi de apenas 11 dias não chuvosos.

Mas, por enquanto, as notícias são boas para os cariocas que preferem o sol. Segundo previsão do Climatempo, não há possibilidade de chuvas até o próximo fim de semana (dia 7 de novembro). O tempo se mantém firme e o sol aparece entre nuvens. A temperatura não passa dos 29°, na sexta-feira (5) e no sábado (6), e a mínima dos próximos dias fica em 16°, temperatura que deve ser registrada também no sábado.

Registro de um dia chuvoso na Praia de Botafogo | Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Memorial Covid: arte acolhe familiares das vítimas na Maré

Ação faz parte do projeto Azulejaria, coordenado pela artista plástica Laura Taves

Maré de Notícias #130 – novembro de 2021

Por Edu Carvalho e Tamyres Matos 

Remontar a trajetória de um familiar, um parente, amigo ou conhecido por meio de um simples azulejo que, transformado em tela e unido a tantos outros, forma um grande mural de memórias afetivas. Assim é o Memorial Covid, projeto da Redes da Maré que faz da representação através das artes plásticas uma forma de lidar com o luto. No Brasil, são mais de 606 mil vítimas fatais da doença — a Maré chora e não esquece seus 373 moradores mortos desde o início da pandemia. 

“A gente acredita que é preciso lembrar essas pessoas. Para preservar a memória delas, pensamos na construção do memorial. É importante marcar o que aconteceu na Maré neste período de pandemia”, diz Patrícia Ramalho, assistente social do Eixo Direito à Segurança Pública, uma das que coordenam a iniciativa junto à artista responsável pelo projeto Azulejaria, Laura Taves. 

Patricia registra o impacto causado pela disseminação do vírus no território, o que fez com que a população precisasse criar estratégias para não ser infectada, quando nem sequer o mais necessário tinha. “Muitos moradores não tiveram como suprir suas necessidades mais básicas, que dirá os materiais para prevenir a covid-19, como máscaras e álcool em gel, além dos artigos de limpeza. Havia e há locais com falta recorrente de água, primordial para o combate ao coronavírus’’, enfatiza. 

Homenagens aos seres amados transformam azulejos brancos em símbolo de resistência por meio do afeto no Memorial Covid da Maré – Foto: Douglas Lopes

Neste sentido, Patrícia lembra a importância da campanha Maré Diz Não ao Coronavírus, da Redes da Maré,que distribuiu cestas básicas e equipamentos de proteção individual (EPIs) entre os moradores. Foi nesse momento que os encontros com quem perdera familiares e amigos começaram a ficar ainda mais frequentes, revelando a urgência de alguma ação que tocasse no tema. 

“Convidamos os familiares das vítimas que se sentem à vontade a compartilhar memórias de seus entes queridos vitimados pelo vírus”. É na oficina de produção de azulejaria onde eles lembram o que as pessoas mais gostavam, citam letras de música, comidas favoritas, um apelido carinhoso, uma lembrança. “É um momento de acolhimento e afeto”, diz a assistente social. No dia 15 de novembro (feriado da Proclamação da República), um mural com todas as homenagens será exposto na Rua Bitencourt Sampaio, na Nova Holanda. Familiares, parentes e amigos serão recebidos para uma programação especial no Centro de Artes da Maré (CAM).

É assim para Maria Daiane de Araújo Alves, 30 anos, que perdeu a avó Maria das Graças para a doença. “Minha avó sempre foi uma pessoa muito batalhadora, uma mulher muito guerreira, trabalhou para sustentar os filhos. Ela veio do Ceará para ficar mais próxima dos filhos, que já moravam no Rio”, relembra. 

Entre idas e vindas, Graça vivia numa ponte-aérea entre o sertão e o frenesi da Maré. ‘’Ela ficava um pouco lá e um pouco aqui. Quando ela morreu, já fazia um ano que morava aqui’’, conta Maria Daiane. Dona Graça tinha doenças preexistentes, o que agravou seu quadro quando ela foi infectada pelo coronavírus, em maio de 2020. “Foi tudo muito rápido. Ela adoeceu, passou mal, foi pra UPA e, em alguns dias, morreu. Não conseguiu ser atendida imediatamente, aguardou muito tempo. Morreu uma semana antes do Dia das Mães”, conta.

Segundo ela, o espaço do projeto Azulejaria tornou-se o ponto de encontro para sua própria família saudar a vida da matriarca, embora a tristeza seja latente. ‘’Acredito que este é um espaço muito importante onde eu e minha família pudemos relembrar situações e histórias. A gente se sentiu feliz, apesar da dor da perda. Conseguimos reviver memórias importantes da história dela conosco e produzir a partir dos azulejos, da arte, memórias que a trouxeram de volta.’’

Para Maria Daiane, reunir-se e compartilhar lembranças com colegas na oficina tornou-se também uma espécie de ato de resistência para que ninguém esqueça a crise sanitária que ainda não está controlada, apesar do sentimento de melhora percebido a cada dia por conta dos avanços da vacinação. “É importante contar as histórias das vítimas tendo em vista a pandemia porque, devido ao aumento exponencial e progressivo das vítimas, acabou parecendo habitual todo dia alguém morrer, o que não deveria acontecer. Cada vida conta uma história. No momento da perda de uma vida, uma família sofre e chora, perde um ser amado. É importante que prevaleça que se trata de um indivíduo, são pessoas que fazem parte da vida de outras e que têm um valor imenso”, afirma.

Espaço da Azulejaria se tornou ponto de encontro para familiares saudarem a memória de entes queridos – Foto: Douglas Lopes

Dia da Favela será marcado por exposição de grafite no MAR

Grafiteiros do Rio e de São Paulo participaram de um concurso cultural feito pela Microsoft e a Central Única das Favelas, a CUFA

Por Redação, em 04/11/2021 às 07h

O Museu de Arte do Rio abre suas portas para receber a exposição de grafite “Sua arte aproxima”, uma parceria de um concurso cultural promovido pela Central Única das Favelas (CUFA) e a Microsoft. O lançamento da mostra será no dia da favela, celebrado no dia 4 de novembro. Os grafiteiros do Rio de Janeiro e de São Paulo, indicados pela CUFA, todos moradores de favela, produziram uma arte inspirada na rosa azul, símbolo oficial do Windows 11 e novo fundo de tela do sistema operacional recém-lançado. O público poderá conferir as dez artes que participaram do concurso, além de obras inéditas. Um muro do MAR será grafitado e ficará exposto especialmente para o Dia da Favela. A mostra vai ficar no museu até o dia 5 de dezembro.

“A gente não deve comemorar a existência das favelas, mas deve sim celebrar as mais diversas manifestações culturais, artísticas, sociais, de honestidade, de solidariedade, que existem e são marca das pessoas que vivem nesse lugar. Isso sim precisa ser celebrado e festejado. A ideia é comemorar a resiliência, a força, a autenticidade, e a agenda positiva tão presente nesses territórios”, explicou Nega Gizza, rapper, produtora de eventos em favelas e fundadora da CUFA (Central Única das Favelas).

Todas as artes foram publicadas no instagram da @cufabrasil, e a que teve mais curtidas foi a vencedora. O artista vencedor, Jeff Seon, morador do Complexo do Alemão, ganhou um computador e escolheu o Ciep Deputado José Carlos Brandão Monteiro, em Olaria, para a Microsoft doar 30 computadores Dell Desktops, recomendados para educação, garantindo inovação para a instituição do seu território.

Comemorado em todo o Brasil, a data foi escolhida porque no dia 4 de novembro de 1900, no Rio de Janeiro, foi a primeira vez que a expressão favela apareceu pela primeira vez em um documento oficial. No Rio de Janeiro, o Dia da Favela é lei desde 2006, quando foi proposta pelo então vereador Edson Santos. E, em 2019, se tornou lei também no estado do Rio, por conta da então deputada Martha Rocha.

Serviço:

Sua Arte Aproxima

De 4 de novembro a 5 de dezembro

Museu de Arte do Rio – MAR

Praça Mauá, 5 – Centro

Funcionamento: quinta a domingo, das 11h às 18h (entrada até as 17h15)

Inteira: R$ 20 | Meia: R$ 10

O Museu de Arte do Rio

Iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) desde janeiro deste ano, apoiando as programações expositivas e educativas do MAR a partir de um conjunto amplo de atividades para os próximos anos. “A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais, desde sua fundação em 1949. 

O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um instrumento de fortalecimento do acesso à cultura, intimamente relacionado com o território, além de contribuir para a formação nas artes, tendo no Rio de Janeiro, por meio da sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Raphael Callou, diretor e chefe da representação da OEI no Brasil.

Após o início das atividades em 2021, a OEI e o Instituto Odeon celebraram parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, onde o Odeon passa a auxiliar na correalização da programação.

O Museu de Arte do Rio tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor como patrocinadora master e a Bradesco Seguros como patrocinadora, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A Escola do Olhar conta com o apoio do Itaú, da Machado Meyer Advogados e da Icatu Seguros via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, é também patrocinada pelo Grupo GPS, RIOgaleão, ICTSI Rio Brasil, ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e HIG Capital. O Instituto Olga Kos patrocina os recursos de acessibilidade do MAR.

O MAR conta ainda com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e realização da Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e do Governo Federal do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 Mais informações em www.museudeartedorio.org.br

Prefeitura lança Novembro Negro e, pela primeira vez, Rio terá programação especial o mês todo

Por Redação, em 03/11/2021 às 11h25.

A Coordenadoria Executiva de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR), órgão da Secretaria Municipal de Governo e Integridade Pública, lança nesta quarta-feira (03/11) a programação do Novembro Negro 2021. Essa é a primeira vez que a cidade promove um mês inteiro de ações voltadas ao tema.

O Novembro Negro ocorre por meio de parceria com as Secretarias Municipais de Cultura, Conservação, Educação e Saúde, Secretarias Especiais de Juventude Carioca e de Políticas e Promoção da Mulher, e Coordenadorias Executiva de Diversidade Religiosa, Fundação Planetário e Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro (Comdedine).

Às 18h haverá missa afro realizada na Igreja do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Localizado na Rua Uruguaiana 77, centro do Rio, o templo existe desde 1725 e foi reaberto ao público em agosto deste ano, após quase três anos fechado para reformas.

Ao longo do mês estão previstas ações culturais, como homenagens a personalidades negras nas estações de BRT e VLT, e o lançamento de iniciativas como o edital Territórios Antirracistas para a Promoção da Igualdade Racial, que irá fomentar práticas, projetos e atividades relacionados à cultura negra, por meio da CEPIR. A programação completa está em https://novembronegro.prefeitura.rio/.

35 mil crianças e adolescentes morreram de forma violenta no Brasil

Além disso, nos últimos 4 anos, 180 mil meninas e meninos sofreram violência sexual no País. Dados são de levantamento inédito do UNICEF e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública


Da Redação em 01/11/2021 às 16h28

Entre 2016 e 2020, 35 mil crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram mortos de forma violenta no Brasil – uma média de 7 mil por ano. Além disso, de 2017 a 2020, 180 mil sofreram violência sexual – uma média de 45 mil por ano. É o que revela o Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, uma análise inédita dos boletins de ocorrência das 27 unidades da Federação.

A violência se dá de forma diferente de acordo com a idade da vítima. Crianças morrem, com frequência, em decorrência da violência doméstica, perpetrada por um agressor conhecido. O mesmo vale para a violência sexual contra elas, cometida dentro de casa, por pessoas próximas. Já os adolescentes morrem, majoritariamente, fora de casa, vítimas da violência armada urbana e do racismo.

A maioria das vítimas de mortes violentas é adolescente. Das 35 mil mortes violentas de pessoas até 19 anos identificadas entre 2016 e 2020, mais de 31 mil tinham entre 15 e 19 anos. A violência letal, nos estados com dados disponíveis para a série histórica, teve um pico entre 2016 e 2017, e vem caindo, voltando aos patamares dos anos anteriores. Ao mesmo tempo, o número de crianças de até 4 anos vítimas de violência letal aumenta, o que traz um sinal de alerta.

“A violência contra a criança acontece, principalmente, em casa. A violência contra adolescentes acontece na rua, com foco em meninos negros. Embora sejam fenômenos complementares e simultâneos, é crucial entendê-los também em suas diferenças, para desenhar políticas públicas efetivas de prevenção e resposta às violências”, afirma Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.

“A violência contra crianças e adolescentes é um problema grave, que precisa ser cada vez mais discutido por nossa sociedade. São vítimas dentro de suas próprias casas enquanto são pequenas e sofrem com a violência nas ruas quando chegam à pré-adolescência. O Poder Público precisa encarar a questão com seriedade e evitar que mais vidas sejam perdidas a cada ano”, diz Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os dados desse Panorama foram obtidos pelo FBSP, por meio da Lei de Acesso à Informação. Foram solicitados a cada estado brasileiro os dados de boletins de ocorrência dos últimos cinco anos, referentes a mortes violentas intencionais (homicídio doloso; feminicídio; latrocínio; lesão corporal seguida de morte; e mortes decorrentes de intervenção policial) e violência sexual (estupros e estupros de vulneráveis) contra crianças e adolescentes. Essas informações não são sistematicamente reunidas e padronizadas, tratando-se, portanto, de uma análise inédita e essencial para a prevenção e a resposta à violência contra meninas e meninos.

Violência contra a criança, um crime dentro de casa

Embora o maior número de vítimas de mortes violentas esteja na adolescência, é importante olhar também para as mortes violentas de crianças. Entre 2016 e 2020, foram identificadas pelo menos 1.070 mortes violentas de crianças de até 9 anos de idade. Em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, foram 213 crianças dessa faixa etária mortas de forma violenta.

Houve um aumento na faixa etária de até 4 anos, o que preocupa por serem mortes violentas na primeira infância. Nos 18 estados para os quais se dispõem de dados completos para a série histórica, as mortes violentas de crianças de até 4 anos aumentaram 27% de 2016 a 2020 – passando de 112, em 2016, para 142, em 2020.

No total de crianças de até 9 anos mortas de forma violenta, 56% eram negras; 33% das vítimas eram meninas; 40% morreram dentro de casa; 46% das mortes ocorreram pelo uso de arma de fogo; e 28% pelo uso de armas brancas ou por “agressão física”. Esse perfil muda bastante nas faixas etárias seguintes.

Violência armada urbana, um crime contra o adolescente negro

Em todas as idades, as principais vítimas de mortes violentas são os meninos negros. Esse perfil, no entanto, se intensifica ainda mais na adolescência. Para os meninos, a faixa etária dos 10 aos 14 anos marca a transição da violência doméstica para a prevalência da violência urbana. Nessa idade, começam a predominar mortes fora de casa, por arma de fogo e com autor desconhecido.

Quando os adolescentes chegam à faixa etária de 15 a 19 anos, essa transição no perfil da violência letal está consolidada. As mortes violentas têm alvo específico: mais de 90% das vítimas são meninos, e 80% são negros.

O número de mortes violentas de adolescentes de 15 a 19 anos caiu de 6.505 em 2016 para 4.481 em 2020, nos 18 estados em que há dados completos de série histórica.

Mortes por intervenção policial

Esses meninos, pretos e pardos, morrem fora de casa, por armas de fogo e, em uma proporção significativa, são vítimas de intervenção policial.

Em 2020, nos 24 estados em que há dados (exceções são BA, DF e GO), um total de 787 mortes de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos foram identificadas como mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP). Esse número representa 15% do total das mortes violentas intencionais nessa faixa etária, e indica uma média de mais de duas mortes por dia no País.

Violência sexual, um crime com autor conhecido

A violência sexual é um crime que acontece prioritariamente na infância e no início da adolescência. Devido a problemas com os dados de 2016, a análise dos registros de violência sexual refere-se ao período entre 2017 e 2020. Nesses quatro anos, foram registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos – uma média de quase 45 mil casos por ano. Crianças de até 10 anos representam 62 mil das vítimas nesses quatro anos – ou seja, um terço do total.

A grande maioria das vítimas de violência sexual é menina – quase 80%. Para elas, um número muito alto de casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos de idade, sendo 13 anos a idade mais frequente. Para os meninos, o crime se concentra na infância, especialmente entre 3 e 9 anos de idade. A maioria dos casos de violência sexual contra meninas e meninos ocorre na residência da vítima e, para os casos em que há informações sobre a autoria dos crimes, 86% dos autores eram conhecidos.

Em 2020 – ano marcado pela pandemia de covid-19 -, houve uma queda no número de registros de violência sexual. Foram 40 mil registros na faixa etária de até 17 anos em 2017 e 37,9 mil em 2020. No entanto, analisando mês a mês, observamos que, em relação aos padrões históricos, a queda se deve basicamente ao baixo número de registros entre março e maio de 2020 – justamente o período em que as medidas de isolamento social estavam mais fortes no Brasil. Essa queda provavelmente representa um aumento da subnotificação, não de fato uma redução nas ocorrências.

A urgência de políticas capazes de prevenir e responder à violência

Diante desse cenário, há medidas fundamentais que precisam ser priorizadas no País, com foco em prevenir atos de violência letal e sexual contra crianças e adolescentes, e em dar respostas a esses crimes. Essas respostas pressupõem um olhar específico para as diferentes etapas de vida e para as diferentes formas de violência mais prevalentes em cada momento da infância e na adolescência.

Entre as principais recomendações, destacam-se:

• Não justificar nem banalizar a violência

• Cada vida importa, e cada criança, cada adolescente deve ser protegido de todas as formas violências. Não se pode normalizar as mortes e a violência sexual, é preciso enfrentar esses crimes.

• Toda pessoa que testemunhar, souber ou suspeitar de violências contra crianças e adolescentes deve denunciar. Proteger é responsabilidade de todos.

• Capacitar os profissionais que trabalham com crianças e adolescentes

• Eles são fundamentais para prevenir, identificar e responder às violências contra a infância e a adolescência. Ampliar a implementação da Lei 13.431, voltada à escuta protegida de crianças e adolescentes vítimas e testemunhas de violência.

• Trabalhar com as polícias para prevenir a violência

• Investir em protocolos, treinamentos e práticas voltadas à proteção de meninas e meninos.

• Garantir a permanência de crianças e adolescentes na escola

• Entendendo a escola e os profissionais da educação como atores centrais na prevenção e resposta à violência.

• Ampliar o conhecimento de meninas e meninos sobre seus direitos e os riscos da violência

• Para prevenir e responder à violência, é importante garantir que crianças e adolescentes tenham acesso a informação, conheçam seus direitos, saibam identificar diferentes formas de violência e pedir ajuda.

• Responsabilizar os autores das violências

• Garantir prioridade nas investigações sobre violências contra crianças e adolescentes.

• Investir no monitoramento e na geração de evidências

• Levantamentos como este Panorama são essenciais para entender o cenário das violências e tomar medidas para enfrentá-lo.

Cada uma dessas recomendações é essencial para mudar o cenário atual e proteger crianças e adolescentes da violência. A cada vida perdida, a infância e a adolescência inteiras são atingidas.

Sobre o Estudo

O Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil foi desenvolvido com base nos registros de ocorrências de violência letal e violência sexual contra crianças e adolescentes de até 19 anos de idade. Esses registros – os boletins de ocorrência das polícias estaduais – habitualmente são reunidos no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). No entanto, até recentemente, os casos envolvendo crianças e adolescentes não eram analisados de modo a destacar as especificidades desses segmentos.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, o FBSP solicitou a cada um dos estados brasileiros os dados referentes a mortes violentas intencionais, estupros e estupros de vulneráveis, com o objetivo de obter os microdados dos boletins de ocorrência registrados nos últimos cinco anos. Essas informações não são sistematicamente reunidas e padronizadas, tratando-se, portanto, de uma análise inédita.

A qualidade dos dados obtidos de cada unidade da Federação para cada ano varia significativamente. Para alguns estados, faltam dados referentes a alguns crimes em alguns anos; para outros, não conseguimos obter alguns dados cruciais, como a idade de cada vítima individualmente. Além disso, a idade das vítimas não foi adequadamente preenchida e reportada, e, em alguns casos, os estados disponibilizaram apenas dados agregados por faixa etária para cada vítima. Varia também a consistência na disponibilidade de informações como a cor/raça das vítimas, ou o número de mortes decorrentes de intervenção policial em cada estado. As falhas da informação podem ser fruto de problemas no preenchimento do boletim de ocorrência, na informatização dos dados, na organização da base de dados daquele estado, ou mesmo na extração da informação e no reporte ao FBSP.

Além dos boletins de ocorrência, usados como base neste Panorama, há outras formas de monitorar dados de violência, como as informações do Datasus, do Ministério da Saúde. São dados diferentes e complementares, que contribuem para entender o cenário da violência no País.