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Cervejeiro do Alemão ganha homenagem

Marcelo Ramos, vítima da covid-19, era dono um bistrô da favela Nova Brasília, um das favelas do Complexo

Por Daniele Moura em 28/10/2021 às 17h48

O empreendedor Marcelo Ramos, do Complexo do Alemão, morto em junho deste ano por complicações relacionadas à covid-19 recebeu como homenagem o nome de uma rua na favela de Nova Brasília. A placa foi instalada dando o nome de Travessa Marcelo Ramos Andrade à via onde fica o Bistrô R&R de cervejas especiais que ele abriu em 2012, junto com a mulher Gabriela Romualdo.

A iniciativa é o reconhecimento oficial a uma pessoa que deixou seu nome na história carioca. “Marcelo foi inovador ao apostar em um bistrô de cerveja artesanal dentro de uma comunidade. Seu sucesso é inspiração dentro e fora da Nova Brasília. É com muito orgulho que, a pedido do Prefeito Eduardo Paes e de Rene Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades, prestamos essa homenagem”, disse a secretária de Conservação, Anna Laura Valente Secco.

A mudança de nome da travessa atendeu ao Decreto Rio nº 49.077, de 5 de julho de 2021.

Os rótulos especiais vendidos no Bistrô R&R são famosos no território. Marcelo criou uma marca própria de cerveja, uma Lager Premium chamada Complexo do Alemão. A bebida é considerada a primeira cerveja artesanal feita em favelas no Brasil. Vale a pena ir a favela prová-la.

A viúva de Marcelo, Gabriela Romualdo; Renê Silva, do Voz das Comunicades, e a secretária de Conservação da cidade na entrega da placa no Alemão.

Respira, Maré: localização entre vias expressas representa alerta para saúde respiratória

Informações levantadas pela Campanha Climão apontam que percentual de mortes que podem estar associadas à poluição atmosférica é, proporcionalmente, maior na Maré do que no contexto mundial

Por Tamyres Matos*, em 28/10/2021 às 13h30

A Carta de Saneamento da Maré publicada pelo laboratório de dados data_labe – em parceria com a Redes da Maré e a Casa Fluminense – em setembro deste ano reforça o alerta: “a saúde respiratória dos moradores da Maré precisa de atenção”. De acordo com informações levantadas pela Campanha Climão** publicadas no início de 2021, o percentual de mortes que podem ter relação com a poluição atmosférica é mais elevado no conjunto de favelas do que quando se pensa no contexto mundial. No mundo inteiro, são 184 óbitos a cada 100 mil pessoas. Já na Maré, são 266 mortes a cada 100 mil habitantes.

“É um fato que a localização e as condições habitacionais da região da Maré, um corredor onde circulam muitos carros movidos a combustíveis fósseis, afetam a saúde respiratória das pessoas. Esses poluentes microscópicos alcançam a população destas comunidades e isso resulta em alterações, especialmente para aqueles que já são portadores de problemas de natureza respiratória, como asma, bronquite e outras alergias crônicas. Eles já têm alteração do sistema respiratório porque depuram menos os poluentes que chegam.”

Alexandre Pinto Cardoso, ex-diretor Geral Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Hospital do Fundão) e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde em 2016 apontou que as doenças respiratórias crônicas (DRC) representavam à época cerca de 7% da mortalidade global, o que corresponde a 4,2 milhões de óbitos anuais. No Brasil, em 2011, estas doenças foram a terceira causa de morte no conjunto de doenças crônicas não transmissíveis. Tais enfermidades podem resultar em limitações físicas, emocionais e intelectuais.

Moradora da Nova Holanda desde que nasceu, Gabriella Silvestre Pereira, de 30 anos, lida há algum tempo com a alergia dos filhos Luiz Felipe e Enzo Gabriel. Ela explica que os dois apresentam quadro de resfriados constantes e congestão nasal desde muito pequenos, inclusive precisando de internação. A auxiliar de almoxarifado conta que descobriu o problema quando tinha plano de saúde, mas a continuidade do tratamento ocorreu pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Gabriella Silvestre Pereira, moradora da Nova Holanda, Maré posa com os filhos. Foto Matheus Affonso

“Cada um faz o tratamento em um hospital diferente, ambos foram encaminhados pela Clínica da Família. Um deles é tratado no Hospital do Fundão e o outro no Hospital dos Servidores, onde eu pego a vacina deles. Aqui na Maré é comum gente com esses problemas de saúde, é normal ter muita poeira dentro de casa. Tem minha sogra, meus cunhados, a avó do meu marido… não sei se é alguma predisposição genética, mas a maioria dos familiares do meu marido e meu marido também tem alergia.”  

Gabriella Silvestre Pereira, moradora da Nova Holanda, Maré

No olho do furacão 

Mas por que a situação é diferente na Maré em comparação, por exemplo, com o bairro do Jardim Botânico? As desigualdades passam por diversos fatores, como a condição das casas e a arborização da região, mas o fato de a Maré ser cortada pela Avenida Brasil, pela Linha Vermelha e pela Linha Amarela é marcante para as consequências. O contato com as fontes de emissão de poluentes é diverso, desde os gases emitidos pelos automóveis – como citado pelo professor da faculdade de Medicina da UFRJ Alexandre Cardoso, até a quantidade de fábricas, indústrias e a queima de lixo.

“A concentração de poluição do ar naquela região aumenta muito quando o vento sopra pra terra e fica marcado o acúmulo de poeira nos parapeitos das janelas das casas. Essas partículas ficam depositadas na janela porque são muito grandes, mas as microscópicas penetram nas vias respiratórias das pessoas e podem criar problemas”, detalha Alexandre. 

De acordo com a publicação da Campanha Climão no site da Redes da Maré, o ar que respiramos contém grande quantidade de gases e pequenas partículas líquidas e sólidas que impactam fortemente o meio ambiente e causam riscos à saúde. Durante o percurso, os veículos automotores liberam dióxido de enxofre (SO2), um composto químico altamente tóxico e cuja inalação pode causar forte irritação.

Essa poluição atmosférica atinge os pulmões e pode causar mortes precocemente. Uma das parcelas da população mais afetadas pelo problema é composta pelos pequenos mareenses. Segundo dados da Redes Maré, em 2018, houve 30 óbitos de crianças de até 5 anos por doenças respiratórias. O excesso de calor e a dificuldade da circulação do ar têm relação direta com os avanços do aquecimento global e representam uma situação de difícil controle por parte dos moradores da Maré.

“O reflexo do descaso comum nesse país é quando não se pensa na qualidade de vida das pessoas que residem ao redor de grandes estradas, quando não há algum tipo de planejamento por parte dos representantes do poder público. Ao se construir vias como essas, é primordial medir as consequências para esse entorno. Em outros países, é comum que se plantem árvores, por exemplo, para segurar esses efluentes, para que eles não cheguem às comunidades.”

Alexandre Cardoso, professor da faculdade de Medicina da UFRJ

De acordo com o especialista, apesar do difícil controle, há alguns caminhos que podem ser pensados para minimizar as consequências da poluição atmosférica: para moradores de casas com ar condicionado, trocar o filtro com uma frequência maior do que a recomendada; se for possível, vedar o cômodo para que as partículas não penetrem nas casas com as janelas fechadas; o uso de máscaras – característica importante dos cuidados com a pandemia de covid-19 – também pode ajudar a reduzir os efeitos da poluição.

A médio e longo prazo, Alexandre ressalta a importância de se diminuir circulação dos carros, investir em energias mais limpas, além da compensação em forma de políticas públicas para os problemas que não podem ser revertidos rapidamente.

Conscientização ambiental é o caminho

Na Maré, além do Parque Ecológico da Vila dos Pinheiros e a Vila Olímpica, poucos locais têm árvores. Andando pelas ruas, é possível perceber algumas iniciativas de moradores que buscam pelo menos cultivar plantas ou criar os seus próprios canteiros como alternativas. A arborização é essencial para melhorias na qualidade de vida, pois representa mais equilíbrio no meio ambiente e uma melhor qualificação na condição do ar.

Por exemplo, quem desce do ônibus na entrada da Vila do João, na Linha Amarela, logo percebe uma muda de Pau-Ferro. A proposta é da Escola Municipal Professor Josué de Castro, que havia começado a deixar as áreas internas do colégio mais verdes e agora parte para o entorno. Outros pontos que receberam esse tipo de ação foram a ciclovia próximo ao Conjunto Pinheiro e ao ponto de ônibus da Avenida Brasil, na Vila do João. 

As mudas começaram a ser plantadas fora da escola no dia 22 de abril, em comemoração ao Dia Internacional do Planeta Terra, após doação do coletivo Olaria Verde e dos pais. “É uma prática da escola que estamos levando para a comunidade. Um exemplo é nosso cantinho de pingue-pongue que terá coqueiro no entorno. Além de plantar, os alunos estão produzindo placas com mensagens de conscientização para o cuidado da natureza”, conta Christiane Lagarto Fontoura, diretora da Escola Municipal Professor Josué de Castro. De acordo com os idealizadores do projeto, o próximo passo será o plantio de mudas próximo ao valão entre a Vila do João e o Conjunto Esperança.

O Parque Ecológico é  uma grande área florestal onde se conservam diversas espécies de plantas e, como consequência, tem-se um ar mais fresco naquela região mareense. Mas, apesar da sua importância, o lugar tem sido degradado e conta apenas com a preservação vinda de moradores e garis comunitários. Como resultado das pesquisas ambientais da Campanha Climão, conclui-se que é importante mobilizar as entidades locais e a vizinhança para pensar a revitalização do espaço e multiplicar o local com mais verde.

*Contribuiu para a pesquisa desta reportagem a estudante Sthefani Maia, vinculada ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

**A Campanha Climão é uma das frentes do projeto Maré Verde, da Redes da Maré. A iniciativa selecionou colaboradores do conjunto de favelas pela Chamada Pública A Maré que Queremos e realiza pesquisas sobre o impacto das mudanças climáticas na Maré

Capital do Rio libera uso de máscaras em locais abertos; governo precisa validar decisão

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Por Edu Carvalho, em 27/10/2021 às 12h44

O prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes divulgou na noite de ontem (terça-feira), de que o uso de máscaras em locais abertos deixa de ser obrigatório na capital. A decisão foi tomada com amparo do Comitê Científico do Rio.

O município encontra-se neste momento com 65% da população vacinada, o que implementaria a esta fase de flexibilização das medidas restritivas na cidade.

”Mais que um número, essa marca representa a vitória dos do bom senso, da razão, da ciência sobre a mentira e o negacionismo. E os fatos comprovam isto: temos hoje os menores registros de casos, internações e mortes por Covid-19”, disse o prefeito em um post nas redes sociais.

Também ontem, deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), aprovaram o projeto de lei (PL) que para que o governo do Rio e prefeituras do estado possam flexibilizar o uso das máscaras. Agora, a proposta sob os cuidados do governador Cláudio Castro, que pode acatar ou vetar o PL.

Carta de Saneamento da Maré: saiba mais sobre diagnóstico e metas estabelecidas

Documento propõe soluções para melhorar a qualidade de vida dos moradores do conjunto de favelas

Por Hélio Euclides, em 26/10/2021 às 15h52

Elaborada por moradores e especialistas, a Carta de Saneamento da Maré, além de trazer um diagnóstico atual dos serviços oferecidos, tem como objetivo fortalecer as lutas e avançar na busca por serviços que ainda não foram efetivamente garantidos. O documento é dividido em quatro eixos: esgotamento e Baía de Guanabara; abastecimento e manejo de água pluvial; resíduos sólidos; e saúde e bem-estar. A carta traz demandas sistematizadas para cada um dos segmentos, sendo uma forma de contribuições da Maré para o desenvolvimento de políticas socioambientais e parte integrante da Agenda Rio 2030. 

A Cartaa é fruto de quatro encontros realizados a partir da parceria da Casa Fluminense, do Projeto Maré Verde da Redes da Maré e do Projeto Cocôzap do data_labe. “Os encontros foram muito importantes porque reuniram moradores da Maré e pessoas com conhecimento técnico sobre a problemática voltada para saneamento”, conta Lorena Froz, articuladora do Eixo Desenvolvimento Territorial da Redes da Maré e do Projeto Maré Verde.

Os eventos foram marcados pela discussão das demandas e soluções para a mobilização. “Esses encontros também tiveram o intuito de, junto com o território, ocorrerem articulações com órgãos públicos e o mapeamento das demandas, que foram registrados para só assim cobrar o que não acontecia. De lá para cá, ocorreu a atualização da carta e comparativo do que conseguimos incidir e o que precisamos trabalhar mais”, diz. 

Lorena já pensa nos próximos passos. “O que queremos é que esses encontros culminem num fórum de saneamento básico para trazer pautas, discutir assuntos e leis, como os de pontos de reciclagem e do tronco coletor de esgoto que precisam ser avaliados para o território. O fórum seria esse local de entendimento. Os encontros são rápidos; para um aprofundamento detalhado é preciso pesquisa e grupos de estudos, algo que será possível num fórum”, conclui. 

Qualidade de vida na Maré

Os quatro encontros tiveram como tema principal as melhorias necessárias para a qualidade de vida dos moradores das 16 favelas da Maré. Tudo começou em abril de 2019, quando a Lona Cultural Municipal Herbert Vianna recebeu moradores e especialistas no assunto para tratar da questão do saneamento local. 

Em dezembro do mesmo ano, ainda ocorreu a segunda etapa, na Redes da Maré, da Vila dos Pinheiros. O encontro teve como objetivo construir uma agenda contínua sobre o saneamento, tendo como ponto de partida a geração de índices e as especificidades territoriais para o planejamento urbano. Nessa edição, a discussão foi ampliada, com a abordagem de temas como violação de direitos básicos, racismo ambiental e gestão das políticas públicas. No encerramento, foi elaborado um planejamento de propostas para 2020. 

A terceira reunião ocorreu em outubro do ano passado, de forma remota por causa da pandemia. O encontro trouxe o desafio imposto pela emergência sanitária, que dificultava ainda mais os serviços de saneamento básico na Maré, prejudicando a qualidade de vida por ineficiência no acesso à água potável, ao esgotamento sanitário e à coleta de lixo. Um documento foi construído a partir da atualização da carta de saneamento do ano anterior, com propostas de soluções coletivas para os problemas sociais e ambientais do território.

A edição mais recente ocorreu em maio deste ano, ainda de forma online, e reuniu moradores, especialistas e representantes da coleta de resíduos sólidos. A discussão envolveu a geração de lixo e a falta de coletiva seletiva no território, bem como o impacto dos serviços prestados pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) na vida dos moradores das 16 favelas da Maré. Este quarto Encontro de Saneamento da Maré serviu de continuação e conclusão das outras edições.

Carta de Saneamento da Maré 2020 (resumo)

A Carta de Saneamento da Maré 2020 é parte da agenda global da Casa Fluminense com o objetivo de alcançar as mãos das candidatas e candidatos à prefeitura das cidades do Rio nas eleições municipais de 2020. Ela foi elaborada a partir da atualização da carta de saneamento do ano anterior, num trabalho conjunto entre moradores e ativistas ambientais da Maré e especialistas dentro do I Encontro de Saneamento da Maré. O documento será disponibilizado nos sites e plataformas do data_labe, da Casa Fluminense e da Redes de Desenvolvimento da Maré.

A intenção da Carta é fortalecer essa tradição de lutas e avançar coletivamente na busca por serviços que ainda não foram efetivamente garantidos. Este documento é segmentado nos eixos: esgotamento e Baía de Guanabara; abastecimento e manejo de água pluvial; resíduos sólidos; saúde e bem estar, e traz demandas sistematizadas para cada um desses segmentos. 

Esgoto e Baía de Guanabara

  • Garantia de recursos públicos e monitoramento de obras e ações inacabadas, como a construção do tronco coletor para a Estação de Tratamento Alegria.
  • Estratégias de mobilização comunitária envolvendo movimentos juvenis, ativistas locais, ONGs, postos de saúde, escolas e moradores em geral.
  • Promoção de ações do poder público no entorno dos valões para despoluição e criação de áreas verdes como ilhas flutuantes, que auxiliam no tratamento de esgoto a partir de plantas e suas raízes.

Abastecimento de água e manejo de água pluvial

  • Alternativas sustentáveis podem auxiliar na drenagem urbana, evitando enchentes.
  • A Maré tem um sistema público de encanamento da década de 1960 que não supre a demanda atual. É necessária a implantação de um sistema que contemple as atuais demandas.
  • Disponibilização dos mapas de abastecimento de água e de rede de esgoto por parte da Cedae e da Prefeitura. 

Resíduos sólidos

  • A Maré é maior do que 95% dos municípios do país e sua população cresce exponencialmente. Os serviços da Comlurb não têm investimento diretamente proporcional à demanda populacional. É preciso aumentar e melhorar o serviço de coleta de lixo por meio de equipamentos, número de garis e frequência.
  • Os locais com maior número de violações de direitos em relação à segurança pública são os que sofrem mais com os problemas do lixo. Experiências históricas demonstram que o cuidado maior com essas áreas impactam na diminuição da violência; por isso, é importante trabalhar para a transformação desses espaços com ações do poder público.
  • O lixo orgânico acumulado nas vias públicas também são um grande problema para a população. Em torno de 55% das demandas da Central de Atendimento ao Cidadão na Maré são relacionadas à proliferação de roedores. 
  • É necessário fazer um diagnóstico da estrutura dos serviços de coleta de lixo e compartilhar essas informações com a população.
  • É urgente a necessidade de promoção de atividades em educação ambiental. 

Saúde e bem estar

  • A saúde respiratória dos moradores da Maré precisa de atenção, isso porque a localização do bairro entre as três principais vias da cidade compromete cronicamente o sistema respiratório dos habitantes.
  • A chegada da covid-19 evidenciou ainda mais a necessidade de se ter mais pias para higiene das mãos do território.

Os pontos levantados nessa carta propõem um entendimento mais amplo da situação do saneamento básico na Maré, com possíveis soluções para diferentes problemas que permanecem no território, apesar de tantas promessas políticas ao longo dos anos. A garantia de acesso a serviços de saneamento, incentivo e articulação entre moradores e poder público, assim como impulsionamento das iniciativas já existentes, são fundamentais para o desenvolvimento socioambiental pleno. Não podemos deixar de reivindicar que políticos, instituições e funcionários da máquina pública trabalhem de forma transparente e deem voz aos moradores das periferias e, principalmente, que trabalhem comprometidos com a redução das desigualdades sociais, tão presentes e naturalizadas na sociedade brasileira.

A carta elaborada coletivamente durante o período pandêmico

Um golpe de Estado no Sudão

Por Alexandre dos Santos em 26/10/2021 às 14h45

O Sudão parece um país muito distante, mas entender o que acontece por lá é importante para compreendermos como a democracia é um bem valiosa. O povo sudanês se insurgiu contra um ditador que ficou no poder por quase 30 anos. Pressionaram os militares a tirá-lo do poder, prendê-lo e julgá-lo. Instauraram um governo de transição com metade dos integrantes civis e a outra metade militar. O prazo de validade era até meados de 2023, quando eleições livres deveriam acontecer.

Agora, os mesmos militares que derrubaram o ditador Omar al-Bashir também afastaram o Primeiro Ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, quase todo o gabinete dele e vários outros líderes políticos. Foi na calada da noite, na madrugada de domingo para segunda. Antes de o golpe acontecer, o acesso às redes sociais e à internet foram bloqueados. O país ficou isolado digitalmente.

A derrubada do Governo de Transição sudanês me lembrou uma música chamada “Cartomante”, uma composição de Ivan Lins e Vitor Martins que ficou imortalizada na interpretação de Elis Regina. Vale procurar por ela na sua plataforma de áudio preferida e prestar a atenção no refrão, que diz: “Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, Cai o rei de paus, cai, não fica nada!”

O “rei” da vez foi Abdalla Hamdok. Porém, em seis meses, ele foi o terceiro a ser derrubado por militares no continente africano. Em setembro, o presidente da Guiné, Alpha Condé, foi deposto pelo coronel das forças especiais Mamady Doumboya, que assumiu o poder e prometeu novas eleições para o prazo de um ano.

Em maio, outro coronel, Assimi Goïta, promoveu um “golpe dentro do golpe”. Depôs o presidente interino do Mali, Bah Ndaw, e assumiu seu lugar. Nove meses antes, Goïta já tinha deposto outro presidente, Ibrahim Boubacar Keita, que tinha sido reeleito há poucos meses em 2020.

Todos eles prometem preparar eleições e entregar o poder num futuro próximo. Assim, não queimam totalmente o filme com a ONU, a União Europeia, os EUA e a União Africana. E no caso do Mali e da Guiné, evitam problemas maiores com os vizinhos e sanções da Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental (Cedeao).

Porém o golpe no Sudão acontece no pior momento possível. Finalmente havia um governo civil no país, liderando reformas importantes e com profundos impactos sociais. Cito duas só pra se ter uma ideia dos avanços: a proibição da mutilação genital feminina (MGF) e o fim da lei que obrigava as mulheres a ter autorização dos maridos para viajar.

As mudanças aconteciam lentamente, diga-se de passagem, mas o país andava para frente depois de quase 30 anos sob a mão pesada do ditador Omar al-Bashir, que está preso. A extradição  para o Tribunal Penal Internacional, onde será julgado por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi anunciada há poucos meses pelo governo que acaba de ser deposto. Agora tudo é incerteza.

As relações entre Abdalla Hamdok com os militares já estavam tensas porque há um mês houve outra tentativa de golpe, liderada por militares fiéis a al-Bashir. Hamdok chegou a dizer que a crise de confiança entre civis e militares era grave e insustentável. Imediatamente, o general Adbel Fattah al-Burhan, o chefe do Conselho Soberano do Sudão, a autoridade Executiva do país, reagiu afirmando que a saída, então, seria dissolver o governo e montar um novo, com uma maior base política dando apoio às escolhas dos dirigentes civis e militares.

O golpe veio resolver esse problema e outro muito caro aos militares. Em três semanas o general Adbel Fattah al-Burhan deveria entregar o poder do Conselho Soberano a um civil. Fazia parte do acordo que garantia a manutenção do Governo de Transição.

Agora o Sudão voltou à estaca zero.

Milhares de pessoas foram às ruas de Cartum para protestar. Como os militares derrubaram as redes sociais e a internet, pouquíssimas imagens chegam ao exterior – especialmente as das repressões contra os manifestantes. Há relatos de manifestantes mortos e feridos a tiros.

A situação do Sudão está longe de ser resolvida. Os militares, que praticamente controlam o governo desde a independência em 1956, continuam dando as cartas. E a região vive um momento de instabilidade grande, com cada país mergulhado em suas próprias questões internas: uma guerra civil no Sudão do Sul, um conflito com rebeldes do norte na Etiópia e o longo conflito entre as milícias islâmicas e o governo da Somália pelo controle do país.

Infelizmente o golpe no Sudão pôs a perder todo o processo de transição, que começou em 2019.

Alexandre dos Santos é jornalista e professor de História do Continente Africano no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

Baixada Fluminense cumpre requisitos para entrar no mapa do turismo brasileiro

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Por Site da Baixada, em 26/10/2021 às 09h40.

Nova Iguaçu foi sede de uma reunião do Conselho da Região Turística Baixada Verde. Em pauta, a inserção de pontos turísticos da região no novo mapa turístico brasileiro. Estiveram presentes representantes de sete dos dez municípios da Baixada Fluminense que fazem parte do conselho estiveram.

Para que a Baixada Verde entre para o mapa do turismo brasileiro, que faz parte do Programa de Regionalização do Ministério do Turismo, é preciso que os municípios integrantes cumpram alguns critérios do ministério. Segundo Mário Lopes, assessor especial de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de Nova Iguaçu, a cidade já cumpre seis das sete exigências e tem tudo para, em breve, fazer parte do mapa nacional do turismo.

“Nova Iguaçu tem um enorme potencial turístico a ser explorado, como o Parque Natural Municipal, a Vila de Iguaçu, o Pantanal do Km 34 e o entorno da Reserva Biológica de Tinguá. Além disso, temos restaurantes e bares com excelente gastronomia e uma rede hoteleira que suporta e sustenta esta demanda”, afirma o assessor de Desenvolvimento.

Ainda segundo ele, o Plano Municipal de Turismo de Nova Iguaçu está pronto para ser encaminhado para aprovação. O objetivo é atrair não somente a população iguaçuana, mas também pessoas de fora da cidade e até mesmo do país, como já acontece na Serra do Vulcão.

“Temos registros de turistas dinamarqueses, alemães, franceses e de vários outros países que vêm até aqui para desfrutar da beleza das nossas trilhas. Queremos colocar de vez Nova Iguaçu na rota turística e estamos, inclusive, conversando com as agências de turismo da cidade para que elas ofereçam pacotes voltados para a visitação aos nossos pontos turísticos”, garantiu o assessor de Desenvolvimento.

Estiveram presentes ao encontro representantes das prefeituras de Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Duque de Caxias, Queimados, Japeri, São João de Meriti, Magé e Seropédica. O campus Nova Iguaçu da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares da Baixada e Sul Fluminense (Sindhotéis) também enviaram representantes à reunião do conselho.