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Vacinação contra covid-19 segue em todo Estado; município planeja postos de imunização em BRT e metrô

Por Edu Carvalho, em 01/10/2021 às 10h15

A vacinação no em todo estado e na capital do Rio segue a ‘plenos vapores’. Nesta sexta-feira, (01/10), pessoas com mais de 12 anos podem ser imunizadas. O reforço da vacina também aocntece para aqueles com mais de 79 anos, pessoas com alto grau de imunossupressão e também quem tem 60 anos ou mais que tomaram a segunda dose na cidade do Rio até 31 de março. Cabe lembrar que agora o intervalo entre a primeira e segunda dose da Pfizer, para quem tem 40 anos ou mais agora, é de 21 dias.

O intervalo mínimo entre a aplicação da segunda dose ou dose única e a dose de reforço é de três meses para idosos e 28 dias para pessoas com alto grau de imunossupressão.

Com intuito de aumentar o número de vacinados no município, a Prefeitura do Rio anunciou na última quinta-feira (30/9) que postos de imunização serão criados em estações do BRT e do metrô. A ação deve ter início já a partir deste mês, segundo informou o Secretário Municipal de Saúde Daniel Soranz em entrevista à TV Globo.

“Agora no mês de outubro a gente começa a vacinar no metrô, BRT para tentar captar alguém que não tomou a primeira dose e a gente intensifica muito a campanha para a segunda dose e para dose de reforço”, afirmou.

Estado do Rio registra o menor número de internados em UTI Covid

A Rede SUS no Estado do Rio de Janeiro registrou, entre 12 e 18 de setembro, o menor número de internações em UTIs por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) desde o início da pandemia. De acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Saúde, 460 pessoas foram hospitalizadas nesse período. Há pouco mais de um mês, entre 8 e 14 de agosto, esse número era de 1.187 doentes. Uma redução de 61%.

O Estado do Rio só teve um índice menor que este entre 15 e 21 de março de 2020, mês em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou o alerta mundial da pandemia do novo coronavírus.

”Estamos vendo uma redução no número de casos graves e internações, e isso está certamente ligado ao avanço da vacinação em todo o estado. Temos uma distribuição de vacinas eficiente, e isso facilita o trabalho das Secretarias Municipais. É importante que a população entenda a necessidade da segunda dose e da dose de reforço dos idosos”, comentou Alexandre Chieppe, secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

O avanço da vacinação fez os indicadores precoces caírem no território fluminense. A taxa de ocupação da rede SUS, que conta com unidades federais, estaduais e municipais, está hoje em 26,5% para enfermaria e 49,6% em UTI. Com isso, a Central Estadual de Regulação (CER) tem zerado a fila por Covid-19 durante vários momentos do dia. Nos últimos sete dias, a média móvel de atendimentos nas 30 UPAs da rede estadual está em 215 por dia, a menor desde outubro do ano passado.

O número de óbitos caiu 46% entre agosto e setembro. Na semana epidemiológica 33 (de 15 a 21 de agosto), 711 óbitos foram contabilizados por Covid-19 no estado. Já na semana 37 (de 12 a 18 de setembro), esse número baixou para 378; o menor desde o fim de outubro de 2020.

Centro de Promoção da Cidadania LGBTIQIA+ é inaugurado na Maré

Espaço de luta e mobilização leva nome de ativista local Gilmara Cunha

Por Hélio Euclides, em 01/10/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho

Motivo de orgulho e ainda mais garra, moradores da Maré se encontraram ontem (30/9) para inauguração do Centro de Promoção da Cidadania LGBTIQIA+, na Nova Holanda. A unidade, ligada ao Programa Estadual Rio Sem LGBTFobia, é a primeira instalada numa favela do Rio de Janeiro, com serviços de apoio à população LGBTQUIA+ para garantir e promover cidadania e acesso aos direitos devidos. Haverá atendimentos gratuitos com advogados, psicólogos e assistentes sociais.

O centro recebeu o nome de Casa da Diversidade Gilmara Cunha, ativista LGBTQIA+ e fundadora do Grupo Conexão G. Na abertura da Casa, Gilmara ressaltou a importância de receber a homenagem em vida. “Tenho uma história de amor por essa população mais esquecida. Comecei distribuindo preservativo no ponto de prostituição do outro lado da Maré. A luta começou há 15 anos e agradeço a Redes da Maré que sempre apoiou o nosso trabalho. O que ocorre hoje é uma conquista de um olhar para os mais vulneráveis. Um grupo que precisa ser visto e reconhecidos e o Estado vem apoiar”, comenta Gilmara. 

Mônica Benício, vereadora estadual, durante discurso na Casa. Foto: Matheus Affonso

A companheira de Marielle, Mônica Benício, vereadora da cidade do Rio de Janeiro estava emocionada com o momento da inauguração do centro após derrota na câmara. “Tentei incluir no calendário da cidade o Dia da Visibilidade Lésbica, algo que foi reprovado por dois votos. O ingrato é que temos o Dia da Pipa e não conseguimos algo tão relevante por causa de pessoas que não aprovam os nossos corpos e têm medo da nossa visibilidade”, diz. Para ela, a escolha da Maré não podia ser mais importante, pois foi o local onde passou a maior parte da vida. 

Segundo pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford e divulgada pela Fundação Fundo Brasil em 2018, 51% das pessoas LGBTQIA+ relataram ter sofrido algum tipo de violência motivada pela sua orientação sexual ou identidade de gênero. Entre as violências, 94% foram verbais e outras 13% físicas. Os centros nascem para enfrentarem essa situação de LGBTfobia que pessoas sofrem todos os dias. 

Ativistas da Maré reúnem-se para abertura da Casa da Diversidade Gilmara Cunha. Foto: Matheus Affonso

Os Centros de Cidadania LGBTQIA+ são uma iniciativa estadual do Programa Rio Sem LGBTfobia, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. “Esse centro marca uma luta em defesa do território. Entendemos que muitas vezes a pessoa não tem R$ 10 para ir ao Centro da Cidade conseguir apoio. Aqui teremos uma equipe completa a disposição para o atendimento”, garante Luciana Martins Calaça, subsecretária de estado da Promoção, Defesa e Garantia dos Direitos Humanos. 

Já existem outros equipamentos em Niterói, Queimados, Volta Redonda, Central do Brasil, Nova Friburgo, Arraial do Cabo, Miguel Pereira e Caxias. O governo do Estado promete outras unidades. “Meu papel é de ser um facilitador das políticas públicas. O importante é um atendimento no qual nos coloquemos no lugar do outro. Temos que potencializar e fazer justiça. Temos que levar justiça para que a voz de todas e todos sejam ouvidos”, diz Matheus Quintal, secretário de estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

A Casa da Diversidade Gilmara Cunha vai funcionar de segunda a sexta, das 9h às 18h, na Rua Marcelo Machado de Nova Holanda, número 51.

Festival FALA! discute o jornalismo independente, diverso e plural

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Em formato online, o Fala! discute o futuro do jornalismo e seu papel dentro de uma sociedade que, cada vez mais, valoriza a diversidade de vozes; A programação de painéis e cursos é gratuita e ocorre de 1 a 8 de outubro, em parceria com o Sesc São Paulo

Por Redação em 30/09/2021 às 12h

Entendendo que a difusão de informações ocorre para além dos profissionais de jornalismo, o Festival FALA! promove uma programação de debates e cursos com participação de pesquisadores do tema na Academia, que atuam na comunicação de base e nas manifestações artístico-culturais da América Latina; e de agentes que comandam plataformas independentes de jornalismo em diversas regiões do Brasil. Com isso, o FALA! amplia a conversa sobre as possibilidades que consideram a diversidade de vozes, os novos atores neste cenários, financiamento do jornalismo de causa, linguagens e regionalidades.

FALA! é um festival de jornalismo e cultura que propõe o debate sobre o futuro do jornalismo e seu papel dentro da sociedade brasileira a partir da perspectiva popular, tendo a diversidade e a pluralidade de vozes como premissa para abordar todos os temas. O festival também busca abordar os temas urgentes do jornalismo independente, como alternativas de financiamento, proteção dos jornalistas, capacitação e fomento das redes de fortalecimento das mídias independentes. O FALA! – Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas é idealizado e organizado por quatro grupos de mídia independente: Alma Preta Jornalismo (SP), Marco Zero Conteúdo (PE), 1Papo Reto (SP) e Ponte Jornalismo (SP). “Nós pretendemos discutir de forma mais aprofundada a relação entre arte, cultura e um jornalismo posicionado e comprometido com a diversidade e a pluralidade de vozes e corpos. É importante que construamos estes espaços de discussão para  fortalecer o compromisso do jornalismo com a democracia, sem as meias-palavras e omissões do passado recente”, explica Laércio Portela, do portal Marco Zero e um dos idealizadores do FALA!. 

A mesa de abertura do Festival, que acontece no dia 1º, às 19h, tem como tema “Como o jornalismo, a arte e a cultura podem colaborar na reconstrução desse mundo moderno que se encontra em ruínas?”. A fala inaugural fica por conta de Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. Participam desta conversa mediada por Laércio Portela, editor e cofundador da Marco Zero Conteúdo, a jornalista e pesquisadora Rosane Borges; Donminique Azevedo, jornalista e especialista em Raça, Gênero e Sexualidades;   e a cantora,  escritora e pesquisadora Fabiana Cozza.

Samela Awiá (foto: Cícero Bezerra) e Cecília Olliveira (foto: reprodução) são alguns dos nomes da segunda edição do FALA! – Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismos de Causa

Dando continuidade à programação, o festival apresenta o painel  “Jornalismo e democracia: ou vai ou racha!”, com a presença das jornalistas Cristina Serra, da Folha de São Paulo (SP), Ana Paula Rosário, do canal Corpo Político e Cecília Olliveira, do The Intercept (RJ). Com mediação de Pedro Borges, cofundador e editor chefe do Alma Preta Jornalismo, a conversa acontece no dia 2, às 10h. Neste mesmo dia, às 15h, acontece a mesa “Jornalismo influencer: resistência narrativa nas redes com a presença  de Samela Awiá,  comunicadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib); Martihene Keila, jornalista e cofundadora  do coletivo Sargento Perifa (PE) e Xico Sá, jornalista, escritor e colunista  do El País Brasil. A mediação será do ativista e empreendedor Raull Santiago, do Perifa Connection. 

Com mediação do jornalista Rosenildo Ferreira, de 1Papo Reto, a mesa “Quem vai financiar o jornalismo independente no Brasil” abre a programação do terceiro dia, com a participação da Daniele Moura, do Maré Notícias (RJ), Elaine Silva, do Alma Preta Jornalismo (SP), e Rogério Christofoletti, jornalista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, discutindo possibilidades de viabilização financeira para veículos engajados em causas.

Divulgação da mesa que o Maré de Notícias irá participar

No dia 3, às 15h, fechando a programação de debates,  a mesa “Diálogos Sul-Sul” discute a importância das pontes entre os veículos latinoamericanos com: Cesar Bartiz, do jornal El Pitazo da Venezuela, Alecsandra Matias de Oliveira, pesquisadora do Centro Mario Schenberg de Documentação e Pesquisa em Artes (ECA USP), e Alejandro Valdéz, comunicador visual, diretor e co-fundador do El Surti, do Paraguai. A mediação será de Jessica Tamyres dos Santos, editora de relacionamento da Ponte Jornalismo.

As mesas serão transmitidas no YouTube no canal do Sesc Paulista: youtube.com/sescavenidapaulista.

Além dos painéis, o Festival FALA! traz, ainda, o curso “Jornalismo, o mundo moderno e as novas formas de mediação”, que será ministrado pela professora pós-doutora Rosane Borges de 5 a 8 de outubro. O curso será dividido por temas em quatro módulos, tendo dois convidados por tema para discutir experiências e vivências dentro do campo da comunicação.

Módulo 1: Diversidade, Pluralidade e Inclusão: requisitos para um jornalismo democrático. Facilitadoras: Jornalistas Maju Coutinho e Flávia Lima;
Módulo 2: Ler e Dizer o Mundo de Forma Minimalista: as camadas do invisível e as narrativas de mulheres negras. Facilitadoras: ativista Neon Cunha e Alane Reis, jornalista da Revista Afirmativa; Módulo 3: Jornalismo e Novas Formas de Enquadramento: as experiências dos povos originários na captura e transmissão de imagens. Facilitadoras: artista e ativista Yacunã Tuxã, e poeta e geógrafa Márcia Kambeba
Módulo 4:  Música, Literatura e Dança: trançado de códigos que informam sobre o mundo. Facilitadores: cantora Fabiana Cozza e compositor Salloma Salomão

Inscrições gratuitas para as oficinas no link: https://inscricoes.sescsp.org.br/online/#/inscricao 

Programação completa do FALA! – Festival  de comunicação, culturas e jornalismo de causas:

  • Mesa de abertura: Como o jornalismo, arte e a cultura podem colaborar na reconstrução desse mundo moderno que se encontra em ruínas?
    Fala inaugural: Danilo dos Santos de Miranda (Diretor Sesc São Paulo)
    Painel: Rosane Borges (Carta Capital), Fabiana Cozza dos Santos e Donminique Azevedo (UNEB);
    Mediação: Laercio Portela (Marco Zero Conteúdo)
    Quando: 01/10 | 19h
  • Mesa 1: Jornalismo e democracia: ou vai ou racha!
    Painel: Cristina Serra (Folha de São Paulo), Ana Paula (Canal Corpo Político) e Cecilia Olliveira (The Intercept, do RJ)
    Mediação: Pedro Borges (Alma Preta Jornalismo)
    Quando: 02/10 | 10h
  • Mesa 2: Jornalismo influencer: resistência narrativa nas redes
    Painel: Samela Awiá (APIB), Martihene Keila de Oliveira (Sargento Perifa, de PE) e Xico Sá (El País)
    Mediação:Raull Santiago (Perifa Connection, do RJ)
    Quando: 02/10 | 15h
  • Mesa 3: Quem vai financiar o jornalismo independente o Brasil
    Painel: Daniele Moura (Jornal Maré Notícias, do RJ), Elaine Silva (Alma Preta Jornalismo) e Rogério Christofoletti (UFSC)
    Mediação: Rosenildo Ferreira (1PapoReto)
    Quando: 03/10 | 10h
  • Mesa 4: Diálogos Sul-Sul
    Painel: Alejandro Valdéz (El Surty, do Paraguai), Alecsandra Matias de Oliveira (ECA-USP) e Cesar Batiz (El Pitazo e Poderopedia, da Venezuela)
    Mediação: Jessica Tamyres dos Santos (Ponte Jornalismo)

CURSO “JORNALISMO, O MUNDO MODERNO E AS NOVAS FORMAS DE MEDIAÇÃO” de 5 a 8 de outubro

  • Módulo 1:  Diversidade, Pluralidade e Inclusão: requisitos para um jornalismo democrático
    Convidades: Maju Coutinho e Flávia Lima
    Quando: 05/10 | 19h
  • Módulo 2: Ler e Dizer o Mundo de Forma Minimalista: as camadas do invisível e as narrativas de mulheres negras
    Convidades: Alane Reis e Neon Cunha
    Quando: 06/10 | 19h
  • Módulo 3: Jornalismo e Novas Formas de Enquadramento: as experiências dos povos originários na captura e transmissão de imagens
    Convidades: Yacunã Tuxã e Marcia Kambeba
    Quando: 07/10 | 19h
  • Módulo 4: Música, Literatura e Dança: trançado de códigos que informam sobre o mundo
    Convidades: Salloma Salomão e Fabiana Cozza
    Quando: 08/10 | 19h

Resistência: caminhos da arte periférica a partir da Maré

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Artistas de diferentes partes da Maré refletem sobre a importância da arte para a expressão da subjetividade dos jovens, assim como para denunciar os efeitos nocivos da desigualdade social sem a lente dos estereótipos

Por Tamyres Matos, em 30/09/2021 às 10h20. Editado por Edu Carvalho

Jefferson Melo é morador da Baixa do Sapateiro. Matheus Frazão mora no Conjunto Esperança. Ambos são mareenses de 25 anos que têm muito a dizer sobre o contexto da arte periférica. As manifestações artísticas ganharam centralidade na vida dos dois ainda na infância/adolescência. Jefferson atua no projeto “Entre Lugares”, do Museu da Maré, há seis anos e criou, durante a vida pandêmica, o movimento virtual Narrativas Periféricas. Matheus começou sua jornada artística na Usina da Cidadania, em Manguinhos, e recentemente integrou a mostra competitiva do Festival de Teatro Universitário (FESTU) com o monólogo Cavalo Alado, que idealizou junto a Diogo Nunes, amigo do Complexo do Alemão, e denuncia os abusos dos agentes públicos durante as operações policiais.

“Eu não quero falar sobre Shakespeare, quero contar o que vivo, o que domino, o que sinto. Arte periférica é falar sobre nós. O objetivo é falar das memórias, dos atravessamentos que acontecem nesse espaço. Seja pela ausência do estado, seja pelas memórias afetivas construídas com a nossa vivência. Aqui temos uma cultura própria, um jeito de falar próprio. É importante contar histórias sobre o nosso local e temos propriedade para fazer isso de forma mais profunda que os estereótipos, ir além das lentes pelas quais costumamos ser vistos por quem é de fora”, analisa Matheus.

Os jovens, que são amigos e têm um trabalho em comum no Museu da Maré, têm um discurso alinhado quando discutem o poder da arte e a importância desta para valorizar a narrativa da periferia. Jefferson acredita que ser artista na Maré é sobre “resistir e insistir”. “A arte ainda é uma bolha elitista e o que se produz fora da favela nem sempre interage com o que se produz dentro. Não existem muitos recursos para a arte e cultura de maneira geral, é um campo abandonado pelo governo. Então, na favela, onde esses esquecimentos são duplicados, há ainda menos investimentos. Então viver na arte é lutar pela sua história, pela sua memória, pelo território, pois somos excluídos do pertencimento na cidade. Ser artista favelado é amor, é vocação, é identidade”, defende.

Matheus Frazão no espetáculo Cavalo Alado que denuncia os abusos dos agentes públicos durante as operações policiais.

Arte e saúde mental

Ao pensar a expressão artística durante o período da pandemia, Matheus e Jefferson reforçam que, apesar dos evidentes abalos emocionais, foi essencial – e requisito de sobrevivência – não abafar essa área da subjetividade. Entre os dias 23 e 28 de agosto, o território mareense viveu a 1ª Semana de Saúde Mental (Rema Maré). Uma série de atividades culturais realizadas em desdobramento à pesquisa Construindo Pontes, que analisou os impactos da violência urbana na saúde mental dos moradores das 16 favelas. O Rema Maré é a arte periférica a serviço do debate sobre qualidade de vida e estratégias para minimizar o sofrimento mental da população.

“O papel da arte dentro da Maré é o papel da arte em todo canto. A gente busca ligar, conectar as pessoas. Se eu fizer um desenho e não mostrar pra ninguém, essa é uma forma de fazer conexão comigo mesmo. Quando eu mostro para alguém, é uma conexão com outra pessoa. Se eu colocar na parede e muita gente puder ver, essas pessoas estão conectadas, não somente comigo, mas também entre elas. Arte é um estímulo de conexões”, define Paul Heritage, diretor artístico da People’s Palace Projects, instituição britânica parceira da Redes da Maré no estudo Construindo Pontes.

Matheus e Jefferson concordam com a visão de Paul. Para o jovem do Conjunto Esperança, viver a arte é uma forma de desenvolver o autoconhecimento. Ele acredita que “arte é qualidade de vida, tanto para quem assiste, quanto para quem faz”, mas que as exigências de produtividade durante o período restrito às telas da pandemia também se tornaram um peso para muita gente. 

“Eu tive muita dificuldade e vi que muitos artistas amigos meus se sentiram obrigados a produzir conteúdo para plataformas digitais. O que parecia inicialmente ser um refúgio acabou por se tornar um bicho de sete cabeças. Especialmente no ano passado, houve uma cobrança muito intensa pela produção de conteúdo e isso se tornou nocivo. Eu mesmo resolvi me afastar por um tempo. Mas, com o tempo, as coisas foram tomando um outro rumo, a pressão vem diminuindo”, diz Matheus.

Jefferson acredita que ainda imperam certas linhas divisórias nem tão imaginárias – como as barreiras criadas por grupos criminosos – entre as 16 comunidades da Maré que, às vezes, impedem que as conexões se desenvolvam plenamente. Mas ele torce para que os artistas, independentemente da área de atuação, estejam cada vez mais próximos. “A arte é uma poderosa ferramenta de aquilombamento (espaços de organização para agir sobre a realidade). Às vezes, ficamos retidos nas comunidades que moramos e não há tantas trocas, mas a arte não separa, ela agrega, colabora, ouve. É importante que os artistas da Maré estejam cada vez mais juntos”, torce.

Jefferson atua no projeto “Entre Lugares”, do Museu da Maré, há seis anos e criou, durante a vida pandêmica, o movimento virtual Narrativas Periféricas.

Pertencimento e identidade

Nos relatos de trajetória, mais uma vez os discursos de Jefferson e Matheus se encontram. As palavras “pertencimento” e “identidade” são proferidas com naturalidade para explicar a importância da arte em suas vidas e na sua relação com o território. “No ‘Entre Lugares’ (projeto do Museu da Maré) foi onde eu me desenvolvi. Quando comecei a ter uma relação mais íntima com a arte porque ali a gente tava falando de pertencimento, sabe? A gente estava falando sobre a construção da Maré, no que eu posso chamar de um teatro de memórias. Discutimos quem foram as pessoas protagonistas do povo na construção da Maré, os atores sociais que estiveram presentes”, relembra Matheus.

Jefferson acredita que arte periférica é sobre ter uma forma de expressar suas experiências.  “Transparecer costumes, cultura, memória, corpo… A vivência da favela não é o padrão, o ‘comum’ é fora da favela, a segregação é uma realidade. Temos formas diferentes de falar, de conviver, de se comunicar. É um estilo próprio e temos legitimidade para deixar claro isso para o mundo através do nosso trabalho”, considera.

Parceiro da Maré de longa data, Paul Heritage oferece uma visão de fora em comparação ao discurso dos jovens artistas. O professor de drama e performance da Universidade Queen Mary, em Londres, Reino Unido, acredita que a arte é a prova de que “a vida é uma ação coletiva”. “A arte faz o mundo, faz com que sejamos testemunhas de nossas próprias vidas e dos outros membros da nossa comunidade. Pra mim, a Maré é o mundo. É um mundo tão rico que eu tenho sempre vontade de voltar para fazer parcerias. O que aprendi com a Maré foi a profundidade da relação entre arte e território. Toda a arte que produzimos, todo o conhecimento que a gente faz vem da nossa relação com o território. Na Maré tem uma concentração da vida que é muito enriquecedora. Isso é arte na periferia. E a forma como eu sinto é nada periférica porque às vezes eu sinto que a Maré é o centro do meu mundo”, se declara.

Iniciativas na Maré criam alternativas de arborização no território

Moradores unem-se para criar canteiros ao longo de ruas nas favelas do conjunto

Por Hélio Euclides, em 29/09/2021 às 15h30. Editado por Edu Carvalho

Um ponto importante para as cidades é a arborização urbana. Além das questões estéticas, há benefícios para o equilíbrio do ambiente, o bem-estar da população e a condição do ar, que tem como resultado mais qualidade de vida. Na Maré, além do Parque Ecológico da Vila dos Pinheiros e a Vila Olímpica, poucos locais têm árvores. Andando pelas ruas, é possível perceber iniciativas de moradores que buscam pelo menos cultivar plantas ou criar os seus próprios canteiros como alternativas. 

Na Rua Praia de Inhaúma, no Morro do Timbau, há um trailer de venda de lanches onde, ao lado, ocorria um descarte de lixo. Para reverter essa situação, Maria Cristina criou um canteiro de plantas. A meta também era ajudar a melhorar o visual urbano. “Colocamos mudas, algumas pessoas trouxeram para completar o canteiro e outras levaram para deixar mais verde as suas casas. Esperamos que outras copiem a nossa ação, que tinha como objetivo modificar um local feio, cheio de lixo e que ajuda na proliferação de ratos”, conta. A iniciativa que completa seis meses vem recebendo elogios de moradores. 

Outra iniciativa é o projeto Viver com Mais Verde, que tem como objetivo florestar a Vila do João. “A comunidade não tem árvores, por isso estamos com 1.200 mudas para o plantio. O resultado é que as árvores absorvem os raios solares, deixando as ruas menos quente”, diz Valtemir Messias, conhecido como Índio, presidente da Associação de Moradores da Vila do João. O projeto tem a realização da associação em parceria da Comlurb para o plantio e doação de adubo de órgãos da Prefeitura. 

Direto da sala de aula

Quem desce do ônibus na entrada da Vila do João, na Linha Amarela logo percebe uma muda de Pau-Ferro. A iniciativa é da Escola Municipal Professor Josué de Castro que começou a deixar as áreas internas do colégio mais verde e agora parte para o entorno. Outros pontos que receberam plantio dessa ação foram a ciclovia próximo ao Conjunto Pinheiro e ao ponto de ônibus da Avenida Brasil, na Vila do João. 

As mudas começaram a ser plantadas fora da escola no dia 22 de abril, em comemoração ao Dia Internacional do Planeta Terra, após doação do coletivo Olaria Verde e dos pais. “É uma prática da escola que estamos levando para a comunidade. Um exemplo é nosso cantinho de pingue-pongue que terá coqueiro no entorno. Além de plantar, os alunos estão produzindo placas com mensagens de conscientização para o cuidado da natureza”, conta Christiane Lagarto Fontoura, diretora da Escola Municipal Professor Josué de Castro. O próximo passo será o plantio de mudas próximo ao valão entre a Vila do João e o Conjunto Esperança. 

Alunos da Escola Municipal Josué de Castro na Vila do João plantam mudas no ponto de ônibus da Avenida Brasil, com placas de conscientização sobre a preservação da natureza. Foto: Matheus Affonso

A escola também está investindo na compostagem. O projeto foi criado a partir da prática realizada na Universidade Federal de Santa Catarina, chamada de Lixo Zero. “Os alunos começaram assistindo à vídeos que traziam aprendizado sobre o lixo orgânico. Agora vamos escrever no muro da escola frases que valorizem a natureza e a sustentabilidade”, expõe a diretora. O método implantado consiste no seguinte ciclo: a cozinha produz os compostos por meio de cilindros. Depois há a separação de papelão, caixa de ovos, borra de café, lata e até resto de comida. “Não desperdiçamos nada e ainda ficamos felizes em ajudar no projeto de compostagem e reciclagem”, conta Cenira Felizarda, merendeira da escola. 

O trabalho começa com os alunos e chega aos responsáveis. “É importante este trabalho que envolve todos numa conscientização para menos carbono e uma preocupação com as mudanças climáticas”, avalia Anibal dos Santos, professor de ciências. Todos os funcionários da escola se envolvem e contagiam os alunos. Para Ramon de Souza, também professor, é importante a valorização do ambiente. “Tudo por um mundo melhor e atrelado à menos cimento”, comenta.

Placas feitas por alunos da Escola Municipal Josué de Castro, na Vila do João. Foto: Matheus Affonso

“Muito legal conhecer a ciência da compostagem e também produzir as placas para que as pessoas possam ler sobre a importância da natureza e que sem ela não se vive”, diz Denisiane Brandão, aluna de 11 anos. Seus colegas Gabriel Almeida, Gisele dos Santos, ambos de 14 anos e Erica Sousa, de 16 anos, concordam sobre a importância da conscientização sobre preservação. “É necessário plantar mais para enfrentar o desmatamento. É o momento de mudar os prejuízos ecológicos e chamar atenção de todos. O planeta pede um equilíbrio”, lembram em conjunto. 

Dicas para um canteiro feliz

Para a criação do canteiro, é preciso escolher a área onde ele vai ficar, levando em consideração a incidência solar, e o fácil acesso ao ponto de água. Se tratando de uma área urbana, os canteiros podem ficar nos espaços coletivos como praças. Se for usar um terreno baldio, por exemplo, será necessário realizar um histórico do local.

Depois da escolha do local, o plantio pode ser direto no solo, sendo necessário revolver a terra, ou seja, misturar as camadas do solo misturando compostos orgânicos. “Há alguns tipos de terra, mas uma terra que é fácil de ser encontrada e boa é a terra preta. A revitalização traz inclusive benefício emocionais para quem está cuidando e para quem passa perto. São pontos verdes que nos remetem a natureza em meio a um local em que muitas das vezes nos é negado tudo”, conclui Karoline Ibraim Tobias, professora de ciências e biologia.

O site Tua Casa indicou 21 árvores que podem deixar o local próximo a sua casa mais arborizado e bonito. São elas: araçá, aroeira salsa, caroba, carobinha, cambuci, candelabro, cássia-do-nordeste, cerejeira-do-rio-grande, cerejeira-do-japão, escova-de-garrafa, extremosa ou resedá, flamboyant-mirim, ipê-amarelo, jasmim-manga, magnólia-amarela, manacá da serra, oiti, pau-fava, pitangueira, pata-de-vaca e quaresmeira. A dica é que, ao escolher uma muda, pensar não só no presente, pois as mudas crescem e podem se transformar em árvores que vão trazer algum tipo de problema. O ideal é averiguar se há nas proximidades do plantio rede elétrica e encanamento de água e gás. Por fim, avaliar se a planta tem raízes agressivas, frutos grandes e folhagem tóxicas.

#VacinaMaré: confira datas para 2ª dose da vacina; pessoas acima de 12 anos também serão imunizadas com 1ª dose

Moradores das 16 favelas da Maré poderão receber segunda dose do imunizante contra a covid-19 de 14 a 16 de outubro

Por Edu Carvalho, em 29/09/2021 às 12h34. Atualizada em 07/10/2021 às 10h16.

Tendo sido uma das maiores campanhas de vacinação em massa num conjunto de favelas no Brasil, o #VacinaMaré, mobilização feita entre a ONG Redes da Maré, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Educação, Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Conexão Saúde e SAS Brasil entre o fim de julho e início de agosto, agora convoca os moradores das 16 favelas da Maré para receberem a segunda dose do imunizante contra a covid-19, que acontecerá de 14 a 16 de outubro.

Na primeira parte da campanha, cerca de 36.926 mareenses de 18 a 33 anos foram vacinados nos seis dias de imunização em massa contra o coronavírus. A ação aconteceu de 29/07 a 01/08 e ganhou ainda mais três dias de repescagem, de 02 a 04/08, com direito a um mutirão de busca ativa pelo território.

A meta da iniciativa era vacinar 31% da população adulta (31 mil), e acabou sendo atingida já no terceiro dia, representando 99,14% do público-alvo atendido, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Um estudo liderado pela Fiocruz vai avaliar o efeito da vacinação, além de monitorar a circulação de novas variantes, com acompanhamento em saúde de duas mil famílias durante seis meses, para estudar e mapear a transmissão do vírus no ambiente familiar.

Este estudo vai auxiliar ainda na avaliação da proteção das crianças, pois trata-se de um grupo ainda não vacinado. “Queremos entender o quanto a proteção dos adultos preservam as crianças ou o quanto as crianças ainda vão estar suscetíveis à Covid-19”, comenta o coordenador do estudo, Fernando Bozza. O Conjunto de 16 favelas da Maré tem cerca de 140 mil moradores, com maioria jovem (51,9% têm menos de 30 anos), de acordo com o Censo Populacional da Maré. Durante esse último ano, com os esforços também do projeto Conexão Saúde, a taxa de letalidade caiu em 88%.

Fique atento às redes sociais da Redes da Maré e do Maré de Notícias! Em breve mais informações sobre a 2ª dose na campanha.