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Campanha de Vacinação Antirrábica será feita nos bairros de forma escalonada

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Por Redação, em 08/09/2021 às 11h37

A Campanha de Vacinação Antirrábica 2021 da cidade do Rio terá início no sábado (11/09), das 9h às 17h. A aplicação será realizada de forma escalonada, em cinco grupos de bairros do município, com mais de 700 pontos de vacinação no total. O primeiro grupo reúne bairros do Centro e da Zona Sul, além de Ilha do Governador, Tijuca e  São Cristóvão.

Os endereços de todas as unidades estão no site bit.ly/AntirrabicaRio. Os locais, no entanto, podem ser alterados até as datas marcadas.

A população pode obter outras informações nas redes sociais da Vigilância Sanitária e no site rio.rj.gov.br/web/vigilanciasanitaria.

Poderão ser vacinados na campanha cães e gatos a partir dos três meses de idade e adultos saudáveis, e também aqueles que expiraram o ciclo de 12  meses da última vacinação.

A vacinação é uma das principais ferramentas utilizadas no controle da raiva, doença que não é notificada em animais domésticos no município do Rio desde 1995.

Vacinação de adolescentes retoma nesta quarta-feira no Rio; veja calendário

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Por Edu Carvalho, em 08/09/2021 às 11h40

A Secretaria Municipal de Saúde retomou a vacinação dos adolescentes contra a covid-19 nesta quarta-feira (08/9). Com o feriado da Independência (ontem), os postos de imunização estiveram fechados.

Na última segunda, mais de 35 mil imunizantes da Pfizer foram distribuídas para primeiras doses, sendo possível iniciar a aplicação no público de 15 anos. Meninas dessa faixa etária terão dois dias para imunização (hoje e amanhã – 9/9). Já na sexta-feira (10/9), será a vez dos meninos de 15 irem aos postos para a imunização.

Entre quarta e sexta-feira também serão atendidas nos pontos de vacinação as pessoas agendadas para tomar a segunda dose, além de gestantes, puérperas, lactantes e pessoas com deficiência (PcD) a partir de 12 anos, além daqueles com 25 anos ou mais que por algum motivo ainda não tenham se vacinado.

A continuidade do calendário para outras faixas etárias será anunciada quando o município receber mais doses do Ministério da Saúde.

‘Meu filho foi alvo de racismo’

Como os adultos podem lutar para que as crianças não sejam vítimas de discriminação racial ou como agir quando situações do tipo já ocorreram

Maré de Notícias #128 – setembro de 2021

Por Amanda Pinheiro

A infância é o período essencialmente marcado pela inocência, e por isso o racismo imprime dele as marcas mais profundas – aquelas que serão levadas pelo indivíduo por toda a vida. Por as crianças viverem em uma fase cercada de descobertas, é importante levar em conta a maneira de abordar o tema com elas e entender qual o impacto que uma sociedade racista pode causar em suas vidas.

A empresária e historiadora Jaciana Melquiades, de 37 anos, da Era Uma Vez o Mundo, primeira loja física de bonecas pretas, afirma que o racismo na vida das crianças se reflete na autoestima, o que pode resultar em mudanças na aparência.

“Mesmo que as crianças não tenham essa ideia (do racismo) muito configurada na cabeça, a gente as vê com autoestima baixa, se comparando com colegas que elas percebem que têm tratamento melhor por não serem negras. Essa comparação faz com que os pequenos se sintam inadequados, peçam coisas que os façam ficar parecidos com aqueles que são bem tratados. Isso se reflete nos pedidos para alisar do cabelo ou comprar bonecos de personagens que não se parecem com eles, justamente para se sentirem incluídos e inseridos”, analisa. 

Para Jaciana, a representatividade está diretamente relacionada ao desenvolvimento da autoestima da criança. “Quando a gente não apresenta personagens que se pareçam com essa criança, ela começa a sofrer com baixa autoestima: fica muito tímida, quietinha e envergonhada. A gente sabe que esses comportamentos muitas vezes não têm a ver com a timidez natural da criança, e sim  com uma castração das possibilidades de ela ser como é”, explica. 

Um longo caminho

Durante muito tempo, poucas eram as pessoas negras em espaços de evidência, como mídia ou empresas. A conscientização de parte da população e a cobrança de ativistas do movimento negro resultaram em avanços, ainda que pequenos: mais personagens negros em novelas que não os habituais escravos ou serviçais, o reconhecimento e a valorização de artistas, além de uma reflexão mais ampla sobre representatividade. Esta impacta diretamente o indivíduo desde a infância, já que poucas crianças negras são vistas em posição de protagonismo.

No Brasil, segundo a pesquisa Cadê Nossa Boneca, realizada pela organização Avante – Educação e Mobilização Social, as negras representam apenas 6% do total de bonecas fabricadas. No entanto, quando finalmente chegam às prateleiras das lojas, cinco em cada sete custam mais que suas similares brancas.

“Esse talvez seja o campo em que menos se avançou. As discussões em torno da infância não levam em consideração que a criança é uma pessoa, é sujeito. Como as vozes que reivindicam representatividade são de pessoas adultas, o mercado que é voltado para a infância ainda não recebe uma pressão tão incisiva para que promova de fato uma mudança”, afirma Jaciana.

Para a historiadora, a discussão sobre representatividade progrediu sob alguns aspectos, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, seja no combate à estereotipação dos personagens de pele preta, seja na conscientização da indústria de brinquedos e produtos infantis. 

“Vemos as crianças ainda sendo representadas como aquela que é adotada, sempre em situação de vulnerabilidade. A gente ainda tem muito por avançar. O caminho é pensar na criança como sujeito e a infância preta, como um espaço de potência e vivências diversas”, analisa.

Apesar de parecer pouco para muitas pessoas, o impacto na vida de uma criança negra que se vê representada é grande. Constantemente, ao abrir as redes sociais, personalidades como a jornalista Maju Coutinho ou a cantora Iza são vistas ao lado de crianças que as imitam, e isso se reflete nas brincadeiras. Para Jaciana, elas desenvolvem consciência muito mais rapidamente quando conseguem se ver em algo ou alguém.

“A criança começa a criar um universo de pessoas pretas potentes, bonitas, ‘gostáveis’ na própria cabeça, se inserindo nesse universo. Com isso, a autoestima muda, se fortalece. Quando a gente faz atividades em grupo, elas ficam até com uma postura diferente, potente”, conclui. 

Efeitos do racismo nas crianças:

  • Baixa autoestima;
  • Negação da própria imagem;
  • Sentimento de angústia e revolta;
  • Dificuldade de relacionamento;
  • Quenda o rendimento escolar.

De olho na mobilidade: como se movimentam os mareenses

Em um ano, o que mudou na situação dos transportes na Maré e na cidade 

Maré de Notícias #128 – setembro de 2021

Por Ana Clara Alves e Tamyres Matos

Com mais de 800 ruas, travessas e becos espalhados por 16 comunidades, a Maré é margeada e cortada pela Avenida Brasil, mais importante via expressa da cidade do Rio de Janeiro. Por isso, falar em mobilidade urbana no maior conjunto de favelas do Rio é discutir como se move a cidade. Em março de 2020, o Maré de Notícias produziu uma série de reportagens sobre a “imobilidade urbana” na capital fluminense e na Maré. De lá para cá, poucas mudanças foram registradas. O assunto ganha destaque nesta edição pois, desde o início dos anos 2000, o 29 de setembro é o dia em que se dá maior atenção aos problemas e soluções no deslocamento das pessoas nos centros urbanos no Brasil. A inspiração para a escolha da data foi a criação do Dia Mundial Sem Carro em 1997, na França.

Uma pesquisa realizada pela plataforma israelense Moovit, divulgada no início deste ano, apontou o Rio de Janeiro como a cidade com os piores índices de mobilidade urbana do país. Apesar da recomendação para que a população se mantenha dentro de casa enquanto a pandemia não se encerra, por falta de opções esta não é a realidade da maioria dos habitantes dos territórios. Marcelo Lapa, de 20 anos, morador do Morro do Timbau, é uma dessas pessoas. 

“Comecei a usar o trem para ir trabalhar em março do ano passado. Quando tinha um problema, muitas vezes por causa de operações policiais, atrasavam todas as linhas. Aí ficava tudo muito lotado. Nesse tipo de situação, eu ia de ônibus”, relata Marcelo, que trabalha em um laboratório no Engenho de Dentro, também na zona norte da cidade.

Por conta desses problemas, ele precisou mudar sua rota e fazer baldeações. “Pego a van embaixo da estação NorteShopping e daí, um ônibus até o trabalho. Pra mim a viagem ficou muito mais rápida, porque o trem dava problema com muita frequência”, diz ele.

Marcelo conta que já teve surpresas desagradáveis também no que diz respeito ao gasto em seu trajeto de trem: “Já aconteceu de eu pagar duas passagens porque o problema no trem nem foi avisado: não tinha comunicação entre as estações. Não estava valendo a pena mais, pelo gasto e pela demora. Pegar van e ônibus está sendo mais prático”.

Um significativo pedaço da vida na condução

O estudo do Moovit apontou ainda que o carioca é quem mais gasta tempo dentro do transporte público no Brasil. Dentro da região metropolitana do Rio se gasta em média 67 minutos no transporte para chegar ao local de destino. Se o passageiro faz esse trajeto duas vezes por dia e cinco vezes por semana, durante um mês seriam gastas quase 50 horas em trânsito e, por ano, mais que 550 horas (ou 23 dias).

Além das queixas envolvendo o tempo desperdiçado, ainda existem as reclamações sobre as condições sanitárias do transporte e linhas extintas, reduzidas e sem climatização (desde 2012, existe a promessa de a cidade ter 100% da frota de ônibus equipada com ar condicionado).

Como consequência da “imobilidade urbana” (somados os riscos de contaminação pelo vírus da covid-19), mais de 30% dos passageiros buscaram reduzir o uso de transporte público durante a pandemia. O estudo analisou milhões de viagens realizadas em novembro de 2020, em 104 cidades de 28 países, ouvindo a opinião dos passageiros sobre a qualidade dos serviços no transporte público.

E a ciclovia, cadê?

Em março de 2021, houve um acidente na esquina da Rua Teixeira Ribeiro com a Rua Principal. Com dificuldades para trafegar por conta da chuva, um ciclista se chocou contra um motociclista. Felizmente, ninguém se machucou seriamente; infelizmente, acidentes como esses são recorrentes na Maré.

No fim de 2015, as ruas principais começaram a passar por obras para a criação da ciclovia. Ao todo, foram gastos R$ 5 milhões em uma obra que deveria resultar em 18 quilômetros de uma via especial para ciclistas. O projeto faria a ligação entre a Maré, a Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Bonsucesso. Do período de execução do projeto, restaram algumas placas, bicicletários nas passarelas e um pequeno pedaço de ciclovia, embaixo da Linha Amarela. 

Na edição 83 (dezembro de 2017), o Maré de Notícias abordou o tema quando avaliou a obra realizada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. “O resultado foi o pior possível, nunca funcionou”, sentencia Pedro Francisco dos Santos, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança. Ele acrescenta que o local necessita de um plano mais amplo de mobilidade urbana. “Nossas comunidades não têm nem espaço na calçada para o pedestre, imagina para as bicicletas. Falta ordenamento, um projeto de organização por parte do governo. Não temos mobilidade nenhuma”, criticou.

Para Felipe Barcelar, 23 anos, morador da Rubens Vaz, ainda há muito a se avançar quando se trata de incluir o ciclista no planejamento urbano da Maré. “A gente está em um território periférico e o respeito pela bicicleta e pelo ciclista ainda é muito pouco: desde carros parados sobre a ciclovia a comércio que toma conta da calçada para colocar mercadorias e muitas vezes ocupa até mesmo a rua com cones, ferros e cavaletes”, aponta.

Para o jovem, existe uma clara diferenciação quando se discutem assuntos como esse na Maré e em regiões mais abastadas da cidade. “A questão de circular dentro da Maré com bicicleta é uma parada forte, ainda tem esses obstáculos e interrupções. A Maré é muito grande, é essencial o uso dos espaços para melhor movimentação. Pensando sob uma perspectiva fora da Maré, a questão da ciclovia é uma parada mais para a zona sul da cidade. Porque lá é ‘a cidade’. As regiões do centro e da zona sul têm um desenvolvimento maior em mobilidade porque contam com espaço planejado e investimento”, analisa.

Durante o primeiro ano da pandemia do covid-19, a Casa Fluminense monitorou a oferta de ônibus do Rio. A segunda edição do relatório De olho no transporte mostrou que menos da metade da frota de ônibus disponível atendeu à população. Na primeira semana de março deste ano, somente 3.208 veículos foram para as ruas, ou seja, apenas 40,2% do que a lei obriga (o total mínimo correto seria dos 7.977 ônibus).

Sobre as questões apresentadas na matéria, tentamos contato com a Secretaria Municipal de Transportes e o Rio Ônibus, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta edição. O espaço continua aberto em nosso site para as respostas. De acordo com a SuperVia, a empresa está “sempre atenta às necessidades dos clientes e aprimorando o meio de se relacionar com os passageiros, como por exemplo a comunicação imediata em situações de alterações na circulação dos trens (via Twitter ou áudio nas estações)”.

Em nota, a concessionária afirma que, devido à pandemia, atualmente transporta, em média, 300 mil passageiros por dia. Antes disso, a média de clientes transportados era de 600 mil por dia. Ao listar investimentos dos últimos anos, a SuperVia relata reformas nas estações, troca de trilhos, instalação de novos dormentes e substituição de cabos da rede aérea. 

Ainda segundo a empresa, a liminar que impediu o aumento da tarifa (de R$ 5 para R$ 5,90) agrava a situação financeira da concessionária. “A SuperVia continua aguardando que o Poder Concedente busque alternativas urgentes para garantir o reequilíbrio econômico-financeiro da concessão. Até 2 de junho, a concessionária registrou uma perda financeira de mais de R$ 474 milhões, resultado da redução de mais de 102 milhões de embarques. Isso levou a concessionária a entrar em Recuperação Judicial no início de julho deste ano”, conclui a nota.

A circulação de bicicletas é intensa nas ruas das 16 favelas, mas não há ordenamento urbano para priorizar este meio de transporte – Foto: Elizângela Leite


Remando a favor da Maré: arte e resiliência em resposta aos impactos da violência na saúde mental

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Divulgação de estudo inédito sobre o sofrimento mental dos mareenses tem como destaque diferentes performances artísticas e debates

Maré de Notícias #128 – setembro de 2021

Por Ana Clara Alves, Edu Carvalho e Tamyres Matos

“Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo / sem saber o calibre do perigo / Eu não sei da onde vem o tiro”. A força atemporal de O Calibre, música de Herbert Viana – que cantou sobre a Maré em Alagados – conversa com os temores da população do conjunto de favelas. O estudo Construindo Pontes, liderado pela Redes da Maré e pela organização britânica People’s Palace Projects, apontou que o medo constante de ser atingido por uma bala (perdida ou não) afeta 63% dos mareenses; o temor de ver alguém próximo ser baleado aumenta esse percentual para 71%. Entre os transtornos mais frequentes que resultam desse sofrimento mental estão a depressão, o estresse pós-traumático e a ansiedade.

A pesquisa, realizada entre 2018 e 2020, contou com o depoimento de 1.411 moradores das 16 favelas acima de 18 anos, e resultou na 1ª Semana de Saúde Mental da Maré, a Rema Maré, realizada entre os dias 23 e 28 de agosto. Os resultados revelaram que os moradores da Maré têm sua saúde profundamente afetada por situações angustiantes como estar em meio a tiroteios e, até mesmo, testemunhar assassinatos e espancamentos com frequência. 

“O debate sobre saúde mental nesse contexto é importantíssimo para entender melhor o que a pessoa quer expressar e o que sente, principalmente em meio à pandemia, quando os convívios sociais são limitados. Isso acaba gerando mais indivíduos sobrecarregados e cansados da rotina. As pessoas precisam de alguém ou de um momento para colocar para fora o que as incomoda”, diz Petersom Cosme, de 18 anos, morador do Morro do Timbau.

Para Eliana Sousa Silva, fundadora e diretora da Redes da Maré, a discussão sobre saúde mental é estratégica na sociedade. Ela acredita que a forma como os confrontos armados atingem a vida das pessoas nunca foi levada em consideração de forma sistematizada. Um dado marcante da pesquisa: 75,5% dos moradores apontam a violência como a principal característica negativa de morar na Maré.

“Quando a gente fala do medo no qual se vive, desse estresse por conta das situações de confronto armado, é comum que as pessoas daqui demonstrem admiração com a revelação de que esse sentimento existe. É como se estas situações se tornassem parte natural do cotidiano delas, como se esse sentimento não pertencesse a elas. Revelar esses dados é muito significativo. A partir disso, podemos pensar em respostas para os desafios na garantia do direito à segurança pública que realmente leve em consideração os moradores da periferia”, considera.

No dia 24 de agosto, alguns dos pesquisadores envolvidos no estudo apresentaram reflexões sobre os resultados em um evento online mediado pela jornalista Anabela Paiva. Para Leandro Valiati, economista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o estudo produziu um banco de dados “inestimável” para se pensar em soluções no que diz respeito à relação entre saúde mental e violência. “A Maré é um bom estudo de caso para distintas cidades brasileiras e em outros países. É claro que existem características específicas, mas é importante não descartar o que aproxima essas diversas regiões que convivem com as consequências da violência armada”, pondera.

Panorama dos dados

Os dados apresentados ajudam a construir um quadro mais amplo do impacto destes episódios violentos com o qual muitos dos nossos leitores lidam no dia a dia. Mais de 30% da população adulta da Maré afirmou ter a saúde mental afetada pela violência, e 44% dos entrevistados relataram ter estado em meio a um tiroteio nos 12 meses anteriores (destes, 73% passaram por essa experiência mais de uma vez). Entre os que sofreram exposição direta a situações violentas, o percentual é ainda maior: 44% acreditam que sua saúde mental foi prejudicada. 

“Este tipo de estudo sobre sofrimento mental costuma estar relacionado ao contexto de guerra, como no caso do Vietnã, por exemplo. Mas a pessoa tem um tempo específico para passar na guerra (a duração do conflito); quem vive na favela não tem esse tempo limitado, é uma violência persistente. O sofrimento mental que a gente observa na Maré é comparável à taxa de países onde houve práticas de tortura e violência policial”, explica Marcelo Santos Cruz, coordenador de um programa de estudos no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ).

Mesmo sem testemunhar um tiroteio, mais de 25% dos moradores teve alguém próximo ferido ou assassinado. Quase o mesmo percentual (24%) viu alguém ser espancado ou agredido no ano anterior à pesquisa. Para 15% dos entrevistados, isso aconteceu mais de uma vez. Nem mesmo dentro de casa os moradores se sentem protegidos: 13% deles tiveram suas casas invadidas no período compreendido pela pesquisa – percentual que aponta para 6.210 domicílios violados. A violência muitas vezes não foi apenas física, como também verbal, acompanhada de extorsão e perdas materiais. Entre esses moradores que tiveram suas residências invadidas, 47% passaram por esta situação mais de uma vez.

Um dos efeitos sentidos pelos moradores das periferias por todo o Brasil é a imposição de barreiras para o acesso a serviços e equipamentos públicos, incluindo aqueles que dão suporte aos moradores em relação à saúde mental. Segundo os dados da pesquisa, 54% dos adultos da Maré sofreram alguma limitação no acesso a equipamentos públicos em decorrência de situações de violência.

1ª Semana de Saúde Mental da Maré: Rema Maré

A primeira edição da campanha Rema Maré foi um espaço de reflexão e ação em relação ao tema, com debates e intervenções artísticas voltados para moradores da Maré. A iniciativa entrará no calendário anual de atividades da Redes da Maré. Na programação, diferentes ações e atividades artísticas e culturais são desdobramentos do estudo “Construindo Pontes”. 

“Os projetos artísticos trazem as contradições e as complexidades da pesquisa. Por exemplo, ansiedade é um tema forte no Slam (poesia) de Maré, mas é difícil ouvir a voz dos jovens com tanta força na pesquisa. A fotografia dos moradores (projeto de Tatiana Altberg) trouxe uma perspectiva totalmente diferente, mas sempre em diálogo com os resultados da pesquisa. O projeto de música com os frequentadores das cenas de uso trouxe uma perspectiva totalmente diferente. Sem os projetos culturais, os moradores ficam objetos do estudo. Procura BECOS (o áudio drama feito pelos poetas) e vai ouvir uma outra perspectiva sobre saúde mental na Maré. Tudo é parte de nossa pesquisa”, esclarece Paul Heritage, diretor da People’s Palace Projects.

A  1ª Semana de Saúde Mental da Maré contou com intervenções musicais e teatrais, produção de mural de azulejos, registros fotográficos realizados por moradores da Maré, além de cineminha nos becos. Um dos destaques da semana foi o espetáculo “Becos”, uma imersão poética baseada em 10 movimentos sobre saúde mental. ‘’A peça é uma forma de comunicar o que tem que ser dito através da arte, que é ponte para falar sobre todos os pontos sensíveis que vivemos. É ela (a arte) a maior ferramenta de comunicação’’, comenta MC Martina, poeta de 23 anos e uma das atrizes que integra o elenco da montagem, junto com Thaís Ayomide, Thainá Iná, Rodrigo Souza, Matheus Araújo, Jonathan Panta, e  os produtores Rafael Rocha, Eduardo Campello e Cat Paskel.

Em um contexto onde tenta-se vencer o vírus, a bala e a fome, a peça  trouxe camadas mais profundas de reflexão sobre como estamos caminhando enquanto sociedade e comprova a urgência do debate sobre saúde mental da população das favelas e periferias brasileiras.

Paul Heritage, dramaturgo e diretor da People’s Palace Project, um dos líderes da pesquisa Construindo Pontes, à frente do elenco da performance Becos – Foto: Matheus Affonso


‘Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?’

Saiba mais sobre obstáculos de quem sonha levar a vida nos gramados

Maré de Notícias #128 – setembro de 2021

Por Hélio Euclides

A probabilidade de uma criança se tornar um profissional dos gramados é de apenas 1,5% (é o que aponta o artigo Jogadores de Futebol no Brasil, publicado em 2011 pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte), mas treinadores e coletivos de futebol nos territórios periféricos pelo país empenham-se para que esse número mude. 

Na Maré, um dos quatro clubes do território é o Real Maré, fundado há 21 anos com o objetivo de apresentar outras possibilidades aos jovens. “Queremos ver o menino que passou por nós, mesmo que não seja jogador profissional, se tornando um cidadão honesto. Tenho orgulho de cada um. Meu sentimento é de dever cumprido quando o garoto se torna um homem de caráter”, diz Sidnei Alves, presidente do clube.

Desde a sua criação, o Real Maré faz de tudo para superar os obstáculos financeiros e continuar a atender mais crianças. Apesar das diversidades, Sidnei reforça a importância da dedicação dos jovens. Ele ainda adverte sobre os perigos que rondam o mundo do futebol, como empresários que enganam jogadores inexperientes. 

O Real Maré recentemente passou por isso: atletas que foram jogar em um clube do interior de São Paulo viram as promessas feitas anteriormente não serem cumpridas. Agora Sidnei está mais atento, para que atletas como Lucas Junqueiras e Ismael Nilton, que foram em junho atuar em Portugal, aproveitem sem dores de cabeça sua passagem pelo clube Casa Pia Atlético.

A desigualdade dentro dos campos

A trajetória de um atleta no futebol é cheia de percalços e há poucas vagas. Segundo levantamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2018 havia 360.291 jogadores no país, sendo 88 mil profissionais (24,4%). Destes, apenas 11,6 mil tinham contratos ativos na temporada (ou 3,2% do total). A discrepância de números existe ainda na área financeira. O mesmo estudo da CBF mostrou que mais de 80% dos jogadores no Brasil ganham menos de R$ 1 mil de salário. Perto do topo dessa pirâmide se encontra apenas 1,77% dos atletas, com salários entre R$ 10 mil e R$ 50 mil (dados referentes aos profissionais do sexo masculino). Quando se pensa no futebol feminino, a conta ainda piora: só em 2019 os clubes de primeira divisão do Brasileirão foram obrigados a terem jogadoras.

A carreira em funil

Para cada jogador que chega ao topo há milhares que ficam pelo caminho, em um processo que se assemelha a um funil: quem passa, alcança o final esperado, ou seja, um clube de primeira divisão. Esse é o caso de João Gomes, volante do Flamengo, que despontou em uma escolinha da Praia de Ramos. 

A experiência estava na família, já que o tio de João é o ex-jogador Nivaldo João, o Godoy, hoje um dos coordenadores do Projeto Craque do Futuro. O menino começou na escolinha aos seis anos. “Ele aprendeu alguma coisa com o tio. Contudo, o mérito é todo dele, pois é um atleta muito responsável, aplicado e profissional demais. Acredito que ele vai longe na carreira”, exalta.

Para Godoy, todas as escolinhas são importantes, principalmente dentro das favelas, ocupando o tempo das crianças fora da escola, além de fazer um trabalho social. “Despontam muitos jogadores de favela. Temos o DG (Douglas Luiz), que jogou no Vasco e agora está na Europa; o grande amigo Léo (Oliveira) que jogou no Flamengo; o Dudu (Eduardo Francisco), que jogou no Cruzeiro. Todos os três, crias da Nova Holanda. A escolinha é a realização de sonhos de vários jogadores”, avalia, acrescentando que os governantes precisam olhar com carinho para as escolinhas de futebol. 

Falta de investimento impede que trabalho avance

Quem quer ser jogador profissional inicia a dura jornada em escolinhas que lutam contra a falta de investimentos e recursos – Foto: Matheus Affonso

Tanto Sidnei como Godoy ressaltam a importância do trabalho e a falta de investimentos. Edson da Silva, presidente e fundador da Associação Esportiva Beneficente Amigos da Maré (AEBAM) defende o apoio de instituições do território à escolinha, argumentando que ela só existe porque ele trabalha à noite para sustentar o projeto de dia. Para o funcionamento de sua sede, Edson reclama que faltam reformas estruturais, além de mesas e cadeiras – não há doações para o projeto. “É preciso avaliar os benefícios que o esporte traz para a vida das crianças. Trabalhamos além do futebol, com incentivo à educação”, resume.

O árbitro Alexandre Pichetti também é professor de uma escolinha de futebol. Ele acredita que o projeto social ajuda a criança a caminhar para o bem, mas tudo seria mais fácil se encontrasse apoio: “Quando será que os governantes vão abençoar os projetos sociais dentro das comunidades? Trabalho no projeto Uerê e do meu salário retiro um pouco para a continuidade da escolinha. Faço isso pois tenho amor por esse trabalho.” Ele diz que o grupo tem dificuldades em obter uniformes, calçados e alimentos.

Flávio Alves é professor de educação física e treinador nas horas vagas. Ele explica que o foco do projeto é preparar as crianças para testes em alguns clubes, além de alertá-las que a vida de um jogador de futebol não é só de vitórias: “O futebol tem quatro pilares sobre os quais se firma um jogador de futebol: físico, tático, psicológico e técnico. Eles não podem achar que jogam muito e que não precisam aprender mais nada.”

Flávio conta que se inspira num trabalho vitorioso realizado na Fiocruz. O projeto tinha como objetivo o protagonismo social, oferecendo jogos, vídeos e palestras, além de orientação profissional. Dali saíram médicos, engenheiros e atletas. “Conseguimos fazer uma mudança significativa. Queria trazer isso para a Maré, mas falta apoio. Hoje não há patrocínio e vivemos sem recursos”, conta.

No Campo da Paty, na Nova Holanda, os treinos acontecem às segundas, quartas e sextas – Foto: Matheus Affonso


Promessa de futuro apoio

A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) informou que será retomado em um futuro bem próximo o Rio em Forma, um projeto social que saía de dentro das vilas para atender a população. A SMEL quer encerrar 2022 com 300 núcleos do Rio em Forma, atendendo até 18 mil alunos.

Escolas de Futebol na Maré:

Vila do João – RJ Esportes

Local: Campo 2 Society Palace
Dias de Treino: segundas e quintas das  16h às 18h
Whatsapp: 21 964932118 
Facebook: [email protected]

Vila do Pinheiro – Rogimirim
Local: Campo da Toca
Dias de Treino: segunda a sexta das 16h às 20h
Whatsapp: 21 998048241

Nova Holanda –  Arte Brasil
Local: Campo da Paty
Dias de Treino: segunda, quartas e sextas, horário a definir
Whatsapp:  97317-3835

Escolinha de Futebol e Futsal da Nova Holanda
Local: Quadra da Nova Holanda / Campo da Paty
Dias de Treino: segunda a sexta às 18h
Whatsapp: 96653-8045

Conjunto Bento Ribeiro Dantas –  Escolinha B.R.D
Local: Quadra Fogo Cruzado
Dias de Treino: segundas, quartas e sextas das 17:30 às 19:30
Gênero: Masculino e Feminino
Whatsapp: 97423-5041

Conjunto Esperança –  Ameriquinha
Local: Campo 1
Dias de Treino: segunda a sexta das 14h às 16h
Telefone: 97611-0725
Whatsapp: 98473-9829

Salsa e Merengue –  União do Salsa
Local: Campo 2 Conjunto Esperança
Dias de Treino: segunda a sexta das 14h às 16h
Telefone: 98808-4510

Parque Ecológico –  Projeto Amigos do Salsa
Local: Campo Society Parque Ecológico
Dias de Treino: segunda a sexta das 15h às 19h
Telefone: 99794-6978

Baixa do Sapateiro  –  Real Maré
Dias de Treino: segunda a sexta das  8h às 11h e 15h às 19h
Whatsapp: 21 97906-9801

Rubens Vaz –  Escolinha de Futsal da Ams R.V
Local: Quadra da Rubens Vaz
Dias de Treino: segunda a sexta das 16h às 18h30

Marcílio Dias –  João de Barro
Local: Campo da Kelson
Dias de Treino: segundas, quartas e sextas das 17h às 19h
Telefone: 21 98725-1607

Baixa do Sapateiro  –  PH Esporte
Local: Campo Society Praça do 18
Dias de Treino: quartas e sextas das 15h às 19h 
Whatsapp: 97962-3330

Parque União
Local: Quadra Parque União
Dias de Treino: terça a sexta das 8h às 18h
Whatsapp: 97969-9490

Nova Maré 
Local: Vila Olímpica da Maré / Campo Baixa Do Sapateiro
Telefone: 3105-5086