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‘Vai fazer frio!’: temperatura no Rio cai e termômetros podem chegar a 11 graus nos próximos dias

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Por Amanda Pinheiro, em 27/07/2021 às 16h45

Editado por Edu Carvalho

Apesar do tempo firme com calor e sol, do jeito que muitos cariocas gostam desta terça-feira, os amantes do frio podem comemorar: tem frente fria chegando e a temporada de sopas, caldos, meias e toucas também. Isso porque a partir da madrugada desta quarta-feira (28), uma massa de ar frio vai chegar e, com ela, a temperatura cairá. 

No município do Rio de Janeiro, de acordo com o Alerta Rio e o Climatempo, pela manhã, o dia pode amanhecer com nebulosidade. À tarde, a previsão é de chuva fraca a moderada em alguns pontos. Os ventos, que costumam preocupar, também serão moderados, podendo ser fortes a qualquer momento do dia. 

Com essa mudança, haverá uma queda na temperatura, que poderá ter mínima de 15º graus celsius nesta quarta, com máxima de 22º e, na quinta-feira, dia 29, o termômetro vai chegar aos 11º graus, com máxima de 17º graus. 

Com tanta ‘friaca’, pode até nevar no estado, mais precisamente no Parque Nacional de Itatiaia. Análises meteorológicas apontam que a possibilidade de uma nevasca na Serra da Mantiqueira, onde fica a área protegida, é possível.

Proteção às pessoas em situação de rua

Com a chegada da frente fria mais forte nas regiões Sul e Sudeste, cabe sempre ressaltar de que as Secretarias Municipais de Assistência Social tem canal aberto para indicação de pessoas que estão em situação de rua e precisam de ajuda. No Rio, o telefone é 1764 ou 1746, também sendo possível acessar através do aplicativo 1746.

Secretaria de Trabalho e Renda divulga 427 oportunidades de emprego

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Por Redação, em 27/07/2021 às 10h23

A Secretaria de Estado de Trabalho e Renda (Setrab) divulga 427 oportunidades de trabalho para as regiões Metropolitana, Médio Paraíba, Serrana, Centro-Sul Fluminense e Costa Verde do Rio de Janeiro. As oportunidades são disponibilizadas, através do Sistema Nacional de Emprego (Sine), que realiza uma análise comparativa do perfil profissional de cada candidato cadastrado com o da vaga disponibilizada pela contratante. Por isso, é importante que o cadastro seja atualizado.  

Para se inscrever ou atualizar o cadastro, é necessário ir a uma unidade levando seus documentos de identificação civil, carteira de trabalho e comprovante de residência. 

Vagas por região 

O destaque desta semana está na oferta de 20 oportunidades de trabalho para a área de Construção Civil, em Angra dos Reis, na região Costa Verde. São vagas para pedreiro, servente de pedreiro, carpinteiro e ferreiro armador, tendo como pré-requisitos residir em Angra dos Reis e ter experiência na função, comprovada em carteira de trabalho, de no mínimo dois anos. Na região Metropolitana, são oferecidas 186 oportunidades. Entre elas, vagas para promotor de vendas, eletricista, açougueiro, gerente de loja, entre outras.  Moradores da região Serrana podem se candidatar a uma das 200 vagas oferecidas no local. Destacam-se 46 vagas para técnico de suporte de TI, 37 para vendedor porta a porta, 19 para programador de sistema de computador, entre outras. 

Na região do Médio Paraíba estão sendo oferecidas 18 vagas. Entre as opções, existem vagas para auxiliar administrativo, tecnólogo em análise de desenvolvimento de sistema, técnico de segurança do trabalho, entre outras.  Na região do Centro-Sul Fluminense estão sendo oferecidas três oportunidades para motorista de automóvel e motorista de caminhão, tendo como pré-requisito ensino médio completo.  ”Nesta semana, estão sendo oferecidas oportunidades em mais regiões do nosso Estado. Isso mostra que os nossos esforços estão trazendo resultados que se refletem na empregabilidade do cidadão fluminense”, – disse o secretário de Trabalho e Renda, Léo Vieira. 

Cadastro 

Para consultar as oportunidades e as informações sobre remuneração e exigências de cada função, o candidato deve ser cadastrado no programa Sine e realizar a consulta de maneira presencial em uma unidade da rede ou através dos canais digitais: empregabrasil.mte.gov.br ou aplicativo Sine Fácil. O cadastro também pode ser realizado através do envio do currículo para o e-mail [email protected]. Pelo mesmo canal é possível esclarecer dúvidas. Para concorrer às oportunidades exclusivas para pessoas com deficiência é preciso enviar o currículo para o e-mail [email protected] ou ir presencialmente até a unidade localizada na rua do Lavradio, nº 42 – Centro do Rio de Janeiro.

Era uma vez

Por Marcello Escorel, em 27/07/2021 às 10h10

“Ó rei! Estas lendas estão cheias de significado misterioso que somente os iniciados conhecem.” Sherazade 

Gosto muito de livros, mas muito mesmo. Tanto que um dos meus sonhos de consumo, que infelizmente ainda não realizei e nem sei se o farei, era poder reservar um aposento da casa só para eles. Estantes altas com escadinha acoplada para facilitar que os encontrasse quando desejasse.

 Nas diversas mudanças de casa que vivi, ao contrário, tive que me separar de vários ‘companheiros’ alguns dos quais ainda lembro com muitas saudades. Mas uma coleção de oito volumes me acompanhou em todas, desde a década de 60 e dela não consigo me desfazer: os “Contos e Lendas dos irmãos Grimm”.

Em verdade, esses contos não são de autoria dos irmãos Jacob e Wilhelm mas foram coletados por eles num trabalho cuidadoso de campo em todas as regiões rurais da Alemanha, passados oralmente de pais para filhos em um sem número de gerações. O exemplo dos irmãos floresceu e diversos estudiosos lhes seguiram o exemplo em várias nações do Ocidente compilando as estórias de suas nacionalidades a partir do início do século XIX.  Já no Oriente, mais introvertido e espiritualizado, múltiplas coletâneas já circulavam há séculos sendo a mais conhecida a das “Mil e uma noites”.

Registra-se a presença dos contos de fada em todas as culturas e em todas as partes da terra. Sua existência é tão antiga quanto a humanidade e sua persistência deve-se à tradição dos contadores que eram solicitados em ocasiões de festas para nos entreter ao redor das fogueiras, em pavilhões enfeitados ou sob luz da lua cheia. Sua perenidade não se deve apenas a sua capacidade de nos divertir, mas é, principalmente, resultado daquilo que compartilham com os mitos e os sonhos: a linguagem simbólica.

Uma característica comum a todos as narrativas é a sobreposição de dois mundos: o da realidade cotidiana comum e um mundo mágico onde existem animais que falam, bruxas, feiticeiros, gênios, gnomos, grifos, cavalos alados, centauros, objetos encantados, e muitas outras maravilhas. Os contos de fada tentam integrar estes dois universos que nada mais são que nossa consciência e o inconsciente coletivo, ativado para compensar nossas deficiências e nos levar à plenitude da vida. Essa função natural que nos arrasta para nosso centro obrigando-nos a assumir nosso destino e nosso propósito na vida, Jung chamou de “individuação”.

Quando a vida em nós se estanca, perde o colorido e nos vemos sem ânimo e perdidos é sinal de que perdemos contato com nosso mundo interior. Nestas horas em que nos encontramos num beco sem saída, quando já utilizamos todos os métodos e artifícios conhecidos da consciência para superar sem sucesso um impasse, é que os símbolos surgem para nos revelar um novo caminho.

Reparem como a grande parte dos heróis desses contos são figuras simplórias, pobres, subestimadas e até mesmo tolas. Isto porque personificam facetas de nós mesmos a que não damos valor ou que não desenvolvemos durante nossa vida.

Assim como os sonhos, os contos de fada agem de forma compensatória, sinalizando o quanto estamos estagnados numa visão de mundo e numa atuação que necessita de mudança para que nossa alma volte a florescer. Seu efeito é terapêutico. Na medicina hindu, por exemplo, existe um método de cura, para pessoas mentalmente desorientadas, que consiste em oferecer um conto de fadas com a problemática do paciente para que eles meditem sobre ele. Esses contos têm um valor curativo para a formação e configuração do mundo interior humano.

Outro exemplo vem de Hans Dieckmann, um terapeuta junguiano. Ele usa um método similar ao indiano quando se debruça sobre os contos favoritos de cada paciente para que sejam pormenorizadamente interpretados à luz da psicologia analítica. Os símbolos e a jornada das personagens acabam fornecendo “insights” (iluminações) que permitem aos analisandos entenderem a raiz de seus problemas e o caminho para se libertarem.

O triste é que estamos perdendo esse manancial de sabedoria arcaica. Na sociedade moderna não encontramos tempo para contar ou ouvir essas narrativas maravilhosas. Não há tempo para respirar na incansável luta do dia a dia. Os aparelhos eletrônicos e as mídias digitais ocupam cada vez mais as nossas horas despertas. Não existe pausa para a reflexão e vamos pouco a pouco enrijecendo nossas atitudes em padrões repetitivos e viciantes.

E o absurdo não para aí. Em nome de uma pretensa moralidade assistimos à amputação dos contos de fada de todos os seus elementos cruéis, violentos, escabrosos e horrendos com a desculpa de pouparem nossas crianças de qualquer temática mais sombria. O que é na verdade um erro crasso. As crianças, e por que não, os adultos, ficam mais atentos e alertas para o lado obscuro da vida e saem fortalecidos quando são convidados, ou mesmo intimados, a quebrarem as redomas de proteção que os impedem de assumir seus próprios riscos e seu destino.

Os contos de fada originais narram a vida de nossa alma, retratam os momentos de crise pelos quais passamos como seres humanos. A passagem da infância para o mundo adulto, a descoberta da sexualidade na puberdade, os conflitos da maturidade, a aceitação do crepúsculo da vida e tudo o que você consiga imaginar sobre as encruzilhadas da jornada da humanidade. A transformação dessas histórias em versões açucaradas desrespeita uma tradição milenar e lança uma pátina sobre o espelho que reflete tudo o que fomos, somos e seremos.

Era uma vez, e se Deus quiser assim sempre será.

Marcello Escorel é ator e diretor de teatro há mais de 40 anos. Paralelamente a sua carreira artística estuda de maneira autodidata, desde a adolescência, mitologia, história das religiões e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung

Doses para imunização em massa #VacinaMaré estão garantidas

Por Edu Carvalho, em 26/07/2021 ás 12h17

Editado por Tamyres Matos

Mesmo com o calendário de vacinação suspenso por falta de doses, as vacinas que serão aplicadas nos moradores da Maré durante a imunização em massa dos dias 29 de julho até 1º de agosto estão garantidas. 

‘’Para a Maré as vacinas são diretas da Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz]’’, disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, ao ser questionado pela equipe do Maré de Notícias. 

Cabe lembrar que para fazer parte da vacinação em massa, é preciso ter um cadastro em uma unidade de saúde da Maré. Caso a pessoa não tenha, será possível fazer o cadastro na unidade de saúde ou nas associações de moradores até amanhã (27 de julho) tendo em mãos um documento com foto ou o cartão do SUS + comprovante de residência. Caso tenha dúvidas, procure um agente de saúde comunitário. 

No último fim de semana, integrantes da ONG Redes da Maré, que lidera a iniciativa,  fizeram mobilização junto aos moradores que ainda não realizaram o pré-cadastro para poder se vacinar. A expectativa a partir da ação é vacinar cerca de 31 mil pessoas acima de 18 anos. 

Foto: Douglas Lopes


Após suspensão, aplicação de primeira dose de vacinas será retomada no Rio

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Expectativa é de chegada de 535 mil doses dos imunizantes até quarta

Por Edu Carvalho, em 26/07/2021 às 12h15. Atualizada às 17h47.

Editado por Tamyres Matos

Após suspensão causada pela falta de imunizantes, a aplicação da primeira dose contra a covid-19 será retomada nesta quarta-feira. A informação foi confirmada nas redes sociais da Prefeitura do Rio. “Com a previsão de chegada dos imunizantes, conseguimos reorganizar as datas para vacinar os adultos de 34 e 33 anos ainda esta semana, como previa o calendário inicial”, diz o texto publicado na página oficial do Facebook.

Calendário de vacinação publicado pela página oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro no Facebook | Foto: Reprodução da Internet
Calendário publicado pela página oficial da Prefeitura no Facebook | Foto: Reprodução da Internet

Desde a última sexta-feira (23), a capital do Rio de Janeiro estava com o calendário de vacinação contra o coronavírus suspenso. Por já ter aplicado todas as vacinas destinadas à primeira dose, ampliando com isso o número de vacinados, a cidade ficou sem quantidade necessária para aplicação da segunda fase do esquema vacinal. 

Nas redes sociais neste domingo (25), o prefeito do Rio Eduardo Paes cobrou rapidez na distribuição dos imunizantes. ‘’O senso de urgência do Ministério da Saúde chega a impressionar. Depois do dia todo cobrando a pauta de distribuição de parte das vacinas estocadas recebemos a previsão de entrega de pouca quantidade na terça 27 e a maior quantidade na quarta 28.  Estamos falando de vidas’’, publicou. 

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, também fez críticas à demora na entrega. ”Às 14,5 milhões de doses em estoque no Ministério da Saúde, seriam suficientes para imunizar o estado do Rio de Janeiro todo. 61 PESSOAS morrem por dia no estado por #COVID19 devido ainda não terem se vacinado. Nada pode ser mais urgente que esta distribuição!’’. 

Segundo o jornal O Globo, 535.804 doses devem ser entregues entre os dias 27 e 28 de julho ao Estado do Rio. 

Da intervenção federal na Segurança do Rio até a crise da pandemia: a presença dos militares no Brasil

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Uma panorama que remonta os últimos anos no Brasil e onde os militares estiveram em cada parte da História

Por Edu Carvalho, em 25/07/2021 às 00h. Editado por Tamyres Matos 

“Temos a convicção de que trilhamos um caminho difícil e incerto, mas cumprimos a missão”, afirmava com ênfase o general Walter Braga Netto, em uma cerimônia simbólica no dia 27 de dezembro de 2018, quatro dias antes da posse de Jair Messias Bolsonaro como presidente da República. Foi Braga Netto o escolhido para ser o interventor que responderia pela ocupação militar na gerência da Segurança do estado do Rio de Janeiro. 

A decisão tinha sido assinada 11 meses antes, após Michel Temer, então presidente, retirar das mãos do governador Luiz Fernando Pezão o comando sobre as polícias no Rio. A publicação no Diário Oficial foi feita na manhã do dia 16 de fevereiro, dois dias depois do fim do Carnaval, com registros de tensões que terminaram em arrastões e ataques nos blocos, em sua maioria, na Zona Sul do Rio. Parte da classe média residente dos bairros mais abastecidos cobrava, com urgência, uma posição enérgica que trouxesse paz. 

“Houve uma falha nos dois primeiros dias, e depois a gente reforçou aquele policiamento. Mas eu acho que houve um erro nosso”, disse o então governador Pezão sobre o período. Combalido por um câncer desde 2016, Pezão personificava o estado abatido do Rio, sob crise financeira e um regime de recuperação fiscal. 

Operações na Maré: a presença dos militares durante a intervenção | Foto: Douglas Lopes

Mas a presença dos militares na gestão na terra do Redentor não foi a primeira. Sob a narrativa de trazer tranquilidade e controlar a criminalidade, as Forças Armadas começaram atuar no Rio em 2014. O local? O Conjunto de Favelas da Maré, que abarca cerca de 16 favelas. Ao todo, são mais de 140 mil habitantes. 

A estadia foi feita conforme pedido do governador Sérgio Cabral, hoje preso por corrupção e lavagem de dinheiro. O período militar na ocupação militar na Maré durou de 5 de abril de 2014 e durou até 30 de junho de 2015, com custo de R$ 1,7 milhão por dia aos cofres públicos.

Uma pesquisa coordenada pela Redes da Maré, com parceria das instituições britânicas Queen Mary University of  London e a Newton Fundation, revelou a opinião dos moradores a respeito da ação. “A ideia é chamar a atenção, pois a ocupação que houve aqui foi  extremamente controversa, pois era algo que respondia a uma demanda de combater a violência e trazer segurança pública, mas o que se viu com a pesquisa foi justamente o contrário”, disse a coordenadora geral da pesquisa naquele ano, Eliana Sousa e Silva

De acordo com Lidiane Malanquini, integrante da pesquisa, os moradores consideravam as perguntas da pesquisa um lugar para falar sobre o que via. “Ao mesmo tempo em que estava dando uma entrevista, também considerava a pesquisa um espaço de desabafo, de como ele percebia isso e talvez não encontrasse esse espaço de fala em outros lugares”, afirma. 

“A presença dos militares no governo sempre ocorreu num grau moderado. Mas, por outro lado, temos uma tradição no Brasil de intervencionismo militar, em que em diversos episódios eles intervieram na política, se considerando tutores da sociedade. Mais grave do que a presença dos militares em governos, é essa tradição de intervencionismo por meio da força e contra a Constituição”, pontua o historiador Carlos Fico, historiador brasileiro e especialista em História do Brasil República, com ênfase em temas como ditadura militar. 

Rio: a mesma praça, o mesmo banco

Com cenário de terra arrasada, as Forças Armadas retornavam ao Rio, mesmo sem nunca ter saído, vistas com bons olhos.  Em pesquisa coordenada pelo DataFolha, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Observatório da Intervenção, em março de 2018, um mês depois do início dos trabalhos, foi aferido que 76% da população se mostrava favorável à medida. É curioso observar que 69% das pessoas que apoiavam a intervenção não tinham notado diferença alguma na segurança da cidade desde a instalação dos militares. No panorama geral, 92% da sociedade dizia sentir medo em ser ferida ou morta por uma bala perdida, ou de ficar no meio do fogo cruzado entre criminosos e polícia. 

‘’Dá pra governar com o auxílio das Forças Armadas tal como determina a Constituição e quando convocada pelo presidente da República’’, opina o ex-presidente Michel Temer, em entrevista ao Maré de Notícias.

Uma das que temia o aumento da violência, sobretudo nas favelas e periferias, era a vereadora do PSOL Marielle Franco. Cria da Maré e ativista pelos direitos humanos, Marielle havia sido nomeada como relatora da comissão na Câmara dos Vereadores do Rio para acompanhar o período militar naquele ano. Mas a vida da filha de Marinete Francisco e Antonio da Silva Neto, irmã de Anielle e mãe de Luyara, foi interrompida no dia 14 de março, a dois dias de completar o primeiro mês da intervenção, junto de seu motorista, Anderson Gomes. 

O episódio caiu como uma bomba no colo dos militares, marcando o período de ações. Apenas um ano depois, policiais da Divisão de Homicídios da Polícia Civil e promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro conseguiram prender o policial militar reformado Ronnie Lessa, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, acusados pelo crime. Mas até hoje a principal pergunta do caso não foi respondida: quem matou matar Marielle?

O legado 

Segundo dados do Observatório da Intervenção, criado à época pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, o CeSec, a atuação dos militares deixou como legado na área um crescimento de 57% nos tiroteios. Além disso, apenas 6% da verba destinada – cerca de R$ 72 milhões de reais – foi usada, sendo a maior parte, R$ 61 milhões, destinada às Forças Armadas.

Durante os 10 meses de intervenção, foram monitoradas 711 operações e 221 ações de patrulhamento, impactando 296 locais – na maioria, favelas. 6.041 pessoas morreram
de forma violenta no estado naquele ano, com redução de apenas 1,7% em relação aos
registros de 2017. O interior do estado teve uma escalada de mortes, terminando a intervenção com 1.648 óbitos, valor +15,8% maior do que o registrado no ano anterior. Das mortes violentas ocorridas no Rio durante a intervenção, 22,7% foram cometidas por policiais e militares.

Em entrevista ao Correio Braziliense no fim daquele ano, a cientista social e coordenadora do Observatório, Silvia Ramos, comentou que a marca dos 10 meses de intervenção foi uma continuidade do plano de segurança pública que aposta em táticas de guerra. ‘’O Rio já conhecia esse modelo bélico. Nós achamos que deveriam ser resolvidos com inteligência, investigação, operações que preservem a vida dos moradores e dos próprios policiais’’, disse.

Um dos símbolos da atuação foi a Vila Kennedy, uma das favelas mais populosas do Rio e escolhida como “laboratório”, segundo o próprio interventor Braga Netto. De acordo com o balanço final, durante o tempo em que os militares estiveram no território, foram presos 21 suspeitos, recuperados 840 motos e 790 carros roubados, e apreendida uma tonelada de droga. Moradores relataram à época que, bastavam os agentes de segurança virarem as costas, os traficantes botavam as barricadas de volta nas ruas. Para a ‘VK’, como é conhecida, cerca de 1,4 mil militares foram designados. O Cojunto de Favelas do Alemão e a Rocinha também receberam os militares em 2018 e em anos anteriores.

Tanque do Exército derruba barreiras colocadas por traficantes em rua da Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Forças Armadas realizaram mais uma operação no local, com 900 militares responsáveis pelo cerco, pela estabilização da área e pela desobstrução de vias — Foto: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Por seus trabalhos à frente da intervenção, Braga Netto e Richard Nunes, que atuou como secretário de Segurança, receberam nobres condecorações, como a Medalha Tiradentes, geralmente entregue a pessoas que prestaram relevantes serviços ao Estado.

A volta dos que nunca foram: militares e Bolsonaro

Não há como dissociar o governo de Jair Bolsonaro e a presença, em grande escala, de militares, sobretudo nos cargos de alto poder. Mas não é só na linha de frente que eles estão. De acordo com um levantamento recente feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a quantidade de militares da ativa e da reserva ocupando cargos civis no Governo Federal mais do que dobrou nos primeiros anos da gestão Bolsonaro. Em 2018, o número era de 2.765 militares em cargos civis no Executivo federal, já no ano seguinte, eram 3.515 cargos destinados a servidores oriundos da caserna. Em 2020, o total chegou a 6.157 no mês de julho, um aumento de 122%

Atuando como ministros diretos, somam-se nomes como tanto no passado como no presente de Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno, Fernando Azevedo e Silva, Tarcísio Gomes de Freitas, Wagner Rosário, Bento Albuquerque, Jorge Oliveira, Marcos Pontes Carlos Alberto dos Santos Cruz e um nome já conhecido no Rio: Walter Braga Netto.

Porém, a presença mais conturbada foi a do general Eduardo Pazuello, que, após responder interinamente pelo Ministério da Saúde por quatro meses, com a saída de Nelson Teich, foi chefe da pasta até março deste ano. Sob sua gestão, o agravamento da crise sanitária ocasionada pelo coronavírus, representada pelo colapso em Manaus, no início do ano. Como mais um ‘’laboratório’’ criado sob gestão de um militar, agora para imunidade de rebanho, a capital amazonense chegou a ficar sem oxigênio e insumos nos hospitais, com anuência do Ministério da Saúde. 

Manaus (Bruno Kelly/Reuters)

No lugar do general, hoje Secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, entrou o cardiologista Marcelo Queiroga.

CPI da Covid: fardados na mira

A ineficiência da gestão de Pazuello na Saúde ficou ainda mais perceptível com as investigações da CPI da Covid, que tramita no Senado Federal, deflagrando a omissão dos militares presentes na pasta. Um deles é Elcio Franco, que foi secretário-executivo do Ministério da Saúde durante sua gestão. Pesa sobre ele a importação da vacina indiana Covaxin, feita com contrato de R $1,6 bilhão de reais, suspenso somente depois de terem sido averiguadas suspeitas de ilegalidade. Mesmo com isso, Elcio ocupa o cargo de assessor especial da Casa Civil. 

A CPI, que neste momento está em recesso, também investiga a participação de pessoas oriundas do Exército em uma suposta negociação de 400 milhões de doses do imunizante produzido pelo laboratório britânico AstraZeneca e a empresa americana Davati, representada no Brasil pelo cabo da PM Luiz Paulo Dominghetti Pereira.

Democracia ameaçada: notas militares e a palavra ‘golpe’

“Fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo. Eu não tenho nem notícias disso na época da exceção. O Figueiredo morreu pobre, o Geisel morreu pobre. Agora a Força Aérea Brasileira, o coronel Guerra, coronel Pazuello… Membros militares das Forças Armadas”, disse o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz. Era o que faltava para o ar pesar. Com risco de penalização aos militares, as Forças Armadas aumentaram o nível de tensão no país. 

Horas após a fala durante a sessão, o Ministério da Defesa tratou de divulgar uma nota, rebatendo a declaração. “Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições pertencentes ao povo brasileiro e que gozam de elevada credibilidade junto à nossa sociedade conquistada ao longo dos séculos“, trazia o texto. 

Muitos analistas políticos viram o caso como o início de uma crise maior, mas não sabiam o que ainda estava por vir. Em entrevista ao O Globo, o comandante da Aeronáutica, Carlos Alberto Baptista Junior, em caráter intimidador, disse que a nota era um alerta. ‘’Nós não enviaremos 50 notas. É apenas essa’’, frisou. 

A fala reafirmou a iminência de um possível golpe, a partir do alinhamento do mais alto escalão das FAs com o governo Bolsonaro. Para Carlos Fico, não há chances de uma ruptura. ‘’São indicadores de uma fragilidade institucional. Eu não creio que haja ameaça propriamente de um golpe, até porque está sendo tão falado, tão comentado, e não só um golpe tradicional, mas como, eventualmente, Bolsonaro não consiga a reeleição, uma rebelião das polícias militares’’. Para ele, a circulação do tema pode atuar de maneira preventiva pela população. ‘’A sociedade vai se dando conta desses riscos constitucionais e vai criando sistemas de defesa para isso. Creio que a exposição pública de tantos erros e tantas ameaças acabam tendo efeito preventivo. Quem vai dar um golpe não fica dizendo: “eu vou dar um golpe amanhã”. Isso não existe’’, pontua.  

Já para o ex-presidente Michel Temer, a hierarquia e separação das entidades está baseada na Carta Magna do país. ‘’Ao que sei, fruto da minha experiência governamental, é que as Forças Armadas estarão sempre cumprindo os termos da Constituição Federal. Portanto, obedientes ao Estado Democrático de Direito’’, enfatizou o ex-presidente. 

Perguntado se acredita numa eventual diminuição da participação dos militares em cargos de comando em governos futuros, Temer foi direto. ”Depende de quem seja eleito”.

Braga Netto, um personagem ainda sobre o refletor

Segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo no dia 22, das repórteres Vera Rosa e Andreza Matais, no último dia 8, uma quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político. O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estaria acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

A publicação da matéria estremeceu Brasília, repercutindo em todas as três esferas de poder. Perguntado sobre o conteúdo da matéria, o ministro da Defesa disse que é uma “invenção”.

Na sexta, 23, o colunista do Metrópoles Guilherme Amado publicou que Braga Netto recebeu R$ 100,7 mil de salário líquido no mês passado. Questionado, o Ministério da Defesa afirmou que esses valores são uma parcela do 13º salário e pagamentos retroativos desde que o governo Bolsonaro liberou a remuneração acima do teto salarial no fim de abril.

O tema não termina aqui

Se você quer saber mais sobre a presença histórica dos militares na Segurança Pública e em outras âmbitos, vale ler dois livros que dialogam com o tema. O primeiro é da jornalista Gizele Martins, chamado ‘Militarização e censura: a luta por liberdade de expressão na favela da Maré’, publicado pela Editora NPC. Ela narra o período da ocupação do Exército na Maré nos anos de 2014 e 2015, enquanto profissional e também moradora do local. A obra está em fase de adaptação para o teatro.

A também jornalista e co-fundadora da Agência Pública, Natália Viana, acaba de publicar DANO COLATERAL: A intervenção dos militares na segurança pública”, pela Companhia das Letras. O pontapé inicial do livro é o domingo de 7 de abril de 2019, no qual militares do Exército dispararam mais de oitenta tiros contra o carro onde estavam o músico Evaldo Rosa e sua família. Evaldo morreu no local. O catador de recicláveis, Luciano Macedo, que tentou socorrer a família, também foi atingido e morreu no hospital dias depois.