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Um adeus à Seu Amaro

Por Hélio Euclides, em 06/07/2021 às 10h53

Editado por Edu Carvalho

Morreu na tarde de domingo (04/07), após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), a liderança comunitária e administrador da Vila Olímpica da Maré, Amaro Domingues, mais conhecido como Seu Amaro, aos 88 anos.

Nascido no interior do município de Campos. Em 1962, após uma remoção, veio morar na Nova Holanda, na antiga Rua Cinco, quando parte da favela ainda era formada por mangue. Seu Amaro nos últimos anos fazia tratamento para se curar de um mieloma múltiplo, um tipo de câncer.

Na sua vida teve como marco a fundação da Unimar (União das Associação de Moradores do Bairro da Maré), com outras lideranças. Depois desse passo, foi até Brasília reivindicar a criação da Vila Olímpica da Maré, em 1995. Foi idealizador do equipamento municipal e do Campus Educacional da Maré.

Em 1998, uma das reclamações era que ninguém dava emprego para morador da Maré. Então, por meio da Coopjovem Maré, que presidiu por oito anos, conseguiu uma parceria de serviço de limpeza com o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Além disso colaborou para a criação da Associação de Moradores da Nova Maré. Ele chegou a receber a medalha Pedro Ernesto e teve sua vida contada no livro Amaro da Maré, da escritora Regina Zappa. Seu Amaro deixa cinco filhos.

Para familiares, amigos e admiradores do trabalho do Seu Amaro, o velório será hoje (06/07), até 14h30, no ginásio da Vila Olímpica da Maré. Os funcionários do equipamento esportivo lembram que é importante o uso de máscara. O enterro será às 16h15 no Cemitério do Caju.

Covid-19: semana terá repescagem para quem perdeu a data de vacinação por idade

Por Redação, em 06/07/2021 ás 10h26

Os homens de 42 anos poderão se vacinar contra a Covid-19, nesta terça-feira (06/07), nos postos espalhados pela cidade. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que nesta primeira semana de julho haverá repescagem para quem perdeu a data de vacinação por idade. A pessoa poderá se imunizar até a próxima sexta-feira (09/07) no período da tarde, e durante a manhã de sábado 910/07).

Além disso, gestantes, puérperas e lactantes que ainda não foram vacinadas poderão comparecer ao postos nesta terça (06/07), na próxima sexta (09/07) e na quarta da semana que vem (14/07).

Quem vai receber a vacina deve apresentar identificação original com foto, número do CPF e, se possível, a caderneta de vacinação. Gestantes e puérperas devem apresentar laudo de avaliação dos riscos e benefícios emitido por seu médico, além da assinatura do termo de esclarecimento disponível em coronavirus.rio/vacina.

Lactantes precisam apresentar indicação do profissional de saúde que realiza o acompanhamento da criança.

Não é hora de escolher vacina

  Caça aos imunizantes dificulta ainda mais livramento de pandemia da covid-19

Por Edu Carvalho, em 06/07/2021 ás 0h25. Editado Daniele Moura.

Receio de reações, desinformações iniciadas pelo Presidente da República, uma enxurrada de notícias falsas – as chamadas fake news – além de preconceito em relação a outros países. Tudo isso (o que não é pouco) sob um país que ainda figura como o segundo com maior número de vítimas mortais pela covid-19, depois dos Estados Unidos, e o terceiro com mais casos, antecedido pelos norte-americanos e pela Índia. Até o momento, o país já registrou mais de 525.229 óbitos pelo coronavírus. É como se uma cidade como Niterói, Florianópolis ou Vitórria estivesse sido exterminada, ou seja sua população inteiramente morta.

Mas se ‘’tá pior, vai piorá’’, canta Alceu Valença. Não bastasse o cenário que ainda vitima pouco mais de mil e quinhentas pessoas pelo vírus por dia no segundo ano da pandemia, a vacinação ganhou uma espécie de “sommeliers” de vacinas, aquelas pessoas que escolhem qual imunizante quer tomar. Cidadãos espalhados pelos 26 estados e o Distrito Federal que vem se colocando como aqueles profissionais especializados em vinhos, dificultando o livramento da pior crise sanitária do século.  São 77.487.380 pessoas que já receberam a primeira dose de vacina contra a covid-19, segundo dados divulgados até às 20h de ontem, (05/07). O número representa 36,59% da população brasileira. Já com a segunda dose, os imunizados correspondem a 12,92% dos brasileiros.

Sommeliers de vacinas

Como trouxe Ana Lúcia Azevedo em matéria especial na Revista Época, o início da pinimba se deu pela eficácia em estudos clínicos de fase 3, a última antes da autorização para uso da população. Esses testes mostraram eficácia de 95% para a Pfizer; 72% a 90% para a Janssen (recém incorporada ao quadro vacinal brasileiro); 76% a 82% AstraZeneca; 51%, CoronaVac.

De março a maio, integrantes do Maré de Notícias participaram de uma especialização pelo Centro Knight, em parceria com a UNESCO, PNUD e Organização Mundial da Saúde e co-financiado pela União Europeia. Em “Cobertura da vacina para COVID-19: O que os jornalistas precisam de saber“, os jornalistas puderam entender que as taxas das vacinas não podem ser comparáveis porque os estudos de fase 3 são feitos com metodologias distintas (duração, escolha do tipo de placebo e dos grupos vacinados e de controle, por exemplo) e, sobretudo, países diferentes. Logo, podem oscilar de um para o outro, mas com base nos resultados finais e com aval de órgãos de saúde reconhecidos, podem ser administrados. No resumo: não adianta comparar. Eficácia, que é medida nos estudos clínicos de fase 3 e diz respeito à estimativa de proteção individual, e efetividade, quando as vacinas já estão em adoção, parecem mas não são a mesma coisa. ‘’As vacinas vão ter diferenças em relação aos diferentes grupos. O importante é a gente compreender que todas as vacinas aprovadas pela Anvisa são seguras, eficazes, e o que conta é a gente ter uma velocidade rápida e conseguir atingir muitas pessoas, para impactar a transmissão’’, resume Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo,  epidemiologista pesquisadora do CNPq e presidente da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose.

Em junho, uma das matérias mais lidas do Maré de Notícias em contexto territorial e nacional foi sobre uma plataforma que unifica dados e análises sobre a vacinação no Brasil, além de informar, por geolocalização, os postos válidos para imunização. Com o título ‘Onde Tem Vacina?’, o intuito da reportagem era mitigar a falta de informação sobre a campanha de vacinação para covid-19 no Brasil. 

O mês também foi o que mais registrou, nas redes sociais e grupos de mensagens, uma ‘caça’ às vacinas (seja por faixa etária, comorbidade ou mulheres gestantes e puérperas). A luta era para achar postos que aplicassem, para alguns, só a Pfizer e Astrazeneca, deixando de lado a CoronaVac. 

Em grupos de Whatsapp, pessoas acumulam trocas de mensagens para saber onde tem a vacina Pfizer/BioNTech

‘’Nosso projeto não foi feito com essa intenção. Não suportamos a escolha de vacinas sem um motivo e apoiamos o Plano Nacional de Imunização, o PNI. Mas entendemos que as pessoas têm o direito a essa informação [saber quais são as vacinas disponíveis em casa posto]. Cabe a cada um decidir como usá-la’’, diz Marcos Bonfim, criador da iniciativa, que acaba de registrar mais de 400 mil acessos, grande parte nas duas últimas semanas, que tem como slogan ‘vacina boa é vacina no braço’. 

Em artigo publicado pela Folha de São Paulo no último domingo (04/07), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, alerta que há um ‘Flá X Flu vacinal’, sobretudo em relação ao imunizante produzido pela entidade, vinculado ao governo paulista em parceria com o laboratório chinês SinoVac. ‘’Estamos presenciando uma ação para desconstruir a vacina que tem o brilho de ter sido a primeira no Brasil e que foi responsável por toda a fase inicial do Programa Nacional de Imunização. Na pior fase da pandemia, as pessoas mais vulneráveis e que acumulavam os piores índices de internação e óbitos foram protegidas’’.

Cabe lembrar que a CoronaVac foi a primeira vacina adotada em território brasileiro, após receber autorização emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou seu uso emergencial.

Maré e Manguinhos são exemplo de imunização

De acordo com Boletim Conexão Saúde – De Olho No Corona, que apresenta dados dos casos, óbitos e vacinação na Maré e Manguinhos, a partir de fontes oficias mas também com informações de testagem , atendimentos em Telessaúde e do Programa de Isolamento Domiciliar Seguro, com o aumento da vacinação nos territórios, diminuíram as mortes pela doença. Ao mesmo tempo, o Maré e Manguinhos registraram um aumento significativo do numero de casos. 

A Maré tem no momento 26,2% da população imunizada com a primeira dose e 6,5% da população imunizada com a segunda dose ou com a dose única da vacina.

Vacinou? Os cuidados continuam!

Desde o primeiro momento, especialistas alertam: vacinar-se não é a única ação que derrota, de uma vez, a pandemia. No conjunto da obra, pesam as duas doses completas do imunizante, (com excessão da Jassen que é dose única), ritmo e plano geral de imunização em massa, além do já conhecido distanciamento social e higiene, como a lavagem das mãos.  ‘’Algumas pessoas pensam na vacina individualmente, mas a proteção depende do coletivo. Numa circulação de vírus elevadíssima como a do Brasil, todos estão em risco. Pensar no coletivo também é pensar na segurança individual’’, disse Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), à Ana Lucia Azevedo, na Época

Já para a pesquisadora Ethel, um dos pontos chaves é a realização de testes, a ser implementado de maneira efetiva no pais. ‘’Até hoje o Brasil não tem [programa de testagem em massa]. Precisamos propiciar que a pessoa consiga fazer, por exemplo, testes num terminal rodoviário, na estação de metrô, em locais de passagem onde tem muitas pessoas, para que seja possível encontrar pessoas positivas que nem podem saber que são ou porque estão assintomáticas ou por têm poucos sintomas’’.  Outro ponto enfatizado pela epidemiologista é a continuação do Auxílio Emergencial, para que a população em vulnerabilidade possa continuar medidas de proteção, como ‘’usarem máscara, fazer distanciamento físico, evitar aglomeração, ficar em ambientes arejados, ações que estão no nível do indivíduo’’. 

Sobre o Auxílio, o Governo Federal anunciou ontem, segunda-feira (5/07), a prorrogação do benefício por mais três meses. O pagamento acabaria em julho e, com a prorrogação, também será pago em agosto, setembro e outubro. Segundo a Secretaria-Geral da Presidência, o decreto de prorrogação já foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e será publicado nesta terça (6/07).

Rio de Janeiro em queda em internações a partir da vacinação acelerada 

‘’Para que as vacinas realmente funcionem em uma sociedade é necessária a adesão de todos, se estiver elegível projeta sua saúde e a saúde da sua comunidade, as vacinas funcionam, mas seus efeitos dependem da adesão de todos’’, sinaliza Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro. 

A capital fluminense vem registrando queda no número de pessoas internadas em leitos de UTI Covid. Em relação aos últimos dois domingos, houve queda de 304 internações, o que pode ser visto como efeito da vacinação, que está acelerada – vacinam-se a partir desta semana até a próxima indivíduos de 42 a 37 anos. 

No último sábado (03/7), a Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que, após uma verificação dos dados de todos os 756 casos de vacinação com suspeita de aplicação de doses fora da validade, constatou que nenhuma de suas unidades aplicou doses vencidas.

O comunicado foi feito nas redes sociais da Secretaria, que desde a tarde de sexta-feira (02/7) vem recebendo mensagens sobre vacinas que poderiam ter passado da validade, como publicou a Folha de São Paulo, que identificou pelo menos 26 mil doses vencidas de oito lotes da vacina AstraZeneca aplicadas em diversos postos de saúde do país até 19 de junho. A campeã no uso de vacinas vencidas é Maringá, que aplicou em 3.536 pessoas uma dose da AstraZeneca fora da validade.

Uma universidade à deriva

Universidade Federal do Rio de Janeiro, próxima à Maré, pode suspender atividades em outubro

Maré de Notícias #126 – julho de 2021

Por Edu Carvalho

Não é a primeira vez nem será a última que você lerá sobre cortes de verbas das universidades públicas do país. Mas agora o estrago pode ser maior. Os recursos disponíveis em 2021 encolheram 37% nos últimos 11 anos, já corrigidos pela inflação. Houve um corte de 18,16% no orçamento de todas as 69 universidades federais, o que poderá afetar o andamento de mais de 70 mil pesquisas e o funcionamento das unidades de ensino, pesquisa e atendimento ao público.

 Por conta dos orçamentos reduzidos de áreas essenciais como saúde e educação, reitores de 30 das 69 universidades públicas alertaram que não conseguiriam chegar ao fim do ano com verba suficiente para suprir os chamados gastos discricionários, que são as despesas correntes como água, luz, segurança, limpeza e manutenção de espaços e equipamentos, além da compra de insumos para pesquisas e o pagamento das  bolsas para alunos de mestrado e doutorado.


Vizinha da Maré

Uma das instituições de ensino que pode suspender suas atividades é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com a maior parte de suas unidades instaladas na cidade universitária na Ilha do Fundão, vizinha à Maré, ela foi considerada mais uma vez a melhor instituição de ensino superior do país, segundo o ranking global QS World University Rankings 2022. A UFRJ não se resume às suas faculdades: estão sob sua direção o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/HUCFF (onde muitos mareenses são atendidos e tratados inclusive de covid-19) e outras nove unidades de saúde, além de um parque tecnológico, bibliotecas, laboratórios e museus – incluindo o Museu Nacional, a instituição científica mais antiga do Brasil, hoje em processo de reconstrução depois do incêndio que o destruiu em 2018.

‘’A situação é muito grave. Eles desbloquearam uma parte do orçamento, o que garantirá nosso funcionamento até setembro. Hoje nós temos verba para pagar luz, água, contrato de terceirizados e seguranças, o que é fundamental para a continuidade do funcionamento da universidade. Quando a gente pensa que o Ministério da Ciência e Tecnologia não está com orçamento para os laboratórios de pesquisa, a situação é ainda mais grave’’ diz a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho em entrevista exclusiva ao Maré de Notícias.

Denise Pires de Carvalho reitora da UFRJ

Denise enfatiza que, mesmo com as atividades remotas na graduação e pós-graduação, a universidade só conseguiu economizar em suas contas 20% com a pandemia. O restante foi gasto com os laboratórios de pesquisa, que não puderam parar. ‘’A UFRJ tem uma vacina prestes a entrar em testes clínicos, sem que tenhamos tido verba para isso. Olha como a universidade se reinventou. Ninguém estudava esse coronavírus, e hoje somos uma das instituições que mais registra avanços em pesquisas sobre o vírus no mundo. Isso tudo a gente faz, mas precisamos de recursos. Esses laboratórios gastam água, luz, precisam de investimento’’. 

A universidade montou uma estrutura para dar assistência aos alunos, permitindo a continuidade dos estudos e evitando a evasão. Um plano com auxílio emergencial foi traçado em 2020 para estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, incluindo disponibilizar 12 mil chips com internet e verbas para dispositivos como celulares. ‘’Esses alunos se dedicaram muito para conseguir uma vaga na UFRJ, e nós queremos que eles terminem o curso. O ensino superior causa mobilidade social, diminui a desigualdade’’, avalia a reitora. 

Para dar conta de funcionar com muito menos verba que o necessário, a Reitoria teve de remanejar os gastos para não causar o corte de bolsas, seja retirando o dinheiro dos contratos para limpeza ou diminuindo a frequência da manutenção dos jardins e canteiros. ”A grama está sendo cortada com menos frequência e o mato está subindo um pouco mais – tudo isso para que a gente possa garantir a continuidade dos alunos. Nossa equipe quer manter a assistência estudantil, pelo menos no patamar de 2020. Mais uma vez, são estudantes que estão de parabéns e a gente quer contribuir para que eles terminem seus estudos’, diz Denise.

Segundo ela, um alívio nas contas se dá através do repasse, para o HUCFF, de recursos via Ministério da Saúde, que desde o início da pandemia sustenta a contratação de pessoal. Denise revela que a verba resolve a questão da falta de pessoal (um dos grandes gargalos da universidade; o segundo está relacionado à compra de insumos).

Hoje, o HUCFF aumentou sua capacidade para quase 340 leitos por conta da pandemia, e a intenção é chegar a 400 leitos – a ampliação, porém, não está garantida. “Se o Ministério da Saúde deixar de pagar o pessoal (especificamente aqueles contratados por conta da covid-19), depois da pandemia teremos que fechar leitos pois não teremos verba para manter esse pessoal. Somos uma autarquia federal, não podemos ter contratos através de mais de um ministério. Para manter os leitos e esse pessoal, vamos precisar encontrar outra solução.”

UFRJ Cidadã

Em relação à despoluição da Baía de Guanabara, que de certa forma impacta a Maré, Denise se mostra otimista. Em 2020, deveria ter acontecido o lançamento do programa UFRJ Cidadã, com o envolvimento de toda a comunidade do entorno na limpeza da areia e programas educativos para evitar o descarte de plásticos e materiais não recicláveis no mar. ‘’Tudo isso estava previsto em uma ação do Fórum Ambiental da universidade, da Prefeitura Universitária e da Reitoria. Nós só conseguimos, de forma tímida, lançar junto à Associação de Pescadores o programa de limpeza do mar’’, diz ela. 

Há iniciativas aguardando o controle da pandemia para serem implementadas. ‘’Meu sonho é que, até o término do mandato, a UFRJ possa ser um grande centro de conscientização sobre a importância do meio ambiente e de como nós, seres humanos, podemos impactá-lo o mínimo possível. Estou confiante de que essa pandemia vai passar. Sem dúvida, precisamos de todos da região, sobretudo os jovens, para conscientizarmos os seus filhos e as futuras gerações sobre a importância de reduzir lixo, reciclar e educar’’. 

O Hospital Clementino Fraga Filho, gerido pela universidade, é referência para o atendimento dos mareenses – Foto: Ana Marina Coutinho

Maré de Notícias e UFRJ juntas em podcast

A pandemia impactou de forma diferente as favelas e periferias no Brasil, e como jornal comunitário e periférico que é, o Maré de Notícias teve grande responsabilidade na divulgação de notícias que pudessem mitigar as enormes consequências sentidas em territórios periféricos. 

Durante os primeiros seis meses de 2020, publicamos a Ronda Coronavírus no site, um espaço dedicado aos dados da covid-19 na Maré, na cidade e os seus impactos. Em novembro, ela se tornou semanal e virou a Ronda Maré de Notícias, ampliada com assuntos culturais, econômicos, políticos e sociais. E agora, esse conteúdo pode ser ouvido, através de uma parceria com o Conexão UFRJ, que produz podcasts.  ‘’A ideia surgiu da necessidade de dialogar com a comunicação que é produzida fora da universidade. A UFRJ tem centenas de projetos de extensão na Maré e estamos próximos fisicamente, então começamos a buscar veículos estruturados e que fazem jornalismo que quisessem partilhar conosco sua rotina produtiva’’, conta Vanessa Almeida, diretora de conteúdo da Coordenadoria de Comunicação da universidade.

Para Vanessa, é importante que o conhecimento produzido dentro da Academia chegue até a favela, possibilitando diálogos com quem faz parte de coletivos comunitários de comunicação. A universidade coloca-se como ator para construir novas pontes com outras entidades e instituições presentes na região e em todo o Rio. ‘’Pode ser que nós, que temos acesso direto a várias fontes, tenhamos também algo a contribuir com o Maré de Notícias. O objetivo é que seja sempre uma via dupla de construção de conhecimento’’. Todos os episódios estão no site do Maré Online e também no Spotify.

“A gente quer comida, diversão e lazer”

Campos de futebol, praças e parquinhos sofrem com falta de manutenção na Maré

Maré de Notícias #126 – julho de 2021

Por Hélio Euclides

A Constituição Cidadã de 1988, em seu artigo 6º, assegura o direito ao lazer para todos os cidadãos brasileiros, enquanto o artigo 217º menciona que o poder público incentivará o lazer como forma de promoção social. Porém, andando por praças nas favelas, é comum ver balanços sem as cadeirinhas, escorregas sem degraus e gangorras com madeiras quebradas. São brinquedos que ficam ao relento, expostos ao  sol e à chuva e, por isso, precisam de manutenção constante – algo que não ocorre em todas as áreas da cidade.

Dandaiana de Freitas mora em frente ao parquinho da ciclovia do Conjuntos Pinheiros, na Maré, alvo de promessas de uma grande obra de recuperação. É nessa pracinha que ela leva sua filha de quatro anos para brincar. “Pena que está abandonada. A última vez que o lugar recebeu brinquedos novos foi há mais de quatro anos. Desde então, há bastante lixo espalhado, brinquedos quebrados, lâmpadas queimadas e muitos espaços inutilizados”, desabafa. 

Ela e o marido botaram a mão na massa para melhorar as condições do parquinho. Onde não tinha mais balanço, utilizaram cordas novas e pneu para fazer um novo. “É um ambiente muito bom para as crianças brincarem porque é espaçoso e fechado. Mas a Prefeitura não manda nem limpar. Na minha opinião, é preciso reconstruir mesmo. Dá para colocar mais brinquedos e fazer uma jardinagem. Tudo bem elaborado”, conta. Dandaiana e outros frequentadores varrem o lugar para diminuir a quantidade de folhas e de lixo.

Apesar da degradação, o ambiente reúne famílias e acabou virando um lugar onde as mães se encontram e se tornam amigas. Dandaiana conheceu no local Gracinete Souza, moradora da Vila do João, que também tem uma filha de quatro anos. A pequena brinca no espaço desde quando tinha seis meses de vida. “Todas as crianças adoram o parquinho, porque é um bom espaço, dá para correr e aprender a andar de bicicleta, skate e patinete. Hoje o que vejo é balanço, gangorra e escorrega quebrados. Nossas crianças merecem uma praça decente, com mais brinquedos”, reivindica.

Outra coisa de que Gracinete reclama é a presença de lixo. Ela cortou o dedo em um dos mutirões de limpeza do espaço. “Nunca vi uma boa limpeza. Deveria ter lixeiras no local. Em meio a pandemia, eu e mais duas mães varremos a área. O grande perigo é que tem muitas garrafas quebradas. Nós precisamos de uma área de lazer limpa para os pequenos poderem curtir a infância”.

 Há 23 anos, a Escolinha do Mário funciona no campo de futebol localizado na ciclovia do Conjunto Pinheiros. São 250 crianças, de cinco a 12 anos, que se encontram nas tardes das terças e quintas e nas manhãs de sábados para aprenderem futebol. “Eu colocaria o dobro de crianças se o campo estivesse melhor. É preciso reformar alambrado, baliza, além de melhorar a coleta de lixo e a limpeza do valão, para diminuir o cheiro ruim. No campo de barro colocamos areia nos buracos para amenizar os desníveis”, denuncia Mário Alves, professor e treinador de futebol.

Favelas diferentes, problemas semelhantes

Do outro lado da Maré, em Marcílio Dias, os dois parquinhos da favela estão com brinquedos quebrados. As áreas precisam ser revitalizadas, tanto na praça da entrada da comunidade quanto na que fica próximo ao campo de futebol, que está com o alambrado caindo. Adriane Gerônimo, moradora de Marcílio Dias, tem uma filha que utiliza os brinquedos das praças na favela. Para ela, as pracinhas seriam melhores se a Prefeitura fizesse sempre manutenção e os moradores conservassem o espaço. 

Muitos moradores têm no futebol a única atividade de lazer na favela. E é no campo onde estão muitos dos problemas de manutenção, como os postes dos refletores, que estão rachados e com ferros expostos, podendo causar acidentes sérios. “Faz oito anos que foram colocados, sem reforma. O alambrado eu fiz remendo, mas já não adianta, a ferrugem tomou conta”, revela José Carlos, responsável pela administração do campo de futebol local. Para amenizar a situação, ele construiu os vestiários sem a ajuda dos órgãos competentes. Mesmo com todo o esforço, quando chove fica impossível jogar, pois falta o nivelamento e não há drenagem adequada. 

A situação precária dos balanços que ficam amarrados para não machucarem as crianças – Foto: Matheus Affonso

Preservar e ampliar o lazer no território

Carlos Alberto, mais conhecido como Carlinhos, gerente executivo local da 30ª Região Administrativa, avalia que há poucas áreas de lazer na Maré. “Falta balanço, gangorra, escorrega, pois lazer não é só campo de futebol. Como pode em Rubens Vaz não ter uma praça, ou no Parque União ter apenas um pequeno espaço de lazer? A Maré precisa também de mais academia para idosos”. 

Entre campos de futebol, quadras, praças e parquinhos, são 41 equipamentos de lazer na Maré. ”Seja na Zona Sul ou aqui na Maré, as áreas de lazer se deterioram, mas não se pode dizer que o povo destrói: é o uso. O problema é que lá se reforma de um dia para o outro e aqui, não”, conclui. O gerente deve buscar parcerias com instituições e associações de moradores para achar soluções, como aconteceu em Bento Ribeiro Dantas. O local, que era ponto de descarte de lixo, se transformou em uma pracinha com brinquedos por meio de uma parceria com uma empresa de contêineres. Isso pode acontecer na revitalização do Parque Ecológico, obra que Carlinhos afirma ser prioridade.

Lazer é direito de todos

Segundo a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), há sempre planejamento e execução de serviços de revitalização e reparo em brinquedos e mobiliário urbano nas praças e espaços de lazer da cidade. Em relação especificamente à Maré, este ano a companhia fez a revitalização na Praça da Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, no campo de futebol que fica na Rua Celso de Maia Fonseca, no Conjunto Esperança, e no campo de futebol localizado na Via B-Nove, na Vila dos Pinheiros. Pelo cronograma, acontecerão algumas intervenções da Comlurb em outros espaços de lazer na Maré, mas não foi divulgado o prazo para que isso aconteça. A empresa também ressalta que os garis comunitários realizam regularmente a limpeza em todas as praças da região.

A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer esclareceu que não tem o mapeamento dos equipamentos esportivos da Maré, mas garantiu saber que existem diversos projetos em muitas das comunidades da Maré. A Secretaria Municipal de Urbanismo e Cartografia do Instituto Pereira Passos informou não ter um mapeamento específico sobre os equipamentos de lazer da Maré.

A Secretaria Especial da Juventude Carioca (JUVRio) declarou que mantém projetos como o Favela Inova, o Fala Juventude e o curso “Promover para Prevenir”; além disso, deve divulgar em breve um novo programa. A Secretaria Municipal de Cultura informou que há mais de R$ 54 milhões no orçamento para projetos culturais, sendo que os patrocínios acima de R$ 500 mil terão, pela primeira vez, que reservar 20% de vagas para projetos do subúrbio. 

Em Marcílio Dias a praça foi tomada por carros. Moradores utilizam o espaço para estacionar veículos, impedindo o uso – Foto: Matheus Affonso