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Liminar do TRT-RJ suspende leilão de privatização da Cedae

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Negociação estava prevista para acontecer na sexta, dia 30

Por Redação, em 26/04/2021 ás 13h20

Os sindicatos que representam os trabalhadores da Cedae, representados pelo advogado Marcus Neves, conseguiram por meio de uma liminar no TRT-Rio a suspensão do leilão de privatização da Cedae. Segundo informações da coluna Ancelmo Gois e da jornalista Ana Claúdia Guimarães, no jornal O Globo, a decisão se baseia, segundo o advogado, “nos efeitos danosos da demissão de mais de quatro mil  trabalhadores da Cedae anunciados  pelo governo do estado, sem um estudo circunstanciado dos efeitos sócio-econômicos desta demissão em massa no estado do Rio”.

– Os funcionários ficarão desempregados sem nenhum plano de contingência. Ninguém discute a privatização que o governo quer fazer, mas o esvaziamento da companhia com a demissão de 80% dos funcionários.

De olho no Transporte: sumiço de ônibus no Rio vive um dos seus piores momentos na pandemia

Por Luize Sampaio – Casa Fluminense, em 26/04/2021 ás 11h10

A segunda edição do relatório De Olho no Transporte mostra que na cidade do Rio, em março, apenas metade da frota de ônibus disponível atendeu à população. Após o primeiro ano de pandemia, no último mês, dos 7.977 veículos do efetivo determinado, só 3.208 foram para as ruas na primeira semana de março, apenas 40,2% do que a lei obriga. O monitoramento, que contempla também o BRT, mostrou que as empresas de ônibus seguem desrespeitando as normas firmadas com a prefeitura. Para o coordenador executivo da Casa, Vitor Mihessen, os dados ajudam a comprovar aquilo que a população vivencia diariamente nas ruas. 

“O que a gente percebe por toda Região Metropolitana é um caos geral na mobilidade. Nesse momento em que os passageiros precisam mais do que nunca de um transporte vazio e seguro, o que tem sido visto repetidas vezes é a superlotação e o sumiço das linhas. Essa falta de gestão e controle aumenta ainda mais o risco do contágio pelo novo coronavírus. O relatório ajuda a denunciar essa situação e apontar caminhos”, afirmou o coordenador.

O relatório De Olho no Transporte foi produzido através do monitoramento dos GPS das linhas de ônibus da cidade do Rio de Janeiro, onde 2 milhões de moradores e moradoras de toda a Região metropolitana se deslocavam para o Rio diariamente antes da pandemia. Para a pesquisa, a coordenação de informação da Casa observou a circulação diária das frotas de março de 2020 até março de 2021 e o que chamou atenção da equipe foi a piora na oferta de ônibus neste ano, houve uma diminuição de 15 pontos percentuais. O relatório aponta também que o problema da lotação é anterior à crise sanitária, porém, se tornou ainda mais perigoso para o passageiro agora. Entre as regiões mais atingidas está a Zona Oeste do Rio, que é atendida pelo consórcio Santa Cruz.

Preço alto pago a cada viagem

Por mais que a recomendação fosse, e continua sendo, ficar em casa, muitas pessoas precisam sair. Esse é o caso da operadora de telemarketing, Gianni Oliveira, de 27 anos. A moradora de Santa Cruz trabalha atualmente no centro da cidade e já desistiu de ir de ônibus por conta do tempo que perdia no ponto. O BRT também deixou de ser uma opção, segundo ela é muito difícil conseguir entrar no veículo. 

“As linhas aqui sempre foram ruins, mas ficaram piores. Não dá para contar com um ônibus que aparece só de vez em quando. Tem uma linha (388) que me deixaria na rua do meu trabalho, mas ela nunca aparece. Atualmente prefiro ir de trem, assim economizo uma hora de viagem”, explicou Gianni.

Outro grupo essencial que não parou foram os motoristas de ônibus que no auge da pandemia, no início deste ano,  tiveram um aumento de 62% no número de mortes em relação ao mesmo período em 2020. Os trabalhadores do transporte público também vêm sofrendo com as demissões, o número de pessoal ocupado nas concessionárias cariocas  caiu  23% (de 25.766  para  19.631) de 2019 para 2020, são menos 6.135 pessoas empregadas no modal.

Sequência de falhas e/ou lições durante a pandemia

No ano passado, a primeira edição do De Olho no Transporte já mostrava que houve uma queda na oferta de ônibus. As medidas tomadas pela última gestão, no início do lockdown, corroboraram para isso ao permitir uma redução de 40% da frota. O resultado foi o agravamento da superlotação no modal. A prefeitura então voltou atrás e exigiu, ainda em março de 2020, a volta de 80% dos ônibus. Sem mudança no cenário e com o aumento significativo de casos de COVID-19, em junho, a Secretaria Municipal de Transportes em uma outra nova ação determinou através da resolução 3296 que as linhas regulares de ônibus, incluindo o sistema BRT, deveriam operar com 100% da frota. Mas, segundo dados da Casa, 12 meses após, o número de veículos em circulação na cidade segue inferior ao observado em março de 2020. 

Fonte: Casa Fluminense a partir dos dados da SMTR do Rio de Janeiro.

Uma nova lógica para o transporte público

Bom, barato, seguro e limpo são esses os quatro principais pontos defendidos pela Casa Fluminense quando o assunto é mobilidade urbana. Desde o ano passado, a organização já vinha mostrando como a pandemia expôs as falhas nos contratos licitatórios, o que ampliou os problemas do transporte público.

Atualmente, a lógica de receita gira em torno da tarifa paga pelos passageiros. Quanto mais pessoas transportadas por veículo, mais as concessionárias lucram. Por isso, podemos dizer que a superlotação é economicamente vantajosa para esses grupos. Com a crise do coronavírus e a necessidade de isolamento social essa lógica perdeu sentido, as empresas passaram a lucrar menos e o debate sobre outras fontes de receita voltou a ganhar força.

Neste sentido, o De Olho no Transporte 2 trouxe para o relatório a discussão sobre financiamento extratarifário olhando para o contexto do  peso da tarifa no bolso do trabalhador e a série de aumentos que têm sido discutidos em modais estratégicos como o metrô e o trem. Para destrinchar esses assuntos, o lançamento da Casa foi marcado por um live com especialistas e ativistas da mobilidade urbana. Dividido em três mesas, o papo contou com a participação de representantes do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Unidade Popular, Fórum Permanente de Mobilidade Urbana da RMRJ e do Pedala Queimados. Confira aqui. 

Prefeitura lança novo calendário de vacinação; confira datas para grupos prioritários

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Pessoas de 45 até 59 anos poderão se vacinar até 29 de maio

Por Edu Carvalho, em 26/04/2021 às 10h

A partir desta semana, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a SMS, divulgou o novo calendário de vacinação contra a Covid-19 estará destinado para os grupos prioritários, incluindo, entre outras, as pessoas com comorbidades. O cronograma, que começa hoje, segunda-feira (26/04), mantém o padrão do escalonamento por faixas etárias, e tem como previsão vacinar pessoas de 45 até 59 anos dos grupos prioritários até 29 de maio.

Estão incluídas neste calendário gestantes, pessoas com deficiência permanente, indivíduos com comorbidades, trabalhadores da saúde, da educação, de serviços de limpeza urbana, guardas municipais, motoristas e cobradores de ônibus e transporte escolar. Policiais civis, policiais militares, bombeiros e agentes penitenciários serão vacinados em seus locais de trabalho.

As comorbidades prioritárias são: diabetes mellitus, hipertensão grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, câncer e obesidade grave, entre outras. A lista pode ser consultada em coronavirus.rio/comorbidades.

Confira as datas:

Artigo: O impacto da qualidade do ar e as mudanças climáticas na Maré

Por Laerte Breno – Campanha Climão, em 26/04/2021 às 10h

O ar que respiramos recebe grandes quantidades de gases e partículas líquidas e sólidas, que, apesar de serem bem pequenas, provocam um grande impacto ambiental e põe nossa saúde em risco. Por exemplo, quando levamos em consideração que a favela da Maré é localizada entre as três principais vias expressas do município do Rio de Janeiro (Linha Amarela, Linha Vermelha e Av. Brasil) os veículos que passam por elas liberam o SO2, um composto químico altamente tóxico e a sua inalação pode ser fortemente irritante. Além disso, a falta de árvores e a proximidade das casas dificultam o ar de circular e refrescar a região.


Maria de Fátima, moradora da Maré, trabalha como diarista em bairros da zona sul do Rio de Janeiro, reconhece bem a diferença de respirar aqui na favela e e no Jardim Botânico, “O clima lá (Jardim Botânico) é bem diferente da favela. Aqui onde moramos é muito mais quente. Eu trabalho no Jardim Botânico e sinto uma diferença enorme. É muito triste vivermos nessa situação”. A moradora reconhece que com o crescimento populacional no território, muitas árvores tiveram que ser cortadas, o que alterou a sensação de bem-estar na localidade. “A Maré quando foi construída, boa parte das casas tinham árvores em frente aos portões. Era pra ter deixado as árvores, pois teríamos um ar mais puro e mais fresco”.


Esses exemplos de poluição do ar são conhecidos como Poluição Atmosférica e estão ligados intimamente com as mudanças climáticas, pois se reduzirmos as poluições no ar, também amenizaremos e estaremos cuidando do clima dentro e fora da nossa favela. Esse ar poluído atinge não só os pulmões, mas pode provocar mortes precocemente. Logo, percebe-se que a situação acarretada pelas mudanças climáticas já exibe danos severos para os pequenos. De acordo com dados da Redes Maré, em 2018, foram 30 óbitos em crianças de até 5 anos por doenças respiratórias.


Além disso, o excesso de calor, dificuldade de circulação do ar e as doenças pulmonares causadas pelas mudanças climáticas, atualmente, estão sendo somadas com a pandemia do novo coronavírus, pondo em risco, de forma ainda mais forte a nossa saúde respiratória
A favela da Maré, por exemplo, é privilegiada em relação às demais favelas do município do Rio de Janeiro por conter uma enorme área florestal, o Parque Ecológico, conhecido na comunidade como “Mata”.

A localidade conserva diversas espécies de plantas há anos e pode ser uma excelente proposta para refrescar o ambiente e deixar o ar que respiramos mais fresco. Porém, apesar da existência de um espaço tão importante, o local vem sofrendo degradação e só se mantém viva graças a atuação de preservação dos moradores e garis comunitários. Por isso, é importante mobilizar as entidades locais e seus vizinhos para pensar a revitalização do espaço e multiplicar o local com mais verde.

O cuidado com o ar também deve estar nas nossas casas. Evite tonalidades muito escuras, pintar as paredes de branco ou numa cor clara pode aumentar a sensação de conforto térmico. Além disso, na Vila do João e na feira da Teixeira Ribeiro, existe pessoas que vendem mudas de plantas num precinho bem acessível, compre algumas para o seu lar e cuide delas, trazer o verde para dentro de casa é uma excelente opção para melhorar a saúde de nós, moradores, e principalmente pela capacidade das espécies de filtrar os poluentes. Você estará não só amenizando os impactos destrutivos do meio ambiente, mas também fortalecendo a economia local.

Para escritora Nélida Piñon, livros sustentam civilização e são ‘carta de alforria’

Por Hélio Euclides, em 25/04/2021, às 15h
Editado por Andressa Cabral Botelho

Ainda em relação ao Dia Mundial do Livro (23 de abril), o Maré de Notícias conversou com Nélida Piñon, jornalista, romancista, contista e professora. Sua estreia na literatura foi com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961. Com vasta bibliografia, suas obras – entre romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias – foram traduzidas em mais de 30 países. Foi eleita para uma cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1989 e tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a ABL, no ano de seu centenário. Sua última obra publicada foi o romance Um dia chegarei a Sagres, lançado em 2020. Nélida esteve por duas vezes na Maré, em 2011 e 2019, onde visitou a biblioteca comunitária que leva o seu nome, na favela de Marcílio Dias.

Maré de Notícias: Como a senhora vê os festejos para o Dia Internacional do Livro?
Nélida Piñon: É muito interessante como outros países comemoram o Dia Mundial do Livro de uma forma tão profunda. Na Espanha se celebra uma festa. Na Catalunha é montado quiosques e se tem o enraizado costume de se comprar um livro e uma rosa e dar a uma pessoa. Se tornou um símbolo de amizade e respeito pelo outro. Se reconhece no outro a sabedoria. De uma forma especial, duas pessoas se unem pelo livro e pela rosa. A importância do Diada de Sant Jordi (Dia de São Jorge) e do Dia do Livro chega a ser algo sagrado para a Espanha. 

MdN: Em sua primeira visita à Maré, a senhora falou destacou o papel da palavra. Como é para uma escritora o poder da palavra?
NP: Primeiro, o termo escritora é uma invenção humana. Já a palavra é algo que cada um recebe dos nossos pais, avós, bisavós e tataravós, ou seja, dos antepassados. Quando se colocam as palavras no berço, por mais humilde que sejam, ditas com carinho é fundamental para o conhecimento. Nos humaniza a forma como você fala e se expressa. Ela diz o que você é, a palavra é a mediadora da humanidade.

MdN: Qual a importância dos livros?
NP: As bibliotecas antigas da Alexandria guardam todos os manuscritos das grandes civilizações. São a história. Se nós não conhecêssemos os livros, seríamos como seres da caverna. Nem nossas vozes seriam essas. As obras nos adestram. O livro sustenta a civilização. Somos náufragos sem ele. É nossa carta de alforria.

MdN: Quais as alternativas para esse momento de pandemia?
NP: A pandemia é muito penosa sem um convívio. É ainda pior para quem não tem o livro, é uma solidão vazia. O conhecimento do livro é extraordinário. Um ministro era sedutor, mas não era bonito. Ele usava as palavras para benefício dele, que era seduzir. Para provocar admiração é preciso ter uma sedução verbal. Quem pensa mal, não tem um discurso. Falta conhecimento. São mentes vazias. É preciso sedução na vida com o livro para seduzir o mundo.

MdN: Um dia será inevitável a migração do livro do papel para o e-book?
NP: Sou filha de (Johannes) Gutenberg, por isso não quero viver esse tempo. O livro tradicional nos dá a liberdade, já que ninguém sabe o que está sendo visto ou admirado.

MdN: O que acha dos espaços populares de leitura?
NP: É extraordinário encontrar bibliotecas em comunidades. São pessoas que estimulam a voz de outros. Quando lemos, soma-se a nós 1.000 pessoas. É uma experiência que enriquece. Ninguém passa em silêncio ou vai ser igual após a leitura do livro. 

MdN: O que acha do movimento dos livreiros do Rio, que se uniram em coletivo como forma de enfrentar esse período?
NP: Estão certos, pois a pandemia é muito prejudicial. Está empobrecendo a todos, se tornou uma crise humana. Eu li em um jornal que as consequências dessa pandemia são piores do que as da 2ª guerra mundial. Atingiu todas as funções, como os escritores pequenos, que estão em situação dramática. Todos estamos igualados no tempo.

MdN: Podemos esperar uma terceira visita da Nélida à Maré?
NP: Leitores, tenho a maior admiração pelos fundadores da Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, na Maré. Quando tudo isso passar eu quero estar junto para receber do saber.

Nélida Piñon em visita à biblioteca que leva o seu nome em Marcílio Dias. Foto: Rosilene Ricardo
Leia mais: Pobre, favelado e periférico lê, sim!

Das palafitas ao asfalto, Seu Joaquim morre aos 90 anos

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Figura ilustre da Nova Holanda deixa sete filhos, 25 netos, 26 bisnetos e quatro tataranetos. Seu Joaquim faleceu neste sábado, 24 de abril, de complicações de uma pneumonia.

Felipe Rebouças em 05/5/2018 atualizado em 24/4/2021

“Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as casas

Que lhe brotavam da mão”.

Quando a maré cheia inquietava a todos, quando caranguejos e humanos dividiam o mesmo espaço, desde esse tempo Joaquim Severino da Silva, de 90 anos, faz parte da Maré. Aos 17 anos, em 1948, migrou de Mamanguape, cidade no interior da Paraíba, para o Rio de Janeiro, em busca de uma oportunidade de emprego na Construção Civil. Em sua terra natal, Joaquim deixou os avós que o criaram, um casal de irmãos e uma plantação de grãos. E hoje, dia 24 de abril, ele partiu deixando filhos e muitas memórias de quem viu a Maré ser construída.

Ao chegar ao Rio, em meados do século XX, encontrou um ambiente de desenvolvimento urbano, às vésperas da Copa de 1950. Também viu duas pistas recém-inauguradas, cortando as Zonas Norte e Oeste da cidade, a Avenida Brasil. Pela Avenida, Joaquim chegou à Maré e foi atrás de João Gordo, figura importante para os retirantes que chegavam. “Todo nordestino que vinha tinha seu endereço e procurava por ele”, contou Seu Joaquim.

O paraibano conseguiu emprego numa Construtora, em São Cristóvão; também colaborou na construção de palafitas: “quando a maré enchia, a gente tinha de se ajeitar para não se molhar muito”, relembrou. Mas depois de dois anos dormindo de forma improvisada, a saudade do Nordeste bateu e o aventureiro retornou a Mamanguape, próximo de completar 20 anos de idade, em 1950.

De volta ao aconchego

Na cidade de origem, Joaquim conheceu Luzia. No dia 19/02/1956 eles se casaram. Tiveram três filhos: duas meninas e um menino. Depois de uma década na calmaria, Joaquim decidiu retornar ao Sul. Em junho de 1961, 13 anos depois, retornou ao Rio de Janeiro, sem esposa e filhos, e se deparou com uma Maré que mudava rapidamente. Ele seguiu trabalhando como pedreiro em algumas regiões da cidade, mas nunca abandonou os serviços na Maré. As comunidades do Parque Maré, Morro do Timbau e Baixa do Sapateiro, ocupadas e instituídas durante a primeira passagem de Joaquim pelo Rio, já estavam consolidadas. Parque Rubens Vaz e Parque União eram novidades. E a extinção das palafitas era questão de tempo na medida em que os caminhões carregados de terra eram mobilizados pelos moradores da Avenida em direção ao mangue. “Começamos a aterrar e subir os barracos nas ruas Oito, Oliveira, Beira-Mar e Nova”, conta, entusiasmado.

Joaquim conseguiu dinheiro para alugar uma casa em Cordovil e comprar quatro passagens de Mamanguape para o Rio de Janeiro. Luzia e os filhos vieram se aventurar no Sul. O País passava por um período desenvolvimentista, caracterizado pelas grandes obras, que prometiam emprego e mais mobilidade nos centros urbanos, especialmente nas capitais do Sudeste. Diversas favelas do Rio sofreram remoções, deslocamentos forçados e um incêndio – até hoje não explicado. A favela da Catacumba, em 1967, foi devastada pelo fogo, onde hoje é um parque público.

Nesse contexto, Seu Joaquim e milhares de pessoas buscaram refúgio em núcleos populares de habitação, sobretudo aqueles em expansão, como era justamente o caso da Maré, na década de 1960. A população das favelas no Rio cresceu exponencialmente e a família de Seu Joaquim e Dona Luzia acompanhou todo o processo.

De volta à Maré, pra ficar

Após passar alguns meses em Cordovil, a família mudou-se novamente para a Maré. A favela da Nova Holanda foi aterrada durante o Governo Carlos Lacerda, que conduziu um projeto de conjuntos habitacionais, entre os quais a Cidade de Deus, Vila Aliança, Vila Kennedy e Cidade Alta.

Na Maré, a família se mantém até hoje; ganhou mais sete filhos, que geraram 25 netos, 26 bisnetos e quatro tataranetos. Ao todo são 65 pessoas, além do casal, e 62 anos de casamento de Dona Luzia e Seu Joaquim. “A Nova Holanda é um canto bom de viver, aqui é muito tranquilo, ninguém perturba ninguém, ninguém rouba ninguém (..) Todos os meus filhos estudaram aqui e, graças a Deus, estão todos formados”.

A história de Seu Joaquim nos faz refletir sobre o Rio de Janeiro do século passado, em que estão as raízes dos problemas vividos hoje. Segundo ele, “analfabeto é quem não sabe o que aconteceu, o que está acontecendo e o que pode acontecer no futuro”.

Ao longo de todas as gestões, a política de urbanização e modernização sempre seguiu uma linha: tratar a parcela mais pobre da população como um problema que se deve varrer para debaixo do tapete. Hoje, Seu Joaquim trabalha num armazém, no 1º andar de sua casa, além de atuar como pastor, às terças, quintas e domingos, na Rua 7 de Março. Quando perguntado como conseguiu tudo o que tem na vida, ele responde com serenidade: “evite falar muito, fale pouco; evite querer enxergar tudo, enxergue o que é necessário; e ouça bastante”.

Joaquim Severino da Silva, morreu aos 90 anos em 24 de abril de 2021, em decorrência de complicações de uma pneumonia bacteriana.

Foto: Bira