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Audiência pública no STF sobre ADPF das favelas constata: violência têm cor e local

Plenária pública que terminou nesta segunda (19) mostrou que a maioria das vítimas da violência policial é negra

Por Daniele Moura em 19/04/2021 às 22h30

No segundo e último último dia da audiência pública da ADPF das Favelas sobre a letalidade policial, representantes de organizações não governamentais e instituições voltadas para a defesa dos Direitos Humanos expuseram a necessidade de investigação das mortes causadas por agentes de segurança e o papel do Ministério Público para assegurar as investigações.

Alexandra Montgomery, diretora da Anistia Internacional, afirmou que as ações policiais violentas são responsáveis por um processo histórico de desumanização da juventude negra, dos pobre e dos moradores de favelas. Ela lembrou esta população convive cotidianamente com violações de direitos praticadas por quem deveria protegê-la, com uso excessivo da força, execuções extrajudiciais, torturas e violência sexual. Segundo Alexandra, é fundamental que a autoridade responsável pela investigação desses crimes seja diferente da força pública envolvida nos fatos, para que “a polícia não investigue seus pares”. Segundo ela, apenas 2% das investigações sobre essas violações viram inquéritos.

Papel do Ministério Público

Para o pesquisador da Human Rights Watch, César Muñoz, o Ministério Público deve cumprir seu papel institucional e criar imediatamente um grupo de trabalho para exercer o controle externo da polícia no Rio. Segundo ele, os promotores poderiam adquirir experiência em casos de letalidade policial, analisar padrões de abuso, identificar e investigar batalhões e os agentes responsáveis pelos homicídios. Muñoz disse ainda que o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública – GAESP- ligado ao Ministério Público do Rio, antes de ser extinto pelo recém empossado procurador geral de justiça do estado, teve papel importante para o enfrentamento da violência policial, sendo responsável por mais de 700 investigações de abusos.

Fala Manguinhos

As representantes do Fórum de Manguinhos (RJ) Ariana Kelly dos Santos e Rachel Barros de Oliveira reforçaram que após a liminar da ADPF das Favelas houve redução de 70% no número de mortos e 50% no de feridos por tiroteio nas periferias do Rio. Rachel ainda denunciou que a ADPF “cotidianamente desrespeitada” e pediu que, por não haver um trabalho de investigação das ações policiais, as falas dos moradores das favelas não sejam desqualificadas. Ela ainda afirmou que os dados da saúde são valiosos para mensurar os efeitos da violência e da letalidade policial.

O outro lado

O primeiro integrante das forças policiais a se manifestar na audiência foi o coordenador de Comunicação Social da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, PMERJ, major Ivan Blaz. Ele destacou que é preciso considerar e diferenciar que existem operações policiais e o policiamento, citando confronto ocorrido na manhã de hoje (19/4) em Manguinhos, favela vizinha a Maré. “A grande quantidade de armas nas mãos de criminosos permite que essas ações sejam feitas. PMs são atacados por criminosos rotineiramente”, disse. Major Blaz que é negro, afirmou que as armas entram com facilidade pelas fronteiras e chegam às favelas onde o crime assedia facilmente “uma juventude ociosa, em sua maioria composta por pessoas pretas e pardas”. Mas não citou a possibilidade de investigar o comércio de armas e nem tampouco como elas vão parar nas periferias.

Ao responder sobre a excepcionalidade para realizar as operações nas favelas durante a pandemia e o aumento dessas ações a partir de outubro de 2020, mesmo com a ADPF já em vigor, Ivan Blaz explicou que a PM atua em ações emergenciais e preventivas de combate ao crime. “As emergenciais exigem a entrada da polícia nas comunidades, para buscar vítimas de crimes que são levadas para dentro das favelas; denúncias pelo 190 de casos de violência doméstica – que aumentaram em 70% durante a pandemia e que são atendidos pela Patrulha Maria da Penha; e denúncias de próprios moradores de casos de tortura e morte dentro das comunidades.” Sobre as ações preventivas, ele explicou que elas passam por um planejamento do setor de inteligência para coibir ações expansionistas de grupos criminosos. O Major afirmou, ainda, que em 2020 foram 375 operações realizadas e em 2021 houve 160 incursões e que todas foram comunicadas ao Ministério Público no exato momento em que ocorreram. Quanto aos números, afirmou que há discrepância entre os dados apontados pelos pesquisadores e os do Instituto de Segurança Pública. Mas não explicou como isso pode acontecer.

Controle externo

Representando a Federação Nacional de Entidades de Oficiais Estaduais, a Feneme, o coronel da PM Carlos Alberto de Araújo Júnior afirmou que não se pode restringir a solução do problema ao controle externo e afirmou que armas, drogas e lavagem de dinheiro não são produzidas nas comunidades e que a competência é federal para combatê-las. Defendeu rigidez na apuração em ações relacionadas a desvios de conduta de policiais e o aumento da segurança daqueles que trabalham seguindo os protocolos, além do fortalecimento das corregedorias. “Acreditamos que uma única morte em operação policial deve ser estudada à exaustão, mas não há saída para esse problema sem a participação da polícia como protagonista”.

Investimento na base

Além de uma política de segurança pública voltada ao respeito dos direitos fundamentais, representantes de corporações policiais também defenderam maior investimento nas formação de policiais e a construção de uma política de segurança pública cidadã. Para Heder Martins de Oliveira, da Associação Nacional de Praças Policiais e Bombeiros Militares Estaduais, entender o lado policial também é importante para se chegar a uma solução, “mas enquanto não tivermos uma política de segurança pública não veremos luz no fim do túnel. O que precisamos, de fato, é que tenhamos uma política de segurança pública com respeito da cidadania, respeito da dignidade e dos valores da pessoa humana”.

O chefe da Ouvidoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Elizeu Lopes, propôs o controle da atividade policial por meio de vídeo. Segundo ele, a medida protege cidadãos e policiais e, nos países onde foi implementado o uso de câmeras corporais, houve redução das reclamações contra policiais. Além do uso de tecnologias, ele considera necessária a capacitação dos policiais em direitos humanos, com enfoque em questões raciais e de diversidade, para que esses profissionais possam compreender a natureza da formação do brasileiro. Propôs, ainda, a realização de cursos de atualização em abordagens policiais, o incremento de ações de inteligência e planejamento e a utilização de equipamentos alternativos às armas de fogo.

Constrangimento

Elias Miler da Silva, da Associação de Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo criou um grande constrangimento em sua fala ao destacar que o problema do Brasil é a corrupção, “mãe de todos os outros crimes. O Brasil está tomado pelo crime organizado que se infiltra na polícia, na cidade , e também e se infiltra em entidades que inclusive falaram aqui, ministro.” O representante dos policiais militares de São Paulo, portanto, que também é advogado, não disse quais das entidades expositoras na audiência seriam “criminosas”.

A cor da dor

Deise Benedito, especialista em Relações Étnico Raciais e mestre em Direito e Criminologia, ressaltou que os territórios onde acontecem essas violações são constituídos pela maioria da população negra, em que a única presença do Estado assegurada é a da polícia. Segundo ela, o impacto das mortes de crianças e jovens negros é um prejuízo imenso para a sociedade brasileira. Por isso, defende o controle externo da atividade policial e o aperfeiçoamento e o fortalecimento das polícias, como forma de garantir a dignidade dos trabalhadores da segurança pública. A especialista também defendeu a necessidade de aprimoramento das ferramentas utilizadas para reconhecimento facial, uma vez que os direitos mais atingidos nesse método são da população negra, por haver uma discriminação algorítmica. Por fim, ela defendeu a permanência da audiência de custódia presencial, medida que considera um dos instrumentos mais eficazes para evitar tortura nas prisões.

Transparência

Heloisa Fernandes Ca?mara, do Centro de Estudos da Constituição da Universidade Federal do Paraná, ressaltou que a segurança pública, sem respeito aos direitos, “é um arbítrio pago com dinheiro público”. Segundo ela, é imprescindível que haja transparência nos inquéritos policiais, e que estes devam conter, obrigatoriamente, informações sobre gênero, raça, local e circunstâncias. Já Sandro Cabral, do Insper, disse que é preciso convencer as autoridades de segurança pública que registrar dados também serve para aprimorar a gestão, e não, necessariamente, para ter controle das ações. “Uma vez que sejam bem registrados, os dados podem ser bem utilizados por pesquisadores, e a própria polícia poderá fazer gerenciamento com base em evidências”, defendeu. Em sua opinião, “quanto maior a transparência, maior será o resultado para a população, tanto que casos que são cobertos pela imprensa tendem a ter menor impunidade.”

Cartas da Maré

O representante do Instituto Alana, Pedro Hartung, expôs que os direitos de crianças e adolescentes, principais vítimas do uso inadequado da força em operações policiais, devem ser prioridade absoluta na segurança pública. Segundo ele, de 2017 a 2019, 2.215 crianças e adolescentes morreram em decorrência das ações policiais e o estado do Rio responde por 40% desses casos. Ele se referiu ao projeto Cartas da Maré da Redes da Maré para mostrar os impactos na educação das crianças e adolescentes que perdem muitos dias letivos por causa das operações. Hartung considera necessário adotar medidas como o mapeamento georreferenciado de áreas com alta concentração de crianças, diminuição do uso ostensivo de armas em áreas sensíveis, adoção de protocolos de segurança para escolas e alunos e uso de tecnologia como câmeras e GPS para efetuar um policiamento mais seguro.

O representante do Instituto Alana expondo os impactos das operações nas crianças e adolescentes

Fogo continua Cruzado

Maria Cecília de Oliveira Rosa, jornalista e diretora da Instituição Fogo Cruzado, apresentou números que comprovam que a a decisão de Fachin de junho de 2020 de suspender as operações policiais impactou positivamente à vida dos moradores das favelas. Durante os 10 meses de vigência da ADPF, caíram em 32% os tiroteios com a presença de agentes públicos de segurança, 33% o número de mortes, 28% de feridos e as chacinas – onde geralmente há presença de policiais – diminuíram em 30%. Ela lembrou, também, que a preocupação dos que eram contrários a esta decisão – de que os crimes aumentariam – foi injustificada, pois os números indicam queda. O Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital nos Tribunais Superiores (Gaets) representado por Anelyse Freitas relatou que a maioria das pessoas atingidas pela violência das forças policiais é pobre, preta, de baixa escolaridade e de origem periférica. “Essas pessoas passam de vítimas a réus e acabam respondendo a processos criminais decorrentes da própria violência que sofrem”.

O procurador federal Thales Arcoverde Treiger, que falou pela Defensoria Pública da União (DPU) , disse que a política de extermínio no Rio de Janeiro traz ônus não só para a sociedade, mas também para a União e para os Estados. “Queremos demonstrar que uma lógica de confronto leva a resultados drásticos”. A DPU mapeou episódios de letalidade policial em que houve a participação de integrantes das Forças Armadas e cujas práticas violam princípios básicos de direitos humanitários.

Ao fim da sessão, o ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da ação Edson Fachin disse que cobrará aos órgãos competentes o cumprimento de medidas que diminuam a letalidade policial. ” É  preciso, com urgência, que o estado do Rio de Janeiro adote as medidas exigidas cujo comprimento é reclamado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos; que a perícia criminal possa realizar sua tarefa de forma independente; e que o Ministério Público possa investigar profundamente cada um dos casos de letalidade com transparência, para que o Conselho Nacional do Ministério Público possa acompanhar a investigação e, finalmente, ter a certeza de que o poder judiciário por meio do Tribunal de Justiça e do Conselho Nacional de Justiça julgue de forma célere os casos a eles submetidos. Hoje ficou nítida a gravidade da letalidade policial no estado: crianças inocentes sendo vitimadas, a morte como resultado de confrontos policiais, e a ineficiência na investigação criando um ciclo virtuoso de impunidade e de perpetuação de graves violações. Além disso e o que reputo ainda mais grave, é que a violência tem cor tanto nas vítimas dos policiais tanto nas próprias vítimas policiais.”

O ministro finalizou agradecendo as famílias que expuseram suas dores na audiência. “Agradeço de modo especial a coragem e o exemplo das mães e familiares, que apesar de suas perdas, trouxeram aqui seu testemunho e tiveram a coragem, o ousio, a força para partilharem sua dor. Este tribunal deve estar à altura desta coragem.”

Audiência da ADPF nas Favelas continua no STF

Nesta segunda os pesquisadores Luiz Eduardo Soares, Jacqueline Muniz e Daniel Hirata fazem seus relatos sobre a letalidade e a ineficiência das operações policias no Rio

Por Daniele Moura em 19/4/2021 às 10h

Pontualmente às 8h da manhã a audiência pública sobre a APDF 635, conhecida pela ADPF das favelas, foi aberta pelo ministro Edson Fachin que lamentou a morte de Vanessa Fontana, da Associação de Praças da Polícia Militar do Paraná, que falaria na audiência. Logo em seguida, o professor Daniel Hirata, em sua fala, trouxe dados sobre a baixa letalidade de 2020 – com a suspensão das operações policiais o Rio teve o menor índice em 15 anos, cerca de 288 vidas salvas. Hirata também mencionou a conivência do Ministério Público do Estado do Rio com a atual política bélica de segurança pública e o desrespeito das policias com a decisão do STF em suspender as operações policias durante a pandemia.

A professora Jacqueline Muniz chamou atenção para a “polícia de espetáculo”, que mantém na sua prática as operações altos índices de letalidade e a legitimação das práticas informais de deformação das policias, aumentando assim o processo das milícias. Muniz, descreveu o processo como Partido Político Policial.

Ainda pela manhã há falas dos professores Pablo Nunes, Yanilda Gonzales, Michel Misse, Luiz Eduardo Soares, Felipe da Silva Freitas, Gabriel Feltran, Siddharta Legale, Daniel Sarmento, Juliana Farias, Maurício Stegemann Dieter, todos especialistas em segurança pública.

Também serão ouvidos o Cel. PM Marcelo Francisco Nogueira Martins, Ten. Cel. PM José Ramos da Silva Júnior, Maj. PM Rodrigo Santos Barbosa, da Secretaria de Estado da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro; Cel. Carlos Alberto de Araújo Gomes Júnior, da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Estaduais – FENEME; o Deputado Estadual Waldeck Carneiro, da ALERJ; Heder Martins de Oliveira, da Associação Nacional de Praças Policiais e Bombeiros Militares Estaduais.

Às 11h, é a vez de Gabriel de Carvalho Sampaio, da Conectas Direitos Humanos e Marina Dias, do Instituto de Defesa do Direito de Defesa – Márcio Thomaz Bastos (IDDD); e Rachel Barros de Oliveira e Ariana Kelly dos Santos, do Fórum de Manguinhos;

Após o intervalo de almoço, a audiência retoma às 14h.

A transmissão acontece ao vivo pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=uMwRtZv92hE

Rio deve imunizar quase toda população idosa ainda nesta semana

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Mulheres de 61 anos podem ir aos postos de vacinação receber dose contra covid-19
Por Edu Carvalho, em 19/04/2021 às 8h


Até o próximo sábado, 24, a capital do Rio de Janeiro pretende vacinar parcialmente toda sua população idosa ao menos com a primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Hoje, mulheres de 61 anos poderão ir aos postos e tomar sua vacina, e na terça, homens. Essa alternância de idade acontece dentro do calendário proposto pela Prefeitura. Para saber todas as datas, basta clicar aqui.

Também ocorre neste momento a vacinação desde sábado (17/04), para profissionais da educação básica lotados na rede de ensino público do Rio. São contemplados trabalhadores na ativa de 55 anos ou mais, de escolas da Secretaria Municipal de Educação, da Secretaria de Estado de Educação, da Faetec, do CAp-Uerj ou de outras instituições federais. Para este grupo, é preciso levar os dois últimos contracheques e documento de identificação com foto.

Estado recebe nova remessa de imunizantes

Ontem, 18, domingo, a Secretaria estadual de Saúde, a SES, distribuiu 517 mil doses de vacina, sendo 273.500 da vacina Oxford/AstraZeneca e 243.500 da Coronavac,  para os 92 municípios fluminenses.

O quê os moradores da Maré pensam sobre a flexibilização das armas?

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Supremo Tribunal Federal retoma julgamento que suspende decretos do presidente Bolsonaro

Por Edu Carvalho e Hélio Euclides, em 19/04/2021 ás 8h

Na última sexta-feira, 16, o Supremo Tribunal Federal, o STF, começou a julgar a suspensão dos decretos editados pelo presidente Jair Bolsonaro, no início de fevereiro, em relação à flexibilização para compras de armas no Brasil. No início da mesma semana, no dia 12, a ministra da Suprema Corte Rosa Weber já havia decidido por embargar trechos do decreto presidencial, e que entrariam em vigor no dia seguinte, 13. Veja:

a) afastamento do controle exercido pelo Comando do Exército sobre “projéteis de munição para armas de porte ou portáteis, até o calibre máximo de 12,7 mm”, das “máquinas e prensas (…) para recarga de munições”, das “miras optrônicas, holográficas ou reflexivas” e das “miras telescópicas”;

b) autorização para a prática de tiro recreativo em entidades e clubes de tiro, independentemente de prévio registro dos praticantes;

c) possibilidade de aquisição de até seis armas de fogo de uso permitido por civis e oito armas por agentes estatais com simples declaração de necessidade, revestida de presunção de veracidade;

d) comprovação pelos Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) da capacidade técnica para o manuseio de armas de fogo por laudo de instrutor de tiro desportivo;

e) comprovação pelos CACs da aptidão psicológica para aquisição de arma de fogo, mediante laudo fornecido por psicólogo com registro profissional ativo em Conselho Regional de Psicologia, dispensado o credenciamento na Polícia Federal;

f) dispensa de prévia autorização do Comando do Exército para que os CACs possam adquirir armas de fogo;

g) aumento do limite máximo de munições que podem ser adquiridas, anualmente, pelos CACs;

h) possibilidade do Comando do Exército autorizar a aquisição pelos CACs de munições em número superior aos limites pré-estabelecidos;

i) aquisição de munições por entidades e escolas de tiro em quantidade ilimitada;

j) prática de tiro desportivo por adolescentes a partir dos 14 (quatorze) anos de idade completos;

k) validade do porte de armas para todo território nacional;

l) porte de trânsito dos CACs para armas de fogo municiadas; e

m) porte simultâneo de até duas armas de fogo por cidadãos.

No despacho, a magistrada diz que os mesmos ferem o Estatuto do Desarmamento, criado em 2003.

Até agora, dois ministros (Rosa Weber e Edson Fachin) optaram pela suspensão dos trechos. A continuidade do processo têm continuidade ainda nesta semana, onde o plenário expõe seus votos para decisão final. 

O Maré de Notícias foi a campo saber a opinião dos moradores no território sobre o tema, visto que as favelas e periferias são, em sua maioria, os maiores alvos da política de segurança pública ineficaz no país. Para Adriano Ribeiro, morador do Parque União, as mudanças são desnecessárias e aumentariam as mortes. “Acho exagero aumentar o número de armas por pessoa, e ainda pode aumentar a violência, com mais mortes. A prioridade maior deve ser com a saúde, ter foco na economia, para resolver a taxa alta de desemprego. É preciso cuidar dos brasileiros, providenciar a compra das vacinas o mais rápido possível’’. 

Quem também tem opinião parecida com Adriano é Luiz Costa, psicólogo e morador do Morro do Timbau. Para ele, que votou favorável para proibição e comercialização de armas de fogo e munições no plebiscito de 2005, é “uma loucura falar em lei de armamento no Brasil’’. O psicólogo afirma que não há estruturas jurídicas sérias para dar seguimento à decisão e desejo do presidente. ‘’Fico pensando: como se pode incentivar o cidadão de bem a ter arma?’’, questiona.  

’’O governo usa a falácia de que a arma é a possibilidade de a pessoa criar sua autodefesa em relação a violência. Lembrando que nos princípios que a gente entende como segurança pública real, a arma na mão não é um significativo que você está protegido’’, Thaís Aguiar, professora de sociologia e moradora da Nova Holanda. Ela lembra que da alta de mortes no país, que segundo o Fórum Brasileiro de Segurança, em 2020, foram registradas 43.892 mortes violentas – em 2019 foram 41.730 em 2019.

‘’O que protege o cidadão é melhores condições das próprias políticas públicas do Estado, como saúde, educação, saneamento e acesso à renda aos mais pobres”, reflete.

Já Geraldo, morador do Piscinão de Ramos, perguntado sobre, disse que era a favor do da ditadura e de que o armamento deveria ser legalizado. ”Só não concordo em andar com a arma pelas ruas”, enfatizou. O morador disse que os cidadãos do bem precisam estar protegidos ”dos vagabundo em casa” e que duas armas já bastariam para conter a violência.

Panorama da Covid-19 melhora no Rio, mas riscos permanecem muito alto

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Por Redação, em 19/04/2021 às 8h

Momento ainda é de muita atenção – Edu Kapps/Prefeitura

O número de atendimentos de quadros suspeitos de coronavírus nas unidades de urgência e emergência da cidade mantém a tendência de queda por mais uma semana, e a média móvel de casos confirmados da doença também já apresenta redução. Este panorama é revelado pelo 15º Boletim Epidemiológico da Covid-19, divulgado na última sexta-feira (16/04) pela Prefeitura, no Centro de Operações Rio (COR), na Cidade Nova. Embora a notícia seja boa, ainda não é hora de relaxar. O município segue na faixa de risco muito alto, com medidas de proteção à vida mais restritivas mantidas até o dia 27 de abril pelo decreto nº 48.761, publicado no Diário Oficial desta sexta-feira.

Apesar da redução dos atendimentos de urgência e emergência e dos casos confirmados, a média móvel de óbitos ainda é ascendente. São em sua maioria pacientes que foram internados semanas atrás e vinham em tratamento, mas que infelizmente não resistiram. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, explica que o momento ainda é de muita atenção.

– A recomendação para todos é que evitem qualquer tipo de exposição desnecessária. Nas últimas semanas a população mostrou que tem colaborado com a diminuição da circulação e a gente espera que isso se mantenha. Ainda temos um nível de transmissão alto e não é possível flexibilizar as medidas restritivas – reforça o secretário.

Na última semana, 37 casos de variantes do vírus foram identificados na cidade, 31deles de moradores locais. Desde a identificação do primeiro caso de novas cepas, são 230 casos no município, sendo 183 residentes. São 175 casos da variante brasileira (P.1) e oito da britânica (B.1.1.7). Dos moradores infectados por essas cepas, 20 faleceram, 13 permanecem internados e 150 já foram considerados curados. Dos infectados pelas variantes que não são moradores do Rio, 24 vieram de Manaus e quatro de Rondônia.

Após a vacinação, redução de surtos em asilos

Desde janeiro, quando iniciou a vacinação, até março, os surtos e casos de covid-19 nas instituições de longa permanência (ILPI) para idosos ou pessoas com deficiência tiveram uma redução de 80%. Em janeiro, foram sete surtos e um total de 41 casos. Em fevereiro, quatro surtos e 21 casos. Em março, dois surtos e oito casos. A vacinação dos moradores e funcionários das ILPIs aconteceu em janeiro, na primeira etapa da campanha de imunização. A grande maioria desse público já tomou as duas doses da vacina.

Com a chegada de novo lote da Oxford/AstraZeneca na quarta-feira, a vacinação segue esta semana pelo calendário anunciado. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) conta com as próximas entregas previstas no cronograma do Ministério da Saúde para seguir com a imunização na semana que vem. No sábado (17), a SMS concluiu a vacinação dos profissionais de saúde a partir de 50 anos, e das pessoas de 62 anos para cima. Em mais uma semana, a imunização estará completa para todos os grupos etários de idosos. No dia 26 começa, então, um novo calendário, incluindo, conforme idade, os portadores de comorbidades, pessoas com deficiência e algumas categorias profissionais, como as de forças de segurança e da educação.

Até o momento, 1.180.297 pessoas foram vacinadas com pelo menos a primeira dose das vacinas contra o coronavírus, o que representa 80,9% dos idosos, ou 17,5% da população. As primeiras pessoas que tomaram a D1 da Oxford/AstraZeneca ainda em janeiro começarão a tomar a D2 no fim de abril, conforme prazo indicado pelo fabricante, que é de 12 semanas. No momento, a vacina disponível para D1 na cidade é a Oxford/AstraZeneca. A D2 para quem tomou a CoronaVac está garantida e, quando chegar o dia anotado na caderneta de vacinação, os pacientes podem retornar aos mesmos postos onde tomaram a primeira dose para completar o esquema vacinal.

A Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza mais de 250 pontos de vacinação na cidade de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. As pessoas na faixa etária indicada no calendário podem se dirigir à clínica da família ou centro municipal de saúde mais próximo de sua casa, ou a um dos seguintes pontos extras: Planetário da Gávea, Tijuca Tênis Clube, Museu da República (Catete), Paróquia Nossa Senhora do Rosário (Leme), Casa Firjan (Botafogo), Jockey Club Brasileiro (Gávea), Hotel Fairmont (Copacabana), Museu da Justiça (Centro), Cidade das Artes (Barra da Tijuca), Museu do Amanhã (Centro), Imperator (Méier), quadra do Cacique de Ramos (Olaria), quartéis do Corpo de Bombeiros (Humaitá, Copacabana e Barra da Tijuca), Museu Conde de Linhares (São Cristóvão), Club Municipal (Tijuca), Palácio Duque de Caxias (Centro) e Vila Militar (Deodoro), este último tanto para pedestres quanto no sistema drive-thru para idosos. Os outros postos drive-thru funcionam das 9h às 15h no Parque Olímpico (Barra da Tijuca) e Sambódromo (Santo Cristo).

Invasão e conquista: o Brasil não foi descoberto

Como a história contada nas escolas não condiz com a realidade de etnias indígenas brasileiras

Maré de Notícias #123 – abril de 2021

Por Jorge Melo
Jornalista, pesquisador e doutorando em História Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas (CEPDOC-FGV/RJ)

É impossível pensar sobre “o descobrimento do Brasil” sem lembrar as populações indígenas. A exclusão que atinge milhões de brasileiros também afeta, muitas vezes de forma perversa, os descendentes daqueles que estavam aqui muito antes da chegada dos europeus.

Imagine um paraíso natural, onde as pessoas vivem em harmonia com a natureza, caçando, pescando e produzindo apenas o que precisam, respeitando os ciclos da terra, os peixes, os animais, os rios. Num belo dia, veem surgir do mar grandes embarcações, com visitantes estranhos, brancos, vestidos dos pés à cabeça, com armas que produzem trovões. Trazem também inimigos invisíveis – muitos vírus, bactérias, fungos etc. 

Esqueçam as imagens das aulas de História, que reproduzem a primeira missa no Brasil, a famosa carta de Pero Vaz de Caminha, onde está escrito que “Em se plantando, tudo dá”. Esqueçam também as narrativas que falam da integração harmoniosa entre os donos da terra e os portugueses, nos dias que se seguiram ao 22 de abril de 1500. Essa é a versão dos invasores, dos conquistadores. Para os habitantes da terra, aquele dia iria assinalar o fim de um período de equilíbrio e fartura e o início de um tempo marcado pela dor, violência, morte e pelas tentativas seguidas de destruir suas crenças e culturas. 

Já está provado que o “descobrimento” não foi um acaso. O Brasil era um segredo de Estado. Antes de Cabral, Duarte Pacheco Pereira alcançou águas brasileiras na altura dos atuais estados do Pará e Maranhão, em 1498. Pedro Álvares Cabral, suas 12 caravelas e 1.500 homens fizeram aqui uma escala para tomar posse do território que pertencia a Portugal por força do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, que dividia a América do Sul entre Portugal e Espanha. Os dois países da Península Ibérica eram os donos dos mares, responsáveis pelas grandes navegações, algo comparado à corrida espacial nos dias de hoje. Não por acaso, todos os nossos vizinhos na América do Sul falam espanhol, com exceção do Suriname, uma ex-colônia holandesa, e da Guiana Francesa.  O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, um carioca de 69 anos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos mais importantes pesquisadores da cultura e do pensamento dos indígenas brasileiros. É também uma referência no meio acadêmico internacional. Em suas muitas palestras pelo mundo afora, repete sempre uma frase, dita em uma entrevista à Revista Piauí em janeiro de 2014, que nos obriga a pensar: “Eles continuam aí, mas o mundo deles acabou em 1500”. 

Convivência harmoniosa retratada em diversas pinturas passa longe da realidade vivida por indígenas e portugueses – Primeira Missa no Brasil/Victor Meirelles (1861)

Descobrimento X invasão

“O Brasil não foi descoberto, foi invadido”, corrige Auritha Tabajara, lembrando seus ancestrais. Ela tem 40 anos e nasceu em Ipueras, no interior do Ceará. É escritora, poeta, contadora de histórias e a primeira cordelista de origem indígena de que se tem notícia no país. Seu livro Magistério Indígena em Verso e Prosa é leitura obrigatória nas escolas públicas cearenses. Auritha lembra que “aqui já existiam povos de diferentes culturas, que Cabral chamou de ‘índios’ como se fossem todos iguais”. Auritha faz questão de reafirmar que não é índia, é tabajara: “Essa palavra, ‘índio’, foi um apelido dado pelos portugueses, não diz o que nós somos.” 

Segundo o professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Alexino Ferreira, que pesquisa narrativas e diversidade, “as invasões europeias nas Américas desde o século XVI foram nefastas. O mais grave foi o extermínio de indígenas, um dos maiores genocídios da humanidade”. Estima-se que em 1500 havia entre cinco e dez milhões de indivíduos, mas esses números não são precisos. Os indígenas não possuíam anticorpos para os vírus que os portugueses, que navegavam pela Europa, África e Ásia, traziam no corpo. O mundo já era globalizado na época. 

Os contatos iniciais no primeiro século de conquista do território, segundo Alexino, custaram mais de um milhão de mortos, seja por doenças ou pelas tentativas de escravizar os nativos, que fugiram para o interior. Segundo o Censo do IBGE de 2010, 817 mil pessoas se autodeclaram indígenas.  

Amoin Aruká teve contato com a covid-19 em janeiro – Foto: Gabriel Uchida/Amazônia Real

Resistência

  Mesmo assim, 521 anos depois do “descobrimento”, resistem mais de 200 povos indígenas, a maioria concentrada na Amazônia – inclusive, alguns grupos isolados e que vivem como viviam seus antepassados quando os portugueses chegaram. É bom lembrar que a Amazônia cobre nove países: Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Cerca de 180 línguas foram preservadas, mas muitas se perderam.

No dia 17 de fevereiro de 2021 morreu Amoin Aruká, cujos membros da família são os últimos da etnia Juma. Por ironia do destino, Aruká sobreviveu a muitos ataques contra seu povo, mas foi vítima da covid-19. Desde os anos 1970, os Juma, que pertenciam à etnia do tronco linguístico Tupi Kagwahiva, foram vítimas de constantes ataques de ruralistas e comerciantes por habitarem uma área muito valorizada na região do Rio Madeira, sul do Amazonas. Mas do que a morte de um homem, são um povo e toda a sua cultura que somem do mapa.

Segundo Alexino, “os indígenas brasileiros são vítimas da chamada História Única. A conquista do Brasil foi contada pelos invasores, que se consideravam os heróis e omitiram que aqui havia sociedades estruturadas.” Essas sociedades que os portugueses consideravam preguiçosas representavam, na realidade, uma forma diferente de viver e entender o mundo. Os nativos não dominavam a escrita, mas valorizavam a comunicação oral como uma arte e, através dela, contavam suas histórias. Não produziam excedentes, a base do sistema capitalista no qual vivemos; não exploravam o trabalho do semelhante, não praticavam o lucro. Sua forma de comércio era o escambo, a troca de produtos.    

Preconceito

Renan Albuquerque é pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e há dez anos trabalha com temas da cultura indígena. Seu interesse começou quando, em 2009, foi dar aulas na unidade da UFAM em Parintins,  cidade na divida com o Pará famosa pelos desfiles de boi-bumbá.

Em Parintins, Albuquerque conviveu com os povos dos territórios Andirá-Marau (habitada pelos Sateré Mawé) e Nhamundá-Mapuera (ocupada pelos Hixkaryana). Segundo o pesquisador, de um modo geral, o brasileiro não vê o indígena como igual, como um cidadão – e, por isso, a sociedade precisa se informar sobre seus antepassados e seus descendentes, sobre a história dos povos tradicionais, para superar esses preconceitos. “Infelizmente, vivemos um momento em que os indígenas estão completamente desprotegidos, em todos os sentidos; na saúde, na preservação de seus direitos e de suas terras, que são garantidas por lei.”

Auritha afirma que esse preconceito tem uma razão de ser. Durante muito tempo, não se valorizou a história desses povos, que deveria ser contada pelos próprios indígenas. Isso só aconteceu a partir de 2008, com a Lei nº 11.645, que determina o ensino da cultura indígena nas escolas. “A história do Brasil antes de 2008 era contada somente pelo olhar dos historiadores não indígenas. Então, a nossa cultura não tinha crédito na escola. Ainda falta muito para que as culturas e tradições indígenas sejam realmente respeitadas como devem ser”, conclui a cordelista.

Sugestões de leitura sobre o tema

  • A viagem do Descobrimento – Eduardo Bueno, Editora Sextante
  • Coleção Brasilis (4 volumes) – Eduardo Bueno, Editora Sextante
  • 1499, o Brasil antes de Cabral – Reinaldo José Lopes, Editora Harper Collins O livro obscuro do descobrimento do Brasil – Marcos Costa Editora, Editora Leya