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Confronto entre grupos armados assusta moradores da Maré

Além dos impactos para saúde mental gerados pelo fato de acordarem ao som de tiros, muitos moradores não conseguiram sair ou voltar para suas casas, violando o seu direito de ir e vir.

Pela Redação em 09/12/20 às 21h27

Hoje (9/12), logo no início da manhã, por volta de 06h, moradores relataram intensa troca de tiros na região conhecida como Divisa, entre a Baixa do Sapateiro, Nova Holanda e Parque Maré. Segundo os moradores, os confrontos ocorreram entre a Rua Tancredo Neves até a Rua 29 de Julho. O barulho dos tiros entre grupos armados foi tão alto, que moradores de favelas mais distantes, como Parque União e Vila do Pinheiro, relataram ter ouvido. O confronto entre os grupos armados se estendeu até às 09h30 da manhã.

Também houve relatos de barulhos de explosões que poderiam ter sido de granadas durante o confronto, estremecendo casas na região. As residências também foram atingidas por tiros causando prejuízos aos moradores da região, que tiveram janelas e portas perfuradas e danos em eletrodomésticos como ar condicionado e TV.

Além dos impactos para saúde mental gerados pelo fato de acordarem ao som de tiros, muitos moradores não conseguiram sair ou voltar para suas casas, violando o seu direito de ir e vir. Um grupo de moradores ficou preso na Paróquia Jesus de Nazaré, na Rua Ivanildo Alves, na região do confronto. Os impactos do direito à saúde são imensuráveis: duas unidades de saúde funcionaram parcialmente, em um período de pico da pandemia do Coronavirus na Maré. Além disso, houve relato de moradores que passaram mal e não conseguiram sair de casa para atendimento médico.

Não se sabe ao certo a motivação do confronto ocorrido hoje.

Prêmio Escolas do Futuro está com inscrições abertas

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Escolas, startups e professores de todo o país podem inscrever suas iniciativas.

Por Thaís Cavalcante em 09/12/2020 às 16h40
Editado por Edu Carvalho

São incontáveis as histórias e os desafios encarados pelas escolas e seus educadores em 2020. Para reunir e divulgar grandes projetos educacionais de transformação espalhados por todo o Brasil, foi lançada a primeira edição do Prêmio Escolas do Futuro. O objetivo principal é reconhecer, em um ano tão emblemático, os principais atores de transformações: professores, escolas e startups de educação que apostaram na inovação durante a pandemia.

São três categorias principais: Professor Inovador, Escola Inovadora e EdTech (Tecnologia Educacional). As áreas variam entre Ensino Fundamental e Ensino Médio, com a instituição ou o inscrito sendo de escola particular ou escola pública. O ensino superior não engloba-se nas categorias, pois já tem mercado próprio em desenvolvimento, juntamente com iniciativas para ampliação do eixo.

Gabriel Gonçalves, professor de empreendedorismo e inovação em Belo Horizonte passou a perceber atividades onde atuava. “Durante a pandemia, onde lemos tantas notícias difíceis, precisamos resgatar também histórias de resilência que estão acontecendo. Eu sou apaixonado pela sala de aula e pela relação de professor com o aluno. Isso que veio de inspiração para valorizar e premiar as iniciativas que estão acontecendo de forma presencial nas casas dos alunos e em espaços de educação”, diz. 

Ele organiza a premiação sem patrocinadores e com mais dois colegas de profissão: Otávio Sales, que atua na comunicação digital e Heloísa Rossi, que cuida de toda a estratégia de divulgação. Ambos apaixonados pela educação e morando em Belo Horizonte, buscando nos brasileiros – educadores e suas instituições – a oportunidade para acreditar num futuro da educação que seja inspirador.

Vai se inscrever? Então se liga nessas dicas!

Para se destacar dentre tantas iniciativas, é importante analisar se o projeto está de acordo com os três critérios de avaliação: inovação e criatividade, execução e o resultado final e o impacto educacional, econômico e social. O prêmio do concurso será um troféu, certificado de participação e a divulgação do projeto no site Escolas do Futuro.

As inscrições vão até o dia 18/12/20 pelo site: http://escolasdofuturo.com.br. A votação popular será feita em janeiro de 2021 e os premiados divulgados no mesmo mês, de forma online. Leia aqui o Regulamento do Prêmio e saiba como participar.

Educação na Maré: Conheça as histórias que o jornal Maré de Notícias tem contado sobre a situação da educação no conjunto de favelas durante a pandemia. Acesse a página e fique por dentro: https://mareonline.com.br/categoria/educacao/

Um laboratório de memórias na Maré?

As memórias do passado, produzidas no presente, podem transformar o futuro

Por Mariane Rodrigues em 08/12/2020 às 17h45 Editado por Edu Carvalho 

Em meio a pandemia da Covid-19, nossa atenção tem se voltado aos grandes laboratórios que andam buscando vacinas possíveis para o controle da doença. Vivemos um momento extremamente difícil, onde as desigualdades e problemas estruturantes se fazem ainda mais presentes em nossas vidas. Nesse sentido, a busca por uma solução e a necessidade de viver um novo futuro, se tornam urgentes.

O Laboratório de Memórias Ambientais da Maré foi um espaço de experimentações desenvolvido nos meses de outubro à dezembro de 2020 e que reuniu 13 jovens mareenses, entre 18 a 27 anos, de diferentes origens, perfis e vontades para que pudessem pesquisar suas memórias relacionadas ao território, família e afetos.

Assim como para produzir a cura para uma doença é necessária profunda pesquisa, para registrar e criar memórias também é preciso investigar. 

As nossas histórias são poderosas, e quando elas ganham espaços seguros para crescerem e fazerem parte da memória de alguém, também podem curar diversos males no mundo.

Mas afinal, o que é memória ambiental?

Elas são as histórias que narram as transformações do espaço em que vivemos e seu entorno, a partir dos problemas causados pelas mudanças climáticas, que acabam afetando a vida da população local. Já as mudanças climáticas são as alterações causadas, principalmente, pela humanidade, através da emissão dos gases do efeito estufa.        Como resultado disso, estão o aumento da temperatura e nível do mar, grandes chuvas e inundações, períodos de extremo calor e seca, e por aí vai.

E o que isso tem a ver com a gente? Tudo! Somos natureza, vivemos e sofremos as transformações juntos. A Maré, como a maioria dos territórios periféricos, sofre grandes impactos ambientais. Como nossos mais velhos bem sabem, a comunidade nasceu nas águas da Baía de Guanabara, fruto de um aterramento que, até hoje, luta pelo saneamento básico e vidas dignas. O saneamento proporciona ruas e rios limpos, sistema de esgoto adequado e saúde para todos. 

Essas situações foram objeto de pesquisa dentro de nosso projeto, observando muitos avanços, mas também um território com cada vez mais gente, com menos espaços seguros para andar e brincar, menos árvores e mais lixo.

Outro ponto muito importante e relatado pelos jovens do laboratório foi a falta de espaços verdes na Maré. Muitos foram atrás de suas memórias de infância ou dos vizinhos mais antigos da rua para entender como era no passado. Eles relataram os poucos lugares de lazer, a diferença no clima e a falta de locais para plantar. Esses desequilíbrios estão relacionados com o crescimento de novas doenças e seus grandes desafios para a ciência, é importante estarmos atentos a nossos hábitos, nossas políticas públicas, as ações das grandes empresas e aprendermos com as experiências do passado, afinal, a pandemia do coronavírus não é a primeira que a humanidade vivencia.

Investigações que vem de dentro. 

Ao invés de manipular um vírus, desativá-lo e tentar criar anticorpos, no Lab, nosso objetivo era sensibilizar as pessoas para que pensassem sobre suas memórias, incentivar a vontade de criar suas próprias narrativas e conectar histórias, pessoas, coletivos e lugares, com a procura por algo em comum.

O comum de todos os participantes foi a busca pelo bem viver, a busca por aprender, a partir da conversa, com mais velhos e mais novos, a coragem de confiar nos próprios saberes e formas de produzir conhecimento e a possibilidade de sonhar com uma Maré melhor, mais conectada com seus diversos tempos.

Em meio a pandemia, entendemos que faz parte do processo de cura olhar para si mesmo e para as histórias que nos constroem. Só observando o passado é que construímos identidades, nos fortalecemos no presente e podemos mudar o nosso futuro. 

É por isso que todos os laboratórios que se conectam com a vida são importantes, porque, são dentro deles que criamos ferramentas de cuidado. Cada um tem seu formato e métodos de investigação específicos. 

O nosso, aqui na Maré, tem a forma da coletividade que é guiada pela metodologia de profundo respeito pelos nossos saberes e formas de viver.

O projeto surgiu da plataforma  memoriaambiental.org, em parceria com a Redes da Maré e o Data_Lab. Visite o site e descubra as memórias que estão registradas por lá. 

Também queremos saber: qual é a sua memória ambiental?

Mariane Rodrigues é moradora da Maré, arte educadora, pesquisadora, designer regenerativo e integrante do projeto Maré Verde da Redes da Maré.


Propaganda: um dos segredos da gastronomia na Maré

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São mais de 3 mil empreendimentos no território e muitos usam da criatividade para conquistar seus clientes.

Por Thaís Cavalcante em 08/12/2020 às 08h Editado por Edu Carvalho

Em um cotidiano recém-chegado do isolamento social, basta circular pelas ruas mais movimentadas da Maré aos finais de semana para perceber que não há limites para a criatividade gastronômica da favela. Além de ser rentável, é uma das maiores apostas dos empreendedores dentro do território. É o que diz o levantamento do Censo de Empreendimentos Econômicos da Maré. Entre as atividades econômicas mais frequentes do território, estão os bares, beleza e estética, roupas, mercados e lanches. São empreendimentos para todos os gostos, estilos e em diferentes favelas da Maré.

Os negócios recriam marcas, apostam em tendências de mercado e usam de toda a criatividade para fazer dinheiro nas favelas da Maré e de todo o país. De acordo com a pesquisa “Economia das Favelas – Renda e Consumo nas Favelas Brasileiras”, feita pelos Institutos Locomotiva e Data Favela, a população que vive em favelas brasileiras movimenta R$119,8 bilhões por ano.

A diversidade das necessidades se traduz em feiras de rua, lojas fixas e barraquinhas. No total, são 3.182 empreendimentos na Maré, entre setores do comércio, serviços e indústria. Como se tivesse um negócio para cada 42 moradores. Atividades que se importam não só com a quantidade e qualidade, mas também na forma de divulgação e no uso da propaganda, que é um conjunto de ações que buscam anunciar um produto ou serviço para o público.

Outbêco: vai uma costela com fritas?

Empreendedora Natália inaugurou o Outbêco no Parque União em novembro. Foto: Matheus Affonso

Para fazer diferente e chamar a atenção vale até fazer paródia. Outbêco – Strokehouse é uma das novas sensações que domina as favelas do Rio e surpreende por onde passa. Já são 20 franquias espalhadas pela zona norte carioca. O empreendimento que chegou na Maré recentemente – Parque União em novembro e na Vila do Pinheiro em dezembro – chamou a atenção da população mareense pelo nome inusitado e pelo sabor delicioso. Outbêco é uma paródia do Outback – Steakhouse, uma das maiores empresas de jantar casual do mundo que oferece comidas australianas.

A ideia veio de Dani Félix, professor e cria da Baixada Fluminense. Ele foi desafiado em uma reunião e dali em diante, apostou na sua ideia e a colocou em prática em agosto deste ano. “Meu sonho era colocar franquias dentro das comunidades para estimular pessoas a serem empreendedores. Investir no negócio é relativamente barato e o empreendedor ainda aprende sobre comportamento, marketing e finanças”, conta Dani. Ele acredita que a resiliência é o que faz tudo girar, mesmo em tempos tão difíceis quanto à pandemia de covid-19.

Natália Soares apostou no Outbêco no Parque União porque acredita que o maior movimento financeiro está na favela. Ela conta que seu negócio tem boas características: preço acessível e um produto de qualidade. “Esses primeiros dias de trabalho têm sido intensos, divertidos e de muito aprendizado pra mim. O trabalho supriu minhas expectativas quanto à venda, estamos trabalhando muito. Eu nunca atuei no ramo de restaurantes, mas comecei desde cedo vendendo trufas”, conta.

Bar da Amparo: Culinária Brasileira dentro e fora da favela

Bar da Amparo oferece delivery de seus preparos dentro e fora da Maré. Foto: Douglas Lopes

O Bar Amparo é um charmoso gastrobar, localizado na Baixa do Sapateiro e feito para reuniões em família, encontro de amigos e confraternizações de trabalho. A comida brasileira oferecida é feita pelas mãos da pernambucana Amparo, dona do restaurante junto com a família e moradora da Maré. Para que essa culinária brasileira pudesse ser ainda mais conhecida – assim como o cheiro de sua comida bem temperada – o Bar passou a apostar em posts produzidos nas redes sociais, atendimento personalizado no WhatsApp e no delivery para as favelas da Maré e para bairros da zona sul e centro, por exemplo.

O restaurante ficou tão famoso que foi parar no programa de televisão Cozinheiro vs Chefes, do SBT em outubro. Foi uma das três finalistas mostrando que talento e afeto se misturam e podem se espalhar de um jeito fácil. “Minha carne é bem suculenta e feita com amor”, garante Amparo. Carne assada e feijoada são os pratos favoritos de seus clientes que ganham, além do sabor, o afeto que começa desenhado nos corações do cardápio da semana.

Divulgação online, nova estratégia de negócios

Grupo de compra e venda reúne quase 300 mil no Facebook.

Um espaço gratuito e importante para a divulgação de anúncios e famoso entre os mareenses é o grupo de Facebook “Bom Negócio da Maré – Rj”, com mais de 294,2 mil participantes. Ali, é uma grande feira virtual em que é possível encontrar diversas publicações diariamente com a divulgação de lojas, comércios, serviços, troca de produtos, venda e até aluguel de imóveis. Os moradores também aproveitam o espaço para pedir recomendações de produtos.

Rafaela França, moradora do Complexo do Alemão é empreendedora do Make in Favela e administradora do grupo junto com Joyce Gonzaga, cria da Maré. Rafaela passa tanto tempo na Maré que já se considera parte.

Administrar um grupo desse tamanho dá trabalho, literalmente. Rafaela admite que sua atividade online envolve publicações sobre empreendedorismo, filtragem de posts de golpe, moderação de participantes, fazer vídeos ao vivo de divulgação da feira, dicas para os comerciantes e muito mais.

“O Bom Negócio é o meu carro chefe de vendas. Acho que a gente tem que se ajudar e se apoiar. Por isso, além dos anúncios, fazemos até vaquinha em casos de saúde, por exemplo. Um trabalho de formiguinha, mas importante e que faz muito sucesso”, diz.

O nome do grupo é bem conhecido por todos, pois faz referência à antiga empresa de classificados online “Bom Negócio”, hoje comprada pela OLX. Criado em 2015, os anunciantes têm estratégia para publicação até no horário certo. As publicações à noite, por exemplo, ficam por conta dos restaurantes e comércios de lanche que fazem delivery em promoção para entrega dentro da favela e nos bairros do entorno. Grupos específicos para desapego e para venda e aluguel de casas no Conjunto de Favelas da Maré também bombam nas redes.

Seja na divulgação boca a boca ou pelas redes sociais, as oportunidades para conquistar os clientes continua sendo percebidas a partir da criatividade e da necessidade de empreender. A população dá o recado: é ativa na economia, demonstrando seu poder de compra e sua disposição para fazer investimentos.

Ações no Rio marcam 1000 dias sem Marielle Franco e Anderson Gomes

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Vereadora e motorista foram assassinados brutalmente em 14 de março de 2018

Por Edu Carvalho, em 07/12 às 20h15
Editado por Andressa Cabral Botelho

“Tem sido uma mistura de indignação, de tristeza, mas também de luta”. O sentimento da deputada estadual, amiga e mareense Renata Souza resume o sentimento de muitos hoje sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL). Às vésperas de completar mil dias de sua execução, e do motorista Anderson Gomes, que a acompanhava no dia 14 de março de 2018, uma série de atos estão marcados para lembrar o episódio que chamou atenção mundo afora. ONGs, partidos e ativistas em diversos países estarão unidos para organizar ações nas ruas e redes sociais neste dia 08 de dezembro, exigindo respostas para a resolução do caso, ainda em investigação. O início da publicação de cartazes, fotos e poemas começa à meia-noite e irá até às 22h desta terça-feira.

Mesmo com a ausência física da vereadora, o seu legado sobrevive em cada pessoa que confiou nela o seu voto e que teve a sua vida atravessada por sua presença e palavra. Uma dessas pessoas é Simone Lauar, moradora do Salsa e Merengue e co-idealizadora do blog Garotas da Maré junto a sua irmã Anna Cláudia Neves, página de comunicação que aborda temas da atualidade. “Marielle foi uma luz que tentaram apagar. Só que o eco que ela deixou foi tão grande que impacta até hoje. Eu sou a prova disso. Foi ela, na primeira entrevista que fiz na vida, quem disse que eu seria uma ótima jornalista. Marielle, para mim, sempre será luz. A luz que ela acendeu em mim não se apagará”, observa. Simone lembra também que a atuação de Marielle foi fundamental para a criação do veículo comunitário. “Se hoje o Garotas da Maré está aí nas redes sociais, ela é sem dúvida uma das grandes responsáveis. Um jornal só feito por mulheres da favela… Ela me ensinou isso. Ela me motivou pra isso. E enquanto viver, vou lutar por justiça pelo assassinato dela e de Anderson”, conclui.

Nesta terça-feira, 08, o calendário brasileiro celebra o Dia da Justiça, momento importante para recordar o caso e exigir o andamento do mesmo. Investigadores do Ministério Público (MP) acreditam ter chegado na pessoa suspeita de clonar o carro que foi usado na emboscada da execução. Segundo a investigação, Eduardo Almeida de Siqueira clonou um carro entre janeiro e fevereiro de 2018 com as mesmas características do carro usado pelos executores do crime – um Cobalt 2014. Em depoimento à Delegacia de Homicídios (DH) em 2018, Siqueira admitiu já ter clonado outros veículos. Apesar da informação já constar no inquérito há dois anos, somente agora ela chamou atenção dos investigadores porque o advogado de Siqueira, Bruno Castro, também defende Ronnie Lessa, sargento reformado da Polícia Militar acusado de atirar em Marielle e Anderson.

Ações ao longo do dia 08

A Anistia Internacional e o Instituto Marielle Franco lançam a ação “Despertador da Justiça’’. Amanhã, dia 08, às oito da manhã, 550 relógios terão seus alarmes disparados simultaneamente, bem em frente à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, na Cinelândia. Do alto, será possível ver a frase no chão: “1000 dias sem respostas”. 

A mobilização continua ao longo do dia nas redes sociais, nos perfis das organizações com a presença de influenciadores como Camila Pitanga, Leandra Leal, Bruna Linzmeyer, Leoni, Preto Zezé, Rene Silva e Raull Santiago usando a hashtag #1000DiasSemRespostas. 

Às 21h30 da noite, buscando simular o efeito de um jogral, em que um fala e todos repetem, amplificando o alcance das palavras, uma sequência de transmissões ao vivo estão marcadas. Você encontra aqui o texto do jogral: http://bit.ly/jogralpormarielle

Veja também: Em sua homenagem, rua da Maré pode ganhar nome de Marielle Franco

Vítima de ação policial na Maré tem alta

Após 40 dias internada, Maiara da Silva voltou para casa. A jovem de 19 anos perdeu o bebê após ser atingida por tiros numa operação policial na Maré. A ação aconteceu no dia 27 de outubro e reuniu cerca de 300 agentes da Polícia Civil, 5 blindados e dezenas de viaturas.

Pela Redação em 27/10/2020 às 19h20, atualizada em 07/12/2020 ás 19h32

Era por volta de 5h da manhã do dia 27 de outubro, terça-feira, quando 300 agentes da Polícia Civil em dezenas de viaturas e cinco blindados estacionaram na Avenida Brasil. Minutos depois, o grupo entrou numa das favelas da Maré, o Parque União. Segundo moradores, houve registro de tiros. Havia viaturas estacionadas na Avenida Brasil desde a passarela 8, na altura da Baixa do Sapateiro, até depois da passarela 10, altura do BRT, estação Maré, o que fez com que a via fosse interditada no sentido Zona Oeste.

A ação também aconteceu nas favelas Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré. Às 11 horas houve uma incursão pela Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau, e registros de tiros na Rua do Serviço no fim da manhã e na Vila dos Pinheiros no meio da tarde. A operação terminou por volta das 17h, durando por 11 horas, de maneira silenciosa, com poucos registros de tiros. Em coletiva de imprensa, foi explicado que a operação policial foi consequência de uma força tarefa da inteligência da Polícia Civil, que envolveu cinco delegacias e uma investigação de três meses, que mapeou 100 pessoas com mandado de prisão supostamente escondidos na Maré. Segundo a nota da assessoria de imprensa da Polícia Civil, foram apreendidos fuzis, granadas, silenciadores, e carros e motos que seriam roubadas. Dezenove pessoas, entre adultos e adolescentes, foram presas/apreendidas na operação.

Foto: Douglas Lopes

Um dos mandados, segundo a polícia, foi para o suposto autor do assassinato do menino Leônidas Augusto da Silva Oliveira, de 12 anos, que morreu após ser atingido na cabeça um confronto na Avenida Brasil, no dia 09 de outubro. A polícia não apresentou nenhum registro  que comprove a informação do autor da morte do menino.

Apesar da operação policial ter sido realizada junto ao setor de Inteligência da Polícia, os moradores da Maré continuam sofrendo com os impactos da ação. O Maré de Direitos, projeto da Redes da Maré que oferece atendimento sociojurídico, identificou seis invasões a domicílio, quatro danos ao patrimônio e um caso de subtração de pertences, onde, segundo a moradora, os agentes da Polícia Civil furtaram R$300,00 de sua casa.

Maiara Oliveira da Silva estava feliz com a gravidez de seu primeiro filho.
Foto: Reprodução das redes sociais

Duas pessoas ficaram feridas, incluindo uma jovem de 19 anos grávida de 4 meses que foi atingida na barriga no Parque União. Segundo relato dos moradores, a jovem saía de casa quando foi atingida por um grupo de policiais que estavam na laje de uma casa vizinha. A jovem foi encaminhada para o Hospital Municipal Evandro Freire, passou por uma cirurgia, ficou internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) em estado grave por dias. A bala atingiu o pulmão, rim e bexiga. A jovem Maiara Oliveira da Silva estava com quatro meses de gestação do seu primeiro filho, que morreu no dia 28 de outubro, no dia seguinte da operação.

Nesta segunda, 07 de dezembro, depois de 40 dias de internação, Maiara teve alta e foi recebida com alegria pelos moradores.

Maiara chegando em casa após 40 dias internada.

Operações policiais e pandemia

Mesmo com a pandemia de covid-19, os agentes durante a operação, não usaram Equipamentos de Proteção Individual. Após votação no Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2020, uma das medidas da Arguição De Descumprimento De Preceito Fundamental 635 (popularmente conhecida como ADPF das Favelas) foi a suspensão de operações policiais durante a pandemia devido à crise sanitária que a população vive. As operações poderiam acontecer em casos excepcionais mediante justificativa por escrito pela autoridade competente e sendo comunicada ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A ADPF 635 prevê também que um promotor de plantão acompanhe a operação. A equipe do Maré de Direitos entrou em contato com o Ministério Público, mas até o momento não foi informada a identificação do promotor que acompanhou a operação de hoje. 

Durante a operação policial, as Clínicas da Família CF Augusto Boal, Diniz Batista dos Santos  e Jeremias Moraes da Silva não funcionaram.

No final de julho foi lançado o Conexão Saúde – De Olho no Covid-19, que é um projeto em parcerias com diversas organizações para o enfrentamento da pandemia na Maré e em Manguinhos. O projeto oferece o acesso à testagem, telemedicina e ao programa de isolamento seguro. Devido à operação policial do dia 27, pelo menos 110 testes para covid-19 deixaram de ser realizados no Centro de Testagem da Maré. Da mesma forma, pessoas com casos de covid-19 ativo acompanhadas pela Redes da Maré no Programa de Isolamento Seguro e que necessitam de auxílio alimentação para a garantia do isolamento domiciliar durante o período de infecção não puderam receber o Kit alimentação disponibilizado pelo programa.

Além da Maré, aconteceram operações policiais em Acari e no Jacarezinho no final de outubro. Também no dia 27, duas pessoas foram mortas durante operação no Complexo do Lins.