Entenda como se formam as ilhas de calor e quais os seus impactos na Maré
Por Laerte Breno e Maré Verde, em 05/02/2021 às 10h
As mudanças climáticas estão tomando proporções cada vez maiores, e pesquisas já apontam aumentos significativos nas temperaturas com dias cada vez mais quentes. Quando pensamos no processo de crescimento das favelas, tais espaços são facilmente impactados com o fenômeno, pois as suas consequências se expressam com maior força em locais com excessiva quantidade de construções e baixa concentração de áreas verdes onde a temperatura é mais elevada.
A falta de áreas verdes; o crescimento de ruas e avenidas asfaltadas; a alta quantidade de edifícios interferindo na circulação dos ventos tornando os bairros em volta mais quentes e a poluição do ar causada por atividades industriais e intensa circulação de carros, ônibus e caminhões, ruas estreitas, casas mal ventiladas pela necessidade de moradia e crescimento populacional exponencial contribuem para a formação das ilhas de calor. As características acima mencionadas poderiam se referir à Maré, mas trata-se de diversos outros espaços na cidade do Rio e também no país.
As altas temperaturas, assim como suas variações bruscas, são sentidas cada vez mais dentro e fora das favelas. Além disso, o desconforto térmico causado pela forma como o espaço urbano é produzido afeta não só o nosso meio ambiente, mas também põe em risco a saúde de nós, moradores de favelas e periferias. Logo, é fundamental cobrar o prefeito da sua cidade um diálogo mais próximo com a sua localidade, sabemos que a favela recebe um tratamento diferenciando se compararmos com os bairros da zona sul do munícipio do Rio de Janeiro, de abandono e poucas intervenções governamentais quando o assunto é pensar políticas públicas efetivas. É o nosso dever enquanto cidadãos!
A moradora da Maré, Valdirene Militão, de 49 anos e bolsista no Campus Fiocruz da Mata Atlântica, reconhece a gravidade do tema. “O tempo todo eu vejo essa mudança. Os prédios estão crescendo de forma muito acelerada. Não só aqui na Maré, mas também em outros bairros, como Jacarepaguá. Isso de uma forma direta, interfere na circulação de ar”. Para tentar minimizar o calor no local onde vive, ela tem uma horta na sua laje, trazendo todo verde ao ambiente domiciliar e reconhece que “com a falta de vegetação, tem um excessivo calor, o que deixa o ar mais seco. Um exemplo disso é a Vila Autódromo. Antes dela ser removida, era muito verde com milhares de plantações. Era um lugar refrescante”.
Embora o crescimento populacional na Maré se consolide de forma cada vez mais acelerada por conta do tombamento de algumas árvores para a construção de casas, precisamos olhar para cada rua, beco e viela com cautela, deixando um espaço confortável para as gerações futuras, amenizando os impactos de um futuro não tão distante. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), nos próximos 100 anos, as mudanças climáticas vão provocar o aumento de eventos climáticos intensos como tornados e chuvas com granizo, além de rajadas de vento, elevando as possibilidades de inundações e o risco de contaminação. Pode parecer longe, mas está mais perto do que imaginamos.
Não devemos apenas esperar medidas para diminuir o problema por parte do poder público. Nós também podemos adotar ações simples, como conversar com a associação de moradores da sua localidade e checar a possibilidade de locais para o plantio de árvores, criação de parques e preservação de áreas verdes. Em relação ao ar, basta diminuir, se tiver, o uso do seu carro para trajetos curtos. E o mais importante: hidrate-se.
Laerte Breno, 25 anos, Morador da Maré, Graduando em Letras pela UFRJ, Colunista, Educador, pesquisador e mobilizador social.
Reunião realizada nesta quinta-feira pretende premiar aqueles que promovem o carnaval de rua do Rio
Via Prefeitura do Rio, em 04/02/2021 às 16h30
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini, anunciaram nesta quinta-feira (04/02) o edital “Cultura do Carnaval Carioca”, que vai distribuir um total de R$ 3 milhões em prêmios para auxiliar quem promove a folia de rua. O documento prevê a escolha de 125 projetos inéditos sobre o setor e as inscrições começam em março.
– O edital busca um olhar para a economia do carnaval carioca de rua. Tem gente que depende disso. Desde que tomei a iniciativa de cancelar a festa, já tinha pedido para o Faustini e a Riotur prepararem alguma coisa de fomento, principalmente, para quem trabalha na ponta, na base dessa economia – afirmou Paes.
As propostas para o edital devem ser apresentadas por grupos formados por representantes de blocos, bandas, bailes, turmas, fanfarras, cordões e outras manifestações culturais que tenham o mínimo de três anos de existência no carnaval carioca. Um edital voltado para os trabalhadores das escolas de samba será divulgado em breve pela Riotur.
Além de ser um instrumento reparatório e estimulador da cadeia produtiva, elaborado pela prefeitura menos de um mês após o cancelamento oficial da festa, por causa da pandemia de Covid-19, o edital tem por objetivo fomentar a cultura do carnaval e reforçar o compromisso com a vida. Por isso, os participantes terão em contrapartida que gerar conteúdos e produtos inéditos sobre essa cultura e estimular a criação estética por parte dos grupos carnavalescos.
Os conteúdos foram divididos em três categorias: “Origem”, que prevê a produção de um minidocumentário ou um projeto de memória; “Som”, uma faixa musical; e “Estética”, uma fantasia/adereço original.
Na categoria “Origens”, 50 grupos serão contemplados com prêmios de R$ 30 mil para cada um; “Som” premiará 40 grupos com o valor de R$ 20 mil; e “Estética”, 35 grupos com R$ 20 mil.
– A intenção desse edital é a defesa da vida na cidade do Rio de Janeiro. A Prefeitura reitera mais uma vez seu posicionamento de apoio ao carnaval de rua carioca. É o início de um diálogo para reconstrução da cultura no Rio. A cultura como elemento central do desenvolvimento da cidade. Passamos quatro anos sem aposta, sem diálogo e, nesse momento de crise, a Prefeitura está novamente apontando o caminho de diálogo, de apoio e centralidade na cultura – ressaltou o secretário de Cultura.
As inscrições para a premiação terão início em março e poderão ser feitas por pessoa física (representante do grupo, desde que se comprometa a repassar para os demais integrantes o valor), pessoas jurídicas com e sem fins lucrativos e MEI (Microempreendedor individual).
As categorias de produção
Origens: A proposta contemplada precisará gravar e editar um minidocumentário de 5 a 10 minutos sobre a história dos grupos ou realizar um projeto de registro de memória. Os conteúdos irão compor a plataforma digital “Cultura do Carnaval Carioca”.
Som: Gravação de uma música inédita para a participação na playlist “O som do carnaval carioca”, organizada pela Secretaria Municipal de Cultura em parceria com o Spotify.
Estética: Confecção de fantasia, camiseta ou estandarte original do Carnaval 2021 para a exposição “Estética do Carnaval Carioca”.
A comissão de avaliação será composta por 15 representantes da sociedade civil, presidida por um representante da Secretaria Municipal de Cultura.
Cotas territoriais e desconcentração de recursos
Os projetos serão selecionados por meio de cotas territoriais, com a garantia de descentralização do investimento por todas as áreas da cidade. Na seleção, serão valorizadas as propostas que se comprometerem em repartir o recurso entre o maior número de pessoas.
Participaram do encontro representantes de vários blocos e ligas. Rita Fernandes, presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro (Sebastiana), agradeceu a atitude da Prefeitura.
– Quero agradecer em nome de todos os blocos, todas as ligas do Rio de Janeiro, não só a dedicação ao carnaval de rua, mas também por ouvir nossos pleitos. Antes de tudo, viemos trabalhando muito nos últimos quatro anos, independentemente do poder público, por nossa conta – disse Rita.
Objetivo é facilitar acesso de empreendedores ao microcrédito e permitir aos residentes obter um cartão de débito
Por France Press, em 04/02/2021 às 16h
Líderes comunitários das dez maiores favelas do Brasil vão lançar um banco para ajudar empreendedores e moradores destas localidades, que sofrem com o desemprego e a redução das doações em meio à pandemia do coronavírus. O “Banco do G10”, que deve entrar em funcionamento no final do mês, facilitará o acesso de empreendedores ao microcrédito e permitirá aos residentes obter um cartão de débito.
A iniciativa surgiu da coordenação entre duas favelas do Rio de Janeiro, duas de São Paulo e seis de outras regiões, que formaram um “G10 das Favelas”, com projetos que vão da distribuição de cestas básicas à prestação de assistência médica, além da assistência jurídica.
Cerca de 45 milhões de brasileiros (aproximadamente um em cada três adultos) não possuíam conta em banco em 2019, segundo uma pesquisa da consultoria Locomotiva; isto se deve, principalmente, à desconfiança entre os bancos e as pessoas de baixa renda ou desempregadas.
E obter um empréstimo também é difícil para famílias ou pequenos empresários das favelas, que nestes tempos de crise poderiam utilizá-los para manter seus negócios funcionando. É o caso do restaurante “Bistrô Mãos de Maria”, no coração de Paraisópolis (a segunda maior favela de São Paulo, com mais de 100 mil habitantes).
Visão mais adaptada
Para manter sua atividade e continuar a pagar os salários das funcionárias, Elizandra precisa de um empréstimo. Além de dar empréstimos a juros baixos aos empreendedores das favelas, o novo banco pretende dar aos moradores um cartão para compra de produtos essenciais nas lojas da região no valor equivalente a uma cesta básica.
O Banco G10 terá um capital inicial de R$ 1,8 milhão, aportado por “investidores anônimos” e receberá assessoria de economistas e especialistas em finanças. Um terço dos seus lucros irá para financiar programas sociais criados durante a pandemia.
A iniciativa se inspira em experiências locais, como a do pioneiro Banco Palmas, em Fortaleza, e nas teorias e ações em Bangladesh de Muhamad Yunus, Prêmio Nobel da Paz e pioneiro do microcrédito por meio do banco Grameen.
40 anos, 12 filhos e avó
Depois do fim do auxílio emergencial pago pelo governo a quase um terço dos brasileiros de abril a dezembro, grande parte da população conta com a solidariedade como único recurso. Uma fila serpenteia todas as manhãs em uma entrada de Paraisópolis, que reúne gente esperando por comida.
Célia da Costa Gomes, mãe de 12 filhos e agora avó aos 40 anos, carrega cinco ou seis caixas de alumínio que mal dão para alimentar a todos. “Para roupa e e cesta básica, vivo de doação, mas falta a mistura, o leite… Quebra uma sandália tenho que comprar, cresce o cabelo tem que cortar, fica difícil. Agora se voltasse o auxílio (do governo) ia ajudar porque emprego não tem, sumiu do mapa”, conta.
Célia da Costa Gomes volta para casa depois de receber refeições — Foto: Nelson Almeida/AFP
Naldo Matos, de 42 anos, nem conseguiu o auxílio. Ele vivia de bicos, mas com a pandemia eles acabaram e todo dia ele recorre à ‘marmita solidária’. “Estou passando muita necessidade, muita necessidade. Por exemplo, agora, se eu quisesse 1 real para comprar um pão, não teria”, explica.
“A gente sente que agora é o momento em que as pessoas mais precisam (de ajuda). É urgente”, ressalta Gilson Rodrigues, coordenador do G10 das Favelas.
Bandas de rock, metaleiros e eventos musicais da Maré mostram que o gênero faz parte de um movimento histórico entre os mareenses
Maré de Notícias #121 – fevereiro de 2020
Por Thaís Cavalcante
Nos anos 1980, o rock nacional explodia nas cidades e favelas do país. A Maré também fez parte desse momento. Não só com a história das palafitas e favelas na música Alagados, dos Paralamas do Sucesso, como também com a explosão da cena underground de rock e de metal se fortalecendo nas 16 favelas da Maré. Desde então, toda uma ocupação cultural de roqueiros, bandas locais e eventos passou a ser valorizada pelos moradores, músicos e produtores musicais. Isso não diminui a diversidade musical que faz as caixas de som tremerem nos eventos, nas ruas e casas: muito forró, brega funk, samba, pagode e funk proibidão são tocados sem stop. Tem lugar para todo mundo na favela.
Para os roqueiros e metaleiros da Maré, opção para curtir um som pauleira não falta. No Morro do Timbau, o antigo Bar do Zé Toré foi um dos primeiros lugares a incentivar a apresentação das bandas no território e mostrar que na favela também tem amantes do rock’n’roll e de suas variações, como o heavy metal, hard rock, grunge e punk rock, entre outros. O tablado da Mata do Pinheiro também era palco para shows, assim como o Pontilhão Cultural, espaço embaixo da Linha Amarela. Já a Lona Cultural Herbert Vianna, a Lona da Maré, que fica entre a Baixa do Sapateiro, Nova Maré e Nova Holanda, já promoveu eventos como Rock na Lona e o Festival Favela Rock Show, trazendo bandas locais e também nacionais. Apresentações que movimentam a Vila dos Pinheiros e fecham até a rua são os shows em frente à Tabacaria Dreadlocks, como as últimas edições do Festival Rock em Movimento.
“Quando eu era moleque sempre via uma galera com camisetas de banda andando pelas ruas. Comecei a fotografar e, com isso, conheci essas figuras e entendi a importância e o nível que essa galera tinha”, diz Paulo Barros, fotógrafo de bandas de rock local e morador da Baixa do Sapateiro. Ele conta que um divisor de águas na cena de rock da Maré foi quando os festivais de música começaram a reunir as bandas nascidas na própria favela para se apresentar em diferentes espaços culturais. “Aqui é um dos principais locais com bandas de rock da cidade do Rio, assim como as comunidades da Zona Sul, de Rio das Pedras e mesmo de Niterói”. Ele cita algumas bandas que cresceram na Maré: D’loks, Canto Cego, Algoz, Ágona, Café Frio, The Primos e Carburador, entre outras.
Não à toa, o movimento do gênero da favela estimulou uma trajetória musical de luta que não é só pela fama, quando se buscam espaços de apresentação, produção e de ensaios. Os integrantes, também moradores, faziam de sua casa o próprio estúdio e até o lugar de seu primeiro clipe, como o da banda Algoz. Paulo não só conhece como acompanha de perto esses bastidores e admite que, em seu trabalho, precisou enfrentar barreiras, como o racismo e o preconceito. “Sempre achei os bastidores muito interessantes e isso foi uma das coisas que me levou a fotografar. Precisava registrar esse trabalho para derrubar o estereótipo de que o cara que está fazendo rock não faz nada da vida”.
Grupo Ágona durante apresentação no Espaço Favela, no Rock In Rio 2019 – Foto: Paulo Barros
Solos de guitarra da Maré no Rock in Rio
O movimento não ocupou só a favela. Crias da Maré, Ágona e Canto Cego se apresentaram no palco Favela na noite dedicada ao metal da edição do Rock in Rio de 2019. A Orquestra Maré do Amanhã também representou os 140 mil moradores tocando clássicos do gênero com o concerto Rock Symphony. “Tocar no Rock in Rio foi coisa de louco, na produção do evento não faltou nada. Foi uma oportunidade para muita gente se apresentar, mostrar o nosso trabalho e também a potência da favela, porque o Estado não entra aqui”, conta Rafael Ferraz, morador da Baixa do Sapateiro e baixista da banda de death metal Ágona.
Os músicos se encontram no QG da banda – a casa do músico. São mais de 15 anos de história, CDs gravados e uma coleção de shows. Rafael explica que o gênero death metal é um tipo de metal um pouco mais rápido e mais técnico, e as músicas falam sobre o que o ser humano faz na terra. “O metal é um movimento de resistência, subversivo. Nossa sorte aqui na Maré é que tem muita gente boa e muitos produtores. Espero que a cena do rock se mantenha e resista ao tempo”, diz o baixista, lembrando das dificuldades de conseguir patrocínio e da falta de espaços culturais para se apresentar. “O roqueiro geralmente ouve música alta no quarto. Às vezes, não tem condição de pagar um show fora daqui, então a galera precisa desse presente”, completa.
Fome de cultura na cidade
Quem já fortaleceu a Maré com música foi Leandro Oliveira, produtor e gestor cultural que fundou o Cine & Rock, único movimento social e cultural de Rio das Pedras, na Zona Oeste. O som veio através do projeto de ônibus itinerante Caravana Cine & Rock, na Vila dos Pinheiros, anos atrás. Ele diz que incentivar musicalmente um espaço precisa de perseverança. “Espero que quem fizer isso saiba que é muita luta; precisa deixar acontecer. Tem que amar muito, porque é muito caro fazer eventos de rock. O investimento é na montagem, nos músicos, equipamentos, produção, entre outras coisas”, observa.
O que fez Leandro começar seu movimento foi a repressão vivida pelo segmento cultural do rock. Se fosse outro gênero musical, ele garante que apoiaria da mesma forma. A partir desse incentivo em oferecer mais cultura musical para sua região, cerca de 20 bandas de rock nasceram. “Foi necessário primeiro buscar aceitação por parte da comunidade. Eram organizados eventos com cinema e rock na praça”, ele relembra o grande movimento de ocupação territorial, inicialmente mobilizando, em uma ação ambiental para transformar um lixão em uma praça limpa e pronta para virar palco, crianças e jovens, que passaram a participar do movimento.
Isso fez surgiu o entendimento da necessidade maior de se ter educação, cultura, esporte e lazer, além da música. Hoje são 350 crianças e jovens atendidos e responsáveis pela manutenção do espaço que frequentam, com aulas de caratê, reforço escolar e outras atividades. Um trabalho social e intelectual que pode não ser muito percebido por carregar em seu nome um gênero com críticas, mas que não para de crescer.
Legenda: Apresentação do grupo Canto Cego no Rock em Movimento – Foto: Paulo Barros
Rock em Movimento
A partir dos anos 2000, as edições do evento de rua Maré de Rock levantou fortemente a bandeira dos direitos humanos junto a diversas bandas e agitou ainda mais a cena musical e crítica da favela. O evento deu tão certo que os organizadores, músicos das bandas Algoz, Café Frio e Levante e outros colaboradores, criaram o Coletivo Rock em Movimento e um festival de mesmo nome.
Em sua trajetória, o coletivo registra a participação de mais de 200 bandas em seus eventos e promete realizar uma edição virtual este ano. Atualmente, a organização do Rock em Movimento é dos integrantes da banda de rock alternativo Missão de Galo: Reginaldo Costa, Klaus Grunwald e Diogo Nascimento. Com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, o grupo vai realizar a transmissão de shows online e lançar um podcast em março. Graças à iniciativa, as bandas e articuladores da cena do rock poderão divulgar novas músicas e debater os desafios surgidos por conta da pandemia. Bandas poderão se inscrever para ganhar a gravação profissional de três clipes; serão escolhidos quatro grupos, mas todos farão parte de um levantamento sobre o cenário musical local.
Caveira Solidária existe desde 2019 e é o único motoclube do território.
Por Thaís Cavalcante em 04/02/2021 às 9h
Editado por Edu Carvalho
A calçada tomada por motos vindas de todos os cantos da cidade que reunia mais de 500 motociclistas mensalmente agora está vazia, por causa da pandemia. Sozinha, reina a Caveira Solidária, motoclube que existe há quase dois anos, com parte de integrantes do antigo motoclube Corja Urbana, na Baixa do Sapateiro, na Maré.
O clube de motociclistas oferece aos seus frequentadores shows de rock, churrasco na brasa, cerveja e muita camaradagem. Roupas pretas, jaqueta de couro, bota, tatuagens e cintos de espinhos são como o uniforme de quem faz parte de clubes como esse. Junto ao traje que identifica e une, a moto é parte necessária. A convivência e parceria é demonstrada em sorrisos, abraços e apertos de mão, mas precisou ser pausada como medida contra a covid-19, assim como as viagens – parte importante da programação.
Vicente Paula, presidente do Caveira Solidária e mareense de coração, teve mais da metade de sua vida atuando como motociclista e sendo admirador do bom e velho rock’n’roll, junto de sua esposa Marilene, que não é integrante do clube mas sim “garupa” – uma companheira nas longas viagens de moto e também parceira dos eventos feitos. Ela já planeja a próxima viagem depois que todos forem vacinados e confessa que gostaria de ir para o Ceará.
“Abrimos o nosso clube porque outras pessoas pediram, com todo o respeito. Todos têm a sua moto como um troféu, não importa se custa 100 mil ou 5 mil. Costumo dizer que moto boa é a sua. Em dia de evento, cada clube traz a sua bandeira e pendura aqui nos muros, cola o seu adesivo para marcar presença”, conta Vicente. Completa, ainda que para frequentar os encontros não é preciso ser motociclista, mas é necessário respeitar e seguir as normas. Quem entra oficialmente para o grupo precisa ter um compromisso, seguir o estatuto de normas e pagar R$50 para ajudar a manter os encontros.
Respeito, lealdade e compromisso
“Nós não podemos errar, por isso que o motociclismo é muito respeitado atualmente. Além do respeito com o próximo, andar com sua moto pelo trânsito é fundamental: não podemos andar na contramão na pista, ou atravessar uma passarela, por exemplo. O que for feito de errado na rua, o motoclube vai estar ciente. O colete é a pele do corpo da gente”, diz o presidente.
Para identificar quem é quem, no colete de couro um nome basta. Mariene é apenas Lene, Vicente Paula é apenas Vicente e Reginaldo Gomes, Próspero – que significa aprendiz do movimento – é apenas Reginaldo. Ao lado do nome, o tipo sanguíneo se destaca em vermelho. A ação pode facilitar atendimento médico ao motociclista em caso de acidente no trânsito.
Reginaldo Gomes, Próspero, é integrante do Caveira Solidária há quase dois anos. Ele trocou suas noites de forró para bater a cabeça ao som de um rock. Ele fica de apoio aprendendo como funciona tudo antes de fazer parte do grupo oficialmente e ganhar o seu escudo. “Sempre gostei deles e os acompanhei. Eu trabalho como porteiro, mas saio de casa com o colete do motoclube e com o adesivo na minha moto. Quando chego lá, eu tiro e coloco meu uniforme de trabalho”.
Brasão do Motoclube só pode ser usado pelos integrantes. Foto: Thaís Cavalcante.
Qual o significado de Caveira Solidária?
Ainda que o símbolo de caveira signifique perigo ou morte para muitos, no movimento de motociclistas e roqueiros não há nada disso. Caveira significa igualdade, representa que todos são parceiros do clube independente de sua religião, gênero, classe ou raça. Já o Solidária é uma prática de apoio que o motoclube faz desde que surgiu: seja ajudando colegas com cestas básicas ou em parceria com outros motoclubes maiores que mobilizam a arrecadação de leite e fralda para crianças hospitalizadas, para asilos, orfanatos e até fazer um mutirão para doação de sangue.
“Se você estiver com o colete, você tem responsabilidade com alguma coisa”
Vicente Paula, Presidente do motoclube Caveira Solidária
Qual a diferença entre motoqueiro, motoboy e motociclista?
Os nomes são parecidos, mas significam coisas bem diferentes. Por isso, é importante entendermos o significado de cada um e a importância dessa identificação. Confira:
Motociclista – é aquele que participa de motoclubes, passeios e usam a moto no trânsito de forma responsável.
Motoqueiro – é aquele que anda de moto sem respeitar as leis de trânsito ou outros motoristas.
Motoboy – é o profissional que usa sua moto ou bicicleta para fazer entregas.
Ana Clara foi atingida na porta de casa ontem, terça-feira
Por Edu Carvalho, em 03/02/2021 às 18h20
Morta na porta de casa na comunidade Monan Pequeno, em Niterói, o corpo da menina Ana Clara Machado, de 5 anos, foi enterrado por volta das 15h30 desta quarta-feira, 3, no cemitério São Francisco Xavier, sob pedidos de paz e justiça.
Cristiane Gomes da Silva, mãe de Ana Clara, chegou à cerimônia de despedida agarrada com a boneca preferida da filha, uma Mônica Baby. Ana estava na porta de casa com a boneca quando foi baleada.
A Polícia Civil informou que a criança foi atingida durante uma operação de PMs do Patrulhamento Tático-Móvel do Largo da Batalha, no bairro de Pendotiba.
Com a morte de Ana Clara, o estado do Rio contabiliza 80 mortes de crianças vítimas de balas perdidas. É o que aponta a ONG Rio de Paz. Uma das vítimas teve seu nome citado em uma lei: é Ágatha Felix, baleada aos oito anos, em 2019, durante operação policial no Complexo do Alemão. Na legislação sancionada em janeiro, há determinação para que “os procedimentos investigatórios e as comunicações internas e externas deverão conter o seguinte aviso escrito: ‘Prioridade – Vítima Criança ou Adolescente'”.