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Artistas da Maré criam podcast de ficção durante pandemia

Peça sonora BECOS, criada por seis jovens artistas da Maré, é lançada durante a pandemia de covid-19

Por Thaís Cavalcante em 16/12/2020 às 12h
Editado por Edu Carvalho

Andar por um beco é conhecer o miolo da favela, é descobrir o que faz parte da imaginação de quem a construiu. Um convite do cotidiano a uma travessia afetiva, que faz conhecer de perto suas questões sociais. Conheça o podcast BECOS, uma história de ficção que imita a realidade, criada por seis jovens artistas da Maré, na cidade do Rio, durante a pandemia do coronavírus.

Os personagens de BECOS vivem encontros, alegrias, violências e outras vivências cotidianas que geram identificação de realidades. Não à toa, eles têm nomes, gostos e hábitos. As diferentes perspectivas dos artistas trouxeram ainda mais vida ao formato sonoro – que envolve e aproxima o ouvinte. No Conjunto de Favelas da Maré existem inúmeros artistas e no projeto é possível conhecer o trabalho intenso de alguns deles: Rodrigo Maré, Jonathan Panta, Matheus de Araujo, MC Martina, Thainá Iná e Thais Ayomide.

Thaina Iná, espirituartista, narradora audiovisual e cria do Parque União, conta que a produção durante a pandemia foi um acontecimento. “Ainda que não mencionemos isso na história, isso está no processo que foi a distância. A gente se conectava pela plataforma de vídeo Zoom. Foi a falta de proximidade que estimulou a gente”, diz. Completa, ainda, que a conexão existia principalmente pelas múltiplas experiências. “Tô falando de um lugar que eu vivo, mas não vou olhar para isso como um fator limitante. Foi um compromisso primeiro com a gente e depois com o que atravessa a gente. Por que a gente só fala da fome de comida? Existem outras fomes”. Para matar essa fome de arte, poesia e cultura os jovens se juntaram durante cinco meses e criaram quatro atos.

Ouça os quatro atos e acompanhe o programa BECOS no Spotify.

Matheus de Araújo foi um dos primeiros a experimentar possibilidades no projeto a partir da produção de vídeo-poema. Ele, estudante de Letras, escritor do zine A reza e do livro Maré Cheia, mora na Rubens Vaz e garante que a narrativa do BECOS foi uma maneira de apontar soluções, não problemas. “Quando se fala em favela, a dor sempre fica em primeiro plano. Nós estamos calejados, por isso deixar a violência sempre primeiro plano é negar também nossa diversidade e potência. Foram decodificações artísticas intensas, mas discutidas com mais facilidade porque o grupo já se conhecia”, conta.

A ideia inicial é que fosse realmente uma peça, mas não sonora. A pandemia mudou o rumo do projeto e uniu ainda mais a ideia de construir experimentos de escrita, vídeos e músicas. “A ideia da peça sonora surgiu depois do exercício de esquetes. A produção criativa foi um desafio e depois de se adaptar foi mais fácil produzir”, diz. A narrativa é tão envolvente que não é difícil acreditar que muita coisa narrada ali não é ficção, pois traduz, em detalhes, a realidade favelada.

Atualmente, o projeto tem a produção de vídeo-poema e seu podcast em todas as plataformas de streaming da internet. O desejo de Matheus é que o programa chegue não só nas plataformas de streaming, mas também em rádios comunitárias e seja divulgado em jornais locais, veículos que são como pontes diretas para que o conteúdo que veio de dentro, volte para dentro. Thaina Iná concorda com o colega: “Que o podcast chegue em vários lugares, mas principalmente no raio de 100 metros de casa. Foi uma provocação de como a gente consegue gerar interesse e fazer uma reflexão em cima do que a gente vive. Esse ponto de gerar o alcance é outro passo fundamental”.

Descubra como foi o processo de criação do grupo no meio da pandemia de covid-19.

BECOS é uma realização da organização de arte e justiça social People’s Palace Projects e da ONG Redes da Maré. Lideranças do projeto, como a diretora da Redes Eliana Sousa e Silva, a diretora de teatro do País de Gales, Catherine Paskell, e o diretor artístico do People’s Palace Projects, Paul Heritage, se juntaram com propósitos bem parecidos para a criação do projeto. “Tivemos a vontade de produzir conhecimento a partir do próprio território. Sendo ele não o objeto de estudo, mas o centro da produção”, diz Paul.

“Os encontros com esses jovens tão talentosos duraram cinco meses. Isso diz mais que saúde mental, é sobre bem-estar e a necessidade de criar durante a pandemia, apesar de tudo o que estava acontecendo. A gente fez uma imersão e teve que inventar uma maneira de criar junto. Vejo uma confiança deles na arte. Como falam, é a arte que salva”, conclui.

Assista ao trailer visual da peça sonora BECOS.

Pesquisa Construindo Pontes

O podcast BECOS foi o braço artístico da pesquisa Construindo Pontes, Atravessando Becos: Cultura e Saúde Mental, que pretendeu investigar o bem-estar e a saúde mental dos mareenses, população de vive em seu cotidiano experiências potentes e criativas, mas também de violência urbana e desigualdade social. O que mostra que a arte também é um instrumento de pesquisa. Durante os projetos realizados junto à Redes da Maré, todos tiveram um elemento artístico como forma de narrativa. Uma união de experimento de dados, pesquisa e narrativa. 

Para que o estudo fosse feito de forma mais completa, abrangeu as áreas da saúde, ciências sociais e cultura. Foram cercas de 1.400 entrevistas com moradores da Maré, dentre eles residentes e usuários de drogas da região. Também foram levantados os serviços de saúde e apoio social e cultural existentes.

Paul acredita que essa é uma pesquisa única sobre o impacto da saúde mental na população mareense e que pretende utilizá-la de três formas. A primeira, com a publicação dos dados acadêmicos em revistas que sejam validadas e dialogue com outros pesquisadores da área. A segunda é sobre o material trazer facilidade para a implantação de políticas públicas, pois investir em cultura na favela é como investir em saúde pública. A terceira é trazer o diálogo para toda a comunidade envolvida, percebendo qual o impacto gerado a partir das diferentes produções sobre o local.

Além do podcast já lançado, há também o projeto de fotografia A Maré de Casa, um ensaio que reuniu depoimentos em foto e texto de moradores durante a quarentena e o isolamento social. Para 2021, a expectativa é o lançamento de dois livros do cientista político Luiz Eduardo, um com artigos sobre a conclusão da pesquisa e outro com narrativas, a partir das vivências dos artistas locais que participaram ativamente do programa.

O projeto tem realização da People’s Palace Projects (Queen Mary University of London) e da Redes de Desenvolvimento da Maré com apoio do Arts and Humanities Research Council, Economic and Social Research Council e pelo Global Challenges Research Fund. 

Talco

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Cada um de nós carrega lembranças da infância. As boas, as ruins, todas, aprendizados para a vida. Eu me lembro da minha avó materna, a Dona Celina, me enchendo de talco, passando excessivamente um pente no meu cabelo e praticamente me amarrando no sofá da sala para que não amarrotasse o uniforme até a hora de ir para a escola.

Naquela época, o Brasil vivia o fim da ditadura militar. Eram os anos 1980, e eu, um menino negro, morador de uma vila operária do subúrbio do Rio, tinha, além das horas na escola, as brincadeiras na rua e o tempo de assistir TV. Este aparelho exercia uma influência gigantesca na vida das pessoas, e lá, meninos e homens negros não existiam. Quando eles apareciam eram tratados como objetos, em papéis subalternos, sujos, grotescos, violentos, primitivos e perigosos. Com esta referência, os apelidos e brincadeiras racistas – hoje, criminosas – eram constantes, uma perseguição mesmo.

Com a chegada da adolescência, a estratégia encontrada foi criar técnicas de “auto branqueamento” para ser aceito nos grupos porque, nessa fase da vida, a solidão é muito grande. A decisão, portanto, foi modernizar aquela antiga arrumação com talco da minha “velha”: cabelo sempre raspado, roupa de cores neutras com etiquetas aparentes e muito bem passadas, perfume de alguma marca gringa conhecida e tênis da moda. Deu certo, até ouvia que era “preto de alma branca” e não ligava para isso. Se tornar alguém que não era foi a estratégia para ter dias de paz e ser finalmente “aceito”.

“Naquele momento, os efeitos do racismo sinalizaram o sentimento de autopunição, cobrança, ansiedade e frustração, pois a superação para um homem negro é constante, diária.”

Carlos André – Cazé – Bacharel em Direito

A entrada sem espanto em determinados grupos era uma realidade, porém, tudo isso tinha um preço, um custo. E caro. O trabalho como office boy rendia um pequeno salário que não dava para comprar as peças da moda e também ajudar nas contas da casa.

Quando já não tinha mais como bancar as roupas da moda e percebendo que meus amigos brancos caminhavam conquistando mais coisas e ascendendo socialmente, comecei a entender o recado de que eu não fazia parte daquele mundo, por mais que eu me endividasse para manter a condição e imagem que havia criado. Naquele momento, os efeitos do racismo sinalizaram o sentimento de autopunição, cobrança, ansiedade e frustração, pois a superação para um homem negro é constante, diária. Você tem que ser o melhor em tudo, pedir desculpas e “com licença” até para o vento, tem de estar sempre de bom humor, ser pró-ativo, simpático, carregar peso com alegria, não reclamar de nada e estar sempre cheiroso e arrumado. Ou seja, tem sempre que aceitar tudo passivamente e, se não for assim, são xingamentos, olhares desconfiados e até a violência verbal e física.

Pensadores e intelectuais brancos relativizam nossa história com as teses mais absurdas. Por esse motivo, conhecer de maneira crítica determinadas questões é importante para mudar o curso da caminhada.  E, no novo curso da caminhada, sempre haverá lugar para a Preta Velha que me arrumava para a escola, sabendo o mundo que tinha de enfrentar já com tão pouca idade. Hoje, com muita sinceridade e carinho com as sombras do passado, não faço mais uso do talco e não me escondo nas etiquetas da moda para ser aceito, prefiro refletir as palavras da professora Lélia Gonzales em que dizia que “Nós negros temos nome e sobrenome, senão os brancos vão nos apelidar da forma que eles querem”.

Esse nome, sobrenome, a história, cultura, a ancestralidade, nossa música, nosso sagrado, nossos intelectuais, nossos pretos e pretas velhas são pilares importantes da construção de uma nação que tenta constantemente apagar com violência, mentira ou nas sutilezas mais  perversas. Mas são corpos negros e livres que hoje limpam o talco branco do pescoço, levantam a cabeça com orgulho e redefinem suas trajetórias.

Réveillon Rio 2021 é cancelado em função da pandemia da covid-19

O cancelamento se dá em respeito às pessoas que faleceram em decorrência ao novo coronavírus

Por Edu Carvalho, em 15/12/2020, às 19h05
Editado por Andressa Cabral Botelho

A Prefeitura do Rio, por meio da Riotur, informa que o réveillon oficial da cidade do Rio de Janeiro está cancelado em função do atual cenário da pandemia da covid-19. Embora o Réveillon Rio 2021 tenha sido projetado em um novo formato, diferente do tradicional, como há anos é praticado na cidade, a festa da virada seria sem a presença de público e queima de fogos e aconteceria em pontos turísticos. O evento poderia ser acompanhado pela TV e mídias digitais, mas, neste momento, a Prefeitura optou pelo cancelamento do evento em respeito a todas as vítimas e em favor da segurança de todos. 

“Quando anunciamos o novo modelo para o Réveillon Rio 2021, falamos em responsabilidade social. O nosso discurso permanece. O motivo do cancelamento nada mais é que uma decisão consciente e responsável”, afirmou o presidente da Riotur, Fabricio Villa Flor. Além de Copacabana, a celebração mais tradicional da cidade, outros oito locais também têm palcos montados pela prefeitura, como o Piscinão de Ramos, na Maré.

“Esta é uma decisão necessária para a proteção de todos. A festa será a da esperança por bons resultados das vacinas para conter a pandemia. Será ainda um momento de reflexão sobre um ano difícil, de luta, com lamentáveis perdas de tantas pessoas. E será também hora de dar graças a Deus pelas vidas salvas”, concluiu o prefeito Marcelo Crivella. Sobre festas particulares e eventos na orla, a Prefeitura reforça que as aglomerações estão proibidas e que as regras de ouro de distanciamento ainda estão em vigor.

No momento, a cidade do Rio está em crescente no número de casos e mortes pelo novo coronavírus: são 151.893 casos e 14.015 mortos confirmados desde o início da pandemia até esta terça-feira, dia 15 de dezembro. Até o momento, 329 pessoas aguardavam por transferência para leitos na capital e na Baixada Fluminense, sendo 185 para leitos de UTI de covid-19.

Governo do Rio lança plano de prevenção para chuvas durante o verão

Ação integrada entre os órgãos públicos atuará com 70 sirenes de alerta durante operações 

Por Edu Carvalho, em 15/12/2020, às 17h40
Editado por Andressa Cabral Botelho

Com o início do verão no próximo dia 21 de dezembro, um dos medos da população são as chuvas de verão, problema constante em diversas regiões do estado, assim como na cidade do Rio. Na Maré é constante ouvir de moradores que durante as pancadas de chuva algumas regiões ficam alagadas. Pensando nisso, na manhã desta terça-feira, dia 15, o governador em exercício do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, apresentou um novo plano de contingência de temporais. O objetivo da ação integrada entre Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e equipes do governo é precaver possíveis danos, dados os efeitos das chuvas nos meses iniciais do ano.

Uma das primeiras ações é o religamento das sirenes que são disparadas durante fortes chuvas, mas principalmente  as que estavam sem funcionar por, pelo menos, três anos. O estado conta hoje com 212 sirenes de alertas de risco que estão ativas e deve ter mais 70 em operação até a próxima sexta, dia 18, como parte do plano, de acordo com o Coronel Leandro Sampaio Monteiro, secretário de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) e Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros do RJ. São 13 as cidades do estado do Rio que estavam com sirenes inoperantes e voltam a funcionar nos seguintes municípios: Areal; Barra do Piraí; Barra Mansa; Bom Jardim; Cachoeiras de Macacu; Duque de Caxias; Magé; Nova Friburgo; Petrópolis; Queimados; São Gonçalo; São João de Meriti e Teresópolis.

O governador Castro destacou que o sistema de sirenes funcionará de maneira integrada com um plano que prevê a ampliação dos canais de informação. Desta forma, a população será comunicada em caso de riscos de desastres. Todas as informações serão enviadas por Whatsapp, Telegram e SMS. Um site, lançado exclusivamente para o plano de contingência, também detalha as ações da Defesa Civil e conta com informações meteorológicas atualizadas. 

No site também é possível acessar uma lista de locais que servirão de abrigo às pessoas que possam vir a ficar desabrigadas, além de informar pontos de doação e hospitais de base durante as chuvas. Além disso, o governo anunciou a compra de kits de alimentação e salvamento para os possíveis desabrigados, incluindo água, produtos de limpeza, colchões e botes.

Canais de contato para informações sobre emergências:

WhatsApp: Basta enviar mensagem para (21) 98596-9152 e seguir as instruções.
Telegram: A adesão é feita por meio do link: t.me/monitoramentocemadenrj.
SMS: É preciso mandar o número do CEP para 40199
Site: www.contingenciaverao.rj.gov.br

Um mundo que não vê pessoas com deficiência

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Moradores da Maré se unem em grupos para lutarem por direitos 

Maré de Notícias #119 – dezembro de 2020

Por Hélio Euclides

Calçadas em péssimas condições, falta de guias rebaixadas, inadequação de lojas, transporte sem adaptação, ensino profissional precário, preconceito e diversas barreiras em prédios comerciais e públicos. Essas são algumas das dificuldades enfrentadas diariamente por quem tem deficiência. Somado a isso, ainda há a dificuldade para acessar os serviços de saúde, auxílios e benefícios. Para se fortalecer, familiares de Pessoas com Deficiência (PcD) se unem em coletivos para se ajudarem e conquistarem direitos. 

A deficiência física, bem como os transtornos psíquicos são fatores limitadores do acesso a bens, equipamentos e direitos de cidadãs e cidadãos. O Censo Maré (2019) indagou a existência de moradores com deficiência intelectual, física ou motora, indicando que 3.5% dos domicílios, ou seja, 1.670 casas, têm, pelo menos, um morador nessa condição. Já a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 estimou 200,6 milhões de pessoas residentes em domicílios particulares permanentes. Desse total, 6,2% possuíam pelo menos uma deficiência. 

Pensando nessa população e na urgência de suas pautas, que envolvem saúde, educação, mobilidade e outras questões, foi criado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. O dia 03 de dezembro foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), e a data tem por objetivo conscientizar a sociedade para a igualdade de acesso e de oportunidades a todas as pessoas. Entretanto, vivemos em um cenário longe de promover igualdade a esse grupo.

Para piorar a vida dessa parcela da população, o Presidente Jair Bolsonaro assinou o Decreto nº 10.502/2020, que acaba com a obrigatoriedade de as escolas regulares matriculem alunos com deficiência e estimula a criação de escolas e salas de aulas específicas para eles. Fabiana Oliveira é mãe de Kelly, que tem multi- malformação nos órgãos, e não ficou satisfeita com a medida do Governo Federal. “Sou contra, pois prefiro que minha filha conviva com todos, até porque é preciso que as crianças aprendam a conviver com as diferenças”, afirma. 

O jornalista comunitário Anderson Jedaí acredita que a opinião pública trata a questão com descaso, e a sociedade não tem empatia com as pessoas com deficiência. Para ele, uma resposta será dada na Maré quando houver união dos presidentes de associações de moradores, lideranças locais, ativistas, formadores de opinião, instituições do terceiro setor e líderes religiosos para o bem comum. “É preciso deixar de lado as diferenças e falar sobre a questão da mobilidade urbana. A partir deste ponto, discutir pautas importantes para dentro da Maré”, expõe. 

Quem tem a mesma opinião é Rafael Lima, presidente do projeto Maré Solidária. O projeto tenta se mobilizar para a aquisição de cadeira de rodas, beneficiando quem não tem renda suficiente. “Muitos não recebem o benefício do INSS ou estão na fila, algo que demora. O projeto nasce para atender às demandas, não só na Maré”, diz Lima, que acha que as instituições precisam ter um olhar mais atento para essas pessoas. Ele conta que uma cadeira de roda custa de R$ 500 a R$ 3.000, então, o projeto faz o empréstimo, e quando a pessoa fica boa, devolve o assento que é encaminhado para outro paciente. “Nos tempos atuais, de tantas desigualdades e intolerâncias, a solidariedade se torna ainda mais essencial, pois é uma forma de combater as desumanidades e trazer para as pessoas um pouco de esperança”, expõe. 

Ana Cunha (E), fundadora do Especiais da Kelsons, junto à Fabiana Oliveira e Kelly – Foto: Matheus Affonso

Só a união pode superar os obstáculos

Os Especiais da Maré já contaram a sua trajetória nas páginas da edição 109 do Maré de Notícias, de fevereiro de 2020. Na entrevista, Alusca Cristina não imaginava a dificuldade que seria com a pandemia. “Para quem tem pessoa com deficiência na família, a vida já é difícil, mas, este ano, se complicou. Ocorreu muito desemprego, então, foi necessário intensificar o trabalho de doação para a cesta básica, fraldas e leite”, diz. O projeto conta com 400 pessoas cadastradas, que interagem e se ajudam por meio de dois grupos do WhatsApp. 

Com a pandemia, o grupo acabou dando um tempo no sonho de ter um centro de reabilitação na Maré e de formalizar o projeto. “Não estamos parados. No Dia das Crianças, a festa não aconteceu, mas as crianças do projeto receberam em casa um brinquedo. Para o ano que vem, desejamos voltar com o guarda-roupa solidário, que são encontros semanais na Vila Olímpica da Maré, nos quais as mães conversam e levam sua doação para casa”, conclui. 

Em Marcílio Dias, existem dois grupos que atuam na defesa das pessoas com deficiência. O Projeto Especiais da Kelson’s foi criado para reunir doações e agrega mais de 70 pessoas, entre familiares de pessoas com deficiência e amigos, e se articula por meio de um grupo do WhatsApp. A iniciativa partiu da Associação de Moradores de Marcílio Dias, presidida por Ana Cunha. Umas das mães presentes no grupo é Patrícia Barros, mãe de Kauan, que é autista, tem paralisia, síndrome de West e deficiência visual. Ela reclama que o governo não cumpre seu papel. “Não pego remédio de graça, eu compro há oito anos. Na última semana, eu paguei R$ 500 de consulta. Se dependesse da saúde pública, meu filho já tinha morrido”, conta. Além disso, ela reclama que foi muito difícil conseguir o Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social (BPC). Ao Maré de Notícias, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) declarou que o BPC é um benefício oferecido pelo Governo Federal, ficando sob sua responsabilidade apenas o cadastramento no CadÚnico. 

Osvaldina Barros de Carvalho, mãe de um autista de oito anos, reclama que seu filho não tem nenhum acompanhamento médico. “Fui em uma consulta no Instituto de Neurologia Deolindo Couto, mas eles não aceitaram começar o tratamento, pois é necessária uma equipe multidisciplinar. Também fui no CAPSi Visconde da Sabugosa, localizado na Praia de Ramos, mas recebi a mesma resposta”, conta. Ela aguarda na fila do Sistema de Regulação (Sisreg). 

A RioSaúde, empresa responsável pelo Centro Municipal de Saúde (CMS) João Cândido, que atende à comunidade de Marcílio Dias, informou que o médico pediu demissão, mas tenta contratar outro profissional para a unidade. Os pacientes do CMS são atendidos pela enfermagem e, quando há indicação, são encaminhados para assistência médica na Clínica da Família Heitor dos Prazeres, do outro lado da Avenida Brasil. Apenas as consultas em especialidades são marcadas pelo Sisreg para unidades de referência. Sobre a farmácia, a empresa assegurou que funciona de segunda à sexta-feira para fornecimento de remédios aos pacientes. 

Outro projeto que atua em Marcílio Dias é “Criando Laços Especiais”, organizado por Ana Paula Germano, mãe de um menino autista, de 12 anos. O grupo reúne 30 famílias pelo WhatsApp e em redes sociais. “Ser mãe de especial de alguma maneira te torna especial. Talvez a forma que encarei a deficiência do meu filho foi o início para tudo acontecer. Espero que possa ajudar mais famílias, e que elas se sintam acolhidas por pessoas que entendem o que elas passam”, diz. O objetivo do grupo é a ajuda mútua, a troca de experiências e as doações de fraldas e medicações.

Abaixo os contatos para quem desejar fazer sua doação: 

Maré Solidária

Instagram: @maresolidaria_oficial

Facebook: maresolidaria

Instituto Jacqueline Terto

Instagram: @inst_jac_terto

Criando Laços Especiais na Kelson

Instagram: @criandolacosespeciaisnakelson

WhatsApp: 98265-1519

Especiais da Kelson

WhatsApp: 99604-6504

Especiais da Maré

WhatsApp: 96989-0092

Guia identifica 26 Museus de Favela e projetos de memória

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Esta matéria foi feita em parceria entre Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia e a Comcat. Publicado originalmente por Rioonwatch.

No terceiro Grande Encontro anual da Rede Favela Sustentável (RFS)*, o Grupo de Trabalho de Memória e Cultura lançou um roteiro único para a riqueza cultural das favelas, periferias e quilombos da cidade: O Guia de Museus e Memórias da Rede Favela Sustentável. O Guia destaca histórias que foram forçosamente reprimidas e é uma referência para quem deseja se afastar da museologia conservadora e suas evocações unidimensionais do passado, ou visões superficiais e estigmatizantes das favelas.

“Esse Guia nos dá visibilidade, quando a gente é geralmente marginalizado. Mostra os saberes da favela para os outros. É importante que cada favelado conte a sua própria história”, disse Maria da Penha, do Museu das Remoções da Vila Autódromo, que também escreveu o prefácio do Guia, onde se lê: “Muito já se perdeu das memórias e histórias de comunidades, favelas, guetos e periferias. O Brasil não teve o cuidado e a atenção devida em preservar na íntegra a memória dos povos originários, dos negros e da população pobre, que sempre colaboraram na construção e no desenvolvimento desse país”.

Além da introdução de Maria da Penha, o Guia inclui reflexões escritas coletivamente pelo GT de Memória e Cultura da RFS, sobre temas como: “Porque a existência de Museus de Favela” e “Como museus comunitários geram pertencimento e identidade?” No centro do Guia está contido o mapa das iniciativas de preservação da memória, que também pode ser acessado no Google Maps aqui. Por fim, no Guia, cada iniciativa tem um espaço próprio, que contém uma breve introdução do museu/iniciativa, informações de contato, o endereço e o ano em que a iniciativa foi fundada. Devido à natureza histórica do Guia, as iniciativas são organizadas em ordem cronológica, por ano de fundação.

Museu do Horto, na zona sul do Rio. Foto Laura Olivieri

Um esforço de pesquisa de um ano, que começou como uma discussão dentro do GT, identificou 26 museus comunitários, centros de pesquisa, galerias de arte e locais históricos na Grande Rio, que vão desde quilombos fundados há séculos até um museu móvel inaugurado em 2019, e incluem, mas não se limitam a, projetos que participam da RFS. Enquanto algumas das iniciativas contam com locais físicos, outras assumem a forma de tours ou desfiles de carnaval. O que os projetos têm em comum, segundo os textos elaborados conjuntamente pelo Guia, é que eles visam que “e todos tenham acesso ao
entretenimento e a educação proporcionados pelos museus físicos”, e contam a história de uma perspectiva local, “deixando claro que não aceitaremos que nos seja imposta uma história e uma memória que não são nossas”.

As iniciativas entrelaçam elementos da arte local, histórias de moradores, métodos de convivência harmoniosa com a natureza e resistência política, como explicado em um ensaio como a “reafirmação de territorialidade frente à injustiça socioespacial, à tendência de homogeneidade do processo de globalização e à liquidez efêmera da pós-modernidade”, de acordo com os autores do Guia. Para eles, as iniciativas do Guia mostram a “função libertadora da memória”. Refletindo sobre os desafios da “falta de divulgação, e, consequentemente, falta de público em geral”, o Guia serve como um convite para visitas, diálogo e apoio.

Ponto de origem do Museu das Remoções. Foto Luiz Cláudio Silva

O Guia inclui iniciativas culturais cujos eixos centrais estão ligados à história negra, como o Quilombo Pedra do Sal, um dos primeiros quilombos urbanos do Brasil; resistência indígena, como a Universidade Indígena Aldeia Maracanã; e identidades urbanas mais contemporâneas como o Museu do Graffiti e o Meeting of Favela, ambos com foco na arte de rua. Ao mesmo tempo, os museus representam a diversidade de pessoas que ao longo dos anos passaram pelos seus territórios e fizeram deles seus lares, valorizando “a autonomia, a construção coletiva, o envolvimento dos moradores e moradoras que são especialistas e pertencem de fato à aqueles territórios”, escrevem os autores do Guia.

O evento de lançamento, no dia 7 de novembro, contou com a participação de Maria da Penha, do Museu das Remoções, José Renato Pimenta do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), Luiz Antônio de Oliveira do Museu da Maré, Francisco Valdean do Museu da Imagem Itinerante da Maré (MIIM) e Tereza Onã do Núcleo de Memória e Identidade da Maré (NUMIM). Eles refletiram sobre as filosofias que orientam suas iniciativas e os objetivos mais amplos por trás da criação coletiva do Guia.

“Memória é um instrumento importante para essa transformação que a gente tanto deseja a partir da base”, disse Luiz Antônio. Ao criar um museu dedicado à cultura e à história local, ele disse, “você quebra esses estigmas que boa parte da sociedade imputou aos moradores de favela, ao longo de décadas na cidade do Rio de Janeiro. É um instrumento extremamente político”.

Como os Museus Comunitários Geram Pertencimento e Identidade

Muitas iniciativas do Guia de Museus e Memórias da Rede Favela Sustentável trabalham em estreita colaboração com moradores de favelas e periferias urbanas para documentar seu cotidiano, como a iniciativa Memórias de Cerro Corá, o Museu Sankofa na Rocinha e o Museu de Favela, um museu a céu aberto que busca valorizar a memória individual e coletiva dos moradores do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo. Francisco Valdean, que exibe suas imagens por meio do seu museu itinerante, o MIIM, disse que esse tipo de trabalho mostra “que é possível… levar as pessoas a olharem as fotos, e a imaginarem as favelas, além das imagens já estabelecidas”. Romper o estigma e aumentar a compreensão é um princípio básico de muitos museus comunitários.

O pesquisador Francisco Valdean do Museu de Imagem Itinerante da Maré

Muitas iniciativas do Guia possuem identidades ligadas à preservação da área ao entorno. A Associação Cultural Quilombo do Camorim realiza caminhadas históricas e ambientais, a Associação Cultural Quilombo do Sacopã é conhecida pela “preservação da mata e da biodiversidade”, destaca o Guia, enquanto no Quilombo Cafundá Astrogilda “o uso de plantas medicinais e as práticas de cuidado se configuram como dádivas herdadas dos antepassados”. O Ecomuseu de Sepetiba e o Ecomuseu Caceribú são especificamente focadas em seus ambientes naturais locais, assim como o Museu Vivo de São Bento, o primeiro ecomuseu da Baixada Fluminense.

Outros museus estão ligados às tradições musicais locais—e profundamente históricas, como a Casa do Jongo da Serrinha e o Museu Casa do Bumba Meu Boi em Movimento, em Bangu. Alguns se concentram mais nas artes visuais, como a Casa Amarela, na Providência. E muitos dos museus contam histórias das lutas políticas locais, como o Museu das Remoções e o Museu do Horto, “um instrumento de resistência na causa das famílias tradicionais do Horto Florestal, que hoje sofrem com a especulação imobiliária, apesar de dois séculos de história”.

Cerro Corá – Foto André Martins

Maria da Penha, no evento de lançamento, disse que o Museu das Remoções foi concebido a partir de 2015, pois a Vila Autódromo sofreu um processo de remoção amargo e prolongado. “[O Museu das Remoções] nasce com duas propostas: permanecer na comunidade, ser uma ferramenta de luta contra as remoções, mostrar que a gente queria ficar nesse espaço, que a gente amava esse espaço, que a gente tinha direito a esse território, que a gente estava sendo violando. E para guardar a memória, de quem foi, de quem morou nessa comunidade por tantos [anos]. E contar a nossa história”.

Maria da Penha concluiu, “Memória não se remove!”

A Importância dos Museus das Favelas para a Cidade

O Guia descreve que “O museu de favela, mais do que um lugar de memória e de exposição de acervo e coleções locais, pode e deve ser lócus de pesquisa e produção de conhecimento gerado a partir de um ponto de vista do oprimido, de um ponto de vista insurgente, de um ponto de vista decolonial, de onde emana a verdadeira busca por mudança”.

Essa perspectiva de mudança pode ser observada em museus do Guia, como o Instituto de Pesquisa a Memória Pretos Novos, que foi fundado em 2005 e “promove a reflexão sobre a escravidão e suas sequelas para os princípios de igualdade racial no Brasil”.

Muitos projetos culturais do Guia inovam ao questionar as noções tradicionais do que constitui um museu. O NOPH de Santa Cruz, embora tenha sido fundado originalmente para “valorizar o patrimônio material de Santa Cruz, principalmente as construções do período colonial, Jesuítas, e imperial”, disse José Renato Pimenta, evoluiu com “a virada da museológica em direção ao patrimônio imaterial, no final dos anos 1980, começo dos anos 1990”. Nos anos 1990, “o museu passa a ser o território do bairro e a população que nele habita, ou seja, isso coloca diretamente a favela dentro do NOPH… porque 70% do bairro de Santa Cruz é composto por favelas”.

O MIIM, o “filho mais novo do catálogo”, disse Francisco, é um museu itinerante dentro de uma caixa de sapatos. Na caixa, Francisco armazena imagens em monóculos, negativos de fotos e fotos do dia a dia da Maré. Ele os mostra para as pessoas nas ruas da Maré e em eventos de bairro, como churrascos. “A parte inventiva desse museu vem desse contato com as pessoas”, disse ele. A pergunta das pessoas: “‘Isso é um museu?’ é uma questão de extrema relevância para a museologia e para a arte”.

Francisco disse que quando apresentou o MIIM numa escola da Vila do Pinheiro na Maré, “um aluno levantou e afirmou: ‘Minha vó é um museu!’, e eu perguntei: ‘Por que sua avó é um museu?’, e ele respondeu: ‘Porque minha vó é cheia de histórias, e ela arquiva o material fotográfico dela numa caixa também!’”

O Guia mostra que assim como uma caixa de sapatos pode servir de museu, também o pode fazer uma caminhada, como o Rolé dos Favelados e Rocinha Histórica, e um desfile de carnaval, como o Se Benze Que Dá da Maré.”

Museu da Favela – Foto MUF

Os museus comunitários, disse Luiz Antônio de Oliveira do Museu da Maré, têm “muito a dialogar com os ditos museus tradicionais”. A exposição de longa duração do Museu da Maré examina as diferentes fases da vida dos moradores da favela, como migração, trabalho, resistência e festividades. “A Memória é ao mesmo tempo encantadora, sensível, mas é poderosa, e forte. E pode ser bruta também. Em dados momentos que sejam necessários”, disse Luiz Antônio, acima de tudo, “a memória é social. Memória de vida é feita por pessoas, não por móveis e paredes”.

Além disso, comentando sobre a importância do intercâmbio, ele disse: “Não dá para a gente se fechar em um círculo de museus comunitários. A gente tem que trabalhar essa pedagogia”.

Esse diálogo entre museus tradicionais e favelados já está ocorrendo, como pode ser visto por intercâmbios e premiações como no caso do Museu de Favela, outra iniciativa no Guia, que recebeu duas homenagens em 2009 do Instituto Brasileiro de Museus: “pelo seu conceito de Museu Vivo e diferenciado de se pensar e fazer museus”.

Museus Comunitários Após a Pandemia

“O que a gente vislumbra dos museus comunitários pós-pandemia é justamente que os museus físicos se mantenham de pé e com as portas abertas”, está escrito no Guia. “Muitos deles, infelizmente, podem não voltar a abrir por causa da falta de recursos e de visitantes”.

Durante a pandemia, gestores de museus de favelas continuaram a divulgar seu trabalho por meio da participação em eventos e projetos digitais, como a compilação do próprio Guia. O MIIM, por exemplo, organizou uma exposição coletiva online de fotógrafos da Maré, enquanto o Museu da Maré oferece passeios virtuais para aqueles que contribuem com sua campanha de arrecadação de fundos.

Mas muitas das experiências dos museus não são as mesmas no mundo virtual e, por isso, seus organizadores estão se preparando para o momento em que seja seguro circular pela cidade novamente. O evento de lançamento do Guia foi encerrado com as palavras de Tereza Onã, do NUMIM, que faz parte da ONG Redes da Maré. O NUMIM ajudou a criar o Museu a Ceú Aberto da Maré, cuja inauguração oficial foi adiada pela pandemia. O museu é “um circuito que começa no Parque União e termina lá na Vila do Pinheiro”, disse Tereza, e é composto por azulejos com palavras dos moradores. Foi criado “conversando com moradores. Na verdade, é um conjunto de memórias de moradores, também de todas as faixas etárias”.

Tereza também faz parte das Griots da Maré do NUMIM, um grupo de contadoras de histórias negras. “Como uma mulher negra na diáspora, a oralidade é um alicerce para nossa população”, disse ela. Se a Maré é cheia de história que compõe a sua identidade, também é verdade que “a Maré é o futuro”.

Reunião do NUMIN, da Redes da Maré. Foto Douglas Lopes

O sentimento de esperança foi ecoado por outros participantes no evento de lançamento e em um dos textos finais do Guia: “Com dedicação e trabalho em conjunto com as nossas comunidades, esperamos que os museus de favelas possam receber mais trabalhos culturais, para que todos possam ter acesso a uma diversidade que apenas a favela tem a mostrar”.

Para que os museus continuem a florescer, afirmou Luiz Antônio no lançamento, “é importante estar nesses espaços coletivos. Tentar criar redes. Tentar criar caminhos para aglutinar essas ações tão importantes”.

“Museus das favelas, resistem!” Lê-se no subtítulo do cordel, escrito em conjunto, que fecha o Guia, e que conclui: “Cuidar, trocar, amar e divulgar—o Guia de Museus das Favelas está pronto para registrar narrativas de olhares periféricos”.

Leia o Guia de Museus e Memórias aqui e assista ao Lançamento do Guia aqui.

* A Rede Favela Sustentável e o RioOnWatch são projetos de Comunidades Catalisadoras (ComCat). A Rede Favela Sustentável é apoiada pela Fundação Heinrich Böll Brasil.