Home Blog Page 380

Um mundo que não vê pessoas com deficiência

0

Moradores da Maré se unem em grupos para lutarem por direitos 

Maré de Notícias #119 – dezembro de 2020

Por Hélio Euclides

Calçadas em péssimas condições, falta de guias rebaixadas, inadequação de lojas, transporte sem adaptação, ensino profissional precário, preconceito e diversas barreiras em prédios comerciais e públicos. Essas são algumas das dificuldades enfrentadas diariamente por quem tem deficiência. Somado a isso, ainda há a dificuldade para acessar os serviços de saúde, auxílios e benefícios. Para se fortalecer, familiares de Pessoas com Deficiência (PcD) se unem em coletivos para se ajudarem e conquistarem direitos. 

A deficiência física, bem como os transtornos psíquicos são fatores limitadores do acesso a bens, equipamentos e direitos de cidadãs e cidadãos. O Censo Maré (2019) indagou a existência de moradores com deficiência intelectual, física ou motora, indicando que 3.5% dos domicílios, ou seja, 1.670 casas, têm, pelo menos, um morador nessa condição. Já a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 estimou 200,6 milhões de pessoas residentes em domicílios particulares permanentes. Desse total, 6,2% possuíam pelo menos uma deficiência. 

Pensando nessa população e na urgência de suas pautas, que envolvem saúde, educação, mobilidade e outras questões, foi criado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. O dia 03 de dezembro foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), e a data tem por objetivo conscientizar a sociedade para a igualdade de acesso e de oportunidades a todas as pessoas. Entretanto, vivemos em um cenário longe de promover igualdade a esse grupo.

Para piorar a vida dessa parcela da população, o Presidente Jair Bolsonaro assinou o Decreto nº 10.502/2020, que acaba com a obrigatoriedade de as escolas regulares matriculem alunos com deficiência e estimula a criação de escolas e salas de aulas específicas para eles. Fabiana Oliveira é mãe de Kelly, que tem multi- malformação nos órgãos, e não ficou satisfeita com a medida do Governo Federal. “Sou contra, pois prefiro que minha filha conviva com todos, até porque é preciso que as crianças aprendam a conviver com as diferenças”, afirma. 

O jornalista comunitário Anderson Jedaí acredita que a opinião pública trata a questão com descaso, e a sociedade não tem empatia com as pessoas com deficiência. Para ele, uma resposta será dada na Maré quando houver união dos presidentes de associações de moradores, lideranças locais, ativistas, formadores de opinião, instituições do terceiro setor e líderes religiosos para o bem comum. “É preciso deixar de lado as diferenças e falar sobre a questão da mobilidade urbana. A partir deste ponto, discutir pautas importantes para dentro da Maré”, expõe. 

Quem tem a mesma opinião é Rafael Lima, presidente do projeto Maré Solidária. O projeto tenta se mobilizar para a aquisição de cadeira de rodas, beneficiando quem não tem renda suficiente. “Muitos não recebem o benefício do INSS ou estão na fila, algo que demora. O projeto nasce para atender às demandas, não só na Maré”, diz Lima, que acha que as instituições precisam ter um olhar mais atento para essas pessoas. Ele conta que uma cadeira de roda custa de R$ 500 a R$ 3.000, então, o projeto faz o empréstimo, e quando a pessoa fica boa, devolve o assento que é encaminhado para outro paciente. “Nos tempos atuais, de tantas desigualdades e intolerâncias, a solidariedade se torna ainda mais essencial, pois é uma forma de combater as desumanidades e trazer para as pessoas um pouco de esperança”, expõe. 

Ana Cunha (E), fundadora do Especiais da Kelsons, junto à Fabiana Oliveira e Kelly – Foto: Matheus Affonso

Só a união pode superar os obstáculos

Os Especiais da Maré já contaram a sua trajetória nas páginas da edição 109 do Maré de Notícias, de fevereiro de 2020. Na entrevista, Alusca Cristina não imaginava a dificuldade que seria com a pandemia. “Para quem tem pessoa com deficiência na família, a vida já é difícil, mas, este ano, se complicou. Ocorreu muito desemprego, então, foi necessário intensificar o trabalho de doação para a cesta básica, fraldas e leite”, diz. O projeto conta com 400 pessoas cadastradas, que interagem e se ajudam por meio de dois grupos do WhatsApp. 

Com a pandemia, o grupo acabou dando um tempo no sonho de ter um centro de reabilitação na Maré e de formalizar o projeto. “Não estamos parados. No Dia das Crianças, a festa não aconteceu, mas as crianças do projeto receberam em casa um brinquedo. Para o ano que vem, desejamos voltar com o guarda-roupa solidário, que são encontros semanais na Vila Olímpica da Maré, nos quais as mães conversam e levam sua doação para casa”, conclui. 

Em Marcílio Dias, existem dois grupos que atuam na defesa das pessoas com deficiência. O Projeto Especiais da Kelson’s foi criado para reunir doações e agrega mais de 70 pessoas, entre familiares de pessoas com deficiência e amigos, e se articula por meio de um grupo do WhatsApp. A iniciativa partiu da Associação de Moradores de Marcílio Dias, presidida por Ana Cunha. Umas das mães presentes no grupo é Patrícia Barros, mãe de Kauan, que é autista, tem paralisia, síndrome de West e deficiência visual. Ela reclama que o governo não cumpre seu papel. “Não pego remédio de graça, eu compro há oito anos. Na última semana, eu paguei R$ 500 de consulta. Se dependesse da saúde pública, meu filho já tinha morrido”, conta. Além disso, ela reclama que foi muito difícil conseguir o Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social (BPC). Ao Maré de Notícias, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) declarou que o BPC é um benefício oferecido pelo Governo Federal, ficando sob sua responsabilidade apenas o cadastramento no CadÚnico. 

Osvaldina Barros de Carvalho, mãe de um autista de oito anos, reclama que seu filho não tem nenhum acompanhamento médico. “Fui em uma consulta no Instituto de Neurologia Deolindo Couto, mas eles não aceitaram começar o tratamento, pois é necessária uma equipe multidisciplinar. Também fui no CAPSi Visconde da Sabugosa, localizado na Praia de Ramos, mas recebi a mesma resposta”, conta. Ela aguarda na fila do Sistema de Regulação (Sisreg). 

A RioSaúde, empresa responsável pelo Centro Municipal de Saúde (CMS) João Cândido, que atende à comunidade de Marcílio Dias, informou que o médico pediu demissão, mas tenta contratar outro profissional para a unidade. Os pacientes do CMS são atendidos pela enfermagem e, quando há indicação, são encaminhados para assistência médica na Clínica da Família Heitor dos Prazeres, do outro lado da Avenida Brasil. Apenas as consultas em especialidades são marcadas pelo Sisreg para unidades de referência. Sobre a farmácia, a empresa assegurou que funciona de segunda à sexta-feira para fornecimento de remédios aos pacientes. 

Outro projeto que atua em Marcílio Dias é “Criando Laços Especiais”, organizado por Ana Paula Germano, mãe de um menino autista, de 12 anos. O grupo reúne 30 famílias pelo WhatsApp e em redes sociais. “Ser mãe de especial de alguma maneira te torna especial. Talvez a forma que encarei a deficiência do meu filho foi o início para tudo acontecer. Espero que possa ajudar mais famílias, e que elas se sintam acolhidas por pessoas que entendem o que elas passam”, diz. O objetivo do grupo é a ajuda mútua, a troca de experiências e as doações de fraldas e medicações.

Abaixo os contatos para quem desejar fazer sua doação: 

Maré Solidária

Instagram: @maresolidaria_oficial

Facebook: maresolidaria

Instituto Jacqueline Terto

Instagram: @inst_jac_terto

Criando Laços Especiais na Kelson

Instagram: @criandolacosespeciaisnakelson

WhatsApp: 98265-1519

Especiais da Kelson

WhatsApp: 99604-6504

Especiais da Maré

WhatsApp: 96989-0092

Guia identifica 26 Museus de Favela e projetos de memória

0

Esta matéria foi feita em parceria entre Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia e a Comcat. Publicado originalmente por Rioonwatch.

No terceiro Grande Encontro anual da Rede Favela Sustentável (RFS)*, o Grupo de Trabalho de Memória e Cultura lançou um roteiro único para a riqueza cultural das favelas, periferias e quilombos da cidade: O Guia de Museus e Memórias da Rede Favela Sustentável. O Guia destaca histórias que foram forçosamente reprimidas e é uma referência para quem deseja se afastar da museologia conservadora e suas evocações unidimensionais do passado, ou visões superficiais e estigmatizantes das favelas.

“Esse Guia nos dá visibilidade, quando a gente é geralmente marginalizado. Mostra os saberes da favela para os outros. É importante que cada favelado conte a sua própria história”, disse Maria da Penha, do Museu das Remoções da Vila Autódromo, que também escreveu o prefácio do Guia, onde se lê: “Muito já se perdeu das memórias e histórias de comunidades, favelas, guetos e periferias. O Brasil não teve o cuidado e a atenção devida em preservar na íntegra a memória dos povos originários, dos negros e da população pobre, que sempre colaboraram na construção e no desenvolvimento desse país”.

Além da introdução de Maria da Penha, o Guia inclui reflexões escritas coletivamente pelo GT de Memória e Cultura da RFS, sobre temas como: “Porque a existência de Museus de Favela” e “Como museus comunitários geram pertencimento e identidade?” No centro do Guia está contido o mapa das iniciativas de preservação da memória, que também pode ser acessado no Google Maps aqui. Por fim, no Guia, cada iniciativa tem um espaço próprio, que contém uma breve introdução do museu/iniciativa, informações de contato, o endereço e o ano em que a iniciativa foi fundada. Devido à natureza histórica do Guia, as iniciativas são organizadas em ordem cronológica, por ano de fundação.

Museu do Horto, na zona sul do Rio. Foto Laura Olivieri

Um esforço de pesquisa de um ano, que começou como uma discussão dentro do GT, identificou 26 museus comunitários, centros de pesquisa, galerias de arte e locais históricos na Grande Rio, que vão desde quilombos fundados há séculos até um museu móvel inaugurado em 2019, e incluem, mas não se limitam a, projetos que participam da RFS. Enquanto algumas das iniciativas contam com locais físicos, outras assumem a forma de tours ou desfiles de carnaval. O que os projetos têm em comum, segundo os textos elaborados conjuntamente pelo Guia, é que eles visam que “e todos tenham acesso ao
entretenimento e a educação proporcionados pelos museus físicos”, e contam a história de uma perspectiva local, “deixando claro que não aceitaremos que nos seja imposta uma história e uma memória que não são nossas”.

As iniciativas entrelaçam elementos da arte local, histórias de moradores, métodos de convivência harmoniosa com a natureza e resistência política, como explicado em um ensaio como a “reafirmação de territorialidade frente à injustiça socioespacial, à tendência de homogeneidade do processo de globalização e à liquidez efêmera da pós-modernidade”, de acordo com os autores do Guia. Para eles, as iniciativas do Guia mostram a “função libertadora da memória”. Refletindo sobre os desafios da “falta de divulgação, e, consequentemente, falta de público em geral”, o Guia serve como um convite para visitas, diálogo e apoio.

Ponto de origem do Museu das Remoções. Foto Luiz Cláudio Silva

O Guia inclui iniciativas culturais cujos eixos centrais estão ligados à história negra, como o Quilombo Pedra do Sal, um dos primeiros quilombos urbanos do Brasil; resistência indígena, como a Universidade Indígena Aldeia Maracanã; e identidades urbanas mais contemporâneas como o Museu do Graffiti e o Meeting of Favela, ambos com foco na arte de rua. Ao mesmo tempo, os museus representam a diversidade de pessoas que ao longo dos anos passaram pelos seus territórios e fizeram deles seus lares, valorizando “a autonomia, a construção coletiva, o envolvimento dos moradores e moradoras que são especialistas e pertencem de fato à aqueles territórios”, escrevem os autores do Guia.

O evento de lançamento, no dia 7 de novembro, contou com a participação de Maria da Penha, do Museu das Remoções, José Renato Pimenta do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), Luiz Antônio de Oliveira do Museu da Maré, Francisco Valdean do Museu da Imagem Itinerante da Maré (MIIM) e Tereza Onã do Núcleo de Memória e Identidade da Maré (NUMIM). Eles refletiram sobre as filosofias que orientam suas iniciativas e os objetivos mais amplos por trás da criação coletiva do Guia.

“Memória é um instrumento importante para essa transformação que a gente tanto deseja a partir da base”, disse Luiz Antônio. Ao criar um museu dedicado à cultura e à história local, ele disse, “você quebra esses estigmas que boa parte da sociedade imputou aos moradores de favela, ao longo de décadas na cidade do Rio de Janeiro. É um instrumento extremamente político”.

Como os Museus Comunitários Geram Pertencimento e Identidade

Muitas iniciativas do Guia de Museus e Memórias da Rede Favela Sustentável trabalham em estreita colaboração com moradores de favelas e periferias urbanas para documentar seu cotidiano, como a iniciativa Memórias de Cerro Corá, o Museu Sankofa na Rocinha e o Museu de Favela, um museu a céu aberto que busca valorizar a memória individual e coletiva dos moradores do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo. Francisco Valdean, que exibe suas imagens por meio do seu museu itinerante, o MIIM, disse que esse tipo de trabalho mostra “que é possível… levar as pessoas a olharem as fotos, e a imaginarem as favelas, além das imagens já estabelecidas”. Romper o estigma e aumentar a compreensão é um princípio básico de muitos museus comunitários.

O pesquisador Francisco Valdean do Museu de Imagem Itinerante da Maré

Muitas iniciativas do Guia possuem identidades ligadas à preservação da área ao entorno. A Associação Cultural Quilombo do Camorim realiza caminhadas históricas e ambientais, a Associação Cultural Quilombo do Sacopã é conhecida pela “preservação da mata e da biodiversidade”, destaca o Guia, enquanto no Quilombo Cafundá Astrogilda “o uso de plantas medicinais e as práticas de cuidado se configuram como dádivas herdadas dos antepassados”. O Ecomuseu de Sepetiba e o Ecomuseu Caceribú são especificamente focadas em seus ambientes naturais locais, assim como o Museu Vivo de São Bento, o primeiro ecomuseu da Baixada Fluminense.

Outros museus estão ligados às tradições musicais locais—e profundamente históricas, como a Casa do Jongo da Serrinha e o Museu Casa do Bumba Meu Boi em Movimento, em Bangu. Alguns se concentram mais nas artes visuais, como a Casa Amarela, na Providência. E muitos dos museus contam histórias das lutas políticas locais, como o Museu das Remoções e o Museu do Horto, “um instrumento de resistência na causa das famílias tradicionais do Horto Florestal, que hoje sofrem com a especulação imobiliária, apesar de dois séculos de história”.

Cerro Corá – Foto André Martins

Maria da Penha, no evento de lançamento, disse que o Museu das Remoções foi concebido a partir de 2015, pois a Vila Autódromo sofreu um processo de remoção amargo e prolongado. “[O Museu das Remoções] nasce com duas propostas: permanecer na comunidade, ser uma ferramenta de luta contra as remoções, mostrar que a gente queria ficar nesse espaço, que a gente amava esse espaço, que a gente tinha direito a esse território, que a gente estava sendo violando. E para guardar a memória, de quem foi, de quem morou nessa comunidade por tantos [anos]. E contar a nossa história”.

Maria da Penha concluiu, “Memória não se remove!”

A Importância dos Museus das Favelas para a Cidade

O Guia descreve que “O museu de favela, mais do que um lugar de memória e de exposição de acervo e coleções locais, pode e deve ser lócus de pesquisa e produção de conhecimento gerado a partir de um ponto de vista do oprimido, de um ponto de vista insurgente, de um ponto de vista decolonial, de onde emana a verdadeira busca por mudança”.

Essa perspectiva de mudança pode ser observada em museus do Guia, como o Instituto de Pesquisa a Memória Pretos Novos, que foi fundado em 2005 e “promove a reflexão sobre a escravidão e suas sequelas para os princípios de igualdade racial no Brasil”.

Muitos projetos culturais do Guia inovam ao questionar as noções tradicionais do que constitui um museu. O NOPH de Santa Cruz, embora tenha sido fundado originalmente para “valorizar o patrimônio material de Santa Cruz, principalmente as construções do período colonial, Jesuítas, e imperial”, disse José Renato Pimenta, evoluiu com “a virada da museológica em direção ao patrimônio imaterial, no final dos anos 1980, começo dos anos 1990”. Nos anos 1990, “o museu passa a ser o território do bairro e a população que nele habita, ou seja, isso coloca diretamente a favela dentro do NOPH… porque 70% do bairro de Santa Cruz é composto por favelas”.

O MIIM, o “filho mais novo do catálogo”, disse Francisco, é um museu itinerante dentro de uma caixa de sapatos. Na caixa, Francisco armazena imagens em monóculos, negativos de fotos e fotos do dia a dia da Maré. Ele os mostra para as pessoas nas ruas da Maré e em eventos de bairro, como churrascos. “A parte inventiva desse museu vem desse contato com as pessoas”, disse ele. A pergunta das pessoas: “‘Isso é um museu?’ é uma questão de extrema relevância para a museologia e para a arte”.

Francisco disse que quando apresentou o MIIM numa escola da Vila do Pinheiro na Maré, “um aluno levantou e afirmou: ‘Minha vó é um museu!’, e eu perguntei: ‘Por que sua avó é um museu?’, e ele respondeu: ‘Porque minha vó é cheia de histórias, e ela arquiva o material fotográfico dela numa caixa também!’”

O Guia mostra que assim como uma caixa de sapatos pode servir de museu, também o pode fazer uma caminhada, como o Rolé dos Favelados e Rocinha Histórica, e um desfile de carnaval, como o Se Benze Que Dá da Maré.”

Museu da Favela – Foto MUF

Os museus comunitários, disse Luiz Antônio de Oliveira do Museu da Maré, têm “muito a dialogar com os ditos museus tradicionais”. A exposição de longa duração do Museu da Maré examina as diferentes fases da vida dos moradores da favela, como migração, trabalho, resistência e festividades. “A Memória é ao mesmo tempo encantadora, sensível, mas é poderosa, e forte. E pode ser bruta também. Em dados momentos que sejam necessários”, disse Luiz Antônio, acima de tudo, “a memória é social. Memória de vida é feita por pessoas, não por móveis e paredes”.

Além disso, comentando sobre a importância do intercâmbio, ele disse: “Não dá para a gente se fechar em um círculo de museus comunitários. A gente tem que trabalhar essa pedagogia”.

Esse diálogo entre museus tradicionais e favelados já está ocorrendo, como pode ser visto por intercâmbios e premiações como no caso do Museu de Favela, outra iniciativa no Guia, que recebeu duas homenagens em 2009 do Instituto Brasileiro de Museus: “pelo seu conceito de Museu Vivo e diferenciado de se pensar e fazer museus”.

Museus Comunitários Após a Pandemia

“O que a gente vislumbra dos museus comunitários pós-pandemia é justamente que os museus físicos se mantenham de pé e com as portas abertas”, está escrito no Guia. “Muitos deles, infelizmente, podem não voltar a abrir por causa da falta de recursos e de visitantes”.

Durante a pandemia, gestores de museus de favelas continuaram a divulgar seu trabalho por meio da participação em eventos e projetos digitais, como a compilação do próprio Guia. O MIIM, por exemplo, organizou uma exposição coletiva online de fotógrafos da Maré, enquanto o Museu da Maré oferece passeios virtuais para aqueles que contribuem com sua campanha de arrecadação de fundos.

Mas muitas das experiências dos museus não são as mesmas no mundo virtual e, por isso, seus organizadores estão se preparando para o momento em que seja seguro circular pela cidade novamente. O evento de lançamento do Guia foi encerrado com as palavras de Tereza Onã, do NUMIM, que faz parte da ONG Redes da Maré. O NUMIM ajudou a criar o Museu a Ceú Aberto da Maré, cuja inauguração oficial foi adiada pela pandemia. O museu é “um circuito que começa no Parque União e termina lá na Vila do Pinheiro”, disse Tereza, e é composto por azulejos com palavras dos moradores. Foi criado “conversando com moradores. Na verdade, é um conjunto de memórias de moradores, também de todas as faixas etárias”.

Tereza também faz parte das Griots da Maré do NUMIM, um grupo de contadoras de histórias negras. “Como uma mulher negra na diáspora, a oralidade é um alicerce para nossa população”, disse ela. Se a Maré é cheia de história que compõe a sua identidade, também é verdade que “a Maré é o futuro”.

Reunião do NUMIN, da Redes da Maré. Foto Douglas Lopes

O sentimento de esperança foi ecoado por outros participantes no evento de lançamento e em um dos textos finais do Guia: “Com dedicação e trabalho em conjunto com as nossas comunidades, esperamos que os museus de favelas possam receber mais trabalhos culturais, para que todos possam ter acesso a uma diversidade que apenas a favela tem a mostrar”.

Para que os museus continuem a florescer, afirmou Luiz Antônio no lançamento, “é importante estar nesses espaços coletivos. Tentar criar redes. Tentar criar caminhos para aglutinar essas ações tão importantes”.

“Museus das favelas, resistem!” Lê-se no subtítulo do cordel, escrito em conjunto, que fecha o Guia, e que conclui: “Cuidar, trocar, amar e divulgar—o Guia de Museus das Favelas está pronto para registrar narrativas de olhares periféricos”.

Leia o Guia de Museus e Memórias aqui e assista ao Lançamento do Guia aqui.

* A Rede Favela Sustentável e o RioOnWatch são projetos de Comunidades Catalisadoras (ComCat). A Rede Favela Sustentável é apoiada pela Fundação Heinrich Böll Brasil.

Prefeitura e Estado abrem período de inscrições para escolas; veja calendário

1

Com pandemia do novo coronavírus, inscrições acontecem on-line nos sites Matrícula Fácil e Matrícula Rio 

Por Edu Carvalho, em 14/12/2020, às 16h20

Editado por Andressa Cabral Botelho

A Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) está com o período de pré-matrículas para escolas da rede pública aberto até o dia 22 de dezembro. São mais de mil unidades de ensino estaduais com oportunidades disponíveis. As inscrições devem ser feitas pelo site Matrícula Fácil (www.matriculafacil.rj.gov.br), onde dúvidas podem ser tiradas.  

A SEEDUC reforça que a primeira fase da pré-matrícula não acontece por ordem de inscrição. Os estudantes são alocados obedecendo aos seguintes critérios do Estatuto da Criança e do Adolescente, nesta ordem: 1 – preferência à pessoa com deficiência; 2 – preferência para crianças e adolescentes até 18 anos incompletos; 3 – permanência na Rede Pública de Ensino. 

Já a Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que o período de matrículas para o ano letivo de 2021 para as unidades escolares municipais começa nesta sexta-feira, 18/12, a partir das 8h. A inscrição será realizada somente pela internet, no endereço eletrônico Matricula Rio (www.matricula.rio). 

Os alunos que já estudam nas unidades escolares do município, inclusive nas creches e Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI), e não desejam transferências, terão a matrícula renovada automaticamente com vaga garantida e não necessitam acessar o site. Também será possível realizar as transferências internas para alunos já matriculados na Rede Municipal de Ensino.

Para quem não conseguir realizar a inscrição, que pode ser feita pelo próprio celular, a Secretaria Municipal de Educação disponibilizará ao público acesso gratuito à internet em 1.542 unidades escolares da Rede Municipal de Ensino. Estarão presentes funcionários no local para auxiliar no preenchimento do formulário. As escolas estarão abertas para atendimento ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h, com todos os protocolos de higienização e distanciamento para evitar a propagação da Covid-19.

Matrículas para alunos novos da Educação Especial – de 18 a 21 de dezembro

Os novos alunos da Educação Especial (a partir de 4 anos de idade e com deficiência) poderão se inscrever do dia 18 a 21 de dezembro. Para as creches, os responsáveis de crianças de 6 meses a 3 anos e 11 meses terão de 5 a 10 de janeiro para acessar o site. Já as solicitações de transferências internas de unidades de Pré-escola, Ensino Fundamental e EJA (4 anos em diante) vão acontecer de 8 a 13 de janeiro. Novos alunos da pré-escola, Ensino Fundamental e Ensino de Jovens e Adultos (4 anos em diante) terão prazo de 19 a 24 de janeiro. As inscrições para as vagas na Escola Municipal Cívico-Militar Carioca serão disponibilizadas entre 14 e 16 de dezembro, em edital a ser publicado no Diário Oficial do Município.

Para fazer a inscrição para a Educação Especial, os pais e responsáveis precisam acessar o site, clicar em “Faça sua inscrição” e selecionar a origem do candidato: estuda ou estudou em escola/creche/EDI da Rede Municipal ou nunca estudou em uma unidade da Prefeitura do Rio, por exemplo. Se o candidato não estuda na Rede Municipal, o responsável, no ato da inscrição, deve selecionar um dos locais indicados no portal para que o candidato seja avaliado e encaminhado ao melhor atendimento pedagógico. É importante anotar o número de inscrição, data, hora e local em que o candidato deverá comparecer para a avaliação, levando, também, os laudos que possui.

Ao final do atendimento, o responsável irá selecionar, junto com o avaliador, a escola de sua preferência e que atenda às necessidades do aluno de acordo com a avaliação realizada. Após a avaliação, no mesmo polo de avaliação, haverá a confirmação da matrícula. Após o início do ano letivo, o responsável deverá comparecer à unidade escolar para onde o aluno foi matriculado e entregar toda a documentação que constado Formulário de Inscrição.

Creche/Espaço de Desenvolvimento Infantil – de 5 de janeiro a 10 de janeiro de 2021

As inscrições para as crianças na idade de creche, entre 6 meses e 3 anos e 11 meses, serão realizadas entre os dias 5 e 10 de janeiro de 2021. Nesse mesmo período, será possível fazer transferência para outra unidade da Rede Municipal das crianças já atendidas nas Creches/EDIs da Prefeitura do Rio.

Para fazer a inscrição, os pais e responsáveis precisam acessar o site e clicar em “Faça sua inscrição” e selecionar a origem do candidato: estuda ou estudou em escola/creche/EDI da Rede Municipal ou nunca estudou em uma unidade da Prefeitura do Rio, por exemplo. O responsável poderá selecionar no mínimo uma e no máximo cinco opções de unidades escolares de sua preferência. Caso precise comprovar algum critério classificatório que foi sinalizado no momento da inscrição, é necessário que o responsável compareça a uma das unidades para a qual fez a inscrição no próximo dia útil após a inscrição com os documentos pertinentes à confirmação da prioridade.

Nesse período, o responsável que deseja realizar a transferência de matrícula entre creches deve acessar o site www.matricula.rio e indicar o bairro no qual deseja a vaga e grupamento pertencente (Berçário ou Maternal). O responsável pela inscrição será conduzido para onde, no bairro, há vagas disponíveis. Assim, a criança ocupa esta vaga escolhida e é liberada a vaga ocupada anteriormente pela criança.

Para inscrição de transferência não é necessária a comprovação de critérios classificatórios. Ao finalizar o preenchimento da ficha, é preciso imprimir ou anotar o número da inscrição gerado pelo portal. Este número servirá para identificar em qual Creche/EDI a vaga foi reservada. A consulta para obtenção da vaga também deverá ser feita no Matrícula Rio na data indicada no comprovante da inscrição. O responsável deve ficar atento no site, pois será por lá que vai ser  indicado o dia em que ele deverá confirmar a matrícula diretamente na Creche ou EDI.

Transferência interna para Pré-escola, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos – de 8 a 13 de janeiro de 2021

A transferência para outras unidades escolares da Rede Municipal dos alunos da Pré-escola, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos acontecerá entre os dias 8 a 13 de janeiro. Também é necessário acessar o site www.matricula.rio para realizar a mudança de escola, escolhendo a opção que mais atenda. Para confirmação da matrícula, o responsável deverá comparecer no início das aulas para entrega da documentação que foi listada na Comprovante de Inscrição.

Novos alunos para Pré-escola, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos – de 19 a 24 de janeiro de 2021

A transferência de alunos da rede particular ou outros entes federativos para a rede municipal do Rio de Janeiro dos alunos da Pré-escola, do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos acontecerá entre os dias 19 a 24 de janeiro. Para escolher a escola que melhore atenda o/a estudante, é preciso acessar o site www.matricula.rio . Para confirmação da matrícula, o responsável deverá comparecer no início das aulas para entrega da documentação que foi listada na Comprovante de Inscrição.

Escola Municipal Cívico-Militar Carioca

As vagas para a Escola Municipal Cívico-Militar Carioca, no bairro do Rocha, na Zona Norte, serão disponibilizadas a partir de processo de matrícula diferenciado, após publicação do edital de vagas no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro. As inscrições vão de 14 a 16 de dezembro, em endereço eletrônico a ser divulgado em breve.

Calendário de matrícula para o ano letivo de 2021 (rede municipal):

18 a 21/12/2020 – Educação Especial – alunos a partir de 4 anos com deficiência.

14 a 16/12/2020 – Escola Municipal Cívico-Militar Carioca – 6º ao 9º ano.

05 a 10/01/2021 – Creche – crianças de 6 meses a 3 anos e 11 meses.

08 a 13/01/2021 – Pré-escola/Ensino Fundamental e EJA (transferência interna) – alunos de 4 anos em diante.

19 a 24/01/2021 – Pré-escola/Ensino Fundamental e EJA (alunos novos) – alunos de 4 anos em diante.

Em segunda edição, ‘’Escuta Festival’’ movimenta artistas periféricos para debates sobre cultura no Instituto Moreira Salles

0

Encontro online discutirá o valor da arte para seus territórios e articuladores

Postado por Edu Carvalho em 14/12/2020 às 10h

Editado por Daniele Moura

O Instituto Moreira Salles, em parceria com a Agência de Redes para Juventude, apresenta nos dias 14, 15 e 16 de dezembro a segunda edição do Escuta Festival: uma ação que reúne arte, ativismo e periferia. A programação conecta jovens artistas de periferias de regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, que ocuparão os espaços virtuais do IMS com um show, lives e grupos de estudos.

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia, evidenciando e intensificando as desigualdades sociais do país. A cultura de periferia, realizada por artistas e ativistas que estão atrelados diretamente a essa realidade, também sofreu transformações e reinvenções. O ‘’Escuta Festival 2’’ busca dialogar com este cenário e pretende fortalecer, aprender e dar visibilidade a esse sistema artístico.

A centralidade da programação desta edição está na Comunidade Escuta: um grupo de 30 artistas, ativistas e produtores das periferias da metrópole fluminense convidados pelo IMS e pela Agência de Redes para Juventude. Eles participarão de imersões, formações e apresentações artísticas. Para os eventos abertos ao público, foram convidados como mediadores artistas como Taísa Machado, pesquisadora e criadora do Afrofunk Rio, e Raull Santiago, criador do Coletivo Papo Reto. O resultado desses encontros é uma curadoria que dispara possibilidades no campo da arte e do ativismo na metrópole.

A transmissão dos encontros acontece nas redes sociais do IMS (Facebook e Youtube). A programação completa você encontra no site do IMS Rio

Para onde vai o nosso lixo?

A coleta de lixo das 16 favelas da Maré foi um dos serviços básicos que não parou durante a pandemia

Maré de Notíciais #119 – dezembro de 2020

Por Thaís Cavalcante

O isolamento social, motivado pela pandemia de covid-19, interrompeu as atividades presenciais nas áreas culturais, educacionais e comerciais. O que não parou foi o consumo e o descarte de lixo, assim como a sua coleta. Nas 16 favelas da Maré, todos os dias são produzidas em média, 200 a 250 toneladas de lixo domiciliar, lixo público e resíduos de construção civil, de acordo com a Comlurb.

Os garis estão desde o início na linha de frente da coleta, que é o carro-chefe da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). “Mesmo com alguns colaboradores afastados por causa da covid-19, a Comlurb manteve 80% dos seus serviços [na Maré], como varreduras, roçada mecanizada, raspagem de terra e lama, entre outros. Já a coleta, mantemos 100%”, conta Marcos William, Gerente de Divisão ND30M da Comlurb Maré e atuante há 15 anos no território.

Entender a particularidade de cada favela é fundamental para o trabalho. A Vila do João, por exemplo, é o local com maior quantidade de lixo, pois tem uma maior extensão. O modelo de coleta de lixo também não é o mesmo em todas as favelas. Umas têm gari comunitário, outras, só o gari da Comlurb, outras ainda, os presidentes de associação de moradores pagam garis particulares para reforçar a limpeza das ruas. 

Um incômodo que gera muita reclamação dos moradores é a falta de coleta aos domingos. Ou quando é feita, acontece em pequena quantidade. Marcos informou que a coleta é diária, mas, aos domingos, há sim a dificuldade de circulação dos caminhões compactadores nas ruas, por causa de grandes eventos locais, como feiras, festas de aniversário e bailes funk

Garis Comunitários em extinção

A população também sente a diferença da coleta no dia a dia por outro motivo: a quantidade de garis comunitários tem sido reduzida gradativamente, atendendo a decisão judicial do Ministério Público do Trabalho para que sejam substituídos por garis concursados da Comlurb. Em 2019, o gasto previsto para o programa foi de R$ 7 milhões, menos da metade de 2018. Procurado, o Ministério Público não disse os motivos de tomar essa decisão ou quanto está sendo gasto pelo programa este ano.

O trabalho dos garis comunitários é um diferencial pela proximidade do trabalhador com o território. Não à toa, as ruas internas são justamente de responsabilidade desse profissional. A Comlurb informou que todo o território da Maré é atendido por 50 garis comunitários e 76 garis da Companhia. Não estão incluídos os afastados por questões médicas ou por conta das medidas preventivas adotadas em relação à covid-19, pertencentes ao grupo de risco e pessoas com mais de 60 anos.

O Portal 1746 funciona?

O Maré de Notícias solicitou um serviço de reparo dia 28 de setembro pelo Portal da Prefeitura 1746, com o protocolo de “Obras de reparo, canalização ou limpeza de rio, canal ou valão” para a retirada de lixo e entulho do valão localizado na Nova Maré. Quando um pedido é feito no Portal, a solicitação é encaminhada para o órgão responsável e tem o prazo de 20 dias úteis para ser atendida. Pouco mais de um mês, a solicitação não pôde ser concluída por estar em fase de captação de recursos para realizar os serviços de desobstrução e limpeza para a melhoria das condições de escoamento d’água no rio. Nossa equipe foi até o local verificar, e parte do lixo acumulado foi retirado, e a capinagem foi feita no entorno do valão, mas o serviço de desobstrução e limpeza não tem previsão para ser iniciado.

Quantidade de garis comunitários está reduzida por conta de um pedido do Ministério Público do Trabalho – Foto: Douglas Lopes

Por uma Maré mais limpa e verde

Henrique Gomes é articulador territorial e institucional da Redes da Maré e mora na Baixa do Sapateiro. Ele explica que existem dois lados da mesma realidade e que os dois buscam a mesma coisa: a melhoria local, mas o diálogo precisa ser mais frequente. “Os garis conhecem bem a favela e os pontos de lixão, usando o carrinho onde mais tem becos e o caminhão nas ruas largas. Os moradores, às vezes, não conseguem guardar o lixo dentro de casa por causa do pouco espaço e mau cheiro do lixo, por exemplo”, observa Henrique. 

Mas a responsabilidade para o descarte do lixo não é só de quem o recolhe. Todos os cidadãos têm a cogestão e responsabilidade social nesse cuidado. Seja ao fazer a separação de embalagens em casa para facilitar a reciclagem; não jogar lixo ou entulho em local inadequado; ter consciência ambiental ao consumir um produto; criar hábitos sustentáveis e muito mais. O benefício é individual e coletivo.

Julia Rossi, pesquisadora e coordenadora de projetos socioambientais na Redes da Maré, defende que a educação é uma solução que pode ser aplicada a longo prazo, assim como mais investimento em infraestrutura e na compostagem. “Ela [educação] é a chave para que as pessoas entendam a importância de se ter uma organização com seu lixo, de onde vem, o que se consome e muito mais. Na educação ambiental, muita coisa pode ser aproveitada: o lixo orgânico pode virar composto, por exemplo”. Ela conta ainda que todas as soluções colocadas precisam de ajuda do poder público, justiça ambiental e acesso aos direitos básicos.

Com a mesma percepção, o Muda Maré, projeto de educação ambiental e agricultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Maré, apresenta a importância de iniciativas locais para minimizar o impacto do lixo no cotidiano mareense. “A reciclagem faz parte da vida de muitos moradores, mas às vezes a gente não reconhece isso como uma iniciativa de grande impacto, mas é. Como o movimento que existe para reciclar máquinas de lavar roupa. Além disso, há uma alternativa criada pelos próprios moradores de não jogar lixo em determinados terrenos, criar hortas ou plantar árvores. Isso mostra a potencialidade de atuação como agente de transformação ambiental. Assim como os catadores autônomos, cooperativas e espaços de reciclagem”.

O grupo declara, ainda, que o fortalecimento e a visibilidade de iniciativas locais que focam na questão ambiental precisam de mais articulação e redes de discussão e mobilização. “Acreditamos no potencial da educação ambiental como alternativa de longo prazo para mobilização comunitária em torno da questão do saneamento, do direito à cidade e da capacidade local de produzir mudanças”.

CALENDÁRIO DE COLETA DE LIXO NA MARÉ [COMLURB]

A coleta de lixo em caminhões compactadores é feita nas ruas principais de grande comércio, dentre outras ruas, de cada favela. 

Dias e horários: segunda a sábado, a partir das 6h até 14h20. 

Confira as ruas principais:

  • Baixa do Sapateiro – Rua Canaã; Rua do Serviço; Rua Pedro Torres;
  • Bento Ribeiro Dantas –  Av. Bento Ribeiro Dantas; Av. Guilherme Maxwell;
  • Conjunto Esperança – Rua Moreira Pequeno; Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos; Av. do Canal 1;
  • Conjunto Pinheiro – Rua Via B9; Av. do Canal 2;
  • Morro do Timbau – Rua Nova Jerusalém; Rua Caetés; Rua Capitão Carlos;
  • Nova Maré – Rua Principal; Rua Tancredo Neves;
  • Nova Holanda – Rua Teixeira Ribeiro; Rua Principal;
  • Parque União – Rua Ary Leão; Rua Roberto da Silveira;
  • Parque Rubens Vaz – Rua João Araújo; Rua Massaranduba;
  • Praia de Ramos – Rua Gerson Ferreira; Av. Guanabara;
  • Roquete Pinto – Rua Urucuri; Vila Sampaio;
  • Salsa e Merengue – Rua Projetada A até a Rua Projetada H;
  • Vila do João – Rua 14; Rua 7;
  • Vila do Pinheiro – Rua Via 1; Rua Via B1;

A coleta de lixo em microtratores é feita nos becos, vielas e travessas de cada favela em dias alternados. 

Dias e horários: segunda, quarta e sexta-feira ou terça, quinta e sábado, a partir das 6h até às 14h20.

Os trabalhos são realizados com o apoio de oito microtratores, duas pás carregadeiras, seis caminhões compactadores e oito caminhões basculantes, entre outros equipamentos. Também com oito caixas metálicas de 5 metros cúbicos, oito compactadoras de 15 metros cúbicos, duas de 30 metros cúbicos, além de 105 contêineres. 

(Fonte: Comlurb/Maré).

Ronda Maré de Notícias: Rede privada de saúde está com 98% de ocupação dos leitos

0

Regiões do estado fazem transferência de pacientes por não terem leitos na rede privada

Por Andressa Cabral Botelho, em 11/12/2020 às 19h07
Editado por Dani Moura

Mesmo com a abertura de leitos na rede privada, o número de ocupações permaneceu em 98%, o que significa que a demanda tem sido muito grande devido ao aumento dos casos. Segundo Graccho Alvim, diretor da Associação de Hospitais Privados do Estado do Rio, caso a curva aumente, o sistema de saúde da cidade vai entrar em colapso na rede privada de saúde. Em outras localidades do estado, como Região dos Lagos e da Baixada Fluminense, a ocupação já atingiu a taxa de 100% nos hospitais privados. Algumas unidades estão transferindo pacientes para Niteroi, que tem 88% de ocupação dos leitos privados.

Nesta sexta-feira (11), a taxa de ocupação de leitos de UTI para covid-19 no município do Rio é de 93% nas unidades municipais, estaduais e federais, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. São 1.428 pessoas internadas em leitos especializados, sendo 598 em UTI. Além disso, 389 pessoas aguardam transferência para leitos na capital e na Baixada Fluminense, sendo 198 para leitos de UTI para covid-19.

Na cidade do Rio tem até o momento 150.072 pessoas contaminadas e 13.882 pessoas que morreram em decorrência do novo coronavírus. Nesta sexta-feira (11), 1.388 novos casos foram confirmados na cidade, de acordo com o Painel Rio COVID-19. Ainda segundo o painel, a Maré tem 1.112 casos confirmados e 137 mortes. Já de acordo com o Painel dos Invisíveis, a Maré tinha 2.249 casos e 158 mortes. O estado do Rio de Janeiro tem até hoje 384.942 casos e 23.630 mortes confirmadas pelo novo coronavírus.

Suspensão de exame que define tratamento para HIV

Em meio ao dezembro vermelho, data em que se fala sobre prevenção e cuidados sobre HIV/aids, o governo federal, através do Ministério da Saúde, suspendeu temporariamente os exames de genotipagem de HIV e de hepatites virais. Sem eles, não é possível identificar e definir qual o melhor tratamento para as pessoas que vivem com o vírus. O motivo para a suspensão da realização dos exames é o fim do contrato com a empresa responsável pela realização dos mesmos. Em outubro, um mês antes do fim do contrato, o Ministério da Saúde foi em busca de uma nova empresa, sem sucesso.

Dezembro Laranja

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), promovem o “Dezembro Laranja”, iniciativa para se pensar na Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele, tendo em vista o crescente número de casos. A estimativa é que o estado do Rio registre, até 2022, mais de 20 mil novos casos por ano. No Brasil, o câncer de pele é o que mais ocorre no Brasil, com cerca de 180 mil novos casos. Pensando nisso, a campanha deste ano destaca que a exposição solar desde a infância pode ser responsável tanto pelo envelhecimento quanto no desenvolvimento do câncer de pele. Em decorrência da pandemia, o exame preventivo gratuito vai ser realizado de forma virtual. Saiba mais no site da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Alergia: verão também é época de tratar

Embora o inverno seja conhecido como a estação em que as alergias se agravam, o verão também inspira cautela. Afinal, a estação traz fatores que podem desencadear esse tipo de reação, como maior exposição aos raios solares, aumento do uso de ar-condicionado, picadas de insetos – que se proliferam bem mais nessa época de calor e chuvas frequentes – e variação de temperatura. Esses fatores podem levar a quadros de reação alérgica com reflexos na pele e no sistema respiratório, entre outras complicações. 

A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (AsBAI) estima que, no Brasil, 30% da população tenha algum tipo de alergia. As crianças são maioria: 20%. A alergia necessita de tratamento e cuidados que precisam ser mantidos durante todo o ano, especialmente em momento de pandemia. Então, a chegada do verão é de alerta. Confira no site da ASBAI algumas recomendações em caso de alergias.

Museu da Maré lança livro “Maré em 12 tempos”

Na última quarta-feira (9), o Museu da Maré lançou o livro Maré em 12 tempos durante a Feira do Conhecimento Digital – Iniciativas em Cooperação Social da Fiocruz e Museologia Social da Maré. A obra foi inspirada na exposição permanente de mesmo nome e reúne textos  e fotos do território feitas por moradores e convidados.

Luta Pela Paz ganha Prêmio Melhores ONGs 2020

Nesta quinta-feira (10), a organização Luta Pela Paz, na Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré, foi premiada como uma das 100 melhores ONGs do país no ano de 2020. O Prêmio Melhores ONGs reconhece organizações brasileiras do 3º setor por atividades desenvolvidas e ações nos campos da transparência, governança, comunicação e financiamento. A premiação acontece anualmente pelo Instituto Doar, AMBEV Voa e O Mundo que Queremos. Para assistir a cerimônia de premiação, clique aqui.

Museu da Imagem Itinerante da Maré (MIIM) faz vaquinha

O MIIM criou uma vaquinha on-line para apoiar quatro exposições virtuais que pretende fazer em 2021. A proposta é contribuir com os artistas locais participantes que irão apresentar ao longo do ano mostras artísticas e visuais sobre o Conjunto de Favelas da Maré, no Rio. O MIIM é um projeto museológico que valoriza a memória local através de um museu de caixa, criado pelo artista visual Francisco Valdean. As obras da exposição serão publicadas no site do museu. Para doar, clique aqui.  

Agenda Cultural

Hoje (11/12) tem o Festival Zum, também em versão virtual, que abre  com uma palestra de Lilia Schwarcz sobre a relação entre imagem e poder. Em seguida, a artista Rosana Paulino conversa com a filósofa Denise Ferreira da Silva a respeito de história, arte e antirracismo.

Neste fim de semana (de sábado para domingo) acontece Virada Cultural 2020, com transmissões virtuais e através de intervenções urbanas sem público. Entre os destaques estão shows de Elza Soares, Criolo, Arnaldo Antunes e Renan da Penha, entre outros, direto do Theatro Municipal. O mote é “Tudo de arte, nada de aglomeração”.

No domingo, a Coletiva Profanas de artistas trans periféricas estreia a performance FURA! em live realizada pelo Centro Cultural da Diversidade.

Na segunda, os pensadores Viviane Mosé e Ailton Krenak encerram a série Diálogos Imprevisíveis, do Instituto Estação das Letras, com um debate sobre a velocidade da vida moderna.

E uma dica incrível para quem curte artes gráficas e design: acontece amanhã (12), a partir das 8h30, o DiaTipoX, edição online independente e gratuita do principal evento brasileiro de tipografia. Serão palestras e entrevistas com tipógrafos, calígrafos, designers, pesquisadores e demais entusiastas das letras. Clique aqui para se inscrever. A transmissão acontece pelo Twitch do Tony de Marco, designer do canal Meio.

Perdeu as notícias da semana? O Maré de Notícias acha para você!

Segunda-feira (07/12)

Como água do Rio Guandu chega nas torneiras da Maré, pelo data_lab. Leia mais 
Vítima de ação policial na Maré tem alta, pela Redação.  Leia mais
A polícia não vai mudar, por Silvia Ramos, coordenadora do CESeC.  Leia mais 
Moradores da Maré se organizam e arrecadam alimentos durante a pandemia, por Hélio Euclides. Leia mais
Direitos Humanos para todos os humanos, por Andressa Cabral Botelho. Leia mais 

Terça-feira (08/12)

Ações no Rio marcam 1000 dias sem Marielle Franco e Anderson Gomes, por Edu Carvalho. Leia mais
Propaganda: um dos segredos da gastronomia na Maré, por Thaís Cavalcante. Leia mais
Um laboratório de memórias na Maré? Por Mariane Rodrigues. Leia mais

Quarta-feira (09/12)

Prêmio Escolas do Futuro está com inscrições abertas, por Thaís Cavalcante. Leia mais
Confronto entre grupos armados assusta moradores da Maré, por Redação. Leia mais.

Quinta-feira (10/11)

Fiocruz indica que cinco mil pessoas morreram com covid-19 por falta de leitos em UTI no Rio, por Edu Carvalho. Leia mais.
Oportunidade: Maré de Notícias seleciona comunicador/a/e para fazer parte da equipe. Leia mais.

Sexta-feira (11/12)

Um vírus que adormeceu, mas não desapareceu, por Hélio Euclides. Leia mais.
Após cobrar medidas para ‘’ADPF das Favelas’’, Supremo decide realizar audiências públicas para plano de redução da letalidade no Rio, por Edu Carvalho. Leia mais.