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Todos no mesmo time

Rotina de treinamentos de atletas da Maré sofreu modificações durante a pandemia

Maré de Notícias #115 – agosto de 2020

Thaís Cavalcante

Os moradores que são atletas, esportistas e jogadores da Maré viram a pandemia do novo coronavírus paralisar seus treinos, campeonatos e perceberam o fechamento dos espaços que oferecem atividades físicas, desde o mês de março.  Assim como as quadras, campinhos e ruas das favelas ficaram vazias, os grandes estádios do mundo todo também.

Suspender as atividades foi uma ação orientada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas autoridades governamentais, para conter o avanço da doença.  Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão, que aconteceriam nos meses de agosto e setembro deste ano no Japão, por exemplo, foram remarcados para 2021. No Brasil, com a reabertura dos serviços e apesar de a pandemia ainda não estar controlada, o retorno das atividades esportivas oficiais é feito em etapas: os Campeonatos estaduais retomaram seus jogos no mês de junho, sem a torcida, e a Copa do Brasil volta em agosto.

O desejo de voltar à rotina é grande e o número de infectados pela COVID-19 ainda preocupa. A Maré é o Complexo de Favelas com mais casos de contaminação e óbitos da cidade do Rio de Janeiro. São 1.353 casos e 112 vítimas da doença, entre confirmados e suspeitos, de acordo com o levantamento do Boletim De Olho no Corona!, na 11ª Edição, de julho de 2020.

Esse movimento de retomada aconteceu rapidamente nas favelas e os apaixonados pelas atividades físicas foram grandes apoiadores. As academias voltaram a funcionar, as caminhadas pela Cidade Universitária são cada vez mais frequentes e até os torneios de futebol já estão sendo programados nos campinhos. A Prefeitura do Rio de Janeiro liberou as atividades físicas individuais ao ar livre, mas nem todos concordam com a medida.

Jogo de perseverança e cuidado

Para Edson da Silva, presidente e fundador da Associação Esportiva Beneficente Amigos da Maré (AEBAM), essa foi a primeira vez, em 20 anos de Escolinha, que seus 120 alunos ficaram sem treinos por tanto tempo. As equipes de meninos se dividem nas categorias Sub 10, Sub 13, Sub 15 e Sub 17 e costumam treinar no campo da Rubens Vaz. “Mesmo que exista um impacto financeiro e o entendimento de que a atividade esportiva na rotina diária das crianças é um incentivo de algo melhor para elas, entendemos que a suspensão das aulas é o melhor a ser feito neste momento”, afirma o presidente da AEBAM.

Os treinos fazem tanta falta, que as famílias dos jovens procuram Edson, perguntando sobre a volta das aulas presenciais, que ainda não têm previsão de retorno.  Ele espera que o futuro da escolinha seja de muito trabalho: “Que consigamos nos recuperar para dar continuidade e que, a partir de tudo o que está acontecendo, tenhamos saído desta pandemia pessoas melhores. Que sejamos pessoas que acreditam em nossas crianças, inclusive nas que moram nas favelas, que mais precisam da atenção dos governantes”, observou.

Enquanto a rotina de treinamentos não volta de forma tradicional, o jeito para lutadores é se adaptar e treinar em casa. É o que tem feito o jovem de Faixa Amarela, Lucas Santana.  Ele fez de seu quarto o seu tatame e conta com o apoio de sua mãe Jacilda de Araújo, para acompanhar seu crescimento na arte marcial. “Os treinos foram cancelados e ele está fazendo drills, que são posições de repetição de luta.  Além de exercícios também, como flexões e abdominais”, conta.

Lucas Van Van, como é conhecido no Jiu-Jitsu, participa do projeto social Maré Top Team, que é perto de sua casa, no Parque União. Durante a quarentena, a proximidade com o seu mestre Douglas continua: responde às dúvidas via mensagem e ligação sempre que precisa. Uma rotina diferente daquela que Lucas, que competiu na Califórnia em fevereiro desse ano, não imaginava viver. Mas Jacilda acredita em dias melhores e torce para que, nem nos treinos e nem nas escolas, tenha alunos abandonando as atividades. Por toda a sua vivência, ela afirma: “O esporte na Maré salva vidas.”

O professor Edson da Silva em encontro com o campinho ainda vazio – Foto: Douglas Lopes

O time que não saiu de campo

Em outra parte da Maré, a bola se movimenta nos pés dos meninos que participam da Escolinha Amigos Unidos.  Cerca de 120 crianças treinam, semanalmente, no Parque Ecológico da Vila do Pinheiro, mais conhecido como Mata.  Quem lidera o grupo é o professor Alexandre Pichetti.  Mesmo com a pandemia não dando trégua, ele garante que foi o único treinador que não parou por causa do novo coronavírus, mas continuou com os cuidados diariamente. “Eu trabalho todos os dias, com todas as faixas etárias e nós não paramos. Na fé de Deus, deu tudo certinho. Eu soube contornar esta situação, porque as minhas crianças precisam disso e as mães confiam a mim”.

A Mata é um espaço aberto que equivale a 10 campos de futebol e está sendo palco para a volta de jogos e de ações solidárias também.  Recentemente, Pichetti fez uma parceria com o projeto evangélico Desperta Jovem, que articulou a doação de uniformes e alimentos para os meninos da Escolinha. O projeto esportivo existe há 22 anos e Pichetti, a cada treino, agradece a oportunidade.

Próxima partida: exercícios on-line

Desde que a Vila Olímpica da Maré (VOM) precisou ter suas atividades presenciais pausadas por causa do novo coronavírus, as redes sociais tornaram-se uma alternativa para dar continuidade nas atividades físicas.  A instituição posta videoaulas acessíveis e realizadas por professores. Um ritmo diário de exercícios para os mais de 9 mil seguidores, que têm conteúdos diversos, como atividades aeróbicas, alongamentos, exercícios de respiração, conversas ao vivo e muito mais.

Cátia Simão, coordenadora técnica e esportiva da VOM, acredita que a prática de exercícios em casa é uma ferramenta importante para os moradores e alunos e até para quem não tem esse hábito. “Para que a volta às atividades não seja tão brusca, a gente se reinventou on-line”, contou em rede social.  Assim como na Maré, as outras 25 Vilas Olímpicas estavam fechadas, mas nas últimas semanas de julho a Secretaria de Esportes e Lazer do Rio anunciou a volta das atividades, com medidas de segurança para todos os frequentadores.

A ONG Luta Pela Paz também precisou adaptar os seus conteúdos para vídeos on-line, para não deixar seus alunos e seguidores sem praticar exercícios nesse período de isolamento social. É fácil encontrar os professores e instrutores nos grupos de Facebook e WhatsApp.

Vila Olímpica da Maré anuncia retorno das atividades com horário marcado para evitar aglomerações.

A tecnologia a favor do físico

A verdade é que, para os fitness, a internet se tornou uma grande academia virtual. Nas redes sociais, a série Crias da Quarentena, feita pelos próprios alunos da ONG, mostra desafios divertidos e depoimentos de saudade. As transmissões ao vivo também fazem sucesso, principalmente entre os mais conectados. São diferentes temas, convidados e horários. Uma forma de resistir a distância das atividades sem esquecer todos os benefícios que elas oferecem.

Praticar atividades físicas em casa é uma das tendências do Brasil depois da pandemia, segundo pesquisa nacional da Opinion Box. Uma destas atitudes é facilitada para aqueles que têm uma boa conexão com a internet, e até aulas particulares com o acompanhamento de professores, o que não é a realidade da maior parte da população favelada. Por aqui, o presencial faz a diferença.

Aos apaixonados pelo treino na academia, corrida matinal ou até a “pelada” no fim da tarde, é importante reforçar o cuidado. Neste período de retorno, as autoridades reforçam a importância da higiene pessoal e do distanciamento social. São pequenas atitudes de cuidado com a nossa saúde e com a saúde do outro. Da mesma forma que a prática de atividades físicas faz bem, retornar com segurança e ter atenção à sua saúde e a do outro são fundamentais.

Quer fazer atividades físicas sem precisar sair de casa? Confira as aulas dos professores da VOM no Facebook:

http://www.facebook.com/vilaolimpica.damare/

Ronda Coronavírus: Lançamento de projeto de combate à Covid-19 na Maré e em Manguinhos

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Iniciativa realizará live explicando as ações que serão realizadas nos territórios

Nesta quarta-feira, dia 19 de agosto, de 10h a 12h, vai acontecer uma live com o doutor Dráuzio Varella e a doutora Margareth Dalcomo sobre o projeto piloto Conexão Saúde – De Olho na Covid, que acontece na Maré e em Manguinhos e que visa combater a pandemia nas favelas e periferias. O projeto tem como ações práticas acesso a testes, telemedicina e práticas de cuidado com a Covid-19, que já vem acontecendo na Maré. 

Duas dessas ações já estão acontecendo na Maré: a telemedicina e a testagem. O serviço de telemedicina é oferecido pelo SAS, um dos parceiros do projeto. As consultas são gratuitas e acontecem todos os dias, das 8h às 20h via Whatsapp. Basta mandar uma mensagem para o número (21) 99271-0554 e aguardar o agendamento. Para acessar a testagem, a pessoa precisa apresentar os sintomas da Covid-19, baixar o aplicativo do Dados do Bem no seu celular e responder algumas perguntas no aplicativo. O atendimento acontecerá no Galpão do RITMA, na Rua Teixeira Ribeiro, 521, Parque Maré, apenas com horário marcado. 

Fazem parte dessa parceria Redes da Maré, Conselho Comunitário de Manguinhos, FioCruz, Dados do Bem, SAS Brasil e União Rio com apoio da Cruz Vermelha, Estáter instituto, Prefeitura do Rio e Todos pela Saúde.

Números da Covid-19

O Brasil registrou hoje mais de 3,3 milhões de casos confirmados do novo coronavírus e mais de 108 mil mortes, de acordo com o Ministério da Saúde. O Estado do Rio se aproxima dos 195 mil casos confirmados de Covid-19, além de ter registrado nesta segunda-feira, 17 de agosto, 14.566 mortes confirmadas, além das 1.101 mortes em observação. Desses números, a cidade do Rio possui 80.899 casos confirmados e 8.830 mortes.

Covid-19 nas favelas

A cidade de Itaguaí registrou nesta segunda-feira (17) 2.031 casos e 96 mortes por coronavírus, de acordo com dados do painel da prefeitura da cidade. Entretanto, os dados destoam bastante dos registros do Painel Unificador Covid-19 na Favelas do Rio de Janeiro. No levantamento, quatro favelas da cidade tem número de casos e mortes superior aos números de todo o município: 2.445 casos e 528 mortes, entre confirmados e relatados por lideranças comunitárias. Na última semana, lideranças comunitárias se reuniram em uma coletiva de imprensa virtual para debater sobre a importância do painel, que dá visibilidade a casos como o de Itaguaí. Confira a conversa aqui.

A Maré tem hoje 531 casos confirmados e 90 mortes pelo novo coronavírus. Entre os números levantados pelo boletim De Olho no Corona da última semana, até o momento são 1.076 casos e 34 mortes de pessoas com suspeita de Covid-19, mas sem acesso a testes ou confirmação.

Ação policial no Morro dos Macacos

Mesmo com a suspensão das operações policiais durante a pandemia do novo coronavírus, decisão votada pelo Supremo Tribunal Federal, um jovem de 20 anos foi morto na noite de sexta-feira (14) no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte da cidade, após ação da polícia militar. Caio Gabriel Vieira era morador da favela e participava de um torneio de futebol quando familiares e amigos afirmam que quatro policiais da UPP local tentaram interromper o evento com bombas de efeito moral. Caio foi morto com quatro tiros de fuzil nas costas. 

Em nota, a Polícia Militar alegou que a ação aconteceu na madrugada do dia 15 de agosto “após receberem denúncia de que possivelmente haveria um ataque à base principal da Unidade”. Lembrando que as ações policiais só podem acontecer em situações excepcionais.

Distribuição de cestas básicas

A campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus, da Redes da Maré, entrou na sua última etapa de distribuição de cestas básicas para moradores do conjunto das 16 favelas da Maré. A ação vai acontecer por dez dias seguidos, das 8h30 às 17h, de 16 a 26 de agosto com a participação de voluntários e colaboradores da organização. Saiba mais sobre a campanha no site da Redes da Maré.

Da minha janela

Já conferiram a nova galeria do projeto A Maré de casa? Ela já está disponível no site. Lembrando que moradores/as da Maré que tiverem interesse em participar do projeto, podem enviar fotos e textos sobre como vêem a Maré de suas janelas. Os cinco autores das fotos e textos mais votados ganharão o prêmio e um destaque no site. 

Nenê do Zap

Por mais que a vida esteja voltando a sua normalidade, é importante lembrar que precisamos nos cuidar e cuidar da higiene dos nenês para que ninguém pegue o coronavírus. Na dica de hoje, o Nenê do Zap vai mostrar como ensinar os nenês a se manterem protegidos.

A pluralidade das favelas em um dicionário

Plataforma colaborativa produz conhecimento sobre favelas e periferias

Maré de Notícias #115 – agosto de 2020

Jéssica Pires

O Dicionário de Favelas Marielle Franco é uma iniciativa que surgiu em 2019, para promover e estimular a produção do conhecimento coletivo sobre periferias e favelas. Em pouco mais de um ano, a plataforma digital já acumula mais de 500 “verbetes” produzidos pela equipe do dicionário, em colaboração com coletivos e organizações e por pessoas que, de forma espontânea, podem acessar diretamente o portal. Um dos objetivos da ação é favorecer a preservação da memória das favelas e moradores.

Os verbetes, como são chamadas as inserções de textos, vídeos e fotos, podem ser cadastrados por qualquer pessoa na plataforma. A expectativa da equipe do dicionário era de atingir 150 verbetes em um ano, mas o número já chegou a 562.

Atualmente, a equipe é composta por 12 participantes, incluindo o pessoal de tecnologia. São cinco pesquisadores responsáveis pela produção, que contam com a colaboração voluntária de coletivos, organizações, pesquisadores e moradores de favelas para a produção de todo o conteúdo disponível.

Democratizar a produção de conteúdos sobre favelas

A proposta do dicionário é que pesquisadores e moradores de todos os territórios possam produzir e disponibilizar este conteúdo em um mesmo ambiente, para que não exista uma hierarquização do material. A coordenadora geral do Dicionário de Favelas Marielle Franco, Sonia Fleury, comenta: “A ideia é de democratizar, promover a construção de cidadania, dar espaço aos sujeitos políticos que se constituem na favela para expressar seus pontos de vista e disputar narrativas sobre suas próprias vidas.”  

 A narrativa sobre favela construída pelos veículos hegemônicos e tradicionais de mídia não contemplam a favela. Portanto, elas precisam ser disputadas”, afirma a jornalista Daiene Mendes. A mídia que informa e participa da formação de opinião dos brasileiros é administrada por pessoas de classes sociais e vivências distantes da realidade das favelas. Dessa forma, estes territórios são comumente representados por estereótipos negativos. A dinâmica mudaria, se as pessoas que vivenciam o cotidiano das favelas tivessem espaço nesses veículos de produção de informação.

“A importância e a relevância do Wikifavela (como o dicionário também é chamado) é contar sobre uma favela que não é mostrada na mídia tradicional. Mostrar a outra favela que existe para além da diferença”, complementa Gabriel Nunes, pesquisador do Dicionário de Favelas.

Como uma das apoiadoras do dicionário, Marielle Franco possui um verbete de sua autoria – Foto: Elisângela Leite

Pluralidade vista no conteúdo

 A diversidade vista nos territórios de favelas também é percebida no conteúdo disponível no dicionário. Os temas são variados: habitação, saúde, mobilidade, presença do Estado e o mercado nas favelas; a maneira com que a favela se socializa e expressa a Cultura. Debates sobre gênero e sexualidade também têm crescido, informou a equipe do projeto.

A diversidade de pessoas que produzem o conteúdo também possibilita que os temas sejam desenvolvidos de pontos de vista diferentes: “Muitas vezes, a história da mesma favela é contada de formas diferentes por moradores variados e  pesquisadores que atuaram nessas localidades, por exemplo”, diz Palloma Menezes, coordenadora de produção de verbetes do Dicionário.

Durante a pandemia

  Durante a pandemia, surgiu a necessidade de documentar também as ações que acontecem nas favelas do País. Apesar de um foco maior ainda ser os coletivos e organizações do Rio de Janeiro, estão mapeados e reunidos aqueles que promovem alguma iniciativa de contenção do vírus ou de solidariedade em alguns pontos do Brasil. Prestação de contas e notícias das mídias comunitárias também estão disponíveis no site.

Acesse e colabore com o Wikifavela:

http://wikifavelas.com.br/

Ronda Coronavírus: Maré apresenta número expressivo em novos casos

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País ultrapassa o número de 3 milhões de casos confirmados no início da semana

Em todo o mundo, já são mais de 21 milhões de casos registrados nesta sexta-feira (14), de acordo com a Universidade Johns Hopkins. Os números confirmam que o continente americano é hoje o epicentro da pandemia, com seis dos dez países mais afetados do mundo (Estados Unidos, Brasil, México, Peru, Colômbia e Chile). Desses casos, o Brasil registrou mais de 106 mil mortes e mais de 3,2 milhões de casos confirmados do novo coronavírus no dia 14 de agosto.

Mortes em queda

Após a primeira quinzena de maio, o Estado do Rio passou a registrar uma redução no número de novas mortes diárias por coronavírus. Enquanto em maio a média era de 258 mortes por dia, em julho esse número passou a ser de 45 vítimas por dia, como indica a plataforma estadual Painel Coronavírus. Nesta sexta-feira (14), o Rio de Janeiro registrou 189.891 casos e 14.507 mortes de Covid-19.

Covid-19 na Maré

Nesta sexta-feira (14), a Maré registrou 519 casos confirmados e 91 mortes por Covid-19, de acordo com painel da Prefeitura. Já o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro aponta para 1.582 casos e 124 mortes no bairro, entre casos confirmados por órgãos oficiais e registros feitos por relatores comunitários. As favelas do Rio tem 9.108 casos e 1.405 mortes.

Do dia 04 até o dia 10 de agosto, a Maré registrou 75 novos casos confirmados. Na semana anterior, o conjunto de favelas teve apenas seis casos, de acordo com análise do boletim De Olho no Corona!, já disponível para leitura no site da Redes da Maré. Este é o maior número de novos casos registrados desde a semana de 26 de maio a 01 de junho, quando o bairro teve 69 novos casos. Desde 30 de junho, entretanto, o número de novos casos por semana na Maré estava em queda. De acordo com o boletim, o aumento significativo de casos confirmados pode estar relacionado ao início de uma parceria entre Dados do Bem, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Redes da Maré que vem, que desde o dia 23 de julho vem realizando testagem nos moradores cadastrados no aplicativo. Veja como fazer a testagem aqui.

Incêndio no Piscinão

Na última quinta-feira, moradores da Maré e região amanheceram com a notícia de um incêndio na Praia de Ramos. Por volta das 6h, dois quiosques que ficam às margens do Piscinão pegaram fogo. Após controlar as chamas, o Corpo de Bombeiros isolou a área, que atraiu alguns passantes. Não houve feridos, mas os estabelecimentos sofreram perda total. De acordo com a associação de moradores, o Piscinão está sem água desde o início da pandemia.

Loteamento na praia

Após anunciar que iria demarcar faixa de areia e utilizar aplicativo para reservar o espaço, o prefeito Marcelo Crivella irá reavaliar a proposta. O projeto piloto anunciado em coletiva na quarta-feira previa cerca de 1.300 “cercadinhos” de 6m² na Praia de Copacabana, com o limite para cinco pessoas. Também foi mencionado que a população também seria consultada sobre a proposta.

Dicas culturais

A gravadora Biscoito Fino liberou os seus conteúdos audiovisuais em seu canal do YouTube. Lá é possível assistir shows, como a apresentação de Maria Bethânia com Zeca Pagodinho, Hamilton De Holanda, Chico Buarque, Alcione e outros artistas que fazem parte do selo.

Já que ainda não é possível se aglomerar em grandes festas, a roda de samba Awurê no Quintal vai realizar uma live no próximo domingo (16), às 15h, no seu canal do YouTube para matar a saudade de quem gosta de samba. 

Nenê do Zap

Chega um momento que os nenês começam a desenvolver os sentidos e a audição é um deles. Os sons são muito importantes, mas às vezes podem irritar quem toma conta dos pequenos. Mas é possível estimular esse sentido com sons de diversos volumes. Saiba mais na dica do Nenê do Zap de hoje.

Brechós favelados movimentam economia local com roupas carregadas de afeto

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Jovens moradoras da Maré que empreendem em brechós on-line falam da importância de se valorizar empreendedores favelados e da vivência com seus empreendimentos na pandemia

Flávia Veloso

Ressignificado pelo gosto popular, hoje os brechós e bazares são sinônimos de estilo e autenticidade. Com peças de todos os tipos, épocas e tamanhos, as possibilidades de se montar visuais únicos refletem na roupa traços de personalidade e criatividade. Afinal, vestir-se bem não é só usar o que se vê nas vitrines dos shoppings, mas o que te faz sentir bem consigo mesmo e com seu bolso. 

Comprar roupas em lojas de marca e departamento não é acessível para o bolso de muitos moradores de favela e periferias: uma peça que custa R$100 pode estar fora do orçamento, mas o costume de consumir somente peças novas fala mais alto e muitas vezes é o bolso quem sofre. A renda mensal por pessoa das favelas cariocas não chega a R$1.000, segundo levantamento feito pelo Censo 2010 do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. 

Certamente você já cruzou com algum bazar ou brechó na Maré, em lojas, barracas e até igrejas. Esses locais, assim como outros empreendimentos, são importantes economicamente para o sustento de famílias e projetos sociais. Por mais que se pareçam, os espaços têm as suas diferenças. Os bazares geralmente recebem doações de itens diversos e vendem a preços muito baratos. Essa renda costuma ser destinada a projetos e causas sociais. É característico também que as peças e acessórios fiquem misturados. Já nos brechós, as roupas são compradas e revendidas. As peças costumam ser lavadas e organizadas – algumas passam por customizações – e custam bem mais barato que nas lojas convencionais. 

Enfrentando a pandemia

Com a chegada do novo coronavírus e a necessidade do fechamento dos serviços não essenciais, os comerciantes de favelas viram seu empreendimentos ameaçados pela perda do poder de compra dos moradores. A pandemia causou impacto direto na economia: a renda da população de favelas reduzida em 70% desde que a Covid-19 chegou ao Brasil, como aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e o Data Favela.

E o poder de compra do favelado movimenta muito dinheiro. Por ano, quase R$120 bilhões saem dos bolsos de quem mora na favela. É um potencial de consumo que, se aplicado ao comércio local, poderia estimular o desenvolvimento econômico e social desses territórios.

Para Stefany Silva, moradora do Rubens Vaz e fundadora do brechó Jeans Ancestral, a valorização do fluxo de dinheiro dentro território está mais evidente neste momento, e isso fortalece a cadeia de compras sustentável dos brechós e bazares, contribuindo para manter a renda dos microempreendedores. 

“A forma que as pessoas podem ajudar no meu trabalho é comprando, que é a forma mais transparente, porque a venda gera capital de giro e lucro. Com o capital, posso comprar dos brechós de outras mulheres, e o lucro me permite investir em cursos e equipamentos, para melhorar meu negócio. Também dá para compartilhar [meu trabalho] com outras pessoas que gostem de brechó e me dar o feedback do meu serviço, isso me dá oportunidade de fazer melhorias e repensar prioridades e necessidades”, destaca Stefany.

Stefany Silva, dona do Brechó Jeans Ancestral  – Acervo pessoal

A pequena empresária vinha preparando o Jeans Ancestral desde 2019 para inaugurar em abril de 2020, e se viu preocupada com o lançamento do seu negócio: “Eu investi em equipamentos, como arara e biombo, para eventos físicos, mas veio a pandemia. De início, fiquei preocupada com quem trabalha de forma autônoma, principalmente porque vivenciei isso na minha casa – meu padrasto é autônomo e minha mãe está desempregada -, mas uma das coisas que me fez pensar em não adiar o lançamento do brechó foi o cuidado com o outro. Percebi o quanto entregar algo para alguém é tão importante na minha trajetória. Uma embalagem, para uma pessoa que não está num bom momento, com aquele cheirinho de alecrim que lembra o quintal da minha avó, com escritas minhas, que me lembram minhas ancestrais, me fez ver que valia a pena”, contou Stefany.

As incertezas trazidas pela pandemia interromperam por algum tempo as vendas de outro empreendimento on-line, o Brechó Fresh, da moradora do Rubens Vaz Creusa Maria. Desde 2019 no mercado, com peças customizadas pelas mãos da própria dona, a necessidade de voltar aos negócios se fez mais forte que o medo de se contaminar quando Creusa viu as contas da casa começaram a “apertar”.

Novos desafios, novas estratégias

As meninas tiveram que contar com a criatividade para manter os negócios. Isso porque o envolvimento afetivo com os clientes é um ponto muito importante para as duas marcas, o que impediu as entregas feitas diretamente aos compradores. 

Creusa diz que o maior desafio para ela são as entregas, pelo medo de expor sua saúde: “Acredito que o maior desafio seja esse, as entregas. Pois, mesmo com todos os cuidados, nós ainda estamos na rua e em local público entregando. Querendo ou não, causa preocupação. Quando decidimos voltar, a ideia inicial era realizar as entregas por bike, com uma empresa terceirizada. O cliente pagaria o frete e eles entregariam na casa da pessoa, mas essa empresa não entra na favela e precisaríamos de um local fixo para o ciclista pegar os pacotes, e ainda não conseguimos fazer isso, mas é um plano futuro”, contou.

“As pessoas podem ajudar no nosso trabalho não apenas comprando, mas também compartilhando quando tem peças novas, divulgando para os amigos… O “boca a boca” é a melhor divulgação que existe. Valorizar nossa arte, porque as blusas que pintamos leva tempo e também estudo de anos por trás, mas nós sempre pensamos em tornar acessível a todas e todos, porque grande maioria do nosso público é morador de favela e periferia como nós”, observa Creusa.

Creusa Maria, criadora do Brechó Fresh – Acervo pessoal

Aproveitando a oportunidade de demandas para lugares fora da Maré e até do estado do Rio, Creusa lançou o site do Brechó Fresh, onde os clientes de todos os gêneros podem conferir as peças, tirar dúvidas pelo link de WhatsApp do brechó, calcular o frete, pedir customizações e comprar com facilidade.

Inaugurando um brechó em plena Covid-19, Stefany Silva também buscou estratégias para agradar seus compradores e compradoras. A mareense sempre oferece descontos ou agrados, e ela explica que isso vai para além lucro: “Quando a pessoa leva mais de duas peças, geralmente dou um desconto ou dou uma peça que compro de um brechó da Maré, isso ajuda o empreendedor local e é uma forma de presentear o cliente do Jeans Ancestral.”

Para incentivar essa forma de comprar, é necessário também acabar com o preconceito que se tem sobre energia das peças. Stefany Silva e Julie Oliveira são as mareenses idealizadoras do Brechó In Favela, on-line, e tentam reverter esse preconceito conectando cliente e peça por meio de histórias: “Contamos a história daquela roupa, os processos pelos quais ela passa. Isso gera empatia. Pode ser só uma blusinha, mas a história por trás gera um interesse”, explicou Julie Oliveira, que mora na Nova Holanda.

“Acredito que, nesse momento, é extremamente necessário apoiar todas e todos os trabalhadores independentes, principalmente do nosso território. As pessoas não têm noção de como é importante um compartilhamento, uma indicação e principalmente a escolha de priorizar e consumir desses espaços [das favelas]”, comenta Julie.

Julie Oliveira, uma das idealizadoras do Brechó In Favela – Acervo pessoal

As atividades do In Favela estão suspensas durante este momento, mas a pausa nada tem a ver com o novo coronavírus. Suas criadoras estão empenhadas em estudos, pesquisas e autoconhecimento, para que o brechó volte à ativa com roupas cheias de personalidade e identidade. 

Divulgue e apoie!

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Quiosques pegam fogo no Piscinão de Ramos

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Causa do incêndio ainda é desconhecida

Flávia Veloso

Na manhã desta quinta, por volta das 6h, dois quiosques que ficam à beira do Piscinão de Ramos pegaram fogo. Equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas e por volta das 7h chegaram ao local, controlando o fogo e isolando a área. Não houve feridos, mas os estabelecimentos sofreram perda total. Ainda não se sabe a causa do incêndio. 

O Piscinão está sem água desde o início da pandemia do novo coronavírus. Segundo o presidente da Associação de Moradores da Praia de Ramos, Fábio Ferreira, a água foi retirada para manutenção, mas não há previsão de retorno.