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Seções eleitorais do Ciep Hélio Smidt serão transferidas para outras escolas da Maré

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Eleitores devem ficar atentos também às normas de segurança e higiene para os dias da votação

Por Hélio Euclides em 11/11/2020 às 20h30

Nos dias 15 e 29 de novembro os brasileiros vão às urnas para o pleito municipal para escolher os vereadores e os prefeitos que vão ficar no cargo por quatro anos. Com a pandemia, há recomendações para eleitores e mesários, para que possam cumprir o direito ao voto. 

Igualmente à eleição de 2018, haverá mudanças de local de votação na Maré. Este ano as 11 seções que ficavam no Ciep Hélio Smidt, localizado na favela Rubens Vaz, serão distribuídas em outras escolas. A 161ª Zona Eleitoral informou que o Ciep Hélio Smidt deixou de ser polo de votação devido a problemas de estrutura. As seções 146, 148, 150, 151, 153 e 155 foram transferidas para o Ciep Elis Regina. Já as seções 159, 163, 165, 167 e 169 funcionarão no Ciep Presidente Samora Machel. Ambos localizados na Nova Holanda. 

Os eleitores que tiverem dúvidas sobre localização de seção, podem acessar: http://www.tre-rj.jus.br/site/eleicoes/2020/arquivos/locais.pdf. Outra opção é conferir o local de votação por meio do aplicativo e-Título. Basta acessar clicar em “onde votar”. Caso tenha ocorrido alguma alteração, haverá uma mensagem: “Atenção! Seu local de votação mudou. Ei, nesse pleito você votará em um local diferente”. Nesse caso, o eleitor deve apertar em “ver novo local”. O app pode ser baixado para smartphone ou tablet, nas plataformas iOS ou Android. Após baixá-lo, basta inserir os dados pessoais.

Na última eleição, aconteceu algo parecido em relação a mudanças nas seções eleitorais pela cidade, então os eleitores precisam ficar atentos antes mesmo da votação. Em 2018, na Maré, o Ciep Ministro Gustavo Capanema deixou de ser polo de votação. Eleitores agora votam nas Escolas Municipais Escritor Ledo Ivo e Ceja Maré. 

Mas o que precisa levar para a votação?

A cidade do Rio de Janeiro tem 49 zonas eleitorais, com 423 locais de votação e 11.467 seções efetivas. O ano de 2020 terá um total de 1.758 cariocas na disputa para as 51 cadeiras na câmara municipal. Já para prefeito, são 14 candidatos que almejam uma vaga. Para informações sobre candidatos, o eleitor deve acessar: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/. Os 4.851.886 eleitores precisam ir às urnas para a escolha, mas com recomendações e cuidados para não contrair a covid-19. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) indica passos que os eleitores devem seguir no dia 15 de novembro. 

Seguindo recomendação dos infectologistas, a identificação biométrica não será utilizada na votação para evitar a possibilidade de infecção e aglomerações. Para isso, será necessário que cada pessoa leve uma caneta, o título e um documento original com foto, na validade. Em caráter especial, a carteira nacional de habilitação (CNH) será aceita mesmo se estiver fora da validade. O mesário não pegará nos documentos, que deverão ser apresentados. Para quem baixar o e-Título e tiver a sua foto no aplicativo, não será necessário qualquer outro documento. Caso contrário, precisa apresentar um documento oficial com foto. 

 A eleição este ano vai começar uma hora mais cedo, às 7h, entretanto, é preciso respeitar os horários. Das 7h às 10h é prioritariamente para pessoas maiores de 60 anos. Para o restante do público a votação vai das 10h às 17h. Para garantir maior segurança a todos os envolvidos durante o processo, o uso de máscara será obrigatório nos locais de votação. Os eleitores serão recomendados a manter o distanciamento de outras pessoas para evitar qualquer contato físico. Além disso, não será permitido se alimentar, beber ou fazer qualquer atividade que exija a retirada da máscara. Apenas em caso de dúvida de identificação, o mesário poderá pedir para que o eleitor dê dois passos para trás e abaixe a máscara.

Só é permitida a manifestação individual e silenciosa do eleitor por meio de adesivos, bandeiras e broches. No dia da eleição, são proibidas aglomerações de pessoas e veículos com material de propaganda, uso de alto-falantes, realização de comícios, carreatas e transporte de eleitores, boca de urna e qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de candidatos em publicações, como panfletos e cartazes. Os eleitores não poderão portar celular, máquinas fotográficas, filmadoras, rádio de comunicação ou qualquer equipamento que coloque sob suspeita o sigilo do voto. Quem descumprir a regra será advertido pelo mesário. O TRE-RJ recomenda o bom senso: traje de banho deve ser evitado.

No dia da eleição, em razão da pandemia, a justificativa deverá ser feita preferencialmente por meio do aplicativo e-Título, evitando-se o comparecimento a um local de votação. O aplicativo utilizará o sistema de georreferenciamento do celular, garantindo que o eleitor realmente está fora do município em que ele está apto a votar. A funcionalidade Justifica Brasil estará disponível no programa nos dias da votação, 15 e 29 de novembro, das 7h às 17h. Se o eleitor não tiver smartphone poderá justificar diretamente nas seções eleitorais, apresentando o Formulário de Requerimento de Justificativa Eleitoral devidamente preenchido. 

Para os eleitores que tiverem com covid-19 ou febre no dia da eleição, a recomendação é não irem ao local de votação. O TRE-RJ lembra que é possível justificar a ausência no prazo de 60 dias por meio do Sistema Justifica, disponível nos sites: tre-rj.jus.br ou tse.jus.br. O aplicativo e-Título também poderá ser utilizado.

Cadu Barcellos deixa legado para o cinema e as favelas

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Após notícia de sua morte nesta quarta-feira (11), o cineasta e cria da Maré recebeu homenagens nas redes

Por Thaís Cavalcante em 11/11/2020 às 15h10

Ele sempre esteve por perto. Foi e vai continuar sendo uma referência pra nós. Jovem da Maré que corria atrás de produzir uma comunicação que representasse a gente. Amarévê tem um pouco de Cadu Barcellos. Valeu por tanto! Vamos seguir por aqui também por você!” A postagem publicada no twitter do coletivo Amarévê resume como Carlos Eduardo, mais conhecido como Cadu, vai ficar na lembrança das pessoas que inspirou e em todos os lugares por onde passou. Cadu era muitos: pai do Bernardo, cineasta, produtor cultural, diretor artístico e o que mais seu talento e vontade permitisse. 

As favelas e toda a cidade do Rio de Janeiro acordaram de luto. Cadu Barcellos, 34 anos e cria da Maré, foi morto a facadas na madrugada de terça para quarta-feira (11) na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Civil, o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da capital e um inquérito foi aberto para apurar as circunstâncias do crime. Testemunhas vão prestar depoimento para ajudar na investigação e identificar o autor. O cineasta deixa sua esposa Gabriela Alves, e seu filho Bernardo, de 2 anos, além de um legado de narrativas sobre a favela no cinema nacional.

Grande colecionador de produções, começou bem cedo experimentando o universo audiovisual nas Organizações Não-Governamentais da Maré e também na arte, atuando no grupo Corpo de Dança da Maré. Seus futuros trabalhos viriam do aprendizado na Escola de Cinema Darcy Ribeiro e na Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC), do Observatório de Favelas, onde também foi professor.

Cadu produziu curta-metragens, filmes, séries e documentários – a maioria sobre a temática periférica e usando o seu olhar local, de experiência e crítica social – como Feira da Teixeira (2006), Crônicas da Cidade (2007), Cinco Vezes Favela – Agora por Nós Mesmos (2010), Mais X Favela (2011), 5x Pacificação (2012). Em 2020, era diretor artístico do grupo musical No Lance e assistente de direção do programa Greg News, da HBO.

Seu legado na comunicação do Conjunto de Favelas da Maré pode ser visto também nas publicações da página Maré Vive. Ele criou a página em 2014 com outros moradores e comunicadores para informar, em tempo real, sobre a Ocupação Militar que ocorria no território. Seis anos depois, hoje o Maré Vive é uma mídia independente e colaborativa, com mais de 193 mil seguidores em suas redes.

Amigos e colegas de trabalho, além de organizações locais publicaram mensagens de carinho e luta nas redes sociais, como forma de manter viva a trajetória desse mareense que não está mais presente fisicamente, mas continua vivo em suas produções.

Leia as homenagens deixadas por amigos e organizações locais:
Raull Santiago (Coletivo Papo Reto)

“Cadu Barcellos foi meu professor na ESPOCC – Escola Popular de Comunicação Crítica. Uma das primeiras referências que tive de uma pessoa jovem e de favela, fazendo a diferença no a partir do local onde vivia. Carismático, empreendedor e inspirador, me ajudou muito nessa vida. Ajudou literalmente, de bom ouvinte, bom conselheiro, até emprestar grana em momentos que passei muito mais perrengue no passado. Cadu me inspirou de muitas formas e foi uma daquelas pessoas que eu olhava lá em cima, grande, potente, trilhando um caminho que abriu portas para a favela. Eu realmente estou sem chão! Minhas amizades dessa época estão entre as minhas maiores inspirações vivas. E você foi importante para eu chegar nos lugares que estou hoje, irmão. Que dia terrível. Obg por tanto, mano. Valeu, Cadu!”

Além do Instagram, o comunicador Raull Santiago também se manifestou no Twitter sobre a morte de Cadu Barcellos.

Dayana Leonel Barcellos (Amiga)

“Garoto, parecia que a vida não tinha dias ruins pra você… Cadu Barcellos vc acreditou em cada projeto seu… Correu atrás, alcançou lugares altos… Mas sempre tava aqui… Sempre voltou pra raiz… Já deu alguns sustos na gente como seu desaparecimento RS no carnaval… E como eu queria que essa notícia tb fosse algo enganoso, mas não é. A gente segue daqui… Faça suas gravações daí e monte o filme mais brabo que você puder… Um segredo de estado seu sobrenome. Segue em paz, mano. Força pra gente que fica. Você deixou, sim, um legado para nós”.

Eliana Sousa (Redes da Maré)

“Cadu Barcelos era um jovem cheio de vida. Tinha uma alegria e energia contagiante. Fruto das possibilidades que foram gestadas a partir das lutas que travamos na nossa Maré, ele nos deixa de forma brutal. Ele se tornou um cineasta e buscou retratar a vida de muitos jovens de favelas, a partir de suas próprias vivências. Hoje a vida fica mais triste, ao pensarmos  que não teremos, de agora em diante, a contribuição do Cadu nos muitos desafios que temos de lidar todos os dias. Saudades hoje e sempre”.

Jessé Andarilho (Biblioteca Marginow)

“Agora como é que eu vou dizer que a rua é nós? Cadu Barcellos era muito foda. Estudamos na Espocc, trabalhamos na Malhação, jogamos várias partidas de futebol e ele exibiu um dos seus filmes no sarau Marginow em Antares e trocou ideia com a menozada. O mano era puro, engraçado, inteligente e conhecia a cidade como a palma da mão. Tô boladão”.

Gregório Duvivier (Greg News)

“Assassinaram um amigo, um parceiro de trabalho, uma das melhores pessoas que eu já conheci na vida. Um ser humano bom. Brilhante. Família. A morte do Cadu Barcellos deixa um buraco do tamanho do mundo”.

Fábio Justino (Amigo)

“A violência na cidade do RJ é tão traiçoeira como um vírus. Direta ou indiretamente ela vai te encontrar. A Nação perdeu um dos seus mais apaixonados torcedores, a favela da Maré perdeu um dos seus filhos mais talentosos e nós perdemos um grande amigo: Cadu Barcellos”.

Naldinho Lourenço (Frente de Mobilização da Maré)

Os passos vêm de longe, amizade mais ainda. Vários desenrola firmes e sérios, visão de futuro, risadas era o que não faltava quando nos encontrávamos,  muita história pra contar que não cabe dentro deste singelo texto. É meu mano, vá em paz Cadu Barcellos, tamo daqui orando por você”.

Rene Silva (Voz das Comunidades)

“Descanse em paz, Cadu Barcellos! Sentiremos muita falta aqui, mas seguiremos a sua luta pela diminuição da desigualdade e ao incentivo da potência da juventude da favela em termos oportunidades de transformação social”.

Maré Vive

“Hoje, nós do Maré Vive estamos de LUTO, mesmo que o amanhã ainda seja de Luta. Perdemos um amigo para essa violência diária, cria da Favela que esteve conosco tantas vezes. Existe um projeto de Estado que continuará tirando vidas, seja direta ou indiretamente. Nosso abraço forte e solidário para a família, em especial pra Dona Neilde, e aos nossos amigos que estão sem chão e sem acreditar nessa partida tão precoce. Seu legado foi deixado, Cadu. Obrigado!”

Redes de Desenvolvimento da Maré

“Cadu nos deixa muitos aprendizados importantes. Chamamos a atenção para um desses que é a certeza de que jovens de favelas, como ele, têm muito a contribuir com os desafios da cidade. Seu exemplo e seu trabalho se tornaram uma inspiração para todos os meninos e meninas de favelas e periferias.    Nesse momento de imensa dor, fica a lembrança do jovem sempre alegre, disposto a colaborar, firme em seus propósitos e amoroso na convivência com todas as pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-lo”. Leia aqui a nota completa.

Observatório de Favelas

“A Maré, as favelas e o conjunto da cidade amanheceram tristes hoje. Cadu foi aluno da Escola Popular de Comunicação Crítica – ESPOCC e seu talento, olhar e atuação é parte importante dessa história, da nossa história. Aos tantos amigos, aos familiares – sobretudo sua mãe, irmã, esposa e filho – a nossa solidariedade e carinho”.

Além das homenagens, amigos e colegas de trabalho de Cadu criaram o Fundo de Apoio a Bernardo Barcellos, filho de Cadu. Para doar, acesse: http://www.cadubarcellos.bonde.org

Assista algumas das produções dirigidas por Cadu Barcellos:

Curta-metragem “Feira da Teixeira” (2006)

Trailer do Filme “Cinco vezes Favela – Agora por nós mesmos” (2010)

Série “Mais X Favela” (2011)

Trailer do Documentário “5x Pacificação (2012)

Velório de Carlos Eduardo Barcellos

Dia 12 de novembro de 2020
Velório às 10h / Sepultamento às 13h15
Capela 3 do Cemitério da Penitência
Rua Monsenhor Manoel Gomes, 307 – Caju. Rio de Janeiro – RJ.

O legado de Maria da Penha Leite

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Conheça a trajetória da moradora da Nova Holanda que influenciou lutas na Maré e ainda pretende fazer muito

Por Geraldo Martins Fernandes e Sara Alves em 11/11/2020, às 13h15

Contar histórias de quem fez e ainda faz pelo território é uma missão do Maré de Notícias, sempre valorizando pessoas que merecem nosso respeito, além de contribuírem para a memória oficial do Conjunto de Favelas da Maré. Saber dessas pessoas é também conhecer um pouco de nossas origens. 

Foi justamente lendo um artigo do jornal que decidi fazer algo que desejava há anos: escrever sobre uma pessoa que merece estar nas páginas desse jornal que ganhou o mundo. É a senhora Maria da Penha Leite, ou melhor, a ‘Penha da Creche’, como é mais conhecida na Nova Holanda entre os agentes comunitários.

Penha sempre esteve disponível, solidária, pronta para visitar as famílias que lhe pediam ajuda a qualquer hora do dia. Em sua trajetória consta a militância pela associação de moradores da região, mas apesar de tamanha generosidade, a vida nem sempre lhe tratou da mesma maneira. Injustiça? Desde muito cedo, a mulher conhecida por ser uma fortaleza, teve que lutar para sobreviver. 

É a sina de muitas brasileiras, que, como Penha, começaram a trabalhar cedo em casas de família, arrumando com isso o sustento de sua própria. Abdicou dos estudos, aprendendo a saber tão somente escrever seu nome. Contudo, lia o mundo em sua volta de uma maneira peculiar e só sua, diferentemente de tantos que, mesmo letrados, não adquirem sensibilidade sequer para entender os dilemas da vida.

Certamente, frequentar a escola lhe fez muita falta, mas a vida lhe permitiu outros jeitos de sabedoria para sobreviver. Mesmo diante de dificuldades, Penha seguiu em frente, e foi trabalhando como agente comunitária que encontrou seu lugar no mundo, seu principal sentido. E é a partir dele que, ainda hoje, continua contribuindo e doando-se, voltada ao atendimento na área de assistência social.

Não só ensina como também aprende, compartilhando com os novos parceiros as muitas ciências adquiridas nesses longos anos de dedicação e amor pelas pessoas.

Reconhecer a história de Penha é algo bonito e relevante. Como disse Helena Edir, uma das diretoras da Redes da Maré, Penha ‘’fez parte da luta da Chapa Rosa, juntamente com Roseli, Dona Dalva, quando Eliana Silva tornou-se a primeira mulher presidente de Associação de Moradores’. Sim, Penha também estava lá, lutando por direito à água e não só. Lutou pela Educação Infantil, por saúde, moradia e tantos outros direitos fundamentais ao humano.

Com passagens pela secretaria de Desenvolvimento Social – atual pasta de Assistência Social e Direitos Humanos – Penha se orgulha também de ter exercido a função de cozinheira. Mas quem disse que ser cozinheira para ela era realizar atividades exclusivas ‘da cozinha’? É isso! Faltava enumerar essa que é uma das principais qualidades de Penha: sempre ter sido (e ainda ser) múltipla.

Penha durante o seu trabalho na creche – Foto: Acervo pessoal

Esses e muitos outros são capítulos-pessoas da história da Maré, que precisam ser contados e conhecidos por todos nós. É conhecendo um pouco desses grandes atores que tornamos ainda maiores, belas e significativas as batalhas traçadas nesse local tão amado – a nossa Maré.

E quando Penha vai se aposentar? Ah… Isso acabou virando até lenda na Nova Holanda. Dá mais que um texto, um livro! 

Um Vaticano na Maré: missas são cantadas em latim

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Latim, língua que faz parte do Catolicismo, está presente nas celebrações do Conjunto de Favelas da Maré

Por Thaís Cavalcante em 10/11/2020, às 19h15

A favela é um um lugar de fé. Não à toa, é possível encontrar uma igreja em cada rua, cultos e missas todos os dias e até visitas dominicais oferecendo pregações. No cristianismo, especificamente, uma atitude dos moradores da Maré se destaca nos últimos anos: o uso do latim nos cantos das missas. Língua oficial do Vaticano e mãe do portuguës brasileiro, as músicas clássicas dominam as celebrações e conquistam fiéis.

Em todo o território mareense, quase metade da população é católica. Outros grupos religiosos predominantes são os evangélicos e protestantes, segundo o Censo Maré (2019). Para alcançar a essa população, diversas capelas e cinco paróquias se espalham pelas favelas: Paróquia Jesus de Nazaré, no Parque Maré; Paróquia Sagrada Família, na Nova Holanda; Paróquia São José Operário, na Vila do João; Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Parque União; e a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes. Esta última foi a primeira construída no território, ainda na metade dos anos 40, quando a Maré vivia um período de transformação urbana, assim como o Rio de Janeiro.

Nova língua na boca do povo

Jonathan Tanta, professor e membro do Ministério de Música da Paróquia Sagrada Família, conta que nos últimos anos os cantos em latim se tornaram mais comuns na favela como um grande movimento local e se recorda quando esse fenômeno começou. “Eu lembro que em 2013 comecei a ouvir o Agnus Dei* nas missas daqui. No evento Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Papa facilitou a popularização de canções em latim com um ritmo mais atual”, destaca.

A atuação do seu grupo musical na Maré não foi diferente. “Nós utilizamos o latim nas missas, sim, porém escolhemos ele para momentos com uma importância litúrgica maior, como o Natal, onde é celebrado o nascimento de Jesus e a Páscoa, que celebra a ressurreição”. O cuidado é para que os fiéis vivenciem a tradição, mas sem se esquecer que o latim não acessível a todos. De uma população composta por 140 mil pessoas, destas mais de 8 mil não sabem ler.

Uma técnica usada pelos Ministérios de Música para engajar os fiéis é cantar repetidas vezes músicas popularmente desconhecidas, assim fica mais fácil de decorar a letra ou só a melodia. Quem pensa que o aprendizado é fácil, se engana, mas parte dos músicos que cantam em latim nas missas da Maré pouco tem aulas sobre a língua ou a pronúncia. Aprendem ouvindo, treinando e, às vezes, tiram dúvidas com Padre de sua Paróquia.

A Cientista Social Graça Dias estudou em convento quando pequena e teve contato com o latim, mas se espanta com a prática ainda hoje nas paróquias da Maré. “É surpreendente que em plena atualidade algum grupo religioso se proponha a resgatar a missa em latim porque isso foi abolido há décadas! Importante relembrar que o latim é uma língua clássica morta, só se usa em documentos e na Cidade do Vaticano, sede da Igreja Católica Romana. Eu não vejo a utilidade de se usar latim, sânscrito, aramaico ou seja a língua que for, que não será compreendida por aquela comunidade”, destaca. Ela completa ainda que, sociologicamente, é importante que os frequentadores que vivenciam essa experiência precisam se posicionar se isso agrega à comunidade e se os fiéis sabem realmente o que está sendo dito.

Formalmente, o uso não é proibido. A Constituição do Vaticano Sacrosanctum Concilium** sobre a Sagrada Liturgia afirma: “Tomem-se providências para que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem”. Padre Paulo Ricardo, que além de padre é influenciador de mais de 1 milhão de pessoas na internet, esclarece que o uso do latim na liturgia não é a volta de uma tradição. “Nós precisamos continuar aquilo que a Igreja fez durante séculos. Eu não estou defendendo uma missa totalmente em latim. O que nós queremos é que as pessoas percebam que elas não estão numa igreja que começou há 50 anos atrás. Nós devemos aproximar essas duas formas de celebração”, diz.

As paróquias da Maré estão seguindo o conselho, mas se reunir se tornou inviável devido a pandemia. Foram quatro meses sem fiéis nas celebrações presenciais por causa da pandemia. Com a reabertura das atividades, muitas igrejas já estão de portas abertas novamente. Outras, ainda mantém a transmissão ao vivo pelo Facebook para evitar aglomerações. Para quem teve saudades da missa com cantos em latim, as próximas cantorias serão em dezembro, na celebração de Natal.

Você sabia?

O latim é considerado uma língua ‘’morta’’, pois não tem falantes nativos. Apesar disso, ainda é falado no Vaticano e utilizado na produção de documentos oficiais da Igreja Católica. Ao longo da história, os costumes foram mudando no Oriente e Ocidente e as línguas, por sua vez, foram adaptando-se às necessidades dos povos e grupos cristãos. O protestantismo teve papel decisivo deste período de mudança, fazendo com que a antiga língua oficial, usada em celebrações religiosas por séculos, fosse substituído pelo idioma oficial de cada país.

*Ele se refere ao nome “Cordeiro de Deus” em latim.

**Sacrosanctum Concilium significa Conselho Inviolável.

“Eles vieram para matar”

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Jeremias Moraes da Silva foi morto há quase três anos com um pirulito na mão durante uma ação policial na Maré e até hoje nenhum dos policiais envolvidos na ação foi investigado

Por Daniele Moura em 05/11/2020 às 07h – Maré de Notícias #118 – novembro de 2020

Nascida e criada na Maré, Vânia Moraes da Silva teve cinco filhos, Jeoás, 23; Isaías, 21; Gabriel, 18; Jeremias, 13 e Samuel, 12. Evangélica da Assembleia de Deus, é conhecida por muitos na Nova Holanda, favela onde mora na Maré. No dia 6 de fevereiro de 2018, saiu cedo de casa para ir ao velório de um “irmão” da igreja. Não se despediu dos filhos para não acordá-los. Ao voltar para casa no meio da tarde, numa parada para um lanche perto do Hospital Geral de Bonsucesso, viu seu marido saindo da portaria da unidade de saúde. Logo olhou no grupo de Whatsapp da igreja para saber se algo havia acontecido. E aconteceu. Lá, soube que seu filho Jeremias havia sido baleado e estava no Hospital Municipal Souza Aguiar.  

Jeremias Moraes da Silva era um menino peralta, louco por bola. Fazia aula de violão e cantava na igreja. Estudava na Escola Municipal Hélio Smidt e, segundo o professor Eduardo Gomes Oliveira, era um aluno com notas medianas, mas com olhar curioso e muito perguntador. Era uma manhã de terça-feira de verão na Maré, e Jeremias costumava participar do futebol na Praça da Nova Holanda e também das atividades da Biblioteca Lima Barreto. Neste dia, ele iria treinar o novo hino da igreja na casa de uma “irmã”. Mas não deu tempo. Jeremias foi morto pelas costas com um tiro de fuzil em frente à casa onde queria entrar com um pirulito na mão. Traumatizada, até hoje a a “irmã” não se recuperou e sequer consegue conversar sobre o ocorrido.

Dona Vânia, mãe de Jeremias, em depoimento ao Maré de Notícias

A manhã estava tranquila na Nova Holanda, sem operação policial ou conflito entre os grupos civis armados, apenas os barulhos constantes de motos circulando e crianças brincando. Mesmo com essa aparente tranquilidade, um blindado do 22º Batalhão de Polícia Militar saiu pelos fundos e encontrou Jeremias. A perícia comprovou que o tiro veio do “caveirão” que havia acabado de sair do Batalhão, atirando. “Eles alegam que foi em legítima defesa. Quero saber de quem? Com que arma que meu filho atirou? Com pirulito? De costas? Atiraram num menino de 13 anos, um tiro de fuzil pelas costas. Foi uma covardia! Eles vieram pra matar e continuam livres nas ruas, matando crianças”, diz dona Vânia, tentando explicar o inexplicável.

Após quase três anos da morte do filho, o único avanço foi nomear a Clínica da Família da Nova Holanda, na Maré, onde nem sequer há energia elétrica. O processo criminal não existe. O inquérito da Delegacia de Homicídios do Rio, mesmo com perícia, foi inconclusivo, o que fez com que o Ministério Público Estadual abrisse administrativamente uma nova investigação para confrontar a primeira, feita pelo delegado e, assim, acolher a denúncia – início de todo processo judicial. A família abriu dois processos, um criminal, onde é pedida a responsabilização criminal dos policiais, e um cível, onde se pleiteia a indenização do Estado pela desastrosa atuação de seus agentes públicos. Marcelo Pires Brancos, advogado da ação é pago pela Igreja que a família frequenta.

A mãe de Jeremias não esquece o dia em que foi ouvida pelo delegado do caso. “Eu sou leiga, não entendo palavras bonitas, não entendo de leis, não entendo a forma que eles falam, e você pergunta, e eles te enrolam. Te tratam como lixo, falam um monte de palavras bonitas e eu aí e falo me explica?  Eles respondem dizendo que estão explicando.” 

Dona Vânia guarda com carinho as fotografias de Jeremias. - Foto: Acervo pessoal
Dona Vânia guarda com carinho as fotografias de Jeremias. – Foto: Acervo pessoal

O sonho de dona Vânia é ver o julgamento dos assassinos de seu filho, mas ela tem dúvida se isso vai acontecer. “Sonho no dia que eles possam estar no banco dos réus e em júri popular, mas não tenho essa certeza. Não acredito na justiça, 3 anos e nada acontece. E o mais agravante, depois dele vieram muitos outros, Maria Eduarda, Marcos Vinícius, e tantos outros. Por quê? Eles estão matando o futuro do amanhã com apoio dos governantes”, diz a dona de casa relembrando outros casos de crianças mortas por policiais em ação nas favelas do Rio.

Desde que Jeremias morreu (fev/2018) mais 6 crianças foram mortas em ações policias no Rio, entre elas Marcos Vinícius também morador da Maré. Das 6, apenas uma delas resultou em denúncia do Ministério Público do Estado do Rio.

Anvisa interrompe estudos da vacina Coronavac

Vacina estava na terceira e última fase de testes em humanos e teve suspensão de seus estudos na noite desta segunda-feira

Por Edu Carvalho, em 09/11/2020, às 23h. Atualizada em 10/11/2020 às 17h15

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu temporariamente os testes em humanos da vacina chinesa Coronavac. O motivo seria um “evento adverso grave”, anunciado na noite desta segunda-feira (09). O órgão acabou não informando a causa específica da suspensão. Cabe lembrar que essa é uma das candidatas à vacina contra o coronavírus, sendo desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan (São Paulo). 

Esta suspensão ocorre justamente na data que o governo de São Paulo anunciou que as primeiras 120 mil doses da Coronavac chegariam no dia 20 de novembro. Segundo o governador João Dória, são esperadas até o dia 30 de dezembro um total de seis milhões de doses do imunizante contra o novo coronavírus. 

Em coletiva de imprensa já na tarde desta terça-feira (10), o diretor-presidente da Agência Anvisa, Antonio Barra Torres, disse que a decisão de suspender os testes da Coronavac foi “técnica” e baseada no fato de as informações sobre o evento serem “insuficientes” e “incompletas”

Essa não é a primeira vacina experimental a passar por interrupções dos estudos. Outras duas tiveram seus ensaios clínicos interrompidos por conta de eventos adversos graves. A desenvolvida pela Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca e a Fiocruz teve seus testes freados depois que uma voluntária apresentou sintomas de uma doença neurológica. A vacina da Johnson&Johnson também interrompeu os testes depois de uma “doença inexplicada” em um dos participantes.