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Quanto vale uma vida?

Nas últimas semanas de março, alguns especialistas questionaram a relevância do isolamento social e como o fechamento dos comércios impacta na economia.

Maré de Notícias #111 – abril de 2020

Andressa Cabral

Na tentativa de frear a pandemia do novo coronavírus, muitos países estão limitando a circulação de pessoas. Com o processo de isolamento social e o fechamento de estabelecimentos que não são reconhecidos como essenciais, a economia tende a girar mais devagar. Além disso, aconteceram diversas mudanças na rotina de trabalho de milhares de trabalhadores, como a substituição do trabalho presencial para o trabalho à distância (home office, trabalho remoto), antecipação de férias, entre outras. Os trabalhadores informais perceberam o impacto dessas mudanças de forma mais direta, com o esvaziamento das ruas e a redução do consumo.

Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro têm o maior número de casos de infecção e óbito pela COVID-19 desde o início da pandemia, assim como possuem duas das cidades mais ricas do País, segundo o IBGE. Desta forma, os governos desses dois estados adotaram o isolamento voluntário como estratégia preventiva para que não chegássemos em uma situação semelhante à da Itália, que em um período de mais de um mês de contágio ainda não chegou no pico de infecção e tem milhares de mortos.

Diante do estado de calamidade pública, foi preciso pensar em alternativas que seriam adotadas por empregadores, para a preservação da renda e do emprego formal, de forma a garantir a manutenção do vínculo empregatício. A Medida Provisória n° 927, aprovada em 22 de março, prevê algumas medidas para a manutenção do trabalho neste período de pandemia, como o teletrabalho e alteração no pagamento das férias.

No dia 1 de abril foi aprovado também o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que autoriza empresas que aderirem ao programa a reduzirem proporcionalmente jornada de trabalho e salários dos empregados em um período de três meses. A medida serve para evitar que as empresas demitam arbitrariamente durante o período de crise provocada pelo novo coronavírus. A redução de jornada e salarial será de 25%, 50% ou 70%, mas preserva o valor de salário-hora do trabalhador. Para aqueles que tiverem o salário reduzido e recebem até um salário mínimo, o governo irá complementar o salário até o valor integral.

É preciso observar que essas medidas emergenciais para trabalhadores formais preveem uma série de arranjos temporários nos direitos trabalhistas previstos na Consolidação de Leis do Trabalho (CLT) e que são os empregados os mais prejudicados com as mudanças recentes. 

Medidas emergenciais que podem ajudar

Mesmo com as restrições de circulação, é um período de instabilidade financeira e muitas pessoas não têm o privilégio de ficar sem trabalhar. Desta forma, algumas medidas econômicas têm sido tomadas. Em âmbito estadual, o governador Wilson Witzel sancionou, no dia 23 de março, a Lei 1999/20, que proíbe a interrupção de serviços essenciais, como luz, água e gás, e permite o parcelamento dessas contas após o período de isolamento no estado do Rio de Janeiro.

No dia 02 de abril foi sancionado texto sobre auxílio emergencial por período de três meses a trabalhadores autônomos, informais e sem renda. Mães e pais solos que se encaixam nas categorias também serão beneficiados. O auxílio será limitado a duas pessoas da mesma família. O pagamento será feito por meio de agências bancárias e lotéricas. Na segunda semana de abril foi foi lançado pelo Ministério da Cidadania o aplicativo Caixa | Auxílio Emergencial e divulgado calendário de saques para aqueles que podem receber o benefício.

Desta forma, milhares de pessoas poderão dar entrada no auxílio, incluindo diversos empreendedores da Maré. De acordo com o Censo de Empreendimentos da Maré, organizado pela Redes da Maré em 2014, existem mais de 2.900 estabelecimentos, sendo 2.233 de caráter informal, sem vínculo e benefícios empregatícios.

O auxílio emergencial prevê apoio financeiro a pessoas cuja renda individual seja de até meio salário mínimo. Aqueles que têm direito ao auxílio irão receber R$ 600,00 e mães que são chefes de família poderão receber R$ 1.200,00. Bia Santos, administradora e Diretora da Barkus Educacional, que ensina educação financeira para crianças e adolescentes, reconhece o momento difícil, mas tenta ter calma: “[A medida] é um alento para as famílias que mais irão sofrer durante a crise.” A administradora reconhece ser um período de fragilidade financeira, mas observa a importância do planejamento para evitar gastos desnecessários.

Neste momento de contingenciamento, é importante manter a calma para fechar as contas no final do mês e não deixar que as dívidas aumentem. “Em momentos como este, é comum nos desesperarmos com as contas e os vencimentos. Apesar disso, é momento de respirar fundo e se organizar. Depois, examine a sua lista de compromissos financeiros e, caso sua renda não seja suficiente, avalie as prioridades”, concluiu Bia.

A importância do isolamento horizontal para a economia

Nas últimas semanas, especialistas levantaram dois modelos de isolamento que podem ser adotados: o horizontal e o vertical. Levando-se em consideração o crescimento diário dos casos e a fragilidade do nosso Sistema de Saúde, atualmente vivenciamos um modelo próximo do isolamento horizontal. Não há confinamento total, mas por determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a recomendação é que todos que possam, FIQUEM EM CASA, para evitar o contágio. No caso do isolamento vertical, medida que não é defendida por autoridades e especialistas de saúde, apenas as pessoas que fazem parte do grupo de risco devem ficar isoladas, com a rotina de comércio e escolas voltando ao normal. Entretanto, o isolamento vertical não impede que essas pessoas que continuarão com a rotina normal sejam contaminadas. Pelo contrário, colocam-as em risco e pode ajudar a causar um colapso no sistema de saúde.

Segundo a economista e empreendedora Jorgilene Maciel, o cenário não é tão simples quanto parece: “O isolamento, seja vertical ou horizontal, leva a um fechamento parcial dos mercados, reduzindo as transações financeiras. O volume de dinheiro, mercadorias e pessoas em circulação é reduzido de maneira muito acentuada em um período de tempo muito curto e isso gera impactos”. Ela observa que haveria impactos na economia mesmo que não fosse adotada nenhuma medida de isolamento. “Em uma pandemia em que pessoas estão morrendo, é impossível que o mercado não seja afetado”, destacou.

E mesmo com as medidas de fechamento de comércio e de isolamento social até o dia 13 de abril determinado pelo governo do Estado do Rio, é possível percorrer algumas favelas da Maré e perceber a normalidade no funcionamento em algumas localidades.

Sem espaço para isolamento

Com o pico de contágio previsto entre os meses de abril e maio, condições adversas obrigam moradores de favela a tomar cuidado dobrado e até a improvisar para evitar o contato com o novo coronavírus

Maré de Notícias #111 – abril de 2020

Flávia Veloso

Um vírus altamente contagioso se instalou nos cinco continentes, infectando mais de 1,351 milhão de pessoas e matando mais de 75,5 mil, até a tarde do dia 08 de abril. Para tratar quem já está doente e evitar que o contágio continue crescendo muito, governos do mundo inteiro recomendam e determinam que a população se isole em suas casas e intensifique cuidados com a higiene corporal e objetos.

Em previsão feita pelo Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o pico de contágio no Brasil deve acontecer entre os meses de abril e junho. O estado do Rio é o segundo com o maior número de casos e óbitos do país, com 1938 casos e 106 mortes, e se as recomendações para o isolamento não forem respeitadas, haverá um número de casos acima do que o sistema de saúde pode suportar.

Questões estruturais que dificultam isolamento

Há alguns fatores que dificultam que o isolamento seja feito da maneira exigida nas favelas, como moradias pequenas, com poucos cômodos, muito próximas umas das outras e onde residem muitas pessoas, dificultando a circulação de ar e o isolamento das pessoas. Essa é a realidade das favelas cariocas, o que pode dificultar o respeito às medidas de prevenção propostas pelos órgãos de Saúde.

Além das condições estruturais das moradias, os trabalhadores que não foram liberados de seus empregos correm o risco de levar o vírus para dentro de casa, sem esquecer a constante falta d’água nessas regiões, dificultando os cuidados com a higiene. É uma questão de tempo para que o coronavírus se espalhe pelas favelas cariocas. Para frear isso, é necessário que todos adotem cuidados.

Letícia Felix é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Moradora do Parque Rubens Vaz, na Maré, ela relata sua própria experiência: “Somos seis numa mesma casa, o que torna o isolamento mais difícil. Nem todos os dias todas as ações [de prevenção] são bem-feitas. São dias difíceis e fora da nossa rotina, mas estamos conseguindo, aos poucos. O que não conseguimos é o distanciamento, a casa não é grande.”

Uma vantagem da casa de Letícia é a boa circulação de ar, algo que não é comum a diversas outras moradias: “Algumas são muito pequenas, nos fundos de becos, só têm a porta de entrada e um basculante bem pequeno que, mesmo aberto, não dá vazão”, contou.

Especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) responderam a algumas perguntas, orientando e dando dicas de como os moradores de favelas podem se prevenir durante a quarentena. Houve também uma coletiva de imprensa da Fundação com comunicadores de favelas para tirar dúvidas, entre elas, a questão da aglomeração involuntária e do isolamento social.

Autoridades discutem planos

Para lidar com a questão da aglomeração involuntária a que são submetidos os moradores de favelas, os governantes do estado e município do Rio estudam isolar ao menos as pessoas do grupo de risco, que são indivíduos com mais de 60 anos, diabéticos, hipertensos, cardíacos, com deficiência do sistema imunológico, aqueles que fazem uso de medicamentos com corticoide e aqueles em tratamento de câncer.

A Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), regulamentou hotéis e disponibilizou mil vagas para receber idosos assintomáticos que moram em favelas da capital fluminense e possíveis acompanhantes, mas a proposta teve baixa adesão e sobram muitas vagas a serem preenchidas. Os selecionados ficarão em uma acomodação e terão direito a três refeições diárias (café, almoço e janta) em seus quartos, além das comodidades oferecidas e hospedagens, como lençóis, toalhas e sabonete. “Entre os critérios, estão ter 60 anos ou mais, morar em comunidade da Zona Sul – região da cidade que concentra o maior número de casos – morar em locais onde não seja possível o isolamento domiciliar e ter capacidade de autocuidado e autonomia para locomoção”, explicou a assessoria. A proposta de isolamento da SMASDH é abrigar e proteger pessoas do grupo de risco moradoras de favelas que não estejam contaminadas.

Moradores denunciam falta d’água em várias residências

Dezenas de casas nas localidades de Nova Holanda, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Vila do João e Vila dos Pinheiros vêm sofrendo falta d’água durante a pandemia. Após nosso contato, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) informou que visitou os endereços, concluiu que estão abastecidos e sob monitoramento da Companhia. “A CEDAE está colocando nas ruas, em caráter emergencial, 40 novos caminhões-pipa para atender prioritariamente as solicitações de comunidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, completou. A empresa não respondeu quais locais receberam ou receberão os caminhões-pipa. As atividades operacionais e de manutenção da CEDAE estão mantidas, mas devem ser solicitadas apenas pelo telefone 0800-2821195 ou pelo site da Companhia.

Fiocruz responde sobre o isolamento e as aglomerações

Ronda Coronavírus: sobe para 8 o número de casos e 3 o de óbitos na Maré

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Prefeitura divulga medidas para conter disseminação do vírus. Caixa divulga novo calendário para pagamento de auxílio emergencial

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou no fim da tarde desta sexta-feira, 17 de abril, que registra até o momento, 4.349 casos confirmados e 341 óbitos por coronavírus no estado. Há ainda 150 óbitos em investigação. Na cidade do Rio são 2.946 casos. As favelas da cidade concentram 85 casos, sendo a Rocinha a favela que tem mais pessoas infectadas (43), seguida de Manguinhos (9), e a Maré, que subiu em 3 os casos e 1 óbito na atualização de hoje das secretarias de saúde, no total são 8 pessoas confirmadas e 3 mortes pelo Covid19 na Maré.

Nesta sexta-feira a prefeitura comunicou algumas medidas e possíveis decretos com objetivo de conter a disseminação do vírus:

Suspensão de visitação. A prefeitura do Rio suspendeu a visitação de todos os pacientes internados na rede municipal de saúde enquanto durar a pandemia. A determinação foi publicada no Diário Oficial do município desta sexta-feira e já está em vigor.

Proteção para profissionais de saúde: A prefeitura anunciou que irá reforçar a proteção aos profissionais de saúde da linha de frente de combate ao novo coronavírus com a implantação de 10 centros de testagem de Covid-19 exclusivos a quem trabalha na rede municipal e apresentar sintomas suspeitos de Covid-19, e a entrega de capotes e outros itens para uso nas unidades.

Obrigatoriedade de uso de máscaras nas ruas: A prefeitura também anunciou que vai proibir a população de andar nas ruas sem máscaras, através de decreto municipal, que será sancionado nesta sexta-feira. A medida valerá para todas as pessoas que saírem de casa.

A Caixa Econômica Federal divulgou um novo calendário para pagamento do auxílio emergencial que irá garantir renda mínima para trabalhadores informais e desempregados durante o período da pandemia do novo coronavírus. Os pagamentos começaram nesta sexta-feira, 17 de abril e vão até segunda-feira, dia 20. O novo calendário completo está disponível no site da Caixa.

Nesta sexta o país registrou o maior núemro de mortes em um dia, com um total de 217. Os recordes anteriores de mortes confirmadas no período de um dia tinham sido nos dias 14 e 15 de abril, quando haviam sido registrados 204 óbitos. A taxa de letalidade é de 6,7% no país., e aregião sudeste é a mais impactada pelo novo vírus, com 56,6% dos casos (19.067), segundo o Ministério da Saúde.

Ronda Coronavírus: 50 dias de novo vírus no Brasil e ministro é demitido

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 Rocinha alerta para possibilidade de subnotificação. Prefeitura inicia entrega de cartões cesta básica para alunos.

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou nesta quinta-feira, 16 de abril, que registra, até o momento, 3.944 casos e 301 óbitos por coronavírus. Há ainda 130 óbitos em investigação. São 2.659 casos apenas na cidade do Rio de Janeiro. Na Maré, até o fechamento deste texto, são cinco casos confirmados e dois óbitos, de acordo com o Painel Rio Covid-19. Apesar disso, muitos comércios seguem com funcionamento normal na Maré, e com isso, pessoas nas ruas. A  Rocinha, primeira favela a testar positivo para o novo coronavírus no Rio de Janeiro, é também a que tem mais casos: 36 confirmados e três óbitos.

As autoridades médicas alertam para o grande pico de casos que devem ser registrados nas próximas semanas. O Jornal Fala Roça divulgou uma matéria que evidencia que em três dias, 50% de pacientes de clínica particular testaram positivo para Covid-19 na Rocinha e esses números não foram computados pelo painel que informa os casos com informações das secretarias de saúde. As secretarias municipal e estadual de saúde informaram em nota que o resultado dos testes de Covid-19 tem levado, em média, 48 horas para saírem. Depois disso, os mesmos são computados no Painel Rio Covid-19 .

“Escolha são inevitáveis”

Na tarde desta quinta-feira, 16 de abril, marco de 50 dias do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, o Governo anunciou a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. O presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro vinham tendo divergências publicamente sobre as estratégias e posicionamento do governo federal diante à pandemia, inclusive sobre o distanciamento social. O oncologista Nelson Teich foi anunciado pelo presidente como o novo ministro. Circula nas redes sociais um vídeo de Nelson que fala sobre a possibilidade de escolha sobre o investimento para recuperação de pessoas infectadas, no vídeo, o oncologista fala em preferenciar jovens à pessoas idosas. 

Cartões cesta básica

A prefeitura do Rio iniciou nesta quarta, 15 de abril, a entrega dos cartões para compra de alimentos para os alunos da rede municipal de ensino. Foram entregues cartões para alunos residentes na Cidade de Deus e Gardênia Azul, zona oeste da cidade. A Secretaria Municipal de Educação lançou em suas redes sociais e site o link http://cartao-alimentacao.apps.rio.gov.br para que responsáveis de estudantes possam se inscrever e solicitar o Cartão Cesta Básica. As famílias de alunos contempladas neste primeiro momento foram de cadastrados em programas sociais, informa a assessoria da secretaria.

Rocinha é a favela com mais casos de Covid-19

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Mesmo com a crescente dos casos e frentes de mobilização para conscientização, é grande a preocupação com favelas e periferias no Rio

Jéssica Pires

A Rocinha é a favela mais populosa do país. O censo de 2010 do IBGE registra 70 mil habitantes, no entanto, organizações locais e veículos de comunicação já consideram uma população de cerca de 200 mil moradores atualmente. A região faz limites com bairros que concentram alguns dos mais altos IPTUs da cidade: São Conrado e Gávea. A favela da Rocinha foi a primeira do Rio a testar positivo para casos de coronavírus e hoje é a que tem maior número de casos: 36 confirmados e três óbitos.

No Rio, os primeiros casos registrados do novo coronavírus e o aumento dos mesmos se concentram em regiões mais privilegiadas  da cidade. Até o fim de março, a Barra da Tijuca era o bairro com maior número de pessoas infectadas. Ipanema e Leblon, bairros próximos da Rocinha, eram os próximos na lista, seguidos de Copacabana. Também no fim de março, a Prefeitura do Rio publicou um boletim que indicava que 37,4% dos pacientes que testaram positivo para a Covid-19 possuía histórico de deslocamento internacional. 

Porém, com a grande circulação de pessoas na cidade, e a confirmação da transmissão comunitária (quando a população se infecta entre si), foi questão de poucos dias para que outros diversos pontos da cidade confirmassem casos, inclusive as favelas. Dia 5 de abril a Rocinha era a primeira favela da cidade com casos confirmados e no dia 9 de abril já haviam mortes registradas.    

Favelas e periferias preocupam

  A preocupação com a transmissão em favelas e periferias é grande, sobretudo pela ausência de políticas públicas específicas em diversos segmentos para esses territórios. Muitas frentes de mobilização formadas por organizações locais, coletivos, moradores e voluntários são vistas, mas ainda é notável tanto a falta de recursos como a de conscientização nesses territórios. “A Rocinha iniciou relativamente bem a quarentena, há quatro semanas atrás. As ruas estavam vazias, comércio e bares bem reduzidos. Depois da fala do presidente Jair Bolsonaro e a falta de entrosamento entre prefeito e governador, o movimento aumentou significativamente”, comenta Michele Silva, coordenadora do Jornal Fala Roça.

Hoje, o novo epicentro de casos na cidade do Rio é a Zona Norte. Preocupa o cenário, também, pela grande quantidade de favelas que a região abriga, inclusive as 16 favelas da Maré. Até a última quarta-feira, 15 de abril, eram cinco casos confirmados e dois óbitos pelo novo coronavírus na Maré. E mesmo com a confirmação dos casos e óbitos no conjunto de favelas, ainda é possível ver aglomeração nas ruas da Maré, apesar do trabalho de conscientização que vem sendo feito por associações de moradores e instituições.

Os dados não garantem o reflexo da realidade

Jornal local cria painel para acompanhamento de casos 

 As autoridades médicas alertam para o grande pico de casos que deve ser registrado nas próximas semanas. Os números já evidenciam crescimento. Os 36 casos na Rocinha e cinco casos na Maré possivelmente já não refletem a realidade do cenário dessas favelas. Há estudos que indicam, inclusive, que o número de casos é 20 vezes maior que o notificado no Brasil, já que não há testes disponíveis para todos os suspeitos.

Os pacientes que conseguem ser testados, em geral, estão internados e as secretarias municipal e estadual de saúde informaram em nota que o resultado tem levado, em média, 48 horas para saírem. Depois disso, os mesmos são computados no Painel Rio Covid-19. O Jornal Fala Roça divulgou uma matéria que evidencia que em três dias, 50% de pacientes de clínica particular testaram positivo para Covid-19 na Rocinha e esses números não são computados pelo painel.

“Os casos estão se multiplicando rapidamente, mas muita gente caiu na descrença. As duas primeiras mortes chocaram, mas parece que o efeito do medo já passou, e as pessoas estão pagando para ver. A desinformação está rolando solta”, concluiu Michele Silva.

Em todo o planeta o único resultado eficaz é o isolamento social. Evitar aglomerações nas periferias das grandes cidades do Brasil  é um dos maiores desafios para o combate a expansão do Coronavírus. E esse desafio é de todos.

Corona nos coroas

Pequenos cuidados como lavar as mãos e evitar beijos podem ajudar a conter o vírus na favela. Idosos e pessoas com doenças crônicas merecem mais atenção

Maré de Notícias #111 – abril de 2020

Dani Moura

Historicamente, periferias e favelas sofrem o abandono do Estado e a precariedade das políticas públicas. Com a chegada da pandemia da COVID-19, esse panorama só piorou. As especificidades das favelas e periferias nem sempre foram contempladas pelo Estado, e quem mais sofreu com isso foram os idosos.  E são esses moradores que, em geral, guardam a memória da luta pela garantia destes direitos. São eles, também, que muitas vezes são a principal referência das famílias. Sustentam netos e  filhos e ajudam a cuidar das crianças enquanto os pais trabalham. E agora, em tempos de isolamento social, como explicar que, de uma hora para outra, não devem mais manter contato com as crianças, que não devem mais sair de casa, nem irem às Clínicas da Família pegarem seus remédios? Um desafio que uma campanha promovida pela Fiocruz, Redes da Maré e outras instituições comunitárias de Manguinhos está tendo pela frente.

Idosos merecem atenção

Segundo o Censo da Maré, realizado pela Redes da Maré, são cerca de 10 mil moradores com mais de 60 anos no conjunto de favelas. Eliana Silva, diretora da Redes da Maré, defende que o poder público foque na população idosa de favelas e periferias, criando projetos específicos para minimizar os efeitos do coronavírus sobre ela.  “Essas pessoas são mais vulneráveis, por serem parte do grupo de risco, e os idosos nesses contextos nem sempre podem contar com o apoio da família. Há uma necessidade urgente de se pensar numa forma de dar suporte às famílias pelo fato de as crianças estarem em casa.”

Há muitos idosos que cuidam de seus netos e as crianças e jovens podem transmitir o vírus, mesmo que não apresentem sintomas da doença.  E a COVID-19 nos idosos aparece de forma mais grave, podendo levar à morte. Contudo, ninguém está isento da contaminação!

 Outro ponto destacado pela diretora da Redes da Maré é o agravamento do problema, por causa do sucateamento das unidades básicas de saúde, cujos profissionais, hoje, não encontram condições adequadas de trabalho. Nas favelas da Maré funcionam, precariamente, 11 clínicas de família e uma UPA. “O governo precisa buscar ações. Já existe uma estrutura de saúde nessas regiões que poderia atuar de maneira organizada na prevenção. Tem de trabalhar o emergencial, pensando também no depois,” afirma Eliana.

Atualmente, todos os atendimentos regulares foram suspensos nas unidades de saúde. Pessoas que sofrem com asma, diabetes, hipertensão e problemas cardíacos estão sem atendimento nas unidades públicas e são elas as que mais precisam de atenção, em especial os maiores de 60 anos de idade. Em todo o planeta, esse grupo de pessoas foi o que mais morreu com a doença. Isso não significa que eles têm mais chances de serem contaminados. O coronavírus, neste sentido, é muito democrático, já que todos são vulneráveis à COVID-19, mas o grupo de pessoas, além dos que possuem doenças autoimunes ou preexistentes têm mais chances do coronavírus aparecer de forma grave, levando à morte. São os chamados “grupos de risco”. Essas pessoas não devem sair de casa.

Quais cuidados tomar?

Segundo o infectologista e pesquisador da Fiocruz, André Siqueira, a maior prevenção é evitar aglomerações, ficar em casa o máximo de tempo possível e lavar as mãos antes de tocar no rosto. Pessoas com diabetes, hipertensão e cardíacas devem continuar tomando seus remédios normalmente.

Recomenda-se estar com as vacinas em dia. Caso a pessoa não tenha tomado a vacina contra influenza/gripe, o ideal é se vacinar o quanto antes. Em pacientes que sofrem com asma ou outros problemas respiratórios, é aconselhado tomar a vacina pneumocócica, que evita o desenvolvimento da pneumonia.

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza para idosos acima de 60 anos e profissionais de saúde já começou e vai até 22 de maio. A vacina está disponível nas 233 unidades de Atenção Primária (Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde), de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.  Idosos acima de 80 anos cadastrados nas Clínicas da Família serão vacinados em casa.