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Faltam testes e políticas públicas para o combate à Covid-19 na Maré

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Terceira edição do Boletim “De Olho no Corona!”, da Redes da Maré evidencia a escassez de testes disponíveis para os 140 mil moradores da região

Na família da Marluce Luiza, moradora de Roquete Pinto, ela e mais cinco pessoas tiveram sintomas do coronavírus. O filho dela, com febre durante 15 dias, ao procurar o sistema público de saúde (a UPA da Maré e depois a UPA da Penha), foi diagnosticado com virose e orientado a ficar em casa. “Eu acho que poderiam dar um pouco mais de atenção, fazer pelo menos um exame. A gente fica sem ter certeza se teve ou não, só que com os sintomas bem parecidos”, comentou Marluce. Na rua onde reside a família, segundo ela, duas pessoas já faleceram, e em Roquete Pinto, muitas.  

A subnotificação dos casos do coronavírus no Brasil tem sido comentada mundialmente nos noticiários. Ainda assim, até o momento, o país já é o terceiro em casos confirmados no mundo. No último dia 19 de maio, o Brasil chegou a liderar o ranking de mortos por Covid-19 em 24 horas, com exatas 1.179 pessoas. O país vive este cenário pela escassez de testes disponíveis para a população, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde e de diversas autoridades médicas que indicam a combinação distanciamento social e testagem em massa, a ideal para a contenção da disseminação do vírus.

A falta de testes em larga escala e a ineficiência de uma política pública específica para as regiões de favelas ajudam a proliferar a Covid-19, de acordo com os dados e análises da edição 3 do Boletim “De Olho no Corona!”, produzido pela Redes da Maré, e viabilizado pela articulação com a rede de parceiros institucionais da organização e pessoas do território, disponível na íntegra no site da organização. 

Das 261 pessoas com suspeita ou confirmação da doença, apenas 20 foram confirmados através do teste RT-PCR ou teste rápido. Outras 32 foram confirmadas através de exames clínicos, como tem sido em grande maioria nos casos. Entre os 38 óbitos, um foi confirmado por teste específico para coronavírus, 19 por exames clínicos e 18 estão em investigação.

Com o crescimento contínuo dos número de casos no país, estado e cidade do Rio de Janeiro, o necessário a ser feito era a testagem em massa ou que o número de testagens também aumentasse. Entretanto, a prioridade é testar pessoas que apresentam sintomas mais graves, excluindo uma grande quantidade de pessoas com sintomas leves e aumentando, assim, a subnotificação dos casos. Devido à baixa capacidade de testagem do Brasil, estima-se que o número de casos seja de 12 a 15 vezes maior que os dados oficiais.

Os 140 mil moradores da Maré tem disponíveis sete unidades de atenção básica (sendo quatro Clínicas da Família e três Centros Municipais de Saúde), porém, nenhuma dessas unidades tem testes disponibilizados para a população. Algumas pessoas, então, recorreram a duas clínicas particulares no território da Maré, que realizam testes com o custo superior a R$ 200. 

Junto a isso, o medo de acessar os ambientes hospitalares quando o paciente tem sintomas leves também contribui para a não testagem e a subnotificação dos casos. Foi o que aconteceu com a Monica Candido (34), moradora do Salsa e Merengue. Monica relatou que teve diarréia, febre, perda do olfato e paladar e “apesar do medo de piorar, não fui no posto por não ter certeza de estar com Covid-19 e acabar contraindo em alguma unidade de saúde. Fiquei mais ou menos duas semanas com os sintomas.”

Como o Maré de Notícias e diversos outros veículos e coletivos de comunicação periférica vem denunciando, as condições das casas, acesso a saneamento básico e a falta de recursos nas unidades de saúde nas favelas também tem sido agravantes para o controle da pandemia nesses espaços. Porém, de acordo com o percebido quando não se testam os pacientes, o acompanhamento e definição de estratégias fica ainda mais distante da realidade.

Ronda Coronavírus: Passam de 100 os casos de coronavírus na Maré

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Pelo segundo dia consecutivo, Clínica da Família sem funcionamento na Maré

Com a atualização dos números de casos pelas secretarias de saúde no Painel Rio Covid-19, de terça-feira (19) para hoje (20/05) subiu em 20 os casos de coronavírus na Maré, que tem o total de 118 casos. Pelo segundo dia consecutivo, o painel não atualizou o número de mortos nos bairros da cidade. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que os dados estão sendo atualizados e as informações serão incluídas no painel tão logo o trabalho de cruzamento de dados seja concluído. Também é o segundo dia que a Clínica da Família Jeremias de Moraes, que atende as favelas Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque Maré, segue sem atendimento por falta de energia elétrica. A falta de energia é recorrente na clínica, que funciona com geradores de energia, mas é problemático acontecer durante a pandemia pois ela  é uma das unidades que está fazendo o acompanhamento de Covid-19 na Maré.

Voluntários da campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus” entregaram nesta quarta-feira (20) uma doação de equipamentos de proteção individual (EPI) para as seguintes unidades de saúde: UPA da Maré, Clínicas da Família Augusto Boal Jeremias Moraes da Silva e Adib Jatene, Centro Municipal de Saúde da Vila do João e o projeto “Consultório na Rua” (programa que atende a pessoas em situação de rua). No total, foram doadas 420 máscaras N95, 230 protetores faciais, 140 óculos, 950 máscaras de pano, 24 frascos de 500ml de álcool em gel e 180 conjuntos de 100 unidades de máscara cirúrgica.

Nesta quarta-feira (20), a feira do Parque União, que acontece regularmente na favela, teve movimento menos intenso, com poucas pessoas circulando. Nesta terça, o proprietário de uma das academias que atende boa parte dos moradores do Parque União faleceu de Covid-19. Boa parte dos garis comunitários das favelas da Maré estão afastados por serem grupo de risco ou estarem com diagnóstico confirmado de coronavírus, de acordo com os presidentes das associações de moradores.

A iniciativa “Cocozap”, divulgou nesta quarta, que o Complexo da Maré apareceu entre as 475 denúncias recebidas pelo canal “Onde está sem água?” da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. As onze denúncias da Maré registradas foram da Vila do Pinheiro, Vila do João, Nova Holanda e Rubens Vaz. O número representa 2,77% das denúncias acolhidas pelo canal criado pela Defensoria diante o aumento no número de queixas dos moradores em meio à pandemia. 

Ações da Prefeitura do Rio durante a pandemia

A Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), inaugurou mais um hotel popular, em modelo de albergue, para a população em situação de rua. O Hotel Cruz de Ouro, localizado no Centro da cidade, acolheu 100 homens com idade de 18 a 59 anos e 11 meses, nesta quarta-feira, 20 de maio.

A Secretaria Municipal de Educação firmou acordo com o Instituto Apontar, instituição voltada para a educação para dar mais dinamismo ao projeto Estrela Dalva, iniciativa que tem ampliado oportunidades de crianças e jovens com altas habilidades na Rede Municipal de Ensino. 

Campanha de vacinação da gripe continua até junho

A campanha de vacinação contra a gripe segue até o próximo dia 5 de junho. O público prioritário é de idosos com 60 anos ou mais, trabalhadores da saúde, doentes crônicos, caminhoneiros, motoristas, cobradores de transportes coletivos e portuários, membros das forças de segurança e salvamento, população indígena. Além deles, crianças de 6 meses a menores de 6 anos, grávidas e mães no pós-parto, pessoas com deficiência e professores devem comparecer às unidades de saúde para se vacinar.

Coronavírus e povos indígenas brasileiros

Segundo dados de hoje (20) do boletim da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a doença já atingiu 45 povos indígenas, contabilizando 716 casos e 107 mortes. O número de mortes de indígenas brasileiros é maior que o número total de mortes de alguns países da América Latina, como Uruguai (20), Paraguai (11) e Venezuela (10), por exemplo. A população indígena, de acordo com o Censo 2010 do IBGE, é de aproximadamente 896.917 pessoas, número sete vezes menor comparado à população da cidade do Rio, que de acordo com o IBGE no Censo 2010, era de 6.320.446 de habitantes.

Dica do “Nenê do Zap”: 

Não se perca nos cuidados! A dica do Nenê de hoje é sobre a responsabilidade dos adultos sobre os cuidados de higiene com as crianças da primeira infância e bebês. A recomendação é criar uma rotina de repetição para que as crianças incorporem os hábitos e cuidados de higiene, inclusive depois da pandemia. Fazer uma lista das etapas dos cuidados é uma alternativa.

Ronda Coronavírus: bairros vizinhos à Maré somam 330 casos

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Maré tem 98 casos confirmados e uma clínica da família sem funcionamento nesta terça

De acordo com os dados atualizados hoje no Painel Rio Covid 19, da Prefeitura do Rio, a Maré tem 98 casos confirmados do coronavírus. O território, que é o segundo em números de casos entre as favelas do Rio de Janeiro, tem apenas 6 casos a menos que a Rocinha. A Rocinha foi a primeira favela a registrar casos, no início de abril, e fica localizada próxima a bairros que abrigam os maiores IPTUs da cidade, como Leblon, os mesmos que tiveram grande número de casos no início da pandemia. No Brasil, tivemos o pior dia da pandemia até o momento, chegando a 1.179 mortes.

Outros dados que chamam atenção é o número de casos de coronavírus confirmados nos bairros vizinhos da Maré, que atendem muitas necessidades dos moradores da região. A crescente de casos em Bonsucesso e Ramos preocupa, pois a circulação entre os bairros e os moradores da Maré é diária e constante, tendo, inclusive, linhas de vans e carros particulares entre essas regiões. Bonsucesso tem, até esta terça-feira (19), 172 casos, e Ramos 158 casos. A quantidade de mortes por Covid-19 seguem sem informação, pelo segundo dia consecutivo no painel da Prefeitura. Saiba mais no artigo do El País da Eliana Silva e Dalcio Marinho. 

Nesta terça-feira (19) a Clínica da Família Jeremias Moraes esteve fechada por falta de energia. Os moradores que buscaram atendimento foram encaminhados para a Clínica da Família Adib Jatene. A Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, que atende o Parque União, está sem vacina contra a gripe, de acordo com informações de profissionais de saúde que preferiram não se identificar. Os moradores que vão para a clínica em busca da vacina, também foram encaminhados para a clínica Adib Jatene.

Mesmo com a sobrecarga dos atendimentos, os funcionários da clínica Adib Jatene conseguiram organizar a demanda, evitando aglomerações e isolando os pacientes que apresentam sintomas do coronavírus, como recomendado. A Clínica da Família Jeremias Moraes atende as favelas Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque Maré e não é a primeira vez que apresenta problemas com energia elétrica, que é mantida por gerador. 

Mortes durante operações policiais

Após operação ocorrida na sexta-feira no Complexo do Alemão, onde ao menos 10 pessoas foram mortas, ao longo desta terça-feira (19) houve dois casos que viralizaram nas redes sociais sobre operações policiais na região metropolitana do Rio. Um jovem de 14 anos foi baleado dentro de casa na noite de segunda-feira em meio a uma operação das Polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. A família do jovem se pronunciou nas redes sociais durante esta terça-feira (19). Também na segunda-feira (18), um jovem de 21 anos foi baleado durante operação do Bope e do Batalhão de Choque da Polícia Militar em Acari. Segundo familiares e moradores, o jovem foi torturado antes de ser levado. Seu corpo foi encontrado hoje no Instituto Médico Legal (IML). 

Na Maré, já aconteceram três operações policiais durante a pandemia do novo coronavírus. Saiba mais sobre as operações policiais na Maré durante esse período na matéria da última edição do Maré de Notícias

Medidas municipais para controle da pandemia

A Prefeitura anunciou nesta terça-feira (19) a prorrogação das medidas restritivas adotadas pelo município para o combate ao novo coronavírus na cidade do Rio por mais sete dias. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial do Município. A Secretaria Municipal de Transportes prorrogou também, até o dia 31 de maio, a suspensão das gratuidades nos transportes públicos para os estudantes que possuem o Passe Livre Universitário e para os alunos matriculados no ensino fundamental e médio de escolas municipais.

Dica do Nenê do Zap:

A comunicação e interação, mesmo com bebês e crianças que ainda não desenvolveram por completo a habilidade de linguagem, continuam sendo importantes durante a pandemia. A dica do Nenê do Zap é não deixar a tensão e estresse deste momento que estamos vivendo atrapalhar esse processo. A troca e expressões com bebês são muito importantes para o desenvolvimento deles.

Curtindo em casa

Confira as dicas culturais que o Maré de Notícias traz para deixar sua quarentena mais leve e divertida.

Maré de Notícias #112 – maio de 2020

Flávia Veloso

Tanto tempo em casa por causa do isolamento social que é quase impossível não passar dia e noite nainternet. As páginas iniciais das redes sociais atualizam a cada minuto com humor, política, entretenimento, notícias e, principalmente, informações sobre a COVID-19. A internet e as redes sociais têm sido ferramentas importantes não apenas para trabalhar, mas para proporcionar entretenimento para muitas pessoas, nesse momento.

Diante da impossibilidade de sair de casa, diversos serviços e conteúdos on-line foram liberados gratuitamente, como TVs por assinatura, ensino a distância e cuidados com corpo e mente. Mas são as lives que têm sido assunto frequente em grupos de amigos, por se tornarem parte da rotina, além de ajudar, de certa forma, a aproximar as pessoas.

Artistas têm realizado shows em suas residências para arrecadar verbas e alimentos para doar àqueles que não estão podendo trabalhar, assim como outros que fazem debates sobre diversos temas. Mais que uma atitude de solidariedade, estão promovendo entretenimento e conhecimento.

Da mesma forma, diversos artistas e pesquisadores da favela têm produzido conteúdos bacanas durante a pandemia. E mesmo que a intermitência da rede de internet seja um problema constante, principalmente na Maré, isso não tem sido impedimento. Eles atualizam as redes com textos e vídeos sobre cotidiano, comportamento, política, música, cultura afro-brasileira, poesia, artes plásticas, fotografia, humor e muito mais.

Literatura para todas as idades

Com o fechamento dos serviços não essenciais, vários equipamentos culturais da cidade estão criando alternativas virtuais para pessoas de todas as idades poderem se divertir e até aprender, sem sair de casa.

A professora Denise Cruz, que atua na gerência da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), lançou a ação “Poesias Para Esperançar”, na qual profissionais da educação recitam suas poesias favoritas. Para conferir, basta buscar por #PoesiasParaEsperançar, no Facebook, que vários vídeos estarão disponíveis.

No Instagram, a @fafaconta conta história para crianças, ao vivo, toda segunda, quarta e sexta-feira, às 10h30. A @maequele também faz momentos de contação de histórias diariamente, às 10h ou 11h.

A Festa Literária das Periferias, a FLUP (@fluprj) chega em sua 9ª edição e, diante a pandemia, teve de adaptar o seu formato. Sem poder ser realizada presencialmente, os organizadores transferiram toda a programação para as plataformas digitais. O festival começa em maio e, em 2020, homenageia a grande escritora Carolina Maria de Jesus.

O Museu do Amanhã (@museudoamanha) tem organizado lives com bate-papos culturais e seu tradicional Clube do Livro, que acontece no terceiro sábado do mês, das 10h30 às 12h30,agora numa sala virtual divulgada na semana do encontro, nas redes sociais do Museu.

Sucessos na palma da mão

As lives dos maiores artistas da atualidade estão fazendo sucesso em todo o País, algumas batendo até três milhões de espectadores. Os brasileiros gostaram tanto que o mês de maio já tem uma programação de shows e alguns artistas, como Bruno e Marrone e Alexandre Pires, pretendem fazer uma segunda edição de suas apresentações.

As lives são, também, um exemplo de solidariedade nesse momento. Cantores como Belo, Filipe Ret e Ivete Sangalo, por exemplo, fizeram as suas apresentações para arrecadar fundos e doações para coletivos de diversas favelas da cidade do Rio.

Professores têm contado poemas em projeto da Prefeitura

Ronda Coronavírus: Maré chega a 89 casos

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Final de semana foi de aglomeração em diversos pontos das 16 favelas

Completos dois meses da primeira morte no Brasil por Covid-19, a Maré chega hoje, 18 de maio, aos 89 casos, de acordo com os dados do Painel Rio Covid-19. A informação sobre a quantidade de mortos não foi atualizada nesta segunda-feira pelas secretarias de saúde. A última informação era a de 23 mortos no território. A Maré é a segunda região de favelas com mais casos no Rio de Janeiro. 

 De acordo com relatos de moradores e tecedores da Redes da Maré, durante o último final de semana aconteceram alguns eventos nas favelas da Maré. Comércios e academias também foram vistos abertos em algumas regiões, contrariando as recomendações das autoridades médica. Na última semana, academias de esportes e salões de beleza e barbearias foram incluídos na lista de serviços essenciais. Entretanto, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, assim como outros 16 estados e o Distrito Federal, declarou que não vai considerar os espaços como serviços essenciais e recomenda que academias e salões de beleza sigam fechados.

O isolamento social na cidade do Rio, no geral, não seguiu o mesmo padrão da Maré: a Prefeitura registrou um aumento na taxa de isolamento do domingo da última semana (Dia das Mães), para este, de 72% para 80%.

Aulas suspensas e ENEM mantido

A Prefeitura anunciou na última sexta-feira (15) a decisão de manter as escolas municipais fechadas até o dia 31 de maio. A decisão foi publicada no Diário Oficial do mesmo dia. As unidades da rede municipal estão com as aulas suspensas desde o dia 16 de março, em função da pandemia do novo coronavírus. A cidade do Rio de Janeiro tem até o momento 13.443 casos de Covid-19, de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No dia 06 de maio, a Alerj votaria em caráter de urgência a suspensão do ano letivo de 2020 de escolas da rede estadual de ensino e das unidades da Faetec. A votação foi tirada de pauta e não tem nova data para ser votada.

A Defensoria Pública da União (DPU) entrou com recurso para que o Tribunal Regional Federal reveja a decisão e adie o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em abril, a DPU obteve uma liminar favorável ao adiamento do exame, mas a medida foi derrubada após pedido da Advocacia Geral da União (AGU). A Defensoria, no entanto, recorreu à medida nesta segunda-feira. Até o momento, o calendário do ENEM ainda está mantido. A Redes da Maré publicou uma nota com posicionamento sobre a necessidade de adiamento do exame.

Novo pagamento do auxílio emergencial

O pagamento da segunda parcela do auxílio emergencial para trabalhadores informais, autônomos e microempreendedores individuais (MEIs) que se cadastraram no programa começou nesta segunda-feira (18). Aqueles que têm Bolsa Família irão receber primeiro, de acordo com informação divulgada pela Caixa Econômica Federal. O calendário completo está disponível no site da Caixa.

Dica do Nenê do Zap

A dica de hoje do Nenê é sobre a autonomia dos bebês, mesmo que em tempos de pandemia. Explorar é importante para os bebês a partir dos seis meses. A atenção com a limpeza neste período é importante, sobretudo nos espaços onde o bebê terá mais liberdade de circular. A recomendação é ter o cuidado redobrado com a limpeza, mas não limitar que o bebê ou crianças engatinhem ou brinquem com liberdade durante este período.

Operações policiais em tempos de COVID-19

Abordagem, legalidade e impactos das ações policiais na Maré durante a pandemia do novo coronavírus

Maré de Notícias #112 – maio de 2020

Jessica Pires

Em 2019, foram quase 300 horas de operações policiais na Maré, em que, pelo menos, numa das 16 favelas, houve violações de direitos de diversos tipos. Em 2020, o cenário da política de Segurança Pública nas favelas também muda, com a pandemia do novo coronavírus. Acontecem menos operações na cidade, mas na Maré, não só as operações como as violações seguem em curso. Os impactos que as operações policiais têm no território da Maré e na vida de mais de 140 mil moradores são conhecidos e registrados em seus cotidianos.

O ano de 2019, infelizmente, voltou a ser um marco de danos e perdas para a Maré. Das 49 pessoas que morreram por arma de fogo, em 2019, (mais que o dobro do que em 2018), 34 foram em decorrência da ação policial. Foram 24 dias de aulas suspensas e 25 dias sem atendimentos nas unidades de saúde, ou seja, cerca de 15 mil atendimentos não realizados. Os confrontos ocorreram em 69% das vezes fora do horário comercial e de funcionamento das escolas e unidades de saúde. São dados do Boletim Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça 2019, produzido pela Redes da Maré.

É sempre bom lembrar que a luta por uma política de Segurança Pública que preserve vidas e direitos não é contra haver operações policiais nas favelas, ou ainda, que a Polícia não deva exercer o seu trabalho. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 144, estabelece que a Segurança Pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. Portanto, nas favelas, esse direito deve ser exercido da mesma maneira que em outros territórios da cidade, por exemplo.

Porém, essa lógica de criminalizar territórios populares, reduzindo ou retirando direitos daqueles que estão em uma posição social de menos privilégios, não é uma prática nova. Fato é que a informação é uma ferramenta importante para identificar quem está sofrendo uma violação. É preciso lembrar sempre e compartilhar com amigos, vizinhos e familiares o que não é permitido em uma ação policial em dias de operações.

Pandemia e operações policiais não combinam              

A Rede de Observatórios da Segurança divulgou, no início de abril, que houve uma redução de operações durante o mês de março, se comparado ao mesmo período de 2019. A redução de operações resultou na queda de vítimas fatais durante essas ações: foram registradas 15 mortes, em março de 2020, contra 36, em 2019, segundo dados da Rede. Contudo, mesmo depois do decreto de calamidade pública do governo do estado do Rio de Janeiro, em 20 de março, aconteceram três operações policiais na Maré. No dia 27 de março, Marcílio Dias foi o cenário da ação da PMERJ; no dia 6 de abril, foi o Parque União e no último dia 29 de abril, a operação aconteceu no Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Nova Maré.

São maiores os impactos que as operações policiais trazem durante a pandemia. No dia 6 de abril, as Clínicas da Família Diniz Batista, do Parque União, e Jeremias Moraes da Silva, da Nova Holanda, tiveram o atendimento suspenso. Cestas básicas e kits de materiais de higiene e limpeza deixaram de ser entregues nas favelas do Parque União ao Morro do Timbau, por voluntários e equipes da Redes da Maré. Violações como invasão ao patrimônio também foram relatadas nas primeiras duas operações. No dia 29, foram as Clínicas da Família Augusto Boal e Adib Jatene que interromperam suas atividades.

“O que menos precisamos nesse momento é ter de acumular traumas. Ficar em casa isolado e não ter a certeza de quando isso vai acabar já é muito doloroso e traumático. Ter de conviver com tiroteios e todos os desrespeitos e riscos que uma operação causa é o que menos precisamos”, destaca Shyrlei Rosendo, “cria” da Maré, mestre em Educação e Políticas Públicas pela UNIRIO e coordenadora da equipe de mobilização do Eixo de Segurança Pública da Redes da Maré. As operações policiais descumprem, inclusive, a recomendação de distanciamento social da Organização Mundial da Saúde desde o início da pandemia do novo coronavírus, uma vez que a abordagem policial acontece, muitas vezes, por meio do contato. Além dos relatos de invasão a domicílios, frequentes na Maré.

Contra os excessos nas operações

No último dia 17 de abril, foi votada a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 635. Conhecida também por ADPF das favelas, é uma iniciativa coletiva que solicita ao Supremo Tribunal Federal (STF) que se posicione diante das ações inconstitucionais exercidas pela política de Segurança Pública adotada pelo governo do estado do Rio de Janeiro.

A iniciativa reforça a não utilização de helicópteros como plataforma de tiros e a adoção de medidas para a apuração de excessos durante as operações policiais, entre outros pontos. Apesar do parecer positivo, ainda será necessário que outros ministros que compõem o Supremo Tribunal analisem a ADPF. Até o momento do fechamento desta matéria, a ADPF estava sob a análise do ministro Alexandre de Moraes.

Quais procedimentos não podem acontecer?

Foram registrados 14 episódios de violência verbal e 18 de violência psicológica em dias de operações policiais na Maré, em 2019. Um policial não pode ofender ou constranger uma pessoa no momento da abordagem, de acordo com o item III, do art. 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil.

Em 2019, foi registrado um caso de assédio sexual em uma operação policial na Maré.O policial não pode pedir que a pessoa abordada tire as roupas ou passar as mãos nas partes íntimas, assegurando o direito à indenização por dano moral, segundo o item X, também do art. 5º, da Constituição.

A equipe do Maré de Direitos registrou 26 episódios de invasão a domicílio em dias de operações policiais na Maré, em 2019. Segundo o item XI do mesmo art. 5° da nossa Constituição, ninguém pode entrar na residência de outra pessoa sem o seu consentimento, apenas em casos de flagrante, desastre ou para prestar socorro. Em caso de mandado, as buscas domiciliares serão executadas de dia e só podem acontecer, à noite, caso o morador dê consentimento. Segundo a Lei n° 3689/41 do Código de Processo Penal, os agentes deverão mostrar e ler o mandado ao morador antes de cumpri-lo, além de deixar claro os motivos da diligência. Ele deve estar assinado pela autoridade que o expediu.

Operações policiais não podem acontecer sem ambulância para o socorro de vítimas. De acordo com a Lei Estadual n° 7385/2016, o Poder Executivo deve garantir, obrigatoriamente, ambulâncias, em operações planejadas e com mais de cinco policiais, com possibilidade de confronto.

Sobre o direito de filmar

Um policial é um agente público, ou seja, um servidor do Estado, alguém que presta serviços para os demais cidadãos. Toda função pública pode e deve sofrer constante fiscalização pela sociedade. Sendo assim, qualquer cidadão tem autorização para fotografar ou filmar atividades realizadas por policiais.

De acordo com Guilherme Pimentel, ouvidor geral da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, os vídeos exercem importante função de controle social, atualmente: “Todo cidadão, hoje, exerce um papel muito fortalecido de controle social de atuação do agente público. Antes do smartphone, era a palavra de uma testemunha contra a de um agente público. Com o smartphone, gravações, fotos e vídeos podem desmentir versões facilmente.”

Não há procedimento operacional descrito que autorize um policial a retirar um celular de alguém que registre uma ação. “O telefone celular se tornou a ferramenta de trabalho do jovem periférico. Além de usar para se divertir e se comunicar, ele usa também para defender os seus direitos”, afirma a cientista política e professora da UFF, Jacqueline Muniz.

Outras dicas:

  • Quando possível, dialogue com o policial buscando demonstrar, de maneira tranquila, que você conhece seus direitos.
  • Caso não se sinta seguro no momento da abordagem, procure permanecer em locais públicos, evite espaços fechados e onde as pessoas não possam acompanhar a abordagem policial.
  • Caso ocorra situações de violência e ameaça, tente demonstrar para vizinhos e familiares o que está acontecendo. Se na hora não for possível frear a violência, busque elementos que possam identificar o agente que está agredindo.
  • Caso não consiga evitar situações de violências, busque registrar o máximo de informações sobre aquela situação: grave um áudio logo após o ocorrido, com informações sobre o local, horário e detalhes da abordagem (tipo físico do policial, forma de abordagem e sequência das violências e violações). Caso tenha feito algum dano físico e material, busque registrar através de foto e vídeo com a câmera deitada.