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Mostra Maré de Música recebe Nova Raiz do Samba e Martnália

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Evento mistura artistas de diferentes origens para democratizar a cultura em territórios favelados

Camille Ramos

No último sábado,  04/05, aconteceu mais uma edição do Mostra Maré de Música. O evento aconteceu no Centro de Artes da Maré (CAM) e contou com a participação do Nova Raiz do Samba, um grupo local, que recebeu a cantora Mart’nália. Foi uma noite regada de muita alegria e, claro, música boa. Sambas clássicos como “Bororó” e “Casa de Bamba” foram marcados no repertório e cantados a pleno pulmão pelo público entusiasmado.

A Mostra Maré de Música é uma produção da Redes da Maré com patrocínio da Natura Musical. O projeto busca revelar estilos e conceitos musicais para os moradores da Maré e de outras partes da cidade. A ideia é fomentar a produção cultural nas favelas, ajudando a população a expandir o sentido de cidade, contribuindo para a construção de redes de valorização e democratização cultural, por meio da música, conectando artistas de diferentes origens.

Nota de apoio à Deputada Renata Souza

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O governador do Estado do Rio de Janeiro defendeu no dia 10/05/2019, durante uma cerimônia na cidade da Polícia, a cassação da deputada estadual Renata Souza (PSOL). Isso porque a deputada enviou uma denúncia à ONU contra o governador e sua política de segurança pública. Na verdade, o governador foi bem além, pois deu seu aval para que deputados de seu partido protocolassem um pedido de cassação à mesa diretora da ALERJ.

         Esse tipo de atitude é inadmissível! O poder legislativo tem como uma de suas maiores atribuições fiscalizar e questionar as ações do poder executivo, ou seja, a parlamentar Renata Souza, tem o direito e o dever de questionar as ações do governador Wilson Witzel. O pedido de cassação é claramente uma vingança do governador e de seu partido. E esse fato constituí um atentado gravíssimo à Câmara dos deputados e à democracia brasileira.

         O certo seria o governador Witzel explicar o porquê do número de mortos pela polícia ter sido o maior nos últimos 15 anos. Só nos primeiros três meses de seu governo, por exemplo, foram mortas 434 pessoas pela polícia. O governador tem responsabilidade direta por esse expressivo aumento de mortes, justamente o que a deputada Renata Souza denunciou ao cumprir com suas atribuições constitucionais.

         Quando embarca em um helicóptero de onde policiais atiram sobre um local de orações em Angra dos Reis ou quando dá declarações apoiando o “abate” de pessoas, o govenador dá seu aval para o aumento da violência policial. Isso se reflete em ações como a que deixou oito mortos e três feridos na Maré, onde moradores relataram a prática de execução sumária.

         Por isso, a REDES da Maré manifesta sua preocupação quanto aos encaminhamentos dados pelo governador à política de segurança pública. Ao mesmo tempo, manifesta seu repúdio a tentativa de intimidar a deputada Renata Souza com a ameaça de cassação de seu mandato parlamentar.

         Renata foi eleita democraticamente pelo voto popular e não pode ser ameaçada ou censurada por cumprir seu papel. Ameaçar o mandato da deputada Renata Souza é ameaçar a democracia. Quando isso acontece perdemos todos nós, inclusive aqueles que votaram em Witzel. Todo apoio à deputada Renata Souza e à Comissão de Direitos Humanos que ela preside!

Defensores públicos visitam a Maré

No dia seguinte a operação policial que executou 8 pessoas, defensores públicos da União e do Estado ouvem moradores do Conjunto Esperança 

Por Dani Moura

Pela tarde do dia 7 de maio, um dia após uma ação policial ter matado 8 pessoas, as Defensorias Públicas do Estado, e da União, e a Ouvidora da Defensoria Pública do Estado do Río de Janeiro, estiveram no Conjunto Esperança, na Maré, onde aconteceram as execuções.Na caminhada, os defensores ouviram uma série de relatos de violação de direitos dos moradores do local. 
Esses relatos serão incorporados à ação civil pública da Maré, que já corre na justiça desde de 2017. Nela há a determinação de um plano de redução de danos do Estado ás comunidades que convivem com as violências policiais, além de prever o uso de ambulâncias e GPS nas viaturas das polícias durante as operações.
A visita também o objetivo de acolher e informar a população dessas comunidades sobre seus direitos e conferir a legalidade da ação policial. “Esclarecer a população sobre seus direitos, mapear os danos pra que a gente possa atuar em situações como essa, quando a polícia destrói a casa de um morador, e claro saber da legalidade da ação policial. Saber, por exemplo, se houve indícios de execução”, afirma Thales Arcoverde, da Defensoria Pública da União. Ele ressaltou ainda que algumas medidas já estão sendo tomadas para diminuir a letalidade dessas ações. “Há organizações, como a OAB, que já estão representando o governador do Rio, Wilson Witzel junto ao Ministério Público Federal, que eventualmente pode ser processado por essas condutas”.

Além dos 8 defensores públicos, representantes dos mandatos das deputadas estaduais Renata Sousa e Mônica Francisco, e a ouvidoria da Defensoria Pública do Rio também estiveram presentes na visita.

“O que a gente tem visto é um aumento de letalidade dos agentes de segurança pública não só no Rio, mas no Brasil, fruto de uma política que legitima esse tipo de intervenção. É importante que a gente destaque sempre que o papel da segurança pública é a preservação da vida, e não colocar vidas em risco, independente de quem seja. É importante que os gestores públicos se desafiem a propor uma política de segurança pública que dê efetividade as ações policiais mas que não viole  direitos. Hoje, o que se vê, é a produção de um discurso que alimenta essa prática. Isso é uma perversidade ao povo negro, pobre e de favela”, afirmou Pedro Strozemberg, ouvidor da Defensoria Pública do Rio.

O Circuito de Favelas por Direitos é um projeto da Defensoria Pública do Estado do Rio que acontece desde o ano passado, que monitora as violações nas favelas cariocas. Esse ano, a Maré e mais outras 2 favelas, (Salgueiro, em São Gonçalo e Parque das Missões, em Duque de Caxias) têm monitoramento regulares. A visita de hoje faz parte do projeto mas foi emergencial, devido à operação que executou 8 jovens. “Hoje (dia 7/5) viemos nos solidarizar com a comunidade e claro, coletar dados, ouvir moradores e construir uma narrativa da vivência dos fatos, pela ótica do morador. Não de pode ter uma única versão. É necessário que quem vivenciou os fatos também possa ter a sua voz,” completa Pedro.
Um outro ponto que chamou a atenção dos defensores foi as liberações dos alunos pelas escolas ainda durante a ação policial. Eles afirmaram que vão entrar em contato com a Secretaria Municipal de Educação para saberem se há algum protocolo para que as instituições de ensino possam cumprir nessas ocasiões, para melhor proteção dos alunos.
A Redes da Maré está notificando junto a ONU, ainda nesta quarta-feira (8/5) os acontecimentos violentos, de execução sumária e violações de direitos que vem acontecendo na Maré.


Espaço Normal comemora um ano da inauguração de centro de convivência

Projeto referência de redução de danos dentro do território de favela apresenta trabalho em conferência internacional em Porto e consolida, no seu 5º ano de existência, metodologia e resultados

Por Andréa Blum, da Redes da Maré em 07 de maio de 2019.

No Dia Internacional da Redução de Danos, o Espaço Normal, projeto desenvolvido pela Redes da Maré, espaço de referência sobre drogas, comemora um ano da inauguração do seu centro de convivência, criado como uma das frentes do projeto que dá nome à casa, de desenvolvimento de uma metodologia de trabalho com populações em território de favela que usam drogas, muitas em situação de rua – que já alcança o quinto ano de atuação.

A proposta inovadora foi construída a partir das necessidades do território de criar alternativas, estratégias de cuidado, e consolidar a rede de proteção para pessoas que fazem uso prejudicial de drogas e que estão em situação de rua. “O projeto é orientado pelo fortalecimento dos vínculos sociais através da convivência, do acolhimento, da articulação em rede e da sensibilização com e para a comunidade para a promoção de práticas de cuidados pautadas na construção de políticas de drogas garantidoras de direitos”, afirma a coordenadora geral, Maïra Gabriel Anhorn.

O Espaço Normal constrói em articulação uma agenda positiva sobre as práticas de redução de danos e oferecer a criação conjunta – com as lideranças do território, órgãos públicos e demais organizações parceiras – de políticas e ferramentas de cuidado e diálogo com as pessoas, fomentando a criação de vínculos e narrativas alternativas para denunciar os efeitos da guerra às drogas. “A redução de danos é uma estratégia que trabalha muito com o que a pessoa, em determinado momento, pode, consegue e quer fazer em relação às drogas, e respeita a decisão de cada um”, afirma Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal da Redes da Maré.

Fruto de anos de pesquisa e intervenção junto às cenas de uso de crack e outras drogas localizadas na Flávia Farnese e na Avenida Brasil, na Maré, o trabalho se desenvolve em três frentes de atuação: criação de alternativas para pessoas com uso prejudicial de drogas e familiares; articulação institucional e territorial para a construção de uma agenda local de redução de danos; sensibilização e produção de conhecimento sobre práticas de redução de danos em contextos de violência.

A partir do espaço físico da casa são desenvolvidas atividades – conduzidas por uma equipe interdisciplinar, composta por assistentes sociais, articuladores territoriais, advogados, mobilizadores locais e psicólogos – de apoio a pessoas com uso prejudicial de drogas nas ruas, de orientação a familiares e interlocução constante com serviços públicos de saúde, assistência e segurança, além de moradores, comerciantes da Maré e instituições locais. “Aqui nos tratam como seres humanos, diferente de lá fora, que somos vistos como monstros, doentes ou pessoas que vão roubar. Quando estou aqui, me sinto calmo e não penso em usar drogas”, diz P.C., um dos frequentadores da casa.

Parcerias
A experiência – construída nos últimos cinco anos pela Redes da Maré – já é referência também dentro da organização parceira Open Society Foundations, que trabalha com redução de danos em mais de 20 países, dentro da sua frente de Saúde Pública.

“Estive no Brasil há cerca de sete anos em busca de grupos locais que trabalhassem com redução de danos na linha que entende que as pessoas que usam drogas merecem ser tratadas com dignidade e respeito e ter acesso à saúde e direitos humanos. Entendia que precisávamos criar um serviço que, de fato, atendesse essa população, pois mesmo os serviços feitos para esse público criam regras que os tornam inacessíveis.

Foi quando conheci a Eliana (Sousa Silva) e construímos – junto com a Redes da Maré – este programa, que dialoga com as necessidades de pessoas que usam drogas e em situação de rua e vulnerabilidade social, excluídos dos acessos a serviços públicos”, conta Sarah Evans, gerente do Programa de Redução de Danos da Open Society Foundations, organização global que financia grupos civis da área de direitos humanos pelo mundo.

“A idéia de inclusão social para pessoas que usam drogas em situação de rua e em território de conflito armado fazia todo sentido. Começamos então a desenhar um programa que entrasse de verdade em contato com a população da rua que usa drogas a partir de uma de nossas qualidades, que é o processo de articulação territorial”, conta Eliana Sousa Silva, uma das diretoras da Redes da Maré. Desta forma, o projeto gera impacto na vida das pessoas e no território. “É um espaço que todos, independente de como são, podem vir e pertencer”, reforça D., outro membro da casa Espaço Normal.

Leia mais em http://www.mareonline.com.br/direitos-humanos/reducao-de-danos-avancos-retrocessos-e-perspectivas/

Conferência Internacional de Redução de Danos de Porto
A equipe do Espaço Normal – projeto inovador de redução de danos dentro da favela –apresentou o trabalho na 26ª edição da Conferência Internacional de Redução de Danos, realizada em Portugal, na cidade do Porto, no final de abril de 2019, e se juntou à delegação brasileira para pedir o apoio da comunidade internacional para assegurar a manutenção das políticas de redução de danos no Brasil e as conquistas que essas políticas produziram ao longo dos últimos 30 anos. Saiba mais em http://www.hri.global/hr19conference


“A ordem é matar!”

Hoje, (6/5), registramos mais um triste episódio envolvendo o uso do helicóptero da Polícia Civil como plataforma de tiros numa operação na Favela da Maré. Os policiais fizeram disparos aterrorizando os moradores do Conjunto Esperança, Salsa & Merengue, Vila do Pinheiro e Vila do João. Como consequência, oito pessoas foram mortas, três feridas, entre elas, uma criança. A polícia civil também relata apreensão de armas e de drogas, além da prisão de três pessoas. Mais uma vez, a política ao combate às drogas faz vítimas sem nenhuma perspectiva de construir a paz nas favelas.
Moradores do Conjunto Esperança relatam que oito jovens foram mortos em uma mesma rua em duas casas muito próximas. Ainda segundo moradores, os jovens, ao serem enquadrados pelos policiais, deixaram de oferecer risco, mas ainda assim, teriam sido assassinados com indícios de execução. Dois deles levantaram as mãos e disseram “perdi” e tiveram a seguinte resposta dos agentes do Estado: “minha ordem é matar”.
A Equipe do Maré de Direitos visitou a região e identificou veículos atingidos por disparos de armas de fogo, várias casas invadidas e com danos materiais. Foram encontradas 18 cápsulas de balas numa única casa. As consequências psicológicas e emocionais para os moradores são impossíveis de mensurar. Até o fechamento desta matéria, não conseguimos informações e contato com familiares dos jovens mortos.

As unidades de saúde, escolas, comércios e outras instituições tiveram que suspender suas atividades. A equipe do Maré de Direitos já formalizou denúncia ao Ministério Público sobre as violações cometidas nesta operação policial. A Defensoria Pública estará presente amanhã na região para coletar relatos e acolher denúncias dos moradores.
A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde informou, em nota, que para garantir a segurança de profissionais e pacientes suspenderam as atividades do Centro Municipal de Saúde da Vila do João e a Clínica da Família Adid Jatene. Bem próximo à região, fica um complexo de escolas que atende cerca de 7 mil alunos, que também tiveram seu cotidiano interrompido e suas vidas colocadas em risco.
Segundo informações da assessoria de comunicação da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) realizou a operação no Conjunto de Favelas da Maré com o objetivo de prender um dos responsáveis pelos confrontos entre facções, que acontece em São Gonçalo, e que estaria escondido na Maré. Entendemos que objetivos como este devam ser alcançados com o uso da inteligência da polícia e não com violações de direitos no cotidiano de moradores.
Enquanto não há nenhuma definição por parte do poder judiciário sobre o uso do helicóptero como plataforma de tiro, esses seguem aterrorizando o cotidiano de quem vive nas favelas do Rio de Janeiro. De acordo com os dados do “De Olho na Maré”, projeto da Redes da Maré que monitora o impacto dos confrontos armados, as operações policiais com o uso do helicóptero vêm apresentando maior letalidade. Em junho do ano passado, sete pessoas foram mortas. Em abril deste ano, duas pessoas morreram. Hoje, tivemos mais uma chacina na Maré, com 8 mortos. Até quando a ordem vai ser matar nas favelas?