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A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

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A comunicação comunitária em espaços favelados desempenhou e continua preenchendo um papel essencial na construção de narrativas

Edição #167 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Henrique Silva

A comunicação comunitária em espaços favelados desempenhou e continua preenchendo um papel essencial na construção de narrativas e contranarrativas sobre a luta e resistência dos moradores, ao longo das últimas décadas. Além disso, funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas, por meio da vivência e da experiência interna desses territórios. É possível traçar uma linha do tempo que conecta as histórias e memórias dos moradores e a produção de jornais.

União da Maré

No conjunto de favelas da Maré, os jornais comunitários fazem parte do cotidiano dos moradores há muitos anos. Destaca-se o Jornal União da Maré, criado por moradores do Parque União e que, posteriormente, ampliou sua atuação com a contribuição de pessoas de outras favelas. Lançado em 1980, o jornal surgiu com o objetivo de informar os moradores, especialmente sobre o recém criado projeto de habitação da cidade, o Projeto Rio, do Banco Nacional de Habitação. Naquela época, os jornais promoviam a ideia de união entre as seis favelas que compunham o território da Maré: Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Timbau e Baixa do Sapateiro.

Um dos principais colaboradores do jornal foi o Grupo Jovem Nova Holanda, vinculado à Igreja Católica, além de Maria Amélia Castro e Silva Belfort, integrante do grupo de Mulheres da Nova Holanda. Em 1984, com o apoio de membros do bloco carnavalesco “Mataram o Meu Gato”, esses grupos formaram a Chapa Rosa, que venceu as eleições para a Associação de Moradores da Nova Holanda.

Durante os três anos de existência, o Jornal União da Maré publicou 12 edições, de forma irregular, mas chamou a atenção dos moradores e da imprensa. Em uma coluna no jornal O Globo, em 1983, o jornalista Artur da Távola destacou a importância e continuidade do jornal: “O leitor pode pensar que em todos os lugares são feitos jornalzinhos que duram no máximo até o terceiro número. Pois este já está no onze!”.

Associação de Moradores

Durante a gestão da Chapa Rosa (1984–1993), a Associação de Moradores e Amigos da Nova Holanda (AMNH) criou um jornal para informar os moradores sobre as atividades da associação e divulgar informações sobre serviços e direitos, como o Plano Econômico, as campanhas de vacinação, as políticas alimentares e o combate à dengue. O jornal desempenhou um papel importante no processo de mobilização comunitária, sendo uma ferramenta essencial para convocar os moradores a participarem de assembleias.

Assim como o Jornal União da Maré, o Jornal da Chapa Rosa também chamou a atenção da mídia tradicional. Em uma reportagem com o título “Jornais mensais informam sobre avanços obtidos na Nova Holanda”, a edição do O Globo de 22 de setembro de 1991, destacou o impacto do jornal comunitário distribuído na Nova Holanda:

“Com o apoio da Associação de Servidores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), jornais mensais eram produzidos para informar os moradores sobre os avanços obtidos e as novidades. Durante campanhas de vacinação ou prevenção de epidemias, boletins explicativos também eram distribuídos.”

Novas mídias e novos formatos 

Outros veículos, como a TV Maré, criada em 1989 pela Cáritas Brasil, durante a Campanha da Fraternidade, e rádios comunitárias, como a Rádio Transmania, Rádio Progressiva e Rádio Maré, ampliaram as possibilidades de comunicação. Essas iniciativas usaram formatos como rádio-poste, transmissões via internet e sinal de rádio tradicional. A seguir um trecho de uma participação de Eliana Silva Sousa, então diretora da AMNH, para a TV Maré, retirado da dissertação de mestrado de Vitor Chagas: História das mídias e jornalismo cidadão de base comunitária na Maré (2007). Na época, Eliana falou da importância de novos formas de comunicação:

“​​A gente precisa fazer um outro tipo de trabalho, que leve os moradores a refletirem sobre a necessidade de mudar outras coisas. Por isso, eu estou trabalhando com a questão da informação, com a questão da divulgação do trabalho, para  a gente conseguir falar para a comunidade. Por isso, eu até louvo essa iniciativa de você ter hoje uma TV Maré, quer dizer, porque é mais um instrumento que os moradores estão, a nível de Maré, conseguindo ter, para poder se organizar.”

Consolidação

Em 1999, surgiu o Jornal O Cidadão, idealizado pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm). A partir da experiência de moradores que participaram da gestão da Chapa Rosa e da TV Maré, o jornal combinou conhecimentos do audiovisual e da produção impressa. Em 25 anos, o jornal publicou 70 edições, com tiragens que chegaram a 20 mil exemplares por edição. Hoje, o O Cidadão mantém um site e redes sociais ativas.

O Maré de Notícias, lançado em 2009 pela Redes da Maré, completa 15 anos em dezembro de 2024. O jornal se consolidou como referência no jornalismo comunitário, com 166 edições publicadas, tiragens que chegaram a 50 mil exemplares mensais e uma crescente presença digital desde 2017. A publicação combina formatos tradicionais e inovações tecnológicas para alcançar a comunidade. Durante a pandemia, destacou-se ao lançar boletins informativos sobre a COVID-19 e promover campanhas educativas.

Tempo real

Recentemente, com o avanço da tecnologia, a comunicação se tornou mais rápida e, em alguns casos, mais concisa, alcançando um grande número de pessoas que podem acessá-la de qualquer lugar, desde que tenham um celular ou computador. Sites de notícias, podcasts e redes sociais, como Instagram, Facebook e X, têm substituído não apenas os jornais impressos, mas também a TV aberta como fonte de informação.

Com isso, novos espaços de comunicação comunitária surgiram nas favelas da Maré, como as páginas das redes sociais do Maré Vive, Maré de Notícias e O Cidadão. Uma questão relevante nesse “novo momento” da comunicação comunitária, a partir das redes sociais, é a rápida circulação de informações durante operações policiais em territórios de favelas, tornando-se um canal de comunicação atualizado sobre o que está acontecendo nesses locais.

As páginas de Facebook da Redes da Maré (2011) e Favela Fiscal (2013) começaram a publicar informações sobre as operações policiais. No entanto, foi durante a ocupação das forças armadas no conjunto de favelas da Maré que surgiu uma grande quantidade de canais cobrindo esses eventos. Nesse período, foi criada a página do Coletivo de Comunicação Maré Vive (2014), que passou a divulgar informações sobre as ações, muitas vezes desastrosas, das forças armadas no território.

Reflexo do tempo

A comunicação popular é um reflexo de seu tempo. Nos anos 1980, a prioridade era responder a demandas imediatas em um contexto de abertura política. Nos anos 1990, com o reconhecimento do território da Maré como bairro, a comunicação comunitária passou a abordar questões de memória e conquistas sociais. Dos anos 2000 até agora, a repressão policial e as políticas de segurança pública dominaram a pauta.

Com a chegada das novas tecnologias, a comunicação comunitária das favelas adaptou-se ao cenário digital, tornando-se uma ferramenta essencial para mobilização, denúncia e preservação da identidade coletiva.

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

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Movimento ‘Baía Viva’ surgiu na década de 1980. Neste período a Baía de Guanabara enfrentava um período crítico de degradação ambiental

Hélio Euclides e Isabela Rodrigues*

Pensar saúde, educação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente dentre outros temas, para melhorar a qualidade de vida da população do planeta. Uma das discussões mundiais é encontrar caminhos para lidar com os desafios globais, entre eles o meio ambiente. A preservação da Baía de Guanabara precisa ser incluída na pauta dos governantes, na esfera municipal, estadual e federal, com metas para despoluição e recuperação de sua biodiversidade. A sociedade, representada pelas organizações não governamentais mobiliza para a promoção da educação ambiental, pressionando por políticas públicas efetivas e garantindo que as vozes das populações afetadas sejam ouvidas.

Uma dessas políticas públicas é o  projeto Universidade do Mar, do Movimento Baía Viva, que visa criar um centro de conhecimento e formação voltado para a sustentabilidade e a preservação dos ecossistemas marinhos. O projeto oferece cursos de capacitação para pescadores, quilombolas e moradores de favelas, com o objetivo de promover práticas sustentáveis e fortalecer a economia local por meio da pesca artesanal e do turismo comunitário.

O movimento surgiu na década de 1980. Neste período a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, enfrentava um período crítico de degradação ambiental. Em 1984, diante da construção da rodovia Niterói-Manilha, que ameaçava devastar manguezais, a Mata Atlântica e comunidades pesqueiras, um grupo de pesquisadores e ambientalistas uniu forças para proteger este ecossistema vital. Essa atuação da primeira geração do Movimento Baía Viva foi vitoriosa, sua luta culminou na criação da Área de Proteção Ambiental Federal de Guapimirim, com dois mil hectares de manguezais protegidos, abrangendo parte dos municípios de Guapimirim e Itaboraí.

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas. Ou seja, é uma batalha pela sobrevivência da Baía de Guanabara. Apesar da primeira vitória dos ativistas, políticas predatórias e o despejo contínuo de milhares de litros de esgoto sem tratamento continuam a devastar a Baía, que segue agonizando. 

“Sem movimentação social, não há avanço de política pública. Estamos vivendo um período complexo e difícil, com a desigualdade se aprofundando. O Brasil voltou ao mapa da fome em 2022 e estamos enfrentando os efeitos intensificados dos eventos climáticos extremos. Ao mesmo tempo, está cada vez mais difícil organizar as pessoas devido a esses fatores, o que gera ansiedade na juventude”, explicou o fundador e coordenador do movimento, Sérgio Ricardo, ecologista e Mestre em Ciências Ambientais.

O ecologista e indígena da comunidade Potiguara, natural do Rio Grande do Norte,  lembra de suas primeiras experiências ao chegar ao Rio de Janeiro. “Eu só conhecia a praia pelo cartão postal. Quando larguei a bicicleta e fui nadar, me falaram para não entrar na água, pois era poluída. Fiquei surpreso. Depois, fui até Botafogo e disseram que lá era ainda pior. Na Ilha do Governador todas as praias estavam impróprias para banho”, lembra.

Julia Rossi, doutora em Geografia pela PUC Rio, admira o grupo e confessa que aprendeu muito com o Baía Viva. “São os pioneiros nesse movimento de proteção e defesa dos direitos, não só de termos ecossistema ou de serviços ambientais, mas na luta dos pescadores e das comunidades que estão à beira da Baía de Guanabara. Eles têm essa relação de apoio e resgate com as favelas, que são os territórios mais impactados. Eles mostram essa relação com a Baía de Guanabara, que é como uma troca, cuidamos bem dela e ela nos ajuda a viver melhor”, comenta.

Outro aspecto crucial do trabalho do Movimento Baía Viva é a educação ambiental. O movimento organiza oficinas, seminários e programas educativos para crianças, jovens e adultos, abordando temas como a importância da preservação dos manguezais, a biodiversidade da Baía de Guanabara e os impactos da poluição. Esses programas são essenciais para criar uma consciência ecológica nas comunidades locais e fomentar uma nova geração de defensores do meio ambiente. “Sem movimentação social não há avanço de política pública”, conclui o ecologista e Mestre em Ciências Ambientais

Ainda existe muita luta pela frente

A Baía de Guanabara nem sempre foi o que se vê hoje. Com 412 km², antigamente, era um berçário de vida marinha, repleto de peixes, crustáceos, tartarugas e golfinhos. Décadas de expansão urbana desordenada e políticas predatórias transformaram drasticamente esse cenário. Grandes áreas de manguezais foram aterradas para dar lugar a rodovias, aeroportos e áreas industriais e habitacionais, destruindo habitats vitais. Além disso, o despejo contínuo de milhares de litros de esgoto não tratado e resíduos industriais poluíram gravemente a baía.

As consequências desses impactos são evidentes. A maioria das praias da Guanabara é imprópria para banho, e os alagamentos tornaram-se frequentes em áreas urbanas, como Manguinhos, Maré e partes da Baixada Fluminense, pela falta de cobertura vegetal que antes absorvia o excesso de água. Pescadores artesanais foram forçados a buscar outras formas de sobrevivência, muitas vezes catando lixo flutuante nas águas poluídas. O Painel Saneamento Brasil afirma que mais de 30% da população do Rio de Janeiro ainda não tem acesso à coleta de esgoto. Atualmente, 18 mil litros de esgoto por segundo são despejados na Baía de Guanabara. Essa quantidade massiva de esgoto sem tratamento agrava a situação já precária da Baía, resultando em um ambiente insalubre e perigoso para as comunidades locais.

O ambientalista Sérgio Ricardo afirma que uma das lutas do movimento é contra o racismo ambiental que está se intensificando devido à desigualdade. A introdução de esgoto não tratado e resíduos industriais na Baía compromete gravemente a qualidade da água, tornando a pesca uma atividade perigosa para a saúde. Sem acesso a água tratada e esgoto sanitário, essas comunidades enfrentam graves problemas de saúde pública. Surtos de doenças como diarreia, hepatite e leptospirose são comuns. O novo Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em julho de 2020, foi criado para ampliar o acesso ao saneamento básico no Brasil e permitir maior participação da iniciativa privada no setor. Contudo, apresenta lacunas, especialmente em relação ao fornecimento de serviços de saneamento nas áreas rurais e comunidades periféricas, onde vivem pescadores, indígenas, favelados e quilombolas.Para Rossi, a Baía de Guanabara é importante para o Estado, para a região metropolitana e a nível local. “A Maré tem esse jeito próprio de se relacionar com o entorno, pelo histórico, o próprio nome, na época das palafitas dava para ver o movimento da maré e da baía. Mas depois com o aterramento e todo esse processo de transformação foi ficando cada vez mais invisível. A gente olha para ela como se fosse lixo, algo sujo e não como uma substância da vida. Precisamos entender a importância do saneamento para a sobrevivência desse ecossistema e assim enfrentar as mudanças climáticas”, defende.

*Isabela Rodrigues foi aluna do Curso de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2023 em parceria com o Maré de Notícias e o Conexão UFRJ.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

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O Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca

“Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!”; esse era o bordão que usava o personagem Paulo Cintura; na Escolinha do Professor Raimundo. Esse também é o lema de diversas pessoas, que cada vez mais procuram se exercitar. O motivo principal não é apenas entrar na modalidade fitness, ou seja, estar em boa forma física, mas conquistar a tão sonhada saúde e assim viver mais. Uma boa opção são as academias públicas, que além de não causarem nenhum custo financeiro, ainda agradam por serem ao ar livre. 

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca. Algum desses projetos tem a presença de profissionais que orientam o treinamento adequado para cada usuário. Um outro diferencial é que uns utilizam equipamentos de academia instalados em praças e locais específicos.

A Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) defende que os projetos tenham um viés para o idoso com recorte da favela. Na instituição há o Projeto FAFERJ 60+, pensando no direito da pessoa idosa, com o objetivo de reivindicar e indagar a instalação de equipamentos das praças das favelas, como é feito no restante da cidade. “Focar na terceira idade é uma pauta para todos os dias, pois os ramos da política precisam pensar nos seus direitos. Vamos cobrar da comissão dos idosos, leis que facilitem o letramento digital e a qualidade de vida dos moradores da terceira idade das favelas”, diz Eduardo Novaes, consultor da FAFERJ. 

Apesar de grande, a Praça da Nova Holanda só tem equipamento de musculação, com poucos aparelhos. “A Prefeitura instalou equipamento para os jovens, mas hoje está abandonado, sem manutenção. A praça precisa de equipamentos de exercícios para os idosos, isso iria revitalizar o local. O idoso gosta de acordar cedo e ir fazer os seus exercícios, o melhor ainda ao ar livre. A associação de moradores cuida e preserva com a limpeza, se não já tinha casa na praça”, desabafa Gilmar Junior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda.

O exercício é saúde

Um dos projetos mais conhecidos é o Academia da Terceira Idade (ATI) destinado para as pessoas idosas. Segundo o site Ideal Terceira Idade, o projeto tem como meta promover programas de atividade física para que as pessoas idosas possam manter suas autonomias e independências, conscientizando-os sobre a importância da realização de treinamento de força e da prática de exercícios em sua vida cotidiana. A ATI conta com cinco tipos de equipamentos: fortalecedor para membros inferiores; simulador de caminhada; aparelho de alongamento; exercícios de membros superiores e inferiores, além de aparelho multifuncional.

A Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (Semesqv) é a responsável pela ATI, que acredita ter uma importância enorme, tanto no aspecto físico quanto no emocional e social. Elas oferecem um espaço dedicado ao fortalecimento muscular, melhora da mobilidade e prevenção de doenças crônicas. Além disso, incentivam a socialização, o que contribui para combater o isolamento e a solidão, fatores que afetam a qualidade de vida das pessoas idosas. Cada ATI custa R$ 67 mil para sua instalação. 

Além do pouco número de ATI, uma das academias se encontra dentro do Condomínio Padre Manoel da Nóbrega, na Baixa do Sapateiro, só podendo ser usada pelos moradores dos prédios. “Só atende os moradores de lá, ou amigos e familiares que podem entrar. Eu não tenho nada contra se instalarem outras na favela, pois só a Baixa do Sapateiro tem capacidade para três ATI nas praças, hoje só tendo uma. Essa existente está ruim, precisando de reforma, já que se encontra de forma precária. Também só temos uma de alumínio, mais para a juventude, que deveria ter mais unidades. A academia faz bem, é algo saudável tanto para idosos quanto para jovens”, explica Charles Gonçalves, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro.

A academia como remédio

Um outro projeto é o Programa Academia Carioca, que foi criado em 2009 pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio para promover a prática de atividade física e educativa regular nas Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde, com acompanhamento e desenvolvimento de ações preventivas e de boas práticas em saúde. As academias contam com os seguintes equipamentos: remada sentada, rotação dupla diagonal, simulador de cavalgada, surf, esqui, simulador de caminhada, pressão nas pernas, multi-exercitador, alongador e rotação vertical.

Em junho de 2013, levantamento feito pela coordenação do programa indicou que chegou ao número de 192 mil participantes, 57% deles com mais de 60 anos. Entre os resultados, a pesquisa indicou que 90% dos participantes apresentaram controle da pressão arterial; 61% tiveram redução do peso corporal e 52% redução do índice de massa corporal. Dos integrantes que faziam uso de medicação prescrita, 20% tiveram a indicação suspensa, após reavaliação médica.

Igor de Almeida é profissional de Educação Física e trabalha nos centros médicos Américo Veloso e Vila do João e na Clínica da Família Diniz Batista dos Santos. Ele destaca a importância do trabalho em conjunto, equipamentos e equipe estratégico de saúde. “Pensamos no cuidado duplo, na educação física e na forma multidisciplinar. Para começar a fazer exercícios tem que ser da forma correta e segura, procurando antes um profissional que vai prescrever o melhor treino, se tiver alguma comorbidade ou não”, comenta. 

Para o profissional não importa a idade, o importante é a prática de esporte ao ar livre, sendo um momento de lazer e saúde. “Já está provado que a realização de atividade física pelo menos três vezes por semana, num total de 150 minutos, traz mais vida e saúde”, conta. Ele lembra que nas unidades de saúde em que não há academia, os profissionais trabalham com alongamento, ritmo e ginástica localizada. 

Diferente das academias localizadas nas praças, as das unidades de saúde são cobertas com lona o que possibilita conforto no uso do turno da tarde, não deixando as pessoas expostas ao sol. Martinele Mendes, de 65 anos, moradora da Vila do João, fica feliz com o programa. “Eu acho ótimo, pois ajuda quem não pode pagar para se exercitar. Faltam outras, como na ciclovia do Conjunto Pinheiros. Uma maravilha unir caminhada com a academia”, expõe. 

Lúcia Maria, de 61 anos, moradora da Vila do João, utiliza seis vezes na semana a academia. “Sem o auxílio do profissional, a pessoa pode fazer o uso dos aparelhos de forma errada, aqui ele vai nos auxiliando. Na academia encontro saúde e companheirismo. Depois que comecei a me exercitar tenho sempre alto astral. Moro sozinha, então aqui é o local que encontro muitas colegas e isso principalmente ajuda a minha saúde. É sempre bom ter esses aparelhos perto de casa, teria que ter mais unidades”, defende.

As academias na Maré

A Semesqv informou que tem o registro de apenas três ATIs na Maré: na Rua Manoel Falcão com Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos, no Conjunto Esperança, Praça do Dezoito, na Baixa do Sapateiro e Rua Ari Leão, no Parque União. Completou que, qualquer cidadão pode pedir o procedimento para instalação ou manutenção de uma academia pelo telefone 1746. Após a solicitação, é realizada uma vistoria no local para análise da possibilidade e necessidade de implantação. Em caso positivo, a solicitação entrará em lista, por ordem cronológica, de acordo com a disponibilidade de recursos para instalação.

O Maré de Notícias questionou sobre a instalação de uma ATI em local fechado aos moradores. A Semesqv respondeu que até o momento não recebeu nenhuma reclamação relacionada à ATI mencionada no Condomínio Padre Manoel da Nóbrega, na Baixa do Sapateiro. Ressaltou que as academias da terceira idade são instaladas por diversos órgãos. Sobre isso, a Secretaria Municipal de Esporte (Smel-Rio) informou que o órgão não tem academias ao ar livre na região, apenas as atividades oferecidas na Vila Olímpica Seu Amaro.

Já as unidades de saúde da Maré que utilizam equipamento do Programa Academia Carioca são as clínicas da família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros, Augusto Boal, em frente ao Morro do Timbau, Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, Diniz Batista dos Santos, no Parque União e o Centro Municipal de Saúde da Vila do João. 

Maré de Notícias chega aos 15 anos ajudando a contar a história da Maré

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Edição #167 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

O jornal Maré de Notícias nasceu em dezembro de 2009 e, em sua trajetória, conheceu centenas de personagens. O jornal entrou nas casas dos mareenses, levando informação, cultura e entretenimento para os moradores.

Desde o início, o jornal teve o objetivo de produzir e difundir conteúdo jornalístico crítico, reflexivo, que motive e mobilize a comunidade. O objetivo é fomentar ações capazes de gerar mudanças que impactem na qualidade de vida da população da Maré, com editorias que passam por políticas públicas, direitos humanos e a valorização da cultura local.

Nossa história

Para que o jornal tivesse uma representação na Maré, foi feita em 2009 uma sondagem de opinião, intitulada: “Por um jornal da Maré: diga como você quer!”. Foram 2.300 entrevistados que revelaram que 89% dos moradores tinham hábito de ler. Sendo que 53% liam jornais, 76% procuravam notícias sobre a Maré e 69,3%, sentiam-se insatisfeito de como eram retratados nos veículos de comunicação. Além disso, 98% achavam importante existir um jornal comunitário e 12% da população queria ver notícias sobre a favela nas páginas do novo jornal.

Um passo importante também foi o concurso cultural para a escolha do nome. A campanha “Por um jornal da Maré, diga que nome você quer!” durou 30 dias, com panfletos, cartazes e até outdoor. Chamou atenção de mais de 500 pessoas, que deram sugestões, em urnas espalhadas no território ou utilizaram a internet. Só na terceira edição o jornal ganhou um nome: Maré de Notícias.

Os atores principais

Antes da primeira edição, algumas instituições locais e associação de moradores se uniram à Redes da Maré para o planejamento do jornal. Umas continuaram até o fortalecimento do projeto, como a Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, localizada em Marcílio Dias. “Veio para expandir vozes, pessoas em grande parte oriundas do Nordeste, destacando a cultura. Uma marca são as entrevistas das lideranças, com resgate da história, mostrando a vivência atual, mas sem esquecer a memória, como o tempo das palafitas. Traz diversas pautas, como a violência, para que a sociedade possa debater o assunto. Nesses 15 anos, é bom parabenizar todos os atores que fizeram parte e agradecer os parceiros que financiaram essa comunicação”, diz Geraldo de Oliveira, coordenador da biblioteca.

Há leitores que mantêm contato constante com o jornal, enviando sugestões de matérias, poesias e escrevendo sempre comentários. Sara Alves, moradora da Vila do João, é uma dessas. “Tornei-me fã, antes dele ter o nome que tem, no período da sua criação. Como não ser fã do jornalismo comunitário? Feito, conjuntamente, por quem vive todas as complexidades reais que vivemos?”, opina.

Sara defende o jornal impresso. “Creio na importância diante da realidade atual em que vivemos, 43% dos moradores de favelas não possuem internet. Existem muitas pessoas idosas, principalmente, que amam ter o jornal impresso para lerem em suas portas. No meu caso, sinceramente, assim como os livros, eu gosto de ter o jornal em minhas mãos”, afirma. 

Ela deseja que o Maré de Notícias continue contribuindo na superação das representações negativas e preconceituosas sobre as favelas, veiculadas nas mídias hegemônicas. “Que continue apresentando as narrativas das pessoas que merecem ser reconhecidas por suas ações, e que são histórias-vivas em nossas favelas”, enfatiza.

Cultura local

A cada mês o Maré de Notícias traz uma gama de personagens. Nas matérias a presença dos moradores é indispensável, em entrevistas e opiniões sobre temas relevantes. Quem mais pode ser o especialista sobre algo que vem acontecendo na Maré, do que o próprio mareense? 

Dentre esses moradores, o cantor Lindemberg Cícero, conhecido como Bhega Silva, figura carimbada em diversas edições, mostrando suas composições, seu trabalho ecológico com a coleta de óleo e o projeto Cineminha no Beco. “Sou só gratidão e felicidade pelo reconhecimento, pelos meus projetos nas matérias, por onde passo todos me parabenizam, por lerem as matérias. O jornal tem respeito pela minha história na Maré”, comenta.

Popular como o trovador da Praia de Ramos, Bhega afirma que a maior importância do jornal como meio de comunicação é ampliar as vozes dos moradores. “É um jornal com 15 anos de luta, resistência e persistência. Uma comunicação comunitária feita com muito carinho por quem conhece de perto a realidade do território, levando informações e sendo distribuído em mãos ou deixado de porta em porta”, diz. 

Lideranças

No meio da política, o Maré de Notícias já trouxe diversas vezes o pensamento de lideranças locais. Um desses entrevistados foi Pedro Francisco, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança. “Parabenizo esse excelente trabalho em torno de nossas comunidades, buscando os anseios de cada morador, por melhorias, expressando os seus sonhos e projetos de uma Maré melhor”, destaca. 

Alguns moradores ultrapassam o papel de leitor e passam a fazer parte da equipe. André Lucena, ex-morador da Nova Holanda, durante alguns anos, criou as charges do jornal de forma voluntária. “Para mim, como morador, o jornal Maré de Notícias é uma ferramenta poderosa de informação cultural e social. Além, claro, de ter sido uma casa, onde pude expressar a minha arte como chargista”, resume.

O jornal e as universidades

Durante esses 15 anos muitos parceiros fizeram parte da história do Maré de Notícias. Uma das parcerias é com o Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos (MVDH), no qual Pedro Barreto, jornalista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH), que também coordena o curso. Para ele, a comunicação comunitária é fundamental não só como ferramenta de diálogo, mas como uma organização de pessoas. “Os meios de comunicação hegemônicos não sabem as demandas da população da favela, diferente do Maré de Notícias que está no cotidiano, fala direto com o morador e acaba sendo também um elo com o poder público. O jornal comunitário tem a confiança da favela”, conclui.

Raquel Paiva, professora emérita da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) e fundadora do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC), avalia o trabalho do jornal. “Ainda me lembro vivamente do surgimento do Maré de Notícias e de todo o contexto da sua criação. O jornal tem atuado como um verdadeiro veículo comunitário representando na prática as discussões que temos fomentado ao longo dos 27 anos de existência do LECC”, expõe. 

Para a professora, as pautas do jornal têm trazido com vigor o cotidiano da população e suas questões. “Ele tem impulsionado a população na discussão de temáticas que lhe dizem respeito diretamente, é elaborado por moradores e jornalistas da própria favela e ainda tem pautado a sociedade civil e instituições da cidade em direção à necessidade de políticas públicas para com os moradores da Maré. Desejamos que o Maré de Notícias siga inspirando a todos nós em direção a um país mais igualitário e inclusivo com o vigor de toda a sua diversidade”, finaliza.

Feira dos Direitos Humanos promove serviços gratuitos para moradores

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Em comemoração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, o evento reunirá serviços essenciais, debates e atividades culturais para a comunidade

Na semana em comemoração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Redes da Maré promove, nesta sexta-feira (13), a 3° Feira de Direitos Humanos. O evento acontece no Galpão RITMA (Parque Maré), equipamento da instituição, de 10h às 17h. 

O evento reúne serviços essenciais, debates e atividades culturais para a comunidade. Entre os destaques da programação, estão o atendimento da Defensoria Pública, emissão gratuita de documentos, orientações sobre saúde e assistência social, além de apoio para matrícula escolar. A ação também inclui lançamento de cartilhas sobre a juventude e o mercado de trabalho, em debate com especialistas e lideranças políticas.

Projetos comunitários do Lab Maré também serão apresentados, junto à exposição “Por Trás das Câmeras”, do CESeC, além de apresentações culturais, como a da Banda Musical do Vida Real. A iniciativa reforça a importância da garantia de direitos e mobilização coletiva no território.

Semana dos Direitos Humanos

O dia 10 de dezembro é marcado anualmente pela comemoração da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Neste ano, o documento que consagra as normas comuns de qualquer povo ou nação independentemente da sua origem, raça, gênero, sexualidade ou religião, completa 76 anos. Apesar dos avanços ao longo das décadas, os desafios ainda são muitos. E ao olhar para as periferias do Brasil, pode-se dizer que os muitos desafios ainda são os mesmos.

O nascimento do documento mais traduzido do mundo aconteceu em dezembro de 1948, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris. Reunindo representantes jurídicos e culturais de todo o mundo, a DUDH estabelece, pela primeira vez,  a proteção efetiva dos direitos humanos. A Declaração era também uma resposta a grande “ressaca” deixada pela Segunda Guerra Mundial, período marcado pelo genocídio e violações graves promovida pelo nazifascismo. Composta por 30 artigos, os textos elaboram as definições do que deve ser primordial para qualquer indivíduo, como o direito à vida, à saúde, à educação,  à liberdade de expressão e  à participação política, bem como condena as práticas de discriminação, tortura e escravidão.

Mas, e na favela?

Na favela é diferente. Ainda que tenhamos avançados em relação à garantia de direitos, resultante de uma diária e longa luta popular, temos muitos desafios pela frente. Há dias que o barulho do  helicóptero  misturado com o cheiro de café pela manhã escancara as desigualdades sofridas pela população periférica. Tem semanas que é preciso ir à luta, mesmo sem água, mesmo sem luz.


Para Natália Pollachi, diretora de projetos do Instituto Sou da Paz, especializado em Segurança Pública, as periferias são lugares que precisam ser prioridades na remoção de barreiras que impedem o acesso pleno aos direitos humanos: “Por exemplo, pode ser que tenha uma escola boa por perto, mas se tem tiroteio frequentemente você não consegue ir a aula. Se não tem saneamento, você perde duas horas que poderia estar estudando para conseguir fazer um abastecimento de água adequado”. Diz ainda sobre a importância  de engajar e educar a própria população nos debates relacionados aos seus direitos. “Ainda há bastante falta de informação […] No Brasil,  as mulheres, os jovens, a população negra, os LGBTQIA + e  as pessoas encarceradas têm vulnerabilidades especiais. Isso não significa que tiramos de um para dar ao outro. O que fazemos é dar medida adequada para que todos consigam acessar ao mesmo direito”.

A luta por reconhecimento de direitos e justiça social se desenvolvem a cada dia,  fruto de diversas iniciativas de base que pressionam políticas voltadas para as comunidades. Apesar das dificuldades, ao olhar para trás, é possível visualizar os avanços ao longo das décadas.

O Dia Internacional dos Direitos Humanos, é um lembrete do compromisso que o Estado deve ter com todo e qualquer cidadão.  Além de uma simples data comemorativa, 10 de dezembro também é rememorar os avanços possibilitados pela incidência política ao longo dos anos.

Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.