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As Cifras do Carnaval

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Carnaval faz movimentar, e muito, a economia da cidade

Jorge Melo, com Hélio Euclides e Elisângela Leite

A marchinha “Me dá um dinheiro aí”, sucesso do carnaval de 1959, na voz de Moacyr Franco, está mais atual que nunca. A falta de dinheiro é o grande tema do carnaval de 2018 no Rio de Janeiro. Todas as grandes escolas, com exceção da Unidos de Vila Isabel, cortaram orçamentos e vão realizar um carnaval “mais econômico”. O enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, por exemplo, é “Com Dinheiro ou Sem dinheiro eu Brinco”. A sinopse do enredo diz, entre outras coisas, que “mesmo ‘com o bolso furado’, que ‘o sapato aperte’, que a ‘corda esteja no pescoço’, em qualquer esquina que junte gente irmanada, em qualquer batuque de mesa de bar, em qualquer palma de mão, em qualquer ‘Iaiá, Iaiá’, em qualquer pé descalço que sambe, vive o carnaval e a liberdade de minha gente”.

Carnaval de sustento

Mais que samba no pé e bloco na rua, o Carnaval é um evento que movimenta a economia da cidade do Rio de Janeiro.  Muita gente espera ansiosamente pelo Rei Momo: do gerente do hotel cinco estrelas ao ambulante que vende cerveja na rua, com a sua caixa de isopor. Não existem números oficiais sobre a potência econômica do carnaval carioca. O levantamento mais recente é de 2011. Foi feito por Luís Carlos Prestes Filho e indicou que o carnaval carioca gera 250 mil empregos, diretos e indiretos. Mas, com a crise, esse número pode diminuir um pouco, mas continua alto. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Boca de Siri, da Maré, é um exemplo dos tempos difíceis. Segundo o carnavalesco Eduardo Pinho, “o projeto de carnaval foi mudado em função da falta de dinheiro e a opção foi reaproveitar peças antigas. A equipe foi reduzida. No ateliê da Escola estão trabalhando quatro pessoas e três no barracão. “Em tempos normais, teríamos pelo menos o dobro, mas vamos fazer um carnaval criativo.” Cada trabalhador do ateliê ou barracão ganha de1.000 a 1.500 reais por mês, num período que varia de três a quatro meses. Jorge Luiz Albuquerque Carneiro, diretor de carnaval da Boca de Siri, também reclama: “até os diretores da Escola estão ajudando no barracão, para cobrir a mão de obra que não podemos pagar e dar conta do prazo”. Segundo Jorge, esse ano tem menos gente trabalhando no carnaval. “No nosso grupo todas as escolas vivem a mesma situação, imagine, são 14 escolas, quantos empregos a menos?”

 

Baroni, da Beatriz Modas, investiu no estoque de fantasias. Ao contrário da maioria dos comerciantes da cidade , está otimista com o carnaval | Foto: Elisângela Leite

O comércio da Maré no Carnaval

Com crise ou sem crise, na Maré, o carnaval costuma ser bom para o comércio, principalmente para quem vende fantasias, as infantis são as que mais saem.  Máscaras e adereços também são muito procurados. As lojas que investem no carnaval são muitas, difícil saber quantas. E de diferentes ramos de comércio, de loja de brinquedos e utilidades domésticas a lojas de roupas. A Beatriz Modas, da Vila do Pinheiro, é um bom exemplo: o proprietário, Sérgio Baroni, ao contrário da maioria dos comerciantes da cidade, está otimista com o carnaval: “espero vender pelo menos 20% a mais que o movimento normal”.  Sérgio, que é comerciante na Maré há mais de 20 anos, tem outra loja na mesma rua, especializada em Moda Feminina, que já está vendendo camisetas e shorts com motivos carnavalescos “O diferencial é a qualidade, eu prefiro ter um lucro menor, mas oferecer um produto bom a um preço acessível ao meu cliente, isso faz ele voltar.” Baroni vai contratar dois funcionários temporários para as duas semanas que antecedem o Carnaval e já investiu num estoque de fantasias, para adultos e crianças; máscaras, acessórios e também bermudas e camisetas. “Estou me baseando no movimento do Natal, que foi muito bom, quase 30% a mais que nos meses normais”.

Rogéria Alves da Silva, dona do já tradicional Armarinho da Rogéria, na Vila do Pinheiro, não é tão otimista quanto Baroni “No Natal eu vendi 20% a menos que em 2016 e o Natal é sempre uma base para o carnaval, mas mesmo assim investi; não gosto quando o cliente chega e não encontra um artigo que ele sabe que eu vendo”.

 Em Ramos, o carnaval promete

Magrinho do Pastel, ambulante na Praia de Ramos, está animado com as possibilidades do carnaval de 2018. Espera vender 400 pastéis por dia | Foto: Elisângela Leite

O carnaval oferece oportunidades para empreendedores de todos os tamanhos. Lauro Luís, de 37 anos, mais conhecido como Magrinho do Pastel está animado com as possibilidades do carnaval de 2018. Funcionário de uma grande rede de farmácias e trabalhando à noite, há cinco anos completa a renda vendendo pastéis. Até o ano passado era ambulante e vendeu uma média de 200 pastéis em cada dia de carnaval, no Piscinão de Ramos. Ele conta: “a minha expectativa é boa, não estou vendo essa crise toda”. Esse ano Magrinho conseguiu montar uma barraca e espera vender, em média, 400 pastéis a cada dia de carnaval.  “Meu pastel é bom e barato, vou vender também uns salgadinhos e refrigerantes”.  Com a expansão do negócio, no carnaval, ele vai contar com o apoio da mulher, Eloá Firmino, que cuida da fritura; e de um ajudante. “Assim eu posso circular com o isopor e aumentar as vendas; eu acho que esse carnaval vai ser muito bom”.

Os números da folia

A Riotur espera, esse ano, um milhão e 500 mil turistas, 400 mil a mais que no ano passado; e 3,5 bilhões de reais injetados na economia carioca. Mas nem tudo é confete e serpentina no carnaval carioca. Em agosto de 2017, o prefeito Marcelo Crivella anunciou um corte de 50% na subvenção de 26 milhões que a Prefeitura dava às escolas de samba do Grupo Especial. Em outubro, fiscais da Delegacia Regional do Trabalho interditaram os barracões das escolas do Grupo Especial, na cidade do Samba, na Gamboa, onde são confeccionadas alegorias, adereços e parte das fantasias. Segundo os fiscais, as condições de trabalho e instalações eram precárias. As escolas reclamaram, mas fizeram os ajustes. No entanto, só na terceira semana de novembro os primeiros barracões foram liberados. Com os barracões interditados os trabalhadores temporários ficaram parados e não foram feitas contratações. Essa foi a primeira baixa no número de empregos gerados pelo carnaval carioca.

Um carnaval sem ensaios técnicos

Uma das consequências do corte do subsídio da Prefeitura às escolas foi a suspensão dos ensaios técnicos das escolas do Grupo Especial, que eram custeados pela LIESA. A decisão desagradou os sambistas. Os ensaios técnicos funcionam como um uma prévia do desfile, com todos os componentes, bateria completa e coreografias, faltando apenas as fantasias e os carros alegóricos. Além do mais, os ensaios no Sambódromo são abertos ao público, que gratuitamente pode sentir o clima da sua Escola e do samba-enredo. Muitas afirmam até que, no ensaio técnico, os componentes estão mais relaxados, se divertem e acabam por fazer um desfile até melhor que o oficial. A suspensão dos ensaios técnicos foi outra baixa no número de empregos temporários oferecidos durante o carnaval.

Blocos e Carnaval de Rua

O carnaval carioca não é apenas escola de samba. Fora do Sambódromo existe um mundo de blocos, bailes e eventos que também contribuem para fazer a alegria do folião e o dinheiro girar. Nos últimos 20 anos, os blocos foram, aos poucos, retomando uma antiga tradição da cidade, o Carnaval de Rua. Nos tempos antigos, esses blocos eram chamados de Blocos de Sujo; mas nos dias de hoje, de sujos não têm nada. Em pouco tempo viraram uma febre. Segundo a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro, os blocos vão atrair mais de seis milhões de pessoas para as ruas da cidade. Mas não existem dados sobre quanto dinheiro esses foliões movimentam.  O certo é que cada bloco funciona como uma pequena empresa, com administração, pessoal de apoio, músicos contratados e até equipe de segurança.  No Rio de Janeiro, existem 464 blocos oficiais e mais um número desconhecido de blocos independentes ou não oficiais. Oportunidade não falta para os ambulantes!

Academia – o point do verão

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Academia – o point do verão

Hélio Euclides

Acássio Cardoso | Foto: Elisângela Leite

O crescimento da modalidade fitness no País fez o Brasil ocupar o segundo lugar no ranking mundial em números de academias, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e à frente de países como Itália, Coréia do Sul, Alemanha e Canadá. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Esporte, existem mais de 30 mil academias em todo o Brasil e quase oito milhões de alunos, movimentando cerca de oito bilhões de reais por ano.

A preocupação do brasileiro com o corpo e a saúde impulsiona o mercado aeróbico. Na Maré não é diferente. Há inúmeras academias e todas com grande procura. Uma dessas academias é a Fisic & Forma, fundada há 12 anos por Eduardo Patrick. A Academia tem em média 300 alunos, mas nos meses de pico chega a 420. “Dezembro é um mês ruim, o que é compensado por janeiro e fevereiro. Desses novos alunos, 20% têm continuidade. Uns procuram para ficar com um corpo para o carnaval, e só exercitam em janeiro”, detalha Eduardo. Por lá, além de musculação tem bicicleta, dança retrô, stiletto, power jump, step, ginástica localizada e crossfit. “Nesse ramo é necessário inovar sempre. As pessoas procuram muito mais pela saúde que pela estética: desejam diminuir o colesterol, deixarem de ser sedentárias, terem ritmo cardíaco e uma boa resistência aeróbica. Um exemplo é minha mãe, que nunca tinha malhado e começou aos 40 anos. Ela malha todos os dias e é uma pessoa alegre, de bem com a vida, com disposição. Nunca é tarde para a prática do esporte”, afirma Eduardo.

Com 450 alunos, a Invicta Academia, também localizada na Maré, funciona há três anos com musculação, e se destaca pela realização de avaliação funcional computadorizada e física.  “Fazemos o procedimento certo, procuramos ser profissional, como sempre ter um responsável no local. Avaliamos antes para evitar lesões. Outro ponto, é que aqui não pode ser velho e sujo, tem de ter a mesma aparência da Zona Sul”, relata Adriano Bezerra, proprietário. Ele fala que a crise financeira chegou às academias. “A procura aumentou bastante. Em 2016 chegamos a ter 700 alunos, mas no ano passado veio a crise. Hoje são 450 alunos. No frio diminui a frequência. Por outro lado, próximo ao carnaval fica cheio. É a procura do corpo ideal para o evento”.

Jaqueline Rodrigues | Foto: Elisângela Leite

Para Maísa Araújo, de 19 anos, a prática de exercício é uma necessidade: “a médica recomendou malhar para diminuir colesterol, hoje meu corpo pede, tenho de continuar”. Outros procuram para diminuir o peso. É o caso de Acássio Cardoso, de 25 anos: “era gordinho e precisava de condicionamento, sentia arritmia cárdica. Entrar na academia foi a solução, então abandonei o sedentarismo e, hoje, tenho melhor qualidade de vida”. Jaqueline Rodrigues, de 22 anos, interrompeu os exercícios pois ficou grávida. “Engordei, então voltei aos exercícios. Não é só cuidar do corpo e, sim, a procura da saúde e disposição”. A New Corpore Academia funciona há dois anos e meio, com 1.050 alunos, no Morro do Timbau, e mais de 450 no Parque União.

Para Evandro Moura, Gerente Administrativo, no verão e nas férias a procura é muito grande, mas há os que entram e saem logo. Para segurá-los, existem as promoções. “Cerca de 30% dos novos fazem plano anual no cartão e não voltam. Muitos têm a inscrição ativa, mas não cumprem a promessa que fazem no início do ano, é falta de tempo e frio. Tudo é motivo para não comparecem à Academia. Muitos querem fazer milagre em dois meses”, diz. Mas milagres só acontecem com esforços. Falando em esforços, a Academia está contratando profissionais de Educação Física da Maré, com bacharelado.

A mudança para quem malha é maior na saúde que na estética. “Minha sogra tomava remédio de pressão, depois da prática de esporte não precisa mais. O exercício, somado ao hábito alimentar correto, traz condicionamento físico”, diz Neide Soares, de 35 anos. A malhação não tem idade, é o que constata Manoel da Fonseca, de 64 anos. “Atividade física é a melhor coisa, algo benéfico, que mudou muito a minha saúde e condição de vida”, conta. Para Lucileide Castro, de 52 anos, o exercício a transformou numa atleta: “tive de dar um basta ao sedentarismo. Hoje sou uma ultramaratonista”.

 Uma academia feminina

Funcionando há dois anos, a Nutri Corpos Mulher tem como diferencial o serviço especializado para mulheres. Idealizada por Gracinete Melo, a Academia oferece musculação, circuito funcional, step, jump, local e zumba. “Um dia eu vinha no engarrafamento do meu trabalho, quando veio à mente esse projeto, de acolhimento, com nutricionista, psicologia e estética”, diz. O espaço tem 95 mulheres, que frequentam o local dia e noite. “Quando faço exercício, esqueço dos problemas. Malhar me deixa mais confortável, com respiração melhor, disposição e força. Quero continuar nessa rotina, não só no verão, mas levar para a vida toda. Não é algo apenas estético, é a busca da saúde”, conta Jéssica Lourenço, de 17 anos.

 O cuidado na hora da escolha

Flávio Alves é professor de Educação Física e atua em algumas academias. Ele acredita que há dois motivos para a grande procura das

 academias nessa época no ano: primeiro, a mídia reforça o corpo-padrão, a busca do perfeito, algo que é estimulado nas novelas, programas e filmes. E segundo, os médicos indicam a malhação contra a hipertensão, depressão, sedentarismo e osteoporose. “Mas é preciso saber se são profissionais formados e se a academia tem um kit de primeiros-socorros e profissionais aptos para atuarem, certificados pelo Conselho Regional de Educação Física (CREF)”. Ele recomenda que o ideal para a malhação é primeiro o interessado fazer uma avaliação médica com exames para saber como está o estado de saúde, e um atestado médico de um cardiologista. “Ao chegar na academia, o aluno precisa passar por uma Anamnese, que é uma entrevista do histórico de saúde e hábitos de vida, para saber se há algum risco coronariano, a composição corporal e perímetros. Algumas também fazem o Questionário de Prontidão para a Atividade Física (PAR-Q)”.

Eduardo Patrick acredita que o ideal é uma academia que demonstre segurança. “São muitas as academias, mas existem profissionais sem conhecimento. Quem deseja malhar, antes de se inscrever, precisar ver os aparelhos, e saber se os profissionais têm o registro, fazer uma aula experimental”. Para Flávio, o perigo é o cliente ser utilizado como laboratório, com profissionais desqualificados. Outra ameaça são alunos que realizam séries prontas, e que podem causar uma lesão muscular. “O resultado não vem só com academia, precisa estar em conjunto com a alimentação. O suprimento deve ser usado em último caso, o ideal é a reeducação alimentar”.

Segundo levantamento da rede social Twitter, a maior meta dos brasileiros para 2018 é “ir para a academia”. Nesse início de ano é o momento de transformar a promessa em realidade, de correr atrás da saúde. Boa malhação!

O Piscinão não é mais aquele

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O lago artificial da Praia de Ramos está preparado para o verão?

Hélio Euclides

O lago artificial da Praia de Ramos, batizado de “Piscinão”, foi inaugurado em dezembro de 2001, com glamour e chafariz político. Em agosto de 2007, o espaço deixou de ser administrado pelo Governo do Estado e passou a ser gerido pela Prefeitura do Rio. Em 2011, o lugar recebeu uma reforma e uma promessa da antiga gestão municipal: a construção da Arena Cultural de Ramos. Infelizmente, a ideia não saiu do papel.

A antiga Lona do Circo Voador em atividade em 2002 | Foto: Hélio Euclides

A antiga lona, chamada de Circo Voador, teve o seu primeiro estrago com rasgões na cobertura e depois veio a deterioração da estrutura, que virou um canteiro de ferros retorcidos. Recentemente, a Prefeitura fez a retirada de toda a armação metálica. “Tivemos a informação de que iria virar um campo de beisebol, mas até agora nada. Se não construírem aqui, vai virar um piscinão da dengue, por causa das grandes poças de água da chuva que se formaram”, revela Emerson Silva, morador da Praia de Ramos.  Lindenberg Cícero, cantor e compositor, acredita que não se pode deixar terminar um espaço cultural. “Temos de brigar todos os dias pela cultura. Pelo tamanho do terreno, daria para fazer um teatro, ou uma sala de exibição de filmes, ou um espaço de dança. Precisamos de espaços para os artistas locais mostrarem o seu talento. Falta respeito pelo tão pouco tempo que durou a lona. É triste ver a cultura abandonada. O meu sentimento é de sonho roubado, de ver a lona se deteriorar, até chegar ao fim”.

 

Um Piscinão no verão

Com a chegada do verão e o aumento do uso do Piscinão, que costuma ficar lotado, o Conselho Regional de Química fez uma operação de fiscalização na primeira semana de dezembro para o controle da qualidade da água. O Conselho faz algumas ressalvas, como por exemplo de que a empresa contratada para gerir o Piscinão tenha um responsável técnico registrado.

A piscina artificial tem capacidade para 30 milhões de litros de água. A manutenção do Piscinão é da DT Engenharia. Há tempos ele não é esvaziado para limpeza geral. Segundo funcionários da empresa, que não quiseram se identificar por medo de represálias, a pretensão é de que aconteça no inverno desse ano. Por ter uma grande demanda era necessário fazer uma limpeza geral pelo menos uma vez por ano – algo que não vem acontecendo. Com a chuva, apareceu uma língua negra que deixou o Piscinão com lodo. A Cedae foi ao local e fez o reparo do esgoto. Três funcionários da DT Engenharia fizeram uma limpeza utilizando vassouras e ancinho para a retirada de lodo. Um deles explicou que, apesar do grande número de banhistas no verão, a água continua limpa, e que há a utilização de três mil litros de cloro por dia. A Fundação Rio-Águas, vinculada à Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente, informou que mantém o tratamento diário da água do Lago Salgado do Parque da Vizinhança de Ramos.

Moradores escolhem o local da entrada de água para ficar, próximo à Estação de Tratamento da Água (ETA), pois identificam como a área mais limpa. “Eu e minha filha de cinco anos entramos nessa parte, mas acredito que está na hora de uma limpeza”, sugere Cíntia Cristina. Para Valeria Medeiros, o período das chuvas é o mais complicado. “Agora está bom, ao contrário de três meses atrás. Deveria limpar frequentemente, antes do período de sol”, recomenda. A banhista Maria Josenice não confia no Piscinão: “não gosto do cheiro de cloro, já que não há troca de água, é necessário o grande uso. Venho para cá, com meu balde, tomo banho com água do chuveiro”, explica.

A piscina tem 30 milhões de litros de água, que deveriam ser limpos anualmente, o que não acontece | Foto: Elisângela Leite

Maré de Notícias #85

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Carnaval da crise terá animação

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O lema é: levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Hélio Euclides

Com o clima de recessão, as escolas de samba e os blocos estão receosos com o carnaval de 2018. Por outro lado, problemas não são uma novidade. Todo ano existe um desafio, que é superado com a criatividade e o amor que os envolvidos nessa grande festa manifestam. Na Maré não é diferente. Aqui, existem duas escolas de samba: o Gato de Bonsucesso e o Boca de Siri. Pelas ruas da favela, alguns blocos empolgam moradores, entre eles o Gargalo da Vila, o Se Benze que Dá e o Magia do Samba.

A agremiação Boca de Siri vem com o enredo “Vamos falar de índios”. A escola leva para o desfile dois carros alegóricos e um tripé. A verde e branco do Piscinão de Ramos trará para o desfile 17 alas, com cerca de 830 componentes. “Estamos sem dinheiro, mas lembro que só entramos para brigar pelo título. A maioria das coirmãs estão ameaçadas de não sair ou mostrar um carnaval ruim. Para trabalhar com escola de samba tem de gostar muito”, desabafa Edivaldo Pereira, presidente do Boca de Siri, conhecido como Vadão, que há 15 anos atua na escola, sendo nove no cargo. Vadão critica o tratamento dado às pequenas escolas. “O carnaval é de custo alto, e não temos o apoio merecido da Prefeitura e nem da TV. Esquecem que todas as grandes começaram por baixo. A Riotur dá um valor que apenas paga os funcionários”, reclama. Outro ponto negativo é a insatisfação com o local de desfile. “A Intendente Magalhães é complicada, pois são muitas escolas. A Sapucaí seria o ideal, mas falta interesse”, declara.

No desfile deste ano o Boca promete “brincar de índio”, mostrar a história dos indígenas que se mistura com a dos portugueses. “Quando a escola desfila, tenho o sentimento de dever cumprido, uma emoção que não tem explicação, acabo chorando”, confessa Vadão.  Para quem desejar desfilar, ainda há vagas. Um dos diferenciais do grupo é mostrar que o samba é sem fronteira. A escola traz uma ala da Maré, com foliões do Parque União. A agremiação também apoia, no que é possível, a coirmã Gato de Bonsucesso. Quem deseja colaborar com o carnaval do Boca de Siri terá uma boa oportunidade dia 4 de fevereiro. O evento Siri Folia promete agitar os foliões, com venda de abadá por 60 reais, que dá direito à cerveja, refrigerante, caldo e água. A festa vai das 13h às 21h, na quadra, que fica na Rua Mascarenhas de Moraes, 10, Roquete Pinto.

Curiosidade Boca de Siri

A expressão “boca de siri” tem origem a partir da anatomia do siri, um crustáceo que vive predominantemente em água salgada. Este animal tem uma boca muito pequena, que dificilmente pode ser vista a olho nu. Devido a essa característica do siri, a expressão foi adotada pela cultura popular, fazendo uma relação com a situação em que alguém se compromete em manter segredo sobre determinado assunto, fechando a boca e não contando para ninguém, assim como o siri faz quando captura um animal.

O Boca de Siri foi fundado no dia 7 de dezembro de 1979, como bloco. Em 2011, sagrou-se pentacampeão do Grupo 1 dos blocos de enredo, sendo o primeiro bloco a se transformar em escola de samba automaticamente, sem passar por avaliação. No ano seguinte, sagrou-se campeã do Grupo de Acesso E. O Boca de Siri em 2017 ficou com a quinta colocação do Grupo C.

A ala de foliões da escola Gato de Bonsucesso desfi lando na Intendente | Foto: Francisco Valdean

Um felino no carnaval

A azul e branco da Nova Holanda vem com o enredo “Mulher, mulher, mulher”. O enredo vai viajar pela criação da mulher até os dias de hoje. Vai contar as mudanças do seu papel na sociedade e suas lutas. “A mulher busca o seu lugar e conquista. Um dos destaques será a Lei Maria da Penha”, lembra Roseni Lima de Oliveira, diretora do Gato de Bonsucesso.

A escola apresentará um carro alegórico, 12 alas, com 450 componentes, sendo obrigatório ter 20 baianas e 80 membros na bateria. O Gato desfila no Grupo E, uma apresentação de avaliação, sabendo-se que as três melhores sobem de categoria. “O ruim é que nesse Grupo não recebemos subvenção da Riotur. Pela crise nacional, falta dinheiro nas escolas de samba, e com o Gato não é diferente. Precisamos do apoio da comunidade e dos comércios locais”, almeja Roseni. Quem deseja participar do desfile deve comparecer aos ensaios que acontecem todas as sextas-feiras, a partir das 20h, na quadra, que fica na Rua São Jorge, Nova Holanda.

A trajetória de um gato

A história do Gato de Bonsucesso tem início na década de 1960, com moradores das comunidades do Esqueleto e do Querosene, que chegaram na Nova Holanda. A nova turma acabou se unindo aos antigos foliões do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Nova Holanda. E assim nasceu o bloco Mataram Meu Gato, tendo como um dos fundadores Manoel de Jesus.

Em 1999, a agremiação foi registrada na Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro com o novo nome de Grêmio Recreativo Escola de Samba Gato de Bonsucesso. O Gato de Bonsucesso foi rebaixado para o grupo E em 2016. No ano passado ficou em 5º lugar e não conseguiu subir de categoria.

A mudança de Mataram Meu Gato para o nome atual gera uma discussão frequente. Adelson Alves, radialista e especialista em carnaval, acredita que o nome antigo tinha um peso e uma irreverência característica da festa. Já Roseni entende que a modificação foi necessária para um nome forte, característica de uma Avenida Marques de Sapucaí. “O Gato nasceu da necessidade cultural da Maré e virou instituição familiar. Meu pai foi presidente e ele me chamou para ajudar no carnaval. Não parei mais. Fui filha, mulher, mãe e irmã de presidentes”.

A empolgação por meio de um gargalo

O bloco Gargalo da Vila desfila pelas ruas da Vila do João há 17 anos. “Percebi que não tinha carnaval de rua e que a festa não podia passar em branco”, conta Marco Antonio, fundador do bloco, conhecido como Marquinho Gargalo. O bloco não tem registro, mas o diferencial é que todos os integrantes desfilam com abadás. O Gargalo da Vila nasceu de uma ala com o mesmo nome, que desfilava desde 1976 no bloco Tigre de Bonsucesso. O samba do bloco sofre modificações todo ano, contudo o refrão é marcante: “O Gargalo Taí, o Gargalo chegou, samba gente que a ressaca acabou”.