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Oficina coordenada por Conceição Evaristo agita o WOW

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Escritora aborda, entre outros temas, o conceito de EscreVivência, criado por ela

Em 16/11/18 – Por Jéssica Pires

Oralidade, ancestralidade e protagonismo foram temas de destaque na oficina “Memórias e EscreVivências”, comandada pela escritora Conceição Evaristo, no primeiro dia de WOW. Realizada no Museu do Amanhã, a oficina atraiu dezenas de participantes. Entre as atividades propostas, estavam a exibição de um filme e a leitura de um texto, ambos apresentando provocações sobre protagonismo na literatura. As dificuldades sobre o processo de aprendizado; a importância das subjetividades e outros saberes também foram levantados durante a oficina. No público, educadoras, professoras e professores da rede pública de ensino, jornalistas, e ainda uma maravilhosa surpresa – a filósofa, escritora e ativista Sueli Carneiro.

Conceição Evaristo nasceu na década de 1940, em uma favela de Belo Horizonte. Filha de uma lavadeira, precisou conciliar o trabalho de empregada doméstica com os estudos. Ainda assim, publicou diversos poemas, contos e livros. Criou o termo “EscreVivência”, que, segundo ela, é uma “tarefa intelectual-negro-feminina por excelência de renarrar criticamente o imaginário social hegemônico brasileiro”. Conceição Evaristo concorreu este ano a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, onde seria a primeira escritora negra.

 

Memórias e Escrevivência com Conceição Evaristo ? Suzane Santos/AMaréVê

Mulheres trocam experiências sobre alimentação e os “tipos” de fome

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Você tem fome de que: consciência e saúde na alimentação. ? Karina Donaria / AMaréVê

Realizado no Museu de Arte do Rio (MAR), o diálogo discutiu a qualidade do que se come e a relação dos alimentos com o prazer e a empregabilidade

Em 16/11/18 – Por Amanda Soares

A jornalista e escritora Sônia Hirsch abriu a troca de experiências “Você tem fome de quê? Consciência e saúde na alimentação” afirmando sentir-se feliz por ver uma questão tão delicada sendo debatida em um Festival de Mulheres. A autora de “Sem açúcar com afeto” criticou os hábitos de consumo atuais. Para Sônia, o prazer de comer tem sido privilegiado em relação ao valor nutricional dos alimentos. “Comida virou entretenimento”.  A escritora defendeu que as pessoas precisam ser mais críticas quanto à origem do que comem.

Favela Orgânica

“Eu tenho fome de que as pessoas comam até o talo, literalmente”, provoca Regina Tchelly, criadora do Favela Orgânica, projeto que ensina moradores do morro da Babilônia a aproveitarem ao máximo os alimentos. Regina falou ainda sobre alimentação e qualidade de vida para além da substituição do industrial pelo orgânico. “De nada adianta mudar sua alimentação para 100% natural, se você não se conhece, não se entende e a mudança não te toca.”

Em sete anos de trabalho, Regina descobriu que todo o processo de produção do alimento – da lavoura até a mesa – impacta na saúde das pessoas. “Quando desenvolvi o Favela Orgânica, eu só queria acabar com as sobras. Eu não conhecia os agrotóxicos. Fui conhecer que alimentação saudável é muito mais do que imaginava.”

Outras fomes

“A minha fome é por justiça social, a justiça de Xangô, meu orixá”, diz Carmem Virgínia, proprietária e chef do restaurante Altar, em Recife (PE), que descreveu, muito emocionada, a relação dos candomblecistas com os alimentos. Na vida de Carmem, culinária e religião estão intimamente ligadas. Isso desde menina, quando, escondida, espiou o preparo das oferendas para Xangô. “Toda casa precisa ter seu próprio tempero. E é uma coisa de família: o meu bisavô era africano, e, na casa dele, eles já tinham o próprio tempero”.  E acrescenta: “Quando cozinhamos passamos coisas para a comida. É preciso se livrar de vícios para cozinhar para o orixá”.

Também emocionada, Mariana Aleixo, coordenadora da empresa Maré de Sabores (buffet e oficina de culinária criada por e para mulheres da Maré), disse ser fundamental criar-se alternativas de trabalho para as mulheres. A iniciativa que, no início, visava melhorar a qualidade da alimentação de alunos de uma escola da Maré e dar formação técnica para mulheres acabou por se tornar um buffet, que emprega moradoras e se propõe a ser mais que um serviço. “O buffet traz uma provocação para os clientes: Qual tipo de consumo você quer ter? E como teu consumo impacta na vida de outras pessoas?” . E você aí? Você tem fome de quê?

Eles também estão no Festival

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O representante da Maré, Henrique Gomes, falou do pensamento do homem feminista na favela.

Uma mesa diferente reúne homens para falar do universo feminino

Em 16.11.18 – Por Hélio Euclides

A discussão de igualdade de gênero na visão de homens. Essa foi a provocação realizada na manhã do primeiro dia do WOW – Festival Mulheres no Mundo. A mesa foi mediada por Jude Kelly, idealizadora do WOW e ex-diretora artística do Southbank Centre. Ela incentivou os homens presentes a continuarem a ser feministas. “Não pode desistir, não é fácil, pois os outros homens pensam que vocês mudaram de lado, que são traídores”, enfatiza.

Avanido Duque da Silva, gestor de negócios da Actionaid, falou da necessidade de não se desviar da igualdade. “Quando colocamos os óculos da desigualdade, nunca mais você vai ver o mundo como antes. Essa fala incomoda. Mas o que ameniza é saber que muitos homens pensam como eu”, diz. Para Daniel Costa Lima, consultor independente no campo de gênero, a paternidade mudou sua vida. “Ser pai de classe média é mais fácil ser engajado. O difícil é ser homem negro, que precisa dedicar seu tempo ao trabalho, e não consegue viver a paternidade total”, conta.

A única mulher palestrante, Sandra Vale, consultora de gestão de desenvolvimento institucional da Promundo, disse que a desigualdade já chegou ao limite. “Precisamos mudar essa política que não fala de gênero, raça e direito”, expõe. O representante da Maré, Henrique Gomes, falou do pensamento do homem feminista na favela. “Parece que é um crime. Meus amigos me acham um chato, e já fui expulso de grupo de zap. O meu pensamento passa pelo meu entendimento político, que aprendi com Eliana Sousa (fundadora da Redes da Maré), sobre o investimento no diálogo sempre”, conclui.

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Começa no Rio a 1ª edição do WOW na América Latina

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Festival Mulheres do Mundo reúne representantes de todas as parte do globo para trocas de experiências, ideias, debates e muito mais

Em 16/11/18 – Por Eliane Salles

Às 10h da manhã, desta sexta-feira, 16, foi iniciado um evento inédito no Rio de Janeiro e na América Latina: WOW – Festival de Mulheres do Mundo. A mesa “Boas-vindas ao Wow”, que abriu o evento, foi composta por Jude Kelly, idealizadora do movimento WOW e ex-diretora artística do Southbank Centre (um dos maiores centros culturais da Europa) e Eliana Sousa Lima, fundadora da Redes da Maré – entidade curadora da edição carioca do festival. O movimento WOW foi criado em 2010 e já esteve presente em 23 países do mundo.

Durante a manhã, foram realizados nove Diálogos (conversas entre ativistas, intelectuais, representantes de territórios periféricos, entre outras). “O ser humano que nós, mulheres, pensamos e queremos e a educação que precisamos para isso”, “O poder/lugar de fala contra o silenciamento das vozes das mulheres” e “A conversa aqui é eles com elas pela igualdade de gênero” foram alguns deles.

Também foram realizadas sete oficinas, entre elas “Mulheres e Escrevivência”, e duas performances. Também foram abertas as exposições “Arte Democracia Utopia – Quem não luta tá morto” e “O Rio de Samba: resistência e reinvenção”. As atividades acontecem até domingo, 19, no Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio (Mar), Praça Mauá e Armazem 1. À tarde tem muito mais. Não perca.

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Operação do BOPE deixa 4 mortos, 4 feridos, milhares de crianças sem aulas e postos de saúde fechados na Maré

Fotos: Douglas Lopes

Em 06/11/2018 – Por Jessica Pires, Eliane Salles e Dani Moura

Mais uma operação deixa moradores da Maré em pânico, milhares de crianças fora da escola e outros tantos moradores sem atendimento médico. Um pouco depois da meia-noite de hoje (06), Caveirões do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar (COE), que incluem Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Batalhão de Choque e o Batalhão de Ações com Cães, deflagraram uma operação policial nas favelas Parque União, Parque Maré, Rubens Vaz e Nova Holanda. A ação, que segundo a polícia, foi de emergência, teve, mais uma vez, um resultado catastrófico. Até momento (17h), registram-se oito vítimas (quatro mortos e quatros feridos) entre elas um professor e um jovem que sofria de transtornos mentais. ?
Apesar da declaração do major Ivan Blaz sob a legalidade da operação, a mesma desrespeita os pontos estabelecidos na Ação Civil Pública (ACP), firmada em julho de 2017. A ACP tem por objetivo reduzir danos causados pelas operações à população local e estabelece algumas regras a serem seguidas como o fato de não poderem ser realizadas juntamente com a execução de mandados de busca e apreensão. Embora a ação tenha sido caracterizada como de urgência e emergência, pela ACP ela não poderia realizar invasões a domicílio de madrugada e uma série de outras violações de direitos. Outro ponto assegurado na ACP é que as viaturas policiais têm de estar equipadas de câmeras de vídeo e áudio, além de GPS; e ambulâncias devem estar nas imediações para socorrerem possíveis vítimas. Todas essas cláusulas foram descumpridas. ACP, intermediada pela Defensoria Pública do Estado, é um documento legal firmado entre representantes da Maré e o Comando das Polícias Civil e Militar.?

Ação Civil Pública (ACP), firmada em julho de 2017

Familiares e moradores protestam contra truculência?
Por volta de oito horas da manhã, a Redes da Maré foi chamada por moradores que identificaram uma pessoa baleada, ferida e amarrada na Rua Teixeira Ribeiro, na Nova Holanda. A rua é o principal acesso à favela e centro comercial da comunidade. Ao chegar ao local, a equipe identificou o óbito e acionou de imediato o Ministério Público e a Defensoria Pública Estadual. O corpo era de Willian Figueira de Oliveira, de 36 anos, professor de Física que morava na Maré há 11 meses e trouxe sua esposa do Nordeste, na última semana. Há relatos que o homicídio ocorreu por volta das 5h e embora o “Caveirão” tivesse passado duas vezes pelo local, nenhum comunicado havia sido feito para que a Delegacia de Homicídios enviasse a perícia ao local. Outro corpo levado, em outro momento, à Avenida Brasil foi o da moradora conhecida, até o momento, apenas como Zezé.?
Como forma de protesto, moradores levaram o corpo de William num carrinho até a Avenida Brasil. Segundo os moradores, ação foi consequência do descrédito sobre a possibilidade da Polícia Civil entrar na favela para realizar a perícia e remoção dos corpos. O não informe das mortes por parte da Polícia Militar do Rio de Janeiro também fere a Ação Civil Pública e a Constituição, que estabelecem a necessidade da comunicação imediata de um óbito à Delegacia de Homicídios. A Polícia Civil só foi informada dos homicídios às 10h e pela Redes da Maré.?
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Mortos e feridos?
Até o momento, foram confirmadas quatro mortes. São eles: Marcos Paulo Fernandes Mota (que passeava com o cachorro quando foi alvejado); Tiago Ramos Pereira; o professor William e uma moradora identificada apenas Zezé. Não há, até o momento, confirmação que as vítimas tivessem ligações com ações criminosas. Os feridos já identificados são: Lenilson Viana da Costa, Raul Seixas Pereira Ribeiro, Rodson Gomes e Daniel (que sofre de transtorno mental).?
Segundo a Polícia Militar, desde o início da operação, foram apreendidos cerca de 300 quilos de drogas, um fuzil de airsoft, dois canos de fuzil calibre 7.62, uma granada, um colete à prova de balas e uma luneta. A PM se abstém de contabilizar mortes, escolas sem aulas, postos de saúde sem atendimento, prejuízos ao comércio fechado, além de outras violações de direitos, como a revista, sem mandado, a casas de moradores. “A polícia sempre chega no clarear da manhã. Essa é a primeira vez que vejo a polícia chegando assim à noite. Até achei que fosse briga de facção. Ninguém dormiu”, comentou Isabel Ignácio (52).?
A Redes da Maré segue acompanhando a operação e em plantão para recebimento de informações e denúncias pelo Maré de Direitos, telefone: (21) 99924-6462.?

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Para combater doenças, Fiocruz liberará na Maré mosquitos “do bem”

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Maré de Notícias #94 – 01/11/2018

Insetos com bactéria wolbachia podem ajudar a diminuir casos de dengue, zika e chikungunya

Maria Morganti

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prevê para o fim de novembro a liberação, nas favelas da Maré, de mosquitos aedes aegypti com uma bactéria, a wolbachia, que dificulta a transmissão de doenças como dengue, zika e chikungunya. Em bairros como Olaria, Manguinhos, Complexo do Alemão, Tubiacanga e Bancários, na Ilha do Governador, a liberação já foi feita. Essa bactéria de nome difícil de ser pronunciado, wolbachia (volbakia), passou a ser usada no combate a doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti quando cientistas da Universidade de Monash, na Austrália, identificaram que, assim que ela era aplicada nos mosquitos, a capacidade de transmissão das doenças ficava reduzida. Os especialistas explicam que a wolbachia é um microrganismo presente em cerca de 60% dos insetos da natureza, e que só consegue ficar viva dentro das células dos mosquitos. Por isso, é um método seguro, que não afeta os seres humanos.

Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz responsável pelo projeto, explica que, para auxiliar na liberação dos mosquitos, conta com a ajuda de instituições locais. “Em todos os territórios em que a gente trabalha, tentamos identificar entidades para parcerias. Pra gente poder trabalhar bem customizado, de uma forma que seja bastante adaptada à realidade local”.

 Na Maré, o projeto está sendo feito em parceria com o “Heróis Contra a Dengue”, iniciativa da Redes da Maré que, apoiada e financiada pela ONG alemã Ireso, atua desde o início do ano em escolas como a Estadual João Borges, na Nova Holanda, e a Municipal Ginásio Escritor Millôr Fernandes, no Salsa e Merengue.

Reforço com heróis

Kelly Marques, coordenadora do “Heróis Contra a Dengue”, conta que o projeto atua para que alunos sejam capazes de serem multiplicadores de ações para combater focos de aedes aegypti e ainda torná-los protagonistas do conhecimento, da ciência. “Eles passam por um processo de formação. São sete capítulos e, geralmente, mais um encontro pra eles testarem se estão conseguindo fazer a abordagem na rua. Aí, começa, de fato, a conscientização, casa a casa. Na verdade, a proposta é que eles sejam protagonistas do próprio ensino”.

A importância do dever de casa

“Eu acho muito importante a parceria com o “Heróis contra a dengue”, porque a gente, apesar de estar trabalhando de uma forma que solta mosquito, que é um pouco contrária, a gente sempre fala que as pessoas têm de continuar fazendo seu dever de casa que é destruir criadouros. Porque o que a gente quer, no final, é ter menos mosquito, mas que esses mosquitos tenham wolbachia. E isso vai ser uma utilidade complementar à nossa, que é muito importante e que tem de ser feita”, afirma o pesquisador Luciano Moreira.

Afra Morais, de 12 anos, uma das alunas do ‘Heróis contra a dengue” na Escola Millôr Fernandes, diz que conscientizar as pessoas sobre os potenciais criadouros dos mosquitos é o ponto alto de sua semana. “É a coisa mais importante que eu faço, que é informar todo mundo do que pode acontecer. Porque tinha muita gente morrendo, um monte de gente pegando zika. Minhas amigas aqui na escola mesmo. Elas ficavam semanas sem vir pra escola. Aí quando eu fiquei sabendo do projeto, eu quis logo entrar”.

Resultados “pé no chão”

De acordo com o pesquisador Luciano Moreira, os efeitos da liberação dos mosquitos com wolbachia na Maré não poderão ser sentidos neste verão. “O processo de liberação dos mosquitos demora quase quatro meses. Então, se a gente começar agora no fim de novembro, lá para março só que a gente termina o processo de liberação. E aí a wolbachia tem de se estabelecer, não é uma coisa de um dia pro outro. Eu seria mais pé no chão dizendo que poderia ver algum resultado no outro verão, não neste”.