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O racismo disfarçado de intolerância religiosa

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Entre agosto e outubro, 42 denúncias contra casas e praticantes de umbanda e candomblé no Rio

João Ker

Santos, orixás, espíritos, entidades, deuses e ancestrais. Como “Estado laico”, o Brasil, em tese, deveria respeitar a manifestação de todo e qualquer tipo de fé, seja ela praticada em igrejas, mesquitas ou em terreiros. Ainda assim, num País onde 86,8% da população se declaram cristã, de acordo com o IBGE, os casos de intolerância religiosa chegaram a 697 denúncias apenas entre 2011 e 2015. No Rio, esse índice já cresceu 119% no ano passado, com um enorme agravante: a maioria dos casos ocorre contra religiões de matriz africana, provando que mesmo 130 anos após o fim da escravidão, o racismo continua fazendo vítimas pelo País.

“Nos últimos meses, observamos um aumento considerável no número de casos de intolerância religiosa no Estado, principalmente contra seguidores e casas de umbanda e candomblé. Apenas entre agosto e outubro, já foram 42 denúncias, cerca de uma a cada dois dias”, admite Monalyza Alves, assessora técnica da Subsecretaria de Direitos Humanos, Justiça e Cidadania do Rio de Janeiro. Para ela, a mais alarmante semelhança entre esses números são os requintes de crueldade em cada ato, que atinge desde crianças em sala de aula até idosos praticantes.

No total, 91% dos casos de intolerância registrados no Rio são contra religiões como a umbanda e o candomblé, que historicamente já representam uma resistência da população afrodescendente desde que nasceram no Brasil. “Claramente, esse número reflete um racismo que está impregnado na sociedade. E, assim como ele, o preconceito religioso também tem sua origem na colonização do País”, afirma Monalyza.

Apesar das inúmeras vertentes e particularidades, duas religiões de matriz africana são as mais presentes por aqui: o Candomblé e a Umbanda. Trazido ao Brasil pelo intenso fluxo de escravos africanos entre os séculos XVI e XIX, o candomblé desembarcou no País sob o preconceito de “feitiçaria”, uma vez que o Cristianismo vigente na época não tolerava suas divindades (a religião dos povos indígenas passou pelo mesmo processo, vale lembrar). Para que a população afrodescendente pudesse prosseguir com os cultos, os orixás foram se misturando aos santos da Igreja Católica e o sincretismo que surgiu foi sendo praticado em terreiros fechados e escondidos. Mais tarde, durante a década de 1920, a umbanda se desenvolveu no Rio de Janeiro, mesclando uma série de referências como o kardecismo espírita, o cristianismo, a cabula e o próprio candomblé.

Mas se antes a repressão vinha pelas mãos dos senhores da Casa Grande, hoje o preconceito se manifesta até entre os traficantes das periferias cariocas. Em setembro, um vídeo no qual um dos líderes do tráfico de Nova Iguaçu obriga uma Ialorixá (conhecida popularmente como mãe de santo) a destruir seu próprio terreiro viralizou, expondo em nível nacional um problema que não mostra sinais de diminuição. O homem foi preso, mas ainda assim o discurso preconceituoso persiste.

“Nós já levamos a questão às Polícias Militar e Civil para que as medidas cabíveis sejam tomadas. Mas ainda temos um longo caminho para percorrer”, explica Monalyza. Dentre as medidas de prevenção, mapeamento e oposição a esses crimes, ela cita a importância do Disque Combate ao Preconceito (2334 – 9551), que também atende vítimas de LGBTfobia e racismo. Além disso, foi aprovada pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) a criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI), ainda em processo de implantação. “Ela será uma ferramenta importante na luta contra esses casos”, afirma a assessora.

Enquanto a Delegacia não fica pronta, o sentimento geral que invade os praticantes de religiões africanas no Rio é o medo ou a descrença de que este quadro melhore. “Não vejo uma luz no fim do túnel para isso e nem como mudar essa situação. Até hoje as nossas religiões ainda são vistas como ‘negativas’ ou ‘demoníacas’, da mesma forma que acontecia quando elas surgiram”, explica a estudante Victoria Régia, praticante de candomblé. “É muito bizarro sentir que os cristãos tentam enquadrar a minha religião no padrão deles, como se fosse uma imposição necessária. Não tem nada a ver uma coisa com a outra, são duas formas de trabalhar a fé completamente diferentes”, reclama.

Para ela, o crescimento desses crimes de intolerância no último ano pode ser diretamente relacionado a figuras como o bispo Marcelo Crivella (PRB) na Prefeitura da capital fluminense. “A imagem dele está completamente vinculada ao protestantismo, que tem um enorme histórico de perseguição às religiões de matriz africana. Esse não é um governo onde eu e meus irmãos de fé conseguimos nos sentir seguros. Na verdade, eu diria que a situação até piorou com ele”, rebate a estudante. A apreensão não é para menos. Ainda em outubro, a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro realizou um verdadeiro culto evangélico em seu interior, com direito a músicas gospel e mãos dadas entre os políticos, todos liderados pelo vereador e também bispo Inaldo da Silva (PRB), colega de Partido do prefeito.

Pessoas de diversas religiões participaram da caminhada em Copacabana no dia 17 de setembro | Foto: Elisângela Leite

Mas se depender do povo carioca, ainda haverá resistência. Um mês antes do culto no plenário, mais de duas mil pessoas já haviam lotado a Avenida Atlântica, em Copacabana, em uma marcha a favor da livre expressão da fé. O evento, batizado de “Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa”, foi promovido pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e, mais do que crenças africanas, reuniu também judeus, islâmicos, budistas, cristãos e até wiccas. O objetivo foi mostrar que, independente do credo, é possível conviver de maneira pacífica em sociedade. “O momento foi lindo, porque mostrou que ainda temos alguns aliados. Pessoas que estão dentro dessas outras religiões e que não nos olham de forma pejorativa”- declara Victoria, que foi à marcha acompanhada do amigo Victor Soriano.

Representante da CCIR, o Babalowô Ivanir dos Santos, um dos organizadores da Caminhada, explica que o momento não é de baixar a guarda e, sim, de continuar lutando: “devemos exigir que esses casos de intolerância religiosa e racismo sejam apurados com a máxima urgência possível.”

A preocupação é reverberada pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos, que insiste em combater os casos de todas as formas, auxiliando sempre que possível quem sofre com esses crimes. “Nós oferecemos assistência jurídica, psicológica e social para as vítimas. E, além do Disque Combate ao Preconceito, a Secretaria está em constante contato com associações religiosas e com os órgãos de Segurança para mapear esse tipo de ocorrência e atuar para que esses agressores sejam punidos”, alega a assessoria.

O meio mais significativo nesse combate, Monalyza reafirma, é a denúncia. Apenas por meio dela é que os dados reais poderão ser coletados e, assim, a urgência desse quadro ser levada a um patamar nacional. “Muitas pessoas deixam de denunciar, por não acreditarem em uma punição ou por medo de represálias. Isso dificulta que consigamos ter um retrato real da intolerância no estado. Por isso, reforçamos sempre a importância da denúncia como delito de preconceito religioso”, explica.

Questionada pelo Maré de Notícias, a Prefeitura do Rio disse que “a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, através da Subsecretaria de Direitos Humanos e das Coordenadorias de Respeito à Diversidade Religiosa (CRDR) e de Igualdade Racial, tem se manifestado de forma contumaz contra toda forma de preconceito religioso e racial, repudiando atos de violência e agressões.”

ONDE DENUNCIAR

Disque Combate ao Preconceito (2334 – 9551), que também atende vítimas de LGBTfobia

Na Maré a arte tem liberdade de ser arte

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Daniele Moura

Pode entrar. Por aqui, arte, na Favela da Maré, você tem espaço. Em tempos de censura à arte, inconstitucional vale destacar, em alguns museus de capitais brasileiras, a Maré, com liberdade, abre as portas de seus espaços culturais para receber duas grandes exposições em homenagem ao Dia da Consciência Negra. A vida da escritora, professora de escola pública e ativista do movimento negro, Conceição Evaristo, é apresentada ao público do Rio de Janeiro até o dia 10 de dezembro, no Centro de Artes da Maré. São textos, manuscritos de cartas e poemas que fazem o visitante viajar para a favela mineira em que a escritora cresceu. Graças à sua mãe, a lavadeira Joana Josefina Evaristo Vitorino, Conceição cresceu rodeada de palavras. A matriarca, inspirada em Carolina Maria de Jesus, escrevia em cadernos recolhidos nas ruas, os pensamentos sobre o dia a dia, as dificuldades da vida na favela, poemas e frases soltas. Uma inspiração e tanto para uma criança curiosa.

Conceição, que nasceu numa favela da Zona Sul de Belo Horizonte, vem de uma família muito pobre de 9 irmãos. Desde de muito cedo, teve de conciliar os estudos trabalhando como empregada doméstica, até concluir o curso Normal (magistério), em 1971, já aos 25 anos. Mudou-se então para o Rio de Janeiro, onde lecionou em escolas públicas de favelas e periferias, além de estudar Letras na UFRJ. Nos anos 1980, entrou para o movimento negro e, em 1990, estreou na literatura, com obras publicadas na série Cadernos Negros. A escritora é doutora em Literatura pela Universidade Federal Fluminense.  Suas obras abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe e já foram traduzidas para o inglês.  Uma referência de mulher negra.

 

O trabalho educativo

Pâmela Carvalho com um grupo de estudante no trabalho educativo da Exposição | Foto: Elisângela Leite

Na Exposição, exemplares de publicações reconhecidas, como “Ponciá Vicêncio”, seu primeiro romance, “Becos da Memória”, “Poemas da Recordação” e “Outros Movimentos” e os livros de contos “Insubmissas Lágrimas de Mulheres”, “Olhos d´Água” e “Histórias de Leves Enganos e Parecenças”, estão à disposição do visitante de todas as idades, incluindo estudantes que também podem participar de atividades educativas. Ian Alex dos Santos, de 10 anos, ficou feliz em saber que há uma referência negra na literatura. “Eu acho bom saber que é possível uma pessoa negra estar escrevendo e ser famosa. Eu achei muito legal”. Já Mateus disse que saiu mais sabido da Exposição. “Aprendi sobre racismo para não ficar zoando os outros por cauda da cor. Não leva a nada”, disse o menino.

Três vídeos foram produzidos especialmente para a Mostra. Um deles traz imagens de Conceição Evaristo em diferentes situações, com a voz da autora declamado trechos de suas obras e falando sobre a sua vida. Outro, registra a leitura feita por ela de trechos do livro “Becos da Memória”, explicando o contexto em que o livro foi criado. O último tem depoimentos de professoras e alunas de escola do Rio de Janeiro sobre a literatura da escritora mineira.

A professora da Rede Municipal de Ensino, Bruna Bastos, levou sua turma para conhecer a Exposição. “Eles amaram, eu também. Me emocionei com o poema que ela faz referência à avó. A gente sempre pode ter exemplos de gerações mais antigas para melhorarmos. Falo isso muito para meus alunos. Sempre é possível.”

Pamela Carvalho, que trabalhou por dois anos no MAR, Museu de Arte do Rio, está agora no educativo desta Exposição na Maré. “A coisa mais importante é estar nesse território, estamos na favela da Nova Holanda falando de uma mulher negra, potente, que pode ser a referência de identificação para muitas crianças daqui. Eu nasci na favela, cresci na favela, não me lembro de ter sabido de uma Exposição como essa acontecendo em territórios de favela no Rio. Essa história que estou vivendo é um marco na existência dessas crianças e das pessoas que por aqui moram”- completou.

Visitantes na Mostra Diálogos Ausentes no Galpão Bela Maré | Francisco Valdean

A Mostra transpira as “escrevivências” de Conceição, como ela mesma se refere ao seu trabalho – uma escrita que nasce das vivências, vivendo para narrar, narrando o que vive. Toda a sua obra é permeada por questões raciais, de gênero e de classe, explorando, sobretudo, a condição e a complexidade da mulher negra. Seus romances, contos e poemas revelam a condição dos negros no Brasil, e podem ser considerados como grandes ferramentas na luta contra o racismo e o machismo, tão presentes na sociedade. “Minha escrevivência vem do cotidiano dessa cidade que me acolheu há mais de 20 anos e das lembranças que ainda guardo da minha”, diz a escritora, que hoje mora no Rio.

A poucos passos dali, também é possível refletir sobre machismo e racismo. No galpão Bela Maré, a Mostra “Diálogos Ausentes’, em parceria com o Observatório de Favelas, apresenta obras de 17 artistas negros brasileiros das artes visuais, cênicas e do audiovisual, entre individuais e coletivos, como André Novais, Eneida Sanches, Dalton Paula e Coletivo Negras Autoras.

A Exposição trata das questões raciais traduzidas em objetos, instalações, vídeos, performances, fotografias, esculturas e projeções, e foi fruto de uma série de encontros realizados durante este ano e o ano passado, com o objetivo de analisar a representação dos negros nos diversos segmentos artísticos e expressões culturais. No Rio, a edição desta Mostra conta com obras que não foram vistas em São Paulo, de Eustáquio Neves, Heberth Sobral e Gessica Justino – esta última é carioca, como Yasmin Thayná e Aline Motta também com trabalhos ali presentes. A curadoria da Mostra Diálogos Ausentes é de Rosana Paulino e Diane Lima.

Tanto a Mostra do Centro de Artes, quanto a do Observatório de Favelas passaram pelo Itaú Cultural em São Paulo e vieram, especialmente, para a Maré. São mais de 300 visitantes por semana que os dois centros culturais estão recebendo nas Mostras. “Tem sido muito significativo, a gente não tem registro na cidade de exposições com obras feitas por artistas negros, falando para o negro sobre questões que envolvem o negro de favela. A única é esta aqui, e é um assunto que precisa cada vez mais ser falado, disse Michele Barros, educadora do Galpão Bela Maré.

 

 

 

Maré de Notícias #81

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Um Rio realmente para todos

João Ker

“Como é o Rio de Janeiro no qual você quer morar pelos próximos 4 anos? O que precisa mudar para que ele se torne realidade? Como você, morador da Cidade (nem sempre) Maravilhosa, pode contribuir para que essas mudanças sejam feitas?”. Essas e outras perguntas deram o tom do “Encontro de Favelas”,no Centro de Artes da Maré, em 26 de agosto. Por lá, mais de 90 representantes da sociedade civil se uniram para debater o Plano Estratégico organizado pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB) e apresentar uma nova versão do documento, para que as necessidades da periferia não fossem ignoradas.

O Plano Estratégico é o contrato que  Crivella firma com o Rio para o seu mandato: o que ele pretende implementar, mudar e melhorar está escrito ali em forma de metas. A sociedade carioca deve reavaliar e reinvidicar as 65 iniciativas e 101 metas propostas pela Prefeitura, em até 90 dias após a entrega do Plano, que começou a ser articulado pela Casa Fluminense, que produziu três oficinas abertas sobre o tema. O resultado dessas discussões foi entregue aos responsáveis na 1ª audiência pública realizada pela Prefeitura.  “Na nossa forma de atuação, temos uma preocupação com o monitoramento de políticas públicas, sempre buscando isso de forma participativa”. ”, explica Henrique Silveira, 31 anos, coordenador da Casa Fluminense. “Agora, iremos consolidar uma segunda versão desse documento. Precisamos de uma audiência com a Prefeitura e outros membros da sociedade civil para negociar quais são as mudanças possíveis.

Mas Prefeitura do Rio não parece estar muito engajada com o que os cidadãos realmente querem. A plataforma digital oferecida pelo governo havia prometido várias etapas de consulta pública, mas dois meses depois de entregar o Plano, apenas uma sessão foi realizada. A participação foi mínima:  354 pessoas responderam a um levantamento que nem fazia menção às metas. As audiências públicas, graças à falta de divulgação, não tiveram representatividade popular  expressiva , assim como não houve um trabalho de conscientização que explicasse, de forma clara, qual a base e as propostas do Plano.

Os três encontros públicos organizados pela Casa Fluminense ajudaram a consolidar um novo documento de demandas populares. Nele, são estabelecidos 12 pontos prioritários, além de 44 metas comentadas e reavaliadas com base no que o povo precisa. “Precisamos fazer um esforço em cima das metas que queremos alteradas. Queremos ver acontecer! Os políticos deveriam ter mais cautela na hora de prometer qualquer coisa. E a sociedade precisa estar mais atenta para cobrar tais promessas”, finaliza Henrique Silveira.

PRINCIPAIS PONTOS E REINVIDICAÇÕES:

SEGURANÇA PÚBLICA

Não à toa, esse foi o Grupo de Trabalho com o maior número de participantes, um fato que por si só já diz bastante sobre as demandas da periferia. Basicamente, a discussão pode ser resumida em um pedido: que a segurança do Rio de Janeiro seja acessível para toda a cidade, e não apenas para o entorno da orla, como o Plano prevê. “Não acreditamos que segurança comunitária se faça com mais polícia. Hoje, mesmo sem ter esse poder, a Guarda Municipal já é repressiva, violenta e abusa do uso desmedido da força. É preciso uma capacitação melhor desse serviço.” explica Marina Motta, da Redes da Maré.

EDUCAÇÃO

O ponto prioritário é o aumento de 73,7% das matrículas em tempo integral na Rede pública, até 2020. No caso específico da Maré, um dos pontos mais cruciais foi a suspensão das aulas por causa das operações policiais no horário escolar. “Os únicos comentários feitos eram sobre a reposição de aulas. O que nós queremos é a ausência de operações nesse horário, até porque as reposições nunca são no mesmo nível”, explica Alexandre Dias, professor de uma escola municipal da comunidade: “a Secretaria de Educação tem de discutir com a Secretaria de Segurança Pública do Estado”, afirma. Dentre os outros pontos que mereceram destaque nas rodas de conversa e não foram contemplados pelo Plano Estratégico estão o acesso de jovens com problema de mobilidade às escolas; o número de alunos em sala de aula; e a falta de auxiliares da educação – pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais.

SAÚDE

A falta de transparência nas propostas foi o maior incômodo para os moradores de favela, já que o Plano não explica como as metas lançadas – como a abertura de novas Clínicas de Especialidades – podem ser efetivadas com o atual orçamento carioca.  “Isso não é um mal negócio, mas precisamos entender que não pode haver nenhuma diminuição. E é importante que esse atendimento não seja feito à custa de quem mora na favela”, aponta André Lima, Conselheiro de Saúde em Manguinhos. O Grupo de Trabalho também levantou um plano de carreira para agentes de saúde; questionou a falta de atenção à saúde mental e a dificuldade de acesso aos tratamentos pela rede pública.

CULTURA

A carência de um entendimento amplo e inclusivo sobre o que é a cultura evidenciou a necessidade de mais fomento ao setor, assim como  maior democratização do  acesso. “O direito aparece só no que diz respeito ao consumo da cultura em padrões já pré-estabelecidos. Não há nada sobre a produção ou mobilização. É um lugar no qual você não tem nem autonomia de escolha no que quer consumir – é apenas voltado para o que eles acham válido”, explicam Isabela Souza,  do Observatório de Favelas; Luiza Fenizola, da Comunidades Catalisadoras; e Jaqueline Andrade,  assistente social da Redes da Maré.

Outra ideia rechaçada pelo Grupo foi a criação de um Museu da Escravidão. “O objetivo é debater que tipo de memória queremos. Quando você cria um museu com esse nome, está restringindo a história negra aos movimentos de escravidão e liberdade. O pior é que não fala exatamente sobre a cultura negra, mas sobre a escravidão, uma pauta eternamente ligada à negritude. É como se a gente só fosse isso”, queixou-se Jaqueline.

MEIO AMBIENTE

Uma das principais falhas do Plano é a falta de atenção a áreas que não têm interesse turístico ou comercial. Com isso, a necessidade de coleta seletiva e saneamento básico para toda a cidade, assim como a inclusão dos catadores nesse processo mostrou-se essencial; o aumento da área verde em periferias, com a implementação do Parque Urbano de Madureira e do Parque Urbano da Serra da Misericórdia, e a criação de uma Política Municipal de Agricultura Urbana foram pontos levantados. “Nós queremos aproveitar essas ações para gerar trabalho e renda nas próprias comunidades, com a permacultura. Por que não capacitar a comunidade para fazer os serviços e gerar não só renda, mas também responsabilidade social na manutenção desses aspectos?” – questiona Edson Gomes,  do projeto Verdejar Socioambiental.

HABITAÇÃO E MOBILIDADE

Aqui, mais uma vez, a sociedade pede transparência, honestidade e bom senso. É o caso do estudo levantado em 2014 e nunca divulgado  sobre o custo real e o faturamente dos transportes públicos, assim como o cumprimento da promessa de construir habitações de interesse urbano no Porto Maravilha. “Tocamos muito no assunto das remoções, que realocaram pessoas em condomínios habitacionais longe de onde  moravam anteriormente. O ideal é existir uma oferta de espaço para os negócios no território onde essas casas são construídas. Isso já acontece na Maré e em outras favelas, até porque os desenhos dessas moradias não contemplam a realidade das famílias que vivem ali”, esclarece Renan Braga, dos projetos Maré Sem Fronteiras, Piratas de Bici e MobRio.

Ilustração feita para o evento

Ilhas de calor urbanas

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Estudo mostra que algumas áreas com menos verde sofrem com a temperatura elevada

Hélio Euclides

Está fervendo, pegando fogo, que lua, maçarico ligado, que calor dos infernos…”. Essas são algumas expressões que ouvimos no período do verão, ou quando o calor invade outras estações do ano. Percebe-se que a temperatura é maior em alguns locais da cidade que em outros, principalmente onde há mais construções e menos vegetação: essas são as ilhas de calor urbanas. Este fenômeno não causa apenas desconforto às pessoas, mas podem ser motivo de doenças, aumentando as taxas de mortalidade, além de elevar a demanda de energia e o aquecimento global. Esse fato estimulou Carolina Hartmann Galeazzi, arquiteta urbanista e doutoranda, a estudar este fenômeno na Maré e as possibilidades de diminuir seus efeitos.

A ilha de calor é um fenômeno climático em que as temperaturas são mais altas nos espaços mais urbanizados, com concentração de asfalto, alta densidade de prédios e materiais que absorvem mais energia solar. O aumento da temperatura se deve, sobretudo, a áreas com ausência ou baixa ocupação de vegetação e pouca permeabilidade do solo. “Podemos sentir que o calor é maior perto da Avenida Brasil, por exemplo. O asfalto absorve calor, além do alto fluxo de carros que soltam altas concentrações de gás carbônico, que também ajudam a aquecer o ar. Quando chove na terra, a água é armazenada e evapora assim que o solo começa a aquecer, diminuindo a temperatura do ar, o que não acontece no asfalto que esquenta e libera calor”, comenta Carolina.

No mapa de ilhas de calor da Região Metropolitana do Rio de Janeiro existe uma grande mancha vermelha sobre a Zona Norte, o que simboliza um local muito quente. Foram identificadas temperaturas mais altas que no centro da cidade, exatamente onde se concentra a maior parcela da população carioca, de 40,2%. Na Zona Norte também há grande número de favelas da cidade, entre elas a Maré. “A Zona Norte é muito densa e tem menos árvores. Um exemplo da baixa arborização é a Praça do Parque União, que sem o sombreamento, se torna um espaço desconfortável termicamente para o seu uso durante o dia, permanecendo vazia”, revela Carolina. Para ela, um dos maiores erros é cimentar o quintal, pois a terra e a vegetação ajudam a amenizar as temperaturas do ar, e ainda auxiliam no controle de enchentes.

Assim como em outros locais da cidade, na Maré se encontram materiais que contribuem com as ilhas de calor: o asfalto, as lajes de concreto e as telhas de fibrocimento, que ficam pretas com o tempo. “A deficiência de ventilação também causada pela densidade construída que impede a circulação de ar penetre nas ruas no nível do pedestre, também auxilia no aumento do calor e, dentro das casas acarreta, além do aumento do calor, aumento da umidade e do mofo e maior risco de se ter doenças respiratórias”, explica a pesquisadora. As ruas estreitas e casas coladas impedem que o ar circule, favorecendo o calor. As casas ficam sem ventilação, e essas edificações não podem se refrescar. Ao circular na Vila dos Pinheiros, percebe-se que as casas próximas ao Parque Ecológico são menos quentes.

 

Amenizar os efeitos das ilhas de calor

Algumas ações podem ser tomadas para diminuir as ilhas de calor, como a valorização das áreas verdes. É preciso sombrear as vias, com arborização das ruas, praças e, porque não, usar vegetação nas fachadas das casas. A vegetação ajuda muito no controle da temperatura, pois, além de sombrear as superfícies que absorvem calor, e quando ela absorve a radiação solar libera vapor d´água, o resultado é menos calor no ambiente. Para lugares em que não há espaço para o plantio de árvores, por exemplo, o jardim vertical pode ser uma solução.

Para ela, plantar hoje é uma solução eficiente para o futuro. O aquecimento excessivo da cidade intensifica o aquecimento global, podendo acarretar outros problemas, como áreas da cidade passíveis de alagamento, pela elevação do nível do mar. “Algumas regiões da Maré estão apenas a um metro e meio do nível do mar, o que pode ser preocupante”, calcula Carolina. Além disso, pode-se melhorar os materiais usados nas construções. A pesquisadora acredita que para contornar a problemática das ilhas de calor é necessário, a princípio, pouco gasto, como pintura da laje e de telhado ou uso do telhado verde. “O ideal é pintar as casas, lajes e telhas com cores claras. As cores, além do seu efeito visual, interferem na capacidade dos materiais de absorver radiação do sol, de refletir, de armazenar e transmitir calor. Um exemplo são os tecidos, as roupas brancas são mais frescas que as pretas. O preto do tecido também absorve calor, já o branco reflete”, lembra Carolina.

Uma solução que se torna problema é o uso do ar condicionado. Quando se instala um ar condicionado a parte interna da edificação fica fria, mas joga ar quente para fora de casa, aquecendo ainda mais a cidade. Na Maré existe um grande número de aparelhos instalados. “É importante que os moradores da Maré tomem conhecimento das causas e consequências das ilhas de calor e que conheçam as formas de suavizar seus afeitos para que possam agir na comunidade pela melhoria do conforto térmico e pela promoção da saúde nos lugares em que moram e trabalham. É importante também que as escolas façam um trabalho educacional com as crianças, mostrando a importância do verde para a própria comunidade, por meio da plantação de hortas e árvores na escola e no entorno. Não entendo essa cultura de ter que ser tudo asfaltado, do campo de futebol ser sintético, e de cimentar o próprio quintal”, questiona a pesquisadora.

Uma Maré de temperatura quente

Na tarde de 11 de setembro, a pesquisadora percorreu as ruas da Maré e entorno, e mediu a temperatura de superfície de diversos pontos, com uso de uma câmera especial: na Avenida Brasil, altura da passarela 10, a medição do asfalto ficou em 37º graus na sombra, e 45º ao sol. Já numa loja da própria via, com fachada preta, a temperatura chegou a 52º graus. O que mostrou a problemática do uso da cor escura. No Centro de Artes foi feita três verificações, com 45º graus na cobertura, telhado externo 52º, e fachada branca 34º. Em uma casa com vegetação na frente, a temperatura era amena, só 30º graus. Outro ponto, se repetiu a temperatura agradável, na Rua dos Lírios, um logradouro com vegetação. Numa laje sem pintura, e batendo sol, a temperatura foi ao limite de 55º graus. No campo sintético da Rubens Vaz, o clima não era para futebol, com 44º graus.

 

Uma pesquisa sobre a favela

O projeto de título “O mar que virou sertão: as ilhas de calor e o conforto térmico na Maré” só está no início. A previsão é, no mínimo, um ano de pesquisa de campo para estudar as ilhas de calor na Maré e as maneiras eficientes de reduzi-las. A Nova Holanda foi escolhida como primeira etapa, depois as análises devem seguir para outras comunidades. “Eu espero que com este trabalho, os moradores possam ter as ferramentas para melhorar o conforto térmico na Maré, dentro do possível, e exigir melhorias no entorno com o objetivo de melhorar a qualidade de vida na Maré e na cidade como um todo, por um futuro mais saudável e sustentável para todos. Outro objetivo é conscientizar os governantes para a necessidade de a população ter um ambiente confortável”, conclui.

O geógrafo Andrews Lucena, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), entende que o estudo das ilhas de calor objetiva identificar os espaços mais quentes na cidade e possíveis estratégias para amenizar seu efeito no conforto térmico da população. “O morador terá condições de compreender como acontece o fenômeno e participar de fóruns junto ao poder público para buscar soluções de diminuir o desconforto térmico no bairro. As soluções passam pelo uso de novos pavimentos e revestimentos nas ruas e casas, além da necessidade de criação e manutenção de áreas verdes”, finaliza.

A cor preta da fachada da loja faz a temperatura chegar perto dos 53 graus, conforme a máquina fotográfica da pesquisadora, que consegue captar o calor por infravermelho | Foto: Carolina H Galeazzi

Consumo ou carinho?

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Para o 12 de outubro, pais tentam ajustar o orçamento à demanda dos filhos. Mas o que fazer quando isso não é possível?

João Ker

Enquanto uns esperam ansiosos a chegada de 12 de outubro, outros começam a se desesperar com o significado perdido da data e a demanda incessante de presentes que ela cria na mente do público infantil. Na TV, na escola e na internet, o Dia das Crianças já começa a espalhar sua publicidade agressiva e a incentivar o consumismo desenfreado dos brasileiros. Mas como lidar com o fato de que nem sempre é possível presentear seu filho ou sua filha com a última boneca da moda, o celular mais incrível ou aquela roupa de marca que todos estão usando? Como dosar o excesso de bens materiais com a oferta de carinho à criança?

Brinquedos por toda parte expostos em uma loja da Vila dos Pinheiros | Foto: Elisângela Leite

“Uma das grandes ilusões dos pais modernos é exatamente a de poder preencher, agradar ou satisfazer seus filhos com o próximo produto a ser oferecido. A mesma ilusão é produtora de sentimentos de culpa, fracasso e desvalorização pessoal quando não pode suprir as expectativas dos filhos. O produto em lugar do afeto e da atenção”, observa Roberto Stern, psicólogo e integrante da Comissão Regional de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Rio. De acordo com ele, há um perigo latente em pais que não conseguem dizer ‘não’ aos filhos e atendem a todas as suas vontades, sem pensar nos danos imediatos e futuros que isso possa causar. “As crianças, provocadas e estimuladas a partir da propaganda e do conhecimento, naturalmente têm demandas sempre renovadas que expressam no interior da família. Quando esta responde atendendo continuamente a estes anseios, cria um padrão de relacionamento onde a oferta dos produtos é o significante do afeto. A criança pode só se sentir amada na presença dos presentes”, explica.

Entretanto, o psicólogo alerta que o problema principal não é a quantidade de presentes que uma criança recebe nesta ou em qualquer outra data, mas a forma como os pais atendem a esse pedido. “Quando eles participam do uso e permanecem próximos aos filhos, isso não funciona de forma equivalente àqueles que meramente entregam o mesmo presente e se distanciam”, aponta Roberto, acrescentando que ainda assim é preciso tomar cuidado com a “bonificação” desenfreada, que também pode ser nociva ao comportamento infantil.

Na escola, esse excesso de produtos e de consumo pode gerar uma diferenciação de certas crianças em relação a outras, um problema que ataca ambos os lados: os que têm demais e os que não conseguem ter. Há mais de 20 anos dando aulas na Ilha do Governador, nas redes pública e particular, para alunos que vão do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, Claudia Thompson conta como alguns alunos mais pobres se comportam próximo ao Dia das Crianças: “alguns criam uma fantasia porque ouvem o tempo inteiro na televisão que precisam comprar isso ou aquilo, ter o celular ou a roupa tal. A gente sabe que aquela família não tem nada disso, conhece a realidade, conhece pai e mãe, mas as crianças vivem em um mundo alternativo. Como você diz para a criança que ela não vai conseguir?” – questiona a professora de Geografia.

De acordo com ela, essas crianças normalmente se sentem isoladas e viram alvos temporários. “Não chega a haver uma inclusão. Quem ganhou quer mostrar que ganhou, a não ser que seja uma pessoa muito amiga. Mas isso depende bastante do aluno. Alguns menosprezam muito o outro, e isso vai da índole de cada um. É um fenômeno que eu observo tanto no ensino particular quanto no púbico. É uma questão de educação”, explica Claudia, que conta já ter ouvido até de alguns pais insensíveis que, se os filhos têm presentes, eles têm o direito de se exibirem.

Essas crianças precisam de atenção.

Ainda que as crianças em situação econômica mais vulnerável possam sofrer bullying ou mesmo uma tristeza temporária por não terem “o presente ideal”, isso não significa que aquelas presenteadas se sintam tão melhores assim. Para Claudia, existe um problema muito mais latente no ensino particular: pais que tentam corrigir a ausência afetiva com bens materiais. “Eu vejo muito disso na classe mais alta, de o pai tentar compensar o amor com presente”.  Ela conta que também já conheceu famílias em que os responsáveis passam o dia trabalhando fora e ainda assim não conseguem suprir algumas necessidades dos filhos: “Eles sempre vão tentar fazer de tudo pela criança, não importa a renda que tenham”, comenta.

Essa impossibilidade muitas vezes gera o processo inverso, como ela observa. Os pais se sentem culpados por não poderem presentear os filhos e, ao invés de suprirem a carência financeira com amor, acabam se distanciando ainda mais. “Quando eles têm problemas com os pais, passamos por situações muito complicadas na escola, porque fica evidente a falta que isso faz. Já tive caso de alunas que tentaram se matar no meio da escola, falando:  “por que meu pai tem filho se não quer saber da gente? Por que ele briga comigo por estar desempregado? Eu não tenho culpa!”, relata.

Com suas mais de duas décadas dedicadas à convivência com crianças e pré-adolescentes dos mais diferentes recortes sociais, Claudia afirma ainda que a necessidade do consumo infantil não é nenhuma novidade e que ela também passava por isso quando tinha essa idade. A mudança real está na relação entre pais e filhos, algo que ao longo do tempo se perdeu de uma forma nada positiva. “As pessoas não estão dando carinho. Em todos os níveis sociais, o que mais falta é atenção. E não precisa ser uma família no modelo tradicional, com pai, mãe e filhos – é só ter alguém que goste e demonstre. O resto, as crianças vão aceitando se você conversar”, alerta.

No âmbito escolar, ela conta que professores, orientadores e pedagogos fazem uma força conjunta para ajudarem os estudantes que eventualmente possam se revoltar com isso: “O que tentamos fazer é mostrar que pode não estar ganhando o presente que se quer hoje, mas no futuro poderá dar aquilo para o seu próprio filho. É preciso fazer um trabalho muito intenso para eles não ficarem perdidos, mas com conversa eles entendem. No fundo, a criança não está preocupada em ganhar presentes. É um problema apenas afetivo”, complementa, reconhecendo que ao longo da carreira já encontrou colegas com pensamentos diferentes e com certa relutância em incentivar alunos a se desenvolverem.

Roberto também afirma que trocar o carinho familiar por presentes, ou mesmo anular a atenção em função deles, pode gerar sequelas no comportamento das crianças. “O desenvolvimento da personalidade de uma criança, até que se torne adulta, está condicionado por muitos fatores e não apenas por um aspecto. Uma família que responda a essas necessidades de atenção, sempre e principalmente com a oferta de produtos, pode facilitar a estruturação de uma pessoa que compulsivamente necessite consumir para aplacar suas ansiedades. Isso pode ir desde um mero hábito consumista até uma situação patológica de consumo compulsivo”, alerta.

Para o psicólogo, as afirmações prestadas por Claudia estão corretas e devem ser levadas em consideração: o mais importante para o desenvolvimento saudável da mente de uma criança está longe de ser o que ela vai ganhar em qualquer data comemorativa: “naturalmente, a sociedade que diferencia e hierarquiza as pessoas por suas diferenças de posses, de cor, de região, de habitação é tremendamente perversa com as crianças, pois estas são afetadas diretamente pela propaganda. Porém não são produtos, mas atenção e afetividade que podem conter e evitar os sentimentos de desvalia que tendem a ser desenvolvidos neste processo”.