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Pré-matrícula para creches do município começa nesta terça, dia 10 de dezembro

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Redes da Maré dá plantão para apoiar famílias nas inscrições que vão até domingo, dia 15 de dezembro

Adriana Pavlova

A Secretaria Municipal de Educação dá início nesta terça-feira (10), às pré-matrículas de novos alunos nas creches da cidade do Rio de Janeiro, para o ano letivo de 2025. As inscrições acontecem somente no site www.matricula.rio até domingo (15), mas, de acordo com o aviso divulgado nas redes sociais da Prefeitura, o responsável que não tiver acesso à internet pode procurar uma unidade escolar mais próxima de sua casa. 

A Redes da Maré também dará apoio às famílias das crianças durante o período de pré-matrícula das creches, dando início à 4ª edição da campanha Vamos pra escola. Haverá um plantão nas sedes de Nova Holanda (Rua Sargento Silva Nunes, 1012) e do Pinheiro (Via A1 s/n – anexo ao CIEP Ministro Gustavo Capanema), de terça a quinta-feira, das 10h às 17h, para auxílio nas inscrições. 

As creches do município aceitam crianças a partir de 6 meses de idade (completados até 31 de março de 2025) a 3 anos e 11 meses. Na hora da matrícula, é importante ter nas mãos as seguintes informações ou documentos:

  1. Nome completo da criança;
  2. CPF da criança, se tiver;
  3. Nome completo de pai, mãe ou responsável legal;
  4. CPF do responsável;
  5. Endereço eletrônico, se tiver;
  6. Telefone de contato;
  7. Número de Inscrição Social (NIS), se tiver;
  8. Rede escolar de origem, se já estudou antes;
  9. Segmento pretendido.

De acordo com o calendário da Matrícula Carioca 2025, o resultado das vagas para as creches será divulgado em 14 de janeiro, com a confirmação da matrícula nas escolas prevista de 15 a 17 de janeiro. Ainda dentro do calendário, de 7 a 10 de janeiro acontece a transferência interna de Ensino Fundamental e EJA. Já as pré-matrículas dos alunos novos de pré-escola, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos vão acontecer de 14 a 17 de janeiro. Neste período, a Redes da Maré também oferecerá apoio às famílias, durante os 4 dias, com plantão em diferentes pontos da Maré, dando prosseguimento à campanha Vamos pra escola 2025.

Para mais informações, os responsáveis podem acessar o site da Secretaria Municipal de Educação ou entrar em contato com a central 1746.

Quatro pessoas morrem e duas ficam feridas em 42ª operação policial na Maré

Ao todo, 44 escolas foram fechadas impactando mais de 15 mil alunos, além de quatro unidades de saúde fechadas

Quatro pessoas foram mortas e duas ficaram feridas durante a 42ª operação policial que aconteceu nesta segunda-feira (9) no Conjunto de Favelas da Maré. A operação de grande porte surpreendeu os moradores que por volta das 5h, já relataram helicópteros sobrevoando a área, veículos blindados (caveirões) e policiais a pé principalmente no Conjunto Pinheiros, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Nova Holanda e Parque União.

Por volta das 7h da manhã, a equipe do eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Maré recebeu relatos de que uma pessoa havia sido morta em um beco no Morro do Timbau. A equipe da Redes da Maré acionou o Ministério Público e o Corpo de Bombeiros, que não haviam sido notificados da morte pelas polícias que atuavam no território. Após o diálogo da Redes da Maré com os agentes, policiais militares fizeram o aviso à Delegacia de Homicídios e realizaram a preservação do local do crime. O corpo de Matheus Gama, de 27 anos, permaneceu no local até às 10h, quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local para atestar a morte. A perícia da Delegacia de Homicídios chegou ao local por volta das 12h.

Além da morte de Matheus Gama, foram identificadas outras três mortes: Wendell Pereira, de 21 anos; Alessa Vitorino, de 30 anos, e um homem ainda não identificado que se encontra no Hospital Geral de Bonsucesso.

Alessa saía de um comércio na Vila do João e seguia para sua casa no Encantado, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela estava acompanhada por Evelyn Tainara, que também foi atingida por disparos. Ambas receberam atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila do João, mas, infelizmente, Alessa não resistiu aos ferimentos. Matheus Ramos também foi baleado e, embora tenha sido identificado pela família, seus familiares ficaram horas sem informações sobre seu estado.

Segundo a Polícia Militar, o Comando de Operações Especiais, Batalhão de Policiamento em Vias Expressas e do 22° BPM (Maré) atuaram nas comunidades da Vila do João, Timbau, Vila Pinheiros e Baixa do Sapateiro com o objetivo reprimir o roubo de cargas e veículos na região. A Polícia Civil também participou da ação por meio da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC).

Ameaças

A equipe da Redes da Maré foi abordada por policiais que em tom de ameaça afirmaram que se identificassem os rostos dos profissionais iriam “caçar as redes sociais” e irem atrás. Logo depois, um policial se aproximou e pediu dados pessoais dos profissionais da Redes da Maré. Essa não é a primeira vez que trabalhadores da Redes da Maré sofrem ameaça por parte dos agentes de segurança do Estado.

Outros impactos

A Redes da Maré, desde 2016, através do Projeto De Olho na Maré, monitora os impactos de operações policiais na Maré. A equipe da instituição realiza atendimento no território nos dias de operação policial para acolher vítimas de violências e violações, buscando facilitar o acesso a direitos.

Nos últimos oito anos, foram registradas 148 mortes das quais em apenas nove foram realizadas perícias.

A operação desta segunda-feira (9) impactou 44 escolas que foram fechadas, sendo 42 municipais e duas estaduais, o que representa 15141 alunos sem aula pela 37ª vez este ano. Quatro unidades de saúde, sendo elas as clínicas da família Augusto Boal, Adib Jatene, Jeremias Moraes da Silva e o Centro Municipal de Saúde Vila do João também precisaram ser fechadas. Além da Clínica da Família Diniz Batista dos Santos que apesar de manter o atendimento à população suspendeu as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.

“Parece que a casa vai cair com esse helicóptero baixo”; “Muitos tiros, é assustador isso”, esses são outros relatos de moradores que viveram a operação policial no território, presos em suas próprias casas, privados dos direitos de ir e vir e dominados pelo medo.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].

Apesar de alegar ‘ação pontual’, operação da PM paralisa escolas e serviços essenciais na Maré

Pelo menos 15 escolas foram fechadas, junto com clínicas da família e mais de 300 empreendimentos

Nas primeiras horas da manhã da última quinta-feira (5), moradores da Nova Holanda e Parque Maré viveram momentos de tensão, medo e incertezas ao acordarem com sons de tiros na região. Sem informações ou qualquer divulgação sobre do que se tratava a situação, observaram a circulação de carros blindados da PMERJ. A presença dos veículos ocasionou diversos disparos de armas de fogo no local o que resultou em correria pelas ruas.

A assessoria da PMERJ informou que tratava-se de uma ação pontual para o reposicionamento dos limitadores de velocidade, blocos de concreto posicionados próximo à Avenida Brasil, em quatro ruas dos principais acessos às favelas Nova Holanda e Parque Maré. 

Apesar da alegação de uma ação pontual, o feito gerou impactos econômicos em 310 empreendimentos comerciais, impediu o direito de ir e vir dos moradores que saíam para trabalhar e impossibilitou que mais de 5000 estudantes da Maré tivessem acesso à escola pela 36ª vez esse ano. Além disso, a Clínica da Família Jeremias de Moraes fechou a unidade por segurança, deixando de atender cerca de 200 moradores, e a CF Diniz Batista, suspendeu atividades externas como visitas domiciliares, impedindo que pessoas acamadas tivessem o direito à devida assistência e cuidado. A formatura da turma do 6º ano do CIEP Elis Regina, que aconteceria na Areninha Cultural Herbert Vianna, também precisou ser adiada.

O projeto De Olho na Maré, da Redes da Maré, monitora nos últimos oito anos operações policiais. Podendo assim, identificar através de padrões sobre formas de atuação policial que não foi uma “ação pontual” como alegou o órgãos e sim a 41ª operação policial do ano no território.

Entre 2016 e 2024, através do projeto, registram-se 214 operações policiais, 41 apenas em 2024 e 13 em dias consecutivos. Nesse período foram identificados 1.262 registros de violações de direitos humanos, sendo 145 mortes e em apenas 9 delas foi realizada perícia. Dentre as violações nesses anos de monitoramento, foram registradas 275 invasões de domicílios sem mandado judicial, 69 subtrações de pertences, 60 casos de cárcere privado e 54 casos de tortura. Por 152 vezes os alunos da região foram impedidos de acessar a escola, ou seja, durante oito anos tivemos quase que um ano inteiro letivo suspenso devido a operações policiais que ocorreram na região. 

É importante ressaltar que atualmente não existe um documento oficial único disponível publicamente que regule, de maneira abrangente, os protocolos de operação policial na cidade do Rio de Janeiro. Não há uma delimitação de perímetro para esse tipo de ação, mas apenas algumas orientações gerais dos órgãos de segurança pública no âmbito estadual e municipal. Acreditamos que a ausência desses parâmetros dificulte o controle sobre a atuação das polícias durante essas operações.

Projeto Entre Lugares Maré apresenta dois espetáculos gratuitos

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O Entre Lugares Maré apresenta dois espetáculos de conclusão das turmas, sendo o “Inacabada” a 11º montagem dos alunos veteranos do grupo noturno, e “Tudo Fica Melhor com Amigos” o 1ª do grupo da tarde, composta por adolescentes e adultos neurodivergentes e Pessoas com Deficiência (PCD). O primeiro espetáculo que ocorre dos dias 13 ao 15 e 20 ao 22, conta a história de Bianca que vai enfrentar desafios para entregar a encomenda de um bolo para sua cliente. O que parece ser uma simples tarefa pode se tornar complexo diante das adversidades que atravessam o caminho da personagem.

Enquanto o espetáculo “Tudo Fica Melhor com Amigos”, apresentado nos próximos dias 17 e 18, traz uma crítica social através de um grupo de amigos PCDs que estam a caminho do teatro. Essa história detalha com bom humor, os desafios dessas pessoas para conseguirem chegar ao seu destino e revela o quanto a cidade e a sociedade civil não estão organizadas para que todas as pessoas tenham o seu direito de ir e vir respeitados.

Ambas apresentações são gratuitas para o público e acontecem às 19h no Museu da Maré, na Rua Guilherme Maxwell, nº26 – Maré – Rio de Janeiro/RJ.

Sobre o Entre Lugares Maré

Fundado em 2012, o projeto Entre Lugares Maré apresenta desde então espetáculos proporcionando outra perspectiva de vida aos jovens. Neste ano, o projeto iniciou uma nova turma, exclusiva para Jovens e Adultos Atípicos (PCDs e Neurodivergentes), moradores da Maré e comunidades do entorno.  Atualmente, vários alunos e ex-alunos do projeto seguem carreira profissional no teatro, cinema, TV e outras áreas técnicas.

O Entre Lugares Maré oferece ao longo do ano, de forma gratuita, uma variedade de aulas envolvendo corpo, dramaturgia, dança, canto, atuação e atividades de criação artística e técnicas na área teatral. Neste ano, com o início da turma para PCDs e Neurodivergentes, também foram realizados encontros de acolhimento e apoio à maternidade atípica.

Dezembro Vermelho: HIV não tem rosto

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No mês da luta contra a IST’s, desconstrua preconceitos. Desinformação mata. 

Desde 1988, o 1º de dezembro é celebrado como o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) foram as responsáveis pelo decreto internacional. A fita vermelha foi o símbolo escolhido para demonstrar apoio à importância da data. No Brasil, a Lei Nº 13.504 de 2017, que  institui a campanha nacional de prevenção ao HIV/AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis, só reforçou sua relevância em território nacional. 

Desde então, durante o ‘Dezembro Vermelho’ (como também é conhecido) são promovidas campanhas para a conscientização sobre os direitos das pessoas que vivem com Aids, HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, além da divulgação sobre a importância da prevenção e do tratamento.

Em 2022, o Ministério da Saúde divulgou que mais de um milhão de brasileiros viviam com HIV. Dessa estimativa, 900 mil pessoas foram diagnosticadas. Só naquele ano foram registrados 43.403 novos casos de HIV. Outro alerta foi que a maior concentração de casos de Aids está entre a população jovem (de 25 a 39 anos), sendo 52% do gênero masculino e 48% do feminino.

“Existe tratamento, existe vida”

Um dia, Vitor Ramos, influenciador digital e paulista de Mogi Guaçu, estava entre as milhares de pessoas que viviam com HIV, mas ainda não sabia disso. Por conta do diagnóstico tardio, ele perdeu a visão do olho direito, parte da audição e tem sequelas no movimento da perna esquerda até hoje. Atualmente segue sua vida como qualquer outra pessoa, continua seu tratamento e está indetectável (não transmite o vírus sexualmente).

“Vejo que ainda existe uma barreira muito grande para saber como disseminar o assunto. O HIV nunca deixou de ser um tabu, assim como falar sobre sexo. Quando colocamos uma carga “negativa” em cima de um tema, as pessoas naturalmente se afastarão dele. Quando falo “sexo” me refiro a saúde sexual, que é um ponto fundamental para que a informação sobre testagem, tratamento e prevenção seja amplamente usado. Quando vemos a temática HIV (que não seja ponto focal) sendo um adendo em alguma história em cinema ou novelas, quase sempre é sobre alguém que padeceu devido a AIDS, sendo que existe tratamento, existe vida. Mas por colocarem a saúde sexual em uma prateleira inalcançável, quando se fala sobre HIV é de uma forma muito rasa”, explica.

Com quase 50 mil seguidores no Instagram, Vitor produz conteúdo sobre HIV para quebrar estigmas sobre o retrovírus | Foto: Reprodução Redes Sociais

Em pleno século XXI, conversar sobre sexualidade não deveria ser um tabu. A falta de acesso à informação e o silenciamento acerca de temas relacionados à prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e ao tratamento mata pessoas e, consequentemente, suas famílias, todos os dias. Nessa matéria respondemos as principais dúvidas sobre Aids e HIV:

Aids e HIV são a mesma coisa?

Não. A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é a doença causada pela infecção do ‘Vírus da Imunodeficiência Humana’ (HIV é a sigla em inglês). O HIV é um retrovírus, classificado como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). O Ministério da Saúde afirma que nem todos os diagnósticos evoluem para a Aids, somente casos em que não há tratamento antirretroviral (medicamentos prescritos para tratar infecções por retrovírus, que é o caso do vírus do HIV). 

Posso pegar Aids ficando próximo de uma pessoa com a doença?

Uma das grandes justificativas para esse medo vem da ideia de que qualquer contato interpessoal é capaz de transmiti-lo, até mesmo através do beijo e do abraço. Entretanto, essa é uma informação totalmente equivocada. Saliva, lágrima, suor e outros fluidos corporais não são capazes de transportar o vírus. Somente por meio de sexo (também oral) sem preservativo, compartilhamento de agulhas e transfusão de sangue é que a transmissão acontece. Em casos de mães que não fazem acompanhamento médico a infecção também pode ocorrer através do aleitamento materno e da placenta.

Como me prevenir?

  • A partir do uso de preservativos e lubrificantes (distribuídos gratuitamente pelo SUS) para sexo anal, vaginal e oral;
  • Tratamento medicamentoso: PrEp e PEP;
  • Não compartilhar agulhas e seringas;
  • Não compartilhar objetos que entraram em contato com sêmen, fluidos vaginais e leite materno.

O que é PrEP e PEP?

São as siglas para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição (PEP), medicamentos que são capazes de prevenir a infecção por HIV (outras IST’s não estão inclusas). A diferença entre os dois está no próprio nome, a PrEP é direcionada para o momento antes do contato com o vírus e a PEP indicada para, de preferência, até 2h após a exposição. As duas medicações não substituem o uso de preservativos e também são oferecidas gratuitamente pelo SUS. Qualquer pessoa pode solicitar.

Quais são os sintomas do HIV?

A senhora do doce que mora ao lado, o parceiro de academia, a colega de escola da filha. Todas essas pessoas podem viver com HIV. Mas o estigma direcionado à comunidade LGBTIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexuais, assexuais e mais), que por anos foi considerada a única atingida pelo vírus, ainda persiste. Independentemente da sua orientação sexual, seu gênero e se tem uma vida sexual ativa ou não, faça o teste regularmente em caso de sexo sem preservativo (ou até mesmo se aconteceu o rompimento da proteção durante o ato).

Nos primeiros estágios de infecção os sintomas costumam ser genéricos, como dor de cabeça, febre, dor de garganta e dores musculares, que podem até lembrar uma virose. Isso acontece porque o HIV compromete nosso sistema imunológico, então ficamos expostos a todos os vírus e bactérias e outros micróbios possíveis. O surgimento de manchas na pele e ínguas (caroços/ nódulos sob a pele) também são outros sinais relatados que até podem despertar mais atenção, mas não o suficiente para diminuir as subnotificações de casos de HIV.

No início, os sintomas que Vitor sentia eram garganta inflamada e mal-estar, amplamente associados a uma gripe, e foi isso que ele imaginou que seria. Em 2017, dois anos após o surgimento das primeiras manifestações do vírus, ele enfrentou episódios de diarréia persistente que o levaram a perder 20kg. Foi aí que ele e sua família decidiram ir atrás de um diagnóstico adequado.

A busca não foi fácil, peregrinaram por vários hospitais e, mesmo assim, Vitor recebeu erroneamente o diagnóstico para Doença de Crohn (doença inflamatória que afeta o trato gastrointestinal. Entre os sintomas estão: diarreia, febre e perda de peso) que é medicada com imunossupressores, praticamente letais para pessoas com HIV por conta do potencial do medicamento enfraquecer o sistema imunológico, já tão fragilizado pelo vírus.

Com o tratamento para Doença de Crohn, a saúde de Vitor só piorou. Os quadros de diarreia continuaram e ele perdeu a mobilidade das pernas e dos braços. Somente em 2018, um ano depois, recebeu o diagnóstico para HIV. Após isso, foram inúmeras sessões de fisioterapia, consultas com oftalmologistas, internações médicas e uma longa batalha para recuperar a saúde do seu sistema imunológico.

Vitor teve o apoio incondicional de sua mãe que acompanhou todo processo em busca do diagnóstico correto | Foto: Arquivo pessoal

Como saber se tenho HIV?

É possível realizar o teste para HIV e outras IST’s em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). O teste é sigiloso, mas se você se sentir constrangido em ir na Clínica da Família da sua área, vá em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da sua escolha e não esqueça de levar um documento com foto. Não é necessário encaminhamento médico para solicitar o exame.

Há dois tipos de testes para infecções sexualmente transmissíveis oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e ambos são gratuitos. O primeiro é o teste rápido, realizado  nos Centros de Testagem e Aconselhamento do SUS com resultado em 30 minutos e o segundo é o autoteste, em que o paciente recebe o material e orientação de como fazer em casa (resultado em cerca de 10 minutos). Também é possível recorrer a uma terceira opção: contratar um exame laboratorial.

Quando decidir fazer o teste?

Quanto mais rápido você descobrir, mais rápido pode iniciar o tratamento e ter qualidade de vida. O ideal é que, logo após vivenciar alguma das situações nas quais é possível haver contaminação, o teste seja realizado. Em caso de resultado negativo, o indicado é refazer o teste após 30 dias ou mais. Essa estratégia é importante porque pode ser um ‘falso negativo’. Nosso organismo pode atravessar um período chamado de ‘janela diagnóstica’, que é o tempo entre o contato com o vírus até a possibilidade de detecção pelo exame (feito a partir de coleta de sangue ou saliva).

Fui diagnosticado com HIV. Vou morrer em pouco tempo?

O diagnóstico de HIV não é uma sentença de morte. Com os avanços tecnológicos e científicos das últimas décadas, uma pessoa pode viver bem e saudável. 

Também é possível alcançar o que os médicos chamam de ‘carga viral indetectável’, que é quando a pessoa tem um ‘nível’ tão baixo do vírus que não transmite através de relações sexuais (os dados quanto a outras formas de contaminação ainda são imprecisos). Mas isso não significa cura. O uso dos medicamentos de forma regular ainda é obrigatório. Eles ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico, tão vulnerável em pessoas que vivem com HIV. Além de diagnóstico e acompanhamento, o SUS também disponibiliza os medicamentos antirretrovirais (ARV) gratuitamente.

Com o apoio da família e da medicina, Vitor conquistou novamente sua autonomia e prazer pela vida. Hoje luta pelos direitos das pessoas que vivem com HIV e Aids e pela visibilidade da causa e de suas trajetórias em um país preconceituoso e homofóbico como o Brasil.

Apesar do diagnóstico tardio, com o tratamento, Vitor hoje é considerado indetectável, o que significa que não desenvolve AIDS e não transmite o vírus. | Foto: Arquivo Pessoal

“Quando você tem uma infecção que atinge qualquer faixa da sociedade e qualquer gênero (que não fique restrito somente a um grupo social), você tem que tomar providências com afinco, afinal, atinge ‘todos’. Mas quando você tem uma infecção que atinge um grupo minoritário e excluído da sociedade, a importância com que isso é tratado diminui drasticamente. Vemos a diferença na criação e formação das pessoas. Com minhas irmãs cisgêneras (que se identificam com o gênero do nascimento) e héteros, a preocupação era engravidar. Quando contei sobre minha orientação sexual para minha mãe, a primeira coisa foi: cuidado pra não se infectar. São muitas nuances que afetam para que o HIV seja sempre nosso (homens gays). E isso é bem triste, porque vemos um aumento absurdo de mulheres sendo diagnosticadas tardiamente, afinal, o ‘HIV não é um assunto delas’”, conclui.

A favela é um espaço de potência negra

Pâmela Carvalho

As favelas do Rio de Janeiro – hoje espaços de resistência -, historicamente se formaram como reflexo de um processo de exclusão social e racial, que remonta ao período pós-abolição da escravidão no Brasil. A abolição, em 1888, não trouxe a inclusão dos negros escravizados no modelo econômico, social e urbano do país. Pelo contrário, inaugurou uma era de exclusão para a população negra. O Rio de Janeiro, então capital do Brasil, foi um dos maiores palcos dessa segregação racial e espacial.

A exclusão da população negra

No final do século 19 e início do século 20, com a urbanização acelerada do Rio de Janeiro, as elites brancas promoveram uma série de políticas de “higienização” urbana. Essas políticas, empurraram trabalhadores negros para os morros e áreas periféricas, onde passaram a construir moradias improvisadas. A criação das favelas é resultado direto dessas políticas racistas que visavam afastar a população negra dos centros econômicos e políticos da cidade.

Um exemplo emblemático é o surgimento daquela que é considerada a primeira favela: o Morro da Providência. Com o fim da Guerra de Canudos (1896-1897), ex-combatentes, muitos deles negros, que não receberam as recompensas prometidas pelo governo, ocuparam o morro. A “favela” se tornou, então, sinônimo de resistência, mas também de exclusão estatal.

Ao longo dos anos, as favelas se multiplicaram à medida que o Estado continuava a ignorar as necessidades básicas da população negra e pobre. A ausência de políticas habitacionais e o descaso com o bem-estar dessa população consolidaram a favela como o espaço de moradia da maioria dos negros na cidade. As favelas do Rio de Janeiro, hoje, são predominantemente negras: de acordo com dados de 2011 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cerca de 66,2% da população residente nas favelas do Rio, se autodeclara preta ou parda.

População negra da Maré

O Conjunto de Favelas da Maré é um exemplo vivo da relação entre raça e território. Composto por 15 comunidades, a Maré abriga cerca de 140 mil pessoas, segundo o Censo Maré de 2019. Dentre essa população, mais de 62% se autodeclaram negras (pretas ou pardas), demonstrando como a favela é um espaço onde a identidade racial se entrelaça com a questão territorial. 

As primeiras ocupações na Maré ocorreram na década de 1940, com famílias que migraram para o território após políticas de remoção.

Desigualdade e violência

A relação entre a população negra e o território da favela, infelizmente, é marcada pela violência estrutural em diversas circunstâncias. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Rio de Janeiro é o estado com o maior número de mortes violentas, sendo a população negra a mais afetada. Em 2020, 78% das vítimas de homicídios no estado eram negras, representando 53% da população total do Rio (FBSP, 2020).

Essa violência institucional, resultado do racismo estrutural, é reforçada pelo estigma que as favelas carregam. Para muitos, a favela é vista como um “lugar de crime”, o que legitima, aos olhos de parte da sociedade, a militarização desses territórios e o tratamento diferenciado dado a seus moradores. Porém, a favela também é um lugar de potência, de organização comunitária, de cultura e resistência negra.

Resistência e construção da identidade

Embora as favelas sofram com práticas de necropolítica – a política da morte -, elas também são espaços de resistência e produção cultural. A favela, como território negro, é um espaço de criação e fortalecimento da identidade racial. A cultura negra que emerge desses espaços é rica e diversa.

Na Maré, o trabalho de valorização das identidades negras tem sido central. Projetos como a Casa Preta da Maré, o Núcleo de Memórias e Identidades dos Moradores da Maré e a Escola de Letramento Racial da Maré buscam fortalecer a consciência racial e promover debates sobre o racismo e a história negra dentro da favela. Através dessas iniciativas, jovens negros têm a oportunidade de se reconhecerem como sujeitos históricos, capazes de escrever suas próprias narrativas.

A partir dessas insurgências e resistências, os moradores da Maré e de outras favelas do Rio, têm construído estratégias de enfrentamento às desigualdades, utilizando a cultura como ferramenta de luta e expressão.

O território da favela é um espaço de potência negra. Ao reconhecermos isso, estamos admitindo a importância da população negra na construção da cidade e da cultura carioca. Raça e território, no caso das favelas do Rio, estão intimamente ligados. É a partir dessa compreensão que podemos traçar estratégias de enfrentamento ao racismo e à desigualdade social.

O futuro das favelas está intrinsecamente ligado à superação do racismo. É necessário que o Brasil, como um todo, reconheça a dívida histórica que tem com a população negra e promova políticas que garantam a justiça social e a igualdade de direitos para todas as pessoas.