Confeiteiras da Maré aproveitam a Páscoa para fortalecer renda 

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A confeitaria se encontra fortemente nas mãos femininas, e é claro que com a Páscoa o cenário fica ainda mais recheado

Maiara Carvalho*

Segundo uma pesquisa feita pelo Sebrae, em 2022, as mulheres representavam cerca de 34% dos trabalhadores por conta própria no Brasil, protagonizando a área da beleza, moda e gastronomia. E quando o assunto é empreender, as mulheres da Maré são peças fundamentais na economia favelada. Por todas as vielas da comunidade existe uma mulher dona do seu negócio, com propósitos de crescer profissionalmente cada vez mais, impulsionada pelo desejo de se reinventar das vulnerabilidades sofridas no mercado de trabalho. 

Hora de aproveitar: Confeitaria e Páscoa

A confeitaria se encontra fortemente nas mãos femininas, e é claro que com a Páscoa o cenário fica ainda mais recheado, tornando-se uma ótima oportunidade de fortalecer a renda. As possibilidades vão das mais comuns, como os famosos ovos da Páscoa, à novidades de sobremesas e doces gourmet para comemorar a data. 

Laila Cauane: Cozinha de Mãe

Moradora da Nova Holanda durante toda sua infância e juventude, Laila Cauane, 22, completou neste mês, um ano da decisão de empreender na confeitaria. 

Enquanto ainda lidava com o luto pela perda de seu primeiro filho, Renan, e também vivia uma nova maternidade à espera da Esther, ela se viu perdida diante de tantos sentimentos que carregava “sempre foi batalha, nunca foi fácil”, relembra. Buscando apoio na sua fé e família, Laila se reinventou e começou a vender bolos caseiros. No entanto, o sucesso foi tão grande que ela decidiu investir na carreira e buscar novos caminhos. 

A princípio, Laila foi atrás de aprender novos recheios e massas, mas, sem saber, o curso que havia se inscrito também iria lhe ensinar a confeitar. Nesse momento, após compartilhar sua conquista nas redes sociais, recebeu apoio de muitas pessoas, em sua maioria moradores da Maré, que já perguntavam se havia disponibilidade para encomendas, e assim, nasceu a Cozinha de Mãe.

Primeira Páscoa 

Esse ano será a primeira experiência de Páscoa da Laila, que já buscou se profissionalizar ainda mais. Por ser uma das datas mais lucrativas no ramo e a sua clientela ter uma alta demanda, a confeiteira buscou aprender novas técnicas, e os ovos artesanais, é claro, serão os protagonistas. Além dessa opção, ela preparou o chamado “kit confeiteiro”, voltado para o público infantil, visto que uma grande parcela de seus clientes são mulheres que possuem filhos ou crianças na família. Ela também pensa em trabalhar com pequenos doces temáticos para empresas que desejam presentear seus funcionários com brindes. 

Antes de se encontrar na confeitaria, a mãe da Esther e do Renan, também trabalhou vendendo bijuterias e cocadas na rua. Enquanto seu filho estava vivo e em tratamento para paralisia cerebral, ela recebeu apoio de muitas pessoas — grande parte da Maré — que se sensibilizaram com sua história. Hoje, essas mesmas pessoas se tornaram clientes fiéis, e  puderam testemunhar um exemplo de força e resiliência. Laila, que nunca se imaginou empreendendo na culinária, encontrou no seu trabalho uma forma de se curar e possibilitar motivos de comemoração para outras pessoas.

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Doceria da Teté

Ester Vitório, 26, é dona de uma das docerias mais famosas do Parque União, onde nasceu e cresceu. Teté, como é mais conhecida, iniciou sua jornada em meados de 2019, vendendo sacolés gourmet para ajudar seus pais, Verônica e Adilson, a pagar sua faculdade de nutrição. A procura foi tanta, que mesmo sem muita experiência na confeitaria, Teté resolveu arriscar outros produtos para vender. Mal sabia ela que esse era o caminho para se tornar uma empreendedora de sucesso. 

Referência em delivery

A Doceria da Teté teve seu maior crescimento durante a pandemia. Nesse período ela ainda estava no início da sua trajetória como doceira e morava na quitinete do seu sogro, mas com o uso das redes sociais para divulgação, suas vendas não paravam de crescer. Para se adaptar e atrair o público, ela também criou o kit quarentena: uma caixa cheia de doces gourmet variados, e de brinde, uma máscara protetora. Aos poucos, com o apoio do marido e do sócio Matheus, ela conquistou seu primeiro espaço físico, mas não parou por aí!

“Eu considero que tive um crescimento rápido, mas o meu esforço também foi muito grande […] Já teve dias que eu passei 20 horas trabalhando.”, relembra a doceira

Teté na Páscoa

Com a correria ela já está acostumada, mas na Páscoa a pressão é ainda maior. Para conseguir atender toda a demanda, além dos produtos pedidos antecipadamente, ficará disponível no dia da Páscoa, alguns doces à pronta entrega. 

“Na época de Páscoa é muita correria, porque é a época mais lucrativa para quem trabalha na confeitaria. O Natal chega próximo, mas a Páscoa atrai a clientela adulta e também as crianças, então tem um movimento muito bom.”

Teté já está na sua quarta Páscoa, e para esse ano a novidade é o ovo trufado, coberto por uma camada de chocolate e com bastante recheio por dentro. Os tradicionais ovos de colher com variados sabores não ficam de fora. Para a criançada também não faltam opções: o famoso kit confeiteiro e o chocolate em forma de controle recheado estão no cardápio para conquistar o público infantil. 

Espaço novo

Atualmente, Ester Vitório já acumula 22 mil seguidores no Instagram e é proprietária de uma empresa com oito funcionários. Apesar disso, ela continua envolvida nas atividades de produção e administração. Recentemente, ela inaugurou um novo espaço atrativo e aconchegante para comportar seus clientes, e agora, além da doceria, o ambiente se divide com o Papo Reto Açai, outra proposta trazida por ela junto ao seu marido. Desta forma, ela pôde expandir em mais opções de produtos, e ter outra maneira de se conectar com o público para além do delivery. 

Das vendas nas ruas até sua nova loja, o que certamente nunca faltou para Teté foi o apoio familiar. Seus desejos ainda são muitos, e a busca em se profissionalizar não tem limites, e o que a encoraja para seguir adiante é sua grande riqueza: a família.

(*) Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

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