Falta de manutenção e fiscalização aumento risco de incêndios

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Em 2021, duas ocorrências envolvendo fogo ocorridas no intervalo de 2 meses em equipamentos públicos de educação na Maré acenderam o alerta para cuidados essenciais

Por Hélio Euclides, em 04/02/2022 às 12h31. Editado por Tamyres Matos

A situação dos prédios públicos demanda vigilância constante, seja no Rio de Janeiro ou especificamente no Conjunto de Favelas da Maré. Em setembro de 2021, o fogo tomou conta da Creche Municipal Pescador Albano Rosa, na Vila dos Pinheiros. Os profissionais da educação foram rápidos e evacuaram o espaço a tempo, sem que ninguém ficasse ferido. Logo depois, em novembro, foi a vez da cozinha da Escola Municipal IV Centenário, na Baixa do Sapateiro. Ambos prédios de responsabilidade da Prefeitura do Rio, ambos equipamentos que atendem crianças.

Rafael Lima, presidente do coletivo Maré Solidária e bombeiro civil, defende que, assim como nos centros comerciais, o território mareense deveria ter uma equipe voltada especificamente aos riscos de incêndios nos prédios públicos, o que possibilitaria também uma fiscalização mais rigorosa. “É preciso que a população se mobilize e faça requerimento de uma brigada civil, pois a Maré merece pelo número de unidades escolares existentes”, conclui. A Maré conta com 50 escolas públicas, sendo 46 municipais e quatro estaduais, que oferecem da creche ao ensino médio.

Em junho de 2020, a Escola Municipal Clotilde Guimarães, que funciona na Avenida Brasil, também teve parte da biblioteca e do almoxarifado queimados. Para Gustavo Aveiro Lins, professor, doutor em meio ambiente, biólogo, engenheiro ambiental e de segurança do Trabalho, não necessariamente uma equipe solucionaria o problema de incêndios nas escolas da Maré. “Existe uma norma do Corpo de Bombeiros que determina brigada privada de incêndio na edificação. Logicamente dependendo da atividade e área construída. É preciso estudar cada incêndio, os motivos são diversos e específicos para cada caso”, avalia.

Registro de incêndio na Creche Municipal Pescador Albano Rosa, na Vila dos Pinheiros | Foto: Leitor MN

Gustavo explica que é comum que esses prédios não atendam às normas do Corpo de Bombeiros no que se refere ao projeto de combate a incêndio. Ele acredita que a população, em caso de dúvida, pode solicitar o Certificado de Aprovação da edificação. Esse documento comprova que a edificação cumpriu as exigências impostas pela legislação. “Caso não tenha, denuncie no Corpo de Bombeiros mais próximo ou na Diretoria Geral de Serviços Técnicos (DGST). Acho importante destacar que a segurança é obrigação de todos, os gestores da edificação devem se adequar às exigências e os usuários devem cobrar e ter uma postura segura”, finaliza.

A Secretaria Municipal de Educação informou que no caso da Creche Pescador Albano Rosa foi feita a sondagem no terreno e que o contrato está sendo ajustado para retomada com previsão de conclusão ainda neste ano. Já na EM IV Centenário as obras de preservação e reparo estão em andamento. Na Escola Clotilde Guimarães, a recuperação do telhado e das salas planejadas pela direção está prevista para começar em fevereiro. Por fim, a secretaria garantiu em nota que segue acompanhando as condições de cada unidade escolar e realizando as intervenções necessárias para garantir a boa conservação das mesmas.

Renan Ferreirinha, secretário municipal de Educação, em conversa com moradores sobre a construção de um Espaço de Desenvolvimento Infantil no local do incêndio da creche | Foto: Hélio Euclides

 Falta de reparos pode ter consequências graves

O estado de alerta e a preocupação com a falta de manutenção e fiscalização adequadas, além da precariedade dos investimentos, vale para o Rio de Janeiro inteiro. Em dezembro do ano passado, um relatório do Corpo de Bombeiros apontou que 19 dos 21 hospitais públicos que funcionam na Região Metropolitana do Rio não estavam preparados para enfrentar incêndios. De acordo com o RJ2, que teve acesso ao documento por meio da Lei de Acesso à Informação, entre as unidades irregulares, estava o próprio hospital dos Bombeiros.

A falta de cuidados e do cumprimento de requisitos mínimos de segurança colocam em risco a vida das pessoas e a preservação de bens essenciais. Em maio de 2021, uma ala do Hospital Federal de Ipanema com pacientes em recuperação após contaminação por covid-19 pegou fogo. Eles foram transferidos às pressas e não houve feridos. Em outubro de 2020, as consequências alcançaram a gravidade extrema: um incêndio provocou a morte de 16 pacientes do Hospital Federal de Bonsucesso. Em 2018, o fogo destruiu parte do Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Três pacientes morreram quando foram transferidos de unidade.

Em um episódio que marcou para sempre a história do Rio e do Brasil, o Museu Nacional, que fica na Quinta da Boa Vista, teve grande parte dos seus 20 milhões de artigos destruídos, após um curto-circuito em ar-condicionado. Em setembro de 2018, à época do incêndio, o local não tinha laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros, sofria com má conservação dos equipamentos elétricos e falha no sistema de proteção contra incêndio. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) segue na luta para alcançar a verba necessária para a restauração do Palácio de São Cristóvão, cuja reabertura está prevista para 2026. Mas muitas das perdas são irreparáveis.

Hidrante que fica na esquina da Rua Teixeira Ribeiro com Avenida Brasil fica trancando dentro de loja | Foto: Matheus Affonso

Cuidados caseiros para evitar tragédias

Os cuidados com uma casa ou apartamento vão mais além do que escolher bons tijolos e a qualidade do cimento. A parte elétrica é de suma importância. Uma falha pode ocasionar um incêndio. Por isso, ao adquirir um imóvel, é preciso perguntar ao antigo proprietário se já foi trocada a fiação e quanto tempo tem as instalações. O segundo passo é não usar fio ou material de má qualidade. Sem esquecer de chamar um profissional habilitado para realizar a reforma. 

Almir Júnior, morador da Vila dos Pinheiros, é eletricista desde 1988 e sabe bem o que é necessário para evitar aborrecimentos futuros. “É necessário fazer inspeções nas instalações verificando disjuntores e eliminar emendas. Nas tomadas de uso geral, normalmente se usa o fio de 2.5 mm. O micro-ondas, pode ser ligado o fio 2.5mm, mas precisa ter um disjuntor só para ele. O ar condicionado também deve ter um circuito independente. Já a fiação do chuveiro comum de 4kw, deve-se usar fios de 6.0mm”, explica. 

Casa na Nova Holanda que sofreu com um incêndio; tudo começou com problema em geladeira | Foto: Matheus Affonso

“Os grandes vilões de uma casa são os benjamins e extensões. Deve-se procurar colocar tomadas duplas. Outro mal são os adaptadores para tomadas de 10 amperes que são as de pinos mais finos, mas que deveriam ser ligados em tomadas de padrão 20A. Se a fiação não foi feita para suportar a carga vai derreter a tomada e terá risco”, destaca. O eletricista ainda lembra atenção com as crianças, para não colocarem a tomada de ferros de passar roupas na tomada e esquecer ligados próximo de panos. Também ressalta que fogões elétricos a base de resistências só podem ser ligados em potência adequada, por isso é importante ler as recomendações da embalagem.

Gilmar Junior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, orienta que moradores troquem a rede elétrica antiga para evitar curto no ar-condicionado. “Se acontecer um incêndio na casa, deve sair de casa, pedir ajuda dos vizinhos mais próximos e ligar para o Corpo dos Bombeiros”, resume.

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