Leituras na Favela: uma iniciativa para além dos muros acadêmicos

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Projeto da Maré realiza oficinas de leituras para promover reflexões sobre e com a favela

Por Alessandra Holanda e Luna Galera(*)

Um livro ao alcance das mãos pode promover representatividade, autoestima e acolhimento à comunidade. Foi pensando nisso que o Leituras na Favela surgiu. Trata-se de um projeto de incentivo à literatura literária criado por educadores e moradores da Maré, que ocorre por meio de leituras e contações de histórias. Hoje, a iniciativa abraça crianças e adolescentes com o objetivo de semear, logo cedo, o poder transformador da literatura. Os encontros, que acontecem aos sábados na Lona Cultural Hebert Vianna, que fica no Parque Maré, constroem um espaço de troca e escuta a partir do protagonismo da favela na sua própria narrativa.

As oficinas de leituras começaram no dia seis de maio e vão até o dia vinte e quatro de junho. Cada reunião é dividida em duas turmas: a primeira é sobre contação de histórias das 10h às 11h para crianças de cinco a dez anos, já a segunda é a leitura compartilhada de 11h às 12h para crianças e adolescentes de onze a quinze anos. A média de participantes por encontro é entre sete e dez pessoas. A inscrição pode ser feita pelo próprio direct do Instagram, no @leiturasnafavela. 

Leitura na Favela
O projeto, que já passou por alguns formatos até chegar ao modelo atual, nasceu durante a pandemia da Covid-19, no ano de 2021. Na época, o intuito era orientar a leitura dos estudantes sobre os livros escolhidos para o vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. A professora, coordenadora e uma das fundadoras do Leituras na Favela, Camila Mendes, conta que a fragilidade do momento não impediu que o desejo de ajudar o outro fosse à frente. “Eu e o meu parceiro nesse projeto, Anderson Oli, percebemos o quão benéfico os encontros eram. Naquele momento de pandemia,  além de proporcionar a leitura literária, também estávamos criando um espaço para reunir forças.”

Ainda durante o período online, a iniciativa realizou seu primeiro ciclo de leituras sobre Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Ao total, oito encontros foram realizados de forma remota, nos quais autores como Mia Couto, José Luandino Vieira e Olinda Bejo ganharam notoriedade. Paralelo a essa etapa, com o acompanhamento do Lab Semente (processo de formação e mentoria que recebeu apoio financeiro para implantação das propostas culturais na Maré), a iniciativa veio se ressignificando para ocupar o espaço presencial e direcionar suas atividades a crianças e adolescentes da Maré.

Hoje, já com reuniões físicas, o Leituras na Favela busca a conexão entre o universo literário e a comunidade, a fim de provocar reflexões e contato com outras realidades. “A gente acaba olhando para essas questões de representatividade, trazendo textos que mostram o que a gente vive no território. Mas, também pensamos que a função da literatura é mostrar outros espaços que não ocupamos”, conta Camila.

O projeto superou as expectativas e alcançou os responsáveis dos pequenos leitores. Mães e pais são integrados aos encontros e aproveitam o momento para, além do lazer, estreitar laços afetivos em família. “Nós percebemos a presença das mães. Elas nem eram o público alvo, mas, como acabam acompanhando a contação, vimos o quanto esse momento também é delas. Teve um pai que participou e isso foi muito legal, porque esse espaço ainda é muito feminino”, reconhece Camila.

Sementes
Mãe da pequena Katiana Eloá, de 4 anos, Tatiane Araújo conta como está sendo participar do Leituras na Favela. “Eu conheci o projeto quando saí da aula de ballet da minha filha. Me deparei com o grupo sentado e fui convidada a participar. O encontro de todos os sábados é só alegria, porque traz para as crianças uma diversão que também permite conhecer realidades diferentes daquela que nós vivemos. O projeto faz muita diferença, pois as crianças passam a ter mais vontade de se aproximarem da leitura.”

O Leituras nas Favelas se tornou uma oportunidade de unir cenários que muitas vezes acabam por não se encontrar.  É com essa perspectiva que Camila busca seguir com o projeto. “Eu sou moradora da Maré desde os 7 anos e fiz faculdade na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no campus do Fundão. Sempre pensei em como esses dois mundos são diferentes, os espaço da Maré e o espaço acadêmico, apesar de serem vizinhos. Sempre pensei em como eu poderia ser a ponte para unir esses mundos. Quando eu era criança, um professor me apresentou um livro, e eu espero poder apresentar um livro para uma criança. Fazer esse projeto é uma devolutiva pra comunidade onde eu cresci.”

Atualmente, o projeto conta com o apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretária Municipal de Cultura  através do Programa de Fomento Carioca – FOCA. O investimento permite, não somente a manutenção do Leituras nas Favelas, mas a concretização de uma ideia que havia sido elaborada anos antes. Mais do que um recurso financeiro, a conquista desse apoio é uma forma de reconhecimento da importância do projeto enquanto propulsor de cultura e gerador de conhecimento.

Desde 2009, a Redes da Maré gerencia a Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura, e conduz a programação do espaço, com atividades de arte, cultura e lazer para crianças e jovens da Maré. A Lona é referência na região e foi se tornando também um espaço de formação e aprendizado.

Saiba mais sobre a Literatura Periférica:
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(*) Alessandra Holanda e Luna Galera são estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e fazem parte do Curso de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

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