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Organização oferece atividades e cursos gratuitos na Baixa do Sapateiro

Instituição oferece atividades nas áreas de educação, esporte e geração de renda

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, essa frase do educador Paulo Freire mostra a importância do saber para uma sociedade mais justa. Com esse desejo de transformar o mundo foi criado o Instituto Maré Conexão Vida, que realiza um trabalho tendo um olhar para o social. Por meio de parcerias, a instituição disponibiliza cursos, ações e atividades para o território da Maré.

Os primeiros passos começaram há quatro anos com o desejo de uma associação para realizar um trabalho de cadastro das famílias em situação de vulnerabilidade para reforma de casa. Nesse período começou a pandemia e a necessidade do enfrentamento da fome, por meio de doação de cestas básicas. A fundação de uma unidade física só aconteceu em 2021. “No coração nasceu o desejo da criação de um centro social. São várias atividades que atingem em maioria as crianças e adolescentes”, conta Denise Queiroz, cria da Baixa do Sapateiro e presidente do instituto.

O Maré Conexão Vida oferece na área de atividades físicas os cursos de capoeira, balé, caratê, funcional, muay thai e jiu-jitsu. Na sala de aula do prédio de quatro andares são disponibilizados os cursos de inglês, reforço escolar e maquiagem infantil. Por meio de parcerias há oferta de cursos profissionalizantes, como hotelaria, inclusão digital, panificação e informática, todos com certificação. Cursos voltados em especial para as mulheres. No espaço ainda há preparatório para o Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA). Os moradores ainda contam com atendimento jurídico, assistência social e psicológica. Todos os serviços oferecidos são gratuitos, com exceção da fisioterapia, que tem preço popular.

A sede ainda conta com um polo da FIA (Fundação para a Infância e Adolescência) com o Programa de Trabalho Protegido na Adolescência (PTPA), programa destinado ao público adolescente e que tem como um de seus principais objetivos inserir os alunos no mercado de trabalho e o Programa de Atenção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência (NACA). “Está pequeno o prédio, estamos tentando um local ao lado que vai conter quadra sala multimídia e piscina. Possibilitando trabalhar a reabilitação”, diz Vanessa da Rocha, moradora do Morro do Timbau e coordenadora.

Desejo de continuar e ampliar 

O Maré Conexão Vida tem na direção cinco coordenadores, com uma equipe de professores voluntários. O sonho de todos é a ampliação do instituto e apoio financeiro que contemplem as atividades oferecidas. “Depois da pandemia ocorreu a diminuição de doações. Ano passado os alunos recebiam lanches, mas com a diminuição das parcerias tivemos que extinguir essa ação. Quem desejar ajudar, estamos abertos para que venha fazer parte da nossa história e somar forças. Nosso desejo é que no futuro os monitores tenham uma verba que ajude no seu sustento”, expõe Felipe Silva, de 38 anos, morador da Vila do João e coordenador jurídico.

O grupo ainda realiza ações sociais em locais públicos da Maré. O prédio ainda conta com uma biblioteca social com grande procura por gibis. A grande presença de alunos se deve ao fácil acesso, próximo à Avenida Brasil. Não só moradores da Maré procuram os cursos. A instituição atinge Bonsucesso, Ramos, Olaria e Ilha do Governador. “Já veio gente do Engenho de Dentro e de Duque de Caxias. Os cursos são divulgados por meio das redes sociais e pelo boca a boca. A faixa etária é de seis anos em diante”, lembra Denise. 

A maioria das atividades são à noite, o que facilita para quem trabalha durante o dia e os estudantes de turno integral. Mas o grupo deseja mais parcerias para atividades no turno diurno. “Sentimos que o trabalho é importante quando vemos pessoas chegarem aqui com histórico de baixa estima, por estar bastante tempo fora do mercado de trabalho. Uma formação ajuda na recolocação”, destaca Sabrina Noely, moradora da Vila dos Pinheiros e coordenadora do instituto.

A palavra de ordem é a solidariedade

Quem passa pela frente da sede do Maré Conexão Vida percebe a presença de um bazar, uma das fontes de recurso para os gastos diários e compra de medicamentos, cestas básicas, fraldas, bengalas e cadeiras de rodas. Apesar da venda de roupas, parte também é doada para pessoas em situação de rua. O grupo tem o apoio da Assembleia de Deus Vida Plena. “Queremos destacar que atendemos a todas as pessoas independente de sua condição social, gênero, cor, ou crença”, acrescenta Felipe. Ele percebe a participação da família na instituição, em alguns casos todos fazem parte de algum projeto oferecido. O advogado acredita que isso se deve ao trabalho de cidadania e empoderamento.

Nas atividades esportivas já é possível ver os atletas ganharem medalhas, enfrentando adversários que possuem equipamentos adequados. Mesmo com dificuldades, a instituição realiza doação de uniformes para as atividades esportivas, algo que ainda não foi alcançado no balé. Os alunos com o uniforme são incentivados a não faltarem nas atividades, o compromisso com a documentação e escolaridade. 

Uma das prioridades do instituto é a inclusão das pessoas com deficiências. Maria Luiza, de 43 anos, moradora da Baixa do Sapateiro, tem o filho com Transtorno do Espectro Autista (TEA), de 14 anos, no projeto com a prática de Jiu-jitsu. “Maravilhoso ver que essa atividade ajuda no desenvolvimento do meu filho. Se não fosse o instituto seria puxado, com um gasto a mais. Torço para que venham mais parcerias para quem sabe uma sala de recurso, algo que não tem na escola dele”, comenta. 

No Maré Conexão Vida ainda ocorre uma maratona de conhecimento, a Equação é Poesia, com fortalecimento das disciplinas de matemática e português. Outra ação é uso dos meses temáticos, com a conscientização da população sobre o cuidado com a saúde, por meio de palestras com assistente social e psicólogo. “É muito bom ajudar na realização de sonhos”, finaliza Denise. 

Quem desejar conhecer ou ajudar o Maré Conexão Vida é só acessar o Instagram: @mare_conexaovida ou Facebook: @mareconexaovida.

Também é possível entrar em contato pelo e-mail: amacovi_maré@gmail.com.
O Instituto fica localizado na Avenida Guilherme Maxwell, 226, Baixa do Sapateiro e funciona das 9h às 21h30, de segunda a sexta.

Conferência livre é marcada por debate da retomada ao direito à saúde

Organizações e lideranças da Maré marcaram presença no evento que discutiu o direito à saúde em favelas e periferias 

Com protagonismo negro, feminino e periférico, aconteceu no último sábado (3) a Conferência Livre das Favelas e Periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Campus Maracanã. O evento abordou o tema “Favelas e Periferias pelo Direito à Vida e em Defesa do SUS”, e contou com lideranças sociais do Estado do Rio de Janeiro debatendo e potencializando articulações em torno do direito humano à vida e saúde, a partir das vivências em seus territórios. 

Uma apresentação artística cultural do coletivo As MariAmas para reverenciar ancestrais e levar mensagens de paz aos presentes marcou o início do evento. Com o apoio musical de um atabaque e as palmas das mãos, o grupo chamou o público para cantar junto o trecho “Chama a favela para lutar, a periferia para somar…”. Seguindo a programação artística, a poeta e autora Celeste Estrela recitou alguns dos seus poemas, entre eles, “Sem faculdade” que conta a história da sua vida como mulher negra, mãe, avó, empregada doméstica e os aprendizados em torno dessas vivências.

Ao final da apresentação, o grupo As MariAmas distribuíram doces com palavras de amor, cuidado e, coletividade e celebração | Foto: Gabi Lino

A primeira mesa do evento contou com a participação de Lúcia Souto do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Bianca Mantovani do Pré Vestibular do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Sintuperj), Day Medeiros do Instituto Casa e do Movimento Mulheres Vivas Zona Oeste,  Larissa do Levante Popular da Juventude, Paulo Garrido da Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz  e Carlos Tukano, Presidente do Conselho Estadual de Direitos Indígenas.

Reverenciado por representar os povos originários no espaço, Tukano falou sobre a diversidade indígena no Brasil, quebra de estereótipos e criticou a retirada de demarcação de terras do Ministério dos Povos Indígenas para o Ministério da Justiça. 

“Estou aqui para desconstruir a imagem do índio perigoso, canibal e selvagem. Somos pessoas capazes e temos nossos costumes, línguas e ciência com olhar cosmológico. Fiquei triste que o governo passou a demarcação para o Ministério da Justiça. Somos mais de um milhão e meio de indígenas no país e estamos tentando cuidar das terras que destruíram”, disse. 

A segunda mesa contou com a presença de Rafaela França, fundadora do Núcleo de Estimulação Estrela de Maria (NEEM) que trata sobre o direito à saúde e o acesso à Cannabis Medicinal pelos moradores de favelas e periferias. Além dela, Itamar Silva, Sarah Rúbia, Mônica Francisco e Mauro Ferreira, induziram a reflexão e o debate sobre racismo ambiental, mudanças climáticas, mobilidade urbana, entre outros. Todos os temas foram debatidos com recorte racial e periférico.    

“Um encontro como este marca a retomada de uma luta coletiva pelo direito à vida. O tema da saúde é fundamental porque saúde não é só ausência de doença e sim garantir que todas as políticas de saúde, mobilidade, segurança pública, moradia, habitação, saneamento, sejam efetivas e aconteçam de verdade. Hoje é mais um marco desse novo momento que o Brasil atravessa depois dessa tentativa de destruição e um grande desmonte do Sistema Único de Saúde e não poderia ser diferente: povo organizado para a luta!”, afirma ao Maré de Notícias a ex-deputada e cientista social Mônica Francisco. 

Mônica Francisco ressaltou durante sua fala sobre a importância de viver para além de sobreviver como é imposto sobre as pessoas que vivem nas periferias | Foto: Gabi Lino

Maré, presente!

A organização da conferência nasce da mobilização de diversas organizações em torno do tema da promoção da saúde nas favelas e periferias, entre elas a Redes da Maré que marcou presença com moradores do Conjunto de Favelas da Maré e a equipe do Espaço Normal, equipamento de referência sobre drogas no território que trabalha com a perspectiva de redução de danos.

“Estar aqui falando sobre saúde no território de favela é muito importante. Isso faz com que a gente pense e repense cada dia a importância do SUS para que a gente consiga se cuidar e cuidar do outro. É sobre lutar pela dignidade e direito não só da gente enquanto moradores de favelas, mas também enquanto pessoas que estão ali trabalhando dentro das próprias Clínicas da Família e de outros equipamentos do SUS”, afirma Vanda Canuto, coordenadora do Espaço Normal. 

Vanda Canuto discursou sobre o trabalho no Espaço Normal a partir da perspectiva de redução de danos | Foto: Gabi Lino

Everton Pereira, coordenador do Eixo de Saúde da Redes da Maré reforçou a importância dos moradores da Maré e de outros territórios favelados no evento: “É importante estarmos aqui primeiro para marcar nosso lugar de fala porque é necessário ter gente da favela falando sobre a favela. Também é importante por conta dos ataques sofridos nos últimos anos. A pandemia escancarou a necessidade da defesa do SUS. Vimos durante essa crise que em outros lugares como nos Estados Unidos onde não tem um sistema público de saúde foi muito mais grave. Nossa questão não foi não ter acesso a um sistema universal gratuito de saúde, foi uma questão de política de governo que naquele momento escolheu negar a ciência, os cuidados e orientações que estavam sendo adotadas em vários lugares do mundo”. 

O encerramento contou com a fala de Patrícia Evangelista da Organização Mulheres de Atitude Manguinhos e de Lúcia do Espaço Democrático de União, Convivência, Aprendizagem e Prevenção (Educap). Ambas falaram sobre a importância do SUS e da força das mulheres faveladas pela luta ao acesso à saúde com equidade. 

Cria da Maré lança livro sobre feminismo nas favelas

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O livro é resultado das lutas coletivas e individuais que atravessaram a autora ao longo da sua trajetória enquanto mulher, negra e favelada

Andrezza Paulo

Andreza Jorge, de 35 anos, é mãe, ativista, moradora e cria da Nova Holanda, doutoranda de Estudos Culturais e autora do livro “Feminismos Favelados”. Sua trajetória iniciou cedo, ainda na adolescência, com participação em movimentos sociais, projetos e organizações em favor da população da favela. Seu vínculo começou com a influência das mobilizações comunitárias que aconteciam no território quando tinha apenas 15 anos de idade. 

O livro “Feminismos Favelados” nasce a partir da relação estabelecida com o movimento feminista e o entendimento de que a mulher de favela tem especificidades que ultrapassam as discussões do feminismo tradicional. A autora revela que “a vida das mulheres de favela transcende a compreensão das categorias de classe, de raça e de gênero. Estamos falando de um território e de mulheres que têm ações que incidem diretamente nelas, então se temos opressões específicas, temos resistências especificas”, conta.

De acordo com Andreza Jorge, as lutas das mulheres de favela são constantemente apagadas e o livro representa uma tentativa de lançar luz sobre essas resistências específicas a partir da produção de conhecimento qualificado.

A autora enfatiza que o conceito por trás do livro parte de vivências coletivas, ancestrais e familiares: “Eu sou a pessoa que escreve o livro, mas ele é um resultado do acumulado de experiências vividas que não são só minhas. Ele traz a experiência coletiva familiar, matriarcal e de todas as mulheres que vem exercendo espaço de liderança. Então é uma tentativa de representar essas mulheres que estão vivendo uma realidade muito específica e forjando essas soluções coletivas e individuais “, ressalta.

Para o futuro, Andreza planeja continuar sua incidência nas lutas coletivas com foco em internacionalizar as questões locais para além da perspectiva dos problemas, visibilizando principalmente, as soluções e análises produzidas nas periferias. Atualmente, a escritora e ativista está cursando doutorado em Estudos Culturais na Universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos, e espera seguir na vida acadêmica. Para ela, esse é um passo importante para consolidar as práticas faveladas como conhecimento relevante tendo como primordial a melhoria de vida das mulheres. Andreza diz que internacionalizar as soluções periféricas é essencial para “obter apoio para essa população que é afetada pela racialidade, gênero e classe e que estão a todo tempo criando uma identidade específica sobre o que é viver em um território preto e favelado”, conta.

Ao refletir sobre as motivações que a fazem continuar nesse caminho, ela afirma: “Eu acho que não é mais que minha obrigação reconhecer esse lugar que me formou como sujeito político e social. O meu papel é alimentar isso e trazer outras mulheres para pensar em construções políticas e institucionais que vão produzir melhorias concretas e específicas para elas”. 

Para a autora, o empoderamento feminino e favelado vem da herança ancestral e das mulheres desse território, que é alimentado por um ciclo de conhecimento: “Dentro das filosofias plurais de ler o mundo, a gente entende como um ciclo no qual ao ensinar eu aprendo e ao aprender, eu vou ensinando. A gente precisa fortalecer esse ciclo que estamos sistematizando através dessa relação de confiança ancestral caracterizada nas favelas. É preciso reconhecer essa produção de conhecimento que vai contra a prática impositiva e hierarquizada que somos forjadas, é isso que me motiva”. 

Andreza Jorge ressalta, ainda, o histórico de luta na Maré e agradece às mulheres que construíram essa estrada para que ela e tantas outras pudessem atuar e faz um apelo à juventude feminina das periferias: “Olhem dentro de suas casas, pesquisem as referências nas suas famílias, nas suas vizinhas e vejam quem pavimentou esse caminho, como a gente visibiliza a nossa própria história. Reconheça e enalteça as mulheres faveladas como produção de conhecimento para mudar paradigmas”,  finaliza. 

Há um lançamento previsto para acontecer na Maré em julho. Em breve o Maré de Notícias irá divulgar mais informações sobre. 

Moradora da Maré lança livro infantil 

Livro de Amanda Baroni traz a trajetória de um ‘menino fruto’ que sonha em virar uma árvore

Hélio Euclides

Dependendo da safra, em uma feira livre, é fácil encontrar abacaxi. Mas Amanda Baroni foi mais longe e transformou o fruto em personagem do seu primeiro livro infantil. “Lucas o abacaxi” traz personagens do cotidiano dentro do território da Maré, tendo como metodologia a questão de qual o desejo do futuro. O livro tem uma mensagem direcionada às crianças para que possam aproveitar cada etapa da vida e que possam minimizar os impactos emocionais.

A moradora da Vila do João, além de fotógrafa, estudante de jornalismo, comunicadora e criadora, ainda conseguiu tempo para se lançar no mundo literário, como escritora. A obra da literatura infantil traz a história de um pequeno abacaxi que deseja crescer rápido e virar uma árvore para conhecer o lugar mágico, que é um espaço de lazer na Maré. O personagem percebe que no decorrer do tempo o tamanho não é o mais relevante, pois a vida tem outros planos, tendo que viver cada processo.

Ela explica como nasceu a ideia do livro. “Eu havia decidido parar de fumar e em função disso percebi que estava muito ansiosa, então iniciei uma horta em casa para ajudar a ocupar a mente e a ansiedade. E a partir disso nasceu o livro. Até hoje lembro do livro quando estou ansiosa”, conta. Baroni lembra que a primeira planta que começou a cuidar foi um abacaxi. Esse passo foi aprendendo sobre o processo de cada planta, como as condições de clima, terra e tipo de cuidados.

Especificamente sobre o abacaxi, Baroni aprendeu que o tempo para o crescimento da planta pode levar até um ano e meio, sendo necessário cuidados específicos. “Isso é muito parecido com a vida dos seres humanos, cada um com uma história, ritmo e jeito. Isso foi uma forma lúdica de aceitar e entender que não podemos ter expectativas baseadas nos outros. Cada história é única”, expõe. 

Um livro com propósito infantil

Ao final de alguns desenhos animados como He-Man, She-Ra e ThunderCat, é comum ver um personagem explicando a moral da história. No livro “Lucas o abacaxi” a escritora faz também essa explicação, trazendo um pouco da sua vivencia. “O livro fala da questão da minha infância, me faz rever os meus hábitos e assim me tornar um adulto mais feliz, com amadurecimento saudável. Comecei a pensar que se eu tivesse aprendido desde de cedo, na minha infância, que tudo leva tempo, eu me daria melhor com as coisas na fase adulta. Uma etapa que eu demorei a compreender. No livro eu falo sobre paciência, para que a criança possa vivenciar essa qualidade”, analisa. 

Para sentir a recepção do livro, Baroni realizou uma oficina de contação de história, percebendo um resultado positivo. Isso a incentivou a continuar na escrita. “Pretendo continuar a escrever, pode ser que agora outros gêneros, como juvenil ou escrevendo histórias, num estilo jornalístico”, diz. Mas antes tem o desejo de fazer uma noite de autógrafo na Maré e assim lançar o livro no seu território, onde a história é vivida. 

Além da escritora, o livro traz as coloridas ilustrações de Robson Pedro, mais conhecido como Rdoisó, morador do Parque União. “Foi inicialmente uma surpresa esse desafio, pois não tinha ilustrado nenhum livro antes. Eu tive que adaptar meu estilo a algo mais infantil. Optei por fazer tudo manualmente com canetinhas e lápis de cor, para trazer um pouco do ar de desenho feito à mão. Foi muito diferente para mim, mas fiquei satisfeito com a conclusão da ilustração”, comenta.

Para quem desejar adquirir o livro pode fazer o pedido pelo Instagram: @euamandabaroni ou WhatsApp: (21) 96414-5649. É necessário a realização de dez pedidos de leitores diferentes para a realização da impressão, já que o livro é uma publicação independente. O livro físico custa R$ 50,00, já o pdf online fica a R$ 30,00.

Saiba como se cadastrar para usar a tarifa social do Metrô

Benefício criado pelo Governo do Estado está liberado desde 12 de abril

Lucas Feitoza

Você já ouviu falar na Tarifa Social? A medida que está valendo desde o dia 12 de abril é uma forma de pagar mais barato nas passagens de Metrô e trens urbanos. O preço das passagens de metrô custa R$6,90, mas com o cadastro o valor diminui para R$ 5. A iniciativa foi criada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, mas nem todas as pessoas sabem como aderir ao benefício.

O Maré de Notícias, pesquisou em um grupo com moradores do conjunto de favelas sobre o assunto. A pesquisa qualitativa com respostas de múltipla escolha teve um total de 60 participantes, deles 55 acham o valor da tarifa do metrô e trem altos. Entretanto nenhum dos participantes conhecem a tarifa social. 

Para usar o recurso da tarifa social é necessário ter o Bilhete Único Intermunicipal (BUI) cadastrado no CPF do usuário. Também ter renda menor que R$7.507,49 e idade entre 5 e 64 anos. Para fazer o cadastro do BUI basta acessar o site. Quem trabalha sem carteira assinada ou não possui renda também tem direito.

Além disso, quem tem o cartão expresso e não está vinculado ao BUI, também precisa fazer o cadastro no Rio Card Mais, preencher o formulário de solicitação, para vincular ao CPF e depois preencher a ficha de declaração de renda.

Como funciona a integração com a tarifa social?

Com o Bilhete Único Intermunicipal cadastrado no CPF, o usuário poderá fazer mais integrações. A primeira tarifa fica no valor social de R$5, e na próxima integração que deve acontecer em até três horas, é cobrado apenas o valor correspondente a integração. Entretanto precisa ter uma hora de distância entre a ida e a volta do destino, caso contrário será cobrado o valor total da tarifa.

A integração com BUI é feita também entre Metrô e BRT. Entretanto, acontece apenas nas estações Jardim Oceânico e Vicente de Carvalho e o tempo de integração é de duas horas e meia. A tarifa social pode ser usada apenas duas vezes por dia. O valor de R$1,90 que não é cobrado na primeira viagem vai ser pago pelo Governo do Estado.

Affonso Dalua lança exposição fotográfica no Museu da Maré 

Perfomance LGBTQIAP+ Favelada’ enobrece o cotidiano das corpas LGBTQIAP+ mareenses e suas resistências pela garantia de vida através da arte

Andrezza Paulo

O artista multiliguagem, Affonso Dalua lança amanhã (2), às 20h, a exposição “Performance LGBTQIAP+ Favelada”, no Museu da Maré. A exposição fotográfica é um manifesto que vai exaltar corpas das LGBTQIAP+ mareenses, apresentando caminhos que as evocam como ato político. A exposição engrandece a presença LGBTQIAP+ no cotidiano e território favelado com fotoperformances nas ruas, becos, vielas e lajes da Maré, apresentando-as como resistência na luta pela garantia de vida. 

Affonso também propõe a reflexão sobre os limites das edições fotográficas e um aprofundamento na ideia da fotoperformance que, de acordo com o artista, não tem a intenção de ser uma fotografia de moda, mas sim uma ação performática no campo das artes visuais.

Dalua fala sobre a resistência das corpas LGBTQIAP+ faveladas na estrutura social: “Hoje no Brasil toda a violência ligada a gênero e sexualidade está diretamente associada a uma sociedade patriarcal que pensa o homem como o centro, e rejeita tudo que é e se espelha ao feminino”, conta. O artista vai além e denuncia: “as corpas que morrem e são torturadas desde os espaços familiares até a sua existência no dia a dia de um território de favela e periferia, são sempre corpas femininas, corpas que rompem a ideia do que é ser feminino, desde a corpa das travestis e trans, a corpa afeminada das gays, bis, pessoas não binárias e até o não reconhecimento do corpo masculino dos homens trans e lesbicas masculinizadas”, contou. 

Gilmara Cunha e sua mãe, compõe a edição 2022 do projeto Mães de LGBTQIAP+ | Foto: Affonso Dalua

Para ele, este cenário fortalece e colabora para o direcionamento do trabalho realizado nesta exposição, onde provoca o público mareense a experienciar a ideia de corpa como ato político existindo como ferramenta de intervenção e resistência, e estar no Museu da Maré torna a exposição ainda mais importante:

“Expor no Museu da Maré é uma grande honra, ainda mais com o recorte LGBTQIAP+ e no mês do orgulho.

É a afirmação de que meu trabalho é um ato político imagético de resistência e evocação que vai exaltar todas as corpas LGBTQIAP+ do Conjunto de Favelas da Maré, e que estão aqui desde sua fundação, como o Derlei que está em uma das fotografias que compõem a exposição permanente do museu da Maré”, conta o artista.

O Artista Multilinguagem

Affonso Dalua é artista multilinguagem, produtor audiovisual no Maré de Noticias, homem cis, bissexual, nascido e criado na Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré. Técnico em Comunicação Visual e graduando de Marketing. Dalua é apaixonado pelos registros fotográficos e integrou a turma da Escola de Fotografia Popular (EFP) do Imagens do Povo, projeto do Observatório de Favelas.

Autoretato de Affonso Dalua em uma das suas diversas formas de representação artística

A apreciação do cotidiano popular, o olhar comunitário e o enaltecimento das resistências faveladas são características marcantes de suas produções fotográficas: “Hoje a fotografia para mim representa um espaço de resgate de narrativas e memórias, um lugar onde construo a minha arte, a partir do meu território, o lugar onde me afirmo quanto um fotógrafo LGBTQIAP+ que pauta não só esses corpos, mas outras narrativas que me atravessam e me fazem mergulhar nas memórias da Maré enquanto um favelado que pulsa arte e respira resistência”, finaliza.

Lançamento: Dia 02/06 às 20h | sexta-feira

No Museu da Maré (Av. Guilherme Maxwel, 26 – Maré).

A exposição faz parte do Programa de Exposições Temporárias de Artistas Mareenses no Museu da Maré 2023 e fica disponível até o dia 29 de junho. Entrada Franca.