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Marcílio Dias no Bairro Maravilha

Obra promete urbanização de área conhecida como favelinha

Hélio Euclides

Nesta quinta-feira (06/04) foi lançado o programa Bairro Maravilha em Marcílio Dias. A obra promete levar a uma área conhecida como favelinha, revitalização, infraestrutura, urbanização, saneamento básico, canalização de água, pavimentação e drenagem com galerias e ralos. O projeto da Prefeitura deve ter custo de pouco mais de R$ 10 milhões, com previsão de 540 dias para finalização e contempla 20 ruas.

Estiveram na cerimônia diversos representantes da Prefeitura, além de políticos, como o vereador Celso Costa, a deputada federal Laura Carneiro e o deputado estadual Rafael Nobre. A execução será fiscalizada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e a Coordenadoria Geral de Obras fica como órgão responsável. A empresa que fará as intervenções será a Construverde. “É formidável que a Prefeitura esteja com um olhar diferenciado para as comunidades, hoje trazendo essa obra para Marcílio Dias”, diz Marcelo Martins, gerente executivo local da Penha.

Serão três etapas de obra, sendo essa a primeira, que começa na segunda-feira (10/04). A área contemplada é de 21.339,74 metros quadrados. “Essa obra vai trazer benefícios para os moradores. São mais de 30 anos de poucas estruturas e agora com muita luta conseguimos. Por outro lado, ainda vai trazer geração de emprego. Esperamos que outros órgãos públicos possam olhar para nós, para a melhoria do transporte, saúde, escola e creche. Essas são demandas que vou entregar para a Prefeitura”, comenta Ana Cunha, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias.

Foto: Matheus Affonso | Serão três etapas de obra, sendo essa a primeira, que começa na segunda-feira (10/04). A área contemplada é de 21.339,74 metros quadrados

O professor Walmyr Junior, coordenador da Horta Maria Angu e militante do Movimento Negro Unificado, acredita que a comunidade precisa fiscalizar a intervenção.

“Que a obra seja executada normalmente, dando uma maior estrutura a comunidade. Poderá ser o fim do esgoto a céu aberto e trazendo saneamento a localidade conhecida como favelinha, que sofre com as chuvas, com moradores tendo água na altura da cintura”, afirma o educador.

Ele completa que a promessa de obra vem desde a administração do governo federal de José Sarney. “Historicamente, a favelinha tem origem como local onde os moradores da empresa Kelson’s moravam, que depois teve a ocupação. As casas aumentaram para três andares, mas não ocorreu a pavimentação. Em 1984 foi aprovada uma obra, que não aconteceu até os dias de hoje, trazendo sofrimento para essa população”, conclui. 

Foto: Matheus Affonso | Moradores e sociedade civil organizada estiveram presentes mostraram empolgação com o início das obras

A mesma expectativa ocorreu com Geraldo de Oliveira, fundador e coordenador da Biblioteca Comunitária Nélida Piñon. “Estamos esperançosos por mais de três décadas. Eu cheguei em 1966 aqui e já se falava na melhoria pela população. O Bairro Maravilha é a realização de um sonho. Essa intervenção vai trazer qualidade de vida, saúde e valorização dos imóveis”, afirma. Junior Felix, 40 anos, morador da favelinha e babalorixá, também percebeu a muito tempo a dificuldade da população local. “Acho bacana ocorrer essa obra para uma população que merece e já sofreu muito. A Prefeitura precisa continuar olhando para a comunidade para trazer mais dignidade e alegria aos moradores”, finaliza.

Vejam as ruas que serão contempladas com a primeira etapa do programa Bairro Maravilha:

-Rua Barão de Mauá

-Travessa São Pedro

-Rua José Sarney

-Travessa Vila Lobos

-Rua Doutor Sobral Pinto 

-Avenida Lobo Júnior 

-Travessa São Sebastião 

-Travessa Treze de Maio

-Rua Sem Nome 3

-Rua Dom Eugênio de Araújo Sales

-Rua Dalva de Oliveira

-Rua sem Nome 2

-Rua sem Nome 1

-Travessa Gonzaguinha

-Rua Nossa Senhora da Penha

-Rua Marcílio Dias

-Avenida Kelson’s

-Vieira Kelson’s

-Rua sem Nome 4

-Rua sem Nome 5

Quem amplifica as vozes da Maré?

No dia do Jornalista: para além da função social, o olhar de quem enxerga a favela como lugar de potência 

Jessica Pires e Gracilene Firmino

O histórico de lutas por melhores condições de vida na Maré não é uma novidade, e nem um fato desconhecido. O povo mareense, desde o surgimento das primeiras palafitas e em todo o desenvolvimento das 16 favelas, criou maneiras de se mobilizar para garantir direitos. Junto ao crescimento da Maré, em seus mais de sessenta anos de história, foram criados, desenvolvidos e aprimorados muitos formatos de fazer comunicação e jornalismo. Por isso, neste 7 de abril, dia do jornalista, chamamos a atenção para o papel fundamental daqueles que constroem narrativas sobre espaços periféricos e de favela. 

Para além de informar, a função social do jornalismo em regimes democráticos é fiscalizar os poderes públicos e privados e assegurar a transparência das relações políticas, econômicas e sociais. O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que analisa a concentração de riquezas, coloca o Brasil em segundo lugar no ranking de má distribuição de renda entre a população. Dessa forma, quando pensamos em um país que está nos topos desses rankings de desigualdade social, e mais especificamente em territórios que a todo tempo são marginalizados e criminalizados por parte da sociedade e também parcela de veículos e profissionais do jornalismo, o desafio de um jornalista ou comunicador se torna ainda maior.

Produzir, desenvolver e distribuir pautas, matérias, reportagens e notícias sobre o Conjunto de Favelas da Maré ou qualquer outra favela do Rio de Janeiro, seja na perspectiva de visibilizar histórias e trajetórias exitosas ou ações positivas, ou com o objetivo de denunciar e cobrar soluções para demandas específicas carrega em si a responsabilidade de amplificar os processos, desejos, sonhos, desafios e questões de quem geralmente é invisibilizado pela sociedade. Estar nesse lugar é trabalhoso principalmente com a falta de recursos e necessidade de ser cada vez mais criativo na busca por espaço e na disputa das narrativas com grandes veículos de comunicação. 

O olhar de quem entende a favela como um território de direitos assim como outro qualquer, na produção jornalística é potente e fundamental para a desconstrução de estigmas que quando massificados, naturalizam a negligência do Estado, em todas as suas esferas. Em especial no dever de fazer funcionar os serviços públicos e garantir direitos básicos e universais para toda a sociedade, independente do lugar onde mora ou da raça, por exemplo. 

“Se todo território tivesse uma comunicação comunitária sólida, seria perfeito. Não é dar voz ao morador; isso ele já tem. O que precisamos fazer é potencializar, aumentar sua visibilidade. Somos nós que fazemos, muitas vezes, uma ponte com o poder público para trazer soluções’’

destacou Hélio Euclides, jornalista que integra a equipe do Maré de Notícias desde a sua criação. 
Hélio Euclides em entrevista com moradora

Amplificar, potencializar as vozes da favela. É uma missão e tanto. Mas muitos aceitaram esse compromisso. O Rio de Janeiro é bem servido de iniciativas de comunicação e de jornalismo comunitário e que são referências para todo o país. Voz das Comunidades, Fala Roça, CDD Acontece, são algumas delas. Na Maré, o Jornal O Cidadão, criado em 1999, tem como um dos seus pilares o fortalecimento da identidade local. 

Já o Maré de Notícias nasceu em 2009, com a missão de informar a fim de mobilizar a população do território. Em pouco tempo, se tornou um dos maiores jornais comunitários do Brasil com tiragem de 50 mil exemplares da versão impressa. Em 2017, lançamos o site, que atualmente é acessado em todos os cantos do país como fonte de informações sobre a região. Assim, o Maré de Notícias se consolidou como uma das principais ofertas de informação de qualidade para os 140 mil moradores das 16 favelas da Maré.

Desde então, os jornalistas que colaboram e constroem o Maré de Notícias, em sua maioria moradores da Maré, têm como premissa essa responsabilidade e olhar sensível de não apenas documentar essas histórias e fatos. Tão importante quanto visibilizar, para nós, é incluir essas pessoas no processo de construção dessas narrativas e mobilizar para que os dados e informações apuradas sirvam de instrumento para que elas melhorem a qualidade de suas vidas e acessem de forma plena direitos diversos. 

Nesse sentido, vivenciamos aqui na Maré algumas experiências positivas e que incidiram na garantia de direitos e que foram fortalecidas pela construção de narrativas do Maré de Notícias, no campo do direito à Segurança Pública e acesso à justiça, da Educação, da Arte, Cultura, Memórias e Identidades, da Saúde, dos Direitos Urbanos e Socioambientais e outros.

Nesse dia 7 de abril saudamos a todas e todos que acreditam, contribuem e estão comprometidos com um fazer jornalismo responsável, com um olhar central para a efetivação de direitos, que contribua para a construção de uma sociedade democrática e que não alimente uma lógica que reduz favelas a lugares de produção violência. É fundamental que mais pessoas estejam envolvidas nessa missão de amplificar as vozes das favelas. Portanto, se você é jornalista, se engaje cada vez mais em uma comunicação não-violenta e que respeite os territórios periféricos e de favela. Para a sociedade, que todos possam valorizar e viabilizar o jornalismo comunitário. Lendo veículos alternativos, compartilhando as informações que vêm desse lugar, apoiando e fortalecendo os projetos desenvolvidos por eles. Amplifique essas vozes também.

Foto: Arquivo MN | Da esquerda para a direita: Samara Oliveira, Amanda Célio, Jéssica Pires, Lucas Feitoza, Andrezza Paulo e Gabi Lino. Parte da equipe que construiu e constrói o Maré de Notícias

P.U recebe telão de cinema para exibição de curta-metragem

A atividade marca o encerramento da primeira edição do Mostra CineBELA Migrações Periféricas

Redação

A primeira edição da Mostra CineBELA Migrações Periféricas chega à sessão final nesta quinta-feira (6), a partir das 18 horas, na Praça do Parque União, no Conjunto de Favelas da Maré. A ação celebra o cinema brasileiro e propôs debater por meio do audiovisual as vivências de pessoas que passaram por movimentos migratórios em diversas periferias do mundo, dialogando com o cotidiano do Rio de Janeiro.

A sessão de encerramento será marcada pela exibição do curta-metragem “Novo Rio”, do diretor Lorran Dias, e na sequência o público vai conferir o longa “A cidade é uma só?’, de Adirley Queirós. A Mostra tem entrada gratuita e a classificação é livre.

Anna Luísa, coordenadora do Programa Educativo do Galpão Bela Maré, afirma que a expectativa é grande para movimentar as ruas e reunir a população da Maré no território com sessão gratuita de cinema com direito a pipoca e refrigerante:

“A expectativa de todos aqui é muito boa, porque já existe o CineBela como um cineclube, onde sempre realizamos sessões em nosso espaço, e em praças e outros espaços públicos. E a última realizada na Praça do Parque União foi um sucesso. Então a gente aguarda que o público prestigie novamente, em grande número. Além da exibição dos filmes, vamos ter um bate-papo com o Lorran Dias, diretor do curta Novo Rio. E vai ter muita pipoca e refrigerante de graça para todo mundo”, conta animada.

Remuneração para o jornalismo digital em debate

Mídia digital de pequeno porte quer receber de big techs por meio de um fundo setorial. A proposta é importante para igualdade entre os veículos jornalísticos

Por Daniele Moura

O Projeto de Lei 2630/20 institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O texto cria medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais, como Facebook e Twitter, e nos serviços de mensagens privadas, como WhatsApp e Telegram, excluindo-se serviços de uso corporativo e e-mail. Se for aprovado, a lei valerá para as plataformas com mais de 2 milhões de usuários, inclusive estrangeiras, desde que ofertem serviços ao público brasileiro. Certamente a proposta é um avanço para que as big techs possam começar a remunerar veículos digitais de conteúdo jornalístico.

A tramitação do PL nº 2630/2020, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, é uma oportunidade ímpar para tratar de assunto muito relevante atualmente, sobretudo no mundo que vivemos ameaçados pela desinformação.

Na última década, foram muitas iniciativas criadas no campo do jornalismo digital, seja ele local, comunitário, investigativo, nas quais criaram grande impacto social, sobretudo nas favelas e periferias – só olhar para o auge da pandemia e perceber a importância que veículos como o Maré de Notícias tiveram como difusor de informações que puderam salvar vidas e matar a fome de muitos moradores da Maré. O Maré de Notícias publicou diversos conteúdos sobre a Campanha Maré Diz Não ao Coronavírus, da Redes da Maré, fez parceria com a Fiocruz e criou uma editoria sobre o coronavírus, além de vídeos, podcasts, rondas diárias e listas de transmissão por WhatsApp.

Mas sobreviver após a pandemia é e está sendo difícil. São inúmeros desafios, mas certamente o maior deles é a sustentabilidade financeira. Na maioria das vezes a receita vem do espaço publicitário oferecidos nos sites. E aí quem tem mais cliques, ganha mais. Isso favorece a manutenção de uma lógica que os grandes sempre ficarão grandes e os pequenos lutando para sobreviver (em todos os sentidos).

O PL nº 2630/2020 propõe regular a atuação de plataformas digitais e, ao mesmo tempo, criar um mecanismo de financiamento ao jornalismo digital. O Maré de Notícias faz parte da Ajor, Associação de Jornalismo Digital, junto com mais de cem organizações jornalísticas com ou sem fins lucrativos. A associação defende que se construa um fundo setorial para fomentar o jornalismo.

O pagamento direto das bigs techs aos veículos digitais pode reforçar a hegemonia das grandes empresas de mídia. E por isso que a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a Globo se opõem à criação de um fundo para remunerar o jornalismo. Desde o início dessa discussão a Ajor tem acompanhado o processo de aprovação dessa PL. Essa semana a organização escreveu uma nota fortalecendo a importância do fundo.


Nota da Ajor

Não existe democracia sem jornalismo. A desinformação tem o poder de minar o tecido social e levar a cenas de violência como as vistas no dia 8 de janeiro deste ano. Para que atos como aqueles, amplamente rejeitados pela população, não se repitam, é urgente fortalecer e ampliar a produção de informação de qualidade e o jornalismo de interesse público.

Um jornalismo plural e diverso, que dê conta das diferentes realidades do país, é essencial para garantir cidadania plena aos brasileiros. A tramitação do PL nº 2630/2020, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, é uma oportunidade ímpar para tratar esse assunto com a profundidade que merece.

Na última década, floresceram empreendimentos de jornalismo digital, seja ele local, comunitário, investigativo, generalista ou especialista, além de newsletters, podcasts e canais de vídeo que vêm tendo enorme impacto sobre a sociedade. Basta lembrar a importância das agências de checagem no combate às Fake News e o impacto de projetos de jornalismo investigativo como a Vaza Jato

Enquanto a pandemia de COVID matava milhares de brasileiros por dia, essa nova mídia trazia informações sobre serviços de saúde. Quando a fome decorrente da crise sanitária ameaçava os mais vulneráveis, os veículos comunitários e de favelas promoviam campanhas de arrecadação de alimentos. O bom jornalismo salvou vidas.

A sustentabilidade desses empreendimentos, no entanto, esbarra na mesma internet que os tornou possíveis: a receita publicitária, que sempre foi uma das principais fontes de financiamento da imprensa, está sendo capturada por plataformas digitais. Hoje, Alphabet e Meta, também conhecidas como Google e Facebook, formam um duopólio incontestável nesse mercado. Perde a imprensa tradicional, perde a nova mídia e, sobretudo, perde a sociedade.

O PL nº 2630/2020 representa um avanço histórico ao propor regular a atuação de plataformas digitais e, ao mesmo tempo, criar um mecanismo de financiamento ao jornalismo digital. É preciso que essa remuneração à imprensa seja tratada como política pública e esteja sujeita a princípios de boa governança. 

A negociação direta entre empresas de mídia e plataformas digitais, sem transparência sobre valores e critérios, concentra poder nas próprias big techs e termina por beneficiar grandes conglomerados de comunicação. Veículos médios e pequenos muitas vezes não conseguem sentar-se à mesa; quando conseguem, têm um poder de barganha muito menor e negociam no escuro

Caso o caminho seja esse, não há por que esperar, no Brasil, um resultado diferente do observado na Austrália, país que implementou legislação semelhante em 2021. Lá, grandes empresas de mídia têm sido beneficiadas com contratos vultosos, enquanto pequenas e médias iniciativas muitas vezes não conseguiram sequer começar a negociar. 

No Brasil, essa nova mídia tem permitido uma significativa pluralidade de vozes e pontos de vista na cobertura jornalística, garantindo o acesso à informação a populações de territórios esquecidos pela imprensa tradicional. Segundo o Atlas da Notícia, metade dos municípios brasileiros, onde vivem 30 milhões de pessoas, não têm cobertura local. São mais de 13% dos cidadãos vivendo em verdadeiros desertos de notícias. 

As mais de cem associadas da Ajor, Associação de Jornalismo Digital, de todas as regiões do país, fortalecem a cidadania e a democracia brasileiras e contribuem para superar a histórica concentração da mídia num país diverso e continental. Suas particularidades reforçam a necessidade de uma política pública efetiva de garantia à sustentabilidade do jornalismo digital. 

Por isso, a Ajor defende a criação de uma política pública transparente e com governança adequada de apoio ao desenvolvimento do jornalismo a partir de receitas provenientes de taxação das plataformas digitais. Um fundo setorial é necessário para fomentar o jornalismo de interesse público, por meio de mecanismos transparentes de distribuição de recursos e com incentivo às pequenas e médias iniciativas. 

Áustria, Itália, Holanda, Noruega e Canadá têm encontrado soluções nesse sentido, por entenderem a necessidade de fomentar o jornalismo digital como importante mecanismo de combate à desinformação. Os modelos são diversos, mas têm em comum a defesa da expansão do jornalismo digital, o pluralismo e a regionalização da cobertura jornalística.  

Para garantir a transparência e uma gestão atenta às necessidades de desenvolvimento do campo, é necessário implementar um mecanismo de governança intersetorial, com a participação de governo, empresas jornalísticas e sociedade civil organizada, com diretrizes claras que priorizem o jornalismo de interesse público, a pluralidade e o fomento à inovação. 

É essa oportunidade que o PL nº 2630/2020 não pode perder. O Brasil tem todas as condições de dar ao mundo mais esse exemplo de defesa da democracia. É preciso que as plataformas financiem o jornalismo de interesse público, de maneira plural, transparente e com governança social.


Íntegra da Lei, só clicar aqui.

ENTENDA O QUE ESTÁ EM DEBATE:

Qual o debate sobre a regulação das redes sociais??
Sob o impacto dos atos golpistas do 8 de janeiro, o governo Lula elaborou proposta que obriga as redes a removerem conteúdo que viole a Lei do Estado Democrático, com incitação à golpe, e multa caso haja o descumprimento generalizado das obrigações. O Executivo encaminhou a proposta para o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), relator do PL 2630, o chamado PL das Fake News, que irá discutir o texto com lideranças na Câmara.

O que é o Marco Civil da Internet?
É uma lei com direitos e deveres para o uso da internet no país. O artigo 19 do marco isenta as plataformas de responsabilidade por danos gerados pelo conteúdo de terceiros, ou seja, elas só estão sujeitas a pagar uma indenização, por exemplo, se não atenderem uma ordem judicial de remoção. A constitucionalidade do artigo 19 é questionada no STF.

Qual a discussão sobre o artigo 19???
A regra foi aprovada com a preocupação de assegurar a liberdade de expressão. Uma das justificativas é que as redes seriam estimuladas a remover conteúdos legítimos com o receio de serem responsabilizadas. Por outro lado, críticos dizem que a regra desincentiva as empresas e combater conteúdo nocivo.

A proposta do governo impacta o Marco Civil??
O entendimento é que o projeto a ser incluído do PL das fake news abra mais uma exceção no Marco Civil. Hoje, as empresas são obrigadas a remover imagens de nudez não consentidas mesmo antes de ordem judicial e violações de direitos autorais. O governo quer que conteúdo golpista também se torne uma exceção à imunidade concedida pela lei, mas as empresas não estariam sujeitas à multa caso um ou outro conteúdo violador fosse encontrado na plataforma, só se houver descumprimento generalizado.

Como funciona em outros países?

EUA: A legislação imuniza as plataformas por conteúdos de terceiros, e não responsabiliza as empresas caso o conteúdo seja removido em boa-fé. Projetos e ações na Justiça discutem ampliar a responsabilidade das plataformas

União Europeia: Diretiva do bloco estabelece que as redes só podem ser responsabilizadas se não agirem após denúncia. A lei de serviços digitais, vigente a partir deste mês, mantém essa imunidade, mas estabelece obrigações às plataformas, como relatórios de transparência, e demonstração de conteúdos removidos

Reino Unido: Empresas não podem ser punidas por danos causados por conteúdo de terceiros. Uma proposta estatui que as plataformas deverão garantir a aplicação de seus próprios termos de uso, e o direito dos usuários de recorrer das decisões de moderação

E onde entra o financiamento ao jornalismo?
O PL das fake news previa negociação direta dos veículos de mídia com as big techs para remuneração de conteúdo jornalístico, em mecanismo semelhante ao implementado na Austrália em 2021. A medida é defendida pela Globo e grandes empresas de mídia. Mas a proposta do Executivo estipula que o conteúdo jornalístico entraria em um esquema de pagamento de direitos autorais como músicas, vídeos e filmes.

Operação da polícia civil e militar tem ação dentro de CIEP na Maré

Moradores foram afastados pela polícia com bombas de efeito moral

Por Redação

A operação policial da Polícia Civil, com atuação da Delegacia de Roubos e Furtos e do BOPE, foi iniciada na região da Nova Holanda por volta das 5:30h da manhã desta quarta-feira (5). Moradores que se organizavam para iniciar o dia foram mais uma vez surpreendidos com o som de tiros, domicílios sendo invadidos sem mandados policiais e a circulação dos veículos blindados nas favelas Nova Holanda e Parque União.

A Clínica da Família Jeremias de Moraes e Silva interrompeu o funcionamento nesta manhã e 21 unidades escolares não tiveram atividades, afetando mais de 8 mil alunos, de acordo com a Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Educação. 

Além de mais um dia sem aulas, o direito à educação foi violado de uma maneira muito cruel na Maré. Por volta das 8h integrantes dos grupos civis armados se abrigaram dentro do Ciep Elis Regina, localizado na Nova Holanda. Agentes da polícia, com o apoio de dois blindados, acessaram a unidade de ensino a fim de capturar os homens. Durante a ação, a polícia revidou contra moradores, familiares, mulheres, mães, companheiras que buscavam informações sobre a vida e a segurança das pessoas que eram mantidas dentro do CIEP. Foram utilizadas bombas de efeito moral dentro da escola, sem nenhum movimento de negociação ou articulação com os moradores. 

Em 2022, estudantes da Maré perderam 15 dias de aulas, por conta da violência armada e 62% das operações policiais aconteceram próximo a escolas e creches. Os dados são da 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, da Redes da Maré e evidenciam o quanto o uso da força policial como estratégia da política de segurança pública não é eficaz e ainda viola diversos outros direitos dos 140 mil moradores do Conjunto de Favelas da Maré.

A operação inviabilizou a realização de diversas atividades hoje no território, como ações de comemoração da Páscoa de organizações e coletivos e uma caminhada realizada por mães e familiares de pessoas com autismo.

Determinações da ADPF das Favelas como a presença de ambulância para socorro a possíveis vítimas, a preservação do perímetro escolar e o uso de câmeras nos uniformes dos agentes policiais foram mais uma vez descumpridas na operação desta quarta-feira.

O Maré de Direitos, projeto da Redes da Maré, que presta atendimento as vítimas de violações de direitos, inclusive em dias de operações policiais, está em plantão na sede da organização, na Nova Holanda.

Seguimos apurando informações sobre a ação que segue em curso. Acompanhe também pelas nossas redes sociais @maredenoticias.

Casa Resistências da Maré completa 1 ano e recebe medalha Chico Mendes

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Aniversário do espaço contou com um dia de programação e homenagem a apoiadores

Samara Oliveira

Há um ano a Casa Resistências segue fazendo jus ao nome, atuando no território da Maré como um espaço de cultura, acolhimento e de luta pela garantia dos direitos de mulheres lésbicas. Em comemoração, no último sábado (1), o espaço promoveu um dia de festa com uma programação que contou com massagem corporal, roda de conversa “papinho sapatão” que falou sobre desejos e sonhos para a casa, assim como perspectivas e possibilidades para mulheres lésbicas de favelas. 

“Ao longo desse primeiro ano o desafio foi muito grande, a Maré é um território com muitos movimentos sociais com grande multiplicidade de pautas e algumas mobilizam muito, e outras, como nossa pauta de lésbicas e mulheres LBT, nem tanto. Assim o desafio da casa resistências no primeiro ano foi se mostrar necessária, se fazer referência e isso aconteceu. Para os próximos anos, queremos construir ações na casa a partir dos sonhos e desejos que nos chegam pelas mulheres LBT da Maré. É sobre esse pilar que nosso planejamento estratégico dos próximos três anos será erguido”

Dayana Gusmão, uma das coordenadoras do espaço
Foto: Arquivo pessoal | Apoiadoras da casa debateram sobre planejamento estratégico nos próximos anos

A festividade também homenageou pessoas e grupos que apoiaram a casa neste primeiro ano, como as deputadas estaduais Renata Souza, Dani Monteiro e a vereadora Mônica Benício. A Casa Oxum, Instituto de Psicologia da UFF, Projeto Floresta Cidade da UFRJ, Projeto social Pra Elas, Mariellas FC, Crias do Tijolinho, Redes da Maré, Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), Espaço Casulo, Instituto Maria e João Aleixo, além de Flavinha Candido, Evelyn Silva, Maíra Garrido e Grace Kelly, também receberam a premiação. 

Deixando o primeiro ano de atividade ainda mais especial, a Casa Resistência foi indicada pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio para receber a Medalha Chico Mendes, uma condecoração criada pela ONG brasileira Grupo Tortura Nunca Mais para homenagear pessoas ou grupos que lutam pelos direitos humanos e por uma sociedade mais justa. A entrega da medalha foi realizada na última segunda (3), na Capela Ecumênica da UERJ, no Maracanã.

Foto: Divulgação | Após comemorar um ano de trabalho na Maré, Casa Resistências recebe medalha Chico Mendes

“Receber esse reconhecimento dois dias após a comemoração de 1 ano da casa é de extrema emoção, ainda mais se tratando de um prêmio desse nível. Além do reconhecimento, ele traz gás para que possamos continuar nesse caminho que estamos traçando. Sobretudo, se trata também de como acolhemos as meninas e mulheres que chegam até nós, já que somos contra a essa política de manicômio, onde as pessoas vivem presas nos espaços onde elas deveriam se sentir livres”, comenta Camila Felipe, que também coordena a Casa Resistências. 

Para conhecer mais sobre a iniciativa, busque por @resistencialesbica_ no Instagram.