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Um aplicativo para a favela

Papoom promete ajudar na proximidade entre clientes e comércios da Maré

Por Hélio Euclides Editado por Jéssica Pires 

Pintou aquela fome, uma vontade de comer um alimento da favela. Xi, mas você perdeu o telefone? Para piorar, o aplicativo de comida tradicional não entrega em partes da Maré! Seus problemas acabaram. Esse é o compromisso do Papoom – marketplace da favela. Um aplicativo que vai ligar os consumidores aos comércios da favela. No estado do Rio de Janeiro a favela escolhida para estrear o projeto foi o Parque União. Um dos objetivos do aplicativo é, em breve, uma expansão para toda a Maré.

Hoje com a tecnologia, é possível se conectar ao mundo. Mas muitas vezes não é possível se comunicar com quem está perto. Com O Pappom será possível se deliciar com a gastronomia e utilizar os serviços da favela apenas com alguns clicks. Essa inovação só foi possível na Maré após o apoio da Associação de Moradores do Parque União. “Essa parceria vai enfrentar a leitura distorcida de que a favela só tem violência e lixo. Esse projeto vai ser um abre alas para a entrada de outros investimentos na favela. Seu propósito é ligar consumidores da favela, mostrando a força local. Vou de porta em porta para mostrar o valor local. A favela tem potência, o Parque União é referência”, comenta Caitano Silva, social media da associação. 

O Papoom começou em Curitiba, na favela de Vila Torres, com uma forma de teste, com 2.500 pessoas cadastradas. O aplicativo tem como objetivo conectar os consumidores e vendedores das favelas, sendo uma forma prática de achar o que se deseja o mais perto de casa, sem precisar buscar nos Correios, como ocorre em compras on-line. O projeto aterrissou em terras cariocas em fevereiro de 2022.

Um dos grandes diferenciais do Papoom é não ter custos para os comerciantes. Quando o comércio usa um aplicativo conhecido de vendas paga-se 12% de suas vendas, sistema igual para os aplicativos de carros, no qual o motorista paga uma taxa. “Estamos na fase do preenchimento de formulário por parte dos comerciantes para depois lançar o aplicativo. O objetivo é começar com 150 comerciantes cadastrados”, diz Anderson Jedai, poeta, pós-graduado em favela e membro do G10 Favelas. 

Jedai acrescenta que o aplicativo vai ativar a economia local, fazendo com que o dinheiro circule dentro da favela. “Esperamos um impacto positivo nas vendas da favela. Será uma forma de divulgar a diversidade da favela, que tem hambúrguer mais gostosos que das empresas de fast food conhecidas”, conclui. Ele informa que no futuro os comerciantes que desejarem pagar uma taxa vão poder impulsionar as suas vendas, como é feito no Facebook. 

Os comerciantes do Parque União estão na expectativa, é o caso de Maria Cristina, da Heróis Burger. “Fiz o cadastro, pois espero algo positivo, que atraia mais clientes. Hoje o comércio não está fácil e ter um aplicativo dentro da nossa comunidade que ajuda a divulgar o estabelecimento esperamos que com isso possa aumentar as vendas”, argumenta. 

Marcos Vinícios, da barbearia Estúdio MB, destaca que o Papoom está vindo só para somar com todos, trazendo evolução e tecnologia. “O fluxo de pessoas que visitam o Parque União hoje é muito grande, sendo assim o aplicativo pode ser uma ponte para mostrar a todos os negócios da região para futuros clientes. Outra coisa interessante é ficar acessível aos próprios moradores que não precisarão ficar rodando para achar o que deseja. Se eu pudesse definir o Papoom em três palavras eu diria facilidade, agilidade e crescimento”, comenta. Ele ainda lembra que o aplicativo terá um chat de bate-papo, o que vai sanar dúvidas do consumidor.  

Papoom tem lançamento carioca 

O Papoom foi divulgado no Rio Innovation Week, evento que aconteceu no início de novembro no Píer Mauá, reunindo empreendedores, investidores, estudantes, pesquisadores, agricultores, executivos e representantes do governo. Os participantes compartilharam experiências e conhecimento, debateram e apresentaram novas estratégias para os negócios, o futuro das profissões e da educação, impulsionando negócios, ideias e startups

Jedai e Caitano estiveram no Rio Innovation Week atraindo investidores para o aplicativo. “Não vamos nos acomodar, queremos fazer várias conexões para trazer recursos para o território. Estamos fazendo um trabalho de responsabilidade. Estamos pensando na população, mostrando os seus direitos e deveres”, finaliza Caitano. Mais informações pelo: @ampuparqueuniao.

O potencial da maré também é solidariedade

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Maré Solidário promove manhã de homenagem a lideranças do território

Por: Hélio Euclides Editado por: Jéssica Pires

Uma manhã para relembrar momentos de solidariedade de 2022, de agradecimento a todos que fizeram parte da corrente de companheirismo na Maré e para além do território. Esse foi o clima do dia 19 de novembro. O Projeto Maré Solidária reuniu moradores na Gerência Executiva Local Maré (GEL), antiga 30ª Região Administrativa, para uma homenagem a quase 50 nomes da Maré que fizeram um trabalho comunitário valorizando e ajudando outros mareenses e cidadãos de outras localidades.

O evento teve como abertura a fala de Rafael Lima, presidente do projeto Maré Solidária, que contou a sua trajetória de vida. “Comecei como engraxate e depois cobrador de kombi. Assim convivi com os mais humildes. Percebi que era necessário promover ações para fazer o bem sem olhar a quem. No momento mais crítico da pandemia saímos às ruas para mostrar medidas de prevenção e saúde. Agora o meu sonho é criar o projeto futuro bombeiro mirim na Maré”, conta. No segundo momento ressaltou a importância da parceria de instituições e moradores nas campanhas de auxílio a pessoas em situação de vulnerabilidade nos cinco anos de existência do projeto. Entre as atividades mais emocionantes do grupo, ressaltou as caravanas a Petrópolis, no período das enchentes no início do ano. 

O ponto alto da festa foi quando os convidados contaram qual o sentimento ao realizar um ato solidário. Naldinho Lourenço, da Frente de Mobilização da Maré exaltou a amizade das pessoas que se uniram para combater a fome e destacou a importância da cozinha comunitária. Outros exaltaram também a valorização do voluntário individual, como Edna Gomes, presidente da instituição Nova Direção, e Eduardo da Silva, articulador e comunicador territorial operacional da Redes da Maré. Um desses voluntários individuais é Daniel José, que costuma reformar cadeiras de rodas sem cobrar nenhum valor. “Esse trabalho é especial para mim, pois conjugo o maior dos sentimentos, o amor ao próximo”, diz.

Um dos homenageados foi Pedro Francisco, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança. “Ser voluntário é muito importante, sendo algo além de dar dinheiro. Promover a solidariedade é trabalhar o companheirismo, o abraço, o sorriso e apoio nos momentos mais difíceis”, comenta. Hélio Euclides, repórter do Maré de Notícias, também foi um dos que receberam o certificado de participante da rede de solidariedade, por realizar diversas matérias de divulgação de campanhas e valorização do ser humano. “É muito gratificante quando escrevemos sabendo que vai acrescentar algo de bom na vida de alguém. Hoje lembro Bira Carvalho, fotógrafo da Maré, que sempre exaltou o reconhecimento vindo do território, e com esse prêmio me sinto honrado”, comenta. 

Rafael conclui a cerimônia agradecendo a todos e convidando todos a continuarem na solidariedade em 2023. “Hoje foi marcante para mim e para o Projeto Maré Solidária por proporcionar o reconhecimento do trabalho de voluntários e instituições locais. Que possa aparecer mais voluntários para ajudar a mais pessoas, algo que é de suma importância”, exalta. Ao final todos se confraternizaram com um café e bolo.

Com a mente ativa e solidária

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Senhoras da Maré criam artesanatos para doações

Por Hélio Euclides Editado por Jéssica Pires

Após anos de trabalho, enfim chega o dia da aposentadoria. Um momento para o descanso, sentar no sofá e ver televisão. Esse freio na vida traz para muitos o sentimento de não ser importante. É o momento de procurar uma atividade de lazer que faça bem e principalmente não deixe a mente estacionada. Pensando nisso, um grupo de dez mulheres se uniram e formaram o grupo “Artes Saúde Senhoras da Maré”. Que se encontram duas tardes por semana para criar peças de artesanatos e doar para hospitais. 

Quando se pensa em idosos, vem ao pensamento Copacabana, o bairro mais envelhecido do país. São 43.431 moradores com 60 anos ou mais, quase um terço da população local. Os dados fazem parte do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Quando se estuda o país, em sete décadas, a média de vida do brasileiro aumentou 30 anos, saindo de 45,4 anos, em 1940, para 75,4 anos, em 2015. 

Contudo, a pandemia atingiu em cheio os idosos, freou a estimativa de vida. Matéria publicada na CNN Brasil mostra que a expectativa de vida dos brasileiros diminuiu em aproximadamente 4,4 anos. Um levantamento elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que em 2019 a média de longevidade brasileira era de 76,6 anos. Em contrapartida, somente entre março de 2020 e dezembro de 2021, caiu para 72,2 anos. A pesquisa tem a expectativa que ao término da pandemia esses números possam mudar, com uma queda da taxa de natalidade e que a população envelheça cada vez mais.

Na Maré esse número representa 10.294 idosos, ou seja, mais de 7,4% de habitantes do território na faixa etária de 60 anos ou mais, segundo o Censo Populacional da Maré 2013. 

Foto: Gabi Lino

O artesanato da clínica para o hospital

Uma ação pensada para a população da terceira idade nasceu na Clínica da Família Ministro Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros, por meio da Doutora Raquel Limia, especialista em saúde da família e dentística, mestre em clínica odontológica. Ela atuou na unidade por oito anos, até 2018. O objetivo inicial na origem do Grupo Artes Saúde Senhoras da Maré foi trazer para os idosos maior autonomia, independência e “fome de vida”, enfrentando transtornos como depressão, obesidade, hipertensão e diabetes.

As atividades eram extremamente variadas, ligadas predominantemente à arte. “Abordávamos artesanato, cinema, teatro, música, canto e dança. Fazíamos também diversos passeios, o que trazia maior unidade enquanto grupo, novas vivências e realidades. Assim, elas tinham seus próprios compromissos e novas histórias para contar.  O direito de voz era de todos e todos eram ouvidos, sempre”, diz Limia. Com o tempo, as amizades se fortaleceram, um enorme vínculo foi criado, cada um passou a ser muito importante dentro e fora do grupo. “O Artes Saúde Senhoras da Maré é coeso, feliz e animado, ganhou vida própria. Até hoje, permanece unido. Encontramo-nos diante de uma história de sucesso, construída com muito amor, trabalho, seriedade e perseverança. São um exemplo para todos nós”, conclui. 

Com a transferência de unidade da doutora, o trabalho foi assumido por Leonardo Borges, profissional de educação física do Programa Academia Carioca, por responsabilidade do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). “É um trabalho que incentiva a memória, além de favorecer o convívio social. Elas fazem o bem para elas e para quem precisa. É um grupo incrível, que transforma por meio de gestos positivos de doações a vida de muitos”, diz.

O grupo hoje reúne 10 pessoas que mostram jovialidade nas criações manuais. Elas constroem gorros, brincos, mamas de alpiste, polvos para os prematuros, árvores de Natal, guirlandas, descansos de panela, imãs de geladeira, bolsas, toalhinhas, chaveiros, pulseiras e máscaras de dormir, que são doadas para pacientes internados em locais como o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE). “É um lugar de bate-papo, de exercício para a mente. Além de aprendermos novidades de artesanato, ainda ajudamos os hospitais”, comenta Julieta Carvalho, de 81 anos.

A atividade do grupo ajuda no envelhecimento saudável. “É uma maravilha para a saúde, não sinto dor e chego aqui esqueço dos problemas familiares. No início meu filho reclamava que eu saia tão cedo, hoje ele gosta de ver uma maior interação minha com as pessoas. Antes precisava de remédio, hoje a minha pressão é de criança”, conta Lúcia Maria Fonseca, de 59 anos. Na maioria das vezes para a criação dos artesanatos utilizam a técnica do crochê e do fuxico. Luzinete Nunes, de 58 anos, detalha que utilizam materiais em boa parte reciclados, com reaproveitamento de retalhos. “Aproveitamos materiais como garrafas pet, tampinhas, potinhos de maioneses para transformar em artes”, conclui. 

Um dos destaques na criação do grupo é o polvo para os prematuros. As pernas feitas de crochê lembram o cordão umbilical e ajuda no desenvolvimento dos bebês. O grupo ainda realiza confraternizações em datas comemorativas. Nesses eventos, a matriarca, Maria Ferreira, de 89 anos, não deixa faltar o seu doce de casca de maracujá. Iranice Guedes, de 56 anos, adora os encontros com as amigas. “Tento não faltar, pois sentimos a ausência do trabalho. No artesanato só queremos a continuidade e ver o resultado final. Somos felizes por fazer o que gostamos”, expõe. Esse é o mesmo pensamento de Maria do Socorro Silva, de 72 anos. “Venho com gosto. O melhor momento do nosso trabalho é terminar um trabalho e fazer a entrega, é uma grande emoção”, finaliza.

Funcionários da clínica da família ficam admirados com as idosas. “Esse grupo é inovador. Além de distrair a mente, são mulheres alegres e ainda fazem produtos para os que mais necessitam”, comenta o doutor Geraldo Fernandes, dentista. O colega José Roberto de Oliveira, agente de saúde, é só elogios. “Quero chegar a idade delas com esse vigor. São muito dedicadas e unidas”, conta. Os encontros impulsionam a importância de se criar e aprender novas atividades nesta fase da vida. 

Foto: Gabi Lino

Atrocidade e truculência em chacina na Maré nesta sexta-feira

8 mortes confirmadas na operação que acontece desde a madrugada

A operação conjunta da Polícia Militar e Polícia Civil que acontece na Maré desde às 4h da manhã desta sexta-feira chama mais uma vez atenção e marca o conjunto de favelas pela quantidade e intensidade de ações truculentas, mortes e violência com moradores. A ação que já descumpria os dispositivos jurídicos da ADPF 635/2019 sobre o seu horário de início, também já ultrapassa o seu horário de fim – às operações noturnas violam um dos pedidos que foram aprovados pelo STF. Além disso, outra decisão descumprida foi a presença das ambulâncias no entorno para realização da ação, isso custou a vida de moradores e um policial que também foi atingido na ação. Essa operação afetou algumas favelas do conjunto, mas teve concentração de episódios de muita violência na Nova Holanda e no Parque União.

Moradores denunciam mortes na Maré na operação desta sexta

Ainda na parte da manhã já eram 3 pessoas mortas na ação, entre elas o jovem Renan Lemos, de 24 anos. A Delegacia de Homicídios (DH) não realizou o processo legal de perícia no caso de Renan, assim como a Defesa Civil não foi fazer a retirada do corpo no local, o que obrigou a família a colocar o jovem em óbito em um carrinho de mão, carregá-lo até a Av. Brasil, e aguardar por volta de três horas a retirada do corpo. Após muitas denúncias e articulações, com Ministério Público e outras instituições de defesa dos Direitos Humanos, o corpo de bombeiros atestou o óbito, a  22ª Delegacia de Polícia registrou a ocorrência e a Defesa Civil retirou o corpo. A DH não realizou a perícia do local nem do corpo, fato que atrapalha qualquer possibilidade de investigação sobre as mortes do dia de hoje na região.

A operação seguiu por toda a tarde com diversas denúncias e relatos de danos ao patrimônio, invasões de domicílios e carros violados. Familiares de três pessoas que foram feridas buscavam por informações pois não encontravam o paradeiro das vítimas.

Moradora busca por paradeiro do irmão que foi atingido na operação

Já no fim da tarde, quando a movimentação de policiais na região já era reduzida e moradores acreditavam no fim da operação e voltavam à normalidade do cotidiano, circulando e realizando suas atividades muitos agentes policiais saíram do 22º Batalhão da Polícia Militar que tem sede na Maré e atacaram moradores com tiros, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Uma pessoa foi baleada e levada para dentro do batalhão. No mesmo horário, no Parque União, três pessoas foram mortas.

Ainda não há informação oficial sobre o fim da operação, ainda há caveirão e policiais circulando pela região e há relatos de moradores com receio sobre a possibilidade de agentes estarem de “tróia”. 

É fundamental que toda a sociedade civil enxergue o tamanho da truculência com que as forças policiais do Estado do Rio de Janeiro estão atuando no Conjunto de Favelas da Maré nesta sexta-feira. É possível e importante oficializar denúncias sobre a ação para o Ministério Público através do WhatsApp: (21) 2215-7003

Mortes e violações de direitos nesta sexta na Maré

Perícia não foi realizada no local da morte de jovem assassinado, cuja família foi responsável pelo transporte do corpo até Av. Brasil

A operação policial que é realizada na Maré desde a madrugada desta sexta-feira (por volta das 4h da manhã) e conta com a presença de forças da Polícia Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro, com homens dos batalhões da COE (Coordenadoria de Operações especiais – BOPE, CHOQUE E BAC), já tem três mortes confirmadas e diversas e sérias violações de direitos no Conjunto de Favelas da Maré. 

Apesar de uma das determinações da ADPF das Favelas indicar que operações policiais não aconteçam no período da noite/madrugada, os registros de tiros da Vila do Pinheiro ao Parque União e o som dos voos rasantes do helicóptero que amedrontava moradores foram ouvidos antes do início da manhã desta sexta.

Direitos fundamentais negados na Maré nesta manhã: 

Um dos mortos, o jovem Renan Lemos, de 24 anos, foi assassinado no Beco da Alegria, bem próximo à Rua Evanildo Alves, ponto de muita circulação da favela Parque Maré. A Delegacia de Homicídios (DH) não realizou o processo legal de perícia, assim como a defesa Civil não foi fazer a retirada do corpo no local. Fato que obrigou a família a colocar o jovem em óbito em um carrinho de mão e carregá-lo até a Av. Brasil. A família ficou com o corpo de 6:30 até 9:40. Após muitas denúncias e articulações, com Ministério Público e outras instituições de defesa dos Direitos Humanos, o corpo de bombeiros atestou o óbito, a 22ª Delegacia de Polícia registrou a ocorrência e a Defesa Civil retirou o corpo. A DH não realizou a perícia do local nem do corpo. 

Nesse momento a família está no IML aguardando a chegada do corpo e até o momento não tiveram nenhuma informação.

Há relatos, de uma pessoa assassinada asfixiada no mesmo beco onde ocorreu a morte de Renan. Um policial também foi baleado no Beco da Alegria. O agente foi socorrido, levado ao Hospital Federal de Bonsucesso e está recebendo atendimento médico. Também há informações sobre um assassinato cometido também a facadas, no Parque União. Essas duas mortes foram relatadas por moradores, porém os corpos não foram encontrados nos hospitais da região e IML.

Diversos moradores relatam danos ao patrimônio e invasão de domicílio no Beco do Alegria, na região do Tijolinho, na Nova Holanda e na Rua São Jorge, na Nova Holanda. Carros foram violados na Rua Sargento Silva Nunes, onde fica localizado o prédio central da Redes da Maré.

A Clínica da Família Jeremias de Moraes, localizada na Nova Holanda, teve funcionamento suspenso nesta sexta-feira, por conta da operação policial, de acordo com nota da Secretaria Municipal de Saúde. Mais de 40 escolas municipais do conjunto de favelas também não funcionaram hoje, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação.

Há relatos de moradores que informam sobre mais pessoas mortas e feridas, ainda sem confirmação. A operação, que de acordo com a assessoria de imprensa do Estado de Polícia Militar acontece para coibir ações de roubo de carga de veículos, segue em curso na Maré com intensas e constantes trocas de tiro em diversos pontos das favelas atingidas pela ação.

Divines: inclusão de pessoas trans através da Moda

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Por Lucas Feitoza

A educação como forma de inclusão é o tema do Quarto Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS). A ODS quatro tem como objetivo principal a meta de que até 2030 todas as pessoas independente de gênero, idade e cor, tenham acesso de qualidade e de forma justa à Educação. Olhar para a inclusão por meio do ensino foi o que fez a Escola de Divines,  quando idealizou o curso de moda para pessoas LGBTQIAP+.

A Escola de Divines  é uma iniciativa do professor, ativista e estilista Almir França, nascido no conjunto de favelas da Maré. Almir aprendeu a costurar com a tia, é formado em pedagogia e belas artes. Lecionou história da arte quando percebeu a importância da roupa para a criação da identidade travesti. Se define como “uma colcha de retalhos por juntar as histórias e dividi-las com as manas

O nome da escola foi desenvolvido a partir de um movimento com a organização não governamental (ONG) Grupo Arco-Íris e é uma homenagem as Divinas Divas: Rogeria, Jane De Castro, Camille K, e Eloína dos Leopardos que foi a primeira rainha de bateria da Beija-flor de Nilópolis.

Apoios e atuações da Divines

Almir conta que a ideia é promover a cidadania por meio da Educação Ambiental, gerando renda para as pessoas. O curso de Moda ensina técnicas de reutilização de resíduos para a fabricação das peças que depois são vendidas para manter as aulas. A Escola de Divines trabalha com doações e o estilista faz captações de recursos para manter o projeto. 

A Escola de Divines conta com apoio do Rio Sem LGBTIfobia coordenado pela Superintendência de Políticas Públicas LBGTI+ da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O curso é ministrado no Centro Comunitário de Defesa da Cidadania (CCDC) na Baixa do Sapateiro no Conjunto de Favelas da Maré. O superintendente Ernani Pereira acredita que  as principais beneficiadas pelo curso são as pessoas trans, e que através da Escola de Divines, elas além de conseguirem uma forma de renda, também trabalham a sociabilidade e conseguem cuidar da saúde mental por meio da inclusão. 

Além disso, a escola de Divines faz trabalhos itinerantes, levando os cursos para os CCDC. A última turma formada tem previsão de iniciar as aulas em janeiro. Almir França disse que em dezembro terão workshops para as pessoas selecionadas para o curso. A Divines também auxilia produzindo a cenográfica dos trios elétricos da Parada LGBTQIAP+ do Rio de Janeiro e a maior bandeira LGBT+ com 147 metros também é feita pela escola e aberta no evento. 

Para participar das turmas e atividades da escola basta ir ao núcleo do Centro Comunitário de Defesa da Cidadania (Rua Principal S/N° Baixa do Sapateiro – Conjunto de Favelas da Maré, das 9h às 17h). 

Empreendedorismo trans para mudar a realidade

Lohana Carla da Silva, 32 anos, diz que a educação para as pessoas trans e travestis é importante para dar dignidade já que por causa da transfobia  muitas delas saem da escola e não conseguem empregos e vão para as ruas se prostituir. Em cada 10 assassinatos de pessoas trans no mundo, 4 acontecem no Brasil, de acordo com o último relatório da Trans Murder Monitoring (TMM) (Monitoramento de Assassinato Trans),  29% dos assassinatos registrados no Mundo acontecem no Brasil, dados de 2022 .

Lohana relata que embora os direitos sejam garantidos por lei, como nome social, às pessoas  transexuais são desrespeitadas, o que desmotiva na procura por emprego. “A gente não tem direito a um trabalho, fazer um currículo e ser aceito sem passar por transfobia.  Ou você aceita a transfobia ou o que nos resta sempre é a calçada” conclui. Lohana é coordenadora do Instituto Trans Maré, instituição de apoio a pessoas transexuais, travestis e transgênero da Maré.