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Narrativas ancestrais e lendas folclóricas preservam a memória da Maré

Iniciativas na Maré propõem diferentes formatos para manter viva as histórias e o conhecimento dos mais antigos

Edição #163 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Saci-pererê, Cuca, Curupira, mula sem cabeça, boto, Iara, boitatá, caipora, são alguns dos personagens do folclore brasileiro, celebrado em 22 de agosto. Mas, a Maré, também tem as suas próprias lendas: a figueira mal-assombrada, o ensopado de cobra, a festa do casamento nas palafitas, o porco com cara de gente, o lobisomem da Nova Holanda, a história da criação do bloco Mataram Meu Gato, entre outras. 

Lendas são narrativas de histórias que passam de geração em geração, geralmente, de forma oral. Mas atualmente, para manter as histórias vivas, pessoas têm se dedicado a passar essas narrativas para o papel ou para as telas. 

É o caso do filme Contos da Maré (2014), do diretor Douglas Soares, e do livro Lendas e Contos da Maré (2003), que relatam histórias contadas pelos primeiros moradores do território e se tornaram um documento de saberes dos mais antigos. Ambos podem ser acessados online gratuitamente.

Valorização

O livro foi utilizado em 2023 por duas escolas da Maré, que realizaram eventos em que alunos e professores se debruçaram sobre as histórias. Foi o caso do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA-Maré) que realizou um Chá Literário recheado de memórias e conhecimento.

A professora Alaíde Biscácio apresentou com a turma o conto A Festa de Casamento nas Palafitas. O relato destaca uma festança com direito a dança, que é interrompida quando as tábuas das palafitas se quebram, e os convidados vão parar no mangue. “O evento trouxe a memória de histórias que me contavam a beira da fogueira, quando eu tinha oito anos. Alguns personagens, eu cheguei a conhecer. Essas histórias trazem recordações da maresia do local. Naquele tempo, tinha os causos de animais, como o felino do Mataram Meu Gato”, lembra.

Já a Creche Municipal Vila Pinheiro colocou no projeto pedagógico da escola as histórias que as avós contavam sobre a Maré. A mostra teve a peça: Maré, um Musical, que mostrou a valorização local com o mapa do território trabalhado com as crianças e o folclore voltado para o território. 

O objetivo da encenação foi falar da história local e envolver o morador na construção da Maré.

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Continuidade

O grande medo é o espelho se quebrar, ou seja, quando um mais velho morrer, levar com ele o conhecimento dessas lendas, sem que o mesmo seja passado aos mais jovens. Pensando na circulação desse conhecimento, foi criado o projeto Saberes Ancestrais, da Casa Preta, projeto da Redes da Maré. O projeto já se encontra na 3ª edição, com duração de seis meses em cada etapa. São oficinas que visam criar um diálogo entre pessoas do território que possuam conhecimentos das artes, cultura indígena ou plantas medicinais, entre outras. 

“Nosso trabalho é exportar esse conhecimento para outros grupos específicos, como escolas e o grupo sócio educativo da Maré. Com esses caminhos da educação mudamos nossas práticas, pois a história possibilita a construção de novas narrativas”, conta David Alves, mobilizador do território e coordenador da oficina Saberes Ancestrais. O projeto resgata a resistência e as práticas ancestrais, levando essa memória à juventude. O resultado é uma troca de aprendizado, de vivências e lutas. 

Da Escola Bahia às 50 escolas: o impacto da mobilização comunitária na educação na Maré

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A mobilização e articulação dos moradores e movimentos sociais tiveram um papel crucial na atual configuração da educação no conjunto de favelas

Edição #163 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Henrique Gomes 

“Aqui na Favela da Baixa do Sapateiro, só ouvimos falar de Juscelino e Jango. Todos vão votar neles, pois prometeram atender às nossas reivindicações. Eu não sei ler, mas não podem me tirar o direito de reclamar ou pedir medidas de salvação para os moradores desta favela, principalmente para as crianças. Eu não posso votar, mas posso lutar para que J-J instalem escolas para nossos filhos.” 24 de setembro de 1955 – Jornal Imprensa Popular

A mobilização e a participação popular pela educação sempre foram almejadas pelas classes populares, como exemplificado no trecho acima da matéria escrita pelo jornalista Diógenes da Costa, com a fala de Dona Maria José Marques, moradora da Favela da Baixa do Sapateiro. Esse exemplo de mobilização mostra a importância daquela população num período em que as pessoas não alfabetizadas não tinham o direito de votar, o que só aconteceu a partir de 1985.

Em 1955, ano da matéria, o Conjunto de Favelas da Maré ainda não era formalmente um bairro e, naquela década, o entorno da Maré contava apenas com uma unidade escolar: a Escola Bahia. 

Atualmente, as favelas da Maré contam com 50 escolas públicas, sendo 46 municipais e quatro estaduais, onde estudam 17.355 alunos na rede municipal e 2.457 na rede estadual, num total de 19.812 estudantes (Censo Escolar 2013). Ao longo de todos esses anos, a mobilização e articulação dos moradores e movimentos sociais tiveram um papel crucial na atual configuração da educação no conjunto de favelas. Não apenas pela quantidade de escolas, mas, sobretudo, pelas relações estabelecidas entre as escolas e a comunidade. 

Educação e samba

Uma das primeiras escolas do Conjunto de Favelas da Maré foi a Escola Nova Holanda, criada junto com o Centro de Habitação Provisória da Nova Holanda, em 1962. A instituição, por muitos anos, foi o ponto de referência do Estado no território, funcionando como ponto de campanha de vacinação, até um dos primeiros espaços de alfabetização de jovens e adultos, organizado em conjunto com a Associação de Moradores da Nova Holanda na época.

Em uma matéria de 1984 do jornal O Globo, a professora Ivanise, narra a relação dos alunos com a Escola Nova Holanda e o bloco carnavalesco da comunidade: o Mataram Meu Gato.

“’Escola também ensina a ler com atabaques e tamborins.’ Ivanise conta que sabia ser necessário procurar um caminho novo e começou a perguntar qual seria ele para seus alunos. ‘Eu já tinha percebido’, conta, ‘que a música, principalmente o samba, era muito importante para todos eles, que saíam no bloco ‘Mataram meu gato’. Passavam horas cantando sambas-enredo ou batucando nas carteiras.’ A professora, que prestava atenção aos alunos em busca de algum caminho, pediu então que eles levassem para a escola alguns instrumentos.’” 08 de abril de 1984 – Jornal O Globo

Novo modelo

A partir da eleição vencida por Leonel Brizola para governador do estado, em 1982, uma das principais iniciativas daquele governo foi a implantação do novo modelo de educação baseado no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), popularmente apelidado de Brizolão. O equipamento contava com uma estrutura de funcionamento para manter os alunos em tempo integral na escola.

Na Maré, foram construídos sete CIEPs que, durante muito tempo, foram a porta de entrada para a educação infantil e para múltiplas atividades comunitárias. Um exemplo foi a organização de um ciclo de debates realizado pela Associação de Moradores da Nova Holanda junto à direção da escola na época:

“A favela organizou até o ciclo de Debates ‘Nova Holanda Reflete’ – na verdade uma retrospectiva dos melhoramentos conseguidos na favela através da Associação de Moradores, com uma avaliação dos problemas da comunidade.” 09 de junho de 1988 – Jornal do Brasil

No contexto das iniciativas de mobilização ambiental e educacional no Rio de Janeiro, a Favela da Maré se destaca como um exemplo de inovação e participação comunitária. Em 1992, o Ciep Gustavo Capanema, localizado na Vila do Pinheiro, implementou um projeto pioneiro de coleta seletiva de lixo. A iniciativa se destacou pelo impacto causado dentro da comunidade e o papel que teve na promoção da educação ambiental, evidenciado no trecho da matéria a seguir:

“Uma das iniciativas pioneiras de coleta seletiva de lixo no Rio de Janeiro, que vem influenciando outras unidades, começou no ano passado, no CIEP Gustavo Capanema, na Favela da Maré. Ali, como parte de um projeto de fazer uma educação participativa, estudantes, pais de alunos e professores têm realizado o trabalho com excelentes resultados.” 02 de fevereiro de 1992 – Jornal O Globo

Comunidade na escola

Da importância da construção participativa dentro da escola, Amarildo Baltazar, que foi agente de educação na Associação de Moradores da Nova Holanda durante os anos 1980, participou da construção de uma cartilha para as creches comunitárias, falando da importância do conhecimento e experiência das crianças das favelas, como aparece na matéria sobre o lançamento da cartilha:

“Voltado para o professor, o trabalho preocupa-se em garantir o acesso das crianças ao conhecimento teórico, sem menosprezar sua cultura e saber próprios. Para Amarildo, a escola tradicional subestima os conhecimentos das crianças, principalmente as das classes populares, com métodos e elementos pedagógicos alheios a seu cotidiano.” 11 de outubro de 1992 – Jornal O Globo

Mais recentemente, o fórum das 16 associações de moradores da Maré, produziu um documento diagnóstico com as demandas do conjunto de favelas chamado: “A Maré que Queremos“, construído com dados e informações levadas ao prefeito Eduardo Paes, na época da construção do Campus Maré – tendo como base este documento. 

As iniciativas na atualidade ajudam a fortalecer a educação na Maré, como a Carta da Educação construída durante o Seminário de Educação – que reivindica a importância de ter uma CRE (Coordenação Regional de Educação) somente para a Maré – uma luta das escolas do conjunto de favelas. 

Em ano olímpico, Maré segue em busca por mais investimentos no esporte

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Atletas driblam desafios para sobreviver das modalidades esportivas

Em ano olímpico, os holofotes se voltaram para as modalidades esportivas e, a falta de investimentos no esporte no Brasil é um debate comumente levantado nessa época. Nas olimpíadas, Brasil ficou na 20ª posição com 20 medalhas conquistadas, sendo três ouros, sete pratas e 10 bronzes. Já nas Paralimpíadas, que só acabam no próximo dia 8, Brasil ja ocupa a sexta posição com 50 medalhas sendo 14 ouros, 12 pratas e 24 bronzes. Após o atleta brasileiro de decatlo José Fernando Ferreira, conhecido como Balotelli, afirmar não ter recebido um material adequado à quantidade de provas que disputa, a discussão voltou a ganhar força durante os jogos olímpicos. 

A primeira Vila Olímpica da cidade do Rio de Janeiro foi inaugurada na Maré, a Vila Olímpica Seu Amaro, em 1999. O equipamento sócio desportivo da prefeitura possui 25 atividades gratuitas como ginástica, natação e jiu-jitsu e juntamente com o Luta Pela Paz, instituição que atua há 24 anos na Maré, são os principais formadores de atletas do território. 

Ao Maré de Notícias, Roberto Custódio, coordenador de Projetos da Luta Pela Paz, conta que os projetos esportivos sociais são os meios formativos para desenvolver e apoiar jovens talentos, mesmo sem ter o alto rendimento como uma meta: “A vivência esportiva e o alto rendimento são formativos, e que para além das práticas físicas, extraindo as habilidades e competências para vida, como os valores e suas intencionalidade pedagógica”, explica. 

Embora a história desportiva na Maré seja marcada por pioneirismos, outro fator importante desafia a juventude que enxerga no esporte uma forma de sobreviver às violações de direitos e desigualdades sociais. Segundo a 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, produzido pela Redes da Maré e publicado em março de 2023, em 2022 ocorreram 27 operações, deixando a Vila Olímpica fechada por quase um mês. Este ano já foram mais de 20 incursões policiais no território. 

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Cadê o investimento na base?

Poucos dias antes do início dos Jogos Olímpicos de Paris, uma pesquisa do Serasa, realizada em todo o Brasil, revelou que a maioria dos atletas brasileiros não têm condições financeiras para seguir na carreira. O estudo constatou que 74% dos esportistas não contam com nenhum tipo de apoio financeiro ou investimentos. E quando o recorte é em espaços de favela, a situação é ainda mais preocupante.

Para Roberto, o acesso ao esporte está cada vez mais restrito: “A falta de investimentos no trabalho de base e de melhores estruturas para os demais esportes ainda deixa muito a desejar. O esporte está cada vez mais elitizado, onde quem tem um poder aquisitivo consegue acessos que outros(as), até talentosos (as), encontram muita dificuldade ou nem chegam”, afirma.

Em recente entrevista ao SporTV, após conquistar o pódio inédito na Marcha Atlética para o país, Caio Bonfim desabafou sobre a situação dos atletas brasileiros: “”Eu brinco que o Brasil tem dois esportes: o futebol e o outro é o que está ganhando. Então, se você quer aparecer, tem que estar no outro que está ganhando. Agora, somos medalhistas olímpicos. Tomara que essa medalha possa abrir portas e ter investimento”, conta. 

Apesar da dificuldade, Caio faz parte do grupo de atletas com apoio financeiro do governo federal, o Bolsa Atleta. Embora passados 14 anos sem reajuste, os valores atuais do Bolsa Atleta ainda demonstram a urgência de maiores investimentos no esporte brasileiro. O valor destinado aos atletas de base e aos atletas de alto rendimento compromete o desenvolvimento do esporte de base no país. Enquanto um atleta olímpico recebe cerca de R$ 3.400, um atleta de base, que está iniciando sua carreira, recebe apenas R$ 410. 

A cria da Maré, Rebeca Lima é atleta da seleção brasileira de boxe. Com a realidade semelhante à da maioria das crianças mareenses, sua mãe trabalhava e para ocupar o tempo, matriculou a pequena Rebeca na Vila Olímpica Seu Amaro. Na ciclovia ali perto, ela viu outras meninas treinando boxe, ficou encantada e iniciou na modalidade aos 7 anos na Luta Pela Paz. Ela conta que o começo é muito difícil para a base:

“Outro momento complicado é a transição de atleta juvenil para atleta elite. Quando você cresce, você se vê em uma posição em que precisa trabalhar, treinar ou estudar e treinar. Tem a necessidade de fazer renda e muitas vezes a galera desiste da modalidade”, diz Rebeca. 

Hoje, como atleta da seleção e do exército brasileiro, ela consegue se manter na profissão, mas reforça: “Comecei com nada, tinha uma ajuda de custo de transporte que o projeto social me fornecia até ser campeã do campeonato nacional. E então passei a receber a bolsa. Sem isso seria muito difícil permanecer, até porque já é difícil com.” 

Os desafios para os atletas e moradores de favela são grandes e assim como Rebeca Lima, há outros exemplos de mareenses que seguem tentando viver do esporte. Douglas Antônio é um deles. O jovem lutador de Jiu Jitsu, de 19 anos, conseguiu os investimentos após ter a sua história contada aqui no Maré de Notícias. Para isso, é fundamental o investimento em políticas públicas para territórios favelados para que não tenhamos exceções e sim maioria na disputa olímpica.

Três mortes, agressão e invasão de domicilio marcam 37ª Operação na Maré

A PM em conjunto com a Polícia Civil é a responsável pela ação de hoje com a participação do Bope, do Choque e da Coe

O Conjunto de Favelas da Maré vive a 37ª operação policial de 2024. A ação desta terça-feira (3) começou por volta das 4h e está concentrada na Baixa do Sapateiro e Conjunto Esperança. Há relatos de tiros e circulação de policiais a pé e carros blindados também no Morro do Timbau, Vila dos Pinheiros e Vila do João. Por volta das 14h, os disparos se intensificaram.  

A Polícia Militar em conjunto com a Polícia Civil é a responsável pela ação de hoje com a participação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Choque e da Companhia de Operações Especiais (Coe). Até o momento, três pessoas morreram e uma pessoa foi agredida até ficar inconsciente. Há relatos de vários casos de invasão à domicílio por parte dos agentes e furto de pertences dos moradores. O Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, também recebeu vídeos indicando arrombamento de veículos.

Questionados sobre abordagens violentas com moradores do território, o Major Maicon Pereira, porta-voz da Polícia Militar alegou em entrevista ao RJ1, na TV Globo, que os policiais têm “uma abordagem cordial e urbana”, ressaltando os canais das corregedorias para denúncias serem apuradas.

43 escolas, sendo uma estadual e 42 municipais, estão fechadas, impactando mais de 8 mil estudantes. A operação segue em andamento. A Secretaria Municipal de Saúde não retornou ao Maré de Notícias sobre o funcionamento das unidades. 

Sem descanso

“[…]É covardia em tudo quanto é lugar na Maré, de ponta a ponta, pô. Não tem essa de que é morador do lado a, lado b ou c. Não, pô! É covardia com nós tudo, nós somos um só, nós somos a Maré, mano. Passei [quase] 15 dias de covardia aqui, pô. Todo dia, todo dia aqui”

A fala é de um morador cansado após viver nas últimas duas semanas 13 operações consecutivas. Na última segunda-feira (2), com o anúncio do fim da primeira fase das demolições de casas realizadas pela Secretaria de Ordem Pública (SEOP), surgiu a esperança de que o cotidiano dos moradores da Maré pudesse retornar à normalidade. No entanto, essa expectativa não se concretizou.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

Uma redação favelada

Uma reflexão dos comunicadores do Maré de Notícias após SEOP informar fim da primeira fase da operação de demolição de casas na Maré

Em nome de toda equipe do Maré de Notícias

Nesta segunda-feira (2), apesar do sentimento de incerteza sobre novas operações, os moradores da Maré acordaram com a sensação de alívio ao perceber que hoje não seria mais um dia de demolição de casas e, como consequência, de operação policial que tem impactado a rotina de moradores de todas as favelas. De acordo com a Secretaria de Ordem Pública (SEOP), a primeira fase foi finalizada e a “segunda fase do trabalho será iniciada assim que sejam concluídas as negociações da Secretaria de Habitação e Assistência Social com as famílias que estão em algumas unidades”.

Durante as últimas duas semanas em que ocorreram as 13 operações consecutivas, a equipe do Maré de Notícias – composta majoritariamente por moradores – também sentiram os efeitos das ações. Além do trabalho diretamente impactado com entrevistas canceladas impedindo a produção de reportagens e o fazer da comunicação comunitária, há também o impedimento do bem viver dentro do território.

A pouca sensação de segurança que ainda existia se perdeu. O imaginário de que pelo menos em dia de feira ou aos domingos, que são considerados dias de descanso, eles “não podem fazer isso”, tomou lugar para o sentimento de “eles fazem o que querem, no dia que querem”.

Todos os dias, ao começar as reuniões, nos perguntávamos como estavam todos. E ao encerrá-las desejávamos: “uma boa semana para nós”. Era uma forma de nos acolhermos diante de tanta exaustão física e mental, e alimentar alguma esperança de que, no dia seguinte, íamos conseguir seguir com os planejamentos cotidianos.

Ao anoitecer, cada um se apegava à sua fé. Durante quase duas semanas a primeira notícia ao abrir os olhos ainda era de mais um dia de operação na Maré. Ainda de madrugada ouvíamos tiros, fogos ou sabíamos de casas invadidas. Mesmo quem não está nas favelas afetadas pelas demolições sofre ao ver inúmeras mensagens no celular de desabafos e pedido de socorro.

O comunicador comunitário nessas horas é muito além de um profissional, é uma pessoa com uma carga emocional que absorve todo o sofrimento que moradores contam em detalhes. “Ser jornalista na favela é fazer sempre matérias enquanto você participa delas. É ambíguo.”, como bem ressaltou Lucas Feitoza na coluna “O que é ser um jornalista de favela?”.

Foram 13 dias de vivência enquanto moradores que resultaram em matérias que refletem um cotidiano interrompido. Alunos sem aulas, impedimento em cuidar da saúde ou sair de casa para outros compromissos. A verdade é que ficamos acuados. Essa ausência do direito de ir e vir fica estampado em cada linha de uma matéria que não traz esse “sucesso” nas operações policiais que os governos defendem, mas o que é visto e sentido pelas ruas da Maré.

Queremos voltar a falar da favela que está sempre em movimento com sua cultura, esporte, lazer e criatividade. Queremos falar da Preta Chic, que abriu um bar no seu estúdio de nail designer, queremos falar do lançamento do livro afro-periférico de Renato Cafuzo. Desejamos distribuir o jornal impresso pelas ruas da Maré andando em paz e sorrindo. Almejamos uma favela que possa estar na mídia todos os dias não pelos tiros, mas por ser parte da cidade se destacando pela diversidade e vencendo suas dificuldades, isso desde os tempos das palafitas. Sobre o que desejamos escrever? Sobre tudo aquilo que temos, que não são poucas coisas, não! E sobre uma Maré que queremos!

Ainda não temos informações de quando vai começar a “segunda fase” da operação. Sabemos apenas que o Estado continua a remover, não só prédios, mas também a paz. A esperança não. A esperança, mesmo que entre escombros, nos mantém vivos para lutar por tudo aquilo que nos é negado.

Mapa da saúde na Maré: conheça projetos e ações que podem ajudar a fortalecer a sua saúde 

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A compreensão de saúde precisa estar presente no nosso cotidiano para além da ausência de doenças. A saúde envolve o bem-estar físico, mental e social de cada morador. Para isso é importante uma trilha de cuidados: o autocuidado, o cuidado coletivo, o cuidado com o nosso território. O Eixo Direito à Saúde da Redes da Maré lança essa reflexão e apresenta informações dos locais, projetos e ações que podem te ajudar a fortalecer esse processo de cuidado. 

Confira aqui o mapa no Google. 

Unidades de Saúde 

  • Clínica da Família Américo Veloso • Rua Gerson Ferreira, 100 – Praia de Ramos / (21) 2573-7187
  • Clínica da Família Diniz Batista dos Santos • Av. Brg. Trompowski, SN – Parque União / (21) 97082-1800 
  • Clínica da Família Jeremias de Moraes • Rua Teixeira Ribeiro, S/N – Nova Holanda / (21) 2042-8014 
  • Clínica da Família Augusto Boal • Av. Guilherme Maxwell, 901 – Baixa do Sapateiro / (21) 3105-8982
  • Clínica da Família Adib Jatene • Via B Um, 589-501 – Vila do Pinheiro /  (21) 3885-6541
  • Centro Municipal de Saúde – Vila Do João • Rua Dezessete, S/N – Vila do João / (21) 3109-0006

Equipamentos da Redes da Maré 

  • Casa das Mulheres da Maré • Rua da Paz, 42- Parque União / (21) 3105-5569  
  • Centro de Artes da Maré • Rua Bitencourt Sampaio, 181 – Nova Holanda /(21) 3105-7265  
  • Sede Nova Holanda • Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda  / (21) 3105-5531  
  • Espaço Normal • Rua 17 de fevereiro, 237 – Parque Maré / (21) 3105-4767   
  • Sede Vila dos Pinheiros • Via A1, s/n. Anexo Ciep Gustavo Capanema – Vila dos Pinheiros  

Atendimento psicossocial 

  • Conexão G • Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda 
  • Casa da Diversidade Gilmara Cunha (Centro de Cidadania LGBTI – Capital III – Maré) • R. Marcelo Machado, 51 LGBTI – Capital III – Maré / (21) 97175-9884
  • Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral (CADI – Maré) • R. Capivari, 39 – Morro do Timbau
  • Casa Resistências da Maré • Rua A1, Vila dos Pinheiros / (21) 3881-6219
  • Centro de Referência de Mulheres da Maré (CRMM-UFRJ) • Rua 17 s/n – Vila do João / (21) 3938-0904 (21) 3938-0905

Locais para prática de esporte gratuito 

Piscinão de Ramos 

  • Projeto Maré Top Team • Rua Ari Leão s/n – Parque União (Prédio da Associação de Moradores)
  • Campo da Rubens Vaz • Rua João Araújo n2
  • Campo de Futebol da Paty • Rua Sargento Silva Nunes, S/N
  • Luta Pela Paz • Rua Teixeira Ribeiro, 900 – Nova Holanda / (21) 3104-4115 
  • Espaço Tijolinho • Rua Carlos Lacerda, 46 – Nova Holanda
  • Vila Olímpica Seu Amaro (Vila olímpica da Maré) • Rua Tancredo Neves s/nº   
  • Mariellas • Vila Olímpica Seu Amaro  
  • Pontilhão Cultural • Rua Praia de Inhaúma, 911  – Praia de Inhaúma
  • Parque Ecológico (Mata do Pinheiro) • Via A2 – VIA B9
  • Campo de Futebol Conjunto Esperança • Rua Célso de Maia Fonseca