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Cidadania e conhecimento sobre rodas

Justiça e cultura são disponibilizadas aos moradores da Maré de forma itinerante 

Por Hélio Euclides em 28/04/2022 às 19h. Editado por Tamyres Matos

A cidade do Rio sofre com limitações de mobilidade, principalmente pela ausência e má conservação dos ônibus, mas são eles que carregam a solução para permitir o acesso a direitos, muitas vezes dificultado justamente por problemas de locomoção do carioca. Um veículo estacionado pode ser uma sala de audiência judicial ou ainda uma biblioteca pertinho de casa, pois esses serviços existem e estão disponíveis para os moradores da Maré. 

O Programa Justiça Itinerante, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, oferece a possibilidade de realizar audiências mais perto do cidadão. A iniciativa tem por objetivo criar alternativas mais acessíveis e fomentar a cidadania por meio de atendimentos regulares. Para que isso aconteça, atualmente existem 26 postos em funcionamento no Estado do Rio de Janeiro, sendo um na Fiocruz (batizado de Maré), por atender aos moradores da favela. No ano passado, foram 2.965 atendimentos.

Atendimento sendo feito na Maré pela Justiça Itinerante. Fotos Matheus Affonso


A Justiça Itinerante leva membros do Ministério Público e da Defensoria Pública ao encontro de cidadãos, muitas vezes para cobrir a falta de políticas públicas mais eficientes e acessíveis. “Conheci o projeto através da minha filha que tinha vindo resolver um problema no documento. Esse projeto é uma benção, pois ajuda e não precisamos gastar dinheiro com passagem”, comemora Márcia Alves, moradora da Vila do João.

“O Justiça Itinerante é super valioso, com a presença de um juiz semanalmente. Boa parte da justiça se encontra no Centro da cidade, o que é inviável para o morador mais vulnerável, que precisa gastar com passagem, por isso a importância do projeto. Contudo, pleiteamos um núcleo da Defensoria Pública, um Conselho Tutelar, um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) dentro da Maré, para que os órgãos possam acompanhar o cotidiano do morador.”

Liliane Santos, coordenadora do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré. 

Para Yuri Cohen, assessor do programa desde 2019, o trabalho itinerante é gratificante. “Sinto que ele realmente ajuda as pessoas. É algo diferenciado — um exemplo é quando as pessoas garantem o nome social  — e dessa forma percebemos que a justiça está funcionando”, diz. O serviço mencionado é um dos mais procurados, quando pessoas transexuais e travestis podem fazer a troca de nome e gênero em sua documentação sem a necessidade de uma ação judicial ou comprovação de cirurgia. No dia 26 de novembro de 2021, a comunidade LGBTQIA+ teve um evento exclusivo, com 276 atendimentos.

Fotos Matheus Affonso

O programa trata de casos de pensão, guarda, tutela, regulamentação de visitas e paternidade, interdição, divórcio, reconhecimento ou dissolução de união estável e partilha de bens, retificação de registro de nascimento e casamento, registro tardio e resignação (mudança de nome e gênero no registro civil). Para primeiro atendimento é necessário levar original e cópia da identidade, CPF e comprovante de residência com o nome da própria pessoa. O posto Maré funciona todas as quartas, das 9h às 13h, próximo à entrada da Fiocruz, na Rua Leopoldo Bulhões, 1.480, Manguinhos. Informações pelo telefone 3133-3468.

Uma carona para os livros

De repente um ônibus azul e vermelho entra na Maré e estaciona na Vila Olímpica Municipal Seu Amaro. Esse é o projeto Livros nas Praças, um ônibus biblioteca com um acervo de dois mil livros disponibilizado gratuitamente para a população por meio de empréstimo gratuito. O ônibus adaptado é um projeto da empresa Korporativa Marketing Cultural, Social e Ambiental.

Foto: Matheus Affonso

O projeto iniciou suas atividades há quase dez anos, e desde 2014 dois ônibus-biblioteca rodam pelo Rio de Janeiro (um terceiro já visitou dez estados brasileiros). Na Maré, a parceria com a vila olímpica começou há cinco anos, quando perceberam que o local tinha amplo espaço para atendimento de escolas e o público em geral.

“Poder estimular a leitura nas vilas olímpicas, aliando a educação ao esporte, é um trabalho muito importante. Além do retorno desse projeto na Maré, temos disponíveis bibliotecas gratuitas em três vilas olímpicas: Clara Nunes, em Acari; Dr. Sócrates, em Guaratiba; e Nilton Santos, na Ilha do Governador”, conta o secretário municipal de esportes, Guilherme Schleder. Cerca de 330 mil visitantes leitores já passaram pela biblioteca sobre rodas. A fidelização dos visitantes leitores é percebida através do retorno para a devolução dos livros e novos empréstimos.

Os livros ficam à disposição dos moradores do território para empréstimo via cadastro feito na unidade móvel, com prazo para a devolução dos títulos, estimulando o hábito da leitura. “Acho legal, me sinto feliz quando venho ao ônibus. Espero que outras crianças venham ler também”, convida Kaic Silva, de dez anos, morador da Vila do Pinheiro. No ônibus há livros para todas as idades, incluindo clássicos, literatura nacional e internacional. “Quando lemos é muito bom, espero que todos possam vir conhecer o ônibus”, comenta Maria Clara, de sete anos, moradora do Morro do Timbau.

O projeto é acessível ao público com deficiência visual, oferecendo títulos em braille para todas as idades, e a aqueles com dificuldades de mobilidade, disponibilizando uma cadeira de transbordo para facilitar o acesso à unidade móvel. O Livros nas Praças estará de volta à Maré em abril. 

Uma carga de conhecimento

Outro projeto que envolve livros e veículos é o Fábrica de Biblioteca – Doe Livros, do Instituto Vida Real. Anderson Ramalho é responsável pelo projeto e conta que começou a recolher livros com uma Kombi; depois de quatro anos adquiriu o caminhão para o projeto, que funciona há 13 anos. “Nossa maior alegria é incentivar as crianças a ingressarem ao mundo da leitura”, diz.

Os livros recebidos passam por uma triagem para ser encaminhado para quem precisa dele, como alunos de faculdades moradores de favela. Com as doações, o caminhão também incentiva eventos, como feiras e trocas de livros. “Um livro tem um peso natural, e também carrega o peso do saber. Com a leitura, aprendemos que temos deveres e direitos e, dessa forma, força para protestar”, ensina.

Anderson percebeu que diminuíram as doações e a leitura de livros com a pandemia, enquanto que parece aumentar o uso do celular pelas crianças. “Precisamos continuar a incentivar o hábito de ler. Não podemos abaixar a guarda, para que a próxima geração também seja amiga do livro”, conclui. O caminhão recolhe livros em todos os lugares da cidade e de diversas instituições como a Redes da Maré, Pontifícia Universidade Católica (PUC), Colégio Pedro II e Universidade Veiga de Almeida (UVA). Sebastião Antônio de Araújo, presidente do Instituto Vida Real, deseja a multiplicação do caminhão. “É preciso que projetos como esse de incentivo à leitura aconteçam mais. O conhecimento chegaria a todos os cantos, pois tem muita gente sem condições de adquirir um livro”, acredita.

A importância de se vacinar contra gripe e sarampo 

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Vacinação contra a Influenza entra na quarta semana. A ONU alerta para um novo surto de sarampo em crianças. Ambas as vacinas estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde.

Por: Julia Drumond e Hélio Euclides em 28/04/2022 às 00h. Editado por Daniele Moura.

Na Semana Mundial de Imunização, que vai até 30/04, muitas campanhas de vacinação são promovidas pelo governo, e este ano a mobilização foi para vacinar idosos a partir de 60 anos, além de profissionais de saúde contra a Influenza. Anualmente são oferecidas novas doses da vacina mais atualizadas para prevenir a doença, que é causada por vírus e é responsável pelas síndromes gripais que acometem a nossa população principalmente no inverno. No final do ano passado, o Rio de Janeiro viveu um surto de uma nova variante da Influenza – vírus H3N2, apelidada de Darwin. Segundo o jornal Nexo, o aumento de diagnósticos de Influenza no mês de novembro foi de 115%.

No Brasil, a vacinação contra a Influenza está incluída no Plano Nacional de Vacinação (PNI) desde o final dos anos 1990. Além de prevenir a gripe de maneira individual, ajuda o Sistema Público de Saúde a reduzir o número de hospitalizações, complicações e mortes. Apesar de um longo e bem sucessivo histórico de campanha vacinal, um estudo publicado em 2021  – por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas – revela que a cobertura vacinal entre os idosos para Influenza durante os dois últimos anos de pandemia da covid-19 caiu em mais de 7% em relação a meta governamental de 90%. Isso significa que apenas 82,3% da população idosa foi vacinada no período pandêmico, o que contribuiu para o surto fora de época no final do ano passado. 

A Prefeitura do Rio convoca a população carioca que não compareceu ao posto de saúde mais próximo de casa para se imunizar contra a Influenza na data do calendário. É o caso de Maria Vieira de Sena, de 81 anos, moradora da Vila dos Pinheiros, que ainda não tomou a vacina. “Optei em tomar ela depois de 15 dias da quarta dose da vacina contra a covid. Acho importante a vacina contra a gripe, vou me imunizar em breve. Depois de todos os acontecimentos, não podemos deixar de acreditar na sabedoria de Deus dada aos cientistas”, diz. 

Depois do surto do ano passado, parte da população já aprendeu a importância da vacina contra a gripe. “Acho importante tomar o imunizante. Confesso que nunca tomei, mas agora vou seguir os passos do meu irmão e me imunizar”, conta Maria Lúcia, de 49 anos, moradora da Praia de Ramos.

Postos de saúde de portas abertas

A meta da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é alcançar cobertura de 90% dos grupos prioritários, o que corresponde a cerca de 1,8 milhão de pessoas na cidade. Estudos apontam que a vacinação contra a gripe é capaz de reduzir de 32% a 45% o número de hospitalizações por pneumonias, de 39% a 75% da mortalidade global, e em aproximadamente 50% as doenças relacionadas à influenza. 

A SMS informa que os grupos prioritários da campanha da gripe são idosos; crianças de seis meses a 4 anos; trabalhadores de saúde; gestantes; puérperas (mulheres até 45 dias pós-parto) e trabalhadores da Educação. O Ministério da Saúde também indica a vacinação aos seguintes grupos: 

  • Integrantes de forças de segurança e salvamento e das forças armadas;
  • funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade
  • pessoas com comorbidades ou com deficiência permanente;
  • caminhoneiros
  • trabalhadores do transporte rodoviário de passageiros urbanos e de longo curso,
  • trabalhadores portuários. 

A SMS esclarece que este ano, a vacina usada na campanha protege contra as três cepas do vírus Influenza que mais circularam no ano passado no Hemisfério Sul: H1N1, H3N2 Darwin (que no final de 2021 causou o surto de gripe na cidade) e linhagem B/Victoria. Produzido pelo Instituto Butantan, o imunizante é seguro e pode ser administrado em pessoas imunocomprometidas e portadoras de doenças crônicas ou condições especiais. Pessoas com história de alergia grave em dose anterior da vacina influenza devem informar ao seu médico ou ao serviço de saúde, para a devida avaliação do caso e orientação.

A vacina da gripe é anual. Mesmo pessoas que tomaram a dose no ano passado devem se vacinar novamente este ano. Para quem já tomou o imunizante em anos anteriores, o esquema vacinal é de dose única. Já para as crianças da faixa etária atendida que vão tomar a vacina pela primeira vez este ano, serão duas doses, com intervalo de 30 dias entre elas. 

Por fim, a SMS adverte que as pessoas que forem se imunizar devem comparecer aos postos de saúde portando, sempre que disponível, documento de identificação e caderneta de vacinação. Será preciso apresentar documento que comprove fazer parte dos grupos prioritários elencados pelo Ministério da Saúde, como laudo médico para a confirmação da comorbidade e documento funcional para os grupos profissionais atendidos.

Vacina contra sarampo

OMS e UNICEF já alertam para novos surtos de sarampo este ano. A doença é uma dentre muitas que são evitáveis pela vacinação ampla de crianças. Interrompidas pela pandemia, a baixa imunização já provocou mais de 17 mil casos em todo mundo, em janeiro e fevereiro de 2022, segundo essas organizações. Um aumento de 79% em relação aos primeiros meses de 2021. Além de seu efeito direto no corpo, que pode ser letal, o vírus do sarampo também enfraquece o sistema imunológico e torna a criança mais vulnerável a outras doenças infecciosas.

Em 2020, 23 milhões de crianças deixaram de participar da vacinação infantil básica por meio de serviços de saúde de rotina, o número mais alto desde 2009 e 3,7 milhões a mais do que em 2019. Muitos países já foram afetados pela doença, principalmente na África e Oriente Médio. Os países com os maiores surtos de sarampo desde o ano passado incluem Somália, Iêmen, Nigéria, Afeganistão e Etiópia.

Uma conversa sobre a vacina

Considerando o contexto, o Maré de Notícias foi conversar com a professora e doutora Clarissa Damaso, virologista e chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para reforçar a importância da vacinação contra a Influenza na população idosa.

MN: Por que é importante se vacinar?

Clarissa: “As vacinas são a única forma de prevenção contra doenças preveníveis por vacina. É a única forma que temos de nos prevenir, os medicamentos são terapias úteis pós-infecção, o que permite algum nível de controle, mas não elimina a existência das doenças. Com campanhas eficazes de vacinação, conseguimos tirar uma doença de circulação, o que não é possível com a imunidade de rebanho, que seria a imunidade atingida por uma população naturalmente ao ser infectada pelo vírus. Por isso vacinas são muito importantes, porque nos permitem salvar vidas contra doenças mortais e, inclusive, tirar algumas delas do mapa.”

MN: Por que podemos confiar nas vacinas?

Clarissa: “Porque elas são desenvolvidas com base em ciência. Da mesma maneira que quando estamos com dor de cabeça, acreditamos que tomar dipirona ou ibuprofeno será eficaz. As vacinas não são resultado de adivinhações ou chutes por partes dos pesquisadores, elas são feitas com muito estudo. Não há nenhuma vacina que tenha sido desenvolvida de forma impensada, mesmo quando há urgência, a rapidez com que elas vêm sendo desenvolvidas se deve a muito investimento e muito trabalho ao longo das últimas décadas, essas vacinas não são experimentais e não possuem menor qualidade.”

MN: Há comparação entre as vacinas contra a covid-19 e a da Influenza?

Clarissa: “Há diferenças entre as vacinas para a covid, doença para a qual tomamos doses de reforço e para a Influenza, as doses anuais fazem parte do esquema vacinal, uma vez que os vírus sofrem mudanças muito mais que o Sars-COV2, exigindo que o público de risco tome a vacina todos os anos. Isso acontece porque as vacinas para a Influenza são um produto das variantes mapeadas ao longo do último ano, o que aumenta as chances de proteção ano a ano com vacinas que imunizam contra todas ou boa parte das cepas em circulação. Para que isso seja possível há uma estrutura montada ao redor do mundo e organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que conta com suporte da Organização Pan-Americana de Saúde OMS/OPAS. Essa estrutura permite que as variantes sejam identificadas ao longo do ano para a montagem das vacinas e isso só é possível porque existem os sistemas de vigilância.”

MN: Como funcionam os sistemas de vigilância?

Clarissa: “De maneira geral, os laboratórios locais, como os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) coletam amostras para o diagnóstico, que são enviadas para laboratórios vinculados à OMS, como aqui no Rio de Janeiro, temos o Laboratório de Vírus Respiratórios da pesquisadora Marilda Siqueira, instalado na FIOCRUZ.  Lá eles sequenciam as amostras e os dados são, então, passados para a OPAS/OMS. Esse processo permite saber o que está em circulação no momento e fazer uma previsão do que estará em circulação no ano seguinte e, com base nessa previsão, é que as vacinas são montadas anualmente.”

MN: Por que é necessário tomar a vacina para a Influenza todos os anos?

Clarissa: “A vacina para a Influenza não é, necessariamente, igual em todos anos. Esse ano, por exemplo, houve alteração na composição da vacina. Então é importante tomar todos os anos, porque as cepas dos vírus circulantes de ano para ano podem mudar e a imunidade baseada na vacina do ano anterior pode não nos proteger contra as novas variantes. Ainda que a vacina tenha a mesma composição do ano anterior, infelizmente, a imunidade oferecida pelas vacinas contra Influenza não protege por um longo período, em média, a imunidade dura seis meses. Mesmo vacinados, a nossa imunidade contra o vírus cai após esse período, por isso é muito importante tomar a vacina todo ano.” 

MN: O que a senhora falaria para quem ainda está indeciso sobre tomar a vacina contra a Influenza? 

Clarissa: “Vacinas são confiáveis, foram desenvolvidas sob o conhecimento acumulado ao longo de anos de pesquisa baseada em evidências científicas e protegem não apenas um indivíduo, mas toda a comunidade. Além de aliviar o Sistema Único de Saúde (SUS), protege você e sua família. Tome a vacina e/ou leve seus amigos e familiares aptos à vacinação para as Unidades de Atenção Primária mais próximas – clínicas da família e centros municipais de saúde. Ano que vem a gente se vê de novo no postinho mais próximo para a dose atualizada contra a Influenza.” 

Calendário de vacinação da Influenza
Semana 4 – 25 a 30 de abril
Idosos com 60 anos ou mais;
Trabalhadores de saúde com 60 anos ou mais em qualquer unidade de saúde;
Trabalhadores de saúde de qualquer idade no local de trabalho.
Semana 5 – 2 a 7 de maio
Crianças de 6 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias;
Gestantes e puérperas.
Semana 6 – 9 a 14 de maio
Grupos prioritários com idade entre 50 a 59 anos;
Repescagem geral.
Semana 7 – 16 a 21 de maio
Grupos prioritários com idade entre 40 e 49 anos;
Repescagem geral.
Semana 8 – 23 a 28 de maio
Grupos prioritários com idade entre 30 e 39 anos;
Repescagem geral.
Semana 9 – 30 de maio a 3 de junho
Grupos prioritários com idade entre 5 e 29 anos;
Repescagem geral.

Inscrições abertas para o Laboratório de Jornalismo “Maré de Notícias”

Os selecionados receberão bolsa auxílio de R$ 1.000,00 por mês. É a primeira turma criada para fortalecer a prática jornalística na Maré. Para se inscrever é necessário ser do conjunto de favelas da Maré.

Pela Redação em 27/04/2022 às 7h. Atualizado em 07/06/2022

Pela primeira vez, o Maré de Notícias abre inscrições para o mais recente Laboratório de Jornalismo. A formação em pretende fortalecer o processo de qualificação teórica e prática de jornalistas, comunicadores comunitários e/ou estudantes de jornalismo das 16 favelas da Maré. A ideia é que se possa ter jovens sendo formados, acompanhados, avaliados e impulsionados no fazer diário da apuração e técnicas jornalísticas. Serão oferecidas 10 vagas para maiores de 18 anos que tenham completado o Ensino Médio e/ou estejam cursando a Faculdade de Jornalismo Publicidade, Cinema e/ou Comunicação Social. Durante 4 meses os selecionados receberão uma bolsa de R$ 1.000,00, pagas mensalmente a quem tiver pelo menos 75% de frequência nas aulas.

Para se inscrever é necessário ser do conjunto de favelas da Maré. Saiba mais no edital publicado na íntegra a seguir:


EDITAL Laboratório de Jornalismo do Maré de Notícias

A Associação Redes de Desenvolvimento da Maré, inscrita no CNPJ 08934089/0001-75, com sede na Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda Maré – Rio de Janeiro torna público, nos termos deste edital, as normas e os procedimentos necessários para o processo de seleção e classificação de candidatos e candidatas ao curso Jornalismo e Ação Comunitária para os meses de abril a outubro de 2022.

A  formação em Jornalismo é vinculada ao Maré de Notícias e pretende fortalecer o processo de qualificação teórica e prática de jornalistas, comunicadores comunitários e/ou estudantes de jornalismo das 16 favelas da Maré. A ideia é que se possa ter jovens sendo formados, acompanhados, avaliados e impulsionados no fazer diário da apuração e técnicas jornalísticas.

1. DAS VAGAS 

1.1 Será oferecido um total de 10 vagas para maiores de 18 anos que tenham completado o Ensino Médio e/ou estejam cursando a Faculdade de Jornalismo Publicidade, Cinema e/ou Comunicação Social.

2. DAS INSCRIÇÕES
2.1 A inscrição deverá ser realizada no período definido neste edital de 25 de abril a 15 de maio de 2022 através do formulário online: https://forms.gle/vYXdMahVfqnTBHhk6

2.2 Requisitos para Inscrição:

  • Ter mais que 18 anos; 
  • Ser do Conjunto de Favelas da Maré; 
  • Ser produtor(a) de comunicação comunitária ou estudante de Jornalismo/ Comunicação;  
  • Ter interesse em produzir conteúdos jornalísticos sobre a Maré;
  • Ter ensino médio completo ou estar cursando a faculdade de jornalismo publicidade, cinema e/ou comunicação social;
  • Ser criativo, ter boa comunicação oral ou escrita;
  • Ter interesse em temas relacionados a gênero, raça, diversidade, sexualidade e favela;
  • Capacidade de trabalho em equipe interdisciplinar;
  • Capacidade de organização (planejamento, cumprimento de prazo);
  • Autonomia, proatividade e criatividade para propor atividades;
  • Comportamento ético nas relações sociais e de trabalho;

3. DA SELEÇÃO E DA AVALIAÇÃO

3.1 Os candidatos serão selecionados e classificados a partir da avaliação das informações disponibilizadas no formulário de inscrição e aplicação de uma entrevista, que buscará identificar os seguintes aspectos: 

? Interesse do candidato no curso;
? Disponibilidade de horário para participar de todas as aulas e demais atividades;

? Habilidade na comunicação oral e/ou escrita;

? Produção textual;

3.2 Sobre as etapas da Seleção:

A seleção será realizada por uma banca definida pelo Maré de Notícias e terá as etapas, a saber:

  1. Formulário de inscrição;
  2. Produção textual;
  3. Entrevista presencial;
  4. Avaliação geral;.

3.3 O período das entrevistas será de 16 a 26 de maio de 2022 de forma presencial. Durante esse processo será aplicada uma redação de até 15 linhas sobre tema proposto durante a entrevista.

4 . Cronograma:

  • Inscrições: 25 de abril a 15 de maio
  • Seleção: 16 a 31 de maio
  • Divulgação do resultado final: 1 de junho
  • Início das atividades (aula inaugural): 6 de junho
  • Formação : 06 junho à 07 de outubro (04 meses) 

5. FORMAÇÃO: 

5.1 Ciclo formativo terá 04 meses com 4 aulas semanais de 1h15 cada, mentoria e realização de conteúdos jornalísticos. O curso terá 96 horas de aulas que acontecem 2 vezes por semana das 18h às 21h. Cada dia serão disponibilizadas 2 aulas de 1h20 cada, e um intervalo de 20 minutos entre elas.  Além das 96 horas de aulas, também será necessária a dedicação do candidato de 4 horas semanais para a produção de conteúdo jornalístico, totalizando 160 horas de carga horária (96 horas de aulas e 64 de atividades jornalísticas – 10 horas semanais sendo que 6 horas de aulas e 4 de produção de conteúdos jornalísticos).


5.2 Os encontros semanais acontecem às terças e quintas de forma presencial e/ou remotas com profissionais com trajetória consolidada no campo do jornalismo e comunicação comunitária. 

5.3 Durante o período do curso haverá:

      +    Mentoria semanal com equipe Maré de Notícias;

  • Produção de  conteúdos jornalísticos sobre as 16 favelas da Maré, apurando, pautando e representando seus territórios no jornal Maré de Notícias, garantindo também a produção textual e apurações  necessárias ao projeto;

6. BOLSA

6.1 A formação dará para cada selecionado uma bolsa de R$1.000,00 por mês durante 4 meses. Para recebê-las é obrigatório obter 75% de frequência nas aulas e conclusão das atividades de cada módulo. (120 horas concluídas das 160 disponibilizadas)

6.2 O pagamento da bolsa acontece até o quinto dia útil do mês posterior as atividades realizadas.



Sobre a Redes da Maré

A Redes da Maré é uma instituição da sociedade civil fundada por pessoas envolvidas com o movimento comunitário no conjunto de favelas da Maré e, também, na cidade do Rio de Janeiro. Buscamos, através de vínculos com instituições da sociedade civil, poder público, universidades, institutos de pesquisa, órgãos e empresas públicas e privadas, impactar na construção de mudanças estruturais através da garantia de direitos da população da Maré. Atualmente, a Redes da Maré desenvolve mais de 30 projetos na área de Educação; Arte e Cultura; Memória e Identidade; Desenvolvimento Territorial; Segurança Pública e Acesso à Justiça.

Sobre o Maré de Notícias

O Maré de Notícias é uma iniciativa da Redes da Maré, instituição da sociedade civil que produz conhecimento, elabora projetos e ações para garantir políticas públicas efetivas que melhorem a vida dos moradores das 16 favelas do complexo há mais de 20 anos. O jornal nasceu em 2009, com tiragem de 50 mil exemplares e se consolidou como a principal oferta de informação dos 140 mil moradores do conjunto das 16 favelas da  Maré. Nosso modelo de distribuição é inédito no Brasil: feito em parceria com o Espaço Normal – projeto da Redes da Maré referência no atendimento à população em situação de rua e usuários de crack e outras drogas – desenvolvendo inserção social e visibilidade a uma população historicamente esquecida pela sociedade. Em 2017 ganhou a versão online com produção de conteúdo diário com as temáticas já abordadas no impresso – aquelas  promovem cidadania e são instrumento de desenvolvimento sustentável da Maré, em áreas como saúde, meio ambiente, mobilidade urbana, direitos humanos, segurança pública, economia e comportamento. O Maré de Notícias dá visibilidade aos acontecimentos da Maré, e também àqueles que impactam a vida dos 140 mil mareenses.

RESULTADO FINAL

  1. Amanda Baroni Lopes
  2. Ana Beatriz Oliveira Pires dos Santos
  3. Andrezza Francisco Paulo
  4. Brenda Magalhães de Farias 
  5. Daniele Figueiredo
  6. Edith Medeiros Rodrigues
  7. Elaine Moraes Lopes
  8. Lucas Ronaldo Feitoza da Silva
  9. Luiz Anderson Barbosa Menezes
  10. Tarcísio Lima Salazar

Em caso de desistência, estão na reserva em ordem:

  1. Celso Cândido de Almeida
  2. Pamela da Silva Almeida
  3. Larissa Francisco dos Santos 

Jovem de 18 anos é morto com tiro no peito no Jacarezinho; família acusa PMs

Moradores tiveram que socorrê-lo numa moto até a UPA Manguinhos. Jhonatan deixa um bebê de 4 meses

Por Samara Oliveira, em 26/04/2022 às 12h16

Há poucos dias da chacina do Jacarezinho completar um ano e há menos de um mês do adolescente Cauã da Silva ter sido morto em Cordovil, a história se repete. Mais um jovem tem sua vida interrompida, no Jacarezinho, Zona Norte do Rio, e a família acusa a Polícia Militar pelo ocorrido. 

De acordo com testemunhas, Jhonatan Ribeiro de Almeida, de 18 anos, estava caminhando por uma das ruas na comunidade quando levou um tiro no peito. Em um vídeo que circula na internet é possível ver Jhonatan sendo socorrido pelos próprios moradores em uma motocicleta. O jovem foi levado para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Manguinhos, mas não resistiu aos ferimentos.

A mãe do jovem aponta omissão de socorro por parte dos agentes e questiona a ação policial que tirou a vida do rapaz. “Meu filho foi executado dentro da comunidade do Jacarezinho, sem dever nada à polícia. Eu quero saber porque mataram meu filho, se ele não é traficante? E não socorreram meu filho, não deram a ele o direito de sobreviver”, disse Monique Ribeiro, de 36 anos, ao site de notícias G1.

Jhonatan trabalhava vendendo roupas, iria se alistar no quartel e deixa um bebê 4 meses. Enquanto a Polícia Militar afirma que houve uma ocorrência na comunidade “na qual um homem foi ferido por projétil de arma de fogo”, moradores afirmam que os agentes entraram atirando e foram embora em seguida sem prestar socorro.

Ao ser questionada porque não socorreram o jovem, a PM respondeu que “não foi possível prestar socorro em função da reação de um grupo de moradores” e, em seguida, afirma ter encontrado drogas e um simulacro de arma com o ferido. Questionada como foi possível localizar os itens com o ferido, já que os agentes não ficaram no local, a Polícia Militar não deu retorno até a publicação desta reportagem.

Desde o início deste ano, as comunidades do Jacarezinho e Muzema estão ocupadas pelo projeto Cidade Integrada do governador Claudio Castro. Em fevereiro, ao fazer uma balanço dos primeiros 15 dias, Castro disse que o programa teria uma proposta diferente.

“Acabar com essa ideia de que tem que ter a polícia dentro da comunidade. Mas para que essa transformação aconteça, o serviço público tem que entrar ali. A saúde tem que entrar ali. A educação tem que entrar ali. A assistência tem que entrar ali”, afirmou.

A declaração se contrapõe à realidade vivida pelos moradores e provoca revolta e insegurança. Nas redes sociais, o mobilizador social Diego Aguiar que filmou o momento do socorro mostra sua indignação.

https://twitter.com/dieguinho/status/1518743721407299584?s=21&t=-PyVo87WQq59YuRmlKuoYw

Em fevereiro deste ano, um jovem também chamado Jonathan, de 26 anos, foi atingido por disparos durante uma operação policial na Maré. Ele estava a caminho do trabalho, acompanhado de um amigo, quando foi surpreendido com a chegada de um caveirão. Ele também não resistiu aos ferimentos e deixou um filho de 6 anos.

Falando Sobre Segurança Pública na Maré

No Conjunto de Favelas da Maré, só entre 2017 e 2021, foram identificadas 35 mortes de jovens do sexo masculino em decorrência das ações policiais. Dessas mortes, 24 foram cometidas por agentes do Estado. O dado faz parte do monitoramento do projeto De Olho na Maré, do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré

Os números alarmantes provocam um debate ampliado na Maré sobre as ocupações militarizadas dentro das favelas do Rio de Janeiro na próxima semana. 

Morador do Conjunto Pinheiros compartilha histórias de vida antes e depois da remoção

Conhecido como Zé Gordo, mareense conta sua trajetória no território.

Por Hélio Euclides, em 26/04/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho 

“Conjunto de fatos ou acontecimentos relevantes, ocorridos no passado da humanidade, destacando-se época, local e dados importantes.” Essa é a definição da palavra história segundo o dicionário Michaelis. Mas a história é algo ainda maior, é a emoção, a trajetória e a vida de uma população. Essa trajetória que mareenses tentam resgatar contando a sua vivência que se mistura com as linhas históricas da Maré. Nivaldo Braga de Lima, de 62 anos, conhecido como Zé Gordo, morador do Conjunto Pinheiros, é um desses personagens que sente a necessidade de contar um pouco das memórias para o Maré de Notícias, em depoimento a Hélio Euclides.

Nasci no Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas o meu berço foi a Rua 29 de Julho, no Parque Maré. Nela, na infância, brincava no mangue, nas pontes e de pique bandeira. Já meu apelido veio da minha mãe. Ela era nordestina, não sabia ler e nem escrever, mas era supersticiosa. Não queria que ninguém soubesse o nome dos filhos, com medo de alguém fazer mal, então apelidava todos. Lembro dela com saudades, era uma pessoa que fazia os chás para a nossa saúde, como saião para coração, saião com leite para tirar o catarro, erva cidreira com capim limão para acalmar e boldo para a barriga.

A vida não era fácil, as bicicletas eram alugadas. Mergulhava na área onde fica a Baixa do Sapateiro e no final da Rua Principal, conhecido na época como barro vermelho. Ajudava a família com o rala rola, onde íamos pegar água no bicão. Era um tempo onde a família incentivava que a criança tomasse todas as vacinas. Elas eram tomadas na Praia de Ramos, no Centro Municipal Américo Veloso. Não se pode esquecer do vendedor de biscoito Globo que cantava: chora neném para mamãe comprar biscoito.

Nós tínhamos liberdade, mas também educação como os mais velhos. Subia e descia o Morro do Timbau. Nadava até a ponta do estaleiro, onde é a entrada da Vila dos Pinheiros e a Ilha dos Macacos, atual Parque Ecológico. Na época não sabia que o local era da Fundação Oswaldo Cruz. Caminhava na Favela da Portinha, onde agora é a Bento Ribeiro Dantas. Tomava banho na Prainha de Inhaúma. Vi essa favela crescer.

Éramos uma família de três filhos. Meu pai trabalhava na Fábrica de Doces Pilares e minha mãe fazia faxina. Estudava na Escola Pe. Francisco Domingues Carneiro, na Igreja dos Navegantes. Levava para escola pão com manteiga Claybom que vinha na lata. O ruim era que sujava o caderno. Na época os professores eram rígidos, com a bagunça Dona Irani dava beliscão e batia na mão de régua. Também tinha fama uma diretora na Escola Bahia que se chamava Cleide, que os alunos tinham muito respeito. Estudei até a quinta série. Era um tempo que estudava ou trabalhava, então tive que largar o caderno e o lápis.

A Maré tinha lideranças e pessoas marcantes como Ivan Neguinho, o Evanildo Alves, que tinha o apelido de Seu Baia, Dona Moura, Severino Gordo, Biu, Dona Edite, Seu Campista Barbeiro e Manoel Tampinha. Uma coisa que merece destaque era a cultura local. O samba corria solto na quadra do Mataram Meu Gato, na Nova Holanda, no Magno, na Baixa do Sapateiro e no Corações Unidos, no Morro do Timbau, que começou no Largo do Centenário. O forró ficava por conta do Bola Branca, no Parque União e o Risca Faca, na Rua Principal. Na Maré ocorriam as tradicionais festas juninas da Rua Guanabara, da Rua Flávia Farnese e Rua 29 de Julho, no Parque Maré.

Já fora da Maré, a diversão ficava nos bailes. Só era necessário se desvencilhar das brigas de grupos de danças, como os ocorridos no Chaparral, de Ramos e no Bonsucesso Futebol Clube. Não se pode esquecer do Festival do Chopp, no Lespam (Liga Esportiva da Marinha). Lembro com saudade do Clube York. Os moradores iam assistir os filmes nos cinemas de Olaria, o Cine Santa Helena e o Cine São Geraldo, esse último era conhecido como poeirinha e ficava próximo ao ponto final da linha de ônibus 484. Em Bonsucesso o local era o Cinema Melo, que depois virou Casas Sendas e hoje é o atual Supermarket. Em Ramos, as estreias ficavam a cargo do Cine Rosário.

Tem acontecimentos que não saem da cabeça. Não consigo esquecer do incêndio do Duplex, local de moradia da Nova Holanda. Não tinha água, então a solução foi pegar água da própria maré para apagar o fogo. Os avanços vinham por meio de lideranças. O nosso ponto de energia elétrica era de responsabilidade do Zé Luiz. Já o morador da palafita tinha como sonho aterrar o terreno, depois passar o vermelhão no chão e encerar para brilhar. Era comum nas datas de festas ir ao galinheiro e pedir para matar galinha. Se pedia para não deixarem o sangue talhar, pois faziam cabidela, conhecido como ao molho pardo.

No baú das memórias, Zé Gordo traz consigo recordações da sua vida que se entrelaçam com a Maré. Foto: Gabi Lino

Remoção é uma mudança nos rumos da vida

Um dia recebemos a notícia que ocorreria a remoção, por meio do Projeto Rio. O motivo que foi apresentado era abrir uma rua, próximo à casa do Biu. Colocamos tudo no caminhão da mudança e em 1986 cheguei no Conjunto Pinheiros, ao Bloco 17. Tudo era novidade, um local de apartamentos ventilados e com janelas, onde se via toda a comunidade. Na época da remoção, poucos se adaptaram. No prédio só ficaram eu e mais sete moradores antigos. A maioria vendeu e voltou para o Parque Maré. Acho que o motivo foi que nos barracos todos eram muito amigos, aqui nos prédios se morrer alguém ninguém nem sabe.

Também percebi mudanças ao longo dos anos por aqui. Antes tinham uns campos de futebol, que depois fizeram o Kinder Ovo, galpões improvisados que moravam 25 famílias para um único banheiro. Depois surgiu no lugar o Marrocos atrás do Ciep Ministro Gustavo Capanema. Nesses tempos vi empresas que investiram na Maré, como o Colégio Santa Mônica e os postos de saúde da Golden Cross, no pé do Morro do Timbau e na Nova Holanda. Já as festas ficam devendo, os bolos das festas eram enormes, com frutas em cima, hoje são pequenos e os pedaços minúsculos. 

Sempre conto que só saio daqui do Conjunto Pinheiros se ganhar na loteria, para morar no Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, algo improvável. No fundo do coração, quero ficar por aqui, pois sou feliz na Maré.

Inscrições abertas para premiação de curtas na mostra independente Cine Diversidade – Gênero e Sexualidade

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Por Redação, em 25/04/2022 às 07h.

Estão abertas as inscrições para a exibição de trabalhos na quinta edição do festival independente Cine Diversidade – Gênero e Sexualidade. Em 2022, passada a fase mais crítica da pandemia, o encontro volta a ser presencial e volta ao Centro de Artes da Maré – CAM, na Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, em 11 de junho.  Ao todo, 15 curtas-metragens serão selecionados e concorrerão a prêmios em dinheiro.  Entre 13 e 19 de junho, também haverá exibição no canal da ColetivA DELAS – realizadora do projeto. É possível se inscrever de maneira gratuita até 8 de maio no site da mostra.

As produções precisam se enquadrar em uma das três linhas de exibição: Reflexos do Feminino que reúne filmes sobre as lutas das mulheres e a equipe majoritariamente feminina; Ser Trans com filmes que abordam a identidade de gênero ou são produzidos por pessoas transvestigeneres; Cine Sexualidade, que tratem de questões relacionadas à homossexualidade, à bissexualidade ou outras orientações sexuais que fogem da heteronormatividade. Serão cinco filmes por linha temática e o primeiro colocado em cada categoria de voto ( popular, júri Canal Futura/co.liga, júri ColetivA) recebe o valor de R$700. Os curtas também precisam ter até 20 minutos de duração, produção em território nacional e baixo orçamento, nenhum ou poucos apoiadores

O objetivo da mostra é se tornar um espaço de debate sobre a liberdade e o respeito à diversidade, estimular e contribuir para a visibilidade da produção do cinema brasileiro e independente e as lutas das mulheres e LGBTQIA+. A ideia é criar um ambiente de troca entre produtores, cineastas e público, viabilizando espaços de interação dentro e para além da sétima arte.

Os filmes inscritos também poderão ser selecionados para o Festival Corpos Visíveis, que acontece em agosto de  2022, na Arena Fernando Torres, em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. O evento contará com a exibição dos 10 clipes e 10 videoartes ao longo de toda a programação; Os selecionados em primeiro lugar recebem R$500.  O festival  conta também com shows, DJs, performances e oficinas. 

Como os filmes serão escolhidos

A equipe curatorial levará a julgamento o apuro artístico e estético dos filmes, as atuações, direção e montagem, o protagonismo de mulheres e LGBTQIA+ nas telas e nas equipes e a inclusão de outros corpos diversos como pessoas negras e PCDs. Também será levado em consideração a coerência com os debates sociais, a presença da periferia e o valor em dinheiro investido no filme. 

Cada linha de exibição terá um profissional diferente escolhendo os trabalhos que irão ser exibidos na mostra. Julia Katharine, primeira cineasta trans do Brasil a entrar no circuito comercial como diretora de um filme, fará a curadoria da Sessão Ser Trans.  Gisele Motta, jornalista e idealizadora do festival de cinema brasileiro Zona de Cinema, fará a curadoria da Sessão Reflexos do Feminino. A Cine Sexualidade fica sob responsabilidade Renan Fragale, cofundador da Fabriqueta, parceira na realização desta edição da Cine Diversidade. 

Como os prêmios serão distribuídos 

Todos os filmes exibidos na 5ª edição da Cine Diversidade estarão concorrendo a uma premiação exclusiva. A decisão se dá a partir de voto popular, através dos likes no Youtube,  de júri técnico da ColetivA DELAS e da co.liga/Canal Futura. 

Além da premiação em dinheiro, o Canal Futura poderá selecionar os filmes vencedores para exibição no Futura Play ou no próprio Canal Futura. Os premiados contam também com uma sessão especial em local e data que serão definidos posteriormente. 

Sobre a ColetivA DELAS

Trata-se de um hub criativo que produz experiências, conteúdos digitais e audiovisuais para impactar mulheres e LGBTs. A ColetivA foi fundada pela produtora e comunicadora Karla Suarez e pela cineasta Karina de Abreu. Atua desde 2016 criando redes de colaboração com o objetivo de alinhar ideias e transformá-las em projetos que contribuam para inclusão, diversidade e equidade de gênero. 

Nesse tempo, foram realizados diversos projetos audiovisuais e eventos culturais como a Mostra Cine Diversidade e a Mostra de Multilinguagens Corpos Visíveis. Ao longo da sua trajetória, firmou dezenas de parcerias com empresas e instituições como Oi, PUC, Fundição Progresso, Canal Futura, entre outras, gerando mais de 400 postos de trabalho diretos e indiretos e impactando mais de 13 mil pessoas.

Leia o edital com o regulamento completo aqui.