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Projovem Urbano na Maré promove oportunidade de conclusão do ensino fundamental e qualificação profissional

Jovens da Maré que não completaram o ensino fundamental podem se inscrever em curso

Por Hélio Euclides, em 01/04/2022 às 13h50. Editado por Jéssica Pires

Numa corrida como a São Silvestre, é uma alegria quando o atleta atravessa a linha de chegada e passa pela faixa. Na vida educacional não é diferente para um aluno. A conclusão de um curso se transforma em uma festa e, mais ainda, em uma formação que vai colaborar na carreira profissional. Para ajudar aos alunos que por algum motivo não conseguiram chegar à reta final do Ensino Fundamental, mas desejam sua conclusão, a Escola Municipal Olimpíadas Rio 2016 oferece o curso Projovem Urbano. 

O curso é uma iniciativa do Governo Federal em parceria com a Prefeitura do Rio, que tem como objetivo elevar a escolaridade de jovens com idade entre 18 e 29 anos, que saibam ler e escrever e não tenham concluído o Ensino Fundamental, do 1° ao 9° ano, visando a conclusão desta etapa por meio da modalidade de Educação de Jovens e Adultos integrada à qualificação profissional e ao desenvolvimento de ações comunitárias enquanto exercício da cidadania.

Na cidade do Rio de Janeiro, dez escolas oferecerão atendimento na modalidade Projovem Urbano. Na Maré, a unidade escolhida foi a Escola Municipal Olimpíadas Rio 2016. O curso tem como slogan: conhecimento e oportunidade para todos. “O curso é para ajudar pessoas que necessitam concluir o Ensino Fundamental e que estejam na faixa etária das vagas. Nas férias de janeiro tinha muita gente procurando, mas não tínhamos as informações necessárias. Precisamos que essas pessoas retornem para formar turma”, detalha Ana Flávia Teixeira Veras, diretora da escola. Ela explica que hoje só estão matriculados cinco alunos. Para a unidade, há capacidade para formar cinco turmas, com 25 alunos cada.

Acolhimento para mães e pais

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do primeiro trimestre de 2019, relatam que 35% dos alunos com mais de 14 anos não completaram o ensino fundamental. Para ajudar as pessoas que encontram a barreira de não completar os estudos por não ter com quem deixar os seus filhos, no Projovem Urbano há uma sala de acolhimento. Nela, há uma profissional formada para fazer o atendimento das crianças de até oito anos durante o período em que os pais estiverem assistindo às aulas. 

Qualificação profissional

O aluno que ingressar no curso vai ter uma qualificação profissional ao final do curso, por meio de módulos como turismo, empreendedorismo e informática. “Foi uma luta muito grande trazer para a Maré. Quando surgiu a oportunidade do Projovem Urbano, nós ficamos muito animados”, diz a diretora. 

“Estamos na torcida para que ocorram as matrículas, para que à noite o Campus Maré I, além de ser um espaço de lazer, também seja um local de estudo e favoreça um sentimento de pertencimento dos moradores pela escola”, completa.

O Projovem Urbano tem duração de 18 meses. Os interessados devem procurar a secretaria da EM Olimpíadas Rio 2016, no horário de atendimento, das 18h às 22h. Na Rua Teixeira Ribeiro, 1000 – Bloco 1, Nova Holanda, Maré. Localizada no Campus Maré I. Os candidatos devem levar os seguintes documentos: histórico escolar, se tiver, CPF, carteira de identidade e comprovante de residência.

Observatório de Favelas abre inscrições para Escola de Fotografia Popular

Formação concederá bolsa de R$ 500 para 25 jovens e adultos de favelas e periferias

Por Observatório de Favelas, em 01/04/2022 às 07h.

Dez anos depois da última turma, o Observatório de Favelas, a partir do Imagens do Povo, torna público o edital de seleção de participantes para a Escola de Fotografia Popular (EFP). A Escola está com inscrições abertas, entre os dias 28 de março e 08 de abril, para o curso de fotografia  popular. A EFP espera atender 25 moradores de favelas e periferias, principalmente mulheres, pessoas negras e indígenas, a população LGBTQIAP+ e Pessoa com Deficiência (PcD) para formação em fotografia, baseadas nas relações e no conceito de direitos humanos e território periférico.

O curso terá duração de seis meses com aulas presenciais, na sede do Observatório de Favelas, na Maré. Serão selecionadas 25 pessoas com idades entre 18 e 40 anos, beneficiadas com uma bolsa de R$ 500 mensais durante o período da formação.

De acordo com a coordenadora do Imagens do Povo, Rosilene Miliotti, a iniciativa surge em um momento importante de retomada de ações presenciais e possibilidade de investimento em ações culturais e de formação artística para o Rio de Janeiro.

A fotografia é um instrumento artístico muito potente, e mesmo diante do pouco investimento em formação e exposição dos últimos anos é possível enxergar muita gente produzindo e criando de forma autônoma. Retomamos a Escola de Fotografia Popular em um momento importante em que poderemos oferecer formação qualificada a essas pessoas que já atuam e também às que pretendem atuar. Vai ser uma grande oportunidade de aperfeiçoar nosso olhar sensível para ver a beleza e a importância do que está ao nosso entorno, em nosso território e hoje ainda podemos contar com as novas tecnologias a nosso favor”, comemora Rosilene.

A turma 2022 prestará uma homenagem ao fotógrafo popular Bira Carvalho, aluno da primeira turma da escola e profissional de referência na documentação fotográfica do cotidiano das favelas, especialmente da Maré. Bira faleceu em novembro passado, aos 51 anos.

O Imagens do Povo é apresentado pelo Ministério do Turismo. Tem patrocínio da IBM, Instituto Cultural Vale, Itaú, Cyrela, Colgate, MR Mineração e Smart Fit, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Apoio Institucional: Itaú Cultural. Realização: Observatório das Favelas e Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.

Edital completo em https://bityli.com/edital-EFP

Cronograma

Inscrição – 28 de março a 08 de abril
Seleção – 13 a 19 de abril
Divulgação da seleção – 20 de abril
Início das aulas – 25 de abril
Encerramento das Aulas – 25 de outubro
Encerramento Formatura com abertura de exposição – 10 de novembro

Formulário de inscrição https://bityli.com/inscricao-EFP

Sobre o Programa Imagens do Povo

Criado em 2004 pelo Observatório de Favelas e pelo fotógrafo documentarista João Roberto Ripper, o programa Imagens do Povo alia a técnica fotográfica às questões sociais, registrando o cotidiano das favelas através de uma percepção crítica que leva em conta o respeito aos direitos humanos e à cultura local. Neste processo, fotógrafos e comunidades resgatam e fortalecem seus vínculos identitários a partir do uso da linguagem fotográfica, que se torna instrumento de acesso e mapeamento de diferentes expressões culturais e sociais dos territórios onde residem, ampliando as possibilidades de difusão de novas imagens destes locais.

Sobre o Observatório de Favelas

Observatório de Favelas, criado em 2001, é uma organização da sociedade civil sediada no Conjunto de Favelas da Maré, mas com atuação nacional. Dedica-se à produção de conhecimento e metodologias visando incidir em políticas públicas sobre as favelas e promover o direito à cidade. Fundado por pesquisadores e profissionais oriundos de espaços populares, tem como missão construir experiências que contribuam para a superação das desigualdades e o fortalecimento da democracia a partir da afirmação das favelas e periferias como territórios de potências e direitos. Atualmente, tem em andamento projetos, divididos em cinco áreas: Arte e Território, Comunicação, Direito à Vida e Segurança Pública, Educação e Políticas Urbanas. Muitos em parcerias com universidades, organizações locais, nacionais e internacionais.

Apesar da greve dos garis, funcionários das associações de moradores da Maré realizam coleta de lixo

Ainda assim o volume de lixo nas ruas da Maré é enorme. Paralisação, considerada ilegal pela Justiça, já dura trê dias na cidade. 

Por Edu Carvalho, em 31/03/2022 às 15h.

Com a paralisação desde a noite de segunda-feira (28/3) dos funcionários da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), que cobram melhores condições de trabalho e reajuste salarial, varredores ligados às associações de moradores espalhadas pela Maré têm feito a coleta de lixo local. É o caso da Associação de Moradores da Nova Holanda, que conta com equipe nas ruas desde terça-feira (29), quando moradores registraram acúmulo de lixo em todo o conjunto de favelas. 

Mas como era de se esperar, a mobilização das associações locais não supre o contingente de lixo produzido: “o pior é o acúmulo de lixo em determinados pontos da rua gerando um mais estar visual e um cheiro péssimo. Ainda mais sendo uma rua com vários comércios e restaurantes. Junta com o esgoto entupido e fica um horror”, reclama a moradora da Rua Roberto da Silveira, uma das mais movimentadas ruas do Parque União, que recebe um grande movimento de estabelecimentos de gastronomia e duas feiras de ruas semanais.

De acordo com o Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio de Janeiro (Siemaco-Rio), 80% dos profissionais aderiram à greve, e os impactos são percebidos por toda a cidade. 

Em comunicado oficial, a Comlurb informou que por conta da greve ilegal dos garis, está com um plano de contingência em andamento para não deixar de atender à população. 

“Os serviços essenciais da Companhia, portanto, devem ser mantidos em toda a cidade, conforme previsto na rotina. Atrasos pontuais inerentes à condição de greve estão sendo contornados pelas equipes operacionais’’. Também na nota, a Companhia pede a colaboração dos cidadãos para que, neste período, mantenham a cidade limpa, ‘’respeitando dia e horário da coleta e descartando corretamente o lixo’’. 

Este se torna um pedido importante, justamente porque há previsão de chuvas para os próximos dias. De acordo com o ClimaTempo, uma frente fria avança para as regiões Sul e Sudeste do país na madrugada de quinta-feira (31/3). ‘’Este sistema vai fazer o mês fechar com uma grande virada no tempo no estado de São Paulo e também em parte do Rio De Janeiro’’. “Eu nunca havia tido impacto direto com as chuvas na comunidade. Quando ocorriam sempre eram duas casas antes da minha, porque a rua tem uma leve inclinação e minha casa fica mais alta. Mas na última chuva o bueiro (único que tem aqui perto) fechou com lixos e a água chegou na minha calçada. No dia a comlurb havia recolhido o lixo. Imagina agora com todos esse lixo nas ruas”, comenta Verônica Pires a também moradora do Parque União, da Rua Darci Vargas, que abriga um valão que frequentemente transborda em dias de fortes chuvas.

Em janeiro deste ano, o Maré de Notícias Online publicou matérias com enfoque na questão de acesso à serviços básicos de limpeza, como a coleta de lixo e o prejuízo de seu descarte indevido à região, num debate anterior à greve dos garis. No site, também teve espaço para tratar das mudanças ambientais e seus impactos nas favelasalém do risco de alagamento em todo o território. 

A Comlurb lembra que o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) alertou para a necessidade de manter a rotina de trabalho, evitando qualquer ação que impeça os garis de trabalhar, com multa diária ao Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio de R$ 200.000,00, além de configurar um crime contra a organização do trabalho.”

Pessoas em situação de rua são mais vulneráveis à violência armada

Sete pessoas feridas e duas mortas em confronto na Maré nesta terça-feira (29)

Por Jéssica Pires e Camila Barros, em 30/03/2022 às 15h15.

No início da noite de ontem (29), moradores do Parque União, Parque Maré, Nova Holanda, Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau ouviram um intenso confronto. A partir dos relatos, identificou-se que os registros de tiros tratavam-se da consequência de um assalto que aconteceu no mesmo dia na Avenida Brasil. O assalto teria sido realizado por alguém que supostamente se escondeu em um local próximo à cena de uso de drogas da Rua Flávia Farnese, no perímetro entre as passarelas 8 e 9 da via expressa.

Até o momento, foram registradas sete pessoas feridas e duas mortas pela troca de tiros. Todas as vítimas viviam ou frequentavam a cena na Rua Flávia Farnese, com exceção de um dos mortos. Um cachorro também foi morto e outros três cães foram feridos por arma de fogo. Esta rua – que é bem próxima a Av. Brasil – é um importante pólo comercial da região, que abriga uma cena de uso de crack e outras drogas, onde hoje vivem e frequentam cerca de 75 pessoas.

Acolhimento e redução de Danos

As sete pessoas feridas e uma das mortas no confronto eram atendidos pela equipe do Espaço Normal, equipamento da Redes da Maré referência na discussão sobre drogas e saúde mental no conjunto de favelas da Maré. O trabalho com a população de rua iniciou em 2015 com uma aproximação da equipe da Redes da população que mora no local onde se deu o confronto. Depois de 3 anos de criação de vínculo e pesquisa, foi inaugurado um espaço físico em 2018. O principal objetivo do trabalho é pautar uma agenda positiva sobre práticas de redução de danos e políticas de cuidado a pessoas que usam crack, álcool e outras drogas, por meio de frentes de atuação que desenvolvem sobretudo ações de articulação territorial e de acolhimento e apoio à essa população. 

Só esse ano a Redes da Maré registrou 341 atendimentos de pessoas em situação de rua ou que fazem uso abusivo de drogas. Neste trabalho os atendidos são acompanhados por uma equipe interdisciplinar, com a disponibilidade de um espaço de apoio com estrutura para banho, alimentação e convivência em grupo. O nome do equipamento é uma homenagem a Carlos Roberto Nogueira, também conhecido como “Normal” (32). O morador começou a ser atendido e acompanhado pela organização em 2015 e veio a óbito em Janeiro de 2018 por bala perdida no mesmo local onde os tiros foram registrados ontem.

“Infelizmente a história do Normal segue se repetindo por conta dos confrontos entre os grupos armados e a negligência do Estado, que causa situações de vulnerabilidade tais como pessoas vivendo em situação de rua. Perdemos duas pessoas e outras sete foram feridas, o que mostra a gravidade da situação da segurança pública no território e a importância de olharmos para essa população e garantirmos o acesso a políticas públicas de moradia, de alimentação e preservação da vida”, comenta Luna Arouca, coordenadora do Eixo Direito à Saúde da Redes da Maré que também já foi coordenadora do espaço.

Momentos antes dos relatos do confronto, acontecia uma aula da formação com o tema “No balanço da Maré: saúde mental e violência em territórios favelados”, com tecedores da Redes da Maré, no Galpão Ritma, que fica bem próximo à Rua Flavia Farnese. Estavam presentes profissionais que lidam diretamente com essa pauta e frequentadores do Espaço Normal. Na saída da formação, os presentes foram surpreendidos pela movimentação causada pelo incidente.   

O contexto da vivência na rua no Brasil 

O Censo do IBGE não contabiliza a população em situação de rua no país, o que dificulta a inclusão dessas pessoas no planejamento das políticas públicas em geral. Os contextos de agravamento das desigualdades impostos pela pandemia tornaram essa população ainda mais vulnerável. Se para muitos foi um desafio seguir as medidas sanitárias de distanciamento social, higiene e atenção à saúde, para esta população seria quase impossível sem o apoio de organizações sociais, equipamentos públicos e pessoas que continuamente acompanham e promovem ações para estes grupos sociais.   

Violência Armada e População de Rua

A imprevisibilidade de confrontos armados produz uma série de efeitos relacionados à sensação de insegurança, principalmente nas regiões onde reside a população mais pobre e de maioria negra. Isso se agrava na população de rua, principalmente a pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas. O resultado da ação das polícias e dos grupos armados para a população da Maré e demais favelas do Rio de Janeiro trazem impactos imensuráveis para a saúde física e mental. A chamada “guerra às drogas” está longe de apresentar resultados eficientes no combate a violência, pelo contrário, alimenta esse cotidiano. 

Dessa forma, no âmbito das muitas dimensões da violência provocadas por esse cenário, a população que vive ou circula na cena de uso apresenta-se como a parcela mais vulnerável a sofrer com os impactos da insegurança pública. Nos últimos cinco anos, entre 2017 e 2021, a Redes da Maré identificou que pelo menos 30 moradores da cena de uso sofreram algum tipo de violação de direito em dias de operação policial e, principalmente, nos confrontos entre os grupos armados. Das violações identificadas, 18 pessoas foram feridas por arma de fogo e 12 foram mortas em confrontos armados. 

Empreendedores ou super explorados, a dura rotina dos entregadores

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Profissão é pautada por precarização e falta direitos trabalhistas

Por Jorge Melo, em 29/03/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho.

A impressão que se tem é de que estão em todos os lugares, com suas motos ou bicicletas, mochilas quadradas de cores vivas e uma pressa imprudente. O que chama atenção, além do número de entregadores por aplicativo, é a relação de trabalho que mantêm com as empresas que utilizam sua mão de obra, caracterizada pela ausência de vínculo formal de trabalho, a prestação de serviços para vários clientes, longas jornadas de trabalho e remuneração irregular. 

Esses trabalhadores são uma espécie de símbolo do desemprego e da precarização do trabalho, que atinge sobretudo os mais jovens, alguns nem tão jovens assim. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos é de 31%. Não é difícil imaginar porque os jovens são maioria nesse setor e se submetem a condições de trabalho tão adversas. 

Uma relação desigual

Vinicius Ribeiro, ex-morador da Maré; jornalista e cineasta, de 28 anos, trabalhou dois anos como entregador de aplicativo, “Foi por necessidade. Na época eu tinha um trabalho informal que rendia entre 600 e 800 reais e eu precisava de uma segunda fonte de renda. Eu trabalhei entre julho de 2019 e fevereiro de 2020, geralmente das cinco da tarde à meia noite. Mas o maior problema não era o tempo trabalhado. Como trabalhava com bike o esforço físico era pesado. Eu pedalava mais de 30 quilômetros por dia; com essa bicicleta do Itaú que é bem pior do que uma normal. Recebia mais ou menos uns 50 reais por dia. Só que daí saía 10 reais da passagem. E se quisesse comer um salgado, mais cinco reais. Eu sempre levava comida e comia, às vezes, esperando algum pedido.”

Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), realizado no primeiro semestre do ano passado apontou que entre 2016 e 2020, o número de entregadores de aplicativos passou de 30 mil para 276 mil, um aumento de 979,8%. E que esse aumento se deu em função do crescimento do número de plataformas e do desemprego crescente, com um agravamento durante a Pandemia. 

Vinícius lembra principalmente da falta de contato humano. ”A dificuldade de resolver problemas com as empresas, sempre por meio de um chamado ou aplicativo, algumas têm apenas uma central que resolve alguns problemas, outras nem isso. A gente é bloqueado por qualquer coisa e para desbloquear é mais uma dificuldade; isso só para começar a trabalhar. As rotas, às vezes são absurdas.” 

Pandemia amplia jornada de trabalho

Ao contrário do que se possa pensar, a pandemia, com o isolamento social e o aumento da procura por serviços de entrega em domicílio, não aumentou a renda dos entregadores. Segundo pesquisa do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), realizada em São Paulo, 62% dos 300 de entregadores entrevistados passaram a trabalhar mais de nove horas por dia; enquanto antes da Pandemia eram 57%, para conseguir praticamente a mesma remuneração. Apesar dos riscos que correram durante a Pandemia não foram incluídos nos grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI).

Foi em reação a essa realidade que surgiu, no ano passado, em São Paulo, o Movimento Entregadores Antifascistas. O fundador e principal representante é Paulo Lima, mais conhecido como Paulo Galo, homem negro, de 32 anos, nascido e criado na periferia de São Paulo. Galo sonha com um movimento nacional mas ele mesmo reconhece que é difícil reunir a categoria, que tem como característica a dispersão porque não têm um local de trabalho definido.

A reação

A primeira ação do movimento foi uma greve dos entregadores, que eles chamam de “breque” em julho de 2020. Houve antes uma reunião no Largo da Batata, área de grande movimento na Zona Oeste de São Paulo. A manifestação reuniu poucos trabalhadores mas um vídeo gravado por Galo explicado as razões da luta dos entregadores, teve 500 mil visualizações, “Eu tenho que aproveitar que tem um monte de câmaras por aqui para mandar um papo forte para conquistar os entregadores que estão por todo Brasil.”, disse Galo durante a manifestação. 

No ano passado, entregadores de Paulínia, Jundiaí, São Carlos e Bauru, no interior de São Paulo, organizaram paralisações, reivindicando melhores condições de trabalho e o fim da coleta dupla, quando o trabalhador precisa fazer duas ou mais entregas de uma vez só, sem receber a taxa mínima por cada uma delas. Os entregadores também reivindicavam o fim do bloqueio, quando a plataforma exclui o entregador e o impede de seguir trabalhando sem explicar o motivo. 

Entregadores e aplicativos

Segundo o IPEA, entregadores e motoristas de aplicativos somam um milhão e quatrocentos mil trabalhadores, ou seja, 31% das pessoas que compõem o setor de transporte, armazenagem e correios do país. O iFood, um dos maiores do setor, possui 160 mil entregadores ativos na plataforma. 

De acordo com o site Statista, empresa especializada em dados de mercado e consumidores, em 2020, o Brasil foi responsável por 48,77% do uso de delivery na América Latina. No país, já estão registrados mais de 250 aplicativos de delivery. 

De acordo com um outro levantamento encomendado pela VR Benefícios ao Instituto Locomotiva, 89% dos estabelecimentos comerciais do país passaram a utilizar o delivery durante a pandemia e hoje ele é responsável por mais da metade do faturamento em 56% dos estabelecimentos do setor. 

De aplicativo ou não, a vida dos entregadores não é fácil. Wellington Alves Neto mora na Baixa do Sapateiro, tem 26 anos e é solteiro; faz entregas de moto para várias empresas, todas na Maré. Trabalha em média 12 horas por dia. Segundo ele, tem ganhos maiores que um entregador de aplicativo, “Num dia bom posso ganhar de 150 a 200 reais e num dia ruim de 70 a 90 reais”. No entanto, revela que quando se acidentou não recebeu nenhum tipo de apoio, conquista recente dos entregadores de aplicativos.

Wellington trabalhava como promotor de vendas da Rio Card, empresa responsável pelos cartões utilizados no transporte público no estado do Rio de Janeiro;  mas perdeu o emprego durante a pandemia. Apesar das condições de trabalho vai continuar com as entregas, “Quero voltar para a minha área e enquanto não tiver uma oportunidade vou continuar.” 

O universo dos entregadores

Galo, que tenta organizar os entregadores na cidade de São Paulo, trabalhou como motoboy de 2012 a 2015, com carteira assinada. Sofreu dois acidentes e decidiu mudar de área. Foi ajudante de pedreiro, camelô, florista, repositor de supermercado e técnico em telecomunicações. Foi demitido em 2019; voltou às ruas como entregador de aplicativo e constatou que havia mudanças para pior, “O motoboy contratado trabalhava das sete à meia, noite, jantava e levava para casa uns 100, 120 reais. O entregador de app não ganha alimentação nem diária, trabalha doze horas para ganhar 60 reais.”   

Segundo dados da pesquisa Condições de Direito e Diálogo Social de Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor de Entrega por Aplicativo em Brasília e Recife, resultado de uma parceria entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), 92% dos entregadores são homens, a maioria jovens até 30 anos; de cor preta ou parda, 68%. Com renda mensal de R$ 1.172,63, o que significa um ganho líquido de R$ 5,03 por hora trabalhada. 

Paulo Galo em manifestação de entregadores. Foto: arquivo pessoal

Proteção limitada  

No dia cinco de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei 1665/20, que estabelece medidas de proteção para os entregadores de aplicativos durante a emergência de saúde pública (pandemia). O projeto original foi apresentado no dia quatro de abril de 2020; aprovado na Câmara dos Deputados no dia primeiro de dezembro de 2021 e no Senado em nove de novembro do mesmo ano. Bolsonaro vetou o trecho que estabelecia que a empresa de aplicativo deveria fornecer alimentação ao entregador por meio dos programas de alimentação do trabalhador.

Uma das exigências da lei é que a empresa de aplicativo contrate seguro contra acidentes, sem franquia, para o entregador, cobrindo acidentes durante o período de retirada e entrega de produtos. Para o autor do projeto, depurado Ivan Valente, o projeto deveria ter sido votado há mais tempo, “Há mais de um milhão de entregadores e, neste momento de pandemia, eles se tornaram mais que essenciais, entregando alimentos e remédios”. 

“A gente só pede o básico do básico para o ser humano viver bem”, resume Galo quando explica porque decidiu tentar organizar os entregadores de aplicativos. O entregador na juventude sonhava ser um rapper e foram as letras politizadas dos grupos de rapper que levaram Galo a pensar sobre as desigualdades sociais.

Secretaria de Cultura celebra acordo com instituição inglesa visando reunir arte com agenda climática

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Por Redação, em 28/03/2022 às 11h50.

Um termo de cooperação técnica foi assinado entre a Secretaria Municipal de Cultura e a organização da sociedade civil People’s Palace Projects do Brasil, visando a realização de um laboratório de ideias que conectem atividades culturais com o debate climático. A cerimônia, conduzida pelo secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini, e o diretor da instituição, Paul Heritage, aconteceu nesta quinta-feira, dia 24 de março, no Museu de Arte do Rio – MAR. Também estiveram presentes os secretários de Meio Ambiente, Eduardo Cavaliere, e de Assistência Social, Laura Carneiro, o subsecretário executivo da secretaria de Governo e Integridade Pública, Tony Chalita, e o diretor do Circo Crescer e Viver, Junior Perim

A iniciativa conjunta “Gestores Culturais pelo Clima” investirá na qualificação de servidores públicos que trabalham nos equipamentos culturais da prefeitura. O objetivo é ampliar o diálogo entre artistas e sociedade, além de promover atividades culturais que estejam inseridas no contexto de proteção ao meio ambiente. O projeto coincide com a Rio +30, evento que marca o aniversário da ECO92, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento sediada no Rio há 30 anos.  

“Estamos construindo uma rede de lideranças criativas para pensar e colocar em prática ações em prol do debate climático nos equipamentos culturais. É urgente e precisamos implantar desde agora projetos como esse”, ressalta Faustini.    

“É muito importante ver a volta do Rio ao palco internacional sobre um debate que está acontecendo no mundo todo. Estamos redescobrindo nosso papel como agentes culturais e criando centros de competência sobre a importância da cultura e das artes no combate a crise climática”, acredita Paul Heritage

Por meio de fundos de pesquisa do Reino Unido, contemplados à People’s Palace Projects, será implementada uma rede de gestores culturais comprometidos com o debate climático. Os recursos de 20 mil libras esterlinas vão capacitar gestores e equipamentos culturais do Rio a alocarem e desenvolverem projetos de artes e meio ambiente.

“Na década da restauração das Nações Unidas, a aliança do meio ambiente com a cultura é fundamental para seguirmos com políticas públicas que promovam justiça socioambiental”, aponta Cavaliere. 

“Ter um espaço para discutir e refletir sobre cultura e meio ambiente, duas agendas que foram tão agredidas nos últimos anos, reafirma a mensagem e o posicionamento de que o Rio é a capital da cultura, e precisa fazer do seu “palco”, também um ambiente para estas reflexões. Oferecer qualificação dos gestores para este debate, além de necessário, auxilia a cidade na preparação  para a Rio +30”, diz Tony Chalita.

“Ações diretas nos equipamentos culturais criam oportunidades nos territórios. Para além do resultado, é preciso ensinar o que isso representa efetivamente na vida das pessoas que serão beneficiadas com esse projeto”, diz Laura Carneiro. 

“Esse é um exemplo claro de territorialização do orçamento. Estruturar soluções e unir temas tão importantes para a sociedade reforça o papel do estado junto a sociedade civil”, conclui Perim. 

Este é um dos feitos conquistados pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio em Londres, onde o secretário Marcus Faustini se encontrou com dirigentes de importantes equipamentos culturais, entre eles Southbank, Barbican, V&A East e Battersea Arts Centre, em busca de parcerias e intercâmbios. A pauta da viagem, resultado da parceria com a People’s Palace Projects (subsidiária da Queen Mary University of London), é atrelar política cultural e agenda climática. 

Execução do projeto e plano de trabalho 

Nesta edição, vinte servidores municipais serão convidados para participar do laboratório de ideias com especialistas da cultura e agenda climática. A partir destes encontros, serão desenvolvidos projetos que busquem conectar a preservação do meio ambiente com atividades que impactem diretamente nos espaços culturais da pasta. Após passar por uma comissão avaliadora, três destas propostas serão escolhidas e podem ser implementadas pela People’s Palace Projects.

O plano de trabalho acontecerá em nove meses e os resultados da parceria serão apresentados durante a conferência Rio +30 em outubro deste ano. 

Confira o cronograma: 

Abril/22: Lançamento do programa do laboratório e seleção dos participantes 

Maio a Junho/22: Reuniões remotas de alinhamento entre servidores, Secretaria Municipal de Cultura  e People’s Palace Projects do Brasil 

Julho/22: Imersão dos servidores no laboratório artístico de ideias sobre cultura e meio ambiente 

Julho a Agosto/22: Desenvolvimento dos projetos 

Setembro/22: Escolha e prototipação de três projetos destaques 

Outubro/22 a Março/23: Seminário de finalização e divulgação durante a conferência Rio+30.