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12ª operação do ano deixa dois mortos e um ferido na Maré 

Em apenas um mês, essa é a quarta operação policial na Maré

Duas pessoas foram mortas e uma pessoa ficou ferida na 12ª operação do ano na Maré. Desde às 5h20 moradores da Maré informam sobre tiros nas regiões da Vila do João, Salsa e Merengue e Vila dos Pinheiros. Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) realizam, nesta quinta-feira (9), mais uma operação no território.

Os atendimentos no Centro Municipal de Saúde Vila do João e as Clínicas da Família (CF) Adib Jatene e Augusto Boal foram interrompidos. Além disso, 37 escolas, sendo 35 municipais e duas estaduais, estão fechadas nesta quinta-feira.

A operação tem presença de carros blindados e policiais a pé principalmente na Vila do João (VJ), onde houve mais relatos de tiros pelos moradores até 10h. Segundo informações recebidas pelo Maré de Notícias, a pessoa que foi baleada, ficou ferida entre as ruas 3 e 12 na VJ, não há informações sobre o estado de saúde. Perguntamos à Polícia Militar quais medidas de segurança estão sendo adotadas e qual o objetivo da operação, mas não responderam até o fechamento desta matéria. Se limitaram em dizer que houve confronto e que armas e drogas foram apreendidas.

Por volta das 11h, de acordo com os moradores, a operação também chegou ao Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Baixa do Sapateiro, Nova Holanda e Conjunto Esperança, onde recebemos relato de um homem que declarou ter apanhado dos agentes, apenas porque estava na rua, mesmo explicando que estava indo trabalhar.

4 operações em 1 mês

É a quarta semana com registro de operação policial na Maré. Ao menos quatro pessoas foram mortas na 9ª operação que aconteceu no dia 11 de abril, também realizada pela Polícia Militar.

Na 10ª operação que aconteceu no último dia 24, na Nova Holanda (N.H) os moradores denunciaram tortura por parte da Polícia Militar e invasão domiciliar. Menos de uma semana depois, na terça-feira (30), a Polícia Civil realizou operação no Parque União (P.U). Nesta última, moradores relataram correria pelas ruas e intenso tiroteio na região.

‘Tiros’ na educação mareense

A Secretaria Estadual de Educação informa que só na parte da manhã cerca de 900 alunos ficaram sem aulas nas duas escolas estaduais da Maré. A Secretaria Municipal de Educação informa que as 35 unidades municipais escolares foram fechadas, mas não diz o número de estudantes afetados. Além de alunos que estudam na localidade, os estudantes de escolas em outros bairros, e alunos universitários que moram na Maré, também encontram dificuldades para ir estudar em dias de operação. 

Em atualização… ainda não há relatos oficiais sobre o fim da operação

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que  também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].

Vale a pena ler de novo: 3 matérias sobre o Espaço Normal

No último dia 7 de maio, celebramos o Dia Internacional da Redução de Danos e também os 6 anos do Espaço Normal na Maré, que foi inaugurado propositalmente neste dia, como o primeiro espaço de referência sobre drogas em territórios de favelas no Brasil. O projeto é uma experiência inovadora, e um importante equipamento da Redes da Maré, para o desenvolvimento de novas metodologias de cuidado e desenho de políticas públicas para a população em situação de rua e/ou pessoas que usam drogas em contextos de favela, violência armada e barreiras sistemáticas de acesso à direitos.

Em honra a essa data especial, relembramos 3 matérias produzidas pelo Maré de Notícias, que destacam o incrível trabalho realizado no Espaço Normal que desde sua fundação em 2018, o espaço tem sido um exemplo de política de cuidado centrada nas pessoas, promovendo acolhimento e construção coletiva.

Redução de danos: humanidade para incentivar autonomia e criar laços

Redução de Danos, um olhar humanizado

Espaço de referência sobre drogas chega à Maré!

Vagas abertas para pré-vestibular ‘Atuários do Futuro’; saiba como se inscrever

Iniciativa reúne estudantes com foco em graduações de ciências exatas

O corredor do Galpão Ritma, na Rua Teixeira Ribeiro, é o portal para um mundo em que a matemática não é um bicho de sete cabeças e ninguém acha chato fazer cálculos. É ali que, de segunda a sexta-feira, durante três horas seguidas, um grupo de estudantes batizado de Atuários do Futuro se prepara com eletrizante dedicação para enfrentar as provas de vestibular capazes de materializar um sonho em comum: ser aprovado para um curso universitário na área de ciências exatas. 

Estudar Matemática, Ciências Atuariais, Estatística, Ciências Contábeis, Economia e Engenharias é o foco dessa turma, que integra o segundo ano de uma experiência criada a partir do histórico Curso Pré-Vestibular (CPV) da Redes da Maré, em ação no território há mais de duas décadas. Com patrocínio da seguradora Prudential, são selecionados anualmente 25 estudantes que têm 15 horas de reforço de física, matemática, química e redação todas as tardes da semana, para depois, à noite, assistirem às aulas regulares do CPV. 

São um total de 35 horas de estudos, de segunda a sexta-feira, de todo o conteúdo das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de outros vestibulares, como o da UERJ. Na turma piloto, de 2023, houve 12 aprovações para universidades públicas, sendo dez em graduações de Ciências Atuariais, Ciências Contábeis, Engenharia da Computação e Engenharia Elétrica. E a boa notícia é que ainda há vagas para a turma de 2024, com bolsas de 400 reais, cujas aulas começaram em março. 

Como se inscrever?

Os interessados em participar do CPV Atuários do Futuro devem clicar aqui e preencher o formulário.

O candidato tem que cursar o 3º ano ou ter concluído o Ensino Médio; ter entre 15 e 29 anos; e ser morador da Maré. As aulas acontecem de segunda a sexta-feira, das 15h às 18h, no Galpão Ritma (Rua Teixeira Ribeiro 521, Nova Holanda) e das 18h30 às 22h30, no Prédio Central Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes,1012 – Nova Holanda).

Histórias dos Atuários do Futuro

Dayani Fêlix, 19 anos, moradora do Parque União, faz parte da turma dos Atuários do Futuro deste ano. Formada no Colégio Estadual Tenente General Napion, ela é o retrato perfeito dos estudantes do projeto: sempre teve facilidade para lidar com os números, a ponto de ter dado aulas para colegas de turma, ajudando quem tinha aversão a cálculos. Seu sonho era justamente ser professora de matemática, algo que mudou depois da chegada à turma especial do CPV. 

“O projeto Atuários me mostrou possibilidades que eu nunca pensei. Agora sei que posso aproveitar a facilidade para matemática e estudar Ciências Atuariais, para ter um futuro financeiramente mais estável como gestora de riscos”, diz Dayani, que, se tudo correr como espera, será a primeira pessoa da sua família a ter o diploma universitário. 

As sete horas de aulas diárias não parecem dar medo ao grupo, que, pelo que se vê em sala de aula e até fora, só pensa em estudar. O clima é de foco e união, tanto que até mesmo quando não tem aula eles podem ser vistos juntos, estudando na Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto.

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Eu acabei de chegar e já me sinto diferente, porque aqui fico à vontade para falar, conversar, já que todo mundo se trata bem”, conta Diego Felipe, de 18 anos, que ainda cursa o 3º. Ano do Ensino Médio no Ciep Professor César Pernetta.

Outra que também se sentiu acolhida desde o primeiro momento foi Gabriela Najla, de 19 anos, que apesar de ter facilidade para matemática quando ainda estava na escola, nunca foi incentivada pelos seu professores:

“Cheguei a pensar em desistir de fazer algum curso ligado às Exatas até que descobri o Atuários e aqui estou focada em estudar Estatística”, diz ela que foi aluna do Colégio Pedro II.

E mesmo quem foi da turma do ano passado mas não conseguiu entrar na faculdade dos sonhos tem a chance de continuar estudando, como é o caso de Letícia da Silva Chaves, 20 anos, e de Thiago Silva, de 24 anos.

“O Atuários me ensinou a aprender a estudar, inclusive a fazer mapas mentais sobre assuntos que nem imaginava, como outro dia em que a professora Érika, de química, pediu para criarmos um mapa mental dos hidrocarbonetos”, diz Letícia, cujo objetivo é conseguir vaga na graduação de Ciências Contábeis ou em Ciências Atuariais.

Já Thiago Silva destaca a chance de seguir estudando, por contar com a ajuda de custo de R$ 400,00, que cada um dos estudantes do Atuários do Futuro ganha

“Aqui temos a chance de aprofundar matérias que são mais complicadas, como física e química, e seguir estudando. A cultura na favela, infelizmente, é deixar de estudar para trabalhar, mas neste projeto conseguimos fazer o contrário”

Na prática, os bons resultados do Atuários do Futuro vão além da aprovação na universidades, como demonstra Ludmylla Alexandre, de 22 anos, que garantiu vaga em Engenharia Elétrica no segundo semestre da UERJ e acaba de ser aprovada como Jovem Aprendiz pelo patrocinador Prudential Seguros:

“A primeira turma do projeto foi experimental e deu muito certo, porque havia muito diálogo entre alunos e professores, incentivo realmente para todos nós estudarmos mais, além de mostrar novas possibilidades de futuro. Nós descobrimos, por exemplo, a possibilidade de trabalhar com Ciências Atuariais como agora vai acontecer comigo.”

O Projeto Atuários do Futuro vem ampliando o campo de possibilidades educacionais e culturais dos moradores das 16 comunidades da Maré, que desejam entrar na universidade, como destaca a coordenadora do CPV, Luana Silveira:

“O foco do projeto no ensino de matemática tem como objetivo diminuir a rejeição histórica e as dificuldades de aprendizagem nesta área, que sempre foi um desafio para candidatos à universidade na Maré”.

O que faz o profissional de Ciências Atuariais?

O profissional formado em Ciências Atuariais trabalha com análise e gerenciamento de riscos e expectativas econômicas e financeiras, com o objetivo de proteção social. Trata-se de um gestor de riscos apto a trabalhar na área de seguros e previdência.

Uma bicicleta que leva livros e promove inclusão social

Escola da Maré dá exemplo de inclusão e cria memórias afetivas dos alunos com a ‘bicibiblioteca

Uma bicicleta e várias possibilidades. Desde uma biblioteca itinerante que vai da Zona Norte a Zona Sul até a inclusão e atração principal das aulas de educação física em uma escola na Maré. A Bicibiblioteca, é uma ação que além de levar livros para diferentes espaços da cidade, faz a alegria das crianças da Escola Municipal Tetônio Vilela, localizada no Conjunto Esperança, uma das favelas do Conjunto de Favelas da Maré. 

A escola Teotônio Vilela tem 37 pessoas com deficiência matriculadas. Conta com duas salas de recursos multifuncionais e sete profissionais de atendimento educacional especializado. A inclusão se tornou naturalmente um pilar da escola que é referência na localidade.  A pequena Pietra de 10 anos, aluna do quinto ano, diz que andar de bicicleta “é incrível!” e acrescenta: “aqui posso andar com meus amigos, eu nunca tinha andado numa bicicleta dessas”.  A mãe de Pietra, Juliana Mesquita, é uma das coordenadoras do grupo Especiais da Maré e conta que sua filha ama curtir a vida: “fico imensamente feliz dela poder participar e ter essa sensação de pertencimento junto com seus colegas.” comemora.

A princípio, a bicicleta faria parte do espaço de leitura da escola, mas quando os alunos demonstraram interesse em usar o equipamento, os educadores viram uma oportunidade de incluir também nas aulas de educação física. A gestora escolar Simone Aranha conta que mesmo encontrando algumas barreiras na educação inclusiva os docentes da instituição continuam : “a gente o tempo todo está em busca de mais [atividades] porque as crianças precisam, é mostrar que é importante e que eles podem.” Todos os alunos usam a bicicleta durante as aulas de educação física com a supervisão dos professores.

Os caminhos da leitura

A monitora da bicicleta, e responsável por repassar a doação, é a artista Lauane Silva, de 35 anos, ela conta que durante cinco meses rodou com a bicicleta por ONGs do território como a Redes da Maré, Luta Pela Paz e o Instituto Vida Real, além de doar e trocar livros nas feiras e aos domingos ir para a orla de Copacabana com a Bicibiblioteca. No fim do projeto a bicicleta foi doada para o grupo Especiais da Maré com o objetivo de circular pelas escolas do bairro promovendo a inclusão.  “No fim do projeto a bicicleta tinha que ser doada para uma ONG, então eu escolhi doar para essa pelo trabalho com crianças com deficiência e por ser aqui do Pinheiro”.

‘Funk Generation’ de Anitta tem artista visual da Maré por trás das telas

Patrick Marinho registra a Maré em novo álbum da cantora, reproduzido em todo o mundo

É a geração do funk e da favela brilhando no mundo. Patrick Marinho, diretor de fotografia e artista visual, cria do Conjunto de Favelas da Maré, foi o responsável pelos registros do videoclipe A Baile Funk Experience, medley do novo álbum da cantora Anitta, Funk Generation. Em dois dias, o disco garantiu a 2ª posição no Top Albums Debut Global do Spotify, plataforma que mostra as maiores estreias mundiais.

No video, são exibidos clicks da Maré e Patrick fala sobre a produção de repercussão mundial: “São oportunidades que dificilmente a gente vai ter como favelado, de ocupar esses lugares da grande mídia. Então tá sendo uma experiência muito rica pra mim”, conta. 

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O primeiro videoclipe que ele colaborou com a cantora foi Funk Rave, do mesmo álbum, e levou o título de melhor clipe de música látina no MTV Video Music Award (VMA): “Mostrou que os favelados também podem estar ali nesses grandes espaços. A gente não tem oportunidade de pagar curso grande de fotografia e de direção, a gente trabalha pra botar comida dentro de casa. Estando nesses espaços, entendi que o favelado pode muito mais. Não só trabalhando dentro da favela, mas também ultrapassando os limites do território e levando a favela junto”, reforça.

O artista de 25 anos, atua desde os 18 como fotógrafo, há três anos como artista visual e ressalta o apoio do co-produtor Felipe Dutra e outras figuras da Maré na produção, como a Orquestra Maré do Amanhã, Andrey Lima e DJ Renan Valle: “Eu não faço nada sozinho e ter outros favelados comigo e pessoas pretas somando é muito importante pra mim”, diz.