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Morre Paulinho dos Sapatos

Profissional que nunca deixou o Parque União descalço

José Paulo, mais conhecido como Paulinho dos Sapatos, morreu na última quinta-feira (15), após sofrer um aneurisma cerebral. Ele deixa a esposa Marilene e dois filhos. Seu velório será nesta sexta-feira (16), às 11h, na capela A, do Cemitério do Cacuia, na Ilha do Governador. O sepultamento ocorre às 13h. Relembre a entrevista dele ao Maré de Notícias

O popular Paulinho dos Sapatos, nasceu em Minas Gerais e chegou na Maré em 1980. Trabalhou em uma loja alugada e depois comprou seu atual estabelecimento na Rua Raul Brunini, no Parque União. Trabalhava todos os dias, não deixando que sua profissão se extinguisse com o progresso e a transformação da sociedade. Foi um valente no ofício de cuidar dos calçados.

Projeto de alfabetização para mulheres está com inscrições abertas

‘Escreva seu Futuro’ da Redes da Maré visa alcançar a emancipação e diminuir a taxa de analfabetismo no território

A relação entre educação e as mulheres é marcada por luta e superação, no qual por muito tempo, elas tiveram o acesso ao ensino negado. Hoje, mulheres da Maré voltam a estudar depois de adultas e superam desafios históricos, culturais e sociais para um futuro transformador. O projeto Escreva seu Futuro da Redes da Maré e a Educação de Jovens e Adultos contribuíram para ampliar o acesso à educação do público feminino. 

Reescrevendo o futuro

O projeto Escreva seu Futuro idealizado pelo Eixo Educação da Redes da Maré tem como objetivo a alfabetização de mulheres para alcançar a emancipação e diminuir a taxa de analfabetismo no território, uma das consequências do acesso tardio ao ensino no período escravista. 

As inscrições para o projeto estão abertas e você pode mudar a sua história. Os requisitos para se inscrever consistem em ser mulher a partir dos 15 anos, sem limite de idade, não ter frequentado a escola quando pequena ou não ter conseguido concluir os anos iniciais do Ensino Fundamental ou ter dificuldades no desenvolvimento da escrita e leitura.

As aulas acontecem em diversos pontos da Maré e para se inscrever é necessário comparecer na localidade de interesse (Veja ao final da matéria os locais e horários) ou clicar aqui para fazer a inscrição online.

De acordo com Vânia, coordenadora do projeto, a educação é a chave para que as mulheres possam conquistar sua autonomia e alcançar novas oportunidades na vida: ”É algo incrível e indescritível ver essas mulheres vislumbrando novos horizontes que todo o esforço que não só dela, mas de todas nós que no dia a dia fazemos o projeto acontecer, sentimos valer a pena estar no território e realizar esse trabalho. É como se fosse um combustível, o que nos impulsiona”, declara. 

Filhas, mães, avós, mulheres de favela. Assim como Anisia concluiu a graduação aos 35 anos, diversas mulheres da Maré estão enfrentando barreiras sociais como o preconceito com idade e se dedicando aos estudos: “É importante possibilitar que mulheres de diferentes idades, mas especialmente as mais velhas, voltem a se priorizar ao retomarem o ambiente escolar. E consequentemente, ao decorrer do projeto, possam também aumentar sua autoconfiança, autoestima e até mesmo autonomia”, conta Vânia.

Dona Maria José da Silva conta que não foi alfabetizada pois trabalhava como empregada doméstica e não conseguia ficar acordada durante as aulas. Hoje, com 68 anos, ela retornou aos estudos através do Escreva seu Futuro para se alfabetizar: “Quando cheguei no Rio de Janeiro, eu tinha 9 anos e fui trabalhar. Estudar era meu sonho, mas eu não tinha condições e sempre tive vergonha de não saber ler e escrever. Quando mandavam mensagem pra mim, eu enviava pra minha sobrinha, pra ela ler e me mandar em áudio. Eu sentia que estava no escuro”, relembra. 

Dona Maria José não é a única que precisou trabalhar e deixar os estudos. Dados do IBGE em 2022 mostram que 40,2% dos jovens que abandonaram os estudos após os 15 anos, fizeram por necessidade de trabalhar. Para as mulheres, esse percentual é de 31,1%. Outros motivos para o abandono escolar feminino estão entre gravidez (23,8%) e cuidar de pessoas ou dos afazeres domésticos (11,5%). 

As dificuldades enfrentadas não deixaram Dona Maria José desanimar e hoje ela diz que o encanto pela educação só aumenta: “Eu estou apaixonada pela escola e enquanto eu tiver saúde, todos os dias, eu quero pegar um livro, ler e escrever”, conta. 

Mulheres negras na educação

As mulheres conquistaram o direito de estudar em 1827 no Brasil e o acesso às universidades somente em 1879. No entanto, esse cenário não contemplava mulheres negras e de origem periférica, já que até 1888 a população negra ainda era escravizada e a consequência disso ainda reflete nos dias de hoje.

Anísia Batista da Silva nasceu em 1900, em Minas Gerais e foi a primeira mulher negra a ingressar no ensino superior. Ela tinha 35 anos quando concluiu a graduação em Pedagogia pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). Apesar das dificuldades, Anisia abriu caminho para as futuras gerações de mulheres e inspirou mudanças significativas no sistema educacional. 

Angélica Ribeiro, de 24 anos, mulher negra e moradora da Maré, não teve a oportunidade de iniciar o ensino médio. Ela decidiu fazer parte do projeto Escreva seu Futuro e diz: “ A educação é um divisor de águas. Não parem de estudar, não importa a idade que você tenha, se tem um amigo, um familiar ou a própria Redes da Maré te apoiando, segue em frente”, reforça. Angélica conta ao Maré de Notícias que participar do projeto deu a ela a perspectiva de algo que não tinha em mente, o sonho de ingressar na universidade, a mesma que Anisia concluiu, a UFRJ: “Ao longo do projeto, eles me apresentaram um caminho, um sonho pessoal de fazer uma faculdade e quero cursar fotografia. Serei eternamente grata à Redes por essa possibilidade”, conclui. 

Interessadas em se inscrever presencialmente devem comparecer nas unidades de interesse abaixo.

NOVA HOLANDA ( Prédio Central da Redes) – 10h às 12h

VILA DOS PINHEIROS (Ao lado do Ciep Ministro Gustavo Capanema) – 8h às 10h

CONJUNTO ESPERANÇA (Associação de Moradores) – 10h às 12h

NOVA MARÉ (Areninha Herbert Vianna) – 10h às 12h

PARQUE UNIÃO (Casa das Mulheres) – 14h às 16h e 19h às 21h.

Vale a pena ler de novo: 3 matérias sobre o Dia dos Pais

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Em comemoração ao Dia dos Pais que aconteceu neste último domingo (11), o Maré de Notícias resgata três matérias importantes que abordam diferentes perspectivas sobre a paternidade.

Em “Transição e paternidade trans sem exotização”, conhecemos a trajetória de afeto e respeito do artista Zayre Ferro e seu filho João, destacada na edição #137 do jornal.

Já em “Histórias de paternidade na Maré”, diversas narrativas mostram como o cuidado, o diálogo e o amor são fundamentais para construir relações paternas saudáveis.

Por fim, em “Pelo simples direito de ser pai”, refletimos sobre como o preconceito e a transfobia ainda desafia muitos pais.

Cinema Nosso abre inscrições para cursos gratuitos

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Formações contemplam as áreas de programação, game design, sound design, ilustração para jogos, dentre outros


A Instituição Sociocultural Cinema Nosso está com inscrições abertas para os programas de formação LAB CN e Game Jam Delas, ambos gratuitos. Os interessados devem se inscrever até os dias 16 e 19 de agosto, respectivamente.

A 3ª edição da Game Jam Delas, promovida pelo projeto “Empoderamento e Tecnologia: Jovens Negras no Audiovisual”, visa proporcionar oportunidade de aprender sobre as áreas Pixel Art, Programação, Game Design ou Sound Design. Os cursos do programa têm como público prioritário mulheres de 18 a 35 anos, moradoras do Rio de Janeiro, incluindo mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-binárias, e preferencialmente mulheres negras, indígena e refugiadas. As inscrições devem ser feitas até dia 19 de agosto.

Ao final das aulas, que têm início previsto para o dia 17 de setembro, as participantes vão concorrer a prêmios com as produções desenvolvidas ao longo da capacitação. Este ano, a formação iniciará com laboratórios preparatórios e, a etapa final, será realizada presencialmente na sede do Cinema Nosso, localizada na Lapa, região central do Rio de Janeiro. As alunas dos cursos de Pixel Art, Programação, Game Design e Sound Design terão encontros semanais presenciais para discutirem sobre jogos com especialistas.

Cursos gratuitos para desenvolvimento de jogos

A instituição também está com inscrições abertas, até o dia 16 de agosto, para os cursos gratuitos de desenvolvimento de jogos. As formações são nas áreas de Game Design, Sound Design, Ilustração para Jogos, Programação para Jogos e Roteiro para Jogos e contarão com quatro aulas on-line cada. O público-alvo são jovens entre 18 e 29 anos de todo o Brasil.

Os cursos fazem parte do projeto LAB CN, cujo objetivo é capacitar jovens em ferramentas relacionadas à tecnologia e jogos, com o intuito de formar multiplicadores dentro dessa área de atuação. Com o tema “Ideias para um Mundo Melhor: Como a tecnologia pode ajudar na conquista da paz e na resolução de conflitos”, a capacitação é inspirada no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU – ODS 16, sobre Paz, Justiça e Instituições Eficazes.

Ao longo das formações, os participantes serão introduzidos aos conceitos fundamentais das áreas. Além disso, as capacitações também incluem uma preparação para apresentações em hackathons (maratonas de programação que reúnem programadores, designers e outros profissionais da área de desenvolvimento de software), abordando a estrutura de pitches eficazes, técnicas de narrativas e dicas para gestão do tempo e trabalho sob pressão em cada área de atuação.

Redes da Maré lança cartilha com orientações sobre a vida pós cárcere

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Desde 2021, o Construindo Caminhos já impactou a vida de mais de 800 pessoas que encontraram uma possibilidade de retomada de vida depois da prisão

Maria Teresa Cruz

O projeto Construindo Caminhos lança, nesta quinta-feira (15), uma cartilha com informações sobre quais os passos imediatos após a saída do sistema prisional. Além do lançamento do material, haverá a roda de conversa “Diálogos sobre Política Criminal e Desencarceramento na Maré”, com o propósito de promover o debate sobre estratégias e enfrentamentos ao sistema prisional. 

A roda de conversa é aberta ao público e vai acontecer no Espaço Normal, na Rua 17 de Fevereiro, 237, a partir das 14h. O evento vai contar com importantes nomes do debate atual sobre as políticas de encarceramento, que precisa, urgentemente, ser repensada: Patrícia Oliveira, da Frente Estadual pelo Desencarceramento, Tamires Ribeiro, do Grupo Conexão G, Jota Carvalho, do Comunicarcere, Eliene Vieira, perita do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, Márcia Badaró, do Conselho Regional de Psicologia e integrante do Fórum Permanente de Saúde do Sistema Prisional do RJ, Vânia de Carvalho Pintol, do Escritório Social, e Samuel Lourenço, escritor e criador do projeto Marroca Conteúdo Prisional. Haverá também um mutirão de atendimento da equipe do Construindo Caminhos durante o evento para quem tenha interesse e dúvidas sobre o projeto e também que, eventualmente, tenham familiares em cárcere ou em situação de pós cárcere.

Para Vanessa Lima, psicóloga e coordenadora do Construindo Caminhos, a ideia do encontro é criar um espaço de diálogo que permita a troca de experiências, informações e reflexões sobre as práticas de encarceramento. “Espera-se que a roda de conversa fortaleça a mobilização e engajamento dos moradores e moradoras da Maré, organizações de base comunitária, movimentos sociais e profissionais de equipamentos públicos na construção de estratégias que fortaleçam outros olhares e novas narrativas da vida pós-cárcere”, explica Vanessa, em entrevista ao Maré de Notícias

O projeto faz parte do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré e começou em 2021, a partir das experiências vividas por moradores no cárcere . No ano seguinte, foram ofertadas 11 bolsas para a realização do curso de Programação de Software para iniciantes, voltado especialmente para os jovens que cumpriam medida socioeducativa e seus familiares. No mesmo ano, uma equipe interdisciplinar realizou atendimento nas favelas da Nova Holanda e Vila dos Pinheiros com o objetivo de orientar sobre direitos e deveres, consultas de processos e inserção em programas sociais.

Em 2023, o projeto manteve os atendimentos jurídicos e sociais, bem como o acolhimento de jovens que estão respondendo medida socioeducativa por meio da prestação de serviço à comunidade e adultos que, como alternativa penal também, respondem com prestação de serviço.

A partir deste ano, o Construindo Caminhos passa a se dedicar cada vez mais à reconstrução de projetos de vida, interrompidos repentinamente pela política de encarceramento, que marca para sempre a vida de quem vive o cárcere. Em março, o projeto ganhou uma emenda participativa, a partir de votação popular, com a participação de mais de 250 votantes. Com isso, a expectativa é haver mais recursos para manter as atividades do projeto, impactando positivamente a vida de pessoas egressas do sistema prisional, que merecem, sim, uma nova chance. 

Vanessa avalia que, nesses anos de existência do projeto, as pessoas atendidas puderam ter acesso a ferramentas bastante práticas para recomeçar. “[Vejo que o Construindo Caminhos] também fortalece o tecido social na promoção e inclusão de cidadania em uma realidade marcada pela desigualdade e pela falta de oportunidade, sobretudo, de populações mais vulneráveis frente à política criminal”, pontua.

Entidade Maré estreia o espetáculo ‘As Falas Dela’

Espetáculo participa da programação da 24° Mostra SESC Zona Norte com um circuito de apresentações, incluindo a Areninha Cultural Herbert Vianna na Maré.

As estratégias e relações de afeto entre uma mãe preta e uma bixa preta, ambas moradoras do conjunto de favelas da Maré, é palco para a discussão e reelaboração do trabalho informal e de suas perversidades. Como desconstruir relações de subalternidade? Quem é madame e quem é criada? Aqui as madames são crias.

Estrelando Preta QueenB Rull e Monique Rayson e com direção das irmãs Wallace Lino e Paulo Victor Lino, o projeto nasceu durante a pandemia em 2021, no festival de cenas curtas entre lugares. Na ocasião a cena foi contemplada com o prêmio de caracterização.

Em uma conversa entre as artistas Preta QueenB Rull e Wallace Lino, Preta apresentou o desejo de celebrar a bela relação com sua mãe, Shirley Mudesto e, assim, passaram a idealizar o encontro das duas juntas em cena como atrizes compartilhando suas memórias e afetos. No espetáculo, mãe e filha brincam com trechos do texto “As Criadas” (1947) de Jean Genet para criar seus universos e interlocuções com o trabalho informal. A peça convoca uma reflexão para a subalternização de categorias trabalhistas na realidade e vivência de empregadas domésticas, artistas, boleiras, manicures e ambulantes somados aos recortes de
gênero e raça da população LGBTQIAPN+ favelada.

O espetáculo As Falas Dela participa da programação da 24° Mostra SESC Zona Norte com um circuito de apresentações, incluindo a Areninha Cultural Herbert Vianna na Maré.

Se liga nas próximas datas:
21 de agosto 19h – Sesc Madureira (RJ) – R. Ewbank da Câmara, 90
23 de agosto 20h – Areninha Hebert Vianna (RJ) – R. Evanildo Alves, s/nº – Maré

Sobre o coletivo

O Entidade Maré foi criado em 2020 por artistas pretes LGBTQIAPN+ da Maré, com objetivo de apresentar a memória cultural LGBTQIAPN+ na inscrição deste território e da cidade. O projeto conta com colaboração de múltiplos artistas e técnicos a cada ação desenvolvida, entre elas a Ocupação Noite das Estrelas, indicada ao 34º Prêmio Shell de Teatro na categoria Energia Que Vem da Gente. O projeto é uma celebração e homenagem a memória dos antigos shows LGBTQIAPN+ da Maré das décadas de 80 e 90.