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Mulheres da Maré e o acesso à justiça reprodutiva

Os direitos sexuais e reprodutivos são fundamentais na prevenção de doenças, combate às violências sexuais e na defesa da autonomia

Edição #163 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

As favelas da Maré são marcadas historicamente pelo protagonismo das mulheres na luta por direitos: saneamento, moradia, cultura, educação, segurança pública, a justiça reprodutiva e tantos outros, que são negados aos mais de 140 mil moradores.

De acordo com o Censo Maré, 51% dos mareenses são mulheres e a vida no território impacta diretamente  nos direitos reprodutivos delas: acesso limitado a serviços de saúde, violência sexual e obstétrica, gravidez precoce e discriminação são apenas alguns dos obstáculos que elas enfrentam. Um dado alarmante revelado pelo Censo é  que 44% das mulheres, maiores de 15 anos, são as únicas responsáveis por suas famílias, ou seja, desempenham o trabalho de cuidado e sustento desde muito cedo.

Justiça reprodutiva

A justiça reprodutiva engloba o direito das mulheres de decidirem livremente sobre o corpo delas e expressarem livremente a sexualidade, mas isso vai além do acesso a métodos contraceptivos e à interrupção ou não da gravidez. O conceito envolve o direito à informação completa e precisa, o acesso pleno aos serviços de saúde e o respeito aos direitos humanos. Para as mulheres que decidam ter filhos, é preciso exercer o direito de criá-los em ambientes seguros e saudáveis, livres de violência.

O projeto Maréas realizou em 2023 uma pesquisa, na qual se constatou que 41% das 253 mulheres entrevistadas já tentaram acessar algum método contraceptivo pelo Sistema Único de Saúde (SUS), porém, 33% delas não conseguiram. O mesmo documento aponta que apenas 0,43% das entrevistadas conheciam o método contraceptivo do Dispositivo Intrauterino de Cobre (DIU). O projeto foi realizado pela Casa das Mulheres da Maré, equipamento da Redes da Maré, em parceria com o Instituto Phi.

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Casa das Mulheres

A Casa das Mulheres fica localizada no Parque União e oferece acolhimento, rodas de conversa e informações sobre justiça reprodutiva para as mulheres do território. Em parceria com os médicos do Nosso Instituto e da Clínica da Família Jeremias Morais e Silva, o projeto passou a oferecer consultas ginecológicas com foco na inserção do DIU e já atendeu mais de 1.200 moradoras em três anos.

Rayane Felix foi uma das mulheres beneficiadas com o projeto, aos 22 anos. Ela conta que: “Acessar o DIU através da Casa das Mulheres foi importante, porque antes de estar nesse espaço, eu não pensava sobre métodos contraceptivos de longa duração. E, passando também pela palestra do Nosso Instituto, eu consegui pensar em não ter filhos, pelo menos não agora, como uma forma de planejar o futuro. Eu não preciso me preocupar em tomar remédio com alta quantidade de hormônios. Ter esse método disponível para todas as mulheres, a partir dos 16 anos de graça através da Casa das Mulheres, é muito importante”, conta.

Equipe do Pronasci Juventude realiza visita à Maré e dialoga com lideranças

Projeto visa beneficiar 1.500 oferecendo proteção social, elevação da escolaridade, formação profissionalizante e inclusão produtiva

Entre os dias 13 e 14 de agosto, o Pronasci Juventude, um projeto Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), realizou uma série de encontros para marcar a sua chegada no Rio de Janeiro. A iniciativa, voltada para as juventudes, visa estabelecer um novo paradigma focado na promoção de cidadania, enfrentamento a exploração do trabalho infantil e uso problemático de substâncias por jovens.

A agenda, intitulada “Chegada aos Territórios do PRONASCI Juventude: escuta e mobilização”, foi coordenada pela Senad e incluiu diálogos com cerca de 30 agentes territoriais, ativistas e lideranças comunitárias dos Complexos do Alemão, Maré, Penha e Manguinhos, locais onde ocorrerão ações do projeto, além de um evento técnico científico no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, com a participação de 100 pessoas, entre autoridades, acadêmicos e representantes locais.

A programação teve ainda visitas aos espaços de referência dos territórios de realização do projeto, como o Conjunto de Favelas da Maré, onde a equipe do Pronasci Juventude conheceu o Espaço Normal, Casa Preta, Centro de Artes da Maré, o projeto Construindo Caminos e a sede central da Redes da Maré. Também foram visitados o EDUCAP – Espaço Democrático de União, Convivência, Aprendizagem e Prevenção, no Complexo do Alemão.

A secretária da Senad, Marta Machado, enfatizou durante a agenda no Rio, a importância do projeto ao afirmar que “o Pronasci Juventude reflete o entendimento do nosso papel em abordar as injustiças, especialmente as injustiças raciais ligadas às políticas de drogas. Estamos tratando de crianças e adolescentes cujos futuros são comprometidos por obstáculos severos. É essa realidade que estamos enfrentando com o projeto.”

“Esses momentos de interação permitiram diálogos produtivos entre a equipe e os agentes e lideranças locais, essencial para adaptar o projeto às realidades específicas dos territórios”, enfatiza Andreia de Jesus, coordenadora executiva do projeto. A equipe da iniciativa dialogou também com representantes da Luta pela paz, Redes da maré, Vida real, Observatório de Favelas e Mães da Maré.

Lidiane Malanquini, coordenadora de território, ressaltou a relevância da visita a Maré, afirmando que “o território da Maré possui muitas experiências de cuidado e atenção voltadas para jovens em alta vulnerabilidade sociorracial. É crucial que a equipe conheça essas práticas locais, para fortalecer e aprender com as experiências históricas desses territórios.”

O Pronasci Juventude, com um investimento inicial de R$ 22 milhões, é realizado em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Ministério de Educação (MEC) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e apoio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).

O projeto visa beneficiar 1.500 jovens no Rio de Janeiro e 500 em Salvador, oferecendo proteção social, elevação da escolaridade, formação profissionalizante e inclusão produtiva. A expansão do Pronasci Juventude para o norte e centro-oeste do Brasil está prevista para ainda este ano, reafirmando o compromisso com a promoção da cidadania e a redução das desigualdades sociais.

Morre Paulinho dos Sapatos

Profissional que nunca deixou o Parque União descalço

José Paulo, mais conhecido como Paulinho dos Sapatos, morreu na última quinta-feira (15), após sofrer um aneurisma cerebral. Ele deixa a esposa Marilene e dois filhos. Seu velório será nesta sexta-feira (16), às 11h, na capela A, do Cemitério do Cacuia, na Ilha do Governador. O sepultamento ocorre às 13h. Relembre a entrevista dele ao Maré de Notícias

O popular Paulinho dos Sapatos, nasceu em Minas Gerais e chegou na Maré em 1980. Trabalhou em uma loja alugada e depois comprou seu atual estabelecimento na Rua Raul Brunini, no Parque União. Trabalhava todos os dias, não deixando que sua profissão se extinguisse com o progresso e a transformação da sociedade. Foi um valente no ofício de cuidar dos calçados.

Projeto de alfabetização para mulheres está com inscrições abertas

‘Escreva seu Futuro’ da Redes da Maré visa alcançar a emancipação e diminuir a taxa de analfabetismo no território

A relação entre educação e as mulheres é marcada por luta e superação, no qual por muito tempo, elas tiveram o acesso ao ensino negado. Hoje, mulheres da Maré voltam a estudar depois de adultas e superam desafios históricos, culturais e sociais para um futuro transformador. O projeto Escreva seu Futuro da Redes da Maré e a Educação de Jovens e Adultos contribuíram para ampliar o acesso à educação do público feminino. 

Reescrevendo o futuro

O projeto Escreva seu Futuro idealizado pelo Eixo Educação da Redes da Maré tem como objetivo a alfabetização de mulheres para alcançar a emancipação e diminuir a taxa de analfabetismo no território, uma das consequências do acesso tardio ao ensino no período escravista. 

As inscrições para o projeto estão abertas e você pode mudar a sua história. Os requisitos para se inscrever consistem em ser mulher a partir dos 15 anos, sem limite de idade, não ter frequentado a escola quando pequena ou não ter conseguido concluir os anos iniciais do Ensino Fundamental ou ter dificuldades no desenvolvimento da escrita e leitura.

As aulas acontecem em diversos pontos da Maré e para se inscrever é necessário comparecer na localidade de interesse (Veja ao final da matéria os locais e horários) ou clicar aqui para fazer a inscrição online.

De acordo com Vânia, coordenadora do projeto, a educação é a chave para que as mulheres possam conquistar sua autonomia e alcançar novas oportunidades na vida: ”É algo incrível e indescritível ver essas mulheres vislumbrando novos horizontes que todo o esforço que não só dela, mas de todas nós que no dia a dia fazemos o projeto acontecer, sentimos valer a pena estar no território e realizar esse trabalho. É como se fosse um combustível, o que nos impulsiona”, declara. 

Filhas, mães, avós, mulheres de favela. Assim como Anisia concluiu a graduação aos 35 anos, diversas mulheres da Maré estão enfrentando barreiras sociais como o preconceito com idade e se dedicando aos estudos: “É importante possibilitar que mulheres de diferentes idades, mas especialmente as mais velhas, voltem a se priorizar ao retomarem o ambiente escolar. E consequentemente, ao decorrer do projeto, possam também aumentar sua autoconfiança, autoestima e até mesmo autonomia”, conta Vânia.

Dona Maria José da Silva conta que não foi alfabetizada pois trabalhava como empregada doméstica e não conseguia ficar acordada durante as aulas. Hoje, com 68 anos, ela retornou aos estudos através do Escreva seu Futuro para se alfabetizar: “Quando cheguei no Rio de Janeiro, eu tinha 9 anos e fui trabalhar. Estudar era meu sonho, mas eu não tinha condições e sempre tive vergonha de não saber ler e escrever. Quando mandavam mensagem pra mim, eu enviava pra minha sobrinha, pra ela ler e me mandar em áudio. Eu sentia que estava no escuro”, relembra. 

Dona Maria José não é a única que precisou trabalhar e deixar os estudos. Dados do IBGE em 2022 mostram que 40,2% dos jovens que abandonaram os estudos após os 15 anos, fizeram por necessidade de trabalhar. Para as mulheres, esse percentual é de 31,1%. Outros motivos para o abandono escolar feminino estão entre gravidez (23,8%) e cuidar de pessoas ou dos afazeres domésticos (11,5%). 

As dificuldades enfrentadas não deixaram Dona Maria José desanimar e hoje ela diz que o encanto pela educação só aumenta: “Eu estou apaixonada pela escola e enquanto eu tiver saúde, todos os dias, eu quero pegar um livro, ler e escrever”, conta. 

Mulheres negras na educação

As mulheres conquistaram o direito de estudar em 1827 no Brasil e o acesso às universidades somente em 1879. No entanto, esse cenário não contemplava mulheres negras e de origem periférica, já que até 1888 a população negra ainda era escravizada e a consequência disso ainda reflete nos dias de hoje.

Anísia Batista da Silva nasceu em 1900, em Minas Gerais e foi a primeira mulher negra a ingressar no ensino superior. Ela tinha 35 anos quando concluiu a graduação em Pedagogia pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). Apesar das dificuldades, Anisia abriu caminho para as futuras gerações de mulheres e inspirou mudanças significativas no sistema educacional. 

Angélica Ribeiro, de 24 anos, mulher negra e moradora da Maré, não teve a oportunidade de iniciar o ensino médio. Ela decidiu fazer parte do projeto Escreva seu Futuro e diz: “ A educação é um divisor de águas. Não parem de estudar, não importa a idade que você tenha, se tem um amigo, um familiar ou a própria Redes da Maré te apoiando, segue em frente”, reforça. Angélica conta ao Maré de Notícias que participar do projeto deu a ela a perspectiva de algo que não tinha em mente, o sonho de ingressar na universidade, a mesma que Anisia concluiu, a UFRJ: “Ao longo do projeto, eles me apresentaram um caminho, um sonho pessoal de fazer uma faculdade e quero cursar fotografia. Serei eternamente grata à Redes por essa possibilidade”, conclui. 

Interessadas em se inscrever presencialmente devem comparecer nas unidades de interesse abaixo.

NOVA HOLANDA ( Prédio Central da Redes) – 10h às 12h

VILA DOS PINHEIROS (Ao lado do Ciep Ministro Gustavo Capanema) – 8h às 10h

CONJUNTO ESPERANÇA (Associação de Moradores) – 10h às 12h

NOVA MARÉ (Areninha Herbert Vianna) – 10h às 12h

PARQUE UNIÃO (Casa das Mulheres) – 14h às 16h e 19h às 21h.

Vale a pena ler de novo: 3 matérias sobre o Dia dos Pais

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Em comemoração ao Dia dos Pais que aconteceu neste último domingo (11), o Maré de Notícias resgata três matérias importantes que abordam diferentes perspectivas sobre a paternidade.

Em “Transição e paternidade trans sem exotização”, conhecemos a trajetória de afeto e respeito do artista Zayre Ferro e seu filho João, destacada na edição #137 do jornal.

Já em “Histórias de paternidade na Maré”, diversas narrativas mostram como o cuidado, o diálogo e o amor são fundamentais para construir relações paternas saudáveis.

Por fim, em “Pelo simples direito de ser pai”, refletimos sobre como o preconceito e a transfobia ainda desafia muitos pais.

Cinema Nosso abre inscrições para cursos gratuitos

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Formações contemplam as áreas de programação, game design, sound design, ilustração para jogos, dentre outros


A Instituição Sociocultural Cinema Nosso está com inscrições abertas para os programas de formação LAB CN e Game Jam Delas, ambos gratuitos. Os interessados devem se inscrever até os dias 16 e 19 de agosto, respectivamente.

A 3ª edição da Game Jam Delas, promovida pelo projeto “Empoderamento e Tecnologia: Jovens Negras no Audiovisual”, visa proporcionar oportunidade de aprender sobre as áreas Pixel Art, Programação, Game Design ou Sound Design. Os cursos do programa têm como público prioritário mulheres de 18 a 35 anos, moradoras do Rio de Janeiro, incluindo mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-binárias, e preferencialmente mulheres negras, indígena e refugiadas. As inscrições devem ser feitas até dia 19 de agosto.

Ao final das aulas, que têm início previsto para o dia 17 de setembro, as participantes vão concorrer a prêmios com as produções desenvolvidas ao longo da capacitação. Este ano, a formação iniciará com laboratórios preparatórios e, a etapa final, será realizada presencialmente na sede do Cinema Nosso, localizada na Lapa, região central do Rio de Janeiro. As alunas dos cursos de Pixel Art, Programação, Game Design e Sound Design terão encontros semanais presenciais para discutirem sobre jogos com especialistas.

Cursos gratuitos para desenvolvimento de jogos

A instituição também está com inscrições abertas, até o dia 16 de agosto, para os cursos gratuitos de desenvolvimento de jogos. As formações são nas áreas de Game Design, Sound Design, Ilustração para Jogos, Programação para Jogos e Roteiro para Jogos e contarão com quatro aulas on-line cada. O público-alvo são jovens entre 18 e 29 anos de todo o Brasil.

Os cursos fazem parte do projeto LAB CN, cujo objetivo é capacitar jovens em ferramentas relacionadas à tecnologia e jogos, com o intuito de formar multiplicadores dentro dessa área de atuação. Com o tema “Ideias para um Mundo Melhor: Como a tecnologia pode ajudar na conquista da paz e na resolução de conflitos”, a capacitação é inspirada no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU – ODS 16, sobre Paz, Justiça e Instituições Eficazes.

Ao longo das formações, os participantes serão introduzidos aos conceitos fundamentais das áreas. Além disso, as capacitações também incluem uma preparação para apresentações em hackathons (maratonas de programação que reúnem programadores, designers e outros profissionais da área de desenvolvimento de software), abordando a estrutura de pitches eficazes, técnicas de narrativas e dicas para gestão do tempo e trabalho sob pressão em cada área de atuação.