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Maré 30 anos: caminhos da saúde na Maré

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A trajetória de lutas e conquistas pelo acesso a saúde pública em 30 anos de bairro

Henrique Silva e Luna Arouca

Edição #159 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Atualmente, o conjunto de favelas da Maré e sua população de 140 mil habitantes, tem a cobertura de atendimento em saúde realizada por 7 unidades básicas, uma Unidade de Pronto Atendimento 24h (UPA). 

O território possui também um Centro de Atenção Psicossocial que atende pacientes infanto juvenil (CAPSi Visconde de sabugosa), e dois que atendem adultos: CAPS Carlos Augusto Magal e CAPS Miriam Makeba. 

Mas, não foi sempre assim, na década de 1970, a população da Maré tinha somente um Centro Municipal de Saúde, o Américo Veloso. Para ilustrar a trajetória de como a Maré chegou à conquista desses serviços, vamos relembrar algumas das lutas pelo acesso a esse direito, resgatando histórias sobre a mobilização e articulação política dos moradores ao longo dos anos. 

Saúde para todos

O direito ao acesso à saúde pública e gratuita só foi garantido para toda a população brasileira na Constituição de 1988, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Antes disso, somente  os trabalhadores com carteira assinada tinham acesso garantido à saúde através do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). 

Nas favelas, as formas de acesso à saúde mais comuns e possíveis eram feitas através de  instituições de caridade, religiosas, filantropia, trabalhos voluntários de médicos sanitaristas, instituições de ensino e pesquisa.

Na Vila do João, por exemplo, foi criada a Unidade de Cuidados Básicos de Saúde (UCBS) no início dos anos 1980, gerenciada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

Durante os 12 anos de funcionamento, a UCBS da Vila do João deixou de atender os moradores em várias ocasiões devido a diversos conflitos. A unidade só foi fechada definitivamente em 1995 e é importante destacar o papel que os moradores e as associações locais tiveram mobilizando o território, provocando o Estado e participando de espaços de debate sobre saúde. 

Formação comunitária

Do ponto de vista formativo, os espaços de saúde da Maré também tiveram um papel importante na construção de lideranças locais. Um exemplo foi o Posto de Saúde Comunitário da Nova Holanda, criado em 1979, que teve apoio da Fiocruz na condução da equipe dos agentes comunitários de saúde.

Na pesquisa: Uma Maré de Lutas: memória e mobilização popular na favela Nova Holanda – Rio de Janeiro, a autora Monique Carvalho Batista escreve:

“A partir de 1981, o trabalho no Postinho toma novos rumos e se volta para a formação de agentes de saúde locais, visto que a ideia central era de formar grupos dentro daquele espaço e, buscava-se, ainda, uma maior participação dos moradores frente aos problemas da comunidade. Para isso, eram realizadas reuniões na rua, onde todos pudessem participar.”

 Na associação de moradores da Vila do Pinheiro, no início dos anos 1990, foi criado pelo Hospital Geral de Bonsucesso um ambulatório. Durante um pouco mais de um ano, além do atendimento aos moradores, também foram oferecidos cursos para formação de agentes comunitários no local.

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Experiência modelo

Com o desenvolvimento do SUS e a criação de espaços de participação popular na política de saúde, foram implementados os conselhos distritais de saúde, espaços que formulam, supervisionam, avaliam, controlam e propõem políticas públicas. 

Por meio desses conselhos, a comunidade (com seus representantes) participa da gestão pública. No início dos anos 1990, foi conduzido à presidência da primeira gestão do conselho da Área Programática 3.1, região onde fica a Maré, um usuário do sistema de saúde que era morador. 

Com essa conexão direta com o território, a Maré teve um papel fundamental para a articulação da primeira experiência no Rio de Janeiro com os postos simplificados e que foram criados dentro dos 6 CIEPS do território.  Sob a gestão de uma organização comunitária, a ONG Maré Limpa, e logo depois pela União das Associações do Bairro da Maré (UNIMAR), as instituições gerenciaram os postos até o início dos anos 2000. Essa experiência foi crucial para o fortalecimento do programa de saúde da família e para a proposta de aprimoramento dos agentes comunitários de saúde nos territórios de favelas.

Demandas específicas

Em uma matéria para o jornal O Povo de novembro de 1999, José Carlos, então diretor de uma das organizações que administrava os postos, destaca a importância das atividades culturais para envolver os moradores com a saúde e, ainda, exemplificou questões específicas da saúde da população negra da favela:

“Também já está agendado uma outra festa, desta vez na quadra da escola de samba Gato de Bonsucesso, marcada para o dia 20 deste mês, quando se comemora o Dia da Consciência Negra. Além da apresentação do grupo de músicas afro-brasileiras, serão debatidos programas de saúde voltados especialmente para as pessoas negras. Existem algumas deficiências específicas da raça negra e isso precisa ser mais trabalhado” 

Nesse sentido, é possível ver o esforço da população e das organizações comunitárias na luta pelo direito à saúde e  podemos ver o impacto no território pela criação e construção de equipamentos de saúde.

Pandemia

Na pandemia de covid-19, o tema da saúde foi central na vida de todos. Na Maré,  os moradores, as organizações e os coletivos seguiram o histórico do território e se mobilizaram para apoiar as famílias que mais precisavam, mas também para desenvolver ações de combate ao coronavírus no território. 

Um exemplo ilustrativo foi a campanha Vacina Maré, em 2021, que sensibilizou os moradores para uma vacinação em massa contra a covid-19,  com um resultado impressionante de 36 mil pessoas vacinadas em quatro dias. A campanha foi realizada com o envolvimento de organizações locais, moradores, trabalhadores da saúde, da educação, além de parcerias históricas como a Fiocruz, que garantiu as doses da vacina, mobilizando recursos e desenvolveu uma pesquisa sobre a vacinação no território. 

A experiência da Maré serviu como referência para outras cidades no país e também no cenário internacional, garantindo até reportagem no jornal americano The New York Times.  

Por fim, é possível afirmar que as lutas pelo acesso à saúde como um direito, ao longo dos anos foi e segue sendo protagonizada pelos moradores do conjunto de favelas da Maré, através de inúmeros processos de mobilização e articulação territorial. As demandas de saúde no território ainda são grandes: precisamos de mais médicos, um melhor atendimento, práticas integrativas, saúde mental, entre outras. No entanto, se nos guiarmos pelo histórico de luta e envolvimento com o tema da saúde, será possível conquistar essas melhorias para a população. 

Última semana para se inscrever no Festival Comida de Favela

Estabelecimentos podem se cadastrar até dia 2 de maio no evento gastronômico

Conhece alguém com aquele tempero maravilhoso? Então corre e avisa que essa é a última semana de inscrições no Comida de Favela.

É a terceira edição do festival produzido pela Redes da Maré e o objetivo é impulsionar a gastronomia favelada. Serão selecionados 16 estabelecimentos pelo júri técnico que receberão mentoria especializada, divulgação e os ganhadores receberão prêmios em dinheiro.

O festival abre suas portas para visitantes de toda a cidade para mergulhar nos sabores vibrantes da Maré. Uma experiência gastronômica única, onde cada prato conta uma história e revela a riqueza cultural do território.

No ano passado, foram contabilizadas mais de 10 mil cédulas de votação que consagrou a língua de boi com purê de aipim de Edson Potiguar, da Vila do Pinheiro, como a grande campeã no quesito “Melhor Comida de Bar, Restaurante e Pensão”. Na categoria “Comida de Rua” quem levou a melhor foi o Ki Empada Boa. 

Agora é a sua vez de participar e impulsionar o seu negócio.

Quem pode se inscrever?

  • Empreendedores com estabelecimentos formais, localizados entre as 16 favelas da Maré que atuam no ramo da gastronomia; 
  • Possuir CNPJ ativo ou com possibilidade de abertura do CNPJ;
  • O empreendimento deve existir em um espaço físico há pelo menos 1 ano.

As inscrições vão até 02 de maio. Você pode conferir o edital completo e se inscrever clicando aqui.

Vale a pena ler de novo: 3 matérias sobre Educação

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No Dia da Educação, o Maré de Notícias (MN) celebra o poder transformador da aprendizagem e o papel fundamental da educação na construção de um futuro melhor para todos. Nesta data especial, destacamos três matérias que resgatam histórias inspiradoras, projetos inovadores e iniciativas que estão fazendo a diferença no Conjunto de Favelas da Maré e além. Acompanhe conosco essas narrativas que refletem o compromisso com a promoção do conhecimento e o acesso à educação de qualidade.

Menino da Maré com altas habilidades conclui curso em Harvard – Álvaro, diagnosticado com altas habilidades, concluiu um curso de Programação na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, com assistência financeira. Sua família investiu em seu aprendizado de inglês, e ele está determinado a buscar novas oportunidades para ampliar seus conhecimentos na área de computação.

Pensando a educação ambiental de maneira crítica – O projeto Muda Maré promove uma abordagem de Educação Ambiental crítica, adaptando-a à realidade das favelas como a Maré, abordando questões como racismo ambiental, soberania alimentar e déficit sanitário, e envolvendo moradores locais na construção de soluções para reduzir as desigualdades no bairro.

Para além da sala de aula: a arte como apoio da educação – Na Escola Municipal Escritor Lêdo Ivo, na Maré, o coral do Instituto Sabendo Mais proporciona educação musical para crianças de seis a dez anos, ampliando suas experiências além do currículo escolar. Com cerca de 30 estudantes, o coral oferece apresentações para os familiares, promovendo um ambiente de protagonismo e expectativa. O instituto também desenvolve projetos culturais, esportivos e educacionais em áreas de vulnerabilidade social, beneficiando mais de 10.000 pessoas na região da Maré e adjacências.

Rodas culturais da Maré são símbolos de resistência do Hip-hop

O movimento é impulsionado por coletivos de jovens que tem o Hip-Hop como estilo de vida

Maiara Carvalho*

A cultura do Hip-hop surge na década de 70 nos Estados Unidos, construída por jamaicanos, afro-americanos e latinos imigrantes, que sentiam na pele a negligência de políticas públicas com a sua população. Brevemente, o movimento se popularizou também aqui no Brasil, e até os dias de hoje segue sendo um símbolo de resistência dentro das periferias e favelas do país.  

O movimento conta com quatro principais linguagens, que são marcadas pela forma única de se expressarem culturalmente, sendo elas: grafitte, DJs, MCs e o break dance. Todas elas, são elementos que possibilitam a arte como ferramenta de evidenciar aquilo que se vive em sociedade enquanto indivíduo. 

No território da Maré, o movimento é impulsionado por jovens que têm o Hip-hop como estilo de vida. Ao longo dos anos, foram criados, coletivamente,  espaços que tornassem possível falar e mostrar o que é ritmo e poesia dentro da favela. 

Roda Cultural do Pontilhão

A RCP (Roda Cultural do Pontilhão) surge em 2022 através de um coletivo de jovens, que em contexto pós-pandemia decidiram dar continuidade às  ‘Batalhas do Pontilhão’ que aconteciam alguns anos antes, agora com uma nova proposta. 

Na linha de frente da RCP, temos o DJ Mike, morador da Baixa do Sapateiro, que atua como representante, curador e, claro, DJ residente. Para ele, fazer parte desse movimento tem um grande impacto na sua vida: “A expressão da arte na música me fez uma pessoa melhor, trazendo novos hábitos e convivência, aprendendo a enxergar com novas visões. Através do Hip Hop presenciei momentos muito bons que me tornaram o que eu sou.”

No momento, a Roda Cultural do Pontilhão acontece de maneira totalmente independente, mas já é capaz de desempenhar papel fundamental na vida de artistas e amantes da cultura, que aprimoram cada vez mais o sentido de coletividade e união. 

Roda Cultural do Parque União 

Cria do Parque União, Deiv, idealizador da RCPU (Roda Cultural do Parque União), surge na cena do Hip-hop por meio dos movimentos culturais que ocorriam em bairros vizinhos, ainda em 2016. Desde então, já lançou oito músicas de forma independente em seus canais de comunicação. Para ele, a originalidade, persistência e versatilidade são peças fundamentais nas suas rimas, assim como também possibilita transitar por diversos ritmos musicais, em busca de reflexões sobre o cotidiano e abordagem de críticas sociais. 

Sentindo a necessidade de trazer espaços culturais para dentro do território, e não somente buscar em outros lugares da cidade, Deiv e amigos decidiram, em 2017, criar a Roda Cultural do Parque União, em uma área de lazer que antes estava abandonada. “As rodas culturais vieram para manter a voz do Hip-hop viva. Dando voz e oportunidade para todos e unindo os 4 elementos.” A partir daí, o movimento passou a reunir, a cada 15 dias, jovens, adultos e crianças que, de alguma maneira, se sentiram abraçados pela cultura do Hip-hop. 

7 anos de luta

No mês de Abril, a RCPU completou 7 anos de luta, e para comemorar, na última sexta (19) ocorreu uma confraternização, desta vez, em endereço diferente; no Centro de Artes da Maré. O evento contou com a participação de DJs e artistas locais,  além de lançamentos, pockets shows e muita batalha de rima, com direito a premiação.

(*) Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

Maré de Notícias lança caderno cultural no jornal impresso

As próximas 10 edições do jornal serão uma jornada pelas manifestações artísticas e culturais que moldam a diversidade da Maré

Ana Paula Lisboa

Edição #159 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Ter um caderno dedicado à cultura no Maré de Notícias era um sonho antigo, e não é à toa que o maior número das nossas matérias em 2023 estiveram relacionadas à editoria de arte e à cultura. A Maré é um território diverso, rico em manifestações culturais e com uma potente história de formação. 

Os dados do Censo Maré apontam que praticamente 62% dos atuais moradores nasceram no território, mas indica também o grande fluxo migratório nordestino, 25,8%, e até mesmo estrangeiro, com 0,2% dos moradores. Essa diversidade contribui para uma explosão de produção artística e cultural. 

Em 2024, vamos realizar este desejo, produzindo o Caderno de Cultura nas próximas 10 edições do jornal impresso, que se desdobrará também em matérias para nossa edição online.

Cultura e arte

Seria praticamente impossível abarcar, nestas edições, a cultura do povo da Maré de forma total, pois é uma palavra ampla, que abrange o conjunto de valores, crenças, costumes, arte, expressões e práticas de uma sociedade ou grupo social específico. Engloba uma gama de elementos, como arte visual, música, dança, literatura, gastronomia, teatro, fotografia, arquitetura, tradições religiosas, festivais, e muito mais.

A cultura é uma parte fundamental da identidade de um povo e influencia nossa maneira de pensar, agir e se relacionar com o mundo ao nosso redor. Além disso, a cultura é dinâmica e está em constante evolução, sendo moldada pela interação entre diferentes grupos sociais, mudanças históricas e influências externas.

Nosso desejo não é sintetizar, encerrar o assunto ou dar respostas fechadas, mas fazer ainda mais perguntas que contribuam na construção da cultura mareense.

Cultura e memória

A cultura e o território estão tão entrelaçados que é difícil separar um do outro, pois ambos desempenham papéis fundamentais na forma como as pessoas e as sociedades se entendem e interagem com o mundo em nosso cotidiano.

O território também impacta na diversidade linguística. As línguas muitas vezes se desenvolvem de maneira única em diferentes regiões, isso vai desde as gírias de diferentes favelas, dos sotaques, até a forma como falamos português no Brasil, o nosso Pretuguês, como definiu a intelectual Lélia Gonzalez.

As favelas, periferias já foram considerados territórios sem conhecimento, onde viviam pessoas desprovidas de cultura. Isso porque “ter cultura” equivalia a ser escolarizado ou ter acesso a erudição. Os aspectos culturais da população não europeia (geralmente negra e indígena) não eram considerados, e chegavam a ser criminalizados, como é o caso da capoeira, do samba e do funk.

Hoje, apesar dos avanços, as manifestações culturais das periferias (slam, roda de samba, bailes funk, passinho, peças teatrais, grafite) ainda sofrem com o preconceito, a falta de financiamento e de espaços para atuação.

Cultura e identidade

O que pode parecer entretenimento, na verdade, é fundamental na construção e manutenção dos direitos humanos. Por isso, o Artigo 215 da Constituição Federal Brasileira e o Artigo 27 dos Direitos Humanos estabelecem  que, o Estado, deve garantir a todos o pleno exercício da sua cultura, incentivando a produção cultural e o direito do povo desfrutar das artes. Portanto, a relação entre arte, educação, cultura e movimentos por direitos são profundas. 

Mulheres, negros e a comunidade LGBTQIAP+ frequentemente usam a arte para compartilhar suas experiências, desafiar normas sociais e políticas discriminatórias e racistas, e dar voz às  lutas por igualdade. Muitas vezes foi pelas artes visuais, música, dança, literatura, teatro, fotografia e outras formas de expressão artística, que esses movimentos encontraram maneiras de transmitir mensagens importantes e inspirar mudanças.

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A arte e a cultura também desempenham um papel fundamental na construção de narrativas e de identidades. Representações positivas e inclusivas na mídia, na literatura, no cinema, na música e nas artes visuais são essenciais para desafiar estereótipos e promover a igualdade.

Geração de renda

No Brasil, um país rico em diversidade cultural, seria ainda mais complexo falar de cultura de forma hegemônica. Por isso, nosso recorte é a cultura como território, onde as expressões culturais das periferias e favelas assumem um papel central. Em particular, o território do conjunto de favelas da Maré, com todas as 16 comunidades, como ponto de referência fundamental.

Não é apenas na subjetividade que a cultura é importante. Ela é também essencial para a economia do Brasil. Segundo o Ministério da Cultura (MINC), mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é gerado pela cultura e economias criativas. Em 2024, o Carnaval na cidade do Rio movimentou cerca de R$5 bilhões, e nas comunidades, os eventos ligados ao funk, samba e pagode sustentam famílias inteiras.

Outro aspecto importante que o leitor e leitora verá neste caderno, é a cultura como fazer artístico-estético, tendo os artistas favelados como protagonistas, seja em perfis, entrevistas ou investigando essas produções.  

De acordo com a pesquisa Marégrafia, feita com 70 artistas da Maré, os artistas do território são,  na maioria, negros, com menos de 30 anos e sem renda individual ou limitada a menos de dois salários mínimos. Menos de 3% desses trabalhadores conseguem manter as despesas familiares somente com o subsídio dos trabalhos artísticos e precisam de outras fontes para complementar a renda. E,  mais da metade dos entrevistados pela pesquisa se declararam LGBTQIAP+. Uma das missões deste caderno é trabalhar em conjunto com os artistas e instituições na atualização da pesquisa.

Cultura e lazer

Cultura e lazer são conceitos distintos, mas relacionados e estão frequentemente interconectados nas favelas.

O lazer refere-se ao tempo livre e às atividades recreativas que as pessoas escolhem realizar para descansar, relaxar e se divertir. Pode incluir uma ampla variedade de atividades, desde esportes e exercícios físicos até hobbies, passeios ao ar livre, viagens, assistir a filmes, leitura, socialização com amigos e família.

Nas favelas, muitos espaços culturais (públicos e privados) também oferecem atividades de lazer. Esta é uma forma de criar novos públicos, gerar bem-estar físico, mental e emocional das pessoas, além de promover o desenvolvimento pessoal, a criatividade e o senso de comunidade.

A música, em particular, desempenha um papel fundamental na vida das favelas. O funk, com suas letras muitas vezes politicamente carregadas, serve como um meio de contar as histórias das comunidades e de protestar contra as injustiças. Na Maré outros ritmos também se conectam, como o forró, o rock, a música clássica e o reggae.

Além disso, a gastronomia das favelas da Maré reflete a diversidade cultural do Brasil, combinando influências indígenas, africanas e europeias para criar pratos saborosos. Os restaurantes e barracas de comida não apenas alimentam os moradores, mas também atraem visitantes.

Outra meta deste caderno é compartilhar as agendas de eventos de cultura, lazer e gastronômicas do território, tanto no jornal físico quanto na edição online e nas redes sociais. 

E você, o que espera ler e ver no Caderno de Cultura do Maré de Notícias?

‘Maré Top Team’ prepara atletas para voar alto rumo à vitória

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Academia conhecida pelas participações em competições internacionais tem sede na Maré, Julia Freire é uma das apostas para competir nos EUA

Algumas instituições mareenses promovem a prática esportiva, além disso, incentivam os atletas a verem os esportes como oportunidades de mudanças. Uma dessas iniciativas, é o projeto de jiu-jitsu Maré Top Team

No mês passado, o Maré Top Team levou 34 competidores para o  Campeonato Sul-Americano de Crianças 2024 e trouxe 25 medalhas para as favelas cariocas, sendo nove ouros. Os medalhistas são das favelas Beira Pica-Pau, Complexo do Alemão, Nova Holanda e Parque União. (Confira a lista com todos os ganhadores no final da matéria)

Um dos destaques da competição é Julia Freires do Parque União que treina desde os 9 anos. Agora a  atleta se prepara para o próximo desafio, o Pan Kids de Jiu-jitsu, nos Estados Unidos da América (EUA). 

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O Pan Kids é considerado o mundial para as crianças, a participação é para menores de 15 anos, como Julia vai completar 14 anos, está próxima da idade máxima para participar da competição. Para que ela possa competir, estão fazendo uma campanha de doação já que os gastos com visto, passagens e os custos para se manter serão todos arcados pela equipe. Enquanto isso ela se prepara para a competição com foco nos treinos e estudos.

A última competição que Julia participou foi a “Rio Fall International Open Kids 2024”, subindo ao pódio, mais uma vez, com a medalha de ouro. Ela comenta que a vitória anima para a próxima competição e conta o que pretende fazer com a carreira. “Dá bastante motivação, vontade de competir e de vencer ainda mais! Pretendo ajudar minha família com meu jiu-jitsu […] ajudar minha equipe, também pretendo dar aula,   ajudar as pessoas iniciantes, mostrar que eu comecei como elas.” comenta.

Apoio da família de dentro e fora do tatame 

O tempo treinando no tatame forma redes de apoio para todos os momentos. Assim como Julia os outros atletas também fazem campanhas para competir. A mãe de Júlia, Adriana Freires, de 34 anos, conta que se não fosse pelo incentivo dos mestres e professores a sua filha não poderia ter continuado os treinos. Além disso, mesmo desempregada, ela diz que sempre dá um jeito para que Julia e seu irmão, Rian Freires, que também é atleta da Maré Top Team, possam competir. “Eu fico orgulhosa, é duro mas estamos sempre presentes. Eu corro atrás, trabalhei no carnaval para ela viajar, trabalhei no salão de uma amiga no final do ano para ajudar na graduação dela, o que tiver pra fazer eu faço!” conta. 

O mestre Wilson Barbosa acredita que Julia está pronta para a competição: “Se a gente conseguir botar ela lá ela vai ser campeã, porque ela treina muito”. O mestre conta ainda que o Maré Top Team não tem patrocínio. “A gente consegue ajudar um pouco, vai num amigo que ajuda, em outro, mas se a gente tivesse apoio poderia ser mais fácil, e ter mais atletas.” 

O único patrocínio que o Maré Top Team tem, segundo o Wilson, é no  Campeonato Profissional  Mundial de Jiu-Jitsu (World Professional Jiu-Jitsu Championship)  que acontece em novembro em Abu Dhabi. Atualmente, o Maré Top Team se divide em núcleos nas favelas cariocas e tem ao todo cerca de mil atletas. A sede da iniciativa é no Parque União, na associação de moradores. 

Existente há 9 anos, com coordenação do Mestre Douglas Gentil, o Maré Top Team inaugurou recentemente mais uma unidade na Vila do João que já conta com mais de 100 inscritos. De lá podem sair competidores que ganharão o mundo, viajando para competir e voltarão com o pescoço pesado, carregado de medalhas. 

Para ajudar Julia Freires a ir para os Estados Unidos competir basta doar pelo PIX 16154766793 (Juliana Silva)

Confira o nome dos 25 atletas medalhistas pelo Maré Top Team no Sul Americano Kids 2024:

  • 01- Erick Salustino – Ouro – Parque União (PU)
  • 02- Christian Salustino – Ouro – PU
  • 03- Sophia Andrade – Ouro – PU
  • 04- Nicolas Torres – Ouro – PU
  • 05- Yasmin Andrade – Ouro – PU
  • 06- Jan Klaiver – Ouro – Complexo do Alemão (CPX)
  • 07- Maria Vitória – Ouro – Beira Pica-Pau
  • 08- Mirela Lima – Ouro – Vila dos Pinheiros (VP)
  • 09- Júlia Freire – Ouro – Parque União
  • 10- Rhyane Camille – Prata – PU
  • 11- Vitor Hugo – Prata – PU
  • 12- Ana Carolini – Prata – CPX
  • 13- Adryan Gabriel – Prata – Beira Pica-Pau
  • 14- Rebeca Medeiros – Prata – PU
  • 15- Kayke da Silva – Prata – CPX
  • 16- Gabriel Liberato – Bronze – CPX
  • 17- Isabelly de Souza – Bronze – CPX
  • 18- Pablo Henrique – Bronze – CPX
  • 19- Kauan Barboza – Bronze – PU
  • 20- Layon Tomaz – Bronze – Nova Holanda (NH)
  • 21- Ana Luiza – Bronze – PU
  • 22- Yago de Oliveira – Bronze – PU
  • 23- Matheus Costa – Bronze – PU
  • 24- Davi Machado – Bronze – PU
  • 25- Wagner Sebastião – Bronze – PU