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‘Vai se tratar, garota’: a revolução do TikTok

Na indústria musical ou na forma de se relacionar, aplicativo chinês é tendência mundial, especialmente entre as crianças

Maré de Notícias #129 – outubro de 2021

Por Tamyres Matos

Olhos ávidos em uma face iluminada por um dispositivo com acesso à internet. Essa é a realidade diária de bilhões de pessoas pelo mundo. No caso das crianças, a situação não é diferente, e a maioria delas abre a mesma rede social diversas vezes ao dia: o TikTok. De acordo com a empresa de consultoria digital norte-americana Sensor Tower, o aplicativo chegou ao impressionante número de três bilhões de downloads globais. Com este anúncio de julho deste ano, a empresa chinesa é a primeira fora do universo do Facebook (controladora do WhatsApp, Messenger e Instagram) a alcançar tal marco.

Rastrear a quantidade de crianças e adolescentes entre os usuários não é uma tarefa simples, pois muitos deles se registram com idades acima do que realmente têm (o mínimo recomendado pela própria plataforma é 13 anos). Mas o fenômeno é inegável. Ao entrar na rede social, o usuário é exposto a vídeos com duração entre 15 e 60 segundos, alguns com dublagens – frequentemente com tons humorísticos -, outros com coreografias e challenges (desafios) que se espalham de forma extremamente rápida. Desta forma, o TikTok revolucionou a indústria musical e tem influenciado significativas mudanças culturais (inclusive no próprio Facebook, que investiu nos Reels com o mesmo formato).

O aniversário da pequena Eloah, de apenas 1 ano, na Nova Holanda, uma das favelas da Maré, é um bom demonstrativo dessa influência. O tema era “confeitaria”, mas a força propulsora definitivamente foi o TikTok. A playlist foi montada pela irmã da aniversariante, Eloanne, de 9 anos. A lista de músicas – na verdade, trechos de menos de um minuto – intercalava sucessos da rede social com destaques do arrocha e do piseiro. E o engajamento do público compensou.

“Todas as crianças são fanáticas por essas músicas e dancinhas. Elas sabem todas as coreografias mais famosas. Boa parte dos adultos também acompanhava os passos. Aqui em casa é assim: Eloah só sossega quando escuta TikTok e Eloanne a mesma coisa. Não tinha nem como colocar música da Xuxa porque elas nem sabem quem é. Não tem jeito, o TikTok é a inspiração no momento”, conta Roane Martins Lino, de 30 anos, mãe das meninas..

A partir do relato da Roane é possível concluir que a imersão no universo das telas, intensificada pelo período de pandemia, tem alterado a vivência destas crianças e adolescentes de diversas maneiras. Para Evelyn Eisenstein, premiada internacionalmente em medicina do adolescente e professora da pós-graduação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é importante enfatizar que as telas podem, sim, auxiliar na comunicação, mas isso não significa necessariamente uma melhora na sociabilidade. “Estas crianças têm etapas para seu desenvolvimento psicomotor e das suas habilidades e a tela proporciona, na verdade, uma dissonância cognitivo-afetiva: a criança sabe muito sobre as telas, mas tem dificuldade ao expressar as emoções. E estamos vendo todos os tipos de aumento dos comportamentos de risco em adolescentes que ficaram em casa, devido à pandemia, em frente às telas”, explica.

Alerta aceso

A utilização do TikTok pelos filhos mais velhos (ela também é mãe de Daniel Lucas, de 13 anos) não incomoda Roane, apesar de ela ressaltar que cresceu numa atmosfera muito diferente. Ela acredita que é a maneira que os filhos encontraram para se divertir sem precisar sair de casa. “Eu gosto e me inspiro muito em TikTok”, acrescenta Eloanne. No entanto, a mãe reforça que acompanha de perto as postagens e os acessos. 

“Estou sempre em cima, de olho. Eles não usam a rede sozinhos. Vejo no que estão mexendo, com quem estão conversando, até nos vídeos que assistem eu fico atenta para ver se tem um conteúdo inadequado para eles”, diz.

Não são poucos os motivos que reforçam a necessidade de atenção próxima dos pais com relação ao uso da rede social (da chinesa e de todas as outras). Em um caso extremo, Lucas Santos, de 16 anos, filho da cantora de forró Walkyria Santos, matou-se depois de publicar um vídeo no TikTok, em que aparecia em uma brincadeira popular: fingir que beijaria um amigo. Os comentários homofóbicos recebidos teriam sido o gatilho para o suicídio do adolescente.

“Os pais precisam acompanhar este uso bem de perto. Há diversos riscos aos quais estas crianças e adolescentes estão expostos, entre eles o contato com adultos estranhos que possam ter interesses sexuais, o cyberbullying (bullying virtual) e a sextorsão (ameaça de se divulgar imagens íntimas para forçar alguém a fazer algo). É preciso verificar se eles sabem lidar com convites inapropriados, se conhecem os riscos, se têm recursos para lidar com este tipo de situação. É essencial que eles tenham consciência das ferramentas para se prevenção e, quando o problema se tornar realidade, é imprescindível saber denunciar”, orienta Juliana Cunha, psicóloga e diretora da ONG de defesa dos direitos humanos na internet Safernet Brasil.

Em setembro, o próprio TikTok anunciou, após diversas críticas sofridas pela falta de regulação, o incremento no recurso chamado de “sincronização familiar”. A plataforma divulgou ter adicionado conselhos para os pais, desenvolvidos em colaboração com adolescentes e especialistas em segurança online de jovens. “As contas dos pais ou responsáveis atualmente vinculadas à conta do adolescente receberão uma notificação para que descubram mais sobre o apoio que os adolescentes gostariam de receber e suas sugestões sobre como abordar conversas sobre alfabetização digital e segurança”, diz o comunicado da empresa.

Juliana Cunha explica que, nos casos em que os pais não têm intimidade com as possibilidades das redes sociais, “é sempre bom buscar apoio de um profissional, de alguém que confia para conversar. Muitas vezes os pais podem acabar subestimando os sinais de alerta devido ao pensamento de que é ‘só uma fase’ e que vai passar logo, mas definitivamente não é bem assim. É preciso estar atento para que as coisas não saiam do controle”. A diretora da SaferNet Brasil reforça ainda que a idade mínima para entrar nas redes sociais deve ser respeitada.

Roane Martins Lino com a família na festa de aniversário na qual a playlist foi músicas do TikTok – Foto: Matheus Affonso

Mães, pais, responsáveis: é hora de intervir

Ao refletir sobre os riscos, Juliana reforça que a internet não é a única raiz dos males psicológicos para crianças e adolescentes, mas a exposição a conteúdos nocivos pode ser um gatilho para o sofrimento. Confira uma lista de comportamentos dos jovens usuários das redes sociais que indicam a necessidade de intervenção:

  • Mudanças bruscas de comportamento – uma criança muito expansiva que se recolhe excessivamente ou um adolescente carinhoso que se distancia da família;
  • Acesso à internet sem acompanhamento dos pais – a utilização às escondidas pode ser um sinal de que alguma situação inadequada está em curso;
  • Sintomas psicossomáticos – um jovem que passa a ter dor de cabeça frequentemente, insônia e outros distúrbios;
  • Queda repentina no rendimento escolar – a criança que nunca teve grandes problemas não consegue concluir as atividades;

A versão chinesa do TikTok, chamada Douyin, anunciou em setembro o lançamento de um modo específico para adolescentes, que limita a 40 minutos o tempo que menores de 14 anos podem usar o aplicativo. O app também não vai funcionar entre 22h e 6h e, segundo a empresa proprietária do TikTok e do Douyin, ByteDance, o objetivo é evitar que esta parcela mais jovem dos usuários fique viciada.

Evelyn, que também é coordenadora do Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital e trabalhou no desenvolvimento do Manual Saúde da Criança na Era Digital, ressalta uma palavra-chave quando se trata das telas: desconectar. “O melhor que os pais podem fazer é conviver, estimular o convívio afetivo fora das telas. Sair para passear, para dar uma caminhada. Compartilhar momentos em família, desenvolver o senso de cooperação, fazer exercícios. Tudo isso é essencial em qualquer idade, mas especialmente para seres em formação”, conclui.

O que elas têm a dizer?

Reunimos um grupo de crianças na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, na Baixa do Sapateiro, para ouvir seus anseios e preocupações

“É proibido ficar com covid e tem que usar máscara. Meu sonho é que a situação da covid-19 melhore na Maré, no Japão, na China…” 

Larissa, 11 anos.

“Eu gosto de ler. Senti falta de ir para a escola, aprender o dever, ouvir a professora”

Mel, 8 anos

“Ganhar muitos seguidores no TikTok”

Luane, 8 anos

“Meu sonho é poder ajudar minha mãe a comprar uma casa longe dos barulhos e das operações policiais”

Maisa, 12 anos

“O meu maior desejo é ter uma casa só pra mim”

Djamile, 7 anos

“Fazer pesquisa não pode ser coisa de outro mundo. A busca pelo conhecimento é para todos” diz Valcler Rodrigues, assessor institucional da Fiocruz

Por Luciana Bento – Conexão Saúde, em 10/10/2021 às 07h

O médico sanitarista Valcler Rangel Fernandes tem uma relação de longa data com os territórios da Maré e de Manguinhos, vizinhos à Fiocruz. Ainda estudante, na década de 80, ele já frequentava estes locais, participando de programas de educação em saúde.

Hoje, como assessor de Assuntos Institucionais da Fiocruz e membro do Comitê Gestor do projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid, Valcler está à frente de experiências pioneiras de combate à pandemia nestes territórios – não apenas no que se refere à saúde pública, mas também em relação à articulação e participação efetiva de atores e lideranças locais no processo.

Um ano e meio depois do início da maior crise sanitária já vivida globalmente pela humanidade, muitos desafios foram enfrentados. No caso da Maré, mesmo em um cenário difícil, respostas rápidas e acertadas ajudaram a diminuir óbitos e a tratar de forma inovadora e eficiente os casos confirmados de Covid-19.

Hoje, o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro sedia uma pesquisa pioneira liderada pela Fiocruz, em parceria com a Redes da Maré e a Secretaria Municipal de Saúde, para avaliar a efetividade da vacina AstraZeneca, monitorar variantes do coronavírus, estudar a imunidade de pessoas não vacinadas e entender as sequelas deixadas pela Covid-19, entre outras questões.

“A Maré reúne um conjunto de especificidades que não é fácil de encontrar em outros locais. Não fazer algo do ponto de vista da investigação científica neste território único seria um erro, seria perder uma oportunidade que dificilmente vai se repetir”, diz.

Em entrevista exclusiva para o boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona, ele fala da quebra de paradigmas que o estudo traz e da importância de desmistificar a ciência e valorizar saberes não convencionais. “Existe tanta gente capacitada e qualificada para participar dos estudos! São pessoas que têm curiosidade sobre novos assuntos, buscam novos conhecimentos, se engajam, se envolvem. Seria outro erro não valorizar este capital precioso”, arremata.

Para começar, você pode falar um pouco sobre esta relação histórica entre a Fiocruz e territórios periféricos, tanto urbanos quanto rurais, especialmente Maré e Manguinhos?

Valcler: É uma relação que remonta à década de 80 e abrange desde territórios periféricos em cidades, como é o caso das favelas, mas também populações indígenas, por exemplo. No caso da Maré e de Manguinhos, somos vizinhos de território, há uma ligação muito grande, coisas que acontecem ali e afetam o dia-a-dia da Fiocruz, a vida dos funcionários.

Um exemplo foi o episódio tragicamente famoso dos helicópteros da polícia sobrevoando a Maré e atirando. Este momento nos afetou totalmente, eu mesmo participei do processo de evacuação do prédio da Fiocruz, foi uma coisa muito forte. Então não dá pra tapar os olhos para esta realidade. A Fiocruz tem se envolvido nestas questões do território, discutindo violência como questão de saúde pública inclusive.

Já na década de 80, a Fiocruz desenvolvia um trabalho de educação para saúde na Maré, ajudando a desenvolver mecanismos de participação da sociedade organizada em vários processos, em um momento de formação da democracia no País, pós-ditadura militar.

E como esta relação histórica desembocou na criação do projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid na Maré e em Manguinhos?

Valcler: Com a pandemia, a saúde passou a ser protagonista absoluta, prioridade como política pública nos territórios. Então não tinha como deixar de ser diferente: foi uma junção de expertises aliada a uma relação histórica para enfrentar um problema muito concreto e complexo.

A Fiocruz já estava com o projeto Se Liga no Corona!, de comunicação para territórios de favelas e periferias, e a aproximação foi muito orgânica, desdobrando na criação do Conexão Saúde e inclusive colocando a comunicação como um de seus pilares estratégicos.

O projeto inovou muito, trouxe resultados concretos e foi porta de entrada para alçarmos outros voos entre os parceiros. Foi muito importante esta presença no território, inclusive porque havia uma atuação muito fraca da Prefeitura naquele momento. A Secretaria Municipal de Saúde não respondia bem às propostas apresentadas nem apontava caminhos para a resolução de problemas muito urgentes.

E estamos vendo como é importante gestores que tomem decisões adequadas. Muita coisa só tem sido possível porque a Prefeitura mudou a postura em relação à pandemia e ao território.

Quase um ano e meio depois, outras inovações ocorreram. Desde a realização da campanha #VacinaMaré até a realização de um estudo inédito, liderado pela Fiocruz em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e a Redes da Maré no território…

Valcler: Tivemos que responder aos desafios da pandemia a cada momento. Nesta construção, que a gente achava que ia durar três, quatro meses, e se prolongou muito mais, vimos a possibilidade de fazer uma pesquisa repleta de especificidades que só a Maré pode apresentar.

É um território de favela com adensamento populacional grande, são 140 mil habitantes em uma faixa muito estreita entre a avenida Brasil e a Linha Vermelha, que traz resultados importantes no combate à pandemia, fruto do Conexão Saúde, aliados à vacinação em massa…

Tudo isso em um território que, em tese, é mais difícil de atuar, sobretudo por conta da violência. Mas até neste ponto o estudo é uma quebra de paradigma. A dificuldade não pode ser impossibilidade e estamos mostrando que dá para operar de forma diferente.

O estudo tem uma característica importante, de mobilização e envolvimento de pessoas do território no processo. Pode falar um pouco sobre esta questão?

Valcler: É de fato uma pesquisa que prioriza a interação com a população, o envolvimento de atores do território, o protagonismo de Agentes Comunitários de Saúde, das clínicas da família, das organizações locais e dos próprios moradores.

É uma forma de mostrar a importância da ciência no dia-a-dia, aproximar esta discussão, que normalmente fica muito distante. A pesquisa ajuda a trazer esta dimensão científica para o palpável. E as pessoas respondem muito bem, percebem que também podem fazer ciência de alguma forma. Não é coisa para iluminados.

Nosso estudo poderia ser de outro jeito? Sim. Há várias formas de se fazer uma pesquisa: a partir de dados secundários ou de observação, por exemplo. Mas fizemos esta escolha de trazer quem de fato vivencia a favela para participar do processo.

É um caminho mais arriscado, mais complexo, sem dúvida. Como faço pesquisa com engajamento? Como promover esta aproximação? Por detrás desta escolha está a crença de que a pesquisa não pode ser importante só para o pesquisador, para o grupo de pesquisa, para a instituição, para a universidade.

Ela tem que ser importante fundamentalmente para a população, para o morador, para o sistema público de saúde. Quando elementos de pesquisa, de dados científicos, são incorporados nos serviços, eles se qualificam, melhoram. É uma forma de devolver o conhecimento para a sociedade.

Quero ressaltar um ponto da sua fala, de que a ciência não pode ser coisa para iluminados… Como ampliar este acesso, em um momento em que as informações e saberes científicos são colocados em xeque em todo o mundo e em especial no Brasil?

Valcler: Quando o próprio ministro da Educação fala que a Universidade não é pra todo mundo, vemos que o cenário está de fato muito complexo. Eu contraponho este pensamento com outro: fazer ciência não pode se coisa de outro mundo. A busca pelo conhecimento é para todos. Não podemos ser vencidos por este pensamento medieval que emergiu nos últimos tempos.

Um exemplo é o papel dos Agentes Comunitários de Saúde no estudo da Maré. Entendemos que eles são elementos fundamentais para a qualificação da pesquisa. Eles têm um conhecimento dinâmico, vivo e específico do território. Existem questões que só eles podem trazer. São saberes diferenciados que precisam ser incorporados no estudo. Seria outro erro não fazer esta interlocução, não inseri-los de forma profunda neste processo.

‘Estudar é um ato político’

Cria da Maré, escritora Adriana Kairos dedica sua vida à educação e à literatura

Maré de Notícias #129 – outubro de 2021

Por Gracilene Firmino

O acesso à educação deveria ser garantido a todos – está na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A busca pela efetividade desse direito se tornou a missão da professora e escritora Adriana Kairos, de 45 anos. Nascida e criada no conjunto de favelas da Maré, ela dedica sua vida a tornar a educação e a literatura acessíveis a quem vem da classe trabalhadora, da favela e da periferia. Filha de nordestinos, seus pais (pai polidor de mármores, mãe dona de casa), apesar de analfabetos, sabiam o valor da educação e incentivaram seus estudos. Desde cedo, Adriana tomou gosto pelo conhecimento.

Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em julho de 2020, o Brasil ainda registra 11 milhões de analfabetos. Para Adriana, essa questão vai além da falta de estudos: envolve também muito preconceito. 

“Existe a questão social, a falta de escolas e de professores, mas observei que outros, como eu, tinham problemas com o aprendizado – queriam aprender mas não conseguiam. As pessoas tendem a achar que crianças não o fazem porque não querem e não é bem assim. Às vezes, vai além da dificuldade de aprender: são distúrbios que precisam ser descobertos, tratados e acompanhados. Esse indivíduo, seja criança, jovem ou adulto, precisa de uma atenção diferenciada e especial. Eu sei disso porque também precisei de ajuda”, conta a professora. 

Inclusão e educação 

Assim que ingressou no curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Adriana percebeu que podia fazer mais pelo lugar de onde vinha e fundou um Clube de Reforço Escolar, em 2012. “As dificuldades dos filhos dos trabalhadores eram as mesmas que eu tinha com a idade deles. Comecei a observar o sistema educacional da cidade, que sempre foi muito ruim. A partir disso, junto com outras companheiras, pensei sobre esses problemas e organizei todo um projeto de educação. Assim, nasceu o Clube do Reforço Escolar. Minhas colegas, uma pedagoga e uma estudante de letras como eu, acabaram seguindo outros caminhos. Acharam o projeto muito utópico da minha parte. Mas, na minha opinião, todo educador é um pouco utópico”, diz.

Porém, para Adriana, o lugar ideal existe. “Acredito muito no que estou fazendo. O AKairos Curso Preparatório oferece mensalidades a preços populares, e ali eu trabalho com uma equipe multidisciplinar: tenho o apoio de psicólogo, fonoaudiólogo, e eu mesma estou fazendo uma pós-graduação em psicopedagogia, porque compreendo as dificuldades e os desafios da educação no nosso território”, explica.

Segundo ela, “quando falo isso me refiro a qualquer espaço de periferia. Várias coisas podem dificultar o caminhar por meio dos estudos e a inserção desse sujeito nesse meio. Porque daqui a algum tempo, ele estará no mercado de trabalho, e precisa de algumas coisas, esse trilhar precisa de ferramentas para que ele possa ter garantido seus direitos. Não apenas no mercado de trabalho, como também na vida. Poder ter acesso à educação faz toda a diferença. Estudar é um ato político”, conclui.

Kairos: o momento certo

Kairos é uma palavra de origem grega, que significa “momento certo” ou “oportuno”, e se refere à antiga noção que os gregos tinham do tempo, a partir do deus grego de mesmo nome. Kairos era filho de Cronos; ao contrário de seu pai, ele expressava uma ideia considerada metafórica do tempo. Para Kairos o tempo era não-linear, ou seja, não se pode determinar ou medir. Kairos seria o período ideal para a realização de uma coisa específica. Mesmo sem saber na época, Adriana escolheu um sobrenome que viria a combinar e fazer sentido diante de toda sua trajetória. Foi mãe aos 17, terminou o ensino médio aos 30, ingressou na universidade aos 32 anos e atualmente cursa sua pós-graduação. Para ela, o tempo não é linear. Adriana escreve desde os dez anos e, além de seu trabalho com diversos escritores na Alepa, já publicou seis livros. Por isso, seu próximo projeto é o Curso Eu Escritor – Da Escrita, a Preparação de Originais e a Publicação, para ensinar o “caminho das pedras” a entusiastas e escritores iniciantes. O projeto, que começaria em agosto deste ano, foi adiado para janeiro de 2022 devido a um agravamento na retinopatia diabética de Adriana, que causou uma perda acentuada de sua visão. “Acho que vai ser muito legal. Será o mês de férias da maioria. Ainda não tenho data de início, mas com certeza ele será ministrado no primeiro mês de 2022”. É o Kairos novamente. Tudo no momento certo.

Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar

Por Marcello Escorel em 09/10/2021 às 6h

Quando nós, atores, nos preparamos para entrar em cena, temos o costume de com as mãos dadas, formar um círculo e recitar uma espécie de Credo que tem algumas variantes, mas que não diferem, de forma alguma quanto ao conteúdo:

“Eu seguro minha mão na sua para que, juntos, possamos fazer tudo aquilo que eu não posso, não quero e não consigo fazer sozinho.”

Em roda, brincando e concentrados, estamos repetindo um ritual que talvez seja o mais antigo da humanidade: formar um círculo.

Posso especular que o fogo, nosso avô na crença dos xamãs, tenha sido o catalisador da formação de círculos. Imaginem nossos ancestrais todos reunidos ao redor de uma fogueira para se protegerem dos predadores noturnos. Toda a tribo formando uma roda cujo centro é um ponto irradiador de luz e calor.

Em praticamente todas as culturas, o círculo é um símbolo da totalidade da alma e por consequência da divindade. Também carrega em si a propriedade de ausência de distinção ou divisão. Nesse sentido, evoca o conceito democrático de que somos todos iguais, elementos de uma mesma comunidade, como atesta a tradição arturiana da Távola Redonda.

É engraçado que o círculo, tão primitivo, conhecido desde a Idade da Pedra antes mesmo da invenção da roda, teime em continuar tão presente mesmo nesta era tecnológica. Afinal, lá está ele girando enquanto esperamos que um link ou um aplicativo seja carregado em nossos computadores ou celulares.

Atestado em todas as culturas e em suas religiões, vemo-lo aparecer nas mandalas budistas de meditação, nas rosáceas das catedrais góticas, no halo dos santos e dos anjos e no próprio Jesus, rodeado pelos quatro evangelistas à moda do deus egípcio Hórus e seus quatro filhos.

O glifo do Sol na astrologia é um círculo com um ponto no meio e o próprio Zodíaco é um caminho celeste circular onde o Sol perambula durante o ano.

No Islamismo há uma corrente mística conhecida como sufismo onde os devotos, chamados de dervixes rodopiantes, dançam imitando a ronda dos planetas em torno do Sol, um paralelo da busca de Deus, simbolizado pelo Sol.

No Cristianismo também podemos encontrar este motivo da dança circular num texto apócrifo (não validado pela Igreja Católica) chamado “Atos de João”. Antes da crucificação, Jesus pede a seus apóstolos que, de mãos dadas, formem um círculo enquanto ele se coloca no meio. Jesus se comporta como um mestre cirandeiro começando a cantar enquanto seus apóstolos cirandeiros respondem as frases do Cristo com um Amém.

“Quero ser salvo e quero salvar. Amém.

Quero ser desligado e quero desligar. Amém

Quero ser ferido e quero ferir. Amém

Quero ser gerado e quero gerar. Amém

Quero comer e quero ser devorado. Amém

Quero ser pensado, eu, que sou todo pensamento. Amém

Quero ser lavado e quero lavar. Amém

Quem não dança não sabe o que acontece. Amém

Quero ser unido e quero unir. Amém

Sou uma lâmpada para ti que estás me vendo. Amém

Sou um espelho para ti que me conheces. Amém.

Sou uma porta para ti que bates diante de mim, pedindo para entrar. Amém

Sou um caminho para ti que és um peregrino.

Mas quando continuares a minha ronda contempla a ti mesmo em mim, que estou te falando.

Enquanto dançares considera o que estou fazendo. Vê que este sofrimento que eu quero sofrer é o teu (sofrimento), pois não compreenderias o que sofres se meu Pai não me tivesse enviado a ti como Palavra.

Se conhecesses o sofrimento possuirias a impassibilidade. Conhecei, pois, o sofrimento e terás a impassibilidade.

Reconhece em mim a Palavra da Sabedoria.”

Jesus

Não sei quanto a vocês, mas a imagem de um Jesus que dança e canta é muito reconfortante para mim, principalmente neste tempo obscurantista que associa o nome dele a toda forma de intolerância e exclusão.

O círculo, em significado simbólico, está a léguas da forma piramidal que é o reflexo das sociedades de consumo modernas, cuja base miserável sustenta os poucos privilegiados do topo. O círculo da igualdade é a revolução da esperança, já que Deus, ele próprio, pode ser intuído como um círculo cujo centro está em toda parte.

E agora gostaria de fazer um apelo. Me sinto muito solitário aqui em casa, cercado de livros, preocupado com minha pequena missão de elaborar uma coluna a cada quinze dias. Sou um ponto que se quer evoluir para um círculo abrangente. Já está mais que na hora de estabelecer um contato mais direto com vocês, meus leitores. O apelo é para que me escrevam. Quero um retorno, quero formar um círculo com vocês. Minhas palavras serviram a algum propósito? Pude fazer alguma diferença em seus questionamentos, suas reflexões, suas vidas concretas?

Num círculo enxergamos a todos, somos iguais e conseguimos nos colocar no lugar de nossos irmãos cirandeiros.

Nesta época em que nossos “líderes” vetam absorventes para as meninas que não tem como comprá-los, vetam a instalação de internet nas escolas públicas e outros segregacionismos que  é fundamental darmos as mãos formando um grande círculo de proteção e engajamento. Como nos “Atos de João”, somos chamados a dançar com alegria e esperança, somos convocados para resistir e espalhar a mensagem de que é possível, é imprescindível, a construção de um mundo mais igualitário e includente.

No círculo somos todos um. Nossa força reside em nossa identidade comum e em nossa alma, que não possui cor, nem raça nem distinção de gênero. Nada que nos separe. Amém.

Escreva para o Escorel em [email protected]

Marcello Escorel é ator e diretor de teatro há mais de 40 anos. Paralelamente a sua carreira artística estuda de maneira autodidata, desde a adolescência, mitologia, história das religiões e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung.

Polícia e Justiça falham em responsabilizar PM que baleou repórter da Ponte

Investigações feitas pela Polícia Civil e pela PM deixaram de identificar responsáveis pelo disparo de bala de borracha que atingiu o fotógrafo Daniel Arroyo, em 2019; Justiça arquiva inquérito a pedido do MP

Por Ponte Jornalismo em 07/10/2021
O PM que atirou à queima-roupa com uma arma de bala de borracha no repórter fotográfico da Ponte Daniel Arroyo não vai ser punido. O jornalista foi atingido no joelho durante uma manifestação do Movimento Passe Livre em janeiro de 2019. Após quase dois anos de inquérito, o Ministério Público do Estado de São pediu o arquivamento do caso. Antes disso, uma apuração interna da Polícia Militar também foi arquivada.

Na época do ocorrido, o governador do estado João Doria (PSDB) se manifestou, através de nota, dizendo ser solidário aos jornalistas. “Governo de São Paulo defende a liberdade de imprensa como um direito fundamental para o pleno funcionamento da democracia e esclarece que a Polícia Militar instaurou um inquérito para apurar as condições em que aconteceu o caso.” A Ponte tentou um novo contato, através da assessoria de imprensa, com Doria para saber a opinião dele sobre o arquivamento do caso, mas até o momento não obteve retorno.

Vítima do ataque policial, Daniel Arroyo lamenta que mais um caso de cerceamento da liberdade e de truculência das forças de segurança do Estado fiquem impunes. “É lamentável. Eu tenho a foto e o vídeo do PM que atirou em mim. Mesmo de máscara, havia uma identificação alfanumérica, que mesmo não dando para ver na totalidade nas imagens, uma investigação mais criteriosa poderia concluir quem foi o autor do disparo”, explica Daniel.

“A vítima acostou aos autos as fotografias dos averiguados, contudo, analisando as referidas imagens, não verifiquei, nas vestes dos averiguados, a existência de dados de identificação que pudessem ensejar o esclarecimento da autoria delitiva, razão pela qual a diligência restou prejudicada. Ante o exposto, à míngua de provas suficientes de autoria delitiva, requeiro o arquivamento dos autos, no tocante ao delito de lesão corporal”, decretou em seu pedido de arquivamento do caso a promotora Regiane Vinche Zampar Guimarães Pereira. O pedido foi acatado pelo juiz José Fernadno Setinberg em março deste ano. Antes, em novembro de 2019, a promotora Rafaela Trombini havia pedido o arquivamento da acusação de abuso de autoridade contra o PM, que foi acatado pelo juiz José Zoéga Coelho.

Nem a PM, nem a Polícia Civil de SP foram capazes de dizer quem é esse homem | Foto: Daniel Arroyo / Ponte Jornalismo

Além da não identificação do PM, outra justificativa dada pela Polícia Militar para arquivar o inquérito é que o policial não teve a intenção de atirar em Arroyo, mas em um manifestante que tentou retirar um amigo que estava em poder da Caep (Companhia de Ações Especiais), que reprimia a manifestação naquele dia. 

Entenda o caso

No dia 16 de janeiro de 2019 Arroyo estava na Avenida Paulista, próximo à Praça do Ciclista, para cobrir a manifestação do Movimento Passe Livre contra o aumento da passagem de ônibus de R$ 4 para R$ 4,30. Ainda na concentração do ato, a PM começou a intimidar os manifestantes para que o protesto não andasse.

“Quando chegamos lá já tinha muita polícia, e eles se organizaram de uma forma diferente de outras manifestações, fazendo um cordão de isolamento no cruzamento com a Rua da Consolação e com muitos policiais andando no meio dos manifestantes, abordando aqueles que eles consideravam mais suspeitos e levando para um lugar longe da imprensa para fazer a revista”, relembra Daniel.

Quando um homem foi imobilizado por alguns policiais, um outro tentou tirar ele das mãos dos PMs. Arroyo estava perto da ação quando um dos policiais militares atirou à queima roupa com uma arma longa de bala de borracha. O mesmo policial faz um segundo disparo que atingiu o fotógrafo no seu joelho direito. Toda a cena foi filmada pelo próprio Daniel.

“Eu senti o tiro, mas na hora não achei que o ferimento estivesse tão grande. Depois que eu vi que minha calça estava rasgada e meu joelho estava em carne viva. Eu mostrei para o policial e ele mandou eu ir embora”.

O fotógrafo ainda procurou o comandante da tropa para pedir que fosse socorrido. Mostrando desprezo à solicitação, a policial deu de ombros e disse que não poderia fazer nada. Sozinho, Daniel Arroyo se dirigiu até um hospital particular no bairro do Ipiranga onde foi atendido.

Entidades repudiam arquivamento do caso

O presidente da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Guilherme Alpendre, lembra que nas manifestações é essencial que os agentes de segurança possam ser facilmente identificados, para que casos como o de Daniel e Sergio não fiquem impunes.

“A Polícia Militar do estado de São Paulo reiteradamente viola direitos de jornalistas, em especial durante coberturas de manifestações. Uma das razões para que esse comportamento não cesse é a impunidade. No caso do tiro em Daniel Arroyo, mais uma vez a impossibilidade de identificação dos autores do disparo levou ao arquivamento do processo. É imperioso que todo agente fardado possa ser facilmente identificado: o controle social dos agentes públicos é uma premissa do Estado Democrático. Infelizmente, casos como esse tendem a se repetir caso a impunidade siga sendo a regra.

https://ponte.org/fotografo-alex-silveira-sera-homenageado-em-premio-vladimir-herzog/

Norian Segatto, diretor do Departamento de Saúde, Previdência e Segurança da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), afirma que havia meios para identificar o policial que fez o disparo e, mesmo com a investigação não chegando ao autor dos tiros, era necessário punir seus superiores.

“A alegação de não possibilidade de identificar o autor do disparo não se sustenta diante das imagens do fato e, mesmo que essa hipótese fosse correta, a instituição Polícia Militar e o comandante da operação deveriam ser responsabilizados pelos atos. Atitudes como essa, que levam à impunidade, só contribuem para o aumento da violência policial contra profissionais de imprensa, movimentos sociais e manifestantes.”

https://ponte.org/stf-manda-estado-indenizar-fotografo-que-perdeu-a-visao-alvejado-por-bala-de-borracha-em-manifestacao/

A falta de punição nesse caso é preocupante para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). A entidade teme que casos como estes se repitam no futuro. “O argumento de que não foi possível identificar o policial do 78º distrito de São Paulo que disparou uma bala de borracha contra o fotógrafo Daniel Arroyo, apresentado pelo Ministério Público de São Paulo para arquivar o caso, é inadmissível em uma democracia e, se verdadeiro, evidencia graves problemas de gestão na PM. Se a Justiça aceitar justificativa do MP-SP, estará abrindo um precedente perigoso, que permitirá a agentes de segurança se livrarem de punição por abusos em ocorrências semelhantes no futuro e promoverá a impunidade noutros casos de violações à liberdade de imprensa durante a cobertura de manifestações”, declarou, por meio de nota, o presidente da Abraji Marcelo Träsel.

E nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), disse que “infelizmente, o caso de Daniel não é uma novidade para os profissionais de imprensa e, especialmente, para os repórteres fotográficos. Ao não realizar a devida apuração e responsabilização dos agentes de Estado que cometem atos de violência, as autoridades legitimam, na prática, o impedimento contra o livre exercício jornalístico e a garantia de que os profissionais realizem seu trabalho com segurança”.

Impunidade aumenta a insegurança, mas não impede o trabalho de jornalistas

O fotógrafo Sergio Silva também já foi vítima da truculência policial contra manifestantes e jornalistas. Em junho de 2013, ele foi atingido no olho também por um disparo de bala de borracha feito por um policial militar e perdeu a visão do olho direito. O Tribunal de Justiça de São Paulo negou o recurso impetrado pela defesa de Sergio que pedia uma indenização pelo dano causado pelo Estado. O caso vai para o Supremo Tribunal Federal.

Analisando que o caso de Daniel é parecido com seu, Sergio destaca que não se deve individualizar a punição em quem fez o disparo, mas sim na corporação como um todo. “Não é uma ação que parte de um único indivíduo, é algo coletivo. Tem uma ordem, há uma comando. É uma ação que tem vários agentes envolvidos, então cabe ao Estado ser responsabilizado como um todo”.

Mesmo após o perder parte da visão, Sergio continuou a trabalhar e a cobrir manifestações. Para ele, essa é uma forma de demonstrar resistência, mesmo o episódio tendo deixado marcas para além das físicas. “É sempre muito preocupante, fica um trauma. Eu tenho uma marca no corpo e a gente vai para essas coberturas e ver esses atos da polícia. Sempre volta a lembrança do que ocorreu comigo. Carrego uma cicatriz psicológica”

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“Eu já tinha passado por outros episódios de truculência policial, mas nunca nesse nível. É uma coisa que a gente que trabalha nesse tipo de cobertura sempre acha que pode acontecer. A gente precisa cobrir esses atos de perto e essa proximidade faz com que os policiais acharem que podem ultrapassar algumas linhas, da mesma forma que fazem com os manifestantes”, avalia Daniel Arroyo.

Para o diretor de redação da Ponte, Fausto Salvadori, o estado de São Paulo deve, no mínimo, uma retratação pela agressão sofrida pelo fotógrafo. 

“O ataque contra Daniel e suas consequências mostram o desprezo da Polícia Militar e do governo João Doria pela democracia e pela liberdade de imprensa. Ele foi baleado à luz do dia, por um policial identificado, diante de dezenas de testemunhas e de outros policiais. Contrariando as próprias normas da PM, que são letra morta quando se trata de ajudar seres humanos, os policiais se recusaram a socorrer o jornalista e identificar os responsáveis. Houve negligência tripla na investigação, tanto por parte da Polícia Militar quanto da Polícia Civil e do Ministério Público, que não fizeram as cobranças devidas. E, por fim, não houve qualquer responsabilização e muito menos um pedido de desculpas, seja do comando da polícia, seja do governador João Doria. Fica claro que, para o governador, balear um jornalista é algo aceitável e corriqueiro”.

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Outro lado

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Elizeu Soares, destaca que o Estado deveria repensar os instrumentos que utiliza nas manifestações para que episódios como esse não voltem a ocorrer. “É lamentável que infelizmente não foi identificado quem fez isso. O Estado deveria indenizar o jornalista e pensar qual seria o tipo de armamento seria mais adequado para esses atos.”

A Secretaria de Segurança Pública se limitou a dizer que o caso foi repassado ao puder judiciário. “O caso foi investigado pelo 78° DP e relatado à Justiça. Mais questionamentos devem ser encaminhados ao judiciário”, disse a pasta através de nota.

O Ministério Público do Estado de São Paulo foi contatado para se posicionar sobre o arquivamento, mas não respondeu os e-mails enviados pela reportagem.