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Doulas nas favelas no suporte às mães periféricas e no combate à violência obstétrica

Com um acolhimento além do parto, profissionais atuam para garantia de direitos de gestantes antes, durante e depois

As doulas são profissionais que oferecem apoio emocional, físico e informativo às mulheres durante a gravidez, parto e pós-parto. Nas favelas, as mães frequentemente enfrentam desafios socioeconômicos, violações de direitos durante a gestação, falta de acesso à informação e suporte social. Diante da realidade das mães periféricas, as doulas assumem um papel ainda mais importante: acolher.

O número de doulas no Brasil aumentou significativamente nos últimos anos, demonstrando a crescente demanda por esse tipo de acompanhamento durante a gestação, parto e puerpério. A regulamentação da profissão tramita no Senado Federal através do Projeto de Lei 3.946/2021. Mas no Rio de Janeiro, é permitida a presença das profissionais em estabelecimentos hospitalares durante o período de trabalho de parto, parto e pós parto imediato desde 2017 sob a lei n° 6.305 da Câmara Municipal.

De maneira prática, a doula oferece informações sobre o processo de parto, auxiliando na redução do medo e ansiedade das mães, ajudando-as a ter uma experiência mais positiva e respeitosa. Após a gestação, as mães também têm orientação sobre amamentação, cuidados com o bebê e auxiliam na construção de um vínculo forte e saudável entre os dois. 

E na Maré, qual a importância das doulas?

A Palavra “doula” tem origem grega e significa “mulher que serve a outra mulher”, ou seja, são outras mulheres que estão apoiando as mães neste momento tão importante. Em um território composto por maioria de mulheres negras e chefes de família, segundo o Censo Maré, exercer a maternidade plena pode ser um desafio.

Arcasi Lopes, 36 anos, conta sua experiência ao ter o acompanhamento de uma profissional no parto de seu filho Valentim: “O meu maior medo era passar pela violência obstétrica, já entendendo que sou uma mulher, racializada e de favela. Então foi fundamental ter esse suporte e de uma doula aqui da Maré”, diz. 

De acordo com Arcasi, a presença das profissionais coloca a mãe como protagonista desse momento: “Fui a primeira mulher da minha família que contou com a assistência de uma doula. Minha avó pariu em casa com suporte de uma parteira no interior, minha mãe teve os filhos na cidade com esse cenário hospitalizado mas com uma assistência precária e permeada de algumas violências e eu tive essa experiência com a doula que eu vejo como um resgate da centralidade da mãe”, relata.

Ela reforça a importância das doulas na maternidade: “Ela acaba atuando como uma barreira de proteção dos direitos da mulher e da criança, principalmente contra a violência obstétrica.

Arcasi Lopes

E conclui: “Eu e Valentim continuamos frequentando a Roda de Gestantes da Maré para esse compartilhamento de experiências, de sociabilidade, de circulação de informações, de apoio e de fortalecimento.”

Doula na favela

Maya Antunes, 23 anos, é conhecida como a Doula Periférica e além de atuar no acompanhamento das mães, ela também informa nas redes sociais sobre os direitos maternos e do bebê para seus seguidores.

Em entrevista ao Maré de Notícias, ela diz: “Um dos maiores obstáculos para o acesso à doulagem é o investimento financeiro, além da informação sobre a profissão. Muita gente não sabe qual é o papel de uma doula. É importante e não deveria ser pago de forma particular, o Estado deveria proporcionar e pagar as doulas para acompanhar as gestantes.”, expõe.

Maya, Doula Periférica

Maya fala da sua motivação ao exercer a profissão: “A assistência de uma doula ainda é muito elitizada e falam dela de maneira muito acadêmica. Entendendo a minha realidade, enquanto mãe e pessoa periférica, também me formo politicamente. O suporte emocional, físico e a informação do que é direito e o que é violência obstétrica precisa ser repassado. O que me motiva é saber que de alguma forma eu consigo fazer a diferença na vida de algumas pessoas, saber que consigo mudar um pouco as estatísticas”, conta.

A doulagem é uma ferramenta essencial para promover a saúde materna e infantil, especialmente em territórios marginalizados e ampliar este acesso é um direito fundamental que deve ser garantido. As doulas são agentes de transformação na vida das mães de favela, proporcionando um acompanhamento humanizado durante a jornada materna. Através do reconhecimento da profissão, será possível proporcionar que todas as mães periféricas tenham um parto e pós-parto mais seguros, saudáveis e empoderados.

A Roda de Gestantes da Maré acontece um sábado por mês no CEJA Maré, localizado na R. Praia de Inhaúma, nº 243, próximo às casinhas do fogo cruzado e atrás da clínica da família Augusto Boal. A do mês de abril acontece no próximo dia 13, sábado, às 15h.

‘Corpo, Saúde e Cuidado’ na Maré: esquenta WOW aquece debate e celebra a luta feminina

Cinco edições acontecerão em 2024 ocupando diferentes espaços e cidades, propondo diversas atividades 

Amanda Célio

Ativando a contagem regressiva para o Festival Mulheres do Mundo (WOW) Rio 2025, a série de encontros “Esquenta WOW” inicia sua jornada com a temática “Corpo, Saúde e Cuiado. A primeira edição acontece neste sábado (6), ocupando diversos espaços dentro do conjunto de 16 favelas da Maré, território onde nasceu a Redes da Maré, curadora do festival.

O Festival Mulheres do Mundo (WOW), que é realizado a cada dois anos, se prepara para o evento principal com essa série de encontros, que é o Esquenta WOW! Serão cinco encontros, ocupando diferentes espaços e cidades, propondo diversas atividades nas quatro dimensões do Festival WOW Rio – Mulheres em Diálogos, Mulheres nas Artes e Cultura, Negócios Delas e Ativistas em Rede.

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Um dos destaques da programação é a exibição do filme “Levante”, que promove a importante discussão sobre a descriminalização do aborto no Brasil, seguido de uma mesa redonda com convidadas, aprofundando o debate sobre os desafios e conquistas da luta pelos direitos das mulheres. O debate após o filme é uma articulação com o projeto Onda Verde, da Casa das Mulheres da Maré. O Onda Verde vem desenvolvendo ações de mobilização territorial, serviços de acolhimento, pesquisa e incidência política para fortalecer as condições de acesso e efetividade à justiça reprodutiva e ao direito ao aborto previsto em lei.

A iniciativa dessa edição do “Esquenta WOW” se baseia na pesquisa “Saúde Sexual e Reprodutiva na Maré”, realizada pela Casa das Mulheres da Maré, equipamento da Redes da Maré inaugurado em 2016. A iniciativa visa produzir conhecimento sobre as principais demandas das mulheres na Maré, e a programação do evento se conecta a esse objetivo, promovendo diálogos e reflexões relevantes.

O Esquenta WOW “Mulheres e Direitos” é uma oportunidade imperdível para:

  • Celebrar a luta e resistência das mulheres.
  • Debater temas cruciais para a conquista da igualdade de gênero.
  • Fortalecer a rede de apoio e ativismo entre as mulheres.

“O Esquenta WOW ‘Corpo, Saúde e Cuidado’ é uma iniciativa vibrante que aquece o debate e celebra a luta feminina”, destaca a diretora da Redes da Maré, Eliana Sousa Silva: “Com uma programação diversa e abrangente, esta primeira edição de 2024 oferece uma plataforma para discutir temas essenciais para a saúde e os direitos das mulheres, com destaque para a saúde sexual e reprodutiva.”

Confira a programação completa aqui.

‘Brechó Jeans Ancestral’ realiza evento de aniversário neste sábado

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Arte, culinária e moda sustentável compõem o ‘look’ do evento

A segunda edição do evento Brechó Jeans Ancestral acontece neste sábado (6) no Parque União. O evento é realizado em comemoração dos quatro anos de fundação da loja que por meio da moda propõe debates políticos e constrói identidade. A programação conta com exposição artística, roda de partilha, vendas de produtos do brechó e lojas parceiras. 

A fundadora do Brechó Jeans Ancestral, Stefany Silva, conta que a proposta do evento é desmistificar a imagem de que brechós são espaços de “coisas velhas”.

 “É uma luta diária enquanto empreendedora fazer o meu negócio e também desmistificar esse protótipo que criam para os Brechós”, pontua. 

A exposição Passado Presente vai ser responsável por conduzir os participantes na história do brechó que foi fundado em 2020, durante a pandemia. O acervo artístico tem obras do Afeto Colagem com curadoria de Felipe Barcelar. Além disso, a gestora ambiental  Lorena Froz, junto com a artista visual Andreyna Rodriguez participam da exposição. Junto com Stefany, elas também batem um papo sobre a relação do empreendedorismo com a arte e o meio ambiente. 

A Maré vai da cultura até a culinária na programação. Os comes e bebes serão por conta da loja Filhos do Rei, Ateliê dos Salgados e os doces da Brigadelirando. Stefany diz ainda que se sente feliz pelas parcerias que fez para esse evento. Como ainda não tem patrocínio, o brechó realiza a produção de forma independente. Ano passado, cerca de 30 pessoas compareceram, a empreendedora espera conseguir dobrar o número de participantes. O evento acontece das 10h às 16h na Travessa Guanabara, número 4, ao lado do mercado Bom Preço. Para participar é necessário fazer a inscrição por meio deste formulário. As peças do brechó serão vendidas com valores que vão de R$30 a R$100.

Incrições para curso de audiovisual para jovens negras

A formação conta com mentorias de gestão de carreira, educação financeira e workshops . As aulas serão em formato híbrido – online e presencial

A Instituição Sociocultural Cinema Nosso está com inscrições abertas até quinta-feira (4) para a formação em Cinema Ficção e Cinema Documentário no projeto gratuito “Empoderamento e Tecnologia: Jovens negras no Audiovisual”. As aulas são destinadas às mulheres cis e trans negras, indígenas e refugiadas, dos 18 aos 29 anos. Com caráter profissionalizante, cada curso tem a carga horária total de 167h.

A formação conta com mentorias de gestão de carreira, educação financeira e workshops – que são obrigatórias durante o curso. As aulas serão em formato híbrido – online e presencial – com aulas práticas na sede do Cinema Nosso, localizada na Lapa, região central do Rio de Janeiro. Ao final do curso, haverá uma mostra dos curtas produzidos nas aulas.

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Anualmente, é escolhido um tema que prioriza o empoderamento negro, buscando trazer referências para as alunas produzirem seus projetos. Neste ano, o tema escolhido foi “Amor” e será trabalhado em cima das perspectivas da escritora e ativista antirracista Bell Hooks.

“Como vemos, são muitos os dados que evidenciam as violências sofridas pelas mulheres negras e através do projeto ‘Empoderamento e tecnologia: Jovens Negras no Audiovisual’, buscaremos caminhar na contramão do amor colonial e descobrir juntas ‘o que é o amor’, entendendo como ele pode acontecer, ser reconhecido e expressado através da linguagem do cinema, dos jogos, da cultura digital e de roteiros para séries”, destaca Isabel Rodrigues, Analista de Projetos da Juventude do Cinema Nosso.

A iniciativa é apresentada pelo Ministério da Cultura e Governo Federal, via Lei de Incentivo à Cultura. O resultado final da seleção das inscrições saem na redes sociais do Cinema Nosso na sexta-feira (12/4).

Navezinha Carioca da Maré é inaugurada no Instituto Vida Real

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Uma versão menor das Naves do conhecimento com foco na democratização do acesso à tecnologia 

Na última terça-feira (26), o Instituto Vida Real em parceria com o UniPeriferias e a Secretaria de Ciência e Tecnologia (SMCT) do Município do Rio, inaugurou a “Navezinha Carioca”. Uma proposta que busca  proporcionar inclusão digital.  O Rio de Janeiro tem 9 naves do conhecimento localizadas na Zona Norte e Oeste da cidade, agora passa a contar com mais cinco unidades em uma versão menor.

O Instituto Vida Real é uma iniciativa voltada para o apoio na educação de crianças e adolescentes com aulas de reforço, música, fotografia e tecnologia. Para Márcio Vitor, de 18 anos, aluno no Instituto Vida Real, a Navezinha será uma boa experiência. “Isso não vai só nos divertir aqui mas vai trazer outros jovens da comunidade para aprender junto com a gente”, afirma. 

O coordenador educacional do Instituto Vida Real, Arthur Pedro conta que a democratização do acesso a tecnologia sempre foi uma preocupação da fundação.  “No início o Vida Real tinha duas salas, uma de informática e outra de reforço escolar”, pontua.

Além da Navezinha Carioca Maré, existem unidades na quadra da Mangueira, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio das Pedras e Rocinha. O coordenador geral da Navezinha Carioca, Alberto Aleixo explica que a parceria para coordenar estas cinco unidades da Navezinha se deu a partir de um edital promovido pela secretaria de tecnologia e além de ensinar a programação, uso de drones o espaço atenderá todos os públicos. “A Navezinha do Conhecimento é um espaço que propõe ensinar as linguagens da tecnologia, desde o letramento na informática, e tem muita procura da população da terceira idade para mexer nas redes sociais” pontua.

A secretária municipal de ciência e tecnologia do Rio, Tatiana Roque, explica que a Navezinha é a ideia inicial para atender a demanda de tecnologia. “Hoje a tecnologia está em tudo, a questão é o que vamos fazer com isso. O que a gente precisa fazer para entrar nesse mundo novo [das tecnologias] é se qualificar, ter as ferramentas e se empoderar para que a gente tenha novas oportunidades “, finaliza.

O Instituto Vida Real tem sede localizada na Rua Teixeira Ribeiro, 904, por trás da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, Maré. O horário de funcionamento é das 9h às 16h.

Maré recebe espetáculo teatral infantil que celebra a trajetória do orixá Xangô

Espetáculo ‘Kawó – o rei chama’ tem entrada gratuita e fica em temporada até o próximo 14, domingo.

Se existia uma dúvida do que fazer para intertreter as crianças nos próximos dias na Maré, ela acaba agora. Isso porque o espetáculo teatral “Kawó – o rei chama” voltado para o público infanto-juvenil chega no Museu da Maré nessa sexta-feira (5) com temporada até o próximo dia 14, domingo.

A peça conta a trajetória do orixá Xangô, importante divindade presente na mitologia do povo Ioruba Nagô, representante da justiça, do fogo e do trovão e celebra a herança ancestral desse povo e dessa figura. No palco, seis atores negros, acompanhados de dois músicos, constroem e personificam uma África ancestral, mítica e carregada de simbologias.

Gabriel Mendes, diretor do espetáculo

O espetáculo também narra a preparação do “dia do Obá Xangô”. A narrativa é composta por uma família com uma mãe, quatro filhos e uma avó que passam o dia preparando a festividade. Tudo sob o comando dessa grande matriarca, os seis trabalham para que tudo seja perfeito para celebrar a memória do rei, esse ancestral tão admirado por todos eles.

O Museu da Maré fica na Avenida Guilherme Maxwel, nº 26. Os horários do espetáculo são os seguintes: na sexta-feira, às 10h e às 14h; nos sábados e domingos, às 17h, com duração de aproximadamente 60 minutos. E o melhor: a entrada é gratuita.

“São histórias que precisam ser contadas a esses jovens ouvintes para que esses se reconheçam naquilo que ouvem e percebam que a nossa história começou antes mesmo de ter começado.”, afirma Gabriel.