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Tratamento de câncer é prejudicado pela pandemia

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Como apoio, campanhas Outubro Rosa e Novembro Azul conscientizam a população sobre exames preventivos

Por Thaís Cavalcante em 19/10/2020 às 10h50

A saúde pública enfrenta a pandemia do novo coronavírus tomando atitudes de adaptação: prioriza hospitais, leitos e atendimentos para pacientes infectados pela covid-19. Essa urgência imposta fez outras urgências terem as suas realidades alteradas. Pessoas passaram a diminuir o cuidado com a saúde em geral para se prevenir apenas contra a covid-19. O medo de pegar a doença trouxe também consequências, como o abandono de tratamento, atendimentos suspensos, cancelamento de exames de rotina e até o falecimento em decorrência de doenças não tratadas. Um desses tratamentos que passaram por interrupção foi o de pessoas com câncer, tendo em vista que muitos pacientes são do grupo de risco.

Das campanhas de prevenção e conscientização sobre o câncer, Outubro Rosa e Novembro Azul são as mais conhecidas. A partir do compartilhamento de informações, essas campanhas encorajam mulheres e homens a realizar exames de prevenção de câncer de mama e próstata, principalmente através dos exames de toque retal, a colonoscopia e a mamografia. Essa orientação é importante porque a partir do diagnóstico precoce, há mais chances do paciente ter cura e viver melhor. 

Esse cuidado integral com a saúde é fundamental, seja no período de tratamento de uma doença ou na prevenção dela, através de consultas e exames de rotina. De acordo com estimativa da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), o risco de morte por câncer teve aumento de 20% devido às complicações sociais que dificultaram o acesso e priorizaram o atendimento aos doentes de covid-19. 

O tratamento oncológico precisa, inicialmente, da realização de diagnósticos, consultas periódicas e exames. Mas durante a pandemia, as rotinas de todos os pacientes foram alteradas para ajudar na diminuição do contágio do coronavírus. Por outro lado, a urgência do tratamento de câncer continuou e outros desafios foram encarados, seja pelos equipamentos de saúde, seus profissionais ou pelos próprios pacientes.

Dr. Gélcio Mendes, Coordenador de Assistência do Instituto Nacional de Câncer (INCA), afirma que entre as estratégias necessárias para enfrentar este período de pandemia estão o adiamento de consultas periódicas entre três e seis meses, a testagem para covid-19 em pacientes que precisam fazer cirurgias agendadas e o acompanhamento de pacientes em casa pela equipe de cuidados paliativos. O medo paralisou muita gente. “Tem uma quantidade grande de pacientes que ainda estão para fazer o diagnóstico, exames e procedimentos. Essa não é uma realidade só nossa, é do mundo inteiro”, contou o médico. Com a reabertura gradual das atividades, o esperado é que esses pacientes voltem com suas consultas nos próximos meses. Já aqueles que pegaram a covid-19, estão aguardando a recuperação da doença para voltar ao INCA.

Como o paciente com câncer deve agir no dia do tratamento durante a pandemia?

  • Ter somente um acompanhante, com menos de 60 anos, se possível. O acompanhante não poderá ter sintomas de resfriado ou gripe;
  • Tentar manter distância de outras pessoas, mesmo da equipe de saúde;
  • Não ficar próximo de outros pacientes;
  • Evitar circular pelo hospital;
  • Não ficar no local de tratamento por mais tempo do que o necessário;
  • Manter as recomendações de prevenção como lavar as mãos com água e sabão, na sua ausência, usar álcool em gel; cobrir nariz e boca com lenço ao tossir ou espirrar – se não for possível, deve usar o antebraço como barreira e não compartilhar objetos pessoais.

Fonte: Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Outubro Rosa e Novembro Azul na Maré

As iniciativas globais de cuidado com a saúde da mulher e do homem são discutidas em todo o mundo e também aqui na Maré, demonstrado o cuidado com os moradores através de ações dos equipamentos de saúde e seus profissionais. Mas com o cenário em que o distanciamento social é a atitude mais indicada, essas ações de prevenção e cuidado na favela precisaram ser repensadas.

Débora Chaves, enfermeira e coordenadora de enfermagem do UPA24h da Maré, acredita na importância dessas ações. “Realizamos campanhas de saúde em consonância com o calendário de atividades do Ministério da Saúde, através de ações preventivas, nos meses definidos por cores. Elas buscam chamar a atenção e conscientizar as pessoas sobre a importância do autocuidado. Nossa dinâmica baseia-se na orientação da prevenção, através de abordagem objetiva e ações direcionadas para a detecção precoce de doenças oncológicas e demais comorbidades”, declara.

Sobre as campanhas Setembro Amarelo (depressão e suicídio), Outubro Rosa (câncer de mama), Novembro Azul (câncer de próstata) e Dezembro Vermelho (HIV), ela completa: “O cronograma das unidades é elaborado com a participação de palestrantes que possuem domínio e conhecimento dos temas”. A UPA24h da Maré é uma Unidade de Pronto Atendimento 24 horas, vinculada à Secretaria de Estadual de Saúde e sob gestão da Organização Social de Saúde Viva Rio. Sendo referência em atendimentos de urgência e emergência de baixa e média complexidade. Por isso, suas ações em campanhas de prevenção são adicionais àquelas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Este ano, as ações da SMS na campanha Outubro Rosa se intensificam em outubro com a prática do acolhimento, orientação e conscientização da saúde da mulher sobre o câncer de mama e de colo do útero. Praticadas diariamente em Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde, foram interrompidas no primeiro semestre por causa da pandemia, mas retomadas em julho e reforçadas neste mês. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro também desenvolve ações em seus hospitais para prevenir e detectar desses tipos de câncer nas mulheres. Seja com a iluminação de prédios públicos como alerta, a disponibilização de material impresso e digital sobre o tema, discussão sobre violência contra a mulher e webinar.

Campanhas de prevenção virtuais

Conheça as campanhas virtuais que apresentam depoimentos, orientações, encorajamentos e informação sobre prevenção e cuidados, além de alertar a sociedade sobre os riscos  de se adiar o cuidado com a saúde, deixando de realizar exames e tratamentos oncológicos em geral. 

  • Campanha “Câncer não faz quarentena”: parceria entre a Femama, Instituto Oncoguia e Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. www.pfizer.com.br/cancernaofazquarentena.
  • Campanha “O Câncer não espera. Cuide-se já.: parceria entre o Instituto Oncoclínicas e com sociedades de especialidades médicas. www.ocancernaoespera.com.br

Doação de sangue 

Por causa da pandemia, os bancos de sangue da cidade do Rio de Janeiro diminuíram, mas o número de pacientes que precisa, não. No INCA, houve queda de quase 50% na doação de sangue e plaquetas. A população tem um papel fundamental para mudar isso. Algumas das soluções encontradas para minimizar esse impacto foi o uso de carro móvel para doação, a campanha “Hemorio em casa” e a ação de desconto em aplicativos de transporte particular.

UNIDADE DE COLETA E TRANSFUSÃO DO HOSPITAL FEDERAL DE BONSUCESSO

Endereço: Avenida Londres, 616 (Bonsucesso – RJ)

Dias e horários: Segunda a sexta, entre 7h30 e 12h

Telefone: (21) 2561-3473

SEDE INCA

Endereço: Praça Cruz Vermelha 23, segundo andar (Centro – RJ)

Telefones: (21) 3207-1021 ou 3207-1580, entre 8h e 15h

HEMORIO

Endereço: Rua Frei Caneca 8, (Centro – RJ)

Dias e horários: Segunda a domingo, entre 7h e 18h

Telefones: (21) 2332-8611 ou 2332-8612 ou 2332-8613 

NÚCLEO DE HEMOTERAPIA DO HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO

Endereço: Rua Sacadura Cabral, 178 (Centro – RJ)

Dias e horários: Segunda a sexta, entre 7h30 e 12h30

Telefones: (21) 2291-3287 ou 2291-3804

NÚCLEO DE HEMOTERAPIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO

Endereço: Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco 255, 3º andar (Ilha do Governador – RJ)

Dias e horários: Segunda a sexta, entre 7h30 e 13h30

Telefone: (21) 3938-2312

Estamos chegando no jogo, lutando para ganhar

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Maré de Notícias #117 – outubro de 2020

Por Joelma Sousa em 10/10/20 às 10h05

Mulher, preta, favelada, cria da favela da Maré, formada pela Escola de Serviço Social – Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-graduanda na Escola Sérgio Arouca – FioCruz ENSP.

Durante todo o período de escravismo em nosso país, que se inicia no Século XVI, o escravo negro foi aquele trabalhador presente em todos os ofícios, por mais diversificados que eles fossem. Sua força de trabalho era distribuída em todos os setores de atividade. Isso nos mostra que, durante toda sua existência, a sociedade escravocrata atuou como mecanismo equilibrador e impulsionador do trabalho negro escravo. No final do século XIX, a sociedade brasileira passou por uma reestruturação, adotando o trabalho livre como forma fundamental de atividade. Esse foi um período marcado por um movimento de construção da ideia de inferioridade do negro e da sua incompatibilidade para assumir o trabalho assalariado. 

O racismo estrutural é uma característica histórica do nosso país, que afeta as relações de trabalho, desde à contratação até os conflitos judiciais. A iniciativa da Empresa Magazine Luiza, juntamente com o ID_BR – Instituto de identidades do Brasil, de criarem uma  seleção exclusiva para negros nos cargos de liderança abre possibilidades para a ascensão dessas pessoas no mercado de trabalho, algo importante e fundamental para reparar historicamente as enormes perdas. Pessoas que sempre estiveram à margem dos processos seletivos podem, a partir de experiências, como a do Magazine Luíza, ocupar vagas que sempre foram destinadas ao trabalhador branco, como modelo de qualificação, larga experiência e com a velha e “boa aparência”. Porém, infelizmente, a iniciativa gerou uma enorme repercussão. E não foi boa. 

As ações afirmativas nos espaços de trabalho consistem em políticas voltadas para a aceleração de oportunidades, cujo projeto pioneiro realizou-se nos Estados Unidos, em 1964. Esse é um processo conhecido no Brasil pós-escravidão, que  implementou a entrada de imigrantes, ofertando políticas de distribuição de terras, aberturas de escolas, pagamentos de passagens etc. O que diferencia é o preconceito de cor, pois as políticas afirmativas eram baseadas na origem dos indivíduos, acreditando-se na existência de uma raça superior, a chamada eugenia, ainda presente no Brasil e fomentada pelo atual Estado brasileiro. Talvez, seja por isso, a indignação de muitos com a iniciativa do Magazine Luiza, vez que o racismo sempre existiu. Segundo estudiosos, o racismo é a essência do capitalismo, pois, quando se fala em emprego para os negros, toma-se por referência o subemprego,  a precarização, o  desemprego e a desigualdade salarial. Dados do IBGE revelam que 76% dos negros brasileiros têm a renda mais baixa do país. 

A sociedade em que vivemos é marcada por um sistema de opressão da população negra, edificado na dinâmica da escravidão. Temos vivido num mundo e num sistema que não é feito para nós, pretos, que não nos deixam ganhar. O que nos resta é a luta pela sobrevivência, e, em muitos casos, a morte. Além do desemprego e do subemprego, o racismo tem-nos esmagado e assassinado nossos corpos todos os dias, horas, minutos e segundos. O sociólogo Clóvis Moura já nos chamava a atenção sobre a herança da escravidão, cuja herança não está no corpo negro, mas sim, na consciência da classe dominante, criadora de valores discriminatórios, para impossibilitar o negro de ascender seja no nível econômico, social, cultural ou existencial. Clóvis reclamava, também, a emergência de uma consciência negra crítica.

Resistir para avançar

Temos lutado pela garantia dos nossos direitos dia após dia, tivemos grandes avanços com a conquista das ações afirmativas nas Universidades públicas, na primeira década dos anos 2000. Espaços, antes, reservados para os brancos considerados gênios, agora, ocupados por nós, pretos, pardos e indígenas. Estamos proporcionando um crescimento teórico e metodológico nesses espaços, pois as discussões ficaram muito mais acessíveis, com estudos que trazem dados sobre a importância da nossa inserção nas Universidades, e avançado para discussões acerca dos espaços de trabalhos e de lideranças. 

A Casa Preta da Maré propõe implantar discussões sobre as questões raciais e suas intersecções, com questões de gênero e de outros temas, no território da Maré. Assim, pode-se desenvolver ações culturais e de cunho formativo que proporcionem mudanças políticas e sociais para homens e mulheres negras, de forma a contribuir para eliminar a forte combinação existente entre gênero, raça e pobreza na sociedade brasileira. Não apenas na Maré, mas em diversos territórios, é extremamente importante promover debates que fomentam pensamento crítico e recuperação de memória. Afinal, somos geniais e brilhantes!

Ronda Coronavírus: Após o fim da corrupção, mais corrupção

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Uma semana após anúncio do fim da operação Lava Jato, senador é apreendido com dinheiro na cueca

Uma semana após o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado que operação Lava Jato acabou porque não há corrupção no Brasil, o senador Chico Rodrigues (DEM), vice-líder do governo no Senado, foi pego nesta quarta-feira (14) com mais R$33 mil na cueca. O delegado encarregado pela operação da Polícia Federal (PF) percebeu um “volume estranho na traseira da roupa do político” durante investigação de desvio de verba destinada ao combate à pandemia da Covid-19 em Boa Vista, capital de Roraima. O parlamentar faz parte da comissão do Congresso Nacional criada para monitorar o uso do dinheiro público no combate à pandemia.

Na investigação da PF que levou até Rodrigues, foi identificada uma fraude no processo de licitação para contratar empresas que atuariam no combate à pandemia para a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima (Sesau). A Controladoria Geral da União (CGU) – que também atuou na operação – detectou desvios de cerca de R$ 20 milhões, acarretando em superfaturamento na compra de equipamentos de proteção individual (EPI) e testes rápidos de covid-19.

Na semana anterior, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente afirmou que deu por encerrada a operação Lava Jato, iniciada em março de 2014, pois em seu governo não existe mais corrupção a ser investigada. Durante a sua campanha política, Bolsonaro teceu elogios à operação, o que o motivou a indicar o juiz Sérgio Moro, que atuava na Lava Jato, a compor o seu grupo de ministros, como Ministro da Justiça e Segurança Pública. O rompimento de Moro em abril dste ano se deu justamente por Bolsonaro tentar interferir politicamente na PF, incluindo na mudança do diretor-geral da corporação responsável pelas operações como a Lava Jato.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou o afastamento do senador por 90 dias. Mas senadores reagiram à decisão  e querem levar o caso ao Conselho de Ética de o Senado. Eles alegam “usurpação de poder”, quando um poder passa por cima de outro. 

Números da covid-19

Enquanto o país lida com os altos e baixos da corrupção, a média móvel de mortes subiu nas últimas 24h, chegando a 510. Apesar de o número apresentar uma queda em comparação há 14 dias, houve um aumento em relação à média de quinta-feira, que foi de 500. Nas últimas 24h foram registradas 754 mortes e 30.914 novos casos de covid-19, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Desde o início da pandemia foram 5.200.300 casos confirmados e 153.214 mortes.

No Rio de Janeiro foram registrados 289.440 casos e 19.654 mortes por coronavírus, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde. A cidade do Rio tem 113.512 pessoas infectadas e 11.582 vítimas fatais pelo vírus. As favelas somam 15.968 casos e 2.064 mortes, entre confirmadas e suspeitas, sendo a Maré com o maior número entre as favelas listadas: 1.838 casos e 156 mortes de acordo com o Painel Unificador das Favelas. Já de acordo com o levantamento feito pela prefeitura, a Maré tem 732 casos confirmados e 126 mortes até esta sexta-feira (16).

Possíveis casos de reinfecção no Brasil

Na última segunda-feira (12), foi notificada o quinto caso de reinfecção pela covid-19 no mundo, como notificado na Ronda Coronavírus de 13 de outubro. Em pesquisa realizada em agosto pela Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), havia 20 possíveis casos de reinfecções no Brasil, 16 em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. Os estudos brasileiros começaram com o caso de uma enfermeira de 24 anos que testou positivo em maio, 38 dias após ser considerada curada. Em 27 de junho, a jovem acordou sentindo sintomas da doença e ao realizar um novo teste, foi constatado resultado positivo. Até o momento, o Ministério da Saúde não confirmou casos de reinfecção e afirma que se reinfectar é “um evento raríssimo, que precisa ser investigado com a máxima cautela”.

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) tem investigado 160 pacientes que testaram positivo para covid-19 duas vezes em um intervalo superior a 21 dias. De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica e Prevenção da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), Ricristhi Gonçalves, é preciso estar atento na investigação para conseguir entender se a pessoa teve contato com o vírus e adoeceu mais de uma vez ou se ela teve contato uma única vez e os sintomas se estenderam por um período maior que 21 dias. Os pacientes recebem acompanhamento de um grupo de infectologistas e epidemiologistas ligados universidades do estado e à Sesa. 

Dia D da multivacinação

Amanhã, (17) cerca de 1.500 unidades de saúde de todo o estado do Rio estarão abertas para atualização das cadernetas de vacinação de crianças e adolescentes. O Dia D da Campanha Nacional de Multivacinação é uma ação conjunta entre Ministério da Saúde, Secretarias de Estado de Saúde e Secretarias Municipais de Saúde e tem como objetivo aumentar a cobertura de vacina da BCG para 90% e outras vacinas em 95% até o final do ano.

Todas as vacinas presentes nos calendários da criança (de 0 a 10 anos) fazem parte da campanha, como BCG, Hepatite B, Penta (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e poliomielite), Pólio inativada, Pólio oral, Rotavírus, Pneumo 10, Meningo C, Febre Amarela, Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), Tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), DTP (tríplice bacteriana), Hepatite A e Varicela. Para os adolescentes até 14 anos há os reforços de vacinas, como Hepatite B, Febre Amarela, Tríplice viral, Difteria e tétano adulto, DTPa, Meningocócica ACWY, HPV quadrivalente e Varicela.

Além dessas vacinas, também será oferecida a vacina de sarampo para pessoas de 6 meses a 59 anos.

Maré em tempos de coronavírus

Na 16ª edição do podcast da Redes da Maré, Eliana Sousa aborda o impacto da pandemia na alimentação de crianças e jovens, que em período escolar, se alimentavam nas escolas e creches e a dificuldade de famílias em garantir alimentação básica neste momento. O assunto também foi abordado no último boletim De Olho no Corona!, também disponível para leitura clicando aqui. De acordo com o documento, 17.577 famílias foram beneficiadas com a entrega de cestas de alimento e kits de higiene pessoal e de limpeza ou com oferta de cartão com crédito no valor equivalente ao da cesta básica. 

Telemedicina e saúde mental

Setembro amarelo passou, mas sempre é importante cuidar da saúde mental. Além de atendimento médico, o SAS Brasil tem realizado atendimento psicológico gratuito a moradores e moradoras da Maré de todas as idades. Basta mandar uma mensagem para (21) 99271-0554 e aguardar o retorno do especialista. O acompanhamento é feito pelo telefone, então não é preciso ir a nenhuma unidade de saúde.

Nenê do Zap

Incentivar os nenês a fazer tarefas de casa, como guardar os seu brinquedos, ajudam em seu desenvolvimento, além de ser importante na interação entre os pequenos e os seus responsáveis. Confira quais atividades podem ser feitas com os nenês na dica de hoje.

Kinder Ovo e Salsa: duas histórias de sofrimento por moradia

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Habitação digna vira dilema permanente na vida de moradores da Maré

Hélio Euclides

Em 1996, tempestades causaram deslizamentos e alagamentos que mataram 200 pessoas e deixaram mais de 30 mil desabrigadas na cidade do Rio de Janeiro. Historicamente, os pobres foram e são os que mais sofrem com a falta de uma política pública de Habitação e Saneamento Básico – e serviços essenciais, como escoamento das águas pluviais, coleta de lixo e abastecimento de água potável. Alguns dos desabrigados foram alocados num terreno em torno do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros, uma das 16 favelas da Maré.

Para assentar essas pessoas, foram utilizadas barracas do Exército e logo depois veio a construção de alojamentos provisórios. Esses espaços construídos pelo Governo Municipal foram apelidados de Kinder Ovo –  uma alusão ao ovo de chocolate muito pequeno e popular naquele período. Cada alojamento reunia 25 famílias, com apenas um banheiro e com infraestrutura precária. 

Inaugurado em início de 2000 como um desses espaços para assentar essas famílias do Kinder Ovo, o Conjunto Novo Pinheiro foi logo chamado de Salsa e Merengue numa referência a uma novela da época. Mas o espaço não conseguiu oferecer moradia para todas as famílias desabrigadas, a maioria foi para Nova Sepetiba e outras ficaram nos alojamentos à espera da construção de novas casas  – que seriam construídas atrás do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros. 

No dia 26 de junho de 2000, a Polícia Militar derrubou os últimos alojamentos provisórios restantes por determinação da Prefeitura, com justificativa de dar fim às invasões que vinham ocorrendo no Kinder Ovo. As  famílias receberam aluguel social por quatro anos até a construção das casas, aquelas que foram construídas atrás do Ciep, que ficaram conhecidas como Marrocos. 

Marrocos, Salsa e Merengue na Maré e Nova Sepetiba, na zona Oeste, foram os novos endereços das famílias desabrigadas pela chuva de 1996.

É preciso moradia e saneamento básico

Mônica Cândido mora há 16 anos em umas das 1.850 casas da favela Salsa e Merengue, na Maré, numa localidade conhecida como Vila dos Idosos. “A Vila era um local onde duas casas dividiam o mesmo banheiro, os moradores acabaram com isso. Aqui no Salsa falta saneamento básico, com o improviso de esgoto no canal de águas pluviais. O resultado é quando chove transborda tudo, volta a água pelo ralo do banheiro”, diz. 

Quando o Salsa e Merengue foi construído havia várias praças, mas com a construção das escolas municipais e ocupações, os espaços de lazer sumiram. Apesar de ser construído pelo Governo Municipal, o Salsa e Merengue não é legalizado por falta de autorização da Marinha, pela proximidade com a Baía de Guanabara. Isso é contado por Washington Luiz da Silva, de 59 anos, liderança local. “O Salsa nasce do projeto Rio Cidade, com o aterramento do mangue. Veio gente das favelas da Galinha, Beira Rio e Varginha”, expõe. O morador reclama que o local sofre com a falta de carteiro e com o esgoto a céu aberto, devido à tubulação ser pequena para comportar a  população.

Washington é taxativo quando se fala do direito à moradia. “Temos a Caixa Econômica, que deveria estar ao lado do povo, e virou uma agiota federal. Moradia virou um bom negócio. O banco dá a carta de crédito com juros altos e a pessoa não consegue pagar, perde a casa e volta para a favela”, conclui.

Números da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que o déficit de moradias cresceu 7% de 2007 a 2017, tendo atingido 7,78 milhões de unidades habitacionais no país. Já na cidade, a Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro aponta que pelo menos 15 mil pessoas estão em situação de rua. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio de Janeiro é a cidade brasileira com o maior percentual de sua população vivendo em favelas: dos 6.323.037 de habitantes, 22,03% moram em favelas, ou seja, mais de 1,3 milhão de pessoas.

O que dizem os órgãos públicos

A Companhia Estadual de Habitação do RJ (CEHAB) informou que a questão habitacional é de responsabilidade da Prefeitura, mas que oferece suporte quando necessário. 

A Secretaria Municipal de Infraestrutura Habitação e Conservação (SMIHC) informou que atua com políticas habitacionais que tragam condições dignas de moradia. Existe na Prefeitura do Rio um programa que visa combater o déficit habitacional da cidade, que é o Minha Casa, Minha Vida, que entregou nessa gestão cerca de 15 mil unidades habitacionais. Declarou que a Prefeitura do Rio aguarda a liberação de recursos por parte do Ministério do Desenvolvimento Regional para o início da construção de outros 2.360 imóveis do Minha Casa, Minha Vida. Os imóveis serão destinados ao reassentamento de pessoas que viviam em condições precárias e que hoje encontram-se no Auxílio Habitacional Temporário, ou para contemplar as famílias que se inscreveram e foram sorteadas no programa.

A SMIHC ainda disse na nota que a gestão municipal beneficiou mais de 8 mil famílias do programa com o Registro Geral de Imóveis, permitindo o acesso à escritura registrada, com valor de mercado e direito de herança. A previsão é de que esse número supere 12 mil famílias. Além disso, há o Favela-Bairro, que, desde 1994, urbaniza as comunidades da cidade e está em sua terceira fase – com mais de 60% das comunidades já atendidas. Sobre a Maré, a SMIHC não confirmou se será contemplada na próxima fase do Favela-Bairro, pois ainda está em estudos, não tendo qualquer definição sobre locais que atenderá. 

O Ministério do Desenvolvimento Regional não respondeu aos nossos questionamentos.

O Núcleo de Terras e Habitação, da Defensoria Pública (NUTH) afirmou que o direito à moradia está ligado ao básico existencial, garantia mínima de vida razoável. Além de inexistir uma política pública que contemple a todos na efetivação desse direito, também encontramos diversas violações por parte do poder público. Teoricamente, o Estado deveria prover os meios necessários para que todos pudessem viver com dignidade. E viver com dignidade consiste em gozar do direito à moradia, uma moradia digna. 

O NUTH acredita que em decorrência da omissão estatal, as pessoas foram buscando soluções para a questão da moradia. As favelas são a resposta social construída popularmente diante da falta de efetivação do direito à moradia. E no Rio de Janeiro, com a especulação imobiliária, com a seletividade existente no oferecimento dos serviços públicos essenciais, foi a solução empregada por inúmeras pessoas para atender suas necessidades. Nesse sentido, além da ausência estatal na implementação de políticas públicas, também há um movimento estatal de remoções nas comunidades, sem a apresentação de soluções definitivas de moradias e, muitas vezes, sem a observâncias das diretrizes legais.

Assim, no Município do Rio de Janeiro, muitas comunidades passam por esse processo de luta para evitar remoções e demolições. O NUTH realiza o atendimento de diversas comunidades, realizando acompanhamento extrajudicial e judicial. Em muitos casos, há ameaça de remoção, realizando-se a análise da situação com o auxílio da equipe técnica e construindo, com diálogo com a comunidade, as melhores estratégias a serem adotadas. Especificamente na Maré, não possuímos nenhuma coletividade em atendimento.

A Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) declarou que não há como ter precisão da quantidade de pessoas em situação de rua na cidade. Explicou que a Prefeitura do Rio, por meio da parceria entre a SMASDH e o Instituto Pereira Passos, tem programada a realização de um censo para apurar melhor estes dados, que deverá começar no próximo mês. O levantamento estava previsto para iniciar em março deste ano, mas por conta da pandemia, foi adiado e a previsão é que seja retomado agora em outubro. Ressaltou que pesquisas anteriores não estão sendo consideradas por conta do uso de diferentes metodologias, o que impede a comparação das informações. Além disso, os censos anteriores não levaram em conta certas peculiaridades da população em situação de rua.A 30ª Região Administrativa explicou que o saneamento é de responsabilidade do Governo Estadual, mas que realiza trabalhos quando necessário, como atualmente na Vila dos Pinheiros. Adiantou que funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) já se encontram em fase de medição das ruas da Maré para a realização de uma grande obra de esgotamento.

Livros para quê te quero

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Semana Nacional da Leitura nos lembra a importância de se valorizar a leitura e espaços de estudos

Andressa Cabral Botelho – 16/10/2020

Nesta semana, celebrou-se o dia das crianças e feriado de Nossa Senhora Aparecida do Brasil, mas há mais uma celebração nacional no dia 12 de outubro que a população desconhece: o dia nacional da leitura. Seja os livros mais vendidos, revistinhas em quadrinhos ou até os e-books, o dia é importante para reforçar a necessidade de se estimular a leitura, principalmente em crianças, mas também para incentivar a interação entre adultos e crianças por meio da leitura. Junto à data, comemora-se a Semana Nacional da Leitura e Literatura, de acordo com a Lei nº 11.899/2009, que nos ajuda a lembrar de espaços importantes para os estudos: as bibliotecas.

No Brasil, os números não são positivos: o país perdeu 4,6 milhões de leitores em cinco anos, de acordo com a pesquisa Retratos da leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró Livro, que comparou dados de 2019 e de 2015. Mas nem tudo é negativo segundo o levantamento. Meninos e meninas de cinco a dez anos têm lido mais, diferente das outras faixas etárias, onde esse número caiu. Atualmente, 52% da população se considera leitora e, em média, o brasileiro lê quatro livros por ano, ? do que é lido anualmente na França, por exemplo. Esses dados são de 2019 do Centro Nacional do Livro. Ler fica em 10º na preferência de atividades de lazer, atrás de acessar internet, ouvir música e ver televisão. 

Em dezembro de 2019 surgiu o programa do Governo Federal Conta pra mim, que para incentivar a leitura entre responsáveis e crianças, promovendo, assim, a literacia familiar, aprendizagem por meio da leitura em voz alta, linguagem oral e escrita. No site do programa está disponível aos responsáveis práticas para desenvolver a literacia familiar, além de materiais em texto, áudio e vídeo para contar histórias. 

Além da promoção de interação através da leitura, a Secretaria de Alfabetização, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), vê no projeto uma forma de se pensar políticas voltadas para alfabetização e mudar a realidade educacional do país, que apresenta números preocupantes. Em 2016, dos mais de 2 milhões de alunos do 3° ano do ensino fundamental, 54,73% tiveram desempenho insuficiente no exame de proficiência de leitura realizado pela Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA). Desse número, cerca de 450 mil estudantes apresentaram dificuldade em encontrar informações em textos de até cinco linhas, assim como identificar a finalidade dos textos apresentados, se eram receitas, convites ou bilhetes. 

Soluções em tempos de isolamento

Legenda: Geraldo Oliveira e a geladeira de livros da Biblioteca Nélida Piñol (Marcílio Dias) – Foto: Douglas Lopes

Para muitos privilegiados, a pandemia foi uma oportunidade para colocar as leituras atrasadas em dia. Mas para outros a situação foi mais delicada para terem a acesso a leitura. Bibliotecas fecharam por causa do isolamento social e tiveram que pensar em alternativas para continuar funcionando. A Biblioteca Nélida Piñon, em Marcílio Dias, na Maré, ficou seis meses fechada, mas uma porta se manteve aberta: a da geladeira. Como parte do projeto, o utensílio doméstico ficou na rua repleta de livros, fazendo com que o empréstimo nunca parasse. Assim, os moradores  tiveram acesso ao livro para lerem em casa, fazendo com que a biblioteca – ou uma pequena parte dela – continuasse funcionando. 

O retorno das atividades da Nélida Peron aconteceu no dia 01 de outubro, quando a biblioteca inaugurou o espaço “Mergulhe nessa leitura”, dedicado às crianças. Enquanto ficou fechada, o espaço, além da geladeira, realizou outras atividades. “Durante a pandemia, nós atuamos na área social, com distribuição de cestas básicas para algumas famílias. E a geladeira, que foi transformada em estante, funcionou dia e noite neste período”, conta Geraldo Oliveira, um dos coordenadores da biblioteca, destacando a interação dos moradores com a estante de livros.

O ambiente virtual como aliado

Legenda: Crianças na Sala de leitura Maria Clara Machado, que faz parte da Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto – Foto: Douglas Lopes

Outros espaços encontraram no ambiente virtual uma forma de continuar as suas atividades de leitura, como o Clube da Leitura da Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto, da Redes da Maré. Localizado fisicamente na Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré,  assim que começou a pandemia, o clube migrou as atividades para o on-line e passou a ler livros para o vestibular. “Os jovens da Maré têm se desdobrado em muita perseverança para participar, porque a pandemia evidenciou os abismos sociais de nosso país. Ele precisa lidar com a interrupção das lives e das aulas não presenciais, além de disputar o sinal de conexão com muitos a sua volta”, observou Daniela Name, professora e curadora do Clube. 

Como proposta de estudos, a coordenação do clube direcionou as suas atividades para a leitura de livros do vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), para colaborar com os professores do Curso Pré-Vestibular da Redes da Maré (CPV) na programação de estudos para as provas. Além de O triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, os alunos estão fazendo da leitura de 1984, de George Orwell, livro escolhido pela UERJ para ser tema da redação do seu vestibular. O interesse e a procura foram tão grandes que o clube recebeu inscrição de vários novos integrantes. 

Não só pelo trabalho voltado para a aprovação no vestibular, mas o clube desempenha papel importante para as crianças e jovens em diversos fatores: “O ato de ler em voz alta e debater a leitura desenvolve não apenas a interpretação de texto, mas a segurança narrativa de cada um dos participantes, que melhoram muito na expressão oral e escrita”, destacou Daniela.

De leitor a ilustrador

A favela não é apenas o local que abriga essas bibliotecas, mas também é lar de escritores e ilustradores que têm produzido livros, seja falando da sua vivência ou usando a favela como ambiente onde a história acontece. Renato Cafuzo é uma dessas pessoas. Morador do Morro do Timbau,na Maré, ele desenha desde criança e em 2010 começou a ilustrar livros didáticos, em paralelo ao trabalho de designer. De lá para cá, ilustrou cinco livros infanto-juvenis: quatro da coleção Griôs da Tapera, escritos por Sinara Rúbia e o Que saudade da minha Vó, escrito por Maíra Oliveira, previsto para ser publicado em 2021.

Recentemente, Cafuzo fez uma doação de livros da edição Griôs da Tapera para a Biblioteca Marginow, no Antares, Zona Oeste do Rio. “Lembro do Jessé Andarilho [organizador da Biblioteca Marginow] contando sobre como é montar uma biblioteca comunitária em Antares e a dificuldade que é receber doação de livros legais. E realmente, como incentivar a leitura na comunidade com livros que a pessoa só doou para não jogar no lixo? Depois disso, vi que não tinha lugar melhor para o que eu faço do que esses espaços. Para mim, é uma forma de devolver para favela a formação que ela me deu para vida”, destacou o ilustrador.

Cafuzo destaca que a sua paixão pela leitura surgiu na adolescência, com o contato com quadrinhos e reflete o quanto seria importante ele ter lido textos como os que ilustra hoje, que tratam sobre questões raciais, quando mais novo. “Hoje, como um homem negro, eu vejo nitidamente que mudar o mundo para melhor só é possível tendo um poder que a sociedade não reconhece como real, sacou a metáfora? Quantas questões e inseguranças teriam me atravessado de forma menos dolorosa numa fase ainda mais sensível? No fim das contas, acho que é por isso que hoje me volto para o livro infantil: porque é para ontem”, conclui.

Tão importante quanto ler, é doar

Tem algum livro em casa que não lê mais e gostaria que outras pessoas o lessem também? As bibliotecas mencionadas no texto recebem doações de livros e outros materiais pedagógicos.

Entre em contato e visite os espaços – após a pandemia:

  • Biblioteca Nélida Piñon: Travessa Luiz Gonzaga, 58 – Marcílio Dias
  • Biblioteca Popular Lima Barreto: Rua Sargento Silva Nunes, 1.010 – Nova Holanda

Entre em contato e envie os títulos que deseja doar: [email protected]

Professoras que tem como lema o amor à profissão

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Irmãs e professoras, Adriana e Monica relatam suas experiências no contexto atual

Outubro é marcado pelo Dia dos Professores (15), uma data que não é apenas de comemoração, mas de luta.  Para falar dos desafios e expectativas, o Maré de Notícias convidou duas irmãs, Adriana Bezerra e Monica Bezerra, para compartilhar seus relatos sobre a profissão no momento atual. Elas lecionam na Escola Municipal Professor Paulo Freire, na Vila dos Pinheiros e utilizam o Maré de Notícias em sala de aula.

Adriana Bezerra do Nascimento Pinheiro: graduada em Pedagogia pela UFRJ, com Especialização em Alfabetização, Leitura e Escrita também pela UFRJ. – Foto: Crédito: Matheus Affonso


Ser professora nos tempos atuais: um desabafo

Fui moradora da Maré até pouco tempo e pude viver todas as dificuldades que um morador de favela enfrenta. Durante minha vida escolar fui aluna de escola pública. Assim, pude presenciar essa realidade intensamente ao ponto de desejar para meu futuro a profissão de professora, a fim de realizar esse trabalho de forma a contribuir na vida das crianças do mesmo modo que muitos professores contribuíram de forma tão maravilhosa em minha vida.

Cheguei à universidade pública com o auxílio de um pré-vestibular comunitário que realizei na Fiocruz, e a partir da escolha acadêmica que fiz encaminhei minha vida profissional para a educação após me formar em Pedagogia. Hoje dou aula na Escola Municipal Professor Paulo Freire, que fica localizada na Vila dos Pinheiros, e atuo em uma turma de 4º ano.

Engana-se quem acha que ser professor é uma profissão de menor valor. Infelizmente não somos valorizados como a educação merece. Atualmente vivemos um momento político onde nossa conduta é tida como algo a temer, e como professora isso muito me entristece, pois como nosso grande educador Paulo Freire afirmou “ensinar não é apenas transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção”. Dessa forma, tudo o que fazemos em nossas salas de aula é ensinar nossos alunos a pensar, a criar, a arriscar, porque é assim que a aprendizagem acontece. 

Só quem está dentro de uma sala de aula sabe a real necessidade que passamos com a falta de recursos e investimentos, mas isso nunca foi motivo para que nós deixássemos de realizar nosso trabalho da melhor forma possível. Não conheço outra profissão que invista tantos recursos próprios, como fazemos tantas vezes. Nós nos envolvemos com nossos alunos inevitavelmente, porque a educação envolve afeto e no ato de afetar e ser afetado não conseguimos seguir em nossas aulas sem considerar se nossos alunos dormiram bem ou se estão alimentados. 

Nesse ano de 2020 nós fomos pegos de surpresa com essa pandemia que nos tirou de cena presencialmente. Estamos vivendo momentos muito difíceis, pois a aula que era garantida igualmente para todos nos foi tirada, evidenciando a desigualdade social. 

“Mas professora você não está dando aula on-line?” A resposta seria sim se eu considerasse apenas a minha tarefa de passar conteúdos. A realidade de uma escola pública dentro de uma favela merece ser observada com muita cautela. Estar em casa não garante que meus alunos estejam tendo acesso aos conteúdos que sigo encaminhando desde que as aulas presenciais foram suspensas.

Muitas crianças dependem do celular do responsável, pois computador nem sempre faz parte da realidade deles. Celular com internet é outra questão, já que muitas vezes a prioridade é colocar comida na mesa. Isso quando o responsável não sai para trabalhar levando o seu telefone e a nossa mensagem sequer chega até a criança.

Diante de toda essa realidade, desanimar nunca fez parte. Sabemos que tem um “grupinho” ali que nos aguarda diariamente e seguimos acreditando no que é possível e não no que gostaríamos de fazer.

Apesar de todas essas questões que destaquei, não me vejo em outro tipo de trabalho, pois não tem alegria maior em ver um aluno aprendendo e se desenvolvendo. É muito gratificante perceber que conseguiu atingir o seu objetivo. Melhor ainda é receber a visita de ex-alunos para contar sobre suas vidas e principalmente para dizer que ainda guarda boas lembranças de quando foram seus alunos. Isso não tem preço! 

Monica Bezerra Dantas da Silva: graduada em Pedagogia pela UFRJ e Pós-Graduada em Alfabetização, Leitura e Escrita pela UFRJ – Foto: Matheus Affonso

Os professores na pandemia

Minha trajetória como professora teve início na adolescência, quando dava aulas particulares na casa de meus pais, na Maré, onde morava. Somente anos depois, já adulta, ela se solidifica com a aprovação para o curso de Pedagogia na UFRJ. Com a conclusão do curso em 2015, iniciei minha dedicação profissional na Secretaria Municipal de Educação, inicialmente na Escola Municipal Teotônio Vilella, no Conjunto Esperança. Desde 2016, atuo como professora de ensino fundamental da Escola Municipal Professor Paulo Freire, na Vila dos Pinheiros.

Escrevo o presente texto a pedido de meu amigo Hélio Euclides, do Maré de Notícias, e aproveito o momento para refletir sobre minha prática como professora neste difícil período de pandemia por conta da covid-19.

Ficar sem o contato presencial dos alunos tem sido a pior coisa que me aconteceu nos últimos tempos. A necessidade de me reinventar a cada dia, e superando minhas próprias limitações e incertezas para motivar meus alunos, é um grande desafio diariamente. O cuidado com minha família e a sobrecarga de trabalho é algo que quem está de fora nem imagina. 

Hoje não vou à escola dar as aulas, elas acontecem de forma remota. Estando em casa, preciso cuidar da alimentação, limpeza e demais afazeres domésticos, o que aumenta a carga de trabalho, sobremaneira, já que na escola tínhamos um local adequado, limpo pela equipe de limpeza da Comlurb, e almoço na hora, preparado pelos agentes. Em casa preciso fazer tudo ao mesmo tempo que dou assistência remota aos alunos, que entram em contato via WhatsApp.

No início imaginávamos que seriam apenas alguns dias de afastamento, porém este período foi sendo estendido e já se vão sete meses. Tive que aprender a lidar com tecnologias que antes não considerava e muitas delas eram muito mais familiares para as crianças do que para mim.

Não imaginava a dificuldade de produzir e editar um vídeo. Nem as formas de envio e recebimento pelos alunos, que muitas vezes tem dificuldades para baixar os vídeos enviados. É ainda mais dificultoso participar on-line, pois a maioria acessa as aulas por celular. Poucos têm o próprio aparelho, e outros precisam usar os aparelhos de seus responsáveis, ficando dependentes dos momentos em que eles podem disponibilizar o uso dos seus aparelhos. Alguns responsáveis trabalham fora de casa e só podem emprestar o celular para os filhos à noite.

Infelizmente, apesar de todo o esforço, não é possível se comunicar com todos os alunos. Uma parte da turma não tem acesso às aulas remotas por não terem as ferramentas necessárias para tal. Saber desta realidade também é um obstáculo a ser enfrentado, para não desanimar.

Nestes novos tempos, recorrer a nosso patrono Paulo Freire é a melhor forma de lembrar que educação se faz com muita dedicação, num processo de ensinar aprendendo e aprender ensinando. “Somente na comunicação tem sentido a vida humana. […] O pensar do educador somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela realidade.” Freire 1987.

Vivendo esta nova realidade, a comunicação com os alunos me possibilita pensar alternativas para juntos construirmos algo que possa envolver-nos emocionalmente na superação dos desafios destes tempos de pandemia. Sabendo que não conseguirei contato com todos, e que não existe um processo de educação neutra, a dedicação permanece da melhor forma possível. Certa de estar longe do ideal, mas comprometida com o vínculo de amor e amizade para com os alunos que fora possibilitado com o contato de forma remota.