Home Blog Page 396

Coronavírus: o fator globalização

0

O grande problema de vírus como o COVID-19 é a comunicação.  
Em 23 de março de 2020 às 9h24.

Jorge Melo

O Coronavírus provocou uma pandemia mundial, que não respeita fronteiras e se espalha pelo mundo numa velocidade assustadora. Teve origem na China na cidade Wuhan, capital da província de Hubei. E quando detectado, em dezembro de 2019, foi chamado de a doença de Wuhan, o que não é correto e muito menos justo. Uma pandemia não tem pátria, poderia ter surgido em qualquer país do mundo. A China agiu rapidamente, convocou médicos e profissionais de saúde, montou em duas semanas um hospital com mil leitos e decretou uma quarentena severa, 56 milhões de pessoas só em Hubei.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom,  considerou a cidade chinesa, onde foi comunicado o primeiro caso do novo coronavírus (SARS-CoV-2), um exemplo de esperança para todo o mundo. Epicentro da epidemia na China, com quase 50.000 enfermos e mais de 2.000 mortos antes do início de março, Wuhan conseguiu controlar a doença e não registrou nenhum novo caso de contaminação local por três dias, da quinta feira, 19 de março ao sábado, 22 de março.

O grande problema de vírus como o COVID-19 é a comunicação.  Num mundo globalizado pessoas e mercadorias circulam o tempo todo. O celular vem da China, a camiseta das Filipinas, o tênis da Malásia e a camisa de algodão de Bangladesh. E comércio significa deslocamentos contínuos de pessoas. 

O coronavírus foi isolado e identificado pela a primeira vez, em 1937. Mas só em 1965, com o surgimento de microscópios mais potentes, foi descrito como coronavírus, por causa de sua aparência de coroa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) vivemos uma pandemia de um novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2. Nas duas primeiras semanas de março o número de casos de Coronavírus  [doença provocada pelo vírus COVID-19] fora da China aumentou 13 vezes e a quantidade de países afetados triplicou, alcançando 118 mil infecções em 114 nações. 

Europa e Estados Unidos

A definição de pandemia, de acordo com a OMS, não depende de um número específico de casos. Considera-se que uma doença infecciosa atingiu esse patamar quando afeta um grande número de pessoas espalhadas pelo mundo. A OMS evita usar o termo com frequência para não causar pânico ou uma sensação de que nada pode ser feito para controlar a enfermidade.

Circulando o coronavírus chegou os Estados Unidos e à Europa. Nos EUA, entre os dias 22 e 23 de março, segundo dados da Universidade John Hopkins, usados como referência, morreram cem pessoas, elevando o número de vítimas fatais para 389. O número de casos confirmados chegou a 26.900 na manhã do domingo (22), colocando o país em terceiro lugar no mundo, atrás de China (81.054) e Itália (53.578). Em 24 horas, os EUA registraram 2.693 novos casos de contaminação, mais que o dobro de todos os casos brasileiros até agora.

Na Europa, o coronavírus atingiu a Itália de forma devastadora. Entre os dias 22 e 23 de março, quando fechamos essa edição, foram 793 mortos, totalizando 4800.. Na Espanha a situação também é preocupante. Até o dia 23 de março, mil e trezentas pessoas tinham morrido e 25 mil estavam infectadas. E esses números estão crescendo em progressão geométrica. 

A jornalista brasileira Beatriz Falleiros vive um verdadeiro drama. Partiu para Madrid, no início de março. Pretendia viajar pela Europa de carro com o filho, Ulisses Frare, arquiteto que vive e trabalha na capital espanhola, mas foi apanhada pela quarenta e a suspensão dos vôos para o Brasil. Não sabe quando volta mas  procura enfrentar a situação com tranquilidade. “A quarentena estimula a criatividade para preencher o vazio de gente, de rua, e atenuado o tédio que se instala, eu e meu filho achamos até um bar virtual que reúne pessoas em isolamento mundo afora que se conectam para conversar e fazer tim-tim.”

Beatriz conta que a quarentena em Madrid é rigorosa, “sair, só uma pessoa de cada família, para ir ao supermercado ou à farmácia. A polícia exige as notas fiscais e quem não se explicar pode pagar uma multa alta e até ser preso, mesmo assim é o maior prazer da cidade-fantasma ir ao mercado rapidinho, com máscara e sacola. Os policiais te param para saber onde você vai, pedem endereço. A gente pode sair rapidamente também para depositar o lixo”.

Mas nem tudo é ruim, segundo Beatriz, a solidariedade e o espírito comunitário ajudam a seguir em frente ”todas as noite, nas sacadas e varandas dos prédios a gente conversa com os vizinhos, tem sempre gente cantando e regularmente nós aplaudimos médicos, enfermeiros e agentes de saúde que estão cuidando da população”. Ao mesmo tempo as autoridades vão tornando o controle mais rígido, “medidas mais duras vão limitando a rotina já tão restrita da vida em isolamento, a medida mais recente foi o fechamento dos hotéis”, diz ela.

Portugal 

Assustado com a situação na Espanha, o governo português procurou se antecipar e desde de 16 de março tomou uma série de medidas para evitar que o coronavírus se espalhe pelo país com a velocidade que atacou a Itália e Espanha. Em Portugal, até o dia 23 de março foram registrados 1600 casos e 14 vítimas fatais do coronavírus.   A quarentena e a redução das atividades foram as mais importantes. Portugal e Espanha são praticamente um país só com um intenso intercâmbio econômico, social e cultural. 

Flora Costa Nogueira é cidadã portuguesa, mas nasceu e viveu a maior parte da vida no Brasil. No fim de 2018 decidiu ir morar em Portugal, em busca de uma vida mais tranquila. Escolheu uma pequena vila, a 40 quilômetros de Lisboa, Aveiras de Cima. Segundo ela, estamos lutando contra um inimigo invisível. Em Portugal, reuniões em família, cultos em igrejas, eventos passeios, exercícios em grupo estão proibidos, 

nos bancos é atendida uma pessoa por vez, sem máscara para poder ser identificada. “As filas se formam do lado de fora, com espaço de um metro e meio entre cada uma delas; os hospitais criaram entradas separadas para quem tem suspeita de contaminação e o sistema de saúde pede aos cidadãos que não busquem os postos de saúde nem hospitais; foi liberado um número de telefone para o primeiro contato. O vírus não faz distinção de religião, classe social ou situação. Mas como é mais mortal para aqueles que já tem algum problema de saúde como asma, bronquite, diabetes. É preciso que todos contribuam para a evitar a propagação da doença”.

Segundo a diretora-geral assistente para Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da Organização Mundial da Saúde, a brasileira Mariângela Simão, não existe no momento nenhuma vacina apta para combater o coronavírus mas 20 estudos estão em curso “ essas pesquisas demandam tempo, em torno de um ano. Por isso as medidas preventivas como o isolamento são tão importantes”, diz ela.

É #FakeNews que morador do Morro do Timbau, na Maré, contraiu Covid-19 e está circulando, colocando em risco a saúde dos demais moradores

0

Os veículos de notícias estão trabalhando diariamente para reportar informações verdadeiras e combater as falsas; veja dicas para checar a veracidade de notícias

Flávia Veloso

Nos últimos dias, circulou em grupos de WhatsApp que um morador da Rua Meireles, no Morro do Timbau, havia contraído Covid-19 e estava circulando constantemente pelas ruas, usando máscara e luvas, colocando a saúde dos mareenses em risco. De fato, esse morador apresentou sintomas e procurou uma Unidade de Pronto Atendimento, para receber orientações. Por estar com sintomas do novo coronavírus, ele foi orientado a fazer quarentena, e desde então o morador está cumprindo corretamente a orientação. Até o momento, o único caso confirmado em favelas cariocas é o de um morador da Cidade de Deus.

É muito importante que a população tome todos os cuidados para não compartilhar fake news, principalmente em um momento de crise na Saúde. Os veículos da grande mídia, portais de comunicação de favelas e agências de checagem de fatos têm trabalhado diariamente para divulgar informações verdadeiras e combater as falsas sobre o novo coronavírus.

DESCONFIE PARA NÃO DESINFORMAR

Quando receber uma notícia ou informação, confira qual veículo está reportando. Se você não reconhecer, faça uma busca no Google, e procure saber se outros sites conhecidos e confiáveis estão corroborando ou não aquilo. Caso a dúvida permaneça, é melhor não compartilhar. A intenção pode ser a de ajudar seus amigos e familiares, mas a consequência pode ser o contrário.

Da Maré para o mundo

“Garotas da Maré”, página de comunicação tocada por duas mulheres da Maré e direcionada principalmente para o público feminino, aborda temas da atualidade com muita informação e clareza

Maré de Notícias #110 – março de 2020

Flávia Veloso

Política, feminismo, cultura, entretenimento, atualidades, história… O perfil no Instagram das “Garotas da Maré” tem como objetivo atingir o público – principalmente o feminino – com informação, embasamento, clareza e leveza na escrita: um papo de mulher para mulher. Com cerca de quatro meses de atividade, suas criadoras e administradoras, as irmãs Simone Lauar e Anna Cláudia Neves, moradoras do Salsa & Merengue, na Maré, selecionam diariamente conteúdos informativos que conversam com a atualidade e colocam leitores e leitoras para pensar e refletir sobre os acontecimentos e a sociedade.

Simone viu que faltava algo na comunicação que retratasse a Maré além das questões da segurança pública: “As coisas que eu mais vejo sobre a Maré nos veículos de comunicação sobre tiroteio e morte, e acabam associando a gente a só isso. Eu queria fazer algo que fugisse disso e ainda assim que falasse do território, porque aqui dentro tem cultura, informação e outros assuntos que não a violência. E o conteúdo da gente não deixa de ser jornalístico, mas é feito de uma forma mais branda, mais leve e mais objetiva.”

Um novo olhar para o território

Mesmo morando na Maré há 20 anos, Simone Lauar, que é quem escreve e faz as publicações, não se sentia parte da favela. Anos depois, terminando o ensino médio no Colégio Estadual César Pernetta, localizado no Parque União, assistiu a uma palestra da jornalista Gizele Martins no colégio, que despertou em Simone interesse pela comunicação. E foi essa ferramenta que abriu seus olhos para a importância e a riqueza do lugar onde já morava há anos.

Foi voluntária de um jornal comunitário da Maré durante quatro anos, mas sentia que precisava de um espaço onde pudesse falar de outros assuntos que considerava relevante para o público. Foi quando resolveu criar o “Garotas da Maré”, que é, como diz em sua página: “notícias pelos olhos de garotas mareenses”.

Marielle plantou semente

“Foi lá [no jornal em que trabalhei] que eu conheci a Marielle. Não falo que sou semente dela à toa, só para parecer bonito. Ela realmente ampliou minha visão para muitas coisas, em relação à política, à favela. Eu achava que morar aqui era um castigo, mas ela me fez perceber que a favela, na verdade, me enriquecia muito. Ela é minha maior inspiração, eu aprendi com ela muito do que sei”, disse Simone.

As donas do blog fazem questão de sempre incentivar a leitura e a busca por conhecimento: “Se nós temos o país que temos hoje, é porque as pessoas não estão sintonizadas principalmente com a história, com o passado. Um exemplo disso é quando as pessoas exaltam a ditadura e pedem sua volta. Meu avô foi perseguido na época da ditadura militar, ele era sambista, e ser sambista naquela época era sinônimo de ser vagabundo.”

Lauar pretende estudar comunicação e fazer cursos na área, pois tudo o que aprendeu até então foi praticando a profissão. Entretanto, os planos de estudo não param por aí. A comunicadora pretende cursar Ciência Política, o que também pode servir como embasamento para seus conteúdos de opinião. Descendente de família mineira e de mulheres cozinheiras, Simone quer ainda se aperfeiçoar na culinária, com uma faculdade de gastronomia, área em que já trabalha fazendo quentinhas vegetarianas e veganas que entrega dentro e fora da Maré a preços acessíveis.

E, aos poucos, o objetivo de informar – especialmente o público feminino – das Garotas da Maré vem se cumprindo. Mulheres da família, amigas e vizinhas já comentam com Simone e Anna que suas publicações as levaram a questionar, pesquisar e buscar respostas. Daqui pra frente, é fazer o público crescer ainda mais.

Siga e acompanhe os conteúdos das Garotas da Maré em seus canais de comunicação

Instagram: @garotasmare

Twitter: @GarotasdaMare

Siga o serviço de culinária vegetariana da Simone Lauar no Instagram: @lauarhome

2019: maior letalidade em operações policiais

Violações e 300 horas de operações policiais marcam lançamento de dados sobre violência armada na Maré em 2019

Maré de Notícias #110 – março de 2020

Jéssica Pires e Dani Moura

O lançamento da 4ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré reuniu cerca de 100 pessoas na tarde de 14 de março no Centro de Artes da Maré para apresentação e análise dos dados sobre violência armada na região em 2019.

Os dados coletados e apresentados pelo projeto “De Olho na Maré”, do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, revela que os moradores da Maré viveram cerca de 300 horas de operações policiais, o que representou uma operação a cada 9 dias. Foram 49 mortes, num aumento de mais 100% em relação a 2018 (34 em decorrência de ação policial e 15 por ação dos grupos armados) e 45 feridos por arma de fogo na região em 2019. O relatório traz dados e análises dos impactos da violência armada nas 16 favelas da Maré durante o ano de 2019.

O caráter racista das mortes foi evidenciado na fala dos debatedores presentes: Aline Maia, coordenadora do eixo de Direito à vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas; Pedro Abramovay, diretor regional da Fundação Open Society para a América Latina e Caribe; Vitor Santiago, morador da Maré alvejado por agentes das Forças Armadas em fevereiro de 2015 e Camila Barros, coordenadora do projeto “De olho na Maré”, da Redes da Maré. “Falar da mulher, sobretudo da mãe favelada, é muito emblemático. Os dados quantitativos falam sobre os jovens negros que mais morrem, mas os qualitativos evidenciam a presença das mulheres que estão próximas nesse momento de luto”, observou Camila.

O debate aconteceu entre moradores, ativistas dos direitos humanos, comunicadores e organizações locais sobre os dados monitorados no ano de 2019 pelo projeto, que também revelam que  a saúde e a educação dos que residem e trabalham na Maré também foram diretamente afetadas pela violência armada. Foram 24 dias sem aulas nas nas escolas da região, totalizando até 12% dos dias letivos perdidos e 25 dias sem atendimento médico nas unidades básicas de saúde estimando-se que 15.000 atendimentos não foram realizados por conta de operações.

Desde 2016, quando o monitoramento dos  dados começou a ser feito, foi identificado que as incursões suspendem os direitos básicos dos moradores e com grande uso de aparato bélico. Para a coordenadora do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, Lidiane Malanquini, o Boletim surge da ausência de dados que contemplem o impacto das operações policiais na Maré. Para ela, o dado que mais chama a atenção é o recorde de 34 mortes praticadas por agentes do Estado em 2019  sendo 100% pretos e pardos, demonstrando que a política de segurança pública do Rio de Janeiro tem alvo seletivo e atua para reforçar o racismo estrutural da sociedade brasileira, atingindo sobretudo jovens negros das favelas e periferias. “O Boletim surge para construir novos parâmetros de avaliação pensando como isso impacta no cotidiano de quem mora e está na Maré. Historicamente, os indicadores de sucesso de uma operação policial são medidos através do número de pessoas presas, apreensão de drogas e armas. A produção de dados e narrativas de quem sofre os impactos severos desta política de segurança que não preserva a vida, fecha escolas, postos de saúde e limita tantos outros direitos, é fundamental para pensarmos como as políticas públicas podem se estruturar a partir das necessidades e das demandas locais”, destacou Lidiane.

Confira a íntegra da  4ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré com os dados completos: www.redesdamare.org.br e nesta edição um resumo especial sobre o levantamento.

Os sintomas da imobilidade urbana

Introduzindo uma série de matérias sobre “mobilidade urbana” no Rio de Janeiro e no Conjunto de Favelas da Maré, o Jornal Maré de Notícias apresenta os principais problemas enfrentados pelos moradores, para transitar na  cidade.

Flávia Veloso

A Lei brasileira entende como mobilidade urbana o deslocamento de pessoas e cargas em um espaço urbano. De acordo com a Lei da Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/de 2012), para que os municípios brasileiros alcancem o ideal em termos de mobilidade, é necessária uma série de medidas que não visam, somente, ao ir e vir. São colocadas, em pauta, a qualidade da acessibilidade, questões ambientais, segurança, planejamento, para  melhor locomoção e, ainda, muitos outros fatores que têm o objetivo de garantir o bem- estar do cidadão. A partir desta compreensão, é que vemos como o município do Rio de Janeiro ainda está muitodistante de ser uma cidade em que a mobilidade urbana seja prioridade.

Os sinais da falta de mobilidade  no Rio de Janeiro  podem ser  vistos, inclusive,  em números. Uma pesquisa realizada pelo aplicativo Moovit – plataforma sobre mobilidade urbana que oferece informações dos transportes públicos da cidade – apontou que o carioca é quem mais gasta tempo dentro do transporte público. Na Região Metropolitana do Rio, uma pessoa passa, em média, 67 minutos (mais de uma hora) numa  condução, para chegar ao local de destino

E antes fosse somente o tempo gasto dentro dos transportes. É recorrente que o carioca reclame – e com razão – de outros problemas, como a falta de higienização dos ônibus, linhas extintas ou reduzidas e sem climatização e tudo isso quando se promete, desde 2012, que 100% da frota estariam com ar-condicionado. Desde então, a tarifa já foi aumentada cinco vezes e é a 8ª mais cara dentre as 26 capitais do País, mas a cidade não tem mais que 75% da frota climatizada.

Menos opções de ônibus

Karolina Paulino é moradora da Vila do João e trabalha de segunda a sexta-feira na Barra da Tijuca. Para chegar ao trabalho, Karolina pega o ônibus 315, na Avenida Brasil, pela manhã. Mesmo vindo cheio, ela conta que o transporte passa em intervalos de 10 minutos, quando então consegue pegá-lo com facilidade. O problema maior, na verdade, é na hora de voltar para casa, que os intervalos chegam a meia hora e, às vezes, os motoristas nem param, pois os ônibus já estão lotados.

Um levantamento feito pelo Jornal O Globo mostrou que mais de 1.200 ônibus foram tirados de circulação do município do Rio de Janeiro nos últimos anos. Algumas das linhas extintas passavam em partes das favelas da Maré, como as  linhas 955 e 957, que iam até a Barra da Tijuca, e serviam como opção para Karolina, que poderia fazer o caminho de ida e volta do trabalho  para sua casa com mais conforto e sem  esperar tanto tempo.

No caso das favelas da Maré, além das linhas que não existem mais, há também os ônibus que tiveram seus trajetos diminuídos e  não circulam  pela região, que tem uma população de  140 mil habitantes. Na realidade, a situação ficou bastante crítica, já que  os moradores tiveram seus acessos dificultados em locais como Centro, Zona Sul e Baixada Fluminense. E pensar que as favelas da Maré estão localizadas entre as principais vias de acesso à cidade do Rio de Janeiro – Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela.

A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) justifica a redução da frota pela fato de haver muitas  irregularidades com os carros  em circulação, além  da  baixa procura dos usuários. De acordo com a SMTR, sua equipe faz constantes fiscalizações em terminais, garagens e ruas, para verificar as condições dos carros e se os contratos estão sendo cumpridos.

Acessibilidade dificultada

Lorrayne Gomes relata dificuldades para deslocamento em transportes coletivos e passarelas | Foto: Douglas Lopes

Com um filho de 13 anos, Isaac, que necessita de cadeira de rodas para se locomover, Lorrayne Gomes, moradora da Vila do João, já desistiu de tentar transitar pela cidade de ônibus, metrô ou trem. Ela não consegue trabalhar fora de casa, pois a demanda para  cuidar do filho é muito grande. Ela tem sobrevivido com uma ajuda de custo do Estado. Boa parte desse auxílio vai para pagar carros particulares para levar o filho a consultas médicas e exames. Para conseguir sair da Vila do João para outros bairros, ela e o filho precisam enfrentar calçadas estreitas, sem rampas, cheias de barreiras e até quebradas. Passados esses obstáculos, ainda tem de contar com a “sorte” de pegar ônibus com elevadores adaptados para cadeiras de rodas que funcionem e motoristas que saibam operar o maquinário.

A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Tecnologia (SMDT) não tem, nas suas funções, nenhum  poder de fiscalização do funcionamento dos elevadores ou da operacionalização feita pelos condutores. Seu trabalho é buscar parcerias para promover campanhas de conscientização, como foi o caso da “Rio + Acessível”, que realizou com a Secretaria Municipal de Transportes. Em 2019,  foram feitas  blitzes  em vários pontos da cidade, para fiscalizar se os carros estavam com seus elevadores em pleno funcionamento.

Outro problema enfrentado por  Lorrayne para se movimentar  com seu filho na cidade é quando precisa usar  a passarela  para acessar o outro lado da Avenida Brasil. A passagem que fica mais próxima da sua residência é de ferro e madeira e só tem degraus. Esta era para ser provisória, mas já dura quase 10 anos,  inclusive o assunto foi pauta do Jornal Maré de Notícias nos anos de 2011 e 2012. [Para ler, acesse o www.mareonline.com.br]

O que você paga dá conta?

 “O valor das passagens de ônibus são direcionados aos custos e investimentos em operação, compra e manutenção de carros e garagens, pagamento de pessoal, combustíveis entre outras coisas”, explica Rosangela Luft, professora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os gastos com manutenção e melhorias de ruas e calçadas são de responsabilidade do poder público, então, o valor da tarifa não entra nessa conta.

É previsto no contrato de concessão entre as empresas de ônibus e a Prefeitura que o dinheiro arrecadado das passagens de ônibus cubra integralmente os gastos com a frota, mas essa é uma conta que o carioca desconhece. As empresas de ônibus não disponibilizam suas contas ao público, o que dificulta  saber para como os recursos são utilizados para o serviço de transporte, que é um dos direitos de toda a população. Essa questão,  sobre  o valor justo a ser pago por uma passagem, é um das muitos temas  levantados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus, que tem como responsabilidade garantir  a transparência na gestão das empresas que controlam as linhas no município.

Soluções para “desafogar” o tráfego

Rosangela Luft lista diversos caminhos para melhorarar a situação dos transportes. Ela começa citando a restrição para o uso de  veículos individuais,  o que reduziria  espaços para estacionamento. Poderia ser feito a partir da cobrança de taxas para uso em determinados locais, dias e horários, por exemplo. Rosângela ainda aborda uma questão bem mais complexa, que são as centralizações de áreas econômicas em determinados lugares do Rio. Para ela, as atividades econômicas, residenciais e sociais devem ser distribuídas por toda a cidade, diminuindo a necessidade de longos deslocamentos.

Outro ponto abordado pela professora é o de integração de meios de transporte e de tarifas, uma solução partilhada por Jailson de Souza e Silva, professor universitário aposentado, fundador do Observatório de Favelas e do IMJA (Instituto Maria e João Aleixo).  Em entrevista ao Maré de Notícias, em dezembro de 2016, Jailson aponta, como possíveis medidas para melhorar a situação do transporte urbano no Rio de Janeiro,  a expansão das linhas de metrô, sua integração com os trens e investimentos em ciclovias e nas barcas: “O direito à mobilidade não é uma preocupação dos governantes, afirmou. Seria fundamental estudar possibilidades para o estado: o metrô para Itaboraí e adjacências, o modal alternativo que seriam as ciclovias, as hidrovias, como uma barca de São Gonçalo à Praça XV. E por fim, a transformação dos trens em metrô e, nesse segmento,  criar mais linhas de metrô por superfície.”

Passarelas da Avenida Brasil, que há pelo menos 10 anos são provisórias, dificultam acessibilidade | Foto: Douglas Lopes

Siri não anda para trás

0

Mestre-sala e porta-bandeira de Ramos se destacam e são premiados

Hélio Euclides

O mestre-sala e a porta-bandeira do Grêmio Recreativo Escola de Samba Siri de Ramos não andam para trás e nem para o lado, seguem em frente e sambam para alavancar a agremiação. A apresentação aconteceu na terça-feira de carnaval, na Avenida do Povo, como é conhecida a Estrada Intendente Magalhães, em Campinho. A escola ficou em quarto lugar, com 267, 6. O destaque da agremiação, localizada na favela Roquete Pinto, na Maré, foi o segundo casal de porta-bandeira e mestre-sala, Patrícia Machado e Gabriel Coleto.

Os dois foram premiados na oitava edição do “Samba na Veia”, prêmio que valoriza e reconhece o carnaval das escolas de samba da Intendente Magalhães. Patrícia, de 45 anos, se sentiu surpresa com a homenagem. “Uma felicidade grande, especialmente para alguém que ficou afastada por 18 anos, receber esses dois prêmio, foi muito compensador e prazer em dobro, porque eu fiz os meus dois figurinos um dia antes do desfile”, conta ela, que também foi premiada pela atuação no Acadêmicos do Dendê. A agremiação da Ilha do Governador ficou em quarto lugar no Grupo de Avaliação, antigo Grupo E, o que garante em 2021 desfilar no Grupo de Acesso da Intendente, antigo Grupo D.

Este ano foi a primeira vez que ela desfilou pela Siri de Ramos, e a segunda do parceiro de passos, o mestre-sala Gabriel. A modelista, costureira e empresária de uma marca de moda infantil diz que esse amor pelo carnaval se mostrou aos sete anos. “Eu pegava uma toalha e amarrava no cabo de vassoura e ficava tentando ser uma porta-bandeira. Um dia, nos ensaios, repeti a façanha, e o diretor de harmonia da Dendê me ensinou a arte e pela primeira vez desfilei na Rio Branco, defendendo o pavilhão. Realizei um sonho”, comenta. 

O estudante Gabriel, de 18 anos, começou no samba como passista no bloco de enredo Tigre de Bonsucesso. Na época tinha cinco anos e veio na ala das crianças. Em 2017, foi aprovado para ser passista da Alegria da Zona Sul. “Realizei o sonho de desfilar pela primeira vez na Sapucaí e descobri pelos amigos do meu pai que eu tinha um riscado de mestre-sala”, explica. Ele entrou na escola de mestre-sala do mestre Dionísio. Com a arte da elegância, desfilou no Aprendiz do Salgueiro e duas vezes pela Mangueira. 

Ao assistir uma final de escolha de samba do Siri de Ramos, encantou-se pela escola e se integrou à agremiação. Também recebeu o convite para bailar na Acadêmicos do Dendê. “Na escola da Ilha do Governador conheci essa pessoa tão amável, que é a minha porta-bandeira. Mas tenho um grande amor por essas duas agremiações. Me tratam com carinho surreal e meu sentimento é de ser filho das duas escolas”, conta. Gabriel comemora esse primeiro prêmio. “Eu me sinto muito feliz, é sinal que estou no caminho certo”, conclui. 

Carnaval de 2021 ainda não está definido. 

Março começou, mas três agremiações brigam pelo direito de subir para a Série A. Porém, só existem duas vagas, garante a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Lierj), que administra as agremiações que desfilam na sexta-feira e sábado na Sapucaí. 

Para a Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil (Liesb), sobem Lins Imperial e da Em Cima da Hora, respectivamente, campeã e vice-campeã do desfile organizado por ela. Só que a dissidente Liga Independente das Verdadeiras Raízes das Escolas de Samba (Livres), reivindica uma das vagas para a Tradição. Em janeiro, a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) afirmou que tanto a Liesb quanto a Livres compartilhariam os desfiles carnavalescos. Que todas as filiadas, de ambas as Ligas, desfilarão, em dois momentos diferentes, iniciando o desfile da Liesb, às 18h e a Livres, às 23h.

“O combinado não foi respeitado, as nossas escolas entraram para desfilar às quatro da manhã, com término depois das nove horas. Mesmo assim fizemos desfiles com dignidade e garra”, falou Rafhaela Nascimento, presidente da Livres, em apuração no Terreirão do Samba, ao Jornal Maré de Notícias. Ela promete tomar medidas cabíveis para que a Tradição desfile em 2021 na Sapucaí. A Livres reúne seis escolas: Arame de Ricardo, Unidos de Lucas, Tradição, Siri de Ramos, Vizinha Faladeira e Alegria da Zona Sul.

Outra reclamação foi a mudança no carnaval da Intendente. Em 2018, os desfiles eram divididos em Grupo B, C, D e E. O Grupo B tinha apenas 13 escolas. Esse ano a Liesb realizou a fusão do Grupos B e C, fundando o Grupo Especial da Intendente, com 20 escolas. O Grupo D foi batizado de Grupo de Acesso da Intendente. Já o Grupo E foi definido como Grupo de Avaliação. No ano de 2021, a promessa é que o Grupo Especial da Intendente terá 26 escolas. A medida dificulta o compartilhamento da terça-feira de carnaval com a Livres, como foi feito este ano.