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Prefeitura do Rio reforça protocolo de calor com a chegada do verão

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O plano inclui uma série de ações para monitorar os níveis de calor e reduzir os efeitos da crise climática na cidade

O último sábado (21) marcou oficialmente o início do verão, que no Brasil também chega junto com as férias escolares e festas de fim de ano. Mas, nem tudo é agradável: a cidade do Rio, já muito conhecida por ter “verão o ano todo”, tem tido dias de sol ainda mais cruéis nos últimos anos, com impactos que afetam diretamente a qualidade de vida da população.

Para mitigar os efeitos da crise climática, a prefeitura do Rio de Janeiro  criou, por meio de decreto, o Comitê de Desenvolvimento de Protocolos para Enfrentamento de Calor Extremo (CDPECE). Em seu plano de contingência, o órgão diz que o acompanhamento dos Níveis de Calor (NC)  é uma medida para melhor demandar a atuação de outras esferas governamentais quanto aos riscos à saúde.


Protocolo de Calor

O Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo é uma resposta às altas temperaturas sentidas, literalmente, na pele. Em parceria com órgãos de saúde, sanitários e defesa civil, o plano inclui uma série de ações para reduzir os efeitos da crise climática, buscando entender as vulnerabilidades individuais e comunitárias. As unidades de saúde já têm sido reforçadas com equipes capacitadas para atender casos de desidratação e outros problemas relacionados ao calor, bem como priorizar o atendimento aos grupos de riscos (gestantes, idosos, crianças e imunossuprimidos). Os avisos para ondas de calor serão dados com antecedência por meio de sistemas de monitoramento meteorológico, permitindo que as autoridades preparem a cidade para a chegada de temperaturas extremas.

No último dia 16, ainda na primavera, a cidade do Rio de Janeiro entrou no segundo dos cinco níveis de calor. O NC2 se caracteriza por temperatura entre 36° e 40°, por um ou dois dias consecutivos e mais de quatro horas diárias. Com a chegada do verão as preocupações são ainda maiores: “No município do Rio de Janeiro, em 2023, foram observados os maiores registros contínuos de temperatura desde 2003. Em 2024, a observação já se repetiu, com previsão da ocorrência de cada vez mais eventos climáticos severos” , alerta a prefeitura.

Maré 40°

Ainda que a crise climática seja globalizada, o racismo ambiental escancara que para alguns tudo pode ser ainda pior. Ao andar pela zona sul da cidade, logo é possível notar a arborização trazida pelas árvores, mesmo em dias quentes, mas basta alguns minutos no “outro lado da cidade” para perceber que as mudanças climáticas não são iguais para todo mundo.

Em cartilha lançada pelo projeto EcoClima, da Redes da Maré, é possível notar que as Ilhas de Calor evidenciam as desigualdades sofridas pela população de um mesmo município. Segundo a pesquisa, “o desconforto térmico causado pela forma como o espaço urbano é produzido, afeta, não só o meio ambiente, mas também põe em risco a saúde de nós, moradores de favelas e periferias”. 

Com a qualidade do ar cotidianamente inferior devido a territorialização das três principais vias expressas da cidade ao redor da Maré, as Ilhas de Calor intensificam o acúmulo  de poluentes causado pela baixa qualidade do ar, assim agravando a possibilidade de  problemas respiratórios em moradores. Além disso,  o fenômeno  pode alterar  os padrões climáticos locais, interferindo na formação de nuvens e chuvas.

Para minimizar os impactos das alterações do clima, o  projeto incentiva o desenvolvimento de espaços verdes na comunidade, e políticas públicas que trabalhem para um melhor planejamento urbano sustentável.

Se cuida, morador! 

Principais recomendações:

  • Aumente a ingestão de água ou de sucos de frutas naturais, sem adição de açúcar, mesmo sem ter sede;
  • Consuma alimentos leves, como frutas e saladas;
  • Utilize roupas leves e frescas;
  • Evite bebidas alcoólicas com elevado teor de açúcar. Pode provocar desidratação;
  • Evite a exposição direta ao sol, em especial, das 10h às 16h;
  • Informe-se sobre os níveis de calor na cidade do Rio de Janeiro por meio das redes sociais e sites do Centro de Operações e da Secretaria Municipal de Saúde

Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

Pesquisa vai mostrar como é a alimentação das crianças da Maré 

O estudo vai mapear o cotidiano alimentar de famílias com crianças de 5 a 10 anos. Dividida em três etapas, a iniciativa começou com um grupo focal, promovendo uma roda de conversa no Observatório de Favelas

O Instituto Desiderata deu início a pesquisa: Avaliação do Ambiente Alimentar e Estado Nutricional de Crianças e Adolescentes Residentes em Favelas. O estudo consiste em avaliar o ambiente alimentar de favelas de três favelas brasileiras, Maré, Caramujo, em Niterói e Coque, no Recife. O objetivo é associar a situação de segurança alimentar e o estado nutricional de famílias com crianças, com vistas a subsidiar ações de incidência política.

Um dos pontos que a pesquisa vai identificar é como se encontra o grau de obesidade infantil nas favelas. Segundo um levantamento do Observatório de Saúde na Infância, uma parceria da Fiocruz e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase) revela que em crianças brasileiras de até 5 anos, o excesso de peso, que inclui casos de sobrepeso e de obesidade afeta uma em cada dez e um em cada três adolescentes, de 10 a 18 anos, em 2022. No quadro mundial, o Brasil possui 14,2% de crianças com excesso de peso e 5,6% da média global registrada em 2022. Em relação aos adolescentes, a média nacional apontou que 31,2% estão acima do peso, quase o dobro da média global de 18,2%.

Na Maré, a pesquisa vai mapear o cotidiano alimentar de famílias com crianças de 5 a 10 anos. Dividida em três etapas, a iniciativa começou com um grupo focal, promovendo uma roda de conversa no Observatório de Favelas. Na ocasião, sete responsáveis participaram do encontro e discutiram as características do ambiente alimentar nas favelas. Os participantes destacaram a importância de uma alimentação saudável, ressaltando os benefícios de verduras e legumes. Também compartilharam suas experiências sobre onde costumam fazer compras no território, como feiras livres, mercados e sacolões. Apesar disso, apontaram a ausência de estabelecimentos que ofereçam opções como sanduíches naturais, evidenciando lacunas na oferta de alimentos mais saudáveis.

Os responsáveis também relataram a existência da dificuldade financeira e de tempo. Segundo eles, nas áreas urbanas é muito difícil manter a alimentação saudável, pois há muita concorrência de alimentos ultraprocessados. Para eles, uma alimentação mais natural só é mais fácil para quem mora em sítios. Eles também deram sugestões de como incentivar para alavancar as vendas de produtos saudáveis, os comerciantes a colocarem os produtos que estão perto de vencer a validade por um preço mais baixo ou até mesmo doar. Também pediram mais cursos envolvendo o ambiente gastronômico na favela, mas sem o limite de idade.

“Acredito que aprenderemos sobre os alimentos mais saudáveis e vamos compartilhar”, conta Cleide de Oliveira, moradora da Nova Holanda. Os moradores avaliaram também a alimentação escolar. Uma característica é que as crianças criam um hábito dos horários que se alimentam na escola, que acabam seguindo isso em casa.

A segunda etapa acontece em 2025, com a realização de 400 entrevistas de casa em casa, nas favelas da Nova Holanda, Parque União, Parque Rubens Vaz, Parque Maré, Praia de Ramos e Morro do Timbau. Serão perguntas socioeconômicas sobre compra de alimentos para casa, sobre o acesso aos alimentos, e o consumo desses alimentos pelas crianças, além de medir o peso e altura da família. Além das entrevistas nas residências, ocorrerão pesagem dos familiares. “A primeira etapa foi um momento produtivo, em que todos puderam participar da conversa e que venha a pesquisa para a melhoria”, comenta Joyse Gabriel, moradora da Nova Holanda.

Os questionários vão revelar as condições das pessoas que se alimentam em diferentes localidades, especificamente qual a diferença da Maré para a Zona Sul. A terceira etapa tem como objetivo final propor políticas públicas para que a favela possa acessar a alimentação adequada a partir das necessidades percebidas na pesquisa.“Acredito que essa fase foi um sucesso. É muito importante escutar e assim conhecer os desafios e estratégias que são feitas para colocar no prato os alimentos saudáveis. Podemos juntos argumentar com os governantes para a implantação de políticas públicas necessárias”, destaca Sophia Rosa, gerente de saúde em obesidade do Instituto Desiderata.

Mareenses lançam caderno com reivindicações ao Governo

Sede da Fiocruz reuniu lideranças comunitárias e políticas para a entrega de documento

“Primeiro, quero saudar todas as pessoas aqui na mesa e, principalmente, saudar todas as pessoas que estão no dia-a-dia da nossa luta. É muito bom ver vocês aqui. Eu estava vindo para cá e pensando, meu Deus, quase natal. Será que vamos conseguir dar a relevância que tem esse processo? Então, muito obrigada”. A fala foi de Eliana Sousa, Presidente da Redes da Maré e uma das lideranças convidadas para compor a mesa.

O ‘Caderno de respostas: demandas das associações de moradores do Complexo de favelas da Maré’, fruto de um formato conhecido com uma proposta inédita, reúne orientações sobre investimentos e políticas públicas voltados para os 140 mil mareenses e seu território. Para isso, os presidentes das Associações de Moradores foram os escolhidos para representar as vozes das 15 favelas da Maré. A cerimônia aconteceu na última sexta (20), às 10h30, no auditório do Museu da Vida, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Estamos aqui hoje por conta de uma provocação que foi feita em um momento difícil em que nós estávamos vivendo a possibilidade da Guarda Nacional ocupar a Maré. Aquilo nos deixou apavorados. Fomos à Brasília para tentar discutir sobre esse processo e de como o Governo Federal, de alguma maneira, se compromete com essa questão, que é local, mas que não é tão local assim. Questionamos essa possível intervenção e discutimos o papel que o Governo Federal poderia cumprir nesse processo de implementação de direitos. Pensamos: ‘Por que, já que estamos aqui,  não articular para que outras políticas, e não essa que consideramos equivocada da segurança pública, seja apoiada pelo Governo Federal? Por que o Governo Federal não apoia outras iniciativas no campo dos direitos que nós, historicamente, tanto lutamos?’. Nesse ano, faz 30 anos que a Prefeitura do Rio tornou a Maré um bairro, mas ainda não temos uma coisa chamada cidadania de bairro, que são os serviços públicos aos quais toda a população ali tem direito, igual as outras partes da cidade. Como uma pessoa que cresceu na Nova Holanda, lutamos por esse reconhecimento. A Maré tem 140 mil pessoas (Censo Maré). De fato, é maior que 96% das cidades brasileiras. Isso diz muito sobre as demandas que a Maré tem. É importante relembrar essa luta porque são direitos básicos, não um favor”, conclui a presidente.

Junto a eles, outras lideranças formaram a roda de conversa. São elas: Valtemir ‘Índio’ Messias (Presidente da Associação de Moradores da Vila do João); Vilmar ‘Magá’ Gomes (Presidente da Associação de Moradores da Rubens Vaz); Izadora Gama Brito, Secretária-Adjunta da Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas; Renata Souza, deputada estadual do Rio de Janeiro; Cristiani Vieira Machado, Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Valcler Rangel Fernandes, Assessor Especial do Gabinete da Ministra da Saúde; Karoliny Martins, antropóloga e pesquisadora de Drogas e Políticas Públicas e Josué Medeiros, cientista político e professor universitário. A mediação ficou por conta de Pamela Carvalho, historiadora e pesquisadora na Redes da Maré.

“A gente tem um processo aí em busca por melhorias para as nossas comunidades e não é fácil. Encaminhamos nossas reivindicações e a resposta está aqui hoje. Isso é muito importante para o nosso território, só nos fortalece. Nós, presidentes das Associação de Moradores, sabemos muito bem que não é tão fácil lidar com a comunidade no seu dia a dia, porque o morador cobra muito, e cobra com uma certa razão. Só que nós, gestores, temos as nossas dificuldades, E temos aí hoje a Redes da Maré que está nos ajudando e isso é muito importante para nós. Nós do terceiro setor, organização civil organizada, precisamos de parcerias. Precisamos muito do poder público que olhe para nós e veja nossos direitos, seja na educação, saneamento básico, moradia, enfim. Hoje, por exemplo, na minha comunidade, não temos varredura (varrição de logradouro). Mesmo sendo um bairro com 5 sub-bairros, a gente vive com muita sujeira nas ruas. Espero que essa conversa aqui chegue aos ouvidos do Eduardo Paes (Prefeito do Rio de Janeiro). Os políticos nos procuram em período eleitoral. E nem queria que eles viessem presencialmente não. Que venham para cá, para a comunidade, com serviços, com encaminhamento de serviços, por isso que seja executado plausivelmente para nós, porque as comunidades precisam muito do poder público, e sem o poder público a gente não consegue andar”, relata. Magá completa a fala de Índio: “Eu sou presidente há 33 anos. Pensei que iria morrer e não veria um parque surgindo na Maré para todas as comunidades. Então eu vejo essa luta aqui de guerreiros. E vamos esperar que esse caderno de respostas seja cumprido porque a Maré sofre até hoje com o saneamento básico. Vocês podem ir em qualquer comunidade da Maré, não é só na minha, e tem esgoto a céu aberto”.

Além de devolver o protagonismo da luta aos moradores da Maré, também demonstra que a mudança só é possível a partir da mobilização coletiva e que, por também fazer parte da cidade, a Maré precisa ser incluída na elaboração de políticas públicas e no planejamento orçamentário do governo. Dividido em 13 eixos, o documento reúne demandas referentes aos seguintes temas: educação, direitos socioambientais, segurança pública e acesso à justiça, direitos urbanos e habitação, saúde e segurança alimentar, direitos das mulheres, igualdade racial, arte, cultura e turismo, esporte e lazer, direitos LGBTQIA+, direitos das pessoas com deficiência (PcD), direitos das pessoas idosas, acesso à internet e comunicação, entre outros.

“Já fui estudante da UFRJ, a primeira vez que eu entrei na Maré foi em 1987, 1988. Foi para fazer um trabalho que uma professora nossa provocou: um levantamento dos problemas da Maré. Lendo o caderno de respostas, pensei: ‘gente, esses problemas, que os moradores e as associações relataram, estão aqui ainda hoje. A gente sabe que nesse período de 30 e tantos anos, algumas coisas melhoraram e outras pioraram. Inclusive a situação da violência, que é sofrida cotidianamente pelos moradores e moradoras, muitas coisas pioraram e outras coisas não se resolveram, coisas que a gente pensava que nesse período poderiam ter avançado mais. Então, acho que esse processo (lançamento do caderno de respostas) vem dessa luta de longo prazo dos movimentos sociais e do poder de organização. É uma estratégia que tem uma potência muito grande, de mobilizar as várias áreas do poder público para dar respostas, para se comprometer, é um instrumento de cobrança, de diálogo e, certamente, esse não é o fim”, explica Cristiane Vieira Machado.

O lançamento de um guia que paute as ausências e potências de um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro é histórico. Idealizado desde 2023, o guia de orientações é fruto de mãos e mentes faveladas. Sua produção também contou com o apoio de organizações da sociedade civil que atuam no território, como a Redes da Maré, da Fiocruz, de universidades públicas do Rio de Janeiro e de ministérios governamentais.

“A entrega desse caderno é um marco histórico na luta, em mais um processo de luta da Maré, produzido pela Secretaria-Geral da Presidência, mas com a contribuição efetiva de vários ministérios, de muitos ministérios do governo federal e que visa, entre outras coisas, estabelecer um diálogo permanente, além de facilitar a entrega de políticas públicas que são essenciais para a vida do povo brasileiro. Esse caderno de resposta é uma metodologia estabelecida e aprovada pelo presidente Lula e que é um dos mecanismos de efetivação da participação social na construção de tudo que envolve as ações do governo federal. Essa ação foi motivada por uma provocação de diversas associações e coletivos da Maré, da RedeS da Maré, e está sendo construído por muitas mãos e há muito tempo. Esse caderno é um caderno especial por vários motivos, mas, primeiramente, porque é o primeiro caderno de resposta territorial que a gente faz, e com entregas mais efetivas e diretas para a comunidade. Esse caderno, especialmente, ele vem com entregas efetivas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). E acho que esse caderno é tão especial, tão diferenciado, porque ele também é fruto do que é a história da Maré. Foi um processo de aprendizado muito valioso, muito potente. E poder estar aqui hoje, anunciando não só a entrega do caderno, mas poder anunciar entregas de políticas públicas efetivas para esse território, é muito marcante para a gente. Isso só é possível porque conseguimos eleger à frente da Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva, que é um sujeito extremamente comprometido com o povo, comprometido com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, comprometido com a Maré. E, estar aqui cumprindo o que ele pediu, que é colocar as favelas no orçamento público, colocar as vozes e os sonhos das favelas dentro do planejamento e da execução de políticas públicas do Governo Federal, é muito importante”, diz Izadora Gama Brito, Secretária-Adjunta da Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas.

Vale relembrar: o Estado brasileiro é formado por três poderes e nós os conhecemos como Poder Legislativo, Poder Judiciário e Poder Executivo. Nenhum funciona sem o outro e, esse último, como o próprio nome já diz, é responsável por governar e administrar. Os representantes do Poder Executivo brasileiro são os governadores (nível estadual) e prefeitos (nível municipal), sendo o Presidente da República responsável por representar os interesses da população em escala federal.

Por um Natal solidário na Maré

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Diversas campanhas incentivam as doações de alimentos e brinquedos

Árvore, papai noel, ceia, sino, vela, panetone, luzes, estrela, guirlanda e presépio. Quem respondeu que esses são alguns dos símbolos do Natal, acertou. Para muitos é uma reunião de família, em torno de uma mesa com comidas típicas como peru, pernil, tender, arroz à grega, salpicão, farofa, salada de feijão, pudim, rabanada, manjar e pavê. Com direito a tradicional piada: é pra ver ou pra comer? Mas o Natal também é um momento de solidariedade, onde vizinhos ajudam uns aos outros e são realizadas campanhas para auxiliar quem mais necessita. 

Algo que distancia muitos da ceia farta são os preços. Com a chegada do mês de dezembro, os trabalhadores recebem o 13º salário e logo na hora que se planeja realizar as compras natalinas, os preços sobem. De acordo com matéria realizada pela revista Veja, a prévia do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) mostra que a cesta natalina fechará o ano com alta de 9,16% em comparação ao mesmo período de 2023, com preço em médio de R$ 439,30. Um dos vilões é o azeite, que está com preço nas alturas, pelo motivo de escassez da produção nacional, período seco na Europa e alta no dólar.  

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apesar do percentual de pessoas brasileiras abaixo da linha da pobreza ter caído de 5,8% em 2021 para 3,5% em 2022, o número ainda é alto. Recentemente o Rio de Janeiro recebeu o encontro do G20, que revelou uma triste realidade. Segundo a publicação ‘Criando sinergias entre a Agenda 2030 e o G20 – caderno Desigualdades’, o Brasil é o 2º país do grupo com maior percentual de pessoas em extrema pobreza, perdendo apenas para a Índia. 

Para amenizar essa situação, algumas instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD). Infelizmente este ano as doações de cestas básicas não foram como esperado, não alcançando o número necessário. Apesar disso, o grupo agradece quem doou e informa que vai entregar as cestas que receberam no próximo domingo (15/12). 

Conjugando o verbo ajudar

O desejo de levar ajuda contagia muita gente e nem precisa estar ligado a alguma instituição. É o caso da professora Roberta Tavares, que há 8 anos realiza campanha para ajudar os PcD da Maré. A campanha Ajude uma Criança Especial da Maré a Ser Feliz, realiza a entrega de brinquedos, fraldas, remédios e cestas básicas. “Eu consegui atender 60 crianças, faltam 50 especiais. Nós vamos com essa campanha até o dia 20 de dezembro. Os brinquedos estão numa faixa de R$ 15 a R$ 20, mas tem criança que precisa de uma medicação que custa R$ 110 e outras famílias precisando muito de alimentação, de exame, de fralda e de um leite específico”, conta. 

A professora explica que a campanha traz um sentimento muito gratificante. “Tem uma mãe que mandou um áudio que o filho ficou todo feliz com o brinquedo de bolinha de sabão. Essa alegria das crianças é importante, pois não tem o pai, outras vivem com a avó, outras em situação de risco e de vulnerabilidade. Então, assim, é muito gratificante fazer essa missão que o universo enviou para mim”, confessa. 

Na Vila do Pinheiro, a Comunidade Pequena Nuvem realiza a campanha Natal dos Pobres, que pretende levar almoço a pessoas em situação de rua, no dia 25 de dezembro, em Bonsucesso. O grupo pretende produzir quentinhas, para isso, estão recebendo doações de coxa e sobrecoxa, farinha de mandioca, alho, azeite, feijão fradinho, cebola, pimentão, tomate, cenoura, batata, chuchu, arroz, rabanada, banana, laranja, refrigerante, água, sucos e descartáveis. 

“Nós fazemos uma mesa bem bonita. A gente faz com amor, é de coração. Quem quiser participar no dia e ir para rua conosco, será muito bem-vindo, para fazermos um Natal bem lindo para eles. Eles estão na rua, num dia muito significativo onde a família está reunida e muitos que estão ali não tem, então fazemos a vez da família deles”, lembra o diácono Edilson Ezequiel. O grupo ainda realiza a ceia na véspera do Natal para os enfermos nas duas casas sedes do projeto na Maré. Além disso, ocorre o Natal das Crianças, com um evento no sábado (21/12), com distribuição de roupas, sapatos e brinquedos. 

Criado há 20 anos, o Instituto Vida Real, situado na Nova Holanda, espera receber doações entre 100 a 150 cestas básicas, para suprir a necessidade de famílias de alunos. “São pais desempregados e alunos que não têm o que comer. Gostaríamos muito de poder levar o alimento na mesa dessas crianças”, comenta Sebastião Antônio, conhecido como Tião, coordenador do instituto. Ele acrescenta que proteger o próximo não tem preço. “Ajudar ao semelhante é ao mesmo tempo nos tornar uma pessoa melhor. Fazer a pessoa sorrir e ser útil na vida”, conclui. Ele lembra que cada cesta custa em torno de R$ 180.

O Instituto Nasci Para Brilhar atende a 115 crianças do entorno do Parque Ecológico, na Vila dos Pinheiros. Para o Natal a instituição está no intuito de arrecadar panetones. “Queremos fazer uma criança feliz. Já realizamos há 3 anos a campanha solidária para nossas crianças. Ao final, o sentimento é de realização e satisfação ao ver um sorriso no rostinho de cada criança ao ganhar um panetone e levar para sua casa. Desejo que o espírito natalino esteja no coração de cada um dos doadores”, enfatiza Andrea Souza, conhecida como Bebel, coordenadora do instituto.

Formas de ajudar: 

Instituto Nasci para Brilhar

Informações: 96561- 4649 

Via C/4, Travessa Vinte e Cinco, 181 – Vila dos Pinheiros.

Instagram: @nasciparabrilhar_ofc

Comunidade Pequena Nuvem

Informações: 21 98457-0689

Instagram: @comunidadecatolicapequenanuvem

Pix 2199491-4948

Ajude uma Criança Especial da Maré a Ser Feliz 

Informações 21 97651-4962

Pix: 21 965057791

PIC PAY professora Roberta Tavares

Instituto Vida Real

Informações: (21) 97033-4333

Rua Teixeira Ribeiro, s/nº – estacionamento da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva.

Instagram: @institutovidareal

Pix: 08077747000150

Resumo: O Natal solidário na Maré.

Chamada: A união de pessoas e instituições em prol de um sorriso no Natal.

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

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A comunicação comunitária em espaços favelados desempenhou e continua preenchendo um papel essencial na construção de narrativas

Edição #167 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Henrique Silva

A comunicação comunitária em espaços favelados desempenhou e continua preenchendo um papel essencial na construção de narrativas e contranarrativas sobre a luta e resistência dos moradores, ao longo das últimas décadas. Além disso, funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas, por meio da vivência e da experiência interna desses territórios. É possível traçar uma linha do tempo que conecta as histórias e memórias dos moradores e a produção de jornais.

União da Maré

No conjunto de favelas da Maré, os jornais comunitários fazem parte do cotidiano dos moradores há muitos anos. Destaca-se o Jornal União da Maré, criado por moradores do Parque União e que, posteriormente, ampliou sua atuação com a contribuição de pessoas de outras favelas. Lançado em 1980, o jornal surgiu com o objetivo de informar os moradores, especialmente sobre o recém criado projeto de habitação da cidade, o Projeto Rio, do Banco Nacional de Habitação. Naquela época, os jornais promoviam a ideia de união entre as seis favelas que compunham o território da Maré: Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Timbau e Baixa do Sapateiro.

Um dos principais colaboradores do jornal foi o Grupo Jovem Nova Holanda, vinculado à Igreja Católica, além de Maria Amélia Castro e Silva Belfort, integrante do grupo de Mulheres da Nova Holanda. Em 1984, com o apoio de membros do bloco carnavalesco “Mataram o Meu Gato”, esses grupos formaram a Chapa Rosa, que venceu as eleições para a Associação de Moradores da Nova Holanda.

Durante os três anos de existência, o Jornal União da Maré publicou 12 edições, de forma irregular, mas chamou a atenção dos moradores e da imprensa. Em uma coluna no jornal O Globo, em 1983, o jornalista Artur da Távola destacou a importância e continuidade do jornal: “O leitor pode pensar que em todos os lugares são feitos jornalzinhos que duram no máximo até o terceiro número. Pois este já está no onze!”.

Associação de Moradores

Durante a gestão da Chapa Rosa (1984–1993), a Associação de Moradores e Amigos da Nova Holanda (AMNH) criou um jornal para informar os moradores sobre as atividades da associação e divulgar informações sobre serviços e direitos, como o Plano Econômico, as campanhas de vacinação, as políticas alimentares e o combate à dengue. O jornal desempenhou um papel importante no processo de mobilização comunitária, sendo uma ferramenta essencial para convocar os moradores a participarem de assembleias.

Assim como o Jornal União da Maré, o Jornal da Chapa Rosa também chamou a atenção da mídia tradicional. Em uma reportagem com o título “Jornais mensais informam sobre avanços obtidos na Nova Holanda”, a edição do O Globo de 22 de setembro de 1991, destacou o impacto do jornal comunitário distribuído na Nova Holanda:

“Com o apoio da Associação de Servidores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), jornais mensais eram produzidos para informar os moradores sobre os avanços obtidos e as novidades. Durante campanhas de vacinação ou prevenção de epidemias, boletins explicativos também eram distribuídos.”

Novas mídias e novos formatos 

Outros veículos, como a TV Maré, criada em 1989 pela Cáritas Brasil, durante a Campanha da Fraternidade, e rádios comunitárias, como a Rádio Transmania, Rádio Progressiva e Rádio Maré, ampliaram as possibilidades de comunicação. Essas iniciativas usaram formatos como rádio-poste, transmissões via internet e sinal de rádio tradicional. A seguir um trecho de uma participação de Eliana Silva Sousa, então diretora da AMNH, para a TV Maré, retirado da dissertação de mestrado de Vitor Chagas: História das mídias e jornalismo cidadão de base comunitária na Maré (2007). Na época, Eliana falou da importância de novos formas de comunicação:

“​​A gente precisa fazer um outro tipo de trabalho, que leve os moradores a refletirem sobre a necessidade de mudar outras coisas. Por isso, eu estou trabalhando com a questão da informação, com a questão da divulgação do trabalho, para  a gente conseguir falar para a comunidade. Por isso, eu até louvo essa iniciativa de você ter hoje uma TV Maré, quer dizer, porque é mais um instrumento que os moradores estão, a nível de Maré, conseguindo ter, para poder se organizar.”

Consolidação

Em 1999, surgiu o Jornal O Cidadão, idealizado pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm). A partir da experiência de moradores que participaram da gestão da Chapa Rosa e da TV Maré, o jornal combinou conhecimentos do audiovisual e da produção impressa. Em 25 anos, o jornal publicou 70 edições, com tiragens que chegaram a 20 mil exemplares por edição. Hoje, o O Cidadão mantém um site e redes sociais ativas.

O Maré de Notícias, lançado em 2009 pela Redes da Maré, completa 15 anos em dezembro de 2024. O jornal se consolidou como referência no jornalismo comunitário, com 166 edições publicadas, tiragens que chegaram a 50 mil exemplares mensais e uma crescente presença digital desde 2017. A publicação combina formatos tradicionais e inovações tecnológicas para alcançar a comunidade. Durante a pandemia, destacou-se ao lançar boletins informativos sobre a COVID-19 e promover campanhas educativas.

Tempo real

Recentemente, com o avanço da tecnologia, a comunicação se tornou mais rápida e, em alguns casos, mais concisa, alcançando um grande número de pessoas que podem acessá-la de qualquer lugar, desde que tenham um celular ou computador. Sites de notícias, podcasts e redes sociais, como Instagram, Facebook e X, têm substituído não apenas os jornais impressos, mas também a TV aberta como fonte de informação.

Com isso, novos espaços de comunicação comunitária surgiram nas favelas da Maré, como as páginas das redes sociais do Maré Vive, Maré de Notícias e O Cidadão. Uma questão relevante nesse “novo momento” da comunicação comunitária, a partir das redes sociais, é a rápida circulação de informações durante operações policiais em territórios de favelas, tornando-se um canal de comunicação atualizado sobre o que está acontecendo nesses locais.

As páginas de Facebook da Redes da Maré (2011) e Favela Fiscal (2013) começaram a publicar informações sobre as operações policiais. No entanto, foi durante a ocupação das forças armadas no conjunto de favelas da Maré que surgiu uma grande quantidade de canais cobrindo esses eventos. Nesse período, foi criada a página do Coletivo de Comunicação Maré Vive (2014), que passou a divulgar informações sobre as ações, muitas vezes desastrosas, das forças armadas no território.

Reflexo do tempo

A comunicação popular é um reflexo de seu tempo. Nos anos 1980, a prioridade era responder a demandas imediatas em um contexto de abertura política. Nos anos 1990, com o reconhecimento do território da Maré como bairro, a comunicação comunitária passou a abordar questões de memória e conquistas sociais. Dos anos 2000 até agora, a repressão policial e as políticas de segurança pública dominaram a pauta.

Com a chegada das novas tecnologias, a comunicação comunitária das favelas adaptou-se ao cenário digital, tornando-se uma ferramenta essencial para mobilização, denúncia e preservação da identidade coletiva.

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

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Movimento ‘Baía Viva’ surgiu na década de 1980. Neste período a Baía de Guanabara enfrentava um período crítico de degradação ambiental

Hélio Euclides e Isabela Rodrigues*

Pensar saúde, educação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente dentre outros temas, para melhorar a qualidade de vida da população do planeta. Uma das discussões mundiais é encontrar caminhos para lidar com os desafios globais, entre eles o meio ambiente. A preservação da Baía de Guanabara precisa ser incluída na pauta dos governantes, na esfera municipal, estadual e federal, com metas para despoluição e recuperação de sua biodiversidade. A sociedade, representada pelas organizações não governamentais mobiliza para a promoção da educação ambiental, pressionando por políticas públicas efetivas e garantindo que as vozes das populações afetadas sejam ouvidas.

Uma dessas políticas públicas é o  projeto Universidade do Mar, do Movimento Baía Viva, que visa criar um centro de conhecimento e formação voltado para a sustentabilidade e a preservação dos ecossistemas marinhos. O projeto oferece cursos de capacitação para pescadores, quilombolas e moradores de favelas, com o objetivo de promover práticas sustentáveis e fortalecer a economia local por meio da pesca artesanal e do turismo comunitário.

O movimento surgiu na década de 1980. Neste período a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, enfrentava um período crítico de degradação ambiental. Em 1984, diante da construção da rodovia Niterói-Manilha, que ameaçava devastar manguezais, a Mata Atlântica e comunidades pesqueiras, um grupo de pesquisadores e ambientalistas uniu forças para proteger este ecossistema vital. Essa atuação da primeira geração do Movimento Baía Viva foi vitoriosa, sua luta culminou na criação da Área de Proteção Ambiental Federal de Guapimirim, com dois mil hectares de manguezais protegidos, abrangendo parte dos municípios de Guapimirim e Itaboraí.

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas. Ou seja, é uma batalha pela sobrevivência da Baía de Guanabara. Apesar da primeira vitória dos ativistas, políticas predatórias e o despejo contínuo de milhares de litros de esgoto sem tratamento continuam a devastar a Baía, que segue agonizando. 

“Sem movimentação social, não há avanço de política pública. Estamos vivendo um período complexo e difícil, com a desigualdade se aprofundando. O Brasil voltou ao mapa da fome em 2022 e estamos enfrentando os efeitos intensificados dos eventos climáticos extremos. Ao mesmo tempo, está cada vez mais difícil organizar as pessoas devido a esses fatores, o que gera ansiedade na juventude”, explicou o fundador e coordenador do movimento, Sérgio Ricardo, ecologista e Mestre em Ciências Ambientais.

O ecologista e indígena da comunidade Potiguara, natural do Rio Grande do Norte,  lembra de suas primeiras experiências ao chegar ao Rio de Janeiro. “Eu só conhecia a praia pelo cartão postal. Quando larguei a bicicleta e fui nadar, me falaram para não entrar na água, pois era poluída. Fiquei surpreso. Depois, fui até Botafogo e disseram que lá era ainda pior. Na Ilha do Governador todas as praias estavam impróprias para banho”, lembra.

Julia Rossi, doutora em Geografia pela PUC Rio, admira o grupo e confessa que aprendeu muito com o Baía Viva. “São os pioneiros nesse movimento de proteção e defesa dos direitos, não só de termos ecossistema ou de serviços ambientais, mas na luta dos pescadores e das comunidades que estão à beira da Baía de Guanabara. Eles têm essa relação de apoio e resgate com as favelas, que são os territórios mais impactados. Eles mostram essa relação com a Baía de Guanabara, que é como uma troca, cuidamos bem dela e ela nos ajuda a viver melhor”, comenta.

Outro aspecto crucial do trabalho do Movimento Baía Viva é a educação ambiental. O movimento organiza oficinas, seminários e programas educativos para crianças, jovens e adultos, abordando temas como a importância da preservação dos manguezais, a biodiversidade da Baía de Guanabara e os impactos da poluição. Esses programas são essenciais para criar uma consciência ecológica nas comunidades locais e fomentar uma nova geração de defensores do meio ambiente. “Sem movimentação social não há avanço de política pública”, conclui o ecologista e Mestre em Ciências Ambientais

Ainda existe muita luta pela frente

A Baía de Guanabara nem sempre foi o que se vê hoje. Com 412 km², antigamente, era um berçário de vida marinha, repleto de peixes, crustáceos, tartarugas e golfinhos. Décadas de expansão urbana desordenada e políticas predatórias transformaram drasticamente esse cenário. Grandes áreas de manguezais foram aterradas para dar lugar a rodovias, aeroportos e áreas industriais e habitacionais, destruindo habitats vitais. Além disso, o despejo contínuo de milhares de litros de esgoto não tratado e resíduos industriais poluíram gravemente a baía.

As consequências desses impactos são evidentes. A maioria das praias da Guanabara é imprópria para banho, e os alagamentos tornaram-se frequentes em áreas urbanas, como Manguinhos, Maré e partes da Baixada Fluminense, pela falta de cobertura vegetal que antes absorvia o excesso de água. Pescadores artesanais foram forçados a buscar outras formas de sobrevivência, muitas vezes catando lixo flutuante nas águas poluídas. O Painel Saneamento Brasil afirma que mais de 30% da população do Rio de Janeiro ainda não tem acesso à coleta de esgoto. Atualmente, 18 mil litros de esgoto por segundo são despejados na Baía de Guanabara. Essa quantidade massiva de esgoto sem tratamento agrava a situação já precária da Baía, resultando em um ambiente insalubre e perigoso para as comunidades locais.

O ambientalista Sérgio Ricardo afirma que uma das lutas do movimento é contra o racismo ambiental que está se intensificando devido à desigualdade. A introdução de esgoto não tratado e resíduos industriais na Baía compromete gravemente a qualidade da água, tornando a pesca uma atividade perigosa para a saúde. Sem acesso a água tratada e esgoto sanitário, essas comunidades enfrentam graves problemas de saúde pública. Surtos de doenças como diarreia, hepatite e leptospirose são comuns. O novo Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em julho de 2020, foi criado para ampliar o acesso ao saneamento básico no Brasil e permitir maior participação da iniciativa privada no setor. Contudo, apresenta lacunas, especialmente em relação ao fornecimento de serviços de saneamento nas áreas rurais e comunidades periféricas, onde vivem pescadores, indígenas, favelados e quilombolas.Para Rossi, a Baía de Guanabara é importante para o Estado, para a região metropolitana e a nível local. “A Maré tem esse jeito próprio de se relacionar com o entorno, pelo histórico, o próprio nome, na época das palafitas dava para ver o movimento da maré e da baía. Mas depois com o aterramento e todo esse processo de transformação foi ficando cada vez mais invisível. A gente olha para ela como se fosse lixo, algo sujo e não como uma substância da vida. Precisamos entender a importância do saneamento para a sobrevivência desse ecossistema e assim enfrentar as mudanças climáticas”, defende.

*Isabela Rodrigues foi aluna do Curso de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2023 em parceria com o Maré de Notícias e o Conexão UFRJ.