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Mareenses lançam caderno com reivindicações ao Governo

Sede da Fiocruz reuniu lideranças comunitárias e políticas para a entrega de documento

“Primeiro, quero saudar todas as pessoas aqui na mesa e, principalmente, saudar todas as pessoas que estão no dia-a-dia da nossa luta. É muito bom ver vocês aqui. Eu estava vindo para cá e pensando, meu Deus, quase natal. Será que vamos conseguir dar a relevância que tem esse processo? Então, muito obrigada”. A fala foi de Eliana Sousa, Presidente da Redes da Maré e uma das lideranças convidadas para compor a mesa.

O ‘Caderno de respostas: demandas das associações de moradores do Complexo de favelas da Maré’, fruto de um formato conhecido com uma proposta inédita, reúne orientações sobre investimentos e políticas públicas voltados para os 140 mil mareenses e seu território. Para isso, os presidentes das Associações de Moradores foram os escolhidos para representar as vozes das 15 favelas da Maré. A cerimônia aconteceu na última sexta (20), às 10h30, no auditório do Museu da Vida, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Estamos aqui hoje por conta de uma provocação que foi feita em um momento difícil em que nós estávamos vivendo a possibilidade da Guarda Nacional ocupar a Maré. Aquilo nos deixou apavorados. Fomos à Brasília para tentar discutir sobre esse processo e de como o Governo Federal, de alguma maneira, se compromete com essa questão, que é local, mas que não é tão local assim. Questionamos essa possível intervenção e discutimos o papel que o Governo Federal poderia cumprir nesse processo de implementação de direitos. Pensamos: ‘Por que, já que estamos aqui,  não articular para que outras políticas, e não essa que consideramos equivocada da segurança pública, seja apoiada pelo Governo Federal? Por que o Governo Federal não apoia outras iniciativas no campo dos direitos que nós, historicamente, tanto lutamos?’. Nesse ano, faz 30 anos que a Prefeitura do Rio tornou a Maré um bairro, mas ainda não temos uma coisa chamada cidadania de bairro, que são os serviços públicos aos quais toda a população ali tem direito, igual as outras partes da cidade. Como uma pessoa que cresceu na Nova Holanda, lutamos por esse reconhecimento. A Maré tem 140 mil pessoas (Censo Maré). De fato, é maior que 96% das cidades brasileiras. Isso diz muito sobre as demandas que a Maré tem. É importante relembrar essa luta porque são direitos básicos, não um favor”, conclui a presidente.

Junto a eles, outras lideranças formaram a roda de conversa. São elas: Valtemir ‘Índio’ Messias (Presidente da Associação de Moradores da Vila do João); Vilmar ‘Magá’ Gomes (Presidente da Associação de Moradores da Rubens Vaz); Izadora Gama Brito, Secretária-Adjunta da Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas; Renata Souza, deputada estadual do Rio de Janeiro; Cristiani Vieira Machado, Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Valcler Rangel Fernandes, Assessor Especial do Gabinete da Ministra da Saúde; Karoliny Martins, antropóloga e pesquisadora de Drogas e Políticas Públicas e Josué Medeiros, cientista político e professor universitário. A mediação ficou por conta de Pamela Carvalho, historiadora e pesquisadora na Redes da Maré.

“A gente tem um processo aí em busca por melhorias para as nossas comunidades e não é fácil. Encaminhamos nossas reivindicações e a resposta está aqui hoje. Isso é muito importante para o nosso território, só nos fortalece. Nós, presidentes das Associação de Moradores, sabemos muito bem que não é tão fácil lidar com a comunidade no seu dia a dia, porque o morador cobra muito, e cobra com uma certa razão. Só que nós, gestores, temos as nossas dificuldades, E temos aí hoje a Redes da Maré que está nos ajudando e isso é muito importante para nós. Nós do terceiro setor, organização civil organizada, precisamos de parcerias. Precisamos muito do poder público que olhe para nós e veja nossos direitos, seja na educação, saneamento básico, moradia, enfim. Hoje, por exemplo, na minha comunidade, não temos varredura (varrição de logradouro). Mesmo sendo um bairro com 5 sub-bairros, a gente vive com muita sujeira nas ruas. Espero que essa conversa aqui chegue aos ouvidos do Eduardo Paes (Prefeito do Rio de Janeiro). Os políticos nos procuram em período eleitoral. E nem queria que eles viessem presencialmente não. Que venham para cá, para a comunidade, com serviços, com encaminhamento de serviços, por isso que seja executado plausivelmente para nós, porque as comunidades precisam muito do poder público, e sem o poder público a gente não consegue andar”, relata. Magá completa a fala de Índio: “Eu sou presidente há 33 anos. Pensei que iria morrer e não veria um parque surgindo na Maré para todas as comunidades. Então eu vejo essa luta aqui de guerreiros. E vamos esperar que esse caderno de respostas seja cumprido porque a Maré sofre até hoje com o saneamento básico. Vocês podem ir em qualquer comunidade da Maré, não é só na minha, e tem esgoto a céu aberto”.

Além de devolver o protagonismo da luta aos moradores da Maré, também demonstra que a mudança só é possível a partir da mobilização coletiva e que, por também fazer parte da cidade, a Maré precisa ser incluída na elaboração de políticas públicas e no planejamento orçamentário do governo. Dividido em 13 eixos, o documento reúne demandas referentes aos seguintes temas: educação, direitos socioambientais, segurança pública e acesso à justiça, direitos urbanos e habitação, saúde e segurança alimentar, direitos das mulheres, igualdade racial, arte, cultura e turismo, esporte e lazer, direitos LGBTQIA+, direitos das pessoas com deficiência (PcD), direitos das pessoas idosas, acesso à internet e comunicação, entre outros.

“Já fui estudante da UFRJ, a primeira vez que eu entrei na Maré foi em 1987, 1988. Foi para fazer um trabalho que uma professora nossa provocou: um levantamento dos problemas da Maré. Lendo o caderno de respostas, pensei: ‘gente, esses problemas, que os moradores e as associações relataram, estão aqui ainda hoje. A gente sabe que nesse período de 30 e tantos anos, algumas coisas melhoraram e outras pioraram. Inclusive a situação da violência, que é sofrida cotidianamente pelos moradores e moradoras, muitas coisas pioraram e outras coisas não se resolveram, coisas que a gente pensava que nesse período poderiam ter avançado mais. Então, acho que esse processo (lançamento do caderno de respostas) vem dessa luta de longo prazo dos movimentos sociais e do poder de organização. É uma estratégia que tem uma potência muito grande, de mobilizar as várias áreas do poder público para dar respostas, para se comprometer, é um instrumento de cobrança, de diálogo e, certamente, esse não é o fim”, explica Cristiane Vieira Machado.

O lançamento de um guia que paute as ausências e potências de um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro é histórico. Idealizado desde 2023, o guia de orientações é fruto de mãos e mentes faveladas. Sua produção também contou com o apoio de organizações da sociedade civil que atuam no território, como a Redes da Maré, da Fiocruz, de universidades públicas do Rio de Janeiro e de ministérios governamentais.

“A entrega desse caderno é um marco histórico na luta, em mais um processo de luta da Maré, produzido pela Secretaria-Geral da Presidência, mas com a contribuição efetiva de vários ministérios, de muitos ministérios do governo federal e que visa, entre outras coisas, estabelecer um diálogo permanente, além de facilitar a entrega de políticas públicas que são essenciais para a vida do povo brasileiro. Esse caderno de resposta é uma metodologia estabelecida e aprovada pelo presidente Lula e que é um dos mecanismos de efetivação da participação social na construção de tudo que envolve as ações do governo federal. Essa ação foi motivada por uma provocação de diversas associações e coletivos da Maré, da RedeS da Maré, e está sendo construído por muitas mãos e há muito tempo. Esse caderno é um caderno especial por vários motivos, mas, primeiramente, porque é o primeiro caderno de resposta territorial que a gente faz, e com entregas mais efetivas e diretas para a comunidade. Esse caderno, especialmente, ele vem com entregas efetivas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). E acho que esse caderno é tão especial, tão diferenciado, porque ele também é fruto do que é a história da Maré. Foi um processo de aprendizado muito valioso, muito potente. E poder estar aqui hoje, anunciando não só a entrega do caderno, mas poder anunciar entregas de políticas públicas efetivas para esse território, é muito marcante para a gente. Isso só é possível porque conseguimos eleger à frente da Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva, que é um sujeito extremamente comprometido com o povo, comprometido com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, comprometido com a Maré. E, estar aqui cumprindo o que ele pediu, que é colocar as favelas no orçamento público, colocar as vozes e os sonhos das favelas dentro do planejamento e da execução de políticas públicas do Governo Federal, é muito importante”, diz Izadora Gama Brito, Secretária-Adjunta da Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas.

Vale relembrar: o Estado brasileiro é formado por três poderes e nós os conhecemos como Poder Legislativo, Poder Judiciário e Poder Executivo. Nenhum funciona sem o outro e, esse último, como o próprio nome já diz, é responsável por governar e administrar. Os representantes do Poder Executivo brasileiro são os governadores (nível estadual) e prefeitos (nível municipal), sendo o Presidente da República responsável por representar os interesses da população em escala federal.

Por um Natal solidário na Maré

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Diversas campanhas incentivam as doações de alimentos e brinquedos

Árvore, papai noel, ceia, sino, vela, panetone, luzes, estrela, guirlanda e presépio. Quem respondeu que esses são alguns dos símbolos do Natal, acertou. Para muitos é uma reunião de família, em torno de uma mesa com comidas típicas como peru, pernil, tender, arroz à grega, salpicão, farofa, salada de feijão, pudim, rabanada, manjar e pavê. Com direito a tradicional piada: é pra ver ou pra comer? Mas o Natal também é um momento de solidariedade, onde vizinhos ajudam uns aos outros e são realizadas campanhas para auxiliar quem mais necessita. 

Algo que distancia muitos da ceia farta são os preços. Com a chegada do mês de dezembro, os trabalhadores recebem o 13º salário e logo na hora que se planeja realizar as compras natalinas, os preços sobem. De acordo com matéria realizada pela revista Veja, a prévia do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) mostra que a cesta natalina fechará o ano com alta de 9,16% em comparação ao mesmo período de 2023, com preço em médio de R$ 439,30. Um dos vilões é o azeite, que está com preço nas alturas, pelo motivo de escassez da produção nacional, período seco na Europa e alta no dólar.  

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apesar do percentual de pessoas brasileiras abaixo da linha da pobreza ter caído de 5,8% em 2021 para 3,5% em 2022, o número ainda é alto. Recentemente o Rio de Janeiro recebeu o encontro do G20, que revelou uma triste realidade. Segundo a publicação ‘Criando sinergias entre a Agenda 2030 e o G20 – caderno Desigualdades’, o Brasil é o 2º país do grupo com maior percentual de pessoas em extrema pobreza, perdendo apenas para a Índia. 

Para amenizar essa situação, algumas instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD). Infelizmente este ano as doações de cestas básicas não foram como esperado, não alcançando o número necessário. Apesar disso, o grupo agradece quem doou e informa que vai entregar as cestas que receberam no próximo domingo (15/12). 

Conjugando o verbo ajudar

O desejo de levar ajuda contagia muita gente e nem precisa estar ligado a alguma instituição. É o caso da professora Roberta Tavares, que há 8 anos realiza campanha para ajudar os PcD da Maré. A campanha Ajude uma Criança Especial da Maré a Ser Feliz, realiza a entrega de brinquedos, fraldas, remédios e cestas básicas. “Eu consegui atender 60 crianças, faltam 50 especiais. Nós vamos com essa campanha até o dia 20 de dezembro. Os brinquedos estão numa faixa de R$ 15 a R$ 20, mas tem criança que precisa de uma medicação que custa R$ 110 e outras famílias precisando muito de alimentação, de exame, de fralda e de um leite específico”, conta. 

A professora explica que a campanha traz um sentimento muito gratificante. “Tem uma mãe que mandou um áudio que o filho ficou todo feliz com o brinquedo de bolinha de sabão. Essa alegria das crianças é importante, pois não tem o pai, outras vivem com a avó, outras em situação de risco e de vulnerabilidade. Então, assim, é muito gratificante fazer essa missão que o universo enviou para mim”, confessa. 

Na Vila do Pinheiro, a Comunidade Pequena Nuvem realiza a campanha Natal dos Pobres, que pretende levar almoço a pessoas em situação de rua, no dia 25 de dezembro, em Bonsucesso. O grupo pretende produzir quentinhas, para isso, estão recebendo doações de coxa e sobrecoxa, farinha de mandioca, alho, azeite, feijão fradinho, cebola, pimentão, tomate, cenoura, batata, chuchu, arroz, rabanada, banana, laranja, refrigerante, água, sucos e descartáveis. 

“Nós fazemos uma mesa bem bonita. A gente faz com amor, é de coração. Quem quiser participar no dia e ir para rua conosco, será muito bem-vindo, para fazermos um Natal bem lindo para eles. Eles estão na rua, num dia muito significativo onde a família está reunida e muitos que estão ali não tem, então fazemos a vez da família deles”, lembra o diácono Edilson Ezequiel. O grupo ainda realiza a ceia na véspera do Natal para os enfermos nas duas casas sedes do projeto na Maré. Além disso, ocorre o Natal das Crianças, com um evento no sábado (21/12), com distribuição de roupas, sapatos e brinquedos. 

Criado há 20 anos, o Instituto Vida Real, situado na Nova Holanda, espera receber doações entre 100 a 150 cestas básicas, para suprir a necessidade de famílias de alunos. “São pais desempregados e alunos que não têm o que comer. Gostaríamos muito de poder levar o alimento na mesa dessas crianças”, comenta Sebastião Antônio, conhecido como Tião, coordenador do instituto. Ele acrescenta que proteger o próximo não tem preço. “Ajudar ao semelhante é ao mesmo tempo nos tornar uma pessoa melhor. Fazer a pessoa sorrir e ser útil na vida”, conclui. Ele lembra que cada cesta custa em torno de R$ 180.

O Instituto Nasci Para Brilhar atende a 115 crianças do entorno do Parque Ecológico, na Vila dos Pinheiros. Para o Natal a instituição está no intuito de arrecadar panetones. “Queremos fazer uma criança feliz. Já realizamos há 3 anos a campanha solidária para nossas crianças. Ao final, o sentimento é de realização e satisfação ao ver um sorriso no rostinho de cada criança ao ganhar um panetone e levar para sua casa. Desejo que o espírito natalino esteja no coração de cada um dos doadores”, enfatiza Andrea Souza, conhecida como Bebel, coordenadora do instituto.

Formas de ajudar: 

Instituto Nasci para Brilhar

Informações: 96561- 4649 

Via C/4, Travessa Vinte e Cinco, 181 – Vila dos Pinheiros.

Instagram: @nasciparabrilhar_ofc

Comunidade Pequena Nuvem

Informações: 21 98457-0689

Instagram: @comunidadecatolicapequenanuvem

Pix 2199491-4948

Ajude uma Criança Especial da Maré a Ser Feliz 

Informações 21 97651-4962

Pix: 21 965057791

PIC PAY professora Roberta Tavares

Instituto Vida Real

Informações: (21) 97033-4333

Rua Teixeira Ribeiro, s/nº – estacionamento da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva.

Instagram: @institutovidareal

Pix: 08077747000150

Resumo: O Natal solidário na Maré.

Chamada: A união de pessoas e instituições em prol de um sorriso no Natal.

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

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A comunicação comunitária em espaços favelados desempenhou e continua preenchendo um papel essencial na construção de narrativas

Edição #167 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Henrique Silva

A comunicação comunitária em espaços favelados desempenhou e continua preenchendo um papel essencial na construção de narrativas e contranarrativas sobre a luta e resistência dos moradores, ao longo das últimas décadas. Além disso, funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas, por meio da vivência e da experiência interna desses territórios. É possível traçar uma linha do tempo que conecta as histórias e memórias dos moradores e a produção de jornais.

União da Maré

No conjunto de favelas da Maré, os jornais comunitários fazem parte do cotidiano dos moradores há muitos anos. Destaca-se o Jornal União da Maré, criado por moradores do Parque União e que, posteriormente, ampliou sua atuação com a contribuição de pessoas de outras favelas. Lançado em 1980, o jornal surgiu com o objetivo de informar os moradores, especialmente sobre o recém criado projeto de habitação da cidade, o Projeto Rio, do Banco Nacional de Habitação. Naquela época, os jornais promoviam a ideia de união entre as seis favelas que compunham o território da Maré: Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Timbau e Baixa do Sapateiro.

Um dos principais colaboradores do jornal foi o Grupo Jovem Nova Holanda, vinculado à Igreja Católica, além de Maria Amélia Castro e Silva Belfort, integrante do grupo de Mulheres da Nova Holanda. Em 1984, com o apoio de membros do bloco carnavalesco “Mataram o Meu Gato”, esses grupos formaram a Chapa Rosa, que venceu as eleições para a Associação de Moradores da Nova Holanda.

Durante os três anos de existência, o Jornal União da Maré publicou 12 edições, de forma irregular, mas chamou a atenção dos moradores e da imprensa. Em uma coluna no jornal O Globo, em 1983, o jornalista Artur da Távola destacou a importância e continuidade do jornal: “O leitor pode pensar que em todos os lugares são feitos jornalzinhos que duram no máximo até o terceiro número. Pois este já está no onze!”.

Associação de Moradores

Durante a gestão da Chapa Rosa (1984–1993), a Associação de Moradores e Amigos da Nova Holanda (AMNH) criou um jornal para informar os moradores sobre as atividades da associação e divulgar informações sobre serviços e direitos, como o Plano Econômico, as campanhas de vacinação, as políticas alimentares e o combate à dengue. O jornal desempenhou um papel importante no processo de mobilização comunitária, sendo uma ferramenta essencial para convocar os moradores a participarem de assembleias.

Assim como o Jornal União da Maré, o Jornal da Chapa Rosa também chamou a atenção da mídia tradicional. Em uma reportagem com o título “Jornais mensais informam sobre avanços obtidos na Nova Holanda”, a edição do O Globo de 22 de setembro de 1991, destacou o impacto do jornal comunitário distribuído na Nova Holanda:

“Com o apoio da Associação de Servidores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), jornais mensais eram produzidos para informar os moradores sobre os avanços obtidos e as novidades. Durante campanhas de vacinação ou prevenção de epidemias, boletins explicativos também eram distribuídos.”

Novas mídias e novos formatos 

Outros veículos, como a TV Maré, criada em 1989 pela Cáritas Brasil, durante a Campanha da Fraternidade, e rádios comunitárias, como a Rádio Transmania, Rádio Progressiva e Rádio Maré, ampliaram as possibilidades de comunicação. Essas iniciativas usaram formatos como rádio-poste, transmissões via internet e sinal de rádio tradicional. A seguir um trecho de uma participação de Eliana Silva Sousa, então diretora da AMNH, para a TV Maré, retirado da dissertação de mestrado de Vitor Chagas: História das mídias e jornalismo cidadão de base comunitária na Maré (2007). Na época, Eliana falou da importância de novos formas de comunicação:

“​​A gente precisa fazer um outro tipo de trabalho, que leve os moradores a refletirem sobre a necessidade de mudar outras coisas. Por isso, eu estou trabalhando com a questão da informação, com a questão da divulgação do trabalho, para  a gente conseguir falar para a comunidade. Por isso, eu até louvo essa iniciativa de você ter hoje uma TV Maré, quer dizer, porque é mais um instrumento que os moradores estão, a nível de Maré, conseguindo ter, para poder se organizar.”

Consolidação

Em 1999, surgiu o Jornal O Cidadão, idealizado pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm). A partir da experiência de moradores que participaram da gestão da Chapa Rosa e da TV Maré, o jornal combinou conhecimentos do audiovisual e da produção impressa. Em 25 anos, o jornal publicou 70 edições, com tiragens que chegaram a 20 mil exemplares por edição. Hoje, o O Cidadão mantém um site e redes sociais ativas.

O Maré de Notícias, lançado em 2009 pela Redes da Maré, completa 15 anos em dezembro de 2024. O jornal se consolidou como referência no jornalismo comunitário, com 166 edições publicadas, tiragens que chegaram a 50 mil exemplares mensais e uma crescente presença digital desde 2017. A publicação combina formatos tradicionais e inovações tecnológicas para alcançar a comunidade. Durante a pandemia, destacou-se ao lançar boletins informativos sobre a COVID-19 e promover campanhas educativas.

Tempo real

Recentemente, com o avanço da tecnologia, a comunicação se tornou mais rápida e, em alguns casos, mais concisa, alcançando um grande número de pessoas que podem acessá-la de qualquer lugar, desde que tenham um celular ou computador. Sites de notícias, podcasts e redes sociais, como Instagram, Facebook e X, têm substituído não apenas os jornais impressos, mas também a TV aberta como fonte de informação.

Com isso, novos espaços de comunicação comunitária surgiram nas favelas da Maré, como as páginas das redes sociais do Maré Vive, Maré de Notícias e O Cidadão. Uma questão relevante nesse “novo momento” da comunicação comunitária, a partir das redes sociais, é a rápida circulação de informações durante operações policiais em territórios de favelas, tornando-se um canal de comunicação atualizado sobre o que está acontecendo nesses locais.

As páginas de Facebook da Redes da Maré (2011) e Favela Fiscal (2013) começaram a publicar informações sobre as operações policiais. No entanto, foi durante a ocupação das forças armadas no conjunto de favelas da Maré que surgiu uma grande quantidade de canais cobrindo esses eventos. Nesse período, foi criada a página do Coletivo de Comunicação Maré Vive (2014), que passou a divulgar informações sobre as ações, muitas vezes desastrosas, das forças armadas no território.

Reflexo do tempo

A comunicação popular é um reflexo de seu tempo. Nos anos 1980, a prioridade era responder a demandas imediatas em um contexto de abertura política. Nos anos 1990, com o reconhecimento do território da Maré como bairro, a comunicação comunitária passou a abordar questões de memória e conquistas sociais. Dos anos 2000 até agora, a repressão policial e as políticas de segurança pública dominaram a pauta.

Com a chegada das novas tecnologias, a comunicação comunitária das favelas adaptou-se ao cenário digital, tornando-se uma ferramenta essencial para mobilização, denúncia e preservação da identidade coletiva.

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

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Movimento ‘Baía Viva’ surgiu na década de 1980. Neste período a Baía de Guanabara enfrentava um período crítico de degradação ambiental

Hélio Euclides e Isabela Rodrigues*

Pensar saúde, educação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente dentre outros temas, para melhorar a qualidade de vida da população do planeta. Uma das discussões mundiais é encontrar caminhos para lidar com os desafios globais, entre eles o meio ambiente. A preservação da Baía de Guanabara precisa ser incluída na pauta dos governantes, na esfera municipal, estadual e federal, com metas para despoluição e recuperação de sua biodiversidade. A sociedade, representada pelas organizações não governamentais mobiliza para a promoção da educação ambiental, pressionando por políticas públicas efetivas e garantindo que as vozes das populações afetadas sejam ouvidas.

Uma dessas políticas públicas é o  projeto Universidade do Mar, do Movimento Baía Viva, que visa criar um centro de conhecimento e formação voltado para a sustentabilidade e a preservação dos ecossistemas marinhos. O projeto oferece cursos de capacitação para pescadores, quilombolas e moradores de favelas, com o objetivo de promover práticas sustentáveis e fortalecer a economia local por meio da pesca artesanal e do turismo comunitário.

O movimento surgiu na década de 1980. Neste período a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, enfrentava um período crítico de degradação ambiental. Em 1984, diante da construção da rodovia Niterói-Manilha, que ameaçava devastar manguezais, a Mata Atlântica e comunidades pesqueiras, um grupo de pesquisadores e ambientalistas uniu forças para proteger este ecossistema vital. Essa atuação da primeira geração do Movimento Baía Viva foi vitoriosa, sua luta culminou na criação da Área de Proteção Ambiental Federal de Guapimirim, com dois mil hectares de manguezais protegidos, abrangendo parte dos municípios de Guapimirim e Itaboraí.

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas. Ou seja, é uma batalha pela sobrevivência da Baía de Guanabara. Apesar da primeira vitória dos ativistas, políticas predatórias e o despejo contínuo de milhares de litros de esgoto sem tratamento continuam a devastar a Baía, que segue agonizando. 

“Sem movimentação social, não há avanço de política pública. Estamos vivendo um período complexo e difícil, com a desigualdade se aprofundando. O Brasil voltou ao mapa da fome em 2022 e estamos enfrentando os efeitos intensificados dos eventos climáticos extremos. Ao mesmo tempo, está cada vez mais difícil organizar as pessoas devido a esses fatores, o que gera ansiedade na juventude”, explicou o fundador e coordenador do movimento, Sérgio Ricardo, ecologista e Mestre em Ciências Ambientais.

O ecologista e indígena da comunidade Potiguara, natural do Rio Grande do Norte,  lembra de suas primeiras experiências ao chegar ao Rio de Janeiro. “Eu só conhecia a praia pelo cartão postal. Quando larguei a bicicleta e fui nadar, me falaram para não entrar na água, pois era poluída. Fiquei surpreso. Depois, fui até Botafogo e disseram que lá era ainda pior. Na Ilha do Governador todas as praias estavam impróprias para banho”, lembra.

Julia Rossi, doutora em Geografia pela PUC Rio, admira o grupo e confessa que aprendeu muito com o Baía Viva. “São os pioneiros nesse movimento de proteção e defesa dos direitos, não só de termos ecossistema ou de serviços ambientais, mas na luta dos pescadores e das comunidades que estão à beira da Baía de Guanabara. Eles têm essa relação de apoio e resgate com as favelas, que são os territórios mais impactados. Eles mostram essa relação com a Baía de Guanabara, que é como uma troca, cuidamos bem dela e ela nos ajuda a viver melhor”, comenta.

Outro aspecto crucial do trabalho do Movimento Baía Viva é a educação ambiental. O movimento organiza oficinas, seminários e programas educativos para crianças, jovens e adultos, abordando temas como a importância da preservação dos manguezais, a biodiversidade da Baía de Guanabara e os impactos da poluição. Esses programas são essenciais para criar uma consciência ecológica nas comunidades locais e fomentar uma nova geração de defensores do meio ambiente. “Sem movimentação social não há avanço de política pública”, conclui o ecologista e Mestre em Ciências Ambientais

Ainda existe muita luta pela frente

A Baía de Guanabara nem sempre foi o que se vê hoje. Com 412 km², antigamente, era um berçário de vida marinha, repleto de peixes, crustáceos, tartarugas e golfinhos. Décadas de expansão urbana desordenada e políticas predatórias transformaram drasticamente esse cenário. Grandes áreas de manguezais foram aterradas para dar lugar a rodovias, aeroportos e áreas industriais e habitacionais, destruindo habitats vitais. Além disso, o despejo contínuo de milhares de litros de esgoto não tratado e resíduos industriais poluíram gravemente a baía.

As consequências desses impactos são evidentes. A maioria das praias da Guanabara é imprópria para banho, e os alagamentos tornaram-se frequentes em áreas urbanas, como Manguinhos, Maré e partes da Baixada Fluminense, pela falta de cobertura vegetal que antes absorvia o excesso de água. Pescadores artesanais foram forçados a buscar outras formas de sobrevivência, muitas vezes catando lixo flutuante nas águas poluídas. O Painel Saneamento Brasil afirma que mais de 30% da população do Rio de Janeiro ainda não tem acesso à coleta de esgoto. Atualmente, 18 mil litros de esgoto por segundo são despejados na Baía de Guanabara. Essa quantidade massiva de esgoto sem tratamento agrava a situação já precária da Baía, resultando em um ambiente insalubre e perigoso para as comunidades locais.

O ambientalista Sérgio Ricardo afirma que uma das lutas do movimento é contra o racismo ambiental que está se intensificando devido à desigualdade. A introdução de esgoto não tratado e resíduos industriais na Baía compromete gravemente a qualidade da água, tornando a pesca uma atividade perigosa para a saúde. Sem acesso a água tratada e esgoto sanitário, essas comunidades enfrentam graves problemas de saúde pública. Surtos de doenças como diarreia, hepatite e leptospirose são comuns. O novo Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em julho de 2020, foi criado para ampliar o acesso ao saneamento básico no Brasil e permitir maior participação da iniciativa privada no setor. Contudo, apresenta lacunas, especialmente em relação ao fornecimento de serviços de saneamento nas áreas rurais e comunidades periféricas, onde vivem pescadores, indígenas, favelados e quilombolas.Para Rossi, a Baía de Guanabara é importante para o Estado, para a região metropolitana e a nível local. “A Maré tem esse jeito próprio de se relacionar com o entorno, pelo histórico, o próprio nome, na época das palafitas dava para ver o movimento da maré e da baía. Mas depois com o aterramento e todo esse processo de transformação foi ficando cada vez mais invisível. A gente olha para ela como se fosse lixo, algo sujo e não como uma substância da vida. Precisamos entender a importância do saneamento para a sobrevivência desse ecossistema e assim enfrentar as mudanças climáticas”, defende.

*Isabela Rodrigues foi aluna do Curso de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2023 em parceria com o Maré de Notícias e o Conexão UFRJ.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

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O Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca

“Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!”; esse era o bordão que usava o personagem Paulo Cintura; na Escolinha do Professor Raimundo. Esse também é o lema de diversas pessoas, que cada vez mais procuram se exercitar. O motivo principal não é apenas entrar na modalidade fitness, ou seja, estar em boa forma física, mas conquistar a tão sonhada saúde e assim viver mais. Uma boa opção são as academias públicas, que além de não causarem nenhum custo financeiro, ainda agradam por serem ao ar livre. 

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca. Algum desses projetos tem a presença de profissionais que orientam o treinamento adequado para cada usuário. Um outro diferencial é que uns utilizam equipamentos de academia instalados em praças e locais específicos.

A Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) defende que os projetos tenham um viés para o idoso com recorte da favela. Na instituição há o Projeto FAFERJ 60+, pensando no direito da pessoa idosa, com o objetivo de reivindicar e indagar a instalação de equipamentos das praças das favelas, como é feito no restante da cidade. “Focar na terceira idade é uma pauta para todos os dias, pois os ramos da política precisam pensar nos seus direitos. Vamos cobrar da comissão dos idosos, leis que facilitem o letramento digital e a qualidade de vida dos moradores da terceira idade das favelas”, diz Eduardo Novaes, consultor da FAFERJ. 

Apesar de grande, a Praça da Nova Holanda só tem equipamento de musculação, com poucos aparelhos. “A Prefeitura instalou equipamento para os jovens, mas hoje está abandonado, sem manutenção. A praça precisa de equipamentos de exercícios para os idosos, isso iria revitalizar o local. O idoso gosta de acordar cedo e ir fazer os seus exercícios, o melhor ainda ao ar livre. A associação de moradores cuida e preserva com a limpeza, se não já tinha casa na praça”, desabafa Gilmar Junior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda.

O exercício é saúde

Um dos projetos mais conhecidos é o Academia da Terceira Idade (ATI) destinado para as pessoas idosas. Segundo o site Ideal Terceira Idade, o projeto tem como meta promover programas de atividade física para que as pessoas idosas possam manter suas autonomias e independências, conscientizando-os sobre a importância da realização de treinamento de força e da prática de exercícios em sua vida cotidiana. A ATI conta com cinco tipos de equipamentos: fortalecedor para membros inferiores; simulador de caminhada; aparelho de alongamento; exercícios de membros superiores e inferiores, além de aparelho multifuncional.

A Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (Semesqv) é a responsável pela ATI, que acredita ter uma importância enorme, tanto no aspecto físico quanto no emocional e social. Elas oferecem um espaço dedicado ao fortalecimento muscular, melhora da mobilidade e prevenção de doenças crônicas. Além disso, incentivam a socialização, o que contribui para combater o isolamento e a solidão, fatores que afetam a qualidade de vida das pessoas idosas. Cada ATI custa R$ 67 mil para sua instalação. 

Além do pouco número de ATI, uma das academias se encontra dentro do Condomínio Padre Manoel da Nóbrega, na Baixa do Sapateiro, só podendo ser usada pelos moradores dos prédios. “Só atende os moradores de lá, ou amigos e familiares que podem entrar. Eu não tenho nada contra se instalarem outras na favela, pois só a Baixa do Sapateiro tem capacidade para três ATI nas praças, hoje só tendo uma. Essa existente está ruim, precisando de reforma, já que se encontra de forma precária. Também só temos uma de alumínio, mais para a juventude, que deveria ter mais unidades. A academia faz bem, é algo saudável tanto para idosos quanto para jovens”, explica Charles Gonçalves, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro.

A academia como remédio

Um outro projeto é o Programa Academia Carioca, que foi criado em 2009 pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio para promover a prática de atividade física e educativa regular nas Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde, com acompanhamento e desenvolvimento de ações preventivas e de boas práticas em saúde. As academias contam com os seguintes equipamentos: remada sentada, rotação dupla diagonal, simulador de cavalgada, surf, esqui, simulador de caminhada, pressão nas pernas, multi-exercitador, alongador e rotação vertical.

Em junho de 2013, levantamento feito pela coordenação do programa indicou que chegou ao número de 192 mil participantes, 57% deles com mais de 60 anos. Entre os resultados, a pesquisa indicou que 90% dos participantes apresentaram controle da pressão arterial; 61% tiveram redução do peso corporal e 52% redução do índice de massa corporal. Dos integrantes que faziam uso de medicação prescrita, 20% tiveram a indicação suspensa, após reavaliação médica.

Igor de Almeida é profissional de Educação Física e trabalha nos centros médicos Américo Veloso e Vila do João e na Clínica da Família Diniz Batista dos Santos. Ele destaca a importância do trabalho em conjunto, equipamentos e equipe estratégico de saúde. “Pensamos no cuidado duplo, na educação física e na forma multidisciplinar. Para começar a fazer exercícios tem que ser da forma correta e segura, procurando antes um profissional que vai prescrever o melhor treino, se tiver alguma comorbidade ou não”, comenta. 

Para o profissional não importa a idade, o importante é a prática de esporte ao ar livre, sendo um momento de lazer e saúde. “Já está provado que a realização de atividade física pelo menos três vezes por semana, num total de 150 minutos, traz mais vida e saúde”, conta. Ele lembra que nas unidades de saúde em que não há academia, os profissionais trabalham com alongamento, ritmo e ginástica localizada. 

Diferente das academias localizadas nas praças, as das unidades de saúde são cobertas com lona o que possibilita conforto no uso do turno da tarde, não deixando as pessoas expostas ao sol. Martinele Mendes, de 65 anos, moradora da Vila do João, fica feliz com o programa. “Eu acho ótimo, pois ajuda quem não pode pagar para se exercitar. Faltam outras, como na ciclovia do Conjunto Pinheiros. Uma maravilha unir caminhada com a academia”, expõe. 

Lúcia Maria, de 61 anos, moradora da Vila do João, utiliza seis vezes na semana a academia. “Sem o auxílio do profissional, a pessoa pode fazer o uso dos aparelhos de forma errada, aqui ele vai nos auxiliando. Na academia encontro saúde e companheirismo. Depois que comecei a me exercitar tenho sempre alto astral. Moro sozinha, então aqui é o local que encontro muitas colegas e isso principalmente ajuda a minha saúde. É sempre bom ter esses aparelhos perto de casa, teria que ter mais unidades”, defende.

As academias na Maré

A Semesqv informou que tem o registro de apenas três ATIs na Maré: na Rua Manoel Falcão com Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos, no Conjunto Esperança, Praça do Dezoito, na Baixa do Sapateiro e Rua Ari Leão, no Parque União. Completou que, qualquer cidadão pode pedir o procedimento para instalação ou manutenção de uma academia pelo telefone 1746. Após a solicitação, é realizada uma vistoria no local para análise da possibilidade e necessidade de implantação. Em caso positivo, a solicitação entrará em lista, por ordem cronológica, de acordo com a disponibilidade de recursos para instalação.

O Maré de Notícias questionou sobre a instalação de uma ATI em local fechado aos moradores. A Semesqv respondeu que até o momento não recebeu nenhuma reclamação relacionada à ATI mencionada no Condomínio Padre Manoel da Nóbrega, na Baixa do Sapateiro. Ressaltou que as academias da terceira idade são instaladas por diversos órgãos. Sobre isso, a Secretaria Municipal de Esporte (Smel-Rio) informou que o órgão não tem academias ao ar livre na região, apenas as atividades oferecidas na Vila Olímpica Seu Amaro.

Já as unidades de saúde da Maré que utilizam equipamento do Programa Academia Carioca são as clínicas da família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros, Augusto Boal, em frente ao Morro do Timbau, Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, Diniz Batista dos Santos, no Parque União e o Centro Municipal de Saúde da Vila do João. 

Maré de Notícias chega aos 15 anos ajudando a contar a história da Maré

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Edição #167 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

O jornal Maré de Notícias nasceu em dezembro de 2009 e, em sua trajetória, conheceu centenas de personagens. O jornal entrou nas casas dos mareenses, levando informação, cultura e entretenimento para os moradores.

Desde o início, o jornal teve o objetivo de produzir e difundir conteúdo jornalístico crítico, reflexivo, que motive e mobilize a comunidade. O objetivo é fomentar ações capazes de gerar mudanças que impactem na qualidade de vida da população da Maré, com editorias que passam por políticas públicas, direitos humanos e a valorização da cultura local.

Nossa história

Para que o jornal tivesse uma representação na Maré, foi feita em 2009 uma sondagem de opinião, intitulada: “Por um jornal da Maré: diga como você quer!”. Foram 2.300 entrevistados que revelaram que 89% dos moradores tinham hábito de ler. Sendo que 53% liam jornais, 76% procuravam notícias sobre a Maré e 69,3%, sentiam-se insatisfeito de como eram retratados nos veículos de comunicação. Além disso, 98% achavam importante existir um jornal comunitário e 12% da população queria ver notícias sobre a favela nas páginas do novo jornal.

Um passo importante também foi o concurso cultural para a escolha do nome. A campanha “Por um jornal da Maré, diga que nome você quer!” durou 30 dias, com panfletos, cartazes e até outdoor. Chamou atenção de mais de 500 pessoas, que deram sugestões, em urnas espalhadas no território ou utilizaram a internet. Só na terceira edição o jornal ganhou um nome: Maré de Notícias.

Os atores principais

Antes da primeira edição, algumas instituições locais e associação de moradores se uniram à Redes da Maré para o planejamento do jornal. Umas continuaram até o fortalecimento do projeto, como a Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, localizada em Marcílio Dias. “Veio para expandir vozes, pessoas em grande parte oriundas do Nordeste, destacando a cultura. Uma marca são as entrevistas das lideranças, com resgate da história, mostrando a vivência atual, mas sem esquecer a memória, como o tempo das palafitas. Traz diversas pautas, como a violência, para que a sociedade possa debater o assunto. Nesses 15 anos, é bom parabenizar todos os atores que fizeram parte e agradecer os parceiros que financiaram essa comunicação”, diz Geraldo de Oliveira, coordenador da biblioteca.

Há leitores que mantêm contato constante com o jornal, enviando sugestões de matérias, poesias e escrevendo sempre comentários. Sara Alves, moradora da Vila do João, é uma dessas. “Tornei-me fã, antes dele ter o nome que tem, no período da sua criação. Como não ser fã do jornalismo comunitário? Feito, conjuntamente, por quem vive todas as complexidades reais que vivemos?”, opina.

Sara defende o jornal impresso. “Creio na importância diante da realidade atual em que vivemos, 43% dos moradores de favelas não possuem internet. Existem muitas pessoas idosas, principalmente, que amam ter o jornal impresso para lerem em suas portas. No meu caso, sinceramente, assim como os livros, eu gosto de ter o jornal em minhas mãos”, afirma. 

Ela deseja que o Maré de Notícias continue contribuindo na superação das representações negativas e preconceituosas sobre as favelas, veiculadas nas mídias hegemônicas. “Que continue apresentando as narrativas das pessoas que merecem ser reconhecidas por suas ações, e que são histórias-vivas em nossas favelas”, enfatiza.

Cultura local

A cada mês o Maré de Notícias traz uma gama de personagens. Nas matérias a presença dos moradores é indispensável, em entrevistas e opiniões sobre temas relevantes. Quem mais pode ser o especialista sobre algo que vem acontecendo na Maré, do que o próprio mareense? 

Dentre esses moradores, o cantor Lindemberg Cícero, conhecido como Bhega Silva, figura carimbada em diversas edições, mostrando suas composições, seu trabalho ecológico com a coleta de óleo e o projeto Cineminha no Beco. “Sou só gratidão e felicidade pelo reconhecimento, pelos meus projetos nas matérias, por onde passo todos me parabenizam, por lerem as matérias. O jornal tem respeito pela minha história na Maré”, comenta.

Popular como o trovador da Praia de Ramos, Bhega afirma que a maior importância do jornal como meio de comunicação é ampliar as vozes dos moradores. “É um jornal com 15 anos de luta, resistência e persistência. Uma comunicação comunitária feita com muito carinho por quem conhece de perto a realidade do território, levando informações e sendo distribuído em mãos ou deixado de porta em porta”, diz. 

Lideranças

No meio da política, o Maré de Notícias já trouxe diversas vezes o pensamento de lideranças locais. Um desses entrevistados foi Pedro Francisco, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança. “Parabenizo esse excelente trabalho em torno de nossas comunidades, buscando os anseios de cada morador, por melhorias, expressando os seus sonhos e projetos de uma Maré melhor”, destaca. 

Alguns moradores ultrapassam o papel de leitor e passam a fazer parte da equipe. André Lucena, ex-morador da Nova Holanda, durante alguns anos, criou as charges do jornal de forma voluntária. “Para mim, como morador, o jornal Maré de Notícias é uma ferramenta poderosa de informação cultural e social. Além, claro, de ter sido uma casa, onde pude expressar a minha arte como chargista”, resume.

O jornal e as universidades

Durante esses 15 anos muitos parceiros fizeram parte da história do Maré de Notícias. Uma das parcerias é com o Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos (MVDH), no qual Pedro Barreto, jornalista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH), que também coordena o curso. Para ele, a comunicação comunitária é fundamental não só como ferramenta de diálogo, mas como uma organização de pessoas. “Os meios de comunicação hegemônicos não sabem as demandas da população da favela, diferente do Maré de Notícias que está no cotidiano, fala direto com o morador e acaba sendo também um elo com o poder público. O jornal comunitário tem a confiança da favela”, conclui.

Raquel Paiva, professora emérita da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) e fundadora do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC), avalia o trabalho do jornal. “Ainda me lembro vivamente do surgimento do Maré de Notícias e de todo o contexto da sua criação. O jornal tem atuado como um verdadeiro veículo comunitário representando na prática as discussões que temos fomentado ao longo dos 27 anos de existência do LECC”, expõe. 

Para a professora, as pautas do jornal têm trazido com vigor o cotidiano da população e suas questões. “Ele tem impulsionado a população na discussão de temáticas que lhe dizem respeito diretamente, é elaborado por moradores e jornalistas da própria favela e ainda tem pautado a sociedade civil e instituições da cidade em direção à necessidade de políticas públicas para com os moradores da Maré. Desejamos que o Maré de Notícias siga inspirando a todos nós em direção a um país mais igualitário e inclusivo com o vigor de toda a sua diversidade”, finaliza.